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TUTELA EXECUTIVA E

PROCEDIMENTOS
ESPECIAIS NO PROCESSO
CIVIL – Aula 3
Responsabilidade Patrimonial
Prof. Lucio Facci
SITUAÇÃO-PROBLEMA

No curso de uma execução, o executado Davi vende um bem não


sujeito a registro.

Caíque, que adquiriu o bem, não se preocupou com qualquer


certidão e ficou surpreso ao ser intimado pelo juiz para se manifestar
sobre a possível ocorrência de fraude à execução.

◈ Regularmente intimado, como Caíque poderia se manifestar?

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ATIVIDADE VERIFICADORA DA
APRENDIZAGEM
◈ Elaborar um texto crítico sobre as fraudes na
execução, com referência a pelo menos um
acórdão no seu texto.

◈ A atividade poderá ser entregue até o dia da AV1


(valor: 1,5 ponto) e poderá ser realizada
individualmente ou em dupla.
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I.1. LEGITIMIDADE ATIVA NA EXECUÇÃO

◈ Legitimidade Originária: se proveniente do título (art. 778,


caput).

◈ Caso a execução seja ajuizada pelo credor (caput), terá


legitimidade ordinária, visto que o credor é o próprio titular do
direito material que vai a juízo em nome próprio defender os seus
direitos. O credor é quem figura como tal em título executivo.

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I.1. LEGITIMADADE ATIVA NA EXECUÇÃO
◈ Os títulos executivos estão previstos no CPC, nos arts. 515
(títulos judiciais) e 784 (títulos extrajudiciais). Se uma pessoa
figura em um desses títulos como credor, tem ela legitimidade
ativa para promover a execução.

◈ A regra é a de que o legitimado ordinário figura como parte,


obrigatoriamente, no processo que originou o título judicial.
Exceção: “direito autônomo” ao advogado para executar o
capítulo acessório da sucumbência (art. 23 da Lei n. 8.906/94).

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I.1. LEGITIMIDADE ATIVA NA EXECUÇÃO

◈ Legitimidade Superveniente: em sucessão (art. 778, §1º).

 Sucessão pelo Ministério Público, exemplo clássico de


legitimidade extraordinária: o legitimado vai a juízo, em nome
próprio, defender interesse alheio.

 Sub-rogado, cessionário, herdeiros e sucessores: figuras do direito


civil – legitimidade secundária para que possam ingressar com a
execução: sujeito não titulariza o crédito no primeiro momento.

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I.1. LEGIMITIMIDADE ATIVA NA EXECUÇÃO

◈ Espólio e herdeiros (art. 778, §1º, II): a partir de quando


poderão promover a execução? O marco é a sentença de partilha
(art. 654): antes da sentença, a legitimidade ativa pertence ao
espólio, representado pelo inventariante (art. 75, VII). Depois, a
legitimidade passa a pertencer aos herdeiros.

◈ Cessionário (art. 778, §1º, III): na cessão de crédito (art. 286, CC).
STJ: o adquirente ou cessionário poderá ingressar em juízo,
sucedendo o cedente, sendo desnecessário o consentimento da parte
contrária.
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I.1. LEGITIMIDADE ATIVA NA EXECUÇÃO

◈ Sub-rogado: art. 778, §1º, IV. Sub-rogação está


regulamentada no Código Civil, arts. 346 a 351.

◈ Exemplo: fiador paga a dívida do seu afiançado, art. 346, III


CC. Nesse caso, o fiador se sub-roga nos direitos do credor
do afiançado, podendo, então, promover a execução, se
ainda não ajuizada, ou nela prosseguir, se já aforada.

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I.2. LEGITIMIDADE PASSIVA NA EXECUÇÃO (art.
779)
◈ I) o devedor, reconhecido como tal no título executivo;
◈ II) o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;
◈ III) o novo devedor que assumiu, com o consentimento do
credor, a obrigação resultante do título executivo;
◈ IV) o fiador do débito constante em título extrajudicial;
◈ V) o responsável ao pagamento do débito; e
◈ VI) o responsável tributário, assim definido na legislação
própria.
- Responsabilidade do responsável é limitada.
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I.3. LITISCONSÓRCIO NA EXECUÇÃO

◈ Embora não haja nenhuma previsão no art. 778 do CPC, a


doutrina diz que é cabível na execução o litisconsórcio
(arts. 113 a 118 do CPC).

◈ Em princípio, não há litisconsórcio necessário na


execução – Cada credor pode executar, em separado, a
parte a que faz jus.

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I.3. LITISCONSÓRCIO NA EXECUÇÃO

◈ Litisconsórcio eventual: se forma no polo passivo da demanda.


Autor formula mais de um pedido, em ordem sucessiva, a fim de
que o segundo seja acolhido, em não sendo o primeiro (art. 326,
CPC).

◈ Exemplo: execução em face de empresa com pedido subsidiário


dirigido aos seus sócios para que, através do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica, o patrimônio destes
últimos passe a responder pela dívida.
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1.4. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

◈ Deve-se ressaltar, contudo, que o procedimento executivo


admite 3 modalidades específicas de intervenção de terceiro:
◈ 1ª) protesto pela preferência: credor com título legal de
preferência intervém na execução para pedir a preferência no
recebimento do dinheiro produto da expropriação.
Art. 799, I, determina a intimação do “credor pignoratício,
hipotecário, ou anticrético ou fiduciário”, sob pena de
ineficácia da alienação, em consonância com as normas de
direito material.
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1.4. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
◈ 2ª) concurso especial de credores: quando há penhoras
sucessivas sobre o mesmo bem – cada credor vai a juízo
provar a respectiva penhora e concorrer pelo crédito do
bem penhorado (art. 797, parágrafo único, CPC).

◈ 3ª) benefício de ordem pelo fiador, art. 794 do CPC,


permite-lhe exigir que primeiro sejam executados os bens
do devedor.

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II. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL
◈ A execução civil sempre recai sobre o patrimônio (bens)
do devedor, ou de terceiros. É o chamado princípio da
responsabilidade exclusivamente patrimonial.

◈ A responsabilidade patrimonial é o estado de sujeição do


patrimônio do devedor, ou de terceiros responsáveis
(art. 790), à execução, com vistas à satisfação do direito
do credor.
 
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II. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

◈ Responsabilidade patrimonial primária: quando o


patrimônio sacrificado para o pagamento do débito é o
do próprio devedor.

◈ Responsabilidade patrimonial secundária: quando um


terceiro responder com o seu patrimônio por dívida que
não assumiu.

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II. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

◈ Em regra, o devedor responde pela obrigação com todos os seus


bens, presentes e futuros (art. 789).

◈ Quanto aos bens passados ficam, a princípio, excluídos da


responsabilidade.

◈ A regra geral é de que não estão sujeitos à execução os bens


que a lei considera inalienáveis ou impenhoráveis (ex: bem de
família).
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II. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL
◈ Jurisprudência sobre BEM DE FAMÍLIA: impossibilidade de
renúncia a tal garantia, além de estender os benefícios aos móveis
(não luxuosos) que guarnecem a residência.

◈ Imóvel muito valioso não retira a proteção ao bem.

◈ Não é necessário que o executado resida no imóvel, basta que seja a


única propriedade que ele e sua família possuam. Não se concede a
proteção se o bem estiver desocupado e desprovido de qualquer
função econômica ou social.
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II. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

◈ Também é impenhorável o único imóvel comercial do


devedor quando o aluguel está destinado unicamente ao
pagamento de locação residencial por sua entidade
familiar.

◈ Todos os bens do devedor podem ser objeto de


expropriação executiva, incluindo os adquiridos antes e
depois da constituição da dívida.

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II. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

◈ Os bens do devedor na posse de terceiros (art. 790, III)


também podem vir a responder pelo cumprimento da
obrigação.

◈ Também respondem os bens pretéritos (transferidos para


terceiro antes da execução), que tenham sido dados em
garantia real (penhor ou hipoteca) ao credor ou alienados
em fraude à execução ou em fraude contra credores.

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III. FRAUDE A CREDORES E FRAUDE À
EXECUÇÃO
◈ Qualquer alienação ou oneração de bens representa um
potencial risco à execução, que pode vir a ser frustrada
por tais atos.

◈ A fraude a credores é instituto de direito material e tem


sua previsão no art. 158 do CC, quando o executado,
dolosamente, aliena a integralidade de seu patrimônio
para frustrar o pagamento dos credores.

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III.1. FRAUDE A CREDORES
◈ Pressuposto objetivo: a existência de dano aos credores, isto é,
a alienação ou oneração do bem ocasiona a insolvência do
devedor (eventus damni)
◈ Pressuposto subjetivo: o propósito de fraudar os créditos por
meio do negócio jurídico com a ciência do terceiro beneficiário
(consilium fraudis).

◈ Violam-se interesses privados do credor. Tratamento menos


severo do que o dispensado à fraude à execução: resulta na
anulabilidade do negócio jurídico.
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III.1. FRAUDE A CREDORES
◈ O reconhecimento da fraude a credores ocorre por meio da
ação pauliana: o autor (credor) tem o ônus de demonstrar a
existência dos pressupostos, não se presumindo sua
existência. Réus: devedor e terceiro adquirente – juiz
examinará se houve ou não boa-fé.

◈ Em transmissões gratuitas, presume-se a má-fé, a qual,


porém, deve ser provada nas onerosas, consoante o art. 159 do
CC.
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III.2. FRAUDE À EXECUÇÃO
◈ É vício mais grave: afeta diretamente a autoridade do Estado-Juiz.

◈ Seu reconhecimento depende da existência de uma ação


contemporaneamente ao ato de diminuição patrimonial.
É também tipificada como delito (art. 179, CP).

◈ Pode ser reconhecida nos próprios autos, por mera petição, sendo
desnecessária a ação pauliana. Não é necessária a prova do
consilium fraudis – bastará a ocorrência do fato.

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III.2. FRAUDE À EXECUÇÃO

◈ Ocorre fraude à execução na alienação ou oneração de bens nas


hipóteses do art. 792, CPC. Em qualquer desses casos há
presunção de prejuízo ao credor e de má-fé do devedor,
dispensando-se a prova desses requisitos.

◈ I ‒ quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou


com pretensão reipersecutória, desde que a pendência do
processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se
houver;
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III.2. FRAUDE À EXECUÇÃO
◈ II – quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência
do processo de execução, na forma do art. 828;

◈ III – quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca


judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do processo
onde foi arguida a fraude;

◈ IV – quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava


contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência;

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3.2. FRAUDE À EXECUÇÃO

◈ V – nos demais casos expressos em lei.

◈ Art. 792, §4º: é necessária a intimação prévia do


terceiro adquirente para que ele, se quiser, oponha
seus embargos de terceiro no prazo de 15 dias.

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