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Historiografia da educação e fontes

NUNES, Clarice
CARVALHO, Marta C.
1993
Historiografia da educação brasileira
• Pesquisas sobre a produção (década de 1980):
Vieira, 1982; Saviani, 1983; Cunha, 1984; Nagle,
1984; Warde, 1984; Lopes, 1986; estudos de
Warde e Ghiraldelli sobre as relações entre história
e historiografia.
• Warde: exame da historiografia brasileira a partir
de 3 âmbitos de investigação:
a) produção de conhecimento na área de educação;
b) tendências do pensamento educacional nos trabalhos
produzidos nos programas de Pós-graduação em
Educação;
c) tendências das dissertações e teses defendidas.
Historiografia da educação brasileira

• Ghiraldelli Jr. analisa a historiografia brasileira


a partir: de um inventário das carências da
discussão historiográfica da educação nos
anos 80; e aponta sugestões para ampliação e
aprofundamento;
• Preocupa-se ainda com a análise dos
paradigmas da teoria da história da educação e
das possibilidades da historiografia marxista.
O texto e seu lugar de produção

• GT História da Educação da ANPEd (1992):


movimento de discussão da historiografia num
momento marcado pelos impactos da nova história
cultural sobre a pesquisa histórica em educação .
• Objetivos do texto: apontar e aprofundar a análise da
relação entre historiografia da educação e fontes.
• O sentido da reflexão para as autoras:
• Nunes: importância da problematização e do
alargamento da concepção de fontes em
história da educação;
• Carvalho: relações entre história da educação
e história cultural.
A historicidade do campo
da história da educação
• Análise da constituição do campo da história
da educação:

• O conteúdo da história.
• A organização institucional que lhe dá suporte
no seu momento fundador – século XIX: os
lugares e as práticas que instituíram o conteúdo
da história.
• As autoras pressupõe a análise dos lugares e
das práticas que os instituíram, neste caso, da
história da educação.
A história da educação
como campo disciplinar
• Surgimento da história da educação como disciplina
escolar: universidades e escolas normais européias
(final do século XIX): defesa da necessidade de
ensino sistemático da pedagogia, que deveria se
iniciar com a sua “história e arte de ensinar”.

• Brasil: história da disciplina vinculada à história da


Escola Normal, da inserção da Pedagogia como
seção da Faculdade Nacional de Filosofia, da criação
das Faculdades de Pedagogia e dos Programas de
Pós-graduação em Educação nos anos 1970.
Momento fundador da
história da educação
• Relação entre a história da educação e a matriz
positivista do pensamento ocidental do século XIX:
• vizinhança da história da educação com a história;
• a localização da história da educação neste
escopo, parece ser aceita com uma certa
tranqüilidade. Sobre isto as autoras acha promissor
problematizar, o que parece simples e evidente.
• O que esta vinculação revela? Como já foi
colocado a relação de vizinhança e a inserção da
história da educação como parte de um conjunto de
conhecimentos e técnicas voltados para a
formação docente;
Momento fundador da
história da educação
• O que a explicação oculta?
• A lenta configuração da história da educação no
processo de produção do modelo escolar (século XVI,
contexto das lutas entre os movimentos da Reforma e
Contra-Reforma);
• Esconde ainda os efeitos de uma configuração
epistemológica que criou uma forma própria de
conceber a pedagogia. Uma relação mecânica, que se
estabelece entre a história da educação e a matriz
positiva do pensamento ocidental do século XIX.
Constituição da escola moderna
• Civilização Escolarizada séculos XVI e nos séculos
posteriores:
• Expansão escolar (países protestantes e regiões
católicas) e constituição da escola moderna: infância
como projeto e escola como agência central de
transmissão cultural e reprodução das normas
sociais.
• Iniciativas de formação de professores e sua
expansão no século XIX:
• associação entre cristandade e cidadania;
• missão do professor: formar o cristão e o cidadão;
História da educação e Modernidade
• Constituição da disciplina história da educação: fruto
da Modernidade e freio à implantação dos valores
que lhe dão sustentação. A história fragmentou-se em
vária direções a educação foi uma delas.
• História da educação como reforço de pertencimentos
tradicionais questionados pela Modernidade (família,
religião e tradição).
• História da educação nas Escolas Normais:
ressonância e amplificação da luta ideológica entre a
Igreja e o Estado Moderno e do movimento de
reaproximação entre ambos.
• A história da educação buscou compreender
pensamento pedagógico na unidade, recusando-se a
explicá-lo pelas suas influências e remetendo-o a uma
origem sempre indefinida.
A escrita da história da educação
nos livros franceses
• Dificuldade em estabelecer o campo da história da
educação: demarcações abrangentes e imprecisas;
• História da educação como vizinha inseparável da
“ciência da educação”;
• Vinculação entre história da educação e filosofia:
história da educação como guia de conduta (a dupla
arte de elevar a juventude dentro dos valores
humanos e de governar os povos;
• História da educação voltada para o dever ser e
dominada pela preocupação de historiar as origens
cristãs: postura conciliadora entre fé e razão.
História da educação e positivismo
• Análise da obra de François Guex, Historie de
l’instruction et el educación – livro dividido em duas
partes antes e depois de Jesus Cristo.
• Constituição da pedagogia como ciência
especializada e autônoma (suporte na psicologia e na
biologia);
• Reapropriação da pedagogia pela religião e
reinterpretação da ciência como campo de “fenômenos
religiosos”;
• Movimento de reinterpretação: aproximação da história
da educação da filosofia metafísica; destinação da
história da educação ao ensino: papel de conciliação
da “ciência dos novos” à “fé dos antigos”.
A historicidade da documentação em
educação
• História da educação como disciplina formadora
(França): separação entre pesquisa e ensino.
• Momento em que os conflitos nacionais estimulavam
o estudo da história nacional: conquistas da
pedagogia configuradas como expressão do “espírito
nacional”.
• Produção da pesquisa na área: marcas da sua
configuração como disciplina escolar: práticas de
compilação de obras disponíveis em bibliotecas e
documentos pertencentes a instituições oficiais:
• autonomização e vinculação à prática pedagógica das
Escolas Normais;
• aproximação com a filosofia metafísica e compromisso
com a defesa de certos modelos doutrinários.
O historiador da educação e as fontes
• Dependência do historiador dos materiais históricos:
necessidade do respeito à empiria e do manuseio
crítico das fontes;
• Dificuldades de recolher fontes impressas e
arquivísticas;
• Reflexão sobre as fontes:
• limites das práticas institucionais de localização,
organização e divulgação de acervos;
• limites das práticas discursivas no âmbito da
história (lugares de produção e práticas
institucionais).
Os historiadores da educação
vão aos arquivos
• História da educação como especialização da
história: afirmação da especificidade da prática da
pesquisa histórica.

• Os arquivos:
• levantamento de informações necessárias ao cotejo e
crítica de informações advindas de outras fontes e da
historiografia da educação produzida;
• possibilidade de aprofundamento do debate no campo
da historiografia.
O poder polivalente dos arquivos
(Jacques Le Goff)
• arquivos e poder:
• poder do doador: pré-seleção e exigências que
impõe à instituição receptora do acervo no caso
das doações;
• poder do organizador dos acervos: prioridades e
mecanismos institucionais de acolhimento,
preservação e/ou restauração, classificação e/ou
identificação dos conteúdos, estabelecimento de
condições de acesso à documentação;
• o poder do usuário que manipula os documentos:
imposições e privilégios advindos do pertencimento
a uma instituição.
Os percalços da ida aos arquivos

• Dificuldades de ordem geral:


• existência de instituições-memória;

• sistemática destruição de fontes históricas e dos


suportes da memória coletiva (subestimação das
relações entre preservação documental e
recuperação e fortalecimento da identidade social);

• valorização de documentos de natureza


comprobatória.
Os percalços da ida aos arquivos

• Dificuldades de ordem específica:


• heterogeneidade das instituições portadoras de acervos;
• caráter multifacetado do objeto pedagógico e as
múltiplas histórias embutidas em um levantamento de
fontes de história da educação (história administrativa,
política, biográfica, intelectual, religiosa, história
econômica);
• campo da história da educação: desconhecimento dos
acervos; falta do uso dos acervos organizados e
disponíveis; compreensão estereotipada do material
arquivístico (utilização dos documentos como prova).
A importância da ida aos arquivos

• Riqueza do diálogo das fontes com as teorias;

• possibilidade de alteração das representações sobre


as fontes e a natureza da pesquisa histórica;

• necessidade de desconstrução de certas


representações: concepção positivista de
documento.
A revolução documental
na história da educação
“A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida.
Quando estes existem. Mas pode fazer-se, deve fazer-se sem
documentos escritos, quando não existem. Com tudo o que a
habilidade do historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu
mel, na falta das flores habituais. Logo, com palavras. Signos.
Paisagens e telhas. Com as formas do campo e das ervas
daninhas. Com os eclipses da lua e atrelagem dos cavalos de
tiro. Com os exames de pedras feitos pelos geólogos e com as
análises de metais feitas pelos químicos. Numa palavra, com
tudo o que, pertencendo ao homem, depende do homem, serve
o homem, exprime o homem, demonstra a presença, a
atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem” (Febvre,
apud Le Goff, 1984, p. 98).
Diploma de professor normalista conferido pela Escola Normal Caetano de
Campos a Carlos Alberto Gomes Cardim, 1894
Coleção: Escola Estadual Caetano de Campos - Aclimação - São Paulo, SP
Estojo com tipos móveis e estrutura para carimbos, esponjas para tinta
utilizados para composição e impressão de palavras e frases, s.d.
Coleção: Escola Estadual Caetano de Campos - Aclimação - São Paulo, SP
Jogo utilizado para desenvolver a atenção. Edições Melhoramentos de São
Paulo, 1941
Coleção: Escola Estadual Caetano de Campos - Aclimação - São Paulo, SP
Corpos Geométricos (jogo de 6 sólidos), Cia. Melhoramentos de São
Paulo, 1922.
Coleção: Escola Estadual Caetano de Campos - Aclimação - São
Paulo, SP
Caderno de Linguagem e Desenho, 1930
Coleção: Ernst Robert de Carvalho Mange.
Globo Terrestre
Madeira, metal e vidro pintado, origem desconhecida, c. 1895
Coleção: Escola Estadual Caetano de Campos - Aclimação - São Paulo, SP
Alongador de lápis
Madeira, grafite, c. 1958
Coleção: Centro de Memória da Faculdade de Educação da Universidade de
São Paulo - FE/USP
Carteira Brazill
Madeira e ferro fundido, Ed. Waller & C., c. 1900
Coleção: Escola Rural de Cunha, SP
Relógio de parede Ansonia
Imbuia, Ansonia Clock Company New York, EUA, c. 1920
Coleção: Escola Estadual Padre Anchieta - Brás - São Paulo, SP
Foto de turma de Primeiro Ano do Grupo Escolar de São Carlos do Pinhal,
SP, 1930
Coleção: Sr. Fritz Johansen Júnior

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