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ERROS E VIESEZ

DEFINIÇÃO
• Erros ou vieses nada mais são do que
fatores que levam (induzem) o
pesquisador a encontrar um resultado
distorcido, diferente da realidade;
• Quando um viés ocorre o poder de uma
associação entre causa e feito pode ser
modificado, chegando algumas vezes a
inverter o sentido desta associação.
CONCEITOS
• População Externa: todos os indivíduos
para os quais se gostaria de generalizar
os resultados de um estudo.
– Exemplo: adultos de 20 a 65 anos.

• População-alvo: grupo restrito de


pessoas sobre o qual o estudo poderá
fazer inferências.
– Exemplo: moradores adultos de Rio Grande.
CONCEITOS
• População real: indivíduos elegíveis para entrar no
estudo.
– Exemplo: dos moradores de RG, aqueles que seriam captados
pelo estudo.
• Amostra representativa: é uma amostra que se
assemelha à população original sob todos os aspectos
(principalmente sexo, idade, cor de pele, renda, etc.).
• O termo “representativa” significa que todos os
indivíduos da população de onde saiu a amostra tinham
a mesma chance de ser incluídos na amostra.
• A representatividade não tem a ver com o tamanho da
amostra, a precisão da amostra é que depende do
tamanho da mesma.
VALIDADE
• EXTERNA: possibilidade de se extrapolar
os achados de uma pesquisa para a
população externa ao estudo, como
para outras cidades e países.
• INTERNA: capacidade de extrapolar o
resultado de um estudo para toda
população estudada. Quando um
estudo tem validade interna, ele mediu
realmente o que se propôs a medir.
ERROS
• ALEATÓRIO: também conhecido como erro não-
diferencial ou erro causal. Este tipo de erro
produz achados que são muito altos ou muito
baixos em quantidades aproximadamente iguais;
• SISTEMÁTICO: erro que ocorre sempre (ou
quase sempre), e que desvia o resultado sempre
da mesma maneira. Este tipo de erro pode
reverter uma associação ou dissolver a real
associação entre um fator e o desfecho.
CEGAMENTO
• Artifício usado em pesquisa para evitar
distorções que poderiam surgir devido
principalmente aos aspectos
comportamentais e psicológicos que
envolvem pesquisas com humanos;
• A definição dos tipos de cegamento varia,
o ideal é que o pesquisador informe o que
realmente foi feito.
CEGAMENTOS
• Não-cego: participantes e profissionais que acompanham
o estudo sabem a que grupo cada sujeito pertence.
• Uni-cego: quando o sujeito a ser analisado não sabe a
que está sendo submetido. O pesquisador sabe quem
recebeu o que, os sujeitos não.
• Duplo-cego: quando nem os sujeitos nem os
pesquisadores que estão próximos deles sabem a que
grupo cada um pertence.
• Triplo-cego: é quando os participantes, os médicos que
lidam com eles e os pesquisadores que farão a análise
dos dados não sabem a que grupo cada um pertence.
VIÉS
• São sinônimos: vício, erro diferencial ou
tendenciosidade;
• Fator que induz o pesquisador ao erro,
produzindo desvios ou distorções;
• Torna-se um problema sério quando enfraquece
uma associação verdadeira, produz associação
espúria ou distorce a direção aparente de uma
associação entre variáveis;
• Os autores da epidemiologia foram classificando
estes erros na medida em que eles surgiam em
sua prática de pesquisa.
VIESES
• Viés de Seleção
– A escolha dos sujeitos que pertencerão ao estudo pode
levar a conclusões que não se aplicam à toda população.
A alocação dos sujeitos para os diferentes grupos de um
estudo também pode resultar num viés.
– Ex.: um entrevistador precisa escolher casas para
realizar entrevistas, e tende a bater nas casas de melhor
aparência. Essa amostra não representará a população
do local, já que nem todos terão a mesma chance de
entrar na amostra.
VIESES
• Viés de medição ou de aferição
– É introduzido por falhas mecânicas ou humanas, levando a
erros sistemáticos ou aleatórios.
– Ex.: num trabalho de campo algumas balanças não estão
aferidas.

• Viés de recordatório ou de memória


– Quando ocorre um evento marcante como uma doença
grave, esta pessoa pode refletir mais sobre os fatores
envolvidos na determinação da doença.
– Ex.: mães que tiveram filhos anormais tendem a pensar
mais sobre sua gestação e provavelmente se lembrem
mais de infecções, medicamentos ou lesões.
VIESES
• Viés do entrevistador/pesquisador
– a maneira com que o pesquisador ou entrevistador conduz
a pesquisa pode exercer influência sobre a resposta obtida.
– Ex.: um pesquisador quer provar que mulheres brancas
apresentam menos déficit cognitivo do que as negras, e ao
aplicar os testes nas brancas fala mais pausadamente.

• Viés de Berkson ou de hospitalização


– Pacientes com uma determinada característica podem ser
examinados ou hospitalizados mais freqüentemente do que
pacientes sem esta característica.
– Ex.: mulheres que tomam AO são mais diagnosticadas com
ca de colo de útero.
VIESES
• Viés de seguimento (follow-up bias)
– Em um estudo longitudinal as perdas podem ocorrer de
forma desigual entre 2 ou mais grupos estudados,
distorcendo as associações encontradas.

• Viés do não respondente (non respondent bias)


– As pessoas que não respondem a um questionário, a
princípio são diferentes daquelas que responderam.
– Ex.: em uma pesquisa sobre tabagismo e fatores
associados para doenças crônicas, é enviado por correio
um questionário, e a taxa de não respondentes é bem
maior entre os fumantes do que entre os não-fumantes.
VIESES
• Viés do trabalhador sadio ou auto-seleção (membership bias)
– Sujeitos com determinada característica podem ter maior
probabilidade de entrar em um estudo.
– Ex.: num estudo de saúde ocupacional numa indústria descobre-se
que os empregados têm menor morbi-mortalidade do que a
população em geral. (para estar empregado e ativo é preciso estar
relativamente saudável)

• Viés de sobrevivência ou incidência/prevalência


– É quando a doença ou o fator estudado tem características
diferentes entre os grupos de estudo, podendo levar a associações
distorcidas.
– Ex.: num estudo de AIDS, a prevalência de doentes entre os pobres
é maior, no entanto o tempo de sobrevivência dos ricos é maior.
Como os ricos ficam mais tempo vivos, parece que existem mais
ricos doentes do que pobres.
Causalidade Reversa
• Acontece quando não é possível estabelecer o
que surgiu antes – causa ou efeito.
• Quando a exposição pode mudar como resultado
da doença, e não se sabe o que veio antes, o
“fator de risco” ou o desfecho.
– Exemplos: associações entre obesidade e exercício
físico, calvície e uso de chapéu, etc.;
• Pode ocorrer em estudos transversais e de casos
e controles.
Causalidade Reversa
O QUE FAZER?
• Após coletados os dados nada pode ser feito,
apenas é preciso reconhecer a causalidade
reversa, discuti-la e de preferência não fazer
estudos testando hipóteses quando a priori já
se tenha consciência deste problema.
Fatores de Confusão (Confounding Factors)
• Confusão é uma situação em que os efeitos de duas
variáveis são difíceis de separar um do outro. É uma
mistura de efeitos;
• Um pesquisador tenta mostrar associação de uma
exposição com um desfecho, mas na realidade acaba
medindo o efeito de um terceiro fator, chamado de
“variável de confusão”;
• Para ser considerada como confusão, a variável
precisa estar associada com o desfecho, estar
associada com a exposição sendo avaliada e não
fazer parte da cadeia causal que liga a exposição
ao desfecho.
– Ex.: idade materna e paridade como causas para baixo
peso ao nascer.
Fatores de Confusão

• A confusão pode ser controlada após a coleta de


dados, desde que os mesmos tenham sido coletados
de maneira que possibilite tal controle;
• Para detectar confusão deve-se fazer uma análise
estratificada pelo fator de confusão, mostrando que
os riscos entre os diferentes estratos são similares
entre si, mas diferentes do risco bruto;
• Além disso, o referencial teórico é um excelente
auxiliar na formulação de suspeitas de confusão.
Detectando Confusão
• Um estudo avaliou em pessoas de alta e baixa
renda a influência de ter carro ou não sobre a
anemia;
• Na amostra total (ricos + pobres) o RR para ter
carro foi 0.2 (ter carro parece proteger contra
anemia), mas estratificando por renda o RR
entre os pobres e os ricos foi igual a 1;
• A renda é o fator de confusão, na verdade ter
dinheiro é que protege contra anemia.
Fatores Mediadores
• São parte da cadeia causal que liga uma
exposição a um desfecho, e portanto não podem
ser fatores de confusão;
• Estes fatores por si só não levam ao desfecho,
mas estão sempre na cadeia causal;
– Ex.: a depressão é um fator mediador entre morar
sozinho e o suicídio; a hipertensão é mediadora entre
o sedentarismo e a cardiopatia isquêmica.
Erros de Classificação (Misclassification)
• Ocorrem quando sujeitos são alocados
equivocadamente nos grupos de estudo.
– Ex.: num estudo de casos e controles sobre
dislipidemias em pessoas que não consomem
medicamentos contra esse problema, uma pessoa
que consumiu ultimamente medicação é
equivocadamente classificada como não tendo
dislipidemia, quando na realidade ela apresenta este
problema porém ele está mascarado pelo uso de
remédios.
• O conceito de erro de classificação está atrelado
aos conceitos de sensibilidade e especificidade.
Especificidade & Sensibilidade
• Os testes diagnósticos são imperfeitos;
• Alguns indivíduos saudáveis podem ser classificados
como doentes (falso positivo) e outros que realmente
são doentes podem não ser detectados (falso negativo);
• A acurácia de um procedimento diagnóstico é
comumente medida através da:
– sensibilidade (proporção de positivos verdadeiros identificados
corretamente) e
– especificidade (proporção de negativos verdadeiros identificados
corretamente).
• Para estimar devidamente a sensibilidade e
especificidade, é preciso conhecer o estado real do
indivíduo ("padrão-ouro“).
Modificadores de Efeito
• Quando o efeito de uma exposição sobre um
desfecho varia conforme o nível de uma terceira
variável, diz-se que há modificação de efeito.
– Exemplo: a falta de aleitamento materno é um forte
fator de risco (RR = 23) para a morte por diarréia em
crianças com menos de 2 meses. Para crianças com
idades entre 2 e 12 meses, a falta de leite continua
sendo um fator de risco, porém representando um
risco bem menor (RR = 5). A idade, portanto,
modifica o efeito do aleitamento.
INTERAÇÃO
• É uma modificação de efeito;
• Interagir não é apenas “agir ao mesmo tempo”,
interagir é aumentar o poder de determinado
fator em causar uma doença. O efeito dos dois
fatores juntos é maior do que se somássemos o
efeito dos dois separados.
– Ex.: para determinada doença, o fumo representa um
risco de 2; para a mesma doença, o álcool representa
um risco de 3; caso a pessoa fume e beba, o risco
dela não será apenas 5, mas algo acima de 6.

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