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Bases Filosóficas da Obra de

Jung
Heráclito
 500 A.C.

 Éfeso, na Asia Menor

 De família aristocrática, guardiões do templo de Diana.

 Solitário, altivo, recusou-se a participar da vida pública e


escrevia de modo deliberadamente obscuro.

 Filósofo antigo preferido de Jung


 O fundamento da natureza (physis) é o
elemento fogo

 A vida é percebida como constante


movimento.

 Tudo está num estado de ir e vir. Nada é


estático ou fixo. Pantha Rei.
 O ego é pantha rei: flui no tempo, e o
tempo é movimento.

 Self: a eternidade é estática.

 Quando o Self começa a se manifestar


num ego particular, ele se submete à
mudança e à transformação.

 Atrás do desejo existe a ânsia pelo eterno.


 “Sobre aqueles que entram nos mesmos
rios, águas sempre diversas fluem.
Entramos e não entramos nos mesmos
rios, somos e não somos.`Pois não é
possível entrar duas vezes no mesmo rio.
Nem substância mortal tocar duas vezes
na mesma condição: mas pela intensidade
e rapidez da mudança, dispersa e de novo
reúne – ou melhor – nem mesmo de novo
e nem depois, mas ao mesmo tempo,
compõe-se e desiste, aproxima-se e
afasta.”
 Só o devir das coisas é permanente.

 As coisas não tem realidade senão no


perene devir.

 Atrás do desejo existe a ânsia pelo eterno.


Heráclito - enantiodromia
 Cada atitude unilateral leva à constelação de seu
oposto. Tudo o que existe, no extremo, se
transforma em seu contrário.

 Movimento pendular entre a consciência e o


inconsciente.

 Não há, na psique humana, uma evolução linear.


 Jung – enantiodromia – CW 6, p. 795

 “Este fenômeno característico ocorre


quase sempre onde uma direção
extremamente unilateral domina a vida
consciente de modo que se forma, com o
tempo, uma contraposição inconsciente
igualmente forte e que se manifesta, em
primeiro lugar, na inibição de rendimento
consciente e, depois, na interrupção da
direção consciente.”
 Se uma direção unilateral domina a vida
consciente, com o tempo se forma, no
inconsciente, uma contraposição
igualmente forte que se manifesta, em
primeiro lugar, numa inibição do
rendimento consciente e depois numa
interrupção da direção consciente. Fluir da
energia em direção ao oposto, em
movimento pendular. Quem é todo
adaptação exterior vai ser levado ao
absurdo, etc.
 Constelação de novos símbolos. O bem do
estágio anterior transforma-se no mal do
atual.
Sócrates
Sócrates – a vida
 Viveu em Atenas de 470 A.C. a 399 A. C.

 Era plebeu. Seu pai era entalhador de pedras ou


escultor, e sua mãe parteira e lavadeira.

 Conversador e extrovertido, nunca escreveu


nada e transmitia conhecimento através de
contatos pessoais: um homem-Eros.
 Era um homem muito feio, parecido com
um sátiro, de olhos saltados. Sua
aparência causava, ao mesmo tempo,
atração e repulsão.

 Forte e muito resistente, andava descalço


e suportava o frio envolto apenas em um
manto.
 Tinha momentos de busca incessante de
diálogo, e momentos de concentração
extática.

 Casou-se com Xantipa, que tinha fama de


mulher insuportável: “a mais insuportável
das que existem, existiram e existirão”
(Antístenes).
 Foi o primeiro a falar sobre a alma.

 Antes dele: Homero descrevia a alma como o


fantasma que sai do corpo depois da morte e vai
para o Hades. Para os órficos a alma era o
demônio que, em nós, expiava suas culpas. E,
para os físicos, era o princípio – o fogo, a água,
etc.

 A alma, para Sócrates, coincide com a nossa


consciência pensante, sendo a personalidade
intelectual e moral.

 Trouxe a filosofia do céu para a terra.


Sócrates – o auto-conhecimento
 A alma nos ordena conhecer quem nos admoesta: “CONHECE-TE A
TI MESMO”.

 Este conhecer-se a si mesmo é examinar-se interiormente.

 Não é fazer um inventário das características do ego, mas ter uma


atitude de observação daquilo que não se sabe: na linguagem atual,
o inconsciente.

 Trata-se de desconstruir aquelas coisas que achamos que sabemos


a nosso respeito e a respeito das coisas, sem fundamentar.

 Obriga-nos a ficar no vazio e na angústia, e daí procurar o real


conhecimento.
 “.... Não o deixarei ir sem mais, nem irei
embora; antes o interrogarei, estudarei,
confutarei; e se me parecer que ele não
possua virtude, mas apenas diga possuí-
la, eu o envergonharei, demonstrando-lhe
que tem por vis as coisas de mais alto
valor e por valorosas as coisas vis. E isto o
farei a quem eu encontrar, jovens e
velhos, estrangeiros ou cidadãos; e mais
ainda aos cidadãos, a vós, digo que me
estais mais estreitamente ligados.”
 Sei que nada sei.
Sócrates – a maiêutica
 Método

 Forma de diálogo, para auxiliar a alma a trazer o


conhecimento à consciência do homem.

 Imersão da alma na discussão, provocação,


envolvimento emocional: arrancá-la de seu
estado de entorpecimento.
 Relaciona-se com as relações transferenciais
e com a criação de consciência a partir da
intersubjetividade.

 Forma de discussão oral, com envolvimento


emocional.

 Não há o distanciamento intelectual de um


texto escrito. Conta com a atenção na
contestação. Permite retomar o mesmo
ponto. Trabalha com a memória.
 Jung: A análise é uma técnica refinada da
maiêutica socrática. (p. 519. CW4).
Sócrates – o daimon
 Trata-se de uma voz, um sinal, que lhe dizia o
que devia e o que não devia fazer.

 Não é um “demônio-pessoa”, mas um fato ou


evento psíquico.

 Relação imediata de Deus com o homem:


espécie de oráculo interno. Nele não se revelam
coisas filosóficas, porque estas são fruto de sua
cognição.
Jung – o daimon
 Seminário das Visões, p.3

.... Como um exemplo, havia, na antiguidade, um homem


muito racional, e este era o velho Sócrates. Ele tinha um
tipo de demônio jocoso que lhe sussurrava conselhos
muito sábios. Em uma ocasião, provavelmente depois de
uma noite muito tensa de conversas racionais, o
demônio falou: “Tu deves fazer mais música, Sócrates!”.
Ele não pode entender isso, pensou muito e finalmente
comprou uma flauta. É bastante óbvio que a música
significava, naqueles dias, por certo, o elemento
dionisíaco que era bem um assunto do sentimento,
bastante oposto à comum atitude racional de Sócrates.
Sócrates – o daimon
 Ó meus juizes: eu gostaria de contar-lhes uma coisa prodigiosa. A
inspiração consumada, a da divindade, sempre foi rigorosamente assídua
em opor-se mesmo a ações mínimas, quando eu ia cometer um erro;
agora, porém, acaba de suceder-me o que estais vendo, o que se poderia
considerar, e há quem o faça, como o maior dos males; mas a advertência
divina não se me opôs de manhã, ao sair de casa, nem enquanto eu subia
aqui para o tribunal, nem quando ia dizer alguma coisa; no tanto, quantas
vezes ela me conteve em meio a outros discursos! Mas hoje não se me
opôs nenhuma vez no decorrer do julgamento, em nenhuma ação ou
palavra. A que devo atribuir isso? Vou dizer-vos: é bem possível que seja
um bem para mim o que aconteceu e não é forçoso que acertemos quantos
pensamos que a morte é um mal. Disso tenho agora uma boa prova,
porque a costumada advertência – o daimonion – não poderia deixar de
opor-se, se não fosse uma ação boa o que eu estava para fazer.
(Apologia)
Platão
Platão: a vida
 Nascido em Atenas, de 427 A.C a 347 A.C.
 De família importante, era destinado a ter cargo
político.
 Conviveu com Sócrates desde os 20 anos, e
desencantou-se da política no episódio da
condenação de seu mestre.
 Viajou 3 vezes para a Itália, onde conviveu com
os Pitagóricos. (os números)
 Voltou a Atenas onde fundou a Academia.
 Seu nome verdadeiro era Arístocles.

 O apelido vem de ombros largos. Era um


homem alto e imponente.

 Pensamento introvertido
Doutrinas não escritas
 Sobre as realidades últimas e supremas:
“sobre essas coisas não há nenhum
escrito meu, e nunca haverá.”

 Para transmitir esse conhecimento:


ascese.
 Preparo, observação, diálogo, vida em
comum.
Platão – eidos- as idéias
- Forma , padrão original

- Aquilo que não é o particular de cada coisa, mas o essencial, o que


esta coisa tem em comum com outras coisas de seu tipo.

- Não está no mundo sensível, mas no mundo do pensamento.

- As idéias não são simples coisas do pensamento, mas a REALIDADE

 Capacidade da mente mais evoluída de generalizar.


Platão – os arquétipos
 Convencido pelos argumentos de
Heráclito de que todo o mundo sensível se
encontra em fluxo eterno e é
essencialmente instável.

 Nada do que se move ou se transforma


poderia fornecer o critério para o modelo
absoluto de verdade.
Platão : mito da caverna
 VII livro da República.

 Conceito de projeção psicológica: o que


percebemos do mundo é afetado –
alterado – pela projeção nele de nossas
próprias imagens psíquicas.
Platão – a metafísica
 O Demiurgo cria o mundo animado pela bondade,
tomando como modelo as idéias e o plasma.

 Usa como instrumento os números.

 Cria o mundo sensível (no tempo) como uma cópia do


mundo inteligível (eterno).

 Do ponto de vista moral o Bem se identifica com a


imitação do Bem (do Belo) metafísico.
anamnese
 Todo o conhecimento  Phaedo: “ Mas se o
conhecimento que adquirimos
se dá por anamnese: o antes do nascimento se perdeu
conhecimento dos eide de nós no nascimento, e se
já existia desde que depois pelo uso dos nossos
sentidos recuperamos o que
nascemos, e é antes sabíamos, não será o
recuperado pela processo que chamamos de
aprendizado uma recuperação
recordação.
do conhecimento que nos é
natural, caso em que seria
denominado corretamente de
 Só precisamos lembrar. anamnesis?”
 Na clínica todo o exame do histórico do
paciente é uma anamnese platônica, e se
refere à integração do inconsciente pessoal.

 A integração de imagens primordiais,


coletivas, arquetípicas, que coloca o ego no
eixo ego-Self, é uma atividade platônica.
Kant
Kant – a vida
 1724 – 1804

 Könisgsberg, na Prússia Oriental.

 Família modesta de artesãos, rígidos, pietistas (uma linha


protestante radical).

 Nunca se casou.

 Nunca saiu de sua cidade.

 Prussianamente metódico: escrupuloso e extremamente apegado


aos hábitos.
 Falando de si mesmo:

 “Duas coisas enchem o espírito de


admiração e reverência sempre nova e
crescente, quanto mais frequente e
longamente o pensamento nelas se
detêm: o céu estrelado acima de mim e a
lei moral dentro de mim.”

 O destino do homem é a contemplação do


infinito.
Conhecimento
Conhecimento sensível: as coisas como
aparecem ao sujeito e não como são em si.
Phainomenon

Conhecimento inteligível: trata-se da faculdade


de representar os aspectos das coisas que não
são captados pelos sentidos, mas pelo intelecto.
Conceitos do intelecto, por ex: “possibilidade”,
“necessidade”.
Noumenon
 Todo conhecimento sensível é determinado pelo espaço
e pelo tempo. Estes não pertencem ao objeto, mas à
nossa percepção: são condições estruturais da
sensibilidade. São projetados sobre as coisas.

 Os fenômenos só podem ser pensados dentro das


categorias:

1. Quantidade: Unidade, Pluralidade e Totalidade.

2. Qualidade: Realidade, Negação e Limitação

3. Relação: Substância, Causalidade e Comunidade.

4. Modalidade: Possibilidade, Existência e Necessidade.


 Não sabemos se o que percebemos
corresponde à realidade, que é inatingível,
mas sabemos que nossas percepções se
dão em termos de regras universais. O
critério de objetividade é proporcionado
pela experiência comum.
 Ferramentas universais do conhecimento:
os seres humanos partilham a forma como
percebem o mundo, dentro das
categorias.
Subjetividade
 Não há conhecimento objetivo sobre a coisa em si. Tudo
é mediado pela mente.

 “Não conhecemos as coisas a priori a não ser o


que nós mesmos nelas colocamos e, portanto, o
fundamento dos juízos sintéticos a priori é o
próprio sujeito com as leis de sua sensibilidade e
do seu intelecto.” PROJEÇÃO

 O objeto externo é, por definição, aquilo que resiste às


nossas projeções.
 Não existe conhecimento puro, mas
sempre prático.

 A única realidade que pode ser conhecida


é a vivencial. O conhecimento é auto-
criado, depende sempre da experiência de
quem o cria. (crítica da razão pura)
Imagens psíquicas
 Vivemos num mundo de imagens, e tudo o que
não assume a forma de imagens psíquicas, para
todos os efeitos, não existe.

 Para Jung: o conceito de realidade psíquica.

 “Tudo o que experimento é psíquico.” Memórias,


219-220
 Não sabemos nada da psique do paciente a não
ser que ele nos conte ou nos mostre por suas
produções : sonhos, fantasias, arte, etc.

 O analista não tem introvisão do inconsciente


além das palavras e imagens transmitidas pelo
paciente.

 Não devemos trabalhar sob a ilusão de que


descobrimos agora a natureza real dos
processos inconscientes, porque nunca
conseguimos ir além do hipotético “como se”.
(JUNG, CW 7, p. 272)
Kant – a ética
O imperativo categórico
 1. Age de modo que a tua vontade possa valer
sempre, ao mesmo tempo, como princípio de
uma legislação universal (objetiva, coletiva): é
bom sempre? É bom para todos?)
 2. Age de modo a considerar a humanidade,
tanto em tua pessoa como na pessoa de
qualquer outro, sempre também como
finalidade, jamais como simples meio.
Jung coloca o princípio moral, civilizador,
como instintivo na psique, independente
da interdição do impulso sexual ou
qualquer outro.
Jung Cartas 1 p.294

 Desde seus tempos de faculdade:

 “Epistemologicamente, apoio - me em
Kant.”
Schelling
A vida
 Filósofo idealista alemão

 1775 – 1854

 Filósofo da natureza: tanto quanto o


espírito, a natureza é um sistema
dinâmico, evolutivo.
Jung – a alma do mundo
 “O mesmo princípio une a natureza inorgânica e a
natureza orgânica”.

 “Há uma cadeia de vida, que se volta sobre si


mesma e na qual todo momento é necessário
para o todo.”

 “O não vivo é apenas vida-que-dorme.”

 “A vida é a respiração do universo.”


Alma do Mundo – Alma no
Mundo

 Hipótese para explicar o organismo


universal.

 Hipótese Gaia.
 A natureza exibe uma tendência ao
crescimento organizado: é a produção de
uma inteligência inconsciente que opera a
partir de dentro dela, de um potencial
criativo interior.

 A natureza é um sistema teleológico.


 Como seres humanos conscientes, não
ingressamos num mundo já criado, mas
participamos de sua criação.
 O homem é o fim último da natureza,
porque nele, precisamente, desperta o
espírito, que em todos os outros graus da
natureza permanece como que
adormecido.
 O homem tem consciência de si mesmo. É
neste último estágio que o ego se
diferencia reflexivamente do não-ego e se
torna transparente para si mesmo.
 Jung: Minha história é a do inconsciente
que se realizou.
 Schelling concebia Deus não como um ser
absoluto que fica de fora e dirige todo o
processo, mas como o próprio processo.
 Da mesma maneira que uma pessoa
individual se torna o que é através das
atividades de sua vida, Deus só é
realizado no ato da expressão de si-
mesmo da criação do mundo.
Schopenhauer
 Nasceu em 22 de fevereiro de 1788, na Prussia. Morreu em 1860.

 Filho de um comerciante alemão rico, que se suicidou em 1805.


Teve uma herança que lhe permitiu viver de renda, estudando.

 A mãe, Johanna, escritora de romances, tinha o hábito de receber


em sua casa em Weimar, os intelectuais da época. Lá conheceu
Goethe e Mayer, que o introduziu no pensamento budista.

 A mãe em 1814 passa a morar com um admirador, interrompendo a


relação já turbulenta com o filho.

 Vai dar aula, produz livros e encontra reconhecimento ainda em


vida.
O pessimismo
 É um pessimista, no sentido de que sustenta
que a vida é dor, a história um cego acaso e o
progresso uma ilusão.
 A essência do mundo é a vontade insaciável. A
vontade é conflito e dilaceração, e, portanto,
dor. E à medida em que a consciência se eleva,
cresce também o tormento, que alcança no
homem o grau mais alto quanto mais inteligente
é o homem. O homem de gênio é o que sofre
mais.
 “Quanto menos inteligente um homem é,
menos misteriosa lhe parece a existência.”
O mundo como vontade
 A vontade é tensão contínua.
 Todo tender nasce de uma privação. E do
descontentamento.
 Enquanto não há satisfação, há sofrimento.
 Nenhuma satisfação é permanente.
 A satisfação leva ao tédio.
 Não há medida ou fim para o sofrer.
 O homem é sede inextinguível.
Libertação pela arte
 Na experiência estética, o homem se aniquila
como vontade e se transforma em puro olho do
mundo, mergulha no objeto e esquece-se de si
mesmo e de sua dor.

 O puro olho do mundo não percebe mais


objetos. A arte expressa e objetiva a essência
das coisas. E isso nos ajuda a nos afastar da
vontade.
 O gênio capta as idéias eternas e a
contemplação estética mergulha nelas,
anulando aquela vontade que, tendo
optado pela vida e pelo tempo, é somente
pecado e dor.
Libertação pela ascese
Individuação
 Suprimindo em nós mesmos a raiz de todo o mal: a
vontade de viver.

 Para Schopenhauer: compulsão da natureza para


produção e refinamento da consciência individual.

 O impulso para tornarmos-nos indivíduos é o que


fundamenta o egoísmo e nos contrapõe aos outros. É
preciso ter a coragem de superar toda distinção abrindo
os olhos para o fato de estarmos todos na mesma
desventura.
Jung - individuação
 Embora seja o caminho de maior sofrimento, a
individuação é a única possibilidade.

 A individuação é tanto fatalidade quanto


realização. A psicologia do si-mesmo é um
processo constatável empiricamente que poderia
transcorrer naturalmente se não recebesse uma
conotação trágica no ser humano pela colisão
com a consciência (18.06.1949 para Armin
Kesser – Cartas II)
O mundo como representação

O mundo só existe como representação:


“sempre e somente em relação com outro
ser que o percebe.”
Não há sujeito sem objeto e nem objeto sem
sujeito.
Sabe que não conhece o sol nem a terra,
mas somente que tem um olho que vê o sol
e uma mão que sente o contato com a terra.
ética
 Compaixão

 Amor desinteressado pelo destino trágico de


todos os seres humanos.

 Sentir a dor do outro: com-padecer-se.

 Jung: terapeuta ferido


Superação

 O mundo é uma representação minha.


 O mundo é uma ilusão. (véu de Maya)
 O mundo da realidade pode ser alcançado
pelo corpo.
 Todo ato real da vontade é movimento no
corpo. Nosso corpo é vontade tornada
visível.

 Por meio do próprio corpo, cada um de nós


sente que vive e experimenta prazer e dor,
e percebe o anseio de viver e o impulso
pela conservação.
 "Qualquer coisa experimentada fora
do corpo, num sonho, por exemplo,
não é experimentada, a menos que a
‘incorporemos’, porque o corpo
significa o aqui e agora.” (Jung,
1930)
 Nos Seminários sobre Assim Falou Zarathustra, nos
quais se dirigia a uma platéia restrita e
familiarizada com seu pensamento, Jung
(1934/1939) fez um outro tipo de colocação, bem
mais assertiva e explícita, sobre este mesmo tema.
Disse ele: “O espírito pode ser qualquer coisa, mas
somente a terra pode ser algo definido. Então
manter-se fiel a terra significa manter-se em
relacionamento consciente com o corpo. Não
fujamos e não nos tornemos inconscientes dos
fatos corporais, pois eles nos mantêm na vida real
e ajudam-nos a não perder nosso caminho no
mundo das meras possibilidades, onde estamos
simplesmente de olhos vendados.”
 Sándor (1987) nos dava em suas aulas a
seguinte recomendação: “Temos que,
logo, dessa maneira - não em termos
eclesiásticos e teológicos, mas em termos
existenciais - consagrar de novo o corpo.”
Nietszche
A vida
 Nasceu em 15/10/1844 na Alemanha.
 Família luterana, pai pastor. Perde o pai
aos 5 anos.
 Criado para ser pastor, perde a fé na
adolescência.
 Estudou filologia e aos 25 anos já era
professor na Basiléia.
 Em 1879 deixa o cargo por problemas de saúde
– voz inaudível. Neurose e fragilidades
orgânicas: dores de cabeça, má digestão, falhas
de visão, tonturas, insônia, etc.

 Passa a ter uma vida errante, em busca de clima


favorável para sua saúde e obra.
 “Mas o pior de tudo era a solidão. Mas na
medida em que se tornava mais e mais
afirmativo, enxergava sua solidão e
mesmo sua doença como essenciais às
tarefas criativas que estabelecera para si
mesmo.” (Jung, Seminários, p. 4)

 “Minha doença tem sido a minha maior


dádiva: ela me desbloqueou, deu-me a
coragem para ser eu mesmo.” (N. carta a
Geor Brandes)”
1982 – Lou Salomé.

 Encontra em Lou
Salomé alguém com
que imagina que
poderia viver e a pede
em casamento. Ela
propõe uma relação a 3
com Paul Rée. Depois
de algum tempo,
N.desiludido, se afasta
e escreve o Zarathustra.
 1889 – loucura. Diagnóstico: paralisia cerebral
progressiva.

 Visões de ter que engolir os sapos que via nas


mãos das pessoas. Pessoas de mãos
transparentes.

 Identificação com Dionísio, e com o Crucificado.

 Fica aos cuidados da mãe e da irmã, e morre 11


anos depois, 25/08/1890.
 Há homens que já nascem póstumos.

 Reconhecer este fato implica que ele teria


necessidade de intérpretes, o que era,
para ele, fonte de ansiedade. Melhor ser
ignorado do que mal compreendido.
Medo de ser como ele
 Jung vai estudar em Basiléia, onde Nietzsche dava
aula 16 anos antes, e era muito discutido, atacado
pela inadequação de seu comportamento e pela
hostilidade que suas idéias despertavam.

 Isto aguçava a curiosidade de Jung, que,


entretanto, era impedido por um “medo de ser
igual a ele.” A experiência, ao lê-lo, foi tremenda,
e, temendo, enveredou “pelo terreno mais seguro
dos estudos empíricos. Volta ao estudo de
Nietzsche depois do rompimento com Freud.
 Tanto um como outro desprezavam o
hedonismo, a filosofia do conforto, prazer,
da satisfação.

 Sem conflito e sem sofrimento a


consciência está fadada à estagnação e à
regressão.
 Ambos buscavam uma psicologia
(filosofia) cujo teste é: ela leva a uma vida
rica de realizações, conseguimentos,
mesmo transcendência, para um reino de
integração além do que é possível atingir
dos confortáveis sofás da vida cotidiana?
 Ambos entendiam que nenhum
conseguimento intelectual ou artístico
pode ser entendido ou adequadamente
avaliado sem uma consideração pelo si-
mesmo total de seu criador.

 “Eu sempre escrevi minhas obras com


meu corpo e com minha vida totais.” (N.)
 Ambos elitistas: no que diz respeito à
consciência e à inteligência.

 Nietzsche dizia que dirigia seu trabalho


“aos muito poucos”. Jung, que a psique
era hierárquica e aristocrática.
Diferenças
 1. Para Nietzsche, a dimensão estética da
vida era de maior importância. Para Jung,
a religiosa. As várias religiões do mundo
eram uma inevitável e muitas vezes
profunda tentativa de simbolizar a eterna
busca de significado do homem.
 2. Jung propunha não perder contato com os
instintos.

 Nietzsche procurou uma totalidade humana


mais alta, além do bem e do mal. Afasta-se e
entrega-se sem resistência ao êxtase
dionisíaco, da “besta loira”, que se apropria da
psique por meio de sobressaltos inomináveis.
De Jung sobre Nietzsche
 “Esta captura o transforma em um herói ou
ser semelhante aos deuses, uma entidade
sobre-humana... Se o heroísmo se torna
crônico, acaba em um espasmo, e o
espasmo conduz à catástrofe.”

 Jung criticava o afastamento de Nietzsche do


homem comum, dentro e fora de si mesmo.
Individuação – o super-homem

 A essência da vida humana consiste na sua capacidade


de crescimento. “Não descobrimos ainda o homem em
sua totalidade.”

 Idéia do homem responsável por si mesmo.

 A morte de Deus pressagia a vinda do super-homem.


Superhomem
 Ninguém pode construir em teu lugar

as pontes que precisarás passar,

para atravessar o rio da vida

- ninguém, exceto tu, só tu.

Existem, por certo, atalhos sem números,

e pontes, e semideuses que se oferecerão

para levar-te além do rio;

mas isso te custaria a tua própria pessoa;

tu te hipotecarias e te perderias.

Existe no mundo um único caminho

por onde só tu podes passar.

Onde leva? Não perguntes, segue-o


 O gosto de minha morte na boca deu-me
perspectiva e coragem. O importante é a
coragem de ser eu mesmo.

 O homem é uma corda estendida entre o animal


e o Super-homem, uma corda por cima de um
abismo.
 Deus está morto

 A morte de Deus pressagia a vinda do


super-homem
Doença do Eros
 Este ódio de tudo que é humano", diz Nietzsche,
"de tudo que é 'animal' e mais ainda de tudo que é
'matéria', este temor dos sentidos... este horror da
felicidade e da beleza; este desejo de fugir de tudo
que é aparência, mudança, dever, morte, esforço,
desejo mesmo, tudo isso significa... vontade de
aniquilamento, hostilidade à vida, recusa em se
admitir as condições fundamentais da própria vida".
 Segundo Nietzsche, o cristianismo
concebe o mundo terrestre como um vale
de lágrimas, em oposição ao mundo da
felicidade eterna do além. Essa concepção
constitui uma metafísica que, à luz das
idéias do outro mundo, autêntico e
verdadeiro, entende o terrestre, o
sensível, o corpo, como o provisório, o
inautêntico e o aparente.
 O cristianismo, continua Nietzsche, é a forma
acabada da perversão dos instintos que
caracteriza o platonismo, repousando em
dogmas e crenças que permitem à consciência
fraca escapar à vida, à dor e à luta, e impondo a
resignação e a renúncia como virtudes. São os
escravos e os vencidos da vida que inventaram o
além para compensar a miséria; inventaram
falsos valores para se consolar da impossibilidade
de participação nos valores dos senhores e dos
fortes; forjaram o mito da salvação da alma
porque não possuíam o corpo; criaram a ficção
do pecado porque não podiam participar das
alegrias terrestres e da plena satisfação dos
instintos da vida.
 Este ódio de tudo que é humano", diz
Nietzsche, "de tudo que é 'animal' e mais
ainda de tudo que é 'matéria', este temor dos
sentidos... este horror da felicidade e da
beleza; este desejo de fugir de tudo que é
aparência, mudança, dever, morte, esforço,
desejo mesmo, tudo isso significa... vontade
de aniquilamento, hostilidade à vida, recusa
em se admitir as condições fundamentais da
própria vida".
 Não posso acreditar num Deus que quer ser
louvado o tempo todo.

 O homem procura um princípio em nome do


qual possa desprezar o homem. Inventa outro
mundo
para poder caluniar e sujar este; de fato só
capta o nada e faz desse nada um Deus, uma
verdade, chamados a julgar e condenar esta
existência.
Amor Fati

 Amor fati : Você vive hoje uma vida que


gostaria de viver por toda a eternidade?
 E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse
em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida,
assim como tu vives agora e como a viveste, terás de
vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não
haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e
cada pensamento e suspiro e tudo o que há de
indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de
te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do
mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e
do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna
ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e
tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao
chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio
que te falasses assim?
O eterno retorno
 Nietzsche responde ao pessimismo de
Schopenhauer: em lugar do desespero de uma
vida para a qual tudo se tornou vão, o homem
descobre no eterno retorno a plenitude de uma
existência ritmada pela alternância da criação e da
destruição, da alegria e do sofrimento, do bem e
do mal. O eterno retorno, e apenas ele, oferece,
diz Nietzsche, uma "saída fora da mentira de dois
mil anos", e a transmutação dos valores traz
consigo o novo homem que se situa além do
próprio homem.
Jung: sombra
Nietszche: dionisíaco
 Lado obscuro e assustador da natureza humana

 À noção de dionisíaco ele introduz e atrela nomes como “o


verdadeiramente existente”, o “gênio da natureza”, “o eterno
padecente e pelo de contradição.”, “o pai de todas as coisas.”

 Dionísio é percebido como força de origem do próprio mundo, como


fundo que clama por emergir.

 É o lugar do êxtase, da embriaguez, do que não tem limite. É a


afirmação total da vida.

 O dionisíaco e a sombra são as grandes fontes da criatividade humana


 É necessário ter o caos cá dentro para
gerar uma estrela.
 Aquele que luta com monstros deve
acautelar-se para não tornar-se também
um monstro. Quando se olha muito tempo
para um abismo, o abismo olha para
dentro de você.
Anima
 Máscaras - Há mulheres que, por mais que as
pesquisemos, não têm interior, são puras
máscaras. É digno de pena o homem que se
envolve com estes seres quase espectrais,
inevitavelmente insatisfatórios, mas
precisamente elas são capazes de despertar da
maneira mais intensa o desejo do homem: ele
procura sua alma - e continua procurando pra
sempre...
 O amor é o estado no qual os homens têm
mais probabilidades de ver as coisas tal
como elas não são.
Self
 O um torna-se dois

 A percepção consciente de que há algo


além do ego atuando na psique.
 Eu ali estava, - à espera de nada
 E me comprazia, para além do bem e do
mal
 Ora com a luz, ora com a sombra,
abandonado
 Ao dia, ao lago, ao sol, ao tempo sem fim.
 Então, amigo, de súbito
 O um se transformou em dois.
 E Zarathustra passou através de mim.
A vida não vivida dos pais

 O que o pai calou aparece na boca do


filho, e muitas vezes descobri que o filho
era o segredo revelado do pai.
Arte
 Perdido seja para nós aquele dia em que
não se dançou nem uma vez! E falsa seja
para nós toda a verdade que não tenha
sido acompanhada por uma gargalhada!.

 Temos a arte para não morrer da verdade


 E aqueles que foram vistos dançando
foram julgados insanos por aqueles que
não podiam escutar a música.
Referências
 CLARKE, J . Em busca de Jung, Indagações Históricas e Filosóficas. Rio de Janeiro,
Ediouro, 1993

 CASSIRER, E. Ensaio sobre o homem. São Paulo: Martins Fontes, 2005

 EDINGER, E. A Psique na Antiguidade. São Paulo: ed. Cultrix, 1999

 JUNG, C.G. Seminário das Visões. 1934

 JUNG, C.G. Tipos Psicológicos. CW VI. Petrópolis; Ed Vozes, 1991

 NAGY, M. Questões Filosóficas na Psicologia de C.G.Jung. Petrópolis: ed Vozes, 2003

 REALE, G. História da Filosofia Antiga. Vol 1. São Paulo: ed Loyola, 1993

 REALE,G. ANTISERI,D. Historia da Filosofia. Filosofia Pagã Antiga. São Paulo: Paulus,
2003.

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