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A relação universidade-empresa

Cooperação universidade – empresa como


instrumento para a inovação tecnológica
Quando se fala de América Latina, todo estudo acerca
das relações de cooperação entre universidades,
empresas e governo possui, necessariamente, um ponto
final de forte impacto.

Esse ponto foi publicação, em novembro de 1968, do


artigo “La ciencia y la tecnología em el desarrollo futuro de
América Latina”, na Revista de la Integración, Argentina.
De autoria de Jorge Sábato e Natalio Botana esse artigo,
apesar de já contar com mais de trinta anos, ainda é tido
pelos estudiosos como ponto de referência na área.
Inicialmente, Sábato e Botana apresentam argumentos
a favor da tese de que os países latino-americanos devem
realizar ações sérias, sustentáveis e permanentes no
campo da pesquisa científica e tecnológica para a
superação do subdesenvolvimento dessa região. Esses
argumentos são:
• A absorção de tecnologias que todo país necessita
importar é mais eficiente se o país receptor dispõe de
uma sólida infraestrutura tecnocientífica. Essa
infraestrutura somente pode criar-se, manter-se e
prosperar com a ação própria da pesquisa;
• O uso inteligente dos recursos naturais, das matérias-
primas, da mão-de-obra e do capital requer pesquisas
específicas de cada país;
• A transformação das economias latino-americanas para
satisfazer a necessidade de industrialização e de
exportação de produtos manufaturados terá mais êxito
quanto maior for o potencial tecnocientífico desses
países.
• A ciência e a tecnologia são catalizadores de mudança social.
Com base em estudos prospectivos e com o ano 2000
como horizonte, Sábato e Botana concluem que a região
pode e deve participar do desenvolvimento tecnocientífico
mundial. Para essa participação ser possível,
recomendam uma estratégia de inserir a ciência e a
tecnologia na própria trama do processo de
desenvolvimento latino-americano.
Segundo esses autores, a experiência histórica
demonstra que a inserção é resultado da ação múltipla e
coordenada de três elementos fundamentais para o
desenvolvimento das sociedades contemporâneas: o
Governo, a estrutura produtiva e a infraestrutura
tecnocientífica. Essa é representada na figura que ficou
conhecida como o triângulo de Sábato.
Cada vértice constitui um centro de convergência de
múltiplas instituições, unidades de decisão e de produção,
atividades etc., motivo pelo qual as relações que
configuram o triângulo também têm múltiplas dimensões.
Intra-relações dentro de cada vértice

As relações que se estabelecem dentro de cada vértice


têm como objetivo básico capacitar as instituições a
criar, incorporar e transformar necessidades em um
produto final, que é a inovação tecnocientífica.
Inter-relações entre os três vértices

As relações que se estabelecem entre os vértices


podem ser inter-relações verticais, entre Governo e a
infraestrutura tecnocientífica, ou entre o Governo e a
estrutura produtiva; ou inter-relações horizontais, entre a
infraestrutura tecnocientífica e a estrutura produtiva.
Relações com o contorno externo ou extra- relações

As sociedades não vivem isoladas. Por essa razão,


cada vértice ou todo o triângulo relaciona-se com o meio
exterior ou com outros triângulos estruturados. As extra -
relações manifestam-se, por exemplo, no intercâmbio
científico, no comércio externo de tecnologia e na
adaptação de tecnologias importantes.
Evolução da cooperação
Universidades e empresas, dois “atores” com missões
aparentemente distintas, têm sofrido, nos últimos anos, um
processo de aproximação que cresce rapidamente.

Questiona-se se essa aproximação veio para ficar e reger


a atuação universitária ou se é uma aproximação
casuística, mas um modismo e logo a universidade
retornará às suas missões históricas de ensino e
pesquisa.

Além disso, a universidade deve produzir conhecimentos


científicos, ou ficar sujeito aos interesses de mercado?
Será possível conciliar esses dois grandes objetivos?
Características do relacionamento
universidade-empresa
A globalização econômica, que leva ao aumento da
concorrência, fornece às empresas várias opções de
acesso à tecnologia, entre os quais está o
desenvolvimento de capacidade própria de P&D ou o
estabelecimento de parceiras com universidades e / ou
institutos de pesquisa públicos ou privados para obter, a
média prazo, sua própria capacidade P&D.
Referencial teórico das relações
universidade-empresa
Um dos modelos teóricos de relações entre universidade e
empresa, desenvolvido por Bonaccorsi e Piccaluga, usa
conceitos de duas diferentes áreas do conhecimento:

Na área da psicossociologia, contribuições para a


análise psicossociológica das inovações tecnológicas e na
área da teoria da organização, o estudo da teoria
interorganizacional.
A análise psicossociológica da inovação tecnológica
permite investigar dois blocos de variáveis independentes:

1. As características do processo de transferência de


conhecimento.
2. As motivações das empresas para entrar no processo
de colaboração com a universidade.
A teoria Inter- organizacional, por sua vez, é utilizada com
a finalidade de descrever e analisar duas dimensões das
relações da universidade-empresa como variáveis
dependentes:

1. A estrutura organizacional do relacionamento.


2. Os procedimentos de coordenação adotados.
Estrutura teórica para estudo das relações
universidade-empresa

Processo de transferência de conhecimento

Tempo gasto no processo – o tempo despendido para


propagar o conhecimento dentro da organização
depende da natureza do conhecimento

Apropriação do conhecimento – constitui um método


pelo qual as empresas podem se proteger de imitações,
ao mesmo tempo que lhes permite se apropriar dos
benefícios dessas inovações.
Implicitabilidade do conhecimento – tenta incrementar
as universidades – empresas, pois mais interação
houver mais poderá se obter o conhecimento.

Universidade do conhecimento – é a possibilidade de


utilizar o conhecimento de forma proveitosa, em
diferentes áreas, em muitos casos, distante do local de
origem.
Motivações para as empresas

Janela de oportunidades tecnológicas


Acesso antecipado ao estado da arte (é o nível mais alto
de desenvolvimento)
Delegação de atividades de desenvolvimento
Redução de custos de desenvolvimento
Estrutura das relações interorganizacionais

Formalização
Dimensão do acordo
Envolvimento organizacional
Procedimentos nas relações interorganizacionais

Percepção da importância do relacionamento


Trocas de informações
Procedimentos de resolução de conflitos
Expectativas de recompensa
Surgimento de novos objetivos

Expectativas

Criação de conhecimento
Transferência de conhecimento
Difusão de conhecimento
Desempenho

Criação de conhecimento
Transferência de conhecimento
Difusão de conhecimento
Número de novos de produtos
Número de encontros
Números de pesquisadores envolvidos
Número de publicações
Motivação para as empresas se relacionarem com
as universidades

1. Conseguir acesso às fronteiras científicas

É uma situação em que muito da pesquisa científica é


diretamente usado pelas empresas e uma relevante
porção do conhecimento tecnológico sofre um processo de
“cientificação”.
2. Aumentar a capacidade de previsão da ciência

Em muitos setores industriais, os custos de


desenvolvimento são extremamente altos e crescem em
termos reais com o passar do tempo. Isso é
especialmente verdadeiro em setores como a
aeronáutica ou os óleos sintéticos industriais.
3. Delegar atividades de pesquisa selecionadas

Um terceiro grupo de motivações diz respeito à tentativa


das empresas de reduzir os custos de desenvolvimento
delegando algumas fases do processo de
desenvolvimento às universidades.
4. Falta de recursos

Um quarto grupo de motivações envolve o caso em que a


aquisição de conhecimentos ou a redução dos custos de
desenvolvimento não são os principais motivos que
levaram a empresa a procurar pela universidade, mas
simplesmente uma situação momentânea, ou não, de
escassez de recursos.
Tipos de relações na cooperação universidade
-empresa

Tipo de relação
Tipo A: Relações pessoais informais
Descrição
Ocorrem quando a empresa e um pesquisador efetuam
trocas de informação, sem a elaboração de qualquer
acordo formal que envolva a universidade.

Exemplos
Consultoria individuais
Publicações de pesquisa
Trocas informais em fóruns
Workshops
Tipos de relações
Tipo B: Relações pessoais formais

Descrição
São como as relações pessoais informais, porém com a
existência de acordos formalizados entre a universidade e
a empresa.

Exemplos
Trocas de pessoal
Funcionários da empresa como estudantes internos
Cursos “sanduíches”
Tipos de relações
Tipo C: Instituições que promovem a interação
Descrição
Quando existe uma terceira parte. Essas associações que
intermediarão as relações podem estar dentro da
universidade, ser completamente externas, ou, ainda,
estarem em uma posição intermediária.
Exemplos
Associação industriais
Institutos de pesquisa aplicada
Unidades assistenciais gerais
Escritório que promovem a interação
Tipos de relações
Tipo D: Acordo formais com objetivos específicos

Descrição
São relações em que ocorrem a formalização do acordo e
a definição dos objetivos específicos desse acordo.

Exemplos
Pesquisa contratada
Formação de trabalhadores
Projetos de pesquisa
Cooperativa
Tipos de relações
Tipo E: Acordo formais do tipo guarda-chuva

Descrição
São acordos formalizados como no caso anterior, mas
cujas relações possuem maior abrangência, com objetivos
estratégicos e de longo prazo

Exemplos
Empresas patrocinadoras de P&D nos departamentos
universitários
Tipo de relações
Tipo F: Criação de estruturas próprias para o relacionamento

Descrição
São as relações entre empresa e universidade realizadas em
estruturas permanentes e específicas criadas para tal
propósito.

Exemplos
Contrato de associação
Consócios de pesquisa universidade-empresa
Incubadoras tecnológicas
Motivações e barreiras ao relacionamento entre
universidades e empresas no Brasil

Motivação para as empresas, em ordem decrescente


de importância

Aquisição de novos conhecimentos;


Acesso à inovação, estar a par de novas descobertas;
Obtenção de opiniões independentes e diferentes;
Identificação dos melhores alunos para contratação;
Melhoria da imagem e do prestígio da empresa aos
olhos dos clientes;
Obtenção de apoio técnico para a solução dos
problemas;
Redução dos custos de pesquisa;
Acesso aos recursos humanos da universidade;
Acesso aos laboratórios e equipamentos.
Motivações para a universidade, em ordem
decrescente de importância

Realização da função social da universidade ao


transferir conhecimentos que promovem a melhoria da
qualidade de vida da população;
Divulgação de uma boa imagem da universidade;
Aplicação de conhecimentos teóricos à realidade;
Obtenção de conhecimento da realidade empresarial
úteis ao ensino e à pesquisa;
Facilitação à inserção de graduandos e graduados no
mercado de trabalho;
Obtenção de casos reais para aplicação nas aulas;
Facilitação para o estabelecimento de contato entre
alunos e empresa;
Obtenção de recursos financeiros adicionais;
Obtenção de equipamentos, matérias-primas, serviços
etc., fornecidos pela empresa;
Obtenção de benefícios para a carreira acadêmica do
professor;
Aquisição de prestígios pelo professor/pesquisador aos
olhos das comunidades empresariais e acadêmicas;
Possibilidade de emprego fora da universidade.
Principais barreiras ao processo de interação entre as
empresas e as universidades, pela ordem de importância

Para empresa:

Aplicação prática reduzida dos trabalhadores


acadêmicos;
Falta de um órgão de gestão de processo;
Complexidade de contratos;
Necessidade de confidencialidade;
Inexistência de canais adequados para a interação;
Falta de uma estratégica da universidade para as
relações com a empresa;
Falta de uma estratégica da empresa para as relações
com a universidade.
Para com a universidade:

Falta de uma estratégia da universidade para o


relacionamento com a empresa;
Falta de uma estratégia da empresa para o
relacionamento com a universidade.
Burocracia da universidade;
Inexistência de canais adequados para a interação;
Aplicação prática reduzida dos trabalhos acadêmicos;
Existência de preconceitos, em ambas as partes.
Livro – Gestão da inovação e tecnologia

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