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Cynthia Enloe - “Margins, silences and bottom rungs” (1997)

Enloe busca subverter as formas convencionais de conhecer e fazer relações


internacionais

As teorias tradicionais das RI subestimam, negligenciam ou desconhecem os


mecanismos de poder que mantêm uns no centro e outros à margem.

Se o poder só existe em relação, como entendê-lo estudando apenas um lado dessa


relação?

Enloe ajuda a revelar que há muitas outras formas de operar o poder além das que são
convencionalmente expostas nos estudos das RI
Foucault como influência comum entre Enloe e o pós-estruturalismo nas RI

Foucault recusa a visão tradicional do poder, ao encará-lo menos em termos jurídicos e


de proibição e mais como técnicas e estratégias com efeitos produtivos

Haveria uma relação entre a produção de saber e o exercício de poder que geraria
conjuntos de verdades necessárias para a conformação de uma dada ordem nas
sociedade contemporâneas.

A partir da genealogia seria possível mostrar como nas práticas discursivas há uma
relação saber-poder que permite o exercício do poder

As subjetividades humanas são produtos das relações histórico-políticas


Como opera a capacidade produtiva do poder e de que modo as estratégias
reguladoras produzem os sujeitos que vêm a subjugar?

No livro “História da sexualidade - I”, Foucault propõe analisar a “sexualidade”


como um sistema histórico complexo de discurso e poder

‘sexo’ como parte da estratégia para ocultar e,


portanto, dar continuidade a determinadas
relações de poder

Propõe desvelar os discursos pelos quais o poder consegue chegar às mais tênues e
individuais condutas -> a sexualidade é coextensiva ao poder.
Abordagens feministas próximas ao pós-estruturalismo contextualizam o gênero
como um dispositivo analítico que também abriga suas próprias exclusões -> tal
como as teorias das RI, também devem ser “desconstruído” (SYLVESTER, 2002)

Problematização de suposições universais de


gênero, esvaziadas das especificidades locais

Segundo Butler (2003), é preciso evitar que uma noção universalizante de


“mulheres” como sujeito contribua para reforçar o modelo que as oprime.

Depois do reconhecimento de que gênero, raça e classe são social e culturalmente


constituídos, esses elementos não podem mais formar a base da crença em uma
unidade essencial
Entretanto, em certas situações, deve-se assumir responsabilidades políticas. Onde
se constata a existência de discriminação, ameaça ou opressão é compreensível a
utilização da retórica identitária para fins políticos

Como assinala Derrida (1995), é difícil escapar dos conceitos e noções herdados da
metafísica, mesmo quando estamos tentando com ela romper

Assim, segundo o autor pode-se aceitar uma aliança provisória, desde que se
apontem os limites do discurso identitário

Maior atenção à interseccionalidade (estudo das interações entre sistemas


relacionados de opressão, dominação ou discriminação)
Apropriação de Jacques Derrida pelo feminismo e pós-estruturalismo nas RI

Exemplo: concepção de falo-logocentrismo ligação que ele fez entre dois termos:
- falocentrismo (centramento no masculino) e
- logocentrismo (o centramento no logos, na razão)

Problematiza o discurso falogocêntrico do homem, branco, europeu,


heterossexual, e senhor de sua própria razão, que tem o poder de dizer o que é o
mundo

Derrida também foi o criador do método chamado de Desconstrução.

Segundo esse sistema, não se trata de destruir e sim de decompor os elementos da


escrita para descobrir partes do texto que estão dissimuladas.
A aplicação da Desconstrução a um texto filosófico ameaça a leitura “verdadeira” da
filosofia, tornando-a uma das leituras possíveis, mas não a leitura exclusivamente
correta

Para Derrida, os textos corrompem seus significados tradicionais, criam novos


contextos e permitem novas leituras, em um processo contínuo e vertiginoso

As lacunas na escrita e na fala são inevitáveis; é a capacidade de serem modificados


no pensamento, na expressão e na escrita que torna os conceitos incompletos

Derrida se opõe à estrutura que sustenta a história da filosofia, que concebe o mundo
em um sistema de oposições (corpo/alma, eu/outro, bom/mal, cultura/natureza,
homem/mulher, dentro/fora, etc.)
Speaking the Language of Exile: Dissident Thought in International Studies

Walker e Ashley falam da proliferação, na vida moderna, de “locais marginais” que


não se encaixam em definições estanques de identidade

1) Esses lugares são intrinsecamente ambíguos, os valores são instáveis ​e não há


uma identidade soberana única e definitiva

2) Os lugares marginais são locais de luta, onde o poder está em ação.

São locais onde as pessoas devem saber resistir a uma diversidade de práticas
representacionais que as atravessariam e decidiriam sobre o que elas são. Aqui o
poder é produtivo, ao fixar modos de conhecer e fazer que devem ser reconhecidos
como naturais e necessários
3) Esses lugares marginais resistem a compreenderem o saber como uma
representação coerente, como fonte da verdade que exclui interpretações
contestadoras.

O dissidente nega a perspectiva da razão que pretende negligenciar a história,


silenciar toda incerteza, esclarecer toda ambigüidade e alcançar o conhecimento
total.

Problematiza-se a promessa do conhecimento moderno (incluindo a ciência social


moderna) que sustenta a figura soberana universal do “Homem”, a qual é a mesma
promessa que legitima a violência do Estado moderno - a promessa, inscrita em um
pacto de defesa do “Homem”.

Para um olhar dissidente, qualquer figura do “Homem” cujo direito soberano de falar
a verdade possa ser aqui afirmado é imediatamente reconhecida como uma entre
muitas interpretações arbitrárias; é visto como uma prática de poder do
4) Esses lugares marginais que desafiam o controle das formas modernas de
conhecimento e – desafiam a representação estável do “Homem” soberano – não
devem ser pensados como espaços “vazios” a serem controlados pela razão do
“homem”.

O questionamento do “eu” não sinaliza aqui uma “deficiência”, uma “lacuna que
deve ser preenchida”.

Ambigüidade, incerteza e incessante questionamento de identidade - são recursos dos


exilados para resistir a práticas de poder que lhes imporiam uma certa identidade, um
conjunto de limitações sobre o que pode ser feito.

Nos dizeres de Foucault (1973, p. 386), eles são indicativos da abertura de “um
espaço no qual é mais uma vez possível pensar”. Aqui, onde a identidade está sempre
em processo e novas conexões culturais podem ser cultivadas e exploradas.
Esses locais desterritorializados da vida política representariam um “espectro” que
assombra os estudos internacionais.

É o espectro de uma atitude teórica amplamente proliferativa e dissidente falada por


pessoas que, por várias razões, se conhecem como exilados dos territórios das
teorias tradicionais.

É o espectro de uma obra de pensamento dissidente, que felizmente encontra seu


lugar extraterritorial - seu “não-lugar” politizado - nas interpretações incertas das
teorias e práticas internacionais.
Pode-se detectar um volume e uma variedade cada vez maiores de trabalhos cuja
tarefa principal é interrogar limites, explorar como eles são impostos, para
demonstrar sua arbitrariedade, e para pensar de outro modo, isto é, de um modo que
possibilite demonstrar limitações e explorar as possibilidades excluídas.

Questionamento dos dualismos cristalizados pela teoria e a prática modernas, tais


como: identidade/diferença, doméstico/internacional, soberania/anarquia,
revolução/reforma,
comunidade/guerra, masculino/feminino, realismo/idealismo, agente/estrutura,
particular/universal, cultural/material, teoria/prática, centro/periferia

Estas e inúmeras outras dicotomias estão sendo repensadas e expostas como


construtos culturais arbitrários, por meio dos quais modos de subjetividade e conduta
são modelados
Essas obras dissidentes são como os lugares marginais discutidos anteriormente, que
resistem à assimilação aos modos modernos de conhecimento.

São trabalhos de experimentação e exploração que transgrediriam limites arbitrários,


abrem conexões até então fechadas e permitirem a construção e circulação de novas
formas de conhecer e fazer política.

Exigindo “análise incessante e vontade de subversão”, essas obras “marginais”


“necessariamente entram em cumplicidade com outras práticas dissidentes no mundo
ocidental moderno”.

Os acadêmicos dissidentes exibem um ethos crítico, uma ética da liberdade, que


encoraja e acolhe criticas. Esses estudiosos assumem essa tarefa crítica, essa tarefa
de dissidência, um trabalho paciente que dá forma à nossa impaciência pela
liberdade.

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