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Crimes Contra o

Patrimônio
• Inicia-se aqui o Título II do CPComum, Parte
Especial, em defesa do patrimônio, com espeque na
Carta Magna, como direito e garantia
individual/fundamental, art. 5º, caput:
• “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:
• .................”;
• Assim, autêntica exteriorização do Princípio da
Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos, ou seja, a
tutela constitucional dos bens jurídicos;
• Conceito de patrimônio: “Complexo de bens ou
interesses de valor econômico em relação de
pertinência com uma pessoa” (Masson);
• E o bem de valor meramente moral/sentimental?
1. Bens com valor de troca- aferíveis
economicamente, e passíveis de observar o
princípio da insignificância penal;
2. Bens com valor de uso- não aferíveis
pecuniariamente, em face do valor sentimental, e
assim jamais poderão, a eles, ser aplicada a
insignificância penal.
Obs.: todos tem valor, para fins de configuração dos
crimes patrimoniais!
• O que se pode considerar como infrações
patrimoniais, quando atingidos outros bens
jurídicos, além da propriedade?
a) Verifica-se o interesse predominante do tipo, a
exemplo dos crimes de latrocínio e extorsão
mediante sequestro (vida e liberdade);
b) No caso dos delitos funcionais, os interesses da
Administração sempre serão superiores aos
patrimoniais pessoais, ainda que ofendam o
mesmo bem jurídico;
 Furto-Infração de Médio Potencial Ofensivo
“Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa
alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos,
e multa.”
• Admite sursis processual, crime de médio potencial
ofensivo, e assim não sujeitará à composição civil
de danos, transação penal, mas poderá ter direito a
redução da pena do arrependimento posterior;
• Com o ressarcimento total do bem subtraído, é
possível a extinção da punibilidade em analogia ao
retratado para os crimes tributários?
• Para parcela da doutrina e jurisprudência sim,
podendo, para tanto, ser arguida a ausência de
necessidade da pena, com esteio na Teoria do Crime
Funcionalista Moderada (Roxin), não havendo assim
reprovabilidade da conduta;
• É possível furto de coisa própria? A princípio não,
mesmo que em posse legítima de terceiros (empenho,
p.ex.), podendo constituir, a depender do caso, em
estelionato ou exercício arbitrário das próprias razões
(art.s 171 e 345, CPComum);
1. Sujeito ativo: crime comum;
2. Sujeito passivo: qualquer pessoa, física ou
jurídica;
3. Objeto Material: coisa alheia móvel (elemento
normativo do tipo);
4. Objeto Jurídico: É a propriedade. Princípio da
Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos, inserto na
CF/88 (art. 5º, caput);
5. Elemento subjetivo: dolo direto com especial fim de
agir (“para si ou para outrem”). Requer o animus sibi
habendi (intenção do assenhoreamento definitivo da
coisa), senão, configura furto de uso (atípico);
6. Classificação: crime material, de dano, forma livre,
comissivo e instantâneo ou permanente;
7. Sanção Penal: penas de reclusão e multa;
8. Ação Penal: pública incondicionada.
Obs.: a consumação do furto: observa-se a teoria da
amotio ou apprehensio, em que a consumação ocorre
no momento da subtração da res, passando ela para o
poder do agente, ainda que por breve espaço de tempo.
“Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da
res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e
seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a
posse mansa e pacífica ou desvigiada. (TEMA 934, 3ª
SeçãoSTJ, J. 14/10/2015, Info 572)”
 Furto Majorado
“§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
praticado durante o repouso noturno.”
• Repouso noturno= costume interpretativo. A
localidade em que sucedeu a infração para o
descanso diário é que dita o período;
• Não necessita a presença de pessoas no instante do
crime (incluindo comércios);
• Independentemente da posição topográfica no tipo, é
aplicada a todas modalidades;
• Se ocorrer o furto de um veículo, durante o repouso
noturno, defronte a respectiva residência não incidirá
tal majorante; se na garagem, sim!!!
 Furto Privilegiado (mínimo)
“§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno
valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a
dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.”
• Se trata de uma causa especial de redução da
pena ou, a critério do juiz:
i) Substituição da pena de reclusão pela de
detenção (regime prisional);
ii) Aplicar somente a pena de multa (multa
substitutiva).
• Requisitos: a) Subjetivo- agente não reincidente;
b) Objeto- res de pequeno valor (até 1 Salário
Mínimo, segundo a jurisprudência prevalente);
• Há uma ofensa ao bem jurídico atacado da vítima,
no entanto, acaso preenchidos os encimados
requisitos, poderá ocorrer modificação das
consequências penais;
• Não confundir com a lesão insignificante ao
patrimônio da vítima, Princípio da Insignificância
Penal, que gera atipicidade material;
"Convém distinguir (...) a figura do furto insignificante
daquele de pequeno valor. O primeiro, como é cediço,
autoriza o reconhecimento da atipicidade da conduta,
ante a aplicação do princípio da insignificância. Já no
que tange à coisa de pequeno valor, criou o legislador a
causa de diminuição referente ao furto privilegiado,
prevista no art. 155, § 2º, do CP." (HC 109.230, rel. min.
Ricardo Lewandowski, julgamento em 18-10-2011,
Segunda Turma, DJE de 1º-3-2012.)
• A Insignificância é visualizada no respectivo
leading case;
• E o Furto Famélico....
 Furto Equiparado
“§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou
qualquer outra que tenha valor econômico.”
• Exemplifica-se com o famoso “gato”;
• Outras formas de energia: térmica, radiativa,
genética, a exemplo do semén de um animal;
• E a energia originada da água? (art. 161, §1º, I);
• E o sinal de TV a Cabo e Internet? Divergência do
STJ e STF;
• STJ- se trata sim de energia com valor econômico;
• STF- entende que não se trata de energia,
configurando assim, acaso criminalizado, uma
analogia in malan partem;
“PENAL. RECURSO ESPECIAL. FURTO DE SINAL DE TV A
CABO. TIPICIDADE DA CONDUTA. FORMA DE ENERGIA
ENQUADRÁVEL NO TIPO PENAL. RECURSO PROVIDO. I. O
sinal de televisão propaga-se através de ondas, o que na
definição técnica se enquadra como energia radiante, que é
uma forma de energia associada à radiação eletromagnética.
II. Ampliação do rol do item 56 da Exposição de Motivos do
Código Penal para abranger formas de energia ali não
dispostas, considerando a revolução tecnológica a que o
mundo vem sendo submetido nas últimas décadas. III.
Tipicidade da conduta do furto de sinal de TV a cabo. IV.
Recurso provido, nos termos do voto do Relator. (REsp
1123747/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA,
julgado em 16/12/2010, DJe 01/02/2011)”
“O sinal de TV a cabo não é energia e, assim, não pode ser
objeto material do delito previsto no art. 155, § 3º, do CP.
Daí a impossibilidade de se equiparar o desvio de sinal de
TV a cabo ao delito descrito no referido dispositivo.
Ademais, na esfera penal não se admite a aplicação da
analogia para suprir lacunas, de modo a se criar
penalidade não mencionada na lei (analogia in malam
partem), sob pena de violação ao princípio constitucional
da estrita legalidade. (HC 97.261, Relator Min. Joaquim
Barbosa, julgamento em 12-4-2011, 2ª Turma)”
 O pagamento do débito oriundo de furto de energia
elétrica (art. 155, § 3º do CP) antes do oferecimento da
denúncia é causa de extinção da punibilidade, nos
termos do art. 9º da Lei nº 10.684/2003?
  
• Em 13/3/2019, RHC 101299/RS, a 3ª Seção do STJ
nos parece que pacificou o último entendimento,
sob a seguinte ementa:
PROCESSO PENAL E PENAL. RECURSO EM HABEAS
CORPUS. FURTO DE ENERGIA ELÉTRICA MEDIANTE
FRAUDE PRATICADO POR EMPRESA CONTRA
CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE PELO PAGAMENTO DO DÉBITO ANTES DO
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. IMPOSSIBILIDADE. POLÍTICA
CRIMINAL ADOTADA DIVERSA. NÃO APLICAÇÃO
ANALÓGICA DO ART. 34 DA LEI N. 9.249/95. TARIFA OU
PREÇO PÚBLICO. TRATAMENTO LEGISLATIVO DIVERSO.
PREVISÃO DO INSTITUTO DO ARREPENDIMENTO
POSTERIOR. RECURSO DESPROVIDO.
1. Tem-se por pretensão aplicar o instituto da extinção
de punibilidade ao crime de furto de energia elétrica em
razão do adimplemento do débito antes do recebimento
da denúncia. 2. Este Tribunal já firmou posicionamento
no sentido da sua possibilidade. Ocorre que no caso em
exame, sob nova análise, se apresentam ao menos três
causas impeditivas, quais sejam; a diversa política
criminal aplicada aos crimes contra o patrimônio e
contra a ordem tributária; a impossibilidade de
aplicação analógica do art. 34 da Lei n. 9.249/95 aos
crimes contra o patrimônio; e, a tarifa ou preço público
tem tratamento legislativo diverso do imposto.
3. O crime de furto de energia elétrica mediante fraude
praticado contra concessionária de serviço público
situa-se no campo dos delitos patrimoniais. Neste
âmbito, o Estado ainda detém tratamento mais rigoroso.
O desejo de aplicar as benesses dos crimes tributários
ao caso em apreço esbarra na tutela de proteção aos
diversos bens jurídicos analisados, pois o delito em
comento, além de atingir o patrimônio, ofende a outros
bens jurídicos, tais como a saúde pública,
considerados, principalmente, o desvalor do resultado e
os danos futuros.
4. O papel do Estado nos casos de furto de energia
elétrica não deve estar adstrito à intenção arrecadatória
da tarifa, deve coibir ou prevenir eventual prejuízo ao
próprio abastecimento elétrico do País. Não se pode
olvidar que o caso em análise ainda traz uma
particularidade, porquanto trata-se de empresa, com
condições financeiras de cumprir com suas obrigações
comerciais. A extinção da punibilidade neste caso
estabeleceria tratamento desigual entre os que podem e
os que não podem pagar, privilegiando determinada
parcela da sociedade.
5. Nos crimes contra a ordem tributária, o legislador
(Leis n. 9.249/95 e n. 10.684/03), ao consagrar a
possibilidade da extinção da punibilidade pelo
pagamento do débito, adota política que visa a garantir
a higidez do patrimônio público, somente. A sanção
penal é invocada pela norma tributária como forma de
fortalecer a ideia de cumprimento da obrigação fiscal. 6.
Nos crimes patrimoniais existe previsão legal específica
de causa de diminuição da pena para os casos de
pagamento da "dívida" antes do recebimento da
denúncia. Em tais hipóteses, o Código Penal - CP, em
seu art. 16, prevê o instituto do arrependimento
posterior, que em nada afeta a pretensão punitiva,
apenas constitui causa de diminuição da pena.
7. A jurisprudência se consolidou no sentido de que a
natureza jurídica da remuneração pela prestação de
serviço público, no caso de fornecimento de energia
elétrica, prestado por concessionária, é de tarifa ou
preço público, não possuindo caráter tributário. Não há
como se atribuir o efeito pretendido aos diversos
institutos legais, considerando que os dispostos no art.
34 da Lei n. 9.249/95 e no art. 9º da Lei n. 10. 684/03
fazem referência expressa e, por isso, taxativa, aos
tributos e contribuições sociais, não dizendo respeito
às tarifas ou preços públicos. 8. Recurso ordinário
desprovido.
 Furtos Qualificados
“§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa,
se o crime é cometido:
    I - com destruição ou rompimento de obstáculo à
subtração da coisa;
“A destruição ou avaria de automóvel para a subtração
de objeto que se encontra em seu interior faz incidir a
qualificadora prevista no inciso I do § 4º do art. 155 do
CP. O rompimento de obstáculo para alcançar a res
furtiva leva a uma maior reprovabilidade da conduta."
(HC 95.351, rel. min. Ricardo Lewandowski, julgamento
em 21-10-2008, Primeira Turma, DJE de 7-11-2008.)
• Afasta a aplicação do crime de dano (critério da
consunção).
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude,
escalada ou destreza;
• Ùnica qualificadora de natureza subjetiva;
• A exemplo do estelionato, o agente se vale de
ardil, fraude, só que neste o meio presta-se a
distrair a vítima a fim de subtrair o bem; naquele
servirá para que a vítima entregue o bem ex
spont propria;
• “Test Driver” (posse vigiada);
• Caso da troca de embalagens e troca de preços;
III - com emprego de chave falsa;
"A jurisprudência do STF é firme no sentido de que
o conceito de chave falsa abrange a chave 'mixa' e
todo e qualquer instrumento ou dispositivo
empregado para abertura de fechaduras." (HC
106.095, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 3-5-
2011, Primeira Turma, DJE de 19-5-2011.)
• IV - mediante concurso de duas ou mais
pessoas.
• Em abril/2018 adveio a Lei nº 13.654/2018,
trazendo inovações nos crimes patrimoniais de
furto e roubo, mormente no tocante ao emprego
de artefatos explosivos para tal desiderato;
• Desse modo, quanto ao crime de furto, tivemos o
acréscimo dos §§4º-A e 7º;
Furto qualificado pelo emprego de explosivo
“§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)
anos e multa, se houver emprego de explosivo ou
de artefato análogo que cause perigo comum.”
• Em 28 de maio de 2021, publicou no DOU a
Lei nº 14.155/2021, que alterou e acrescentou
dispositivos no CPcomum e CPPcomum,
notadamente no contexto à repressão
(proibição) dos crimes cibernéticos;
• Os tipos modificados forma os art.s 154-A,
155 e 171, CPcomum, todos envidando um
maior endurecimento no trato com a matéria,
qual seja, o ataque aos bens jurídicos
liberdade e patrimônio através de meios
informáticos;
• No furto restou acrescido uma nova qualificadora e
novas majorantes, quando o tipo qualificado for
praticado em desfavor de determinadas pessoas ou
em certo local;
• Vamos a eles:
“§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido
por meio de dispositivo eletrônico ou informático,
conectado ou não à rede de computadores, com ou
sem a violação de mecanismo de segurança ou a
utilização de programa malicioso, ou por qualquer
outro meio fraudulento análogo.”
“§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo,
considerada a relevância do resultado gravoso: I –
aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o
crime é praticado mediante a utilização de servidor
mantido fora do território nacional; II – aumenta-se de
1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra
idoso ou vulnerável.”
• No tocante à figura qualificada, temos uma neo
espécie de furto praticado mediante a destreza, só
que utilizando a informática, a exemplo daquele que
instala um malware no equipamento da vítima, e
assim ingressa na sua conta bancária (da vítima) e
transfere valores;
• Note que a circunstância majorante
“considerada a relevância do resultado
gravoso” servirá para estabelecer o quantum
do percentual de aumento.
Furto qualificado pela subtração de substâncias
explosivas
“§ 7º  A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10
(dez) anos e multa, se a subtração for de
substâncias explosivas ou de acessórios que,
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.”  
• Os §§ 4ºA e 7º tem penas idênticas ao roubo
simples, o que levanta questionamentos acerca da
sua constitucionalidade;
• Busca combater o aumento da incidência de delitos
de furto com utilização de explosivos em bancos,
ao exemplo do “estouro” de caixas eletrônicos com
dinamite, além da subtração de tais;
• Antes dessa modificação, a primeira conduta era
punida como furto qualificado pela “destruição ou
rompimento de obstáculo”, com penas menores (2-
8 anos);
• Após o avento do Pacote Anticrime, a hipótese do §
4ºA, passou a ter o caráter hediondo.
• Outras formas qualificadas do furto:
“§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos,
se a subtração for de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior.”
“§ 6o  A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5
(cinco) anos se a subtração for de semovente
domesticável de produção, ainda que abatido
ou dividido em partes no local da subtração.”  
• Aqui, não há previsão de pena de multa, por
erro do legislador;
• Segundo Cléber Masson e Márcio Cavalcante (2016):
“Semovente domesticável de produção é o animal que foi
domesticado ou que pode ser domesticado para ser utilizado
como rebanho e/ou produção. Em regra, incluem-se neste
conceito os bovinos, ovinos, suínos, caprinos etc.
• O legislador, contudo, não fez restrições. Desta forma,
ingressam no conceito de semovente domesticável de
produção animais diversos, a exemplo de cães, gatos e aves,
desde que contenham a finalidade de produção, é dizer, sejam
idôneos a gerar algum retorno econômico ao seu titular, como
se dá na criação de filhotes destinados à venda.
Não ingressam na nova proteção do Direito Penal:
• os animais selvagens. Exs: leão, tigre, girafa, elefante etc.
• os animais domésticos que não sejam voltados à produção.”
 É possível furto privilegiado/qualificado?
Sim, desde que a qualificadora seja de
natureza objetiva, HC 96.843, STF e Súmula
511, STJ.
“É possível o reconhecimento do privilégio
previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de
crime de furto qualificado, se estiverem
presentes a primariedade do agente, o pequeno
valor da coisa e a qualificadora for de ordem
objetiva.”
ROUBO
1.Sujeito ativo: crime comum;
2.Sujeito passivo: qualquer pessoa, física e jurídica;
3.Objeto Material: coisa alheia móvel;
4.Objeto Jurídico: É a propriedade, incolumidade e integridade pessoal (crime
complexo);
5. Elemento subjetivo: dolo direto com especial fim de agir (“para si ou para
outrem”). Animus sibi habendi (intenção do assenhoreamento definitivo da
coisa) e uso da violência (própria ou imprópria) e/ou grave ameaça;
6. Classificação: crime material, de dano, forma livre, comissivo e instantâneo
ou permanente;
7. Sanção Penal: penas de reclusão e multa;
8. Ação Penal: pública incondicionada.

Obs.: É possível roubo de uso?


• È aplicável o Princípio da Insignificância?
• “A Segunda Turma desta Corte afirmou
entendimento no sentido de ser 'inaplicável’ o
princípio da insignificância ao delito de roubo (art.
157, CP), por se tratar de crime complexo, no qual
o tipo penal tem como elemento constitutivo o fato
de que a subtração de coisa móvel alheia ocorra
'mediante grave ameaça ou violência à pessoa', a
demonstrar que visa proteger não só o patrimônio,
mas também a integridade pessoal' (AI 557.972-
AgR, rel. min. Ellen Gracie, DJ de 31-3-2006)."
• E quando se dá a consumação do crime de roubo?
• Segue, a exemplo do furto, a teoria da amotio:
• Súmula 582 do STJ: “Consuma-se o crime de
roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave
ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e
recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou
desvigiada.”
“Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou
para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência: Pena -
reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa
ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade
do crime ou a detenção da coisa para si ou para
terceiro.”
• Pessoa Jurídica pode ser vítima de roubo? Sim, bem
como de qualquer crime patrimonial. Há a vítima 1 –
aquela pessoa natural a quem é dirigido o ato de
subtrair – e a vítima 2 – o patrimônio da pessoa
jurídica;
• Roubo Próprio & Roubo Impróprio: no primeiro se
emprega a violência/grave ameaça ou outro meio
(violência imprópria) para empós cometer o delito; no
segundo o agente primeiro apreende a res e depois
emprega a violência própria ou grave ameaça (não há
as locuções “outros meios”) visando garantir a
subtração ou a impunidade. É o furto que se
transforma em roubo;
• Assim já assentou o STF:
"Roubo. Próprio e impróprio. A figura da cabeça do
art. 157 do CP revela o roubo próprio. O § 1º do
mesmo dispositivo consubstancia tipo diverso, ou
seja, o roubo impróprio, o qual fica configurado com a
subtração procedida sem grave ameaça ou violência,
vindo-se a empregá-las posteriormente contra a
pessoa." (RHC 92.430, rel. min. Marco Aurélio,
julgamento em 26-8-2008, Primeira Turma, DJE de 21-
11-2008.)
• A trombada na vítima, para fins de subtração da
coisa, caracterizará roubo ou furto?
Obs.: Violência imprópria: a exemplo do golpe “boa noite
cinderela” realizado via utilização de psicotrópicos
(instrumentos utilizados além da violência ou grave
ameaça/“outro meio que reduza a resistência”), bem como
métodos hipnóticos; não é possível no roubo impróprio.
ATENÇÃO!!! “Aquele que, após haver realizado a
subtração de bens, ministra narcótico na bebida do vigia
local para dali sair com sucesso de posse de alguns dos
objetos subtraídos, responde por:
(A) furto consumado.
(B) roubo impróprio.
(C) tentativa de furto.
(D) roubo impróprio tentado.
(E) estelionato.”
• Atenção!!! Se antes do apoderamento do bem
(teoria da amotio) surgir o proprietário, e este vem a
ser agredido, a fim de ver assegurada a sua
impunidade, sendo preso por terceiros?
R.: Tentativa de furto em concurso material com o
crime contra a pessoa (lesão, ameaça,
constrangimento ou homicídio, neste tentado ou
consumado); se posterior a posse do bem, mas antes
da posse desvigiada, roubo (impróprio).
 Roubo Majorado ou circunstanciado
“§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: I –
Revogado; II - se há o concurso de duas ou mais
pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de
valores e o agente conhece tal circunstância; IV - se
a subtração for de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado ou para o
exterior; V- se o agente mantém a vítima em seu
poder, restringindo sua liberdade. VI – se a
subtração for de substâncias explosivas ou de
acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego;  VII - se a violência ou grave ameaça é
exercida com emprego de arma branca.”
• “Arma branca, na lição de Eraldo Rabello, é a
arma manual, provida de gume ou de ponta e
gume, a qual, em tempos antigos, se opunha às
armas de arremesso, hoje representadas pelas
armas de fogo; receberam esse nome porque
feitas comumente de ferro ou aço branqueados.”;
• Não se trata de roubo qualificado e sim causa de
aumento de pena para o crime de roubo;
• Nomenclatura “roubo qualificado” dada pela
doutrina/jurisprudência é equívoca, uma vez que
se trata, como visto, de causa de aumento de
pena, ou seja, roubo majorado;
• O CPM, art. 242, §2º, chama de “roubo
qualificado”, na rubrica do mesmo dispositivo,
mas traz também majorantes desse delito
patrimonial;
• Novatio legis in mellior (Lei nº 13.654/2018),
revogado o I, §2º, art. 157, que previa o termo
arma (qualquer), e dispondo agora de majorante
(mais elevada) pelo emprego de arma de fogo
(Art. 157, §2ºA, I e §2ºB);    
• Com o advento do “Pacote AntiCrime”,
novamente restou inserida tal circunstância (Inc.
VII, §1º, art. 157).
“O emprego de arma branca deixou de ser majorante do
crime de roubo com a modificação operada pela Lei nº
13.654/2018, que revogou o inciso I do § 2º do art. 157
do Código Penal. Diante disso, constata-se que houve
abolitio criminis, devendo a Lei nº 13.654/2018 ser
aplicada retroativamente para excluir a referida causa
de aumento da pena imposta aos réus condenados por
roubo majorado pelo emprego de arma branca. Trata-se
da aplicação da novatio legis in mellius, prevista no art.
5º, XL, da Constituição Federal.” (STJ. 6ª Turma. AgRg
no AREsp 1249427/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, Julgado 19/06/2018)
 Novas circunstâncias majorantes
§ 2º-A  A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):                
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de
arma de fogo; II – se há destruição ou rompimento de
obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum.                
§ 2º-B.  Se a violência ou grave ameaça é exercida com
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
artigo.”   
 Novatio legis incriminadora, no §§ 2º A e B; o último
foi inserido com o “Pacote AntiCrime”.;
 E o emprego do simulacro de arma de fogo?

      
 Roubo qualificado pela lesão e morte
“§ 3º  Se da violência resulta: I – lesão corporal grave, a
pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e
multa; II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30
(trinta) anos, e multa.” 
• São hipóteses de crimes hediondos, ex vi art. 1º, II,
“c”, da Lei nº 8.072/1990;
 No tocante ao latrocínio, o CPM adota a seguinte: i) se
a morte da vítima decorrer de culpa: “art. 242...§ 2º A
pena aumenta-se de um têrço até metade: V - se é
dolosamente causada lesão grave; VI - se resulta
morte e as circunstâncias evidenciam que o agente
não quis esse resultado, nem assumiu o risco de
produzi-lo.”
      
 

Latrocínio
ii) Se decorrer de dolo: “Art. 242..§ 3º Se, para
praticar o roubo, ou assegurar a impunidade do
crime, ou a detenção da coisa, o agente ocasiona
dolosamente a morte de alguém, a pena será de
reclusão, de quinze a trinta anos, sendo irrelevante
se a lesão patrimonial deixa de consumar-se. Se há
mais de uma vítima dessa violência à pessoa,
aplica-se o disposto no art. 79.”
• Previsão do CPM, mais uma vez, superior
tecnicamente do que a do CPComum;
• O resultado morte deve ser decorrente e durante
o crime patrimonial;
      
 

• “A” realiza um assalto e, dias depois, mata uma


testemunha da infração a fim de garantir a
impunidade. Responderá por dois crimes: roubo e
homicídio qualificado pela conexão consequencial
(tirou a vida de outrem para assegurar a impunidade);
• Caso o roubo suceda em concurso de pessoas, e
venha um dos autores tirar a vida do comparsa, não
há latrocínio, e sim roubo e homicídio qualificado pela
torpeza;
• Se deseja matar a vítima e acerta o coautor, teremos
latrocínio, na hipótese de aberractio ictus;
• Se mata o policial que chegara no local: roubo em
concurso de crimes com homicídio funcional;
      
 

• Subtrai um bem, com diversas vítimas fatais:


- 1ª Corrente- Responderá por um latrocínio apenas, e
a pluralidade de mortes servirá como valoração
(negativa) na aferição da pena;
- 2ª Corrente- Cada morte configura um tipo
autônomo (concurso formal).
“O crime de latrocínio é um delito complexo, cuja unidade não se
altera em razão da diversidade de vítimas fatais; há um único
latrocínio, não obstante constatadas duas mortes; a pluralidade de
vítimas não configura a continuidade delitiva, uma vez que o crime-
fim arquitetado foi o de roubo, e não o de duplo latrocínio. Mantida
a condenação, expunge-se da pena a majoração, porquanto não
configurada a continuidade delitiva.(HC 109.539, rel. min. Gilmar
Mendes, julgamento em 19-3-2013, Segunda Turma, DJE de 31-5-
2013)"
    
 
“1. Pacificou-se na jurisprudência desta Corte Superior
de Justiça o entendimento de que há concurso formal
impróprio no latrocínio quando ocorre uma única
subtração e mais de um resultado morte, uma vez que
se trata de delito complexo, cujos bens jurídicos
tutelados são o patrimônio e a vida.... (HC 336680, rel.
min. Jorge Mussi, julgamento em 17-11-2015, Quinta
Turma, DJE de 26-11-2015)"
• Para o STF, subtração tentada e vida da vítima extinta,
será latrocínio consumado (Sum. 610- "Há crime de
latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
não realize o agente a subtração de bens da vítima.“);
amolda-se à previsão do CPM;
    
 

• Enunciado vetusto (meados dos anos 1980);


tecnicamente por se tratar o latrocínio crime patrimonial
deveria adequar-se ao delito tentado, no entanto, pune-
se como consumado sob a ótica da política criminal,
com foco no resultado morte;
• Para o STJ, subtração consumada e extinção da vítima
tentada, latrocínio tentado:
“1. Prevalece nesta Corte o entendimento de que, sempre
que caracterizado o dolo do agente de subtrair o bem
pertencente à vítima e o dolo de matá-la, não ocorrido o
resultado morte por circunstâncias alheias à sua vontade,
há tentativa de latrocínio. Precedentes. .... (Resp 1525956,
rel. min. Rogério Cruz, julgamento em 24-11-2015, Sexta
Turma, DJE de 7-12-2015)"
    
 
• Assim, latrocínio, crime complexo
(violência/constrangimento ilegal + subtração +
homicídio tentado/consumado): i) subtração
tentada e morte tentada= latrocínio tentado; ii)
subtração consumada e morte tentada= latrocínio
tentado; iii) subtração tentada e morte
consumada= latrocínio consumado e iv)
subtração consumada e morte consumada=
latrocínio consumado;
• Se causar lesão leve, esta resta absorvida pelo
tipo de roubo simples ou majorado.
EXTORSÃO
•“Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,
e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem
econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma
coisa:
•        Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
•        § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com
emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
•        § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o
disposto no § 3º do artigo anterior.
• § 3o  Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade
da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem
econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas
previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.”
1.Sujeito ativo: crime comum;
2.Sujeito passivo: qualquer pessoa, inclusive jurídica;
3.Objeto Material: indevida vantagem econômica;
4.Objeto Jurídico: É a propriedade, incolumidade e integridade física
(art. 146 + vantagem indevida);
5. Elemento subjetivo: dolo direto com especial fim de agir (“obter,
para si ou para outrem, indevida vantagem econômica”);
6. Classificação: crime formal, de dano, forma livre, comissivo e
instantâneo;
•Enunc. 96 STJ- “O crime de extorsão consuma-se independentemente
da obtenção da vantagem indevida”. (Crime formal)
7. Sanção Penal: penas de reclusão e multa;
8. Ação Penal: pública incondicionada.
•Diferença com Constrangimento Ilegal: neste o
“constranger” é o fim, na extorsão é instrumento para
obtenção da vantagem financeira (fim);
•Diferença com Roubo, nada obstante terem a mesma
consequência penal: i) neste há a subtração, naquele o
extorsionário faz com que se lhe entregue a indevida
vantagem; ii) no roubo é prescindível a colaboração da
vítima; na extorsão é indispensável; e iii) no roubo a
vantagem é imediata; na extorsão é futura;
•Uma vez que não compreendem o mesmo tipo criminal, não
há crime continuado entre roubo e extorsão, mesmo que
ofendam ao mesmo bem jurídico (há concurso material);
•"Crimes de roubo e de extorsão. Ilícitos penais que não
constituem 'crimes da mesma espécie'. Consequente
impossibilidade de reconhecimento, quanto a eles, do nexo de
continuidade delitiva. Legitimidade da aplicação da regra
pertinente ao concurso material (quot crimina tot poenae)." (STF,
RHC 112.676/SP, 1ª Turma, Julgado 21/8/2012)
• È possível que a grave ameaça, caracterizadora da extorsão, seja
dirigido a bem da vítima?
•“...2. Nos termos da jurisprudência desta Corte, configura a grave
ameaça necessária para a tipificação do crime de extorsão a
exigência de vantagem indevida sob ameaça de destruição e não
devolução de veículo da vítima, que havia sido dela subtraído.
Precedentes...” (STJ, Habeas Corpus 343825/SP, 5º Turma, Julgado
15/9/2016)
•Por ser crime formal, a obtenção da vantagem indevida é
mero exaurimento, inadmitindo flagrante delito nesta fase;
•A causa de aumento do §1º, no tocante ao número de
participantes se difere do furto e do roubo, que requerem
concurso de pessoas: aqui devem as duas (ou mais pessoas)
executarem diretamente o delito (autores);
•Lembrar do emprego de arma (própria ou imprópria) também
como majorante;
•No §2º temos a importação expressa das qualificadoras do
roubo (lesão grave e latrocínio);
•E o delito de Sequestro relâmpago? (Lei nº 11.923/2009);
•Passou a ser forma qualificada de extorsão;
•Com o advento do “Pacote AntiCrime”, a anterior polêmica sobre o
resultado morte se aplicar também ao §3º, art. 158, foi sanada, uma vez
que a remição agora da hediondez está no próprio §3º;
•As hipóteses do §2º saíram da taxatividade do art. 1º, da Lei de Crimes
Hediondos;
•“Lei nº 8.072/1990: Art. 1°....III - extorsão qualificada pela restrição da
liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, §
3º);”
• Contudo, as hipóteses anteriores, §2º, não são hediondos (e para o
roubo são);
• È possível tentativa na extorsão, mesmo sendo crime formal? 
•Mesmo de consumação antecipada, entende doutrina e
jurisprudência o cabimento do conatus no delito de extorsão, em
face de não se consumar com unico actu, e sim, sendo necessário
um iter a ser percorrido;
•Por todos, Alberto Silva Franco, em julgamento por ele relatado,
ainda atuando como juiz do (extinto) Tribunal de Alçada de São
Paulo (1985):
•“O enquadramento da extorsão entre os crimes formais não
impede que se reconheça a possibilidade da tentativa. A extorsão é
delito plurissubsistente, isto é, que se preenche com a realização
de vários atos. Destarte, a atividade criminosa é perfeitamente
cindível: tem um iter criminis e, portanto, pode sofrer interrupção”
(Rev. Tribs., vol. 572, p. 356).
• Suponha que “A”, do interior de um presídio, liga para
“B” afirmando (e convencendo) que a filha daquele está
sequestrada (virtualmente), exigindo, para libertá-la,
determinado valor pecuniário a ser depositado em uma
conta bancária.
• Suponha que “A” e “B”, mediante grave ameaça,
restrinjam a liberdade de “C”, em seu próprio veículo,
enquanto subtraem pertences e outros bens que estão
naquele carro.
•De posse de tais casos concretos, faça a devida
subsunção, observando os tipos simples, majorados e
qualificados dos possíveis delitos patrimoniais aplicáveis.
Extorsão Mediante
Sequestro
•“Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena -
reclusão, de oito a quinze anos.
•§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o
sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou
se o crime é cometido por bando ou quadrilha: Pena - reclusão, de doze a
vinte anos.
•§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena -
reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
•§ 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
•§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar
à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena
reduzida de um a dois terços.”
1.Sujeito ativo: crime comum;
2.Sujeito passivo: qualquer pessoa, física e jurídica; Obs.: e Pessoa
Jurídica?: Sim, no caso de pessoa física sequestrada e ente o moral que arca
com a perda/diminuição patrimonial;
3.Objeto Material: a vantagem ilícita;
4.Objeto Jurídico: É a propriedade, incolumidade e integridade física
(liberdade ambulatorial);
•5. Elemento subjetivo: dolo direto com especial fim de agir/elemento
subjetivo (“obter, para si ou para outrem, indevida vantagem”);
•6. Classificação: crime formal, de dano, forma livre, comissivo e
permanente;
7. Sanção Penal: somente penas de reclusão;
8. Ação Penal: pública incondicionada.
•O dispositivo menciona sequestro; e no caso do cárcere privado (regra em
delitos desta espécie)?
•Cabível aqui interpretação extensiva: o verbo sequestrar engloba o
cárcere privado do art. 148, ainda mais por se tratar de crime complexo
(art. 158 + 148/ou + art. 129 + art. 147 + 121);
•O tipo fala em pessoa; e quem sequestra um animal nas mesmas
circunstâncias? e quem simula o próprio sequestro?: Art. 158, e no último
caso mesmo presente o concurso de pessoas.
•O tempo de privação da liberdade é relevante? Para a configuração do tipo
não, mas sim para as consequências penais (qualificadora do §1º);
•O tipo do §1º fala de bando ou quadrilha; princípio da continuidade
normativo-típica (art. 288);
•A faixa etária da vítima (§1º) deverá ser conhecida pelo
agente, sob pena de configurar a versari in re ilícita, além de,
tratando-se de delito permanente, somente será considerada
(a idade) no instante da liberação do (s) sujeito (s) passivo
(s);
•Caso cometido por duas, ou mais pessoas, nesta sem
configurar uma associação criminosa, se perfaz o tipo do
caput;
•O STJ tem decisão caracterizando o concurso de crimes
entre o delito do art. 159, §1º, e o art. 288, informando
agredirem bens jurídicos distintos (patrimônio e paz pública),
apesar da associação já qualificar a infração vertente;
•“3. In casu, há na exordial precisa descrição do delito
autônomo previsto no art. 288, parágrafo único, do Código
Penal. E, não por outro motivo, o Tribunal a quo, analisando os
elementos de prova de que dispunha, reconheceu sua prática,
não havendo ilegalidade a reconhecer nesta sede.... 5. Nos
termos da jurisprudência desta Corte Superior, por se tratarem
de delitos autônomos e independentes e por serem distintos os
bens jurídicos tutelados, é possível a coexistência entre o crime
de extorsão mediante sequestro, majorado pelo concurso de
agentes, com o de formação de quadrilha ou bando (atualmente
nomeado associação criminosa). (HC 289.885/AM, Rel. Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, SEXTA TURMA, julgado em
27/05/20141, DJ 9/06/2014).”
•No caso dos §§2º e 3º, as qualificadoras resultantes da lesão grave (a
leve é absorvida pelo caput) e morte, devem se dar com a vítima
(sequestrado), e decorrente dos fatos; caso ocorra com terceiros, a
exemplo do agente de segurança que estoura o cativeiro, haverá
concurso material de crimes;
•O §4º, introduzido com a Lei 9.269/1996, se trata de um dos embriões
do instituto da colaboração premiada (“ponte de diamante”);
•É hediondo, tanto nas modalidades simples, como nas qualificadas;
•E o caso da vantagem “devida”? Arts. 148 e 345, em concurso formal.
•O termo “vantagem” abarca outros “ganhos” extra pecúnia (vantagem
econômica indireta)?
DANO
•“Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena -
detenção, de um a seis meses, ou multa.
•Parágrafo único - Se o crime é cometido:
•        I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
•    II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o
fato não constitui crime mais grave;
•    III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito
Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa
pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos;
•    IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a
vítima: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além
da pena correspondente à violência.”
1.Sujeito ativo: crime comum;
2.Sujeito passivo: qualquer pessoa, física e jurídica;
3.Objeto Material: coisa alheia móvel ou imóvel;
4.Objeto Jurídico: É o patrimônio, propriedade ou posse;
•5.Elemento subjetivo: dolo direto ou eventual (elemento subjetivo?);
•Obs.: não é possível dano culposo, apenas como crime militar (art. 266).
•6. Classificação: crime material, de dano, forma livre, comissivo e
instantâneo ou permanente;
7. Sanção Penal: detenção e multa;
8. Ação Penal: pública incondicionada, salvo na hipótese do caput e do
§único, IV, art. 163- ação penal privada, conforme art. 167, CPComum.
•É possível dano, tendo como autor o proprietário da res? Não,
podendo aquele praticar o crime de exercício arbitrário das
próprias razões;
•Cabível a exclusão do crime (causa justificada) se o dano tiver
como origem o consentimento do proprietário;
•Se se tratar de semovente, subsome-se ao tipo do art. 32, da Lei nº
9.605/1998;
•Em caso de pichação, art. 65, da Lei nº 9.605/1998;
•No azo, alguns tipos criminais preveem como elementar as
mesmas condutas de inutilizar, destruir ou deteriorar; soluciona-se
pelo critério da especialidade (art. 62, Lei nº 9.605/98, art.s 208,
210, 305, 336, 337 e 356, CPComum, ou mesmo as disposições do
CPM);
•Há necessidade de fim específico (elemento subjetivo do tipo-
“causar prejuízo a outrem”)?
•- Para Nelson Hungria sim, estaria implícito, no entanto o STF tem
vetusta decisão entendendo em sentido diverso, in casu, tratando
da temática “fuga de preso” que, para tanto, danificou a cela
(enquadrado como dano qualificado pelo patrimônio público);
•- Todavia, alinhando-se ao jurista de escol, o STJ pacificou seu
entendimento pela necessidade do elemento subjetivo (subjacente)
do tipo (“causar dano a alguém”);

•“O aresto objurgado alinha-se a entendimento pacificado neste
Sodalício no sentido de que o dano praticado contra estabelecimento
prisional, em tentativa de fuga, não configura fato típico, haja vista a
necessidade do dolo específico de destruir, inutilizar ou deteriorar o
bem, o que não ocorre quando o objetivo único da conduta é fugir.
(AgRg no AREsp 578521/GO, 5ª Turma, Relatoria Ministro Jorge Mussi,
Julgado em 11/10/2016)”
•O STJ tem entendimento pacificado indicando não ser possível a
aplicação do princípio da insignificância nas hipóteses de dano
qualificado, quando o prejuízo ao patrimônio público atingir outros
bens de relevância social e tornar evidente o elevado grau de
periculosidade social da ação e de reprovabilidade da conduta do
agente.
APROPRIAÇÃO
INDÉBITA
•“Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a
posse ou a detenção:         Pena - reclusão, de um a quatro
anos, e multa.
•               § 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o
agente recebeu a coisa:
•        I - em depósito necessário;
•   II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário,
inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
•   III - em razão de ofício, emprego ou profissão.”
“È o poder licitamente adquirido sobre a coisa e
autonomamente exercitado, mas com a consciência de
exercitá-lo sobre coisa que é alheia.” (Domenico Pisasia)
1.Sujeito ativo: qualquer pessoa, à exceção do proprietário;
2.Sujeito passivo: pessoa, física ou jurídica;
3.Objeto Material: coisa alheia móvel (coisas fungíveis, a exemplo do
dinheiro).
•4. Objeto Jurídico: É o patrimônio (posse legítima de bem móvel);
•5. Elemento subjetivo: dolo direto específico, segundo o STJ (“tomar para
si coisa de que tem a posse/detenção, com a vontade de não restituí-la,
ou desviá-la da finalidade para a qual recebeu.”);
•6. Classificação: crime material, de dano, forma livre, comissivo (venda),
omissivo (negativa de devolução) e instantâneo;
7. Sanção Penal: penas de reclusão e multa;
8. Ação Penal: pública incondicionada.
•Na sua forma simples, infração de médio potencial ofensivo;
•Pressupostos: i) inversão arbitrária do domínio pelo posseiro
ou detentor; ii) ab initio, a vítima entrega a coisa de forma
voluntária; iii) a posse inicial do gente deve ser desvigiada (boa
fé). Se vigiada, teremos furto; e iv) res deve ser coisa móvel de
terceiros;
•O que é posse e detenção? Art.s 1196 e 1198, CC;
•Diferenças entre apropriação indébita (inversão do domínio) e
os delitos de furto mediante fraude, roubo e estelionato,
respectivamente, em face da res: a) se vale da boa fé ou
descuido da vítima; b) se usa da violência ou grave ameaça; e
c) se o agente se valer de fraude, ardil ou artifícios;
•Consumação: quando o agente passa a agir como dono da coisa (res):
•“O crime de apropriação indébita se consuma quando o agente se
apropria de coisa alheia móvel de que tem a posse ou detenção. (...) O não
repasse de determinado valor ao constituinte, antecedido de discussão a
respeito do quantum devido a título de honorários advocatícios, constitui
mero descumprimento de obrigação contratual, a evidenciar atipicidade e,
por conseguinte, falta de justa causa para a ação penal. (RHC 104.588, J.
em 7-6-2011)”
• É possível tentativa? Sim, quando o agente, no instante em que inverte o
domínio (animus) tenta alienar o bem, e é capturado (difícil subsunção);
• Há um obstáculo ao exercício de tal poder (alienação) pelo agente (crime
material);
.

•Observar o princípio da especialidade quando houver colisão com


alguns tipos que trazem condutas análogas, a exemplo do peculato (art.
312);
•Obs.: “Achado não é roubado, na porta do mercado”
• “Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso
fortuito ou força da natureza: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
• Parágrafo único - Na mesma pena incorre:...II - quem acha coisa alheia perdida e dela
se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.”
• Há a figura privilegiada?
• “Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.”
CASE JURÍDICO

•“Suponha que A, patrão de B, entregue ao


mesmo um determinada quantia e dinheiro para
ser depositada em certo estabelecimento
bancário. Ocorre que, no trajeto, B resolve se
apoderar dos valores, e comprar uma
motocicleta. Podemos entender presente o tipo
do art. 163, CPcomum? E Caso B, logo após a
compra da moto, resolva contrair um
empréstimo e ressarcir A, temos o tipo em baila
ainda, com foco no momento consumativo?”
ESTELIONATO
•“Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo
alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil,
ou qualquer outro meio fraudulento:
•       Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis
a dez contos de réis.
•        § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o
juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.
•        § 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
•        Disposição de coisa alheia como própria
•        I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia
coisa alheia como própria;
•        Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
•        II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria
inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender
a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre
qualquer dessas circunstâncias;
•Defraudação de penhor
•        III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por
outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto
empenhado;
•        Fraude na entrega de coisa
•        IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve
entregar a alguém;
•        Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
•        V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o
próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou
doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;
•        Fraude no pagamento por meio de cheque
•        VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado, ou lhe frustra o pagamento.
•       
•§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em
detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia
popular, assistência social ou beneficência.
•Estelionato contra idoso
•§ 4o  Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso.
• § 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima
for:          
• I - a Administração Pública, direta ou indireta;          
• II - criança ou adolescente;          
• III - pessoa com deficiência mental; ou          
• IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.”
1.Sujeito ativo: qualquer pessoa;
2.Sujeito passivo: qualquer pessoa capaz, desde que certa e determinada; se
relativamente incapaz, poderá o delito de abuso de incapazes (art. 173), ou
mesmo furto, se absolutamente; se incerta a vítima , será crime contra a
economia popular (art. 2º, XI, Lei nº 1.521/1951);
3.Objeto Material: pessoa ludibriada e a res obtida;
4.Objeto Jurídico: inviolabilidade do patrimônio;
5.Elemento subjetivo: dolo direto, com o elemento subjetivo do tipo “para si ou
para outrem”;
•6. Classificação: crime material (regra), de dano, forma livre, comissivo e
omissivo e instantâneo, ou instantâneo de efeitos permanentes (estelionato
previdenciário), e de duplo resultado;
7. Sanção Penal: penas de reclusão e multa;
8. Ação Penal: pública condicionada, regra.
•Pune-se a fraude quando o autor busca uma vantagem ilícita, com prejuízo
alheio= Delito de duplo resultado; Obtém-se um cheque de forma fraudulenta,
devidamente assinado: necessita-se compensá-lo para a consumação do crime?
Sim
•E a Sum 17, STJ (“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais
potencialidade lesiva, é por este absorvido)?
•A fraude será empregada para induzir a vítima em erro, ou mantê-la nesse estado;
no uso de artifícios utiliza-se objetos aptos a enganar (rifas, p.ex.) e o ardil é a
conversa enganosa. Temos ainda a norma de encerramento “outro meio
fraudulento”, pois a mens legislatoris não pode prever todos os meios
fraudulentos (a exemplo da omissão, pois o silêncio se constitui em uma
manifestação de vontade);
• Pune-se a fraude bilateral? Para maioria sim, servindo tal feito como
circunstância judicial favorável ao estelionatário (comportamento da
vítima); Para Nelson Hungria será atípico, em virtude da torpeza do
sujeito passivo;
•Estelionato privilegiado-mínimo (§1º): mesmas circunstâncias do furto
mínimo (prejuízo alheio), contudo o valor de 1 salário mínimo se observa
para o binômio prejuízo-benefício;;
•Estelionatos circunstanciados (§4º): i) estelionato previdenciário, em
desfavor de entes públicos, assistenciais/beneficentes (§3§; e ii) fator
etário, após o advento da Lei 13.228/2015, com expressa ciência do
agente;
•Abraça SEM, a exemplo do BB?;
• Momento consuntivo no estelionato previdenciário:
•1- quanto ao fraudador beneficiando terceiros, será crime instantâneo de efeitos
permanentes;
•2- em relação ao beneficiário, será crime instantâneo;
•3- fraudador o próprio beneficiário, crime permanente;
•4- Na hipótese de morte do beneficiário, e outrem permanece percebendo
indevidamente o benefício, teremos continuidade delitiva.
•Obs.: Súmula 554, STF (“O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos,
após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal”),
espécie jurisprudencial de imunidade penal;
•Aplica-se apenas àquele que emite o cheque, sabendo-o previamente sem fundos, e
não à figura in fine do §2º, “lhe frusta o pagamento”.
•- E se frustar o pagamento de cheque “pré/pós datado”?
•“O crime de "fraude" mediante emissão de cheques sem provisão de fundos (art. 215, alínea 4, do
Código Penal romeno) no caso encontra correlação na lei brasileira com o crime de estelionato
previsto no art. 171, caput, do Código Penal brasileiro.  É importante ressaltar que não se fere aqui o
entendimento doutrinário (...) e jurisprudencial (STJ, HC 167741/MG, Relator  Min. Jorge Mussi,
Quinta Turma, DJe 27.10.2011) segundo o qual a frustração no pagamento de cheque pós-datado
(denominado mais comumente de pré-datado) não configura o delito de estelionato (§ 2º do art. 171
do Código Penal), já que o título perde a natureza de ordem de pagamento à vista. No presente caso,
diferentemente, tem-se a nítida intenção do agente de obter vantagem ilícita por meio de ardil,
artifício ou outro meio fraudulento, o que atrai a descrição do tipo previsto no art. 171, caput, do
Código Penal” (RHC 63783, 2 Turma, DJ de 23.05.1986).
[Ext 1.254, Julgado 29-4-2014]
• No tocante às modificações importas pela
recente Lei nº 14.155/2021, aos moldes do
crime de furto, aqui também qualifica-se o
tipo pelas circunstâncias de uso da
informática, mas não apenas, utilizada aqui
como artifício para a fraude:
“§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização
de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro
induzido a erro por meio de redes sociais, contatos
telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento,
ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.”
• Perceba que tal qualificadora poderá suceder ainda
pelo telefone, correio eletrônico, e o tipo
circunstanciado faz uso ainda de uma norma de
encerramento;
• Hipótese do agente simular uma página de um
determinado banco, em que a vítima insere seus
dados, e tais são copiados pelo agente;
“§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo,
considerada a relevância do resultado gravoso,
aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se
o crime é praticado mediante a utilização de
servidor mantido fora do território nacional.”
• Na presente causa de aumento, que afere-se a
sua gravidade, e o quantum do percentual
aplicado, quando “considerada a relevância do
resultado gravoso”, se dá na hipótese da
conduta ser praticada em solo internacional,
pela dificuldade em descortinar a infração penal;
• Por fim, no §4º, temos o tipo circunstanciado
modificado, sendo a vítima idosa (estelionato
contra idoso):
Antes da Lei nº Após a Lei nº 14.155/2021
14.155/2021

§ 4º Aplica-se a pena em § 4º A pena aumenta-se


dobro se o crime for de 1/3 (um terço) ao
cometido contra idoso. dobro, se o crime é
cometido contra idoso ou
vulnerável, considerada a
relevância do resultado
gravoso.
RECEPTAÇÃO
•“Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em
proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime,
ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou
oculte: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.           
•§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em
depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou
de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve
saber ser produto de crime: Pena - reclusão, de três a oito anos, e
multa.            
•§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo
anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino,
inclusive o exercício em residência.   
•§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou
pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida
por meio criminoso: Pena - detenção, de um mês a um
ano, ou multa, ou ambas as penas.          
•§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido
ou isento de pena o autor do crime de que proveio a
coisa.                
•§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário,
pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se
o disposto no § 2º do art. 155.      
•§ 6º - Tratando-se de bens do patrimônio da União, de
Estado, do Distrito Federal, de Município ou de
autarquia, fundação pública, empresa pública,
sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos, aplica-se em
dobro a pena prevista no caput deste artigo.” 
 Classificação:
1.Sujeito ativo: qualquer pessoa, à exceção do agente
do crime antecedente (trata-se de mero exaurimento);
2.Sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que vítima
do crime antecedente;
•3. Objeto Material: coisa produto de crime;
•4. Objeto Jurídico: inviolabilidade do patrimônio, de forma imediata, e de forma
mediata, a administração da justiça (Uruguai e Argentina o aloca nos Crimes
Contra a Administração da Justiça);
•5. Elemento subjetivo: dolo, direto e eventual, e culpa;
•Obs.: exemplo excepcional de tcrime culposo fechado (há descrição da conduta
imprudente no próprio tipo, ou seja, a priori, culpa como elemento subjetivo,
dogmaticamente, sem necessidade de valoração pelo juiz).
•6. Classificação: crime material, de dano, forma livre, comissivo e instantâneo
ou permanente;
7. Sanção Penal: penas de reclusão/detenção/multa;
8. Ação Penal: pública incondicionada.
•Autêntico crime parasitário em que, apesar de punível por si só (§ 4º), não existe
sem um delito antecedente (de qualquer espécie), além de ter a mesma vítima deste;
•Outro exemplo é o crime de lavagem de capitais;
•Divide-se em receptação própria (1ª parte do art. 180, caput), e imprópria (parte
final);
•Se o bem estiver na legítima posse de alguém, e este venha a sofrer um crime
patrimonial, vindo aquele proprietário a adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar, ciente dessa origem? Predomina que será agente de tal infração;
•Receptação # Favorecimento real:
•“Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio
destinado a tornar seguro o proveito do crime:”
•O favorecimento é também delito parasitário, no entanto, as
condutas são voltadas ao autor do crime antecedente, enquanto na
receptação a coisa é ocultada ou adquirida em proveito próprio ou
de terceiros;
•Somente há receptação se a origem da coisa for criminosa. E no
caso de contravenção penal (i)? E se ato infracional (ii)?:
i. Não, pois o tipo faz expressa menção a coisa produto de crime;
ii. Sim, pois se trata de um fato previsto como crime, contudo,
cometido por um menor;
• No caso de bens originados de proveito do crime, estes também
servem para caracterizar o crime de receptação, desde que o
agente tenha ciência dessa condição;
•É possível o elemento objetivo “coisa” ser bem imóvel? Doutrinariamente há cisão, no entanto, o STF, em decisões bem pontuais, entende que “coisa” somente poderá se tratar
de bens mobilizados;
•Na receptação qualificada (§§1º e 2º), deve o agente atuar na indústria ou comércio, regular, ou não, a exemplo de camelôs, devendo haver nexo entre aquelas atividades e o crime
de receptação;
•Dolo direto e dolo eventual nos tipos simples e qualificados: polêmica, em virtude dos elementos do tipo serem conflitantes (“sabe ser produto de crime” e “deve saber ser
produto do crime”);
• O caput, tipo mais brando, indica dolo direto,
e a figura qualificada, tipo mais gravoso,
indica dolo eventual (???).
• Assim se manifestou o Superior Tribunal de
Justiça sobre o tema:
• “... suficiente para configurar o tipo de
receptação qualificada, com mais razão deve-
se aplicar a pena mais grave aos condenados
pela prática do crime com dolo direto” (STJ,
HC 193.391, Rel. Min. Laurita Vaz, 5ª Turma,
DJe de 1º-8-2013).
• Receptação culposa: “presumir-se obtida por meio
criminoso”, tipo culposo descritivo que nos induz
ao raciocínio da quebra de um dever específico de
cuidado objetivo. As consequências penais bem
mais amenas demonstram se tratar mesmo dessa
modalidade de elemento subjetivo (culpa);
• Perdão judicial: §5º, ab initio, apenas na
modalidade culposa do §3º;
• Receptação privilegiada ou mínima: §5º, in fine,
apenas na modalidade dolosa (bem receptado com
valor de até 1 SM e primariedade do réu);
• Receptação majorada: bens de entes políticos e da
Administração Indireta.
ESCUSAS
•“Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes
previstos neste título, em prejuízo:    
•I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
•II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo
ou ilegítimo, seja civil ou natural.”
•Trata-se da escusa absolutória;
•Não pode a infração ser praticada mediante violência ou grave
ameaça (art. 183, I);
•Para maioria da doutrina tem natureza jurídica de imunidade
penal (extinção da punibilidade);
•O crime remanesce mas, caso caracterizada a imunidade,
impede a deflagração da persecutio criminis;
ESCUSAS
•Diferencia-se do perdão judicial pois, inobstante neste o
crime também permanecer, a persecução penal se finaliza, no
entanto, não se executa a sanção penal;
•È causa personalíssima (subjetiva), não se estendendo à
estranhos (art. 183, II);
•Não se aplica se a vítima for idosa (art. 183, III);
•Se cônjuge é separado apenas de fato, mantém-se a escusa;
•Caso menor de idade, permanece a escusa, a exemplo da
vítima descendente (neto);
•Há doutrina indicando ser causa de exculpação, por
inexigibilidade de conduta diversa, atrelando-se, em resumo,
a redação do dispositivo “é isento de pena”.
• Escusa Relativa:
• "Art. 182 - Somente se procede mediante
representação, se o crime previsto neste título é
cometido em prejuízo:
• I - do cônjuge desquitado ou judicialmente
separado;
• II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
• III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.”
• Apenas opera modificação na forma de deflagração
da ação penal (de pública incondicionada para
pública condicionada à representação do ofendido);
• Hipótese de “AÇÃO PENAL SECUNDÁRIA”, que se
dá quando, no caso concreto, ocorrem
circunstâncias que modificam a espécie de ação
penal, a exemplo dos crimes contra a honra;
• Se for divorciado do cônjuge, configura-se o delito;
• Deve haver a coabitação com tio ou sobrinho, na
hipótese do inciso III.

• “Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos


anteriores:
• I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral,
quando haja emprego de grave ameaça ou violência à
pessoa;
• II - ao estranho que participa do crime.
• III – se o crime é praticado contra pessoa com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos.”

 Sucede no âmbito da violência doméstica e


familiar?

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