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DA PARAÍBA
- Julho de 2023 -
Atlas Solarimétrico da Paraíba
REALIZAÇÃO
Governo da Paraíba
João Azevêdo Lins Filho Deusdete Queiroga Filho Wagner Ribeiro Clemente
Governador Secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos Gerente Executivo de Energia
Lucas Ribeiro Novais de Araújo Robson Barbosa Bruno Ribeiro de Araújo
Vice-Governador Secretário Executivo de Energia Gerente Operacional de Eficientização Energética
Edson Pessoa Carvalho
Assessor Técnico
ELABORAÇÃO
Centro de Gestão de Pesquisa, Modelagem de Transferência Radiativa Sistema de Informações Geográficas
Desenvolvimento e Inovação - CGPDI Madeleine Sanchez Gácita Casagrande Silvia Vitorino Pereira
Carlos Frederico de Angelis Francisco José Lopes de Lima
Presidente Ferramenta Web
Vinicius Roggério da Rocha
Danilo Borges Fernandes K2 Sistemas
Diretor Executivo Antonio Mauricio Zarzur
Helvécio Bezerra Leal Neto Dados solarimétricos coletados em solo
Consultores Científicos
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)
Fernando Ramos Martins Aquisição e Tratamento de Dados
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
André Rodrigues Gonçalves Guilherme Baggio Martins Machado
Instituto Federal de Pernambuco (IFPE)
Rodrigo Santos Costa Marcelo Pizzuti Pes
Casa dos Ventos
Gerson Máximo Tiepolo
Enio Bueno Pereira
iii
Atlas Solarimétrico da Paraíba
Vários colaboradores.
Bibliografia.
ISBN 9786598079109
23163995 CDD551.5271098133
iv
AGRADECIMENTOS
Este Atlas foi desenvolvido com elevado rigor Casa dos Ventos pelo compartilhamento de dados
técnico e sua realização se deve em grande parte à de estações solarimétricas no estado da Paraíba;
colaboração entre diversas pessoas, empresas e
Centro de Energias Alternativas e Renováveis
instituições, com o devido destaque a:
da Universidade Federal da Paraíba (CEAR/UFPB)
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) pelo apoio na especificação e revisão deste Atlas;
pelo compartilhamento de dados solarimétricos
através de sua Rede SONDA e pela disponibilização do Agência Executiva de Gestão das Águas (AESA),
código do modelo BRASIL-SR; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do
Estado da Paraíba (IPHAEP), Instituto Chico
NOAA (National Oceanic and Atmospheric Mendes de Conservação da Biodiversidade
Administration) dos EUA pela disponibilização das (ICMBIO), Departamento de Estradas e Rodagens
imagens satelitais (GOES16 e projeto GridSat); do Estado da Paraíba (DER), Secretaria do
Planejamento e Gestão (SEPLAG), Superintendência
NASA (National Aeronautics and Space
de Administração do Meio Ambiente (SUDEMA),
Administration) pela disponibilização de dados de
Companhia de Energia do Estado da Paraíba
aerosol do produto MERRA-2;
(Energisa Paraíba), Secretaria Estadual do Meio
Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) pela Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), pela
disponibilização de dados através da Rede disponibilização de dados ambientais e de
Solarimétrica de Pernambuco; infraestrutura.
Potencial teórico 52
Potencial técnico 52
Potencial econômico I 53
Potencial econômico II 53
Hidrogênio verde 57
Considerações finais 62
Referências 69
viii
INTRODUÇÃO
O avanço tecnológico, a disponibilidade Estado da Paraíba como uma das regiões revista em 2015 pela Resolução Normativa
de informações cientificamente estabe- do país com grande potencial para nº 687 para a regulamentação do segmento
lecidas e a escala de mercado produziram exploração da fonte solar. de geração distribuída. Esta norma intro-
as condições necessárias ao crescimento e a duziu o sistema de compensação de energia
Políticas públicas de incentivo à geração
consolidação da energia solar, que é hoje a junto às distribuidoras de energia elétrica,
de eletricidade a partir de fontes reno-
fonte de energia que mais cresce no mundo alavancando o crescimento da geração foto-
váveis de energia foram implementadas ao
e no Brasil. voltaica por residências, estabelecimentos
longo das duas últimas décadas com o comerciais, industriais e o setor público. A
Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento intuito de diversificar a matriz elétrica do Lei 14.300, de 06 de janeiro de 2023,
Tecnológico (P&D) foram realizados ao país, assegurando maior segurança instituiu o marco legal da microgeração e
longo das duas últimas décadas para energética, alinhadas aos compromissos minigeração distribuída, que regulamenta o
atender a forte demanda de dados sola- internacionais de redução das emissões de Sistema de Compensação de Energia
rimétricos confiáveis que possibilitassem gases de efeito estufa. Elétrica (SCEE) e o Programa de Energia
compreender a distribuição espacial do
A primeira usina de geração solar Renovável Social (PERS) da geração
recurso de energia solar e sua variabilidade
fotovoltaica conectada ao Sistema Inter- distribuída.
ao longo do tempo, considerando a ate-
ligado Nacional (SIN) foi instalada no Brasil
nuação pela atmosfera e os fatores sazonais A cadeia de produtos e serviços rela-
em agosto de 2011, no município de Tauá,
associados ao movimento orbital da Terra cionados à geração solar fotovoltaica
no sertão do estado do Ceará e, a partir daí,
em torno do Sol. Em 2006, o Instituto tornou-se um importante vetor da eco-
iniciou-se a inserção continuada de novos
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) nomia local e regional, promovendo a
projetos de centrais fotovoltaicas impul-
lançou a primeira edição do Atlas Bra- sustentabilidade ambiental e impulsio-
sionados, a princípio, pelos leilões de ener-
sileiro de Energia Solar com uma meto- nando a qualidade de vida e o desen-
gia e, posteriormente, pelo mercado livre. O
dologia inovadora empregando dados de volvimento social através da geração de
marco que estabeleceu a base para o
satélite, que logo se tornou referência de empregos qualificados. Além disso, vem
mercado de microgeração e minigeração
informações para essa fonte de energia promovendo o acesso à energia para a
distribuída de energia no Brasil foi a
no país. O Atlas, em sua segunda edição população ainda não atendida pela rede
Resolução Normativa da Agência Nacional
revisada e ampliada de 2017, aponta o elétrica convencional e a expansão de
de Energia Elétrica (ANEEL) nº 482/2012,
Introdução
serviços básicos para a população em do estado da Paraíba. As incertezas nas Sem dúvida, este Atlas Solarimétrico da
regiões remotas. Compreendendo a rele- estimativas da irradiação solar incidente Estado da Paraíba representa um marco
vância desses aspectos, o Governo do foram determinadas com base em dados importante na disseminação de informa-
Estado da Paraíba investiu na elaboração observados em estações solarimétricas e ções confiáveis e cientificamente embasa-
do Atlas Solarimétrico da Paraíba, dis- meteorológicas terrestres operadas na das sobre o potencial de geração de energia
seminado por meio deste documento região por instituições públicas e empre- solar, fomentando investimentos e geração
impresso e da ferramenta interativa web. endedores privados, que colaboraram com de empregos, além de contribuir com o
Os dois produtos visam não somente a este projeto. esforço mundial para reduzir as emissões
divulgação como também o acesso inte- de gases do efeito estufa por meio de uma
A interface gráfica da ferramenta inte-
rativo amplo a um conjunto de infor- fonte de energia inesgotável, limpa e
rativa na web foi elaborada para oferecer
mações confiáveis sobre a disponibilidade abundante na região.
experiência intuitiva e amigável nas diver‐
de energia fotovoltaica no território
sas plataformas digitais (computador,
paraibano.
smartphone ou tablet), e disponibiliza re‐
O Atlas foi desenvolvido com base em latórios que podem ser impressos ou
moderna tecnologia de modelagem com‐ armazenados no equipamento do usuário.
putacional baseada em dados de satélites. Um tutorial interativo está disponível para
Em sua versão interativa, permite a consulta orientar usuários em caso de dúvidas
e a simulação do aproveitamento do re- sobre os procedimentos de consulta ou
curso solar em qualquer localidade ou área simulação.
2
O ESTADO DA PARAÍBA
territorial e planejamento de políticas Campina Grande, tal como definida pelo
públicas. As regiões geográficas são IBGE em 2021, reunindo 48 municípios e
nomeadas a seguir, abordando as com uma área total de 7.684 km² (13,6% da
intermediárias e suas respectivas imediatas superfície total do Estado. A Zona Semiárida
Geografia integrantes: paraibana, de acordo com o que preco-
nizam o Ministério de Integração Nacional e
• João Pessoa: João Pessoa, Guarabira,
a Superintendência do Desenvolvimento do
Mamanguape - Rio Tinto e Itabaiana;
O Estado da Paraíba está localizado entre Nordeste (SUDENE), através da Resolução
as latitudes de 6° 1’ 33” S a 7° 9’ 18” S e os • Campina Grande: Campina Grande, do Conselho Deliberativo (CONDEL) da
meridianos 34° 47’ 34” O e 38° 45’ 56” O, Cuité - Nova Floresta, Monteiro e Sumé; SUDENE n° 107, de 27 de julho de 2017,
conforme ilustrado na Figura 1.1. O Nota Técnica nº 0023/2017-SUDENE/DPLAN/
• Patos: Patos, Itaporanga, Catolé do
território paraibano está localizado no CGEP, de 20 de novembro de 2017, e
Rocha - São Bento, Pombal e Princesa
Nordeste brasileiro, totalizando uma área Resolução CONDEL da SUDENE n° 115, de
Isabel;
de aproximadamente 56.470 km² (cerca de 23 de novembro de 2017, abrange uma
0,7% do território brasileiro). Suas fronteiras • Sousa-Cajazeiras: Sousa e Cajazeiras. área de aproximadamente 51.306 km²
encontram o Oceano Atlântico a leste e o (87,0 % do total do Estado), contemplando
Sob o ponto de vista socioeconômico, o
estado do Ceará a oeste. As fronteiras sul e cerca de 194 municípios.
Governo do Estado da Paraíba adota a
norte são delimitadas pelos estados de
divisão clássica que agrega seus principais A Figura 1.2 apresenta a topografia do
Pernambuco e Rio Grande do Norte,
espaços econômicos nas seguintes zonas Estado da Paraíba. O relevo do território
respectivamente.
geoeconômicas: Litoral-Mata, Agreste-Brejo paraibano caracteriza-se pela existência de
O Estado da Paraíba é formado por 223 e Semiárido. A Zona Litoral-Mata corres‐ uma faixa litorânea de baixada, pelo
municípios, de acordo com a divisão ponde à maior parte da Região Interme‐ Planalto da Borborema na região central e
estabelecida pelo Instituto Brasileiro de diária de João Pessoa, como definida pelo pelo Planalto Ocidental no oeste do estado.
Geografia e Estatística (IBGE) a partir de IBGE em 2021 e inclui trinta dos 223 Aproximadamente 90% do território parai-
2017. Conforme mostra a Figura 1.1, o municípios do Estado, ou seja, uma área bano apresenta altitudes inferiores a 600 m,
território paraibano está dividido em de 5.242 km² (9,3% do território do estado). com as maiores elevações situadas ao longo
Regiões Geográficas Intermediárias e A Zona do Agreste-Brejo abrange quase que do Planalto da Borborema, sendo o ponto
Imediatas, para fins de organização integralmente a Região Intermediária de mais elevado o Pico do Jabre, com altitude
Figura 1.1 - Mapa da Divisão Urbano
Regional do Estado da Paraíba.
Fonte: IBGE/Coordenação de Geografia/
Divisão urbano-regional do Brasil, 2021.
Figura 1.2 - Topografia do estado da Paraíba
com indicação das cidades mais populosas,
de acordo com o censo de 2022.
Fontes: NASA/SRTM 4.1 e IBGE/Base Cartográfica
BC250, 2021; Censo Demográfico, 2022.
O Estado da Paraíba
de 1.090 m. A Costa Atlântica do estado Aberta, Savana Arborizada e Florestada, meses de março e abril, justamente o
possui cerca de 120 km de extensão, onde Manguezal, Palmeiral, Restingas, Florestas período em que a estrutura está posi-
ocorrem formações do tipo falésias, com Plantadas e Contatos, onde ocorre mais de cionada sobre o hemisfério sul.
altitudes inferiores a 60 m. A Depressão uma tipologia. A Savana-Estépica (Caatinga)
Dentre os regimes típicos de precipitação
Sertaneja domina o relevo no oeste do é a tipologia predominante, cobrindo
observados no NEB, dois deles afetam o
Estado, caracterizado pela caatinga e o aproximadamente 94% das áreas de vege-
Estado da Paraíba: o primeiro se caracteriza
clima semiárido, com elevações variando tação natural do estado (SFB, 2019).
por um quadrimestre chuvoso, bem
entre 100 m e 400 m.
Considerando o registro de espécies de definido, entre os meses de fevereiro e
A Figura 1.3 apresenta o mapa de plantas, incluindo angiospermas, samam- maio, e compreende as regiões de Sousa-
declividade do território paraibano. A baias e licófitas, as bases de dados para o Cajazeiras e Patos e as porções mais ao
declividade do terreno é fator importante Estado da Paraíba apresentam diferenças oeste e norte da região de Campina Grande,
na escolha dos locais de implantação de significativas, pois, enquanto o Projeto Flora tendo como principais fenômenos meteo-
usinas de geração fotovoltaica de grande e Funga do Brasil (2023) indica a ocorrência rológicos a ZCIT, a convergência de umi-
porte. A literatura aponta que locais com de 2390 espécies, a plataforma do dade proveniente de brisas e de
declividades superiores a 5 graus (ou 8,7%) SpeciesLink (CRIA, 2023) registra um Perturbações Ondulatórias dos Alísios
devem ser evitadas em razão de aspectos número maior, de 4318 espécies. (POA’s) e a convecção local (Molion e
relacionados ao escoamento superficial e Bernardo, 2002).
riscos de processos de erosão do solo
O segundo regime se caracteriza por um
(Guarnieri, 2017; Al Guarni e Awasthi, 2017).
quadrimestre chuvoso entre abril e julho,
Aspectos climáticos compreendendo a porção leste do estado
(região de João Pessoa), ocasionado pelo
aumento de atividade de circulação de brisa
Vegetação Climatologicamente, o Nordeste Brasi-
e máxima convergência dos alísios com
leiro (NEB) é conhecido pela sua alta
variabilidade temporal e espacial da brisas terrestres (Kousky, 1979), pelos
A Paraíba apresenta uma vegetação precipitação. Estas mesmas características distúrbios ondulatórios de leste (Ferreira et
bastante diversificada, reflexo de sua podem ser verificadas na nossa área de al., 1990) e pelo deslocamento de uma zona
riqueza ecológica, por englobar os biomas interesse. de convergência observada sobre a costa
Caatinga e Mata Atlântica em seu território, leste do Nordeste (Molion e Bernardo,
Na grande parte do território paraibano, 2000). Estes são os principais sistemas
o que lhe confere uma variedade de
os sistemas atmosféricos mais atuantes na meteorológicos responsáveis pela preci-
espécies adaptadas às diferentes condições
Zona Semiárida são a Zona de Convergência pitação no estado.
climáticas e ambientais.
Intertropical (ZCIT), os Eventos de Oscilação
De acordo com o Serviço Florestal Sul (ENSO) – El Niño e La Niña, o Vórtice Conforme indica a Figura 1.4, a
Brasileiro (2019), a Paraíba apresenta como Ciclônico de Alto Nível (VCAN) e os Sistemas distribuição anual da precipitação apresenta
florestas pelo menos 11 tipologias de Frontais (Frentes Frias), que são alta variabilidade espacial. A porção central
vegetação, incluindo Savana-Estépica responsáveis pelas chuvas distribuídas ao do estado, incluindo a região intermediária
Arborizada e Florestada (Caatinga), Floresta longo do ano. A atuação da ZCIT costuma de Campina Grande e oeste da região de
Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila ser mais presente no Semiárido durante os João Pessoa, apresenta os menores valores
6
Figura 1.3 - Mapa da declividade do terreno
com a localização das cidades mais populosas.
Fontes: Derivado de NASA/SRTM 4.1; IBGE/Base
Cartográfica BC250, 2021.
Figura 1.4 - Mapa da distribuição espacial
da precipitação.
Fontes: G. Köppen’s climate classification map for
Brazil; IBGE/Base Cartográfica BC250, 2021.
O Estado da Paraíba
Mata Atlântica
Planalto da Borborema
Cacto quipá no
Cariri paraibano
Caatinga
Manguezais
9
O Estado da Paraíba
acumulados anuais de precipitação entre se as maiores médias de temperatura diurna microrregiões de Água e Esgoto do Alto
400 e 600 mm. A região de Sousa-Cajazeiras do ar ao longo do ano. Importante comentar Piranhas, Espinharas, Borborema e Litoral.
e o oeste da região de Patos apresentam que este padrão pode ser observado no A estrutura leva em consideração, dentre
precipitação anual entre 800 a 1000 mm e Estado da Paraíba durante todo o ano e que outros aspectos, a delimitação das bacias
as porções mais a leste do estado os meses com os menores valores de hidrográficas, a divisão da infraestrutura
apresentam valores de acima de 700 mm, temperatura são junho, julho e agosto; já as operacional dos serviços de saneamento
com destaque para a região de João Pessoa, temperaturas mais elevadas são observadas básico, bem como as particularidades
onde os acumulados anuais variam de 1200 em outubro, novembro e dezembro. sociais, econômicas e políticas dos ter-
a 1600 mm. A Precipitação é um importante ritórios envolvidos.
elemento climático, pois promove a
Os baixos índices de precipitações
regulação da temperatura, funcionando
pluviométricas anuais constituem um fator
como um controle para amplitudes térmicas Hidrografia limitante às regiões hidrográficas na Zona
extremas.
Semiárida da Paraíba, causando menos
Segundo Francisco e Santos (2017) a No Estado da Paraíba existem rios e vazão e escoamento superficial nos rios e
classificação climática de Köppen mostra a riachos descritos como corpos de água riachos. Nessas localidades, a carac-
predominância dos tipos “As” (clima tropical lóticos ou cursos d’água naturais (intermi‐ terização hidrográfica é marcada pela
com verão seco) e “Bsh” (clima semiárido tentes, efêmeros, perenes e perenizados), presença de rios e riachos intermitentes e
quente) no estado da Paraíba, conforme a os quais possuem suas terminologias efêmeros.
Figura 1.5. O tipo “As” é observado no leste materializadas no art. 2º da Resolução do As Bacias Hidrográficas da Paraíba
da região de João Pessoa, além de uma Conselho Nacional de Recursos Hídricos constituídas essencialmente por rios
faixa na porção oeste e norte da região de (CNRH) nº 141, de 10 de julho de 2012. Boa perenes são as do Abiaí, Guaju, Maman-
Patos. O tipo “Bsh” pode ser verificado na parte desses corpos de água lóticos ou guape, Miriri, Gramame, Camaratuba, bem
região central do estado, compreendendo a cursos d’água naturais estão representados como a Sub-Bacia hidrográfica do Baixo
região de Campina Grande a e o oeste da no enquadramento dos corpos d’água da Paraíba.
região de João Pessoa. Importante men- Paraíba, elaborado pela Agência Executiva
cionar que na faixa central do estado a de Gestão das Águas (AESA) e atualizada em O estado conta com inúmeros açudes e
precipitação anual oscila entre 400 e 600 parceria com a SUDEMA em 2014. Esses barragens construídos para mitigar o
mm (Figura 1.4), sendo, portanto, uma das aspectos de ordenamento dos recursos impacto das estações de seca, como, por
regiões com menores totais pluviométricos hídricos estão materializados na Diretriz exemplo, as demandas difusas (abaste-
do País. n° 201 do Sistema Estadual de Licencia- cimento humano de populações rurais,
mento de Atividades Poluidoras (SELAP) no dessedentação animal e irrigação).
A Figura 1.6 apresenta a distribuição
ano de 1988 e podem ser visualizados em
espacial da temperatura diurna média anual O Açude Coremas, o maior do estado em
Banco de Dados Espacial (BDE) do SIG-WEB
do ar. Analisando o mapa, observa-se que os capacidade de armazenamento, com aproxi-
da Agência Executiva de Gestão das Águas
menores valores estão nas áreas de altitudes madamente 590 hm³ e localizado na bacia
(AESA), através do endereço eletrônico
mais elevadas, destacando-se assim a porção do Rio Piancó, beneficia 112 municípios
http://siegrh.aesa.pb.gov.br:8080/aesa-sig/.
centro-norte da região de Campina Grande. espalhados pela região de Patos (AESA,
No setor mais a leste da região de Patos, O governo da Paraíba estabeleceu, 2020). A Figura 1.7 apresenta o mapa de
onde predominam baixas altitudes, observa- através da Lei Complementar 168/2021, as recursos hídricos do Estado da Paraíba
10
Figura 1.5 - Mapa da distribuição dos
tipos climáticos segundo Köppen.
Fontes: G. Köppen’s climate classification
map for Brazil; IBGE/Base Cartográfica
BC250, 2021.
Figura 1.6 - Mapa da temperatura diurna
e cidades mais populosas.
Fontes: INMET/Estações Automáticas ; IBGE/
Base Cartográfica BC250, 2021; Censo
Demográfico, 2022.
Figura 1.7 - Mapa dos recursos hídricos do
estado e cidades mais populosas.
Fonte: ANA/Massas d'Água, 2021; IBGE/Base
Cartográfica BC250, 2021; Censo Demográfico,
2022.
O Estado da Paraíba
utilizado na elaboração dos cenários Atualmente, na Paraíba, existem Unida- pescadores do Município de Cabedelo,
econômicos descritos mais adiante neste des de Conservação protegendo paisagens com atividades como artesanato pro-
documento. naturais nos dois biomas existentes no duzido pelas marisqueiras da comu-
território – Mata Atlântica e Caatinga – além nidade Renascer.
de outras no ecossistema marinho.
Conhecer para conservar é uma máxima
Diversas atividades podem ser desen- afirmativa que norteia a gestão das
Unidades de Conservação volvidas nestes territórios protegidos, como, Unidades de Conservação. Através da
por exemplo, a educação ambiental, pesquisa participação popular, da divulgação
As Unidades de Conservação são científica, ecoturismo e extrativismo susten- científica e da vivência destes espaços é crer
territórios protegidos legalmente insti- tável de recursos naturais renováveis. em um futuro onde os ecossistemas se
tuídos pelo Poder Público e que possuem perpetuarão para as futuras gerações.
Importante patrimônio natural está
como objetivo conservar os recursos preservado nas Unidades de Conservação, Além das Unidades de Conservação, o
ambientais inseridos em seus limites, como a biodiversidade ameaçada de extin- Estado da Paraíba conta com Terras
incluindo as águas jurisdicionais, com ção, a exemplo do pau-brasil (Paubrasilia Indígenas demarcadas e em estudo e
características naturais relevantes. Para echinata), com uma importante população também Terras Quilombolas, como apre‐
elas, é obrigatório regime especial de resguardada na Estação Ecológica de sentado na Figura 1.8 e nas Tabelas 1.2 e 1.3.
administração, ao qual se aplica garantias mesmo nome, que possui um dos mais
adequadas de proteção. relevantes bancos de germoplasma desta
Estes territórios protegidos são clas- espécie no país. Além disso, existem as aves
sificados em dois grupos, de acordo com endêmicas (Parque Estadual Mata do Pau- Demografia
sua tipologia de uso: Proteção Integral e Ferro), as pinturas rupestres (APA das
Uso Sustentável. Cada um desses grupos é Onças) e os icnofósseis do período Cretáceo
(Monumento Natural Vale dos Dinossauros) Segundo o Censo Demográfico do IBGE
subdividido em cinco e sete categorias, res-
também protegidos nas UC's. realizado em 2022, a população do Estado
pectivamente, que se adaptam à realidade
da Paraíba é de 3.974.495 habitantes,
ambiental de cada local. Um importante papel das Unidades de registrando uma taxa de crescimento de
Ao total são 40 Unidades de Conservação Conservação é preservar e estimular a 0,45% ao ano no período entre 2010 e
na Paraíba, listadas na Tabela 1.1, sendo 17 manutenção do conhecimento tradicional 2022. A densidade demográfica do estado
gerenciadas pelo estado através da das populações humanas inseridas no é de 70,4 hab./km² (Figura 1.9). Os dados
SUDEMA, outras 16 no âmbito federal pelo contexto socioambiental que as cir- populacionais por sexo e residência
Instituto Chico Mendes de Conservação da cundam. Na zona de amortecimento do urbana/rural ainda não haviam sido
Biodiversidade (ICMBio) e mais 7 que ficam Parque Estadual Marinho Areia Vermelha publicados pelo IBGE quando da
a cargo de municípios. Entre as UC’s, algu‐ (PEMAV), o projeto denominado de impressão deste documento (julho/2023).
mas são particulares. Denominadas Reser- Projeto de Integração com as Comu- Valores atualizados podem ser obtidos na
vas Particulares do Patrimônio Natural, 9 nidades, apoiado pelo GEF-Mar e firmado página do Censo 2022, que pode ser aces‐
estão na esfera federal e 2 na esfera estadu‐ por Acordo de Cooperação entre o Estado sada pela internet no endereço http://
al. A Figura 1.8 apresenta o mapa com a da Paraíba e o Ministério do Meio Ambi‐ censo2022.ibge.gov.br/panorama/.
localização das unidades de conservação. ente, apoia as mulheres da colônia de
14
O Estado da Paraíba
Tabela 1.1 - Unidades de Conservação no Estado da Paraíba. A numeração (Id) indica a posição no mapa.
Fonte: MMA (Ministério do Meio Ambiente)/ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), 2021; SUDEMA, Prefeituras Municipais de Cabedelo,
Cacimba de Areia, Cajazeiras, João Pessoa e Mataraca.
Continua
15
O Estado da Paraíba
16
Figura 1.8 - Unidades de Conservação, Terras
Indígenas e Quilombolas
(ver tabelas para identificação).
Fontes: SUDEMA-PB, 2023; MMA/ICMBIO, 2022; FUNAI,
2021; INCRA, 2021; IPHAN, 2021; IBGE/Base
Cartográfica BC250.
Figura 1.9 - Mapa da densidade demográfica.
Fontes: IBGE/Centro de Documentação e
Disseminação de Informações/Grade Estatística,
2016; IBGE/Base Cartográfica BC250, 2021; Censo
Demográfico, 2022.
O Estado da Paraíba
Economia
19
O Estado da Paraíba
35,7% deste total, o que a coloca como a Gwh (51%), como mostrado na Figura 1.12.
fonte de energia mais importante do Apenas o setor residencial foi responsável
estado (ANEEL/SIGA, 2023; ANEEL/ pelo consumo de 2.346 GWh ou 68% do
Geração Distribuída, 2023). Ao analisar-se total gerado no estado.
20
O Estado da Paraíba
21
Figura 1.13 - Sistema elétrico do estado da
Paraíba incluindo linhas de transmissão e
distribuição e plantas de geração.
Fonte: ANEEL (2022) e EPE (2023).
O Estdo da Paraíba
23
FUNDAMENTOS DA ENERGIA SOLAR
terrestre tem sido medida desde o início da outono, inverno e primavera. A Figura 2.1
década de 1970 por diferentes técnicas e ilustra esses dois principais movimentos e
instrumentos e é conhecida como Constante suas efemérides principais.
Solar. A American Society for Testing and
Os componentes atmosféricos (gases e
Conceitos básicos da Materials (ASTM) estabeleceu como padrão
particulados presentes na atmosfera) pos-
para tal quantidade, mais reconhecido mun‐
irradiação solar dialmente, o valor de 1.366,1 ± 2,5 W/m², suem papel importante na atenuação da
radiação solar devido aos processos de
denominado ASTM E490-00a (ASTM, 2019).
interação como a absorção e o espalhamento
A radiação solar é a fonte de energia a
Entre os diversos fatores que influenciam da radiação solar. Esses processos radiativos
ser adotada para geração de energia
a quantidade e variabilidade da energia solar na atmosfera também determinam a dis-
elétrica por meio de duas tecnologias já
que incide na superfície da Terra, os mais ponibilidade e a variabilidade da incidência de
consolidadas no mercado: a geração foto-
importantes são o movimento de translação energia solar na superfície empregada na
voltaica e a geração heliotérmica. A energia
da Terra em torno do Sol, em uma órbita geração de eletricidade e outros fins.
solar também tem aplicações na produção
elíptica com a duração
de calor para atender demandas da pro-
aproximada de 365 dias,
dução agropecuária, dos processos indus-
5 horas, 48 minutos e 48
triais e dos sistemas de aquecimento da
segundos, e o movi-
água para residências.
mento de rotação em
A energia solar é resultado da fusão torno de um eixo polar
nuclear dos átomos de Hidrogênio, que com inclinação de 23,45°
representa cerca de 75% da composição do em relação ao plano da
Sol. Essa fusão ocorre a uma taxa aproxi- órbita solar (eclíptica),
madamente constante há bilhões de anos, que define o ciclo diário.
com uma potência instantânea da ordem de Esses dois movimentos
3,86 x 1026 W. Apenas parte da energia combinados definem os
emitida pelo Sol atinge o topo da atmosfera ciclos diário (dia/noite) e Figura 2.1 - Movimento da Terra em torno do Sol tendo como referência
sazonal associados às as datas das efemérides relevantes para o Hemisfério Sul.
de nosso planeta Terra. A quantidade de
Fonte: Martins e Pereira, 2019.
energia que chega ao topo da atmosfera estações do ano – verão,
Fundamentos da energia solar
25
Fundamentos da energia solar
tem adotado usualmente a unidade Wh/ ado no topo da atmosfera. É também relação à superfície da Terra. Em geral,
m² (Watt-hora por metro quadrado) para conhecida como irradiância no topo da essa nomenclatura é adotada para
expressar a irradiação solar. Esta grandeza atmosfera (TOA); descrever a irradiância solar em um
é muito utilizada em dimensionamentos plano com ângulo de inclinação em
• Irradiância difusa (G dif ou DHI): é o fluxo
de sistemas fotovoltaicos. relação ao plano horizontal e com face
instantâneo de energia solar incidente
voltada para o norte (ou sul) geográfico
A irradiância solar é classificada nas sobre uma superfície horizontal,
no hemisfério sul (ou norte).
componentes Global, Direta e Difusa, decorrente do espalhamento do feixe
com base nos processos radiativos de solar direto pelos constituintes at‐ As componentes da irradiância solar po‐
espalhamento na atmosfera. A irradiân- mosféricos (moléculas, material parti- dem ser vistas na Figura 2.5.
cia solar também pode ser determinada culado, nuvens, etc.);
considerando a geometria e localização • Irradiância direta normal (G n ou DNI): é
da superfície sobre a qual ocorre a o fluxo instantâneo de energia solar
incidência: Plano Inclinado, Plano proveniente diretamente do Sol que
Horizontal e Extraterrestre. Com base incide sobre uma superfície em direção
nessas classificações, são apresentadas a normal ao feixe de radiação solar, sem
seguir as definições adotadas no Atlas sofrer nenhum espalhamento durante o
Solarimétrico da Paraíba: seu percurso na atmosfera;
• Irradiância extraterrestre (G₀): é o fluxo • Irradiância direta (Gdir): é a parcela da
instantâneo de energia solar incidente irradiância solar direta (Gn) que incide
em um plano horizontal imaginário situ- perpendicularmente a uma superfície
horizontal, determinada como
o produto entre a irradiância
direta normal (Gn) e o cosseno
do ângulo zenital solar (θz);
Figura 2.4 - Espectro da radiação solar incidente no topo da tantâneo de energia solar por
atmosfera e na superfície terrestre ilustrando as bandas de unidade de área incidente
absorção e a faixa da radiação visível.
sobre um plano inclinado em
26
Fundamentos da energia solar
27
Fundamentos da energia solar
28
Fundamentos da energia solar
(c)
Incertezas
29
Fundamentos da energia solar
corrente elétrica em um material A geração fotovoltaica emprega a para conversão térmica. O calor aquece um
semicondutor exposto à radiação eletro- irradiação solar global incidente, ou seja, as fluido de trabalho que irá movimentar
magnética, como as células de silício componentes direta e difusa da radiação turbinas, acionando o gerador de eletrici-
presentes nos módulos fotovoltaicos. solar, inclusive a que provém do albedo da dade. Existem várias tipologias de geração
superfície, portanto, ocorre mesmo em dias termossolar, empregando espelhos parabó-
A conversão depende do material com nebulosidade, embora com menor licos lineares, ou sistemas de vários
semicondutor empregado, caracterizado produtividade. espelhos planos em uma disposição própria
pela energia de criação dos pares de para gerar calor em um único ponto. A
elétrons livres e lacunas (energia de banda A geração fotovoltaica também sofre a Figura 2.10 ilustra as principais tipologias
proibida). Assim, a escolha da tecnologia influência da temperatura de operação da de geração termossolar mais empregadas.
para a produção dos módulos fotovoltaicos célula semicondutora. O aumento da A geração termossolar utiliza apenas a
(silício mono ou poli cristalino, filmes finos, temperatura causa a redução da eficiência componente direta da irradiação solar inci‐
ou semicondutores orgânicos) está associa- de conversão fotovoltaica. Daí a impor- dente e, portanto, só pode ser aplicada em
da à resposta espectral e, também, ao tância dos dados de temperatura do local regiões com baixa nebulosidade e alta
espectro solar incidente. A Figura 2.9 ilustra da instalação pretendida, uma vez que esta incidência de radiação solar como, por
o efeito fotovoltaico em uma célula tem influência na temperatura de operação exemplo, em regiões áridas. Contudo, tem a
semicondutora que compõe um painel do módulo fotovoltaico. vantagem de poder gerar energia elétrica
fotovoltaico. A eficiência de conversão da
A geração termossolar ou heliotérmica mesmo após o pôr do Sol, desde que
radiação solar em eletricidade das
(CSP – Concentrated Solar Power) utiliza disponha de sistemas de armazenamento
tecnologias disponíveis no mercado estão
espelhos (heliostatos) que refletem a luz do do calor gerado durante o dia.
na ordem de 18 a 24%.
Sol de modo a concentrar a incidência solar
30
Fundamentos da energia solar
(a) (b)
(c) (d)
Figura 2.10 - Sistemas de geração heliotérmica: (a) por tecnologia de lente Fresnel, (b) empregando sitema de
torre, (c) empregando disco parabólico, (d) empregando cilindro parabólico.
31
METODOLOGIA DE ELABORAÇÃO DO ATLAS
informações sobre a nebulosidade presente relação ao plano horizontal (GTI₁₀);
na atmosfera, principal fator de modulação
Para a elaboração do Atlas Solarimétrico • Total diário da irradiação solar difusa
da incidência de radiação solar na super-
da Paraíba, foi adotada metodologia incidente no plano horizontal (DHI);
fície, são obtidas a partir de imagens de
inovadora que combina uso de dados • Total diário da irradiação solar direta
satélites geoestacionários da família GOES.
climáticos e de sensoriamento remoto com normal (DNI), i.e., incidente em
modelo numérico de transferência radiativa Os valores de irradiância solar incidente superfície perpendicular à direção de
adaptado para as condições ambientais na superfície fornecidos pelo modelo propagação do feixe da energia solar.
encontradas no território nacional (Martins BRASIL-SR para cada imagem de satélite são
e Pereira, 2006; Martins et al., 2008; Costa et integrados numericamente para deter-
al., 2016; Pereira et al., 2017). Fruto de minação dos totais diários para um período
trabalho de pesquisa realizado ao longo das de 10 anos iniciado em 2012. As incertezas
últimas décadas, o modelo de transferência associadas à metodologia são avaliadas
Descrição do
radiativa BRASIL-SR, utilizado na confecção com uso de métricas estatísticas, como viés, modelo BRASIL-SR
deste Atlas, emprega propriedades físicas raiz do erro quadrático médio e correlação
da atmosfera e seus constituintes (tempe- de Pearson, determinadas com base na
Os valores de irradiação solar produzidos
ratura do ar, umidade relativa, espessura comparação entre valores estimados e ob‐
pelo modelo BRASIL-SR são adotados como
óptica de aerossóis, concentração de gases servados em estações de medida em
referência para o território brasileiro por
atmosféricos, nebulosidade) para estimar o superfície.
instituições governamentais e empreende-
perfil vertical dos principais gases e
A base de dados disponibilizada neste dores do setor de energia (CRESESB, 2022;
partículas presentes na atmosfera baseado
Atlas inclui as médias anual e mensal do SOLERGO, 2022).
em técnicas consolidadas na literatura
total diário das seguintes componentes da
científica. Dados relacionados à cobertura e O fluxo de operação do modelo pode ser
irradiação solar incidente na superfície:
uso do solo (albedo e altitude) também são visto da Figura 3.1. O modelo espectral
fundamentais para simular os processos • Total diário da irradiação solar global BRASIL-SR utiliza 37 intervalos espectrais
físicos de atenuação da radiação solar e incidente no plano horizontal (GHI); distribuídos no intervalo entre 200 nm a 3700
obtenção da irradiância solar incidente na nm. Os dados espectrais solares no topo da
• Total diário da irradiação solar global
superfície e refletida de volta para a atmosfera (TOA) seguem Gueymard (2004).
incidente no plano inclinado a 10° em
atmosfera (Casagrande et al., 2021). As
Metodologia de elaboração do Atlas Solarimétrico
33
Metodologia de elaboração do Atlas Solarimétrico
34
Metodologia de elaboração do Atlas Solarimétrico
espacial e temporal dos dados disponi- Ozônio de ajuste da base para a resolução espacial
bilizados graças ao imageador ABI. As apresentada pelas imagens de satélite. O
imagens do canal visível (comprimento de O ozônio é o constituinte atmosférico perfil vertical seguiu a atmosfera-padrão
onda 0,64 µm) com resolução espacial de responsável pela atenuação da radiação selecionada em função da temperatura do
1,0 km e uma resolução temporal de 10 solar na faixa espectral do ultravioleta. A ar na superfície.
minutos foram utilizadas para elaboração base de dados disponibilizada pelo Coper-
do Atlas. A Tabela 3.1 resume as espe- nicus Climate Change Service (https://
cificações técnicas dos dois satélites. A climate.copernicus.eu/) fornece a concen- Albedo
Figura 3.2 ilustra imagens do canal visível tração de Ozônio na coluna atmosférica e
obtidas pelos satélites GOES 13 e 16. foi utilizada para parametrização dos pro- Albedo ou coeficiente de reflexão é a
cessos radiativos associados ao ozônio. Esta razão entre a radiação refletida pela
base apresenta resolução espacial de 1°, superfície e a radiação incidente sobre ela.
Temperatura, umidade sendo por isso necessário processamento Tem natureza adimensional, sendo normal-
relativa e água precipitável
Tabela 3.1 - Frequência temporal de coleta de imagens ao longo do período de tempo adotado para
elaboração do Atlas Solarimétrico da Paraíba.
O modelo BRASIL-SR utiliza valores de
temperatura do ar, umidade relativa e água
precipitável para estabelecer os perfis
verticais dos constituintes atmosféricos. Os
valores de temperatura do ar são
fundamentais para estabelecer os perfis
verticais dos gases constituintes da
atmosfera (Martins, 2001). Por outro lado,
a água precipitável é uma variável de forte
interação com a radiação solar e possui
importante papel na atenuação da
irradiação solar incidente na superfície,
sendo os seus dados utilizados para
corrigir o perfil de vapor de água na coluna
atmosférica. Para elaboração do Atlas, os
dados das três variáveis disponíveis na
base de reanálise ERA-5 também foram
interpolados com base no método do píxel
vizinho mais próximo para a resolução
espacial das imagens do satélite GOES. A
reanálise ERA-5 é disponibilizada pela
Copernicus Climate Change Service (https://‐
climate.copernicus.eu/). Figura 3.2 - Imagens no canal visível dos satélites GOES 13 (esquerda) e GOES 16 (direita), na
projeção retangular. Fonte: DISSM/INPE.
35
Metodologia de elaboração do Atlas Solarimétrico
mente medido numa escala que vai de zero biomas para a seleção do conjunto de
a 1. A função de distribuição da reflectância propriedades ópticas dos aerossóis, defi-
bidirecional (FDRB) fornece a refletância de nida a partir do bioma principal de cada
um alvo em função da geometria de ponto de grade. A base de dados de
iluminação e geometria de visualização. As altitude do território brasileiro utilizada é a
mudanças na reflectância e no albedo de GTOPO30, do Earth Resources Observation
uma determinada superfície têm relação and Science (EROS) Data Center/United
com a sua geometria de iluminação e com o States Geological Survey (USGS), disponível
tipo de superfície, sendo distintas para em formato de grade com resolução de
diferentes comprimentos de onda. Uma das arco de 30 seg (aproximadamente 1 km) e
metodologias para descrever a variabilidade discretização vertical da ordem de 100 m.
do albedo de superfície utiliza as funções de Já os dados de biomas são oriundos do
distribuição de reflectância bidirecional Instituto Brasileiro de Geografia e
(FDRB), combinando parâmetros como o Estatística (IBGE), com escala de 1:250.000
espalhamento isotrópico, espalhamento em (Figura 3.3). Assim como nos outros dados
superfícies horizontalmente homogêneas e de entrada, os valores são interpolados
espalhamento óptico geométrico. Seguindo para o tamanho do píxel da imagem de
estes princípios, o modelo BRASIL-SR utiliza satélite utilizada.
dados de albedo espectral do solo para o
cálculo da irradiação solar direta e difusa,
obtida usando parâmetros das funções
FDRB e fórmulas polinomiais com coefici- Processamento
entes independentes do comprimento de
onda. Valores climatológicos mensais em
computacional Figura 3.3 - Mapas de relevo (acima) e de biomas
(abaixo) utilizados no modelo BRASIL-SR.
sete bandas de comprimentos de onda Fonte: EROS/USGS e IBGE.
foram interpolados linearmente para os 37 O modelo BRASIL-SR foi executado para
umidade relativa e espessura óptica de
intervalos de comprimento de onda uma área limitada (domínio), conforme
aerossóis.
adotados no BRASIL-SR. A base de dados ilustrado na Figura 3.4, cobrindo uma
utilizados para este processamento está região além das fronteiras do território do A área do domínio foi definida com base
disponível para acesso público em http:// Estado da Paraíba com grade retangular na localização de estações de superfície
tds.webservice-energy.org. na resolução horizontal de 0,04° x 0,04° com disponibilidade de dados solarimé-
(~16 km²). Este domínio compreende as tricos para avaliação das incertezas das
latitudes entre 9,46˚ sul e 5,54˚ sul e estimativas de irradiação solar incidente na
Altitude e biomas longitudes entre 40,46˚ oeste e 34,62° superfície produzidas pelo modelo. Dados
oeste. Todo o conjunto de dados solarimétricos observados no território
O modelo também utiliza dados meteorológicos e ambientais utilizados para paraibano e estados vizinhos foram sele-
topográficos de altitude para correção e alimentar o modelo foi organizado para o cionados para garantir representatividade
parametrização de algumas das variáveis domínio ilustrado na Figura 3.4, incluindo das áreas de fronteiras do estado e pos-
atmosféricas utilizadas, além do mapa de imagens de satélite, temperatura do ar, sibilitar uma avaliação rigorosa do desem-
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Metodologia de elaboração do Atlas Solarimétrico
37
Metodologia de elaboração do Atlas Solarimétrico
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Metodologia de elaboração do Atlas Solarimétrico
buco, operadas pelo Instituto Federal de O controle de qualidade realizado (valores positivos) ou subestimar (valores
Pernambuco (IFPE). Os dados, de acesso atendeu aos critérios recomendados in‐ negativos) o potencial solar no local, enquanto
público, podem ser acessados no portal ternacionalmente pela BSRN (Baseline o REQM é uma medida do espalhamento
<https://redesolpe.com.br/>; Surface Radiation Network) combinados a entre os dados medidos e os dados estimados
outros documentos técnico-científicos pelo modelo de modo que quanto menores
• 3 (três) estações solarimétricas perten-
(Gueymard, 2014; WMO no. 8, 2018). O forem os valores, melhor o seu desempenho. A
centes à Rede SONDA operadas pelo
algoritmo foi dividido em quatro etapas correlação de Pearson (r) é um teste que mede
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
gradativamente mais rigorosas, além de a relação estatística entre as irradiações
(INPE) e localizadas em Petrolina/PE,
uma análise de consistência prévia. Como estimadas pelo modelo e os valores
Caicó/RN e Natal/RN, com registros a
todo processo automatizado de qualificação observados nas estações de superfície. Espera-
cada minuto de irradiância solar global
está sujeito a falhas, procedeu-se também a se uma associação linear entre os dois
horizontal, difusa horizontal e direta
inspeção visual para aprovação final das conjuntos de valores, de modo que os valores
normal (exceto Natal/RN). Todas as
medições. A Figura 3.5 ilustra graficamente, de r devem estar próximos a 1,0 (um). As
estações têm dados de acesso público
em diagrama de blocos, este procedimento, Equações 1, 2 e 3 detalham estes índices.
pelo portal <http://sonda.ccst.inpe.br/>;
enquanto a Tabela 3.2 mostra o percentual
• 1 (uma) estação solarimétrica padrão total de dados aprovados para as variáveis
EPE localizada na mesorregião Campina GHI e DNI. (Eq. 1)
Grande, Estado da Paraíba, pertencente
a empreendedores privados.
(Eq. 2)
Métricas estatísticas
Controle de qualidade
As comparações entre o modelo e as
medições em superfície foram efetuadas para
É comum que medições solarimétricas cada estação individualmente e para todo o
apresentem falhas e problemas de conjunto de dados disponível. Empregaram-se
qualidade ao longo dos anos, o que métricas estatísticas convencionais definidas (Eq. 3)
demanda um controle de qualidade das pelo Erro Médio (viés) e a Raiz do Erro
bases de dados observados antes de sua Quadrático Médio (REQM). O viés indica onde yi é o valor observado da variável no i-
utilização na avaliação de incertezas de tendências do modelo em superestimar ésimo instante do tempo, xi é o valor da
estimativas de irradiação solar incidente na
superfície fornecidas por modelos compu-
Tabela 3.2 - Percentual total de dados aprovados para as variáveis GHI e DNI após processo de qualificação
tacionais. Além do acúmulo de sujeira nos considerando o total de estações avaliadas.
radiômetros, que é bastante comum, a re‐
gularidade na calibração, os erros de
conversão de sinal e a interferência causada
por obstáculos são alguns dos problemas
mais frequentes.
39
Metodologia de elaboração do Atlas Solarimétrico
mesma variável produzida pelo modelo relevância das incertezas de medição. Os desvios de cada estação possuem o
correspondente ao mesmo instante de mesmo peso na apuração dos percentis e
As Tabelas 3.3 e 3.4 mostram um resumo
tempo do valor observado, e N é o número nas médias finais. A média se refere à
das métricas de validação obtidas para as
de registros da variável em validação. média aritmética de todas as 24 estações
variáveis GHI e DNI respectivamente, para empregadas no processo de validação que
Deve-se considerar que valores elevados todas as estações selecionadas no domínio passaram no controle de qualidade. Não há
dos desvios de viés e REQM obtidos para mapeado. ponderação pelo período de dados.
algumas estações não estão relacionados
Os valores percentuais do viés e de
somente às incertezas da modelagem, mas
REQM foram determinados em relação ao
também às incertezas da própria medição
valor médio das observações nas estações
em superfície. Problemas relacionados a
sujidade, a calibração dos sensores e até selecionadas para o processo de validação. Comparação entre
mesmo efeitos de sombreamento por Os percentis apresentados fornecem bases solarimétricas
localização inadequada da estação, são informações sobre a fração de observações
difíceis de se detectar e, muitas vezes, (ou de desvios) que estão abaixo de seu Diversas bases de dados solarimétricos
passam desapercebidas pelo controle de valor, apurados em uma base mensal. estão disponíveis, regional, nacional e
qualidade aplicado aos dados observados, Assim, por exemplo, o Percentil 25, ou P25 globalmente, oriundas de diferentes
até mesmo por inspeção visual. Neste representa o limite superior de 25% dos métodos como a interpolação entre esta-
sentido é recomendável avaliar os erros registros presentes na análise estatística, e ções de superfície, modelagem dinâmica
sempre que possível para um conjunto assim por diante. em mesoescala ou global (reanálises) e
maior de estações, de modo a reduzir a
modelos satelitais. A base de dados do Atlas
Figura 3.5 - Fluxograma do processo de qualificação de medições solarimétricas adotado neste atlas.
40
Metodologia de elaboração do Atlas Solarimétrico
Diagrama de dispersão
41
Metodologia de elaboração do Atlas Solarimétrico
42
CARTAS SOLARIMÉTRICAS
média determinada em estudos anteriores mamente relevante para empreendedores
(Pereira et al., 2017) para a irradiação do setor de energia e demais interessados
As cartas solarimétricas foram produ- solar GHI no território brasileiro (cerca de em conhecer a disponibilidade deste
zidas a partir dos resultados das 4,8 kWh/m².dia). recurso no Estado da Paraíba. O acesso a
simulações do modelo BRASIL-SR para um esse detalhamento está disponível na
período entre janeiro de 2012 a dezembro Os mapas também possibilitam iden- Ferramenta Web disponibilizada pela
de 2021. Cada uma das componentes da tificar a variabilidade sazonal da incidência Secretaria de Infraestrutura e Recursos
irradiação solar incidente na superfície é de energia solar no território paraibano. O Hídricos do Estado da Paraíba, onde além
apresentada por um mapa da média anual recurso energético solar cresce a partir de de verificar valores anuais e mensais do
do total diário, sempre seguido de doze julho, atingindo valores máximos em no‐ recurso solar, o usuário pode fazer
mapas com valores médios mensais do vembro, quando a componente GHI na su- simulações básicas e conhecer o potencial
total diário. A sequência de apresentação perfície atinge valores de até 7 kWh/m².dia. estimado para a geração de eletricidade
das cartas segue: irradiação global no A incidência mínima de energia solar no com aproveitamento da energia solar em
plano horizontal (GHI), irradiação global território paraibano acontece em junho, pontos ou mesmo em áreas de interesse.
no plano inclinado a 10° em relação ao quando os maiores valores de GHI No entanto, é importante destacar que a
plano horizontal (GTI₁₀), irradiação direta observados no oeste do estado são da Ferramenta Web não pode ser utilizada
normal à superfície (DNI) e irradiação ordem de 5,5 kWh/m². Importante lembrar para o dimensionamento de sistemas de
difusa no plano horizontal (DHI). das informações apresentadas no segundo geração solar, uma vez que a imple-
capítulo deste Atlas sobre o ciclo sazonal
Os mapas destacam maior incidência mentação destes sistemas requer a
de precipitação no estado - onde o período
de energia solar no oeste do estado elaboração do projeto executivo por
chuvoso ocorre principalmente entre os
paraibano, com valores médios para GHI profissionais qualificados para garantir
meses de fevereiro a junho, conforme a
de até 6,2 kWh/m² por dia. O Brejo atendimento dos requisitos técnicos espe-
região do estado.
Paraibano, localizado entre as Regiões cíficos associados às características do local
Imediatas de Campina Grande e Guarabira As cartas solarimétricas foram elabora- de instalação (eventuais sombreamentos,
(ver Figura 1.1), apresentou a menor das com uma resolução espacial da ordem geometria de iluminação, infraestrutura de
incidência de energia solar na superfície de 16 km², possibilitando um detalhamento suporte dos módulos fotovoltaicos, etc.) e
(com valores de GHI de aproximadamente espacial da informação sobre a radiação estabelecidos em normativas publicadas
5 kWh/m².dia), mas ainda superior à solar incidente na região. Isto é extre- pela concessionária de energia.
POTENCIAL DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA
Neste tópico é apresentada uma análise Perdas óticas e elétricas na geração e ao consumo de energia de todo o estado no
dos potenciais de aplicação de sistemas de transmissão de energia não foram consi- ano de 2021, que foi de 5.881GWh.
aproveitamento da energia solar fotovol- deradas, pois se projeta para o futuro o
taica no estado da Paraíba. desenvolvimento e aprimoramento tecno-
lógico. Esta premissa equivale a assumir
uma Taxa de Desempenho do sistema foto- Potencial técnico
voltaico igual a 100%.
Potencial teórico Além das premissas descritas acima, o Assim como na determinação do poten‐
cálculo assumiu: cial teórico, a avaliação do potencial técnico
Entende-se por potencial teórico o • a área do Estado da Paraíba igual a de geração fotovoltaica assume as condi‐
potencial disponível para geração solar 56.467,242 km² (IBGE, 2022); ções ideais para geração, ou seja, módulos
fotovoltaica assumindo que os módulos orientados para o norte geográfico com
• o valor médio da Irradiação Global
seriam instalados em condições ideais para inclinação a 10º em relação ao plano hori-
Inclinada a 10° (GTI₁₀) no território parai-
geração fotovoltaica, i.e., módulos orienta- zontal e sem sombreamento. Além disso, as
bano determinado em 5,73 kWh/m².dia;
dos para o norte geográfico com inclinação seguintes premissas foram estabelecidas:
de 10° em relação ao plano horizontal e • a utilização de módulos fotovoltaicos com
• potencial teórico calculado anteriormente;
sem sombreamento. a tecnologia mais difundida no mercado
atualmente – silício monocristalino, bifacial • exclusão de áreas com restrições am-
O cálculo do potencial teórico utilizou a bientais e geográficas: adutoras, áreas de
com potência de 650Wp, com área apro-
base de dados de Irradiação Global no preservação permanente (margem de 50
ximada de 3,1 m² e eficiência de 21%.
Plano Inclinado a 10° (GTI₁₀), assumindo o metros para cursos d'água), massa d'água
aproveitamento de todos os espaços Uma vez adotadas essas premissas, o (margem de 100 metros), canais de
possíveis do território da Paraíba para potencial teórico obtido é de, aproximada‐ transposição (margem de 50 metros), áreas
geração solar – taxa de ocupação em 100%. mente, 12 TWp, capaz de gerar em torno de urbanas (margem de 500 metros),
Para esta análise, nenhum tipo de restrição 70 TWh/dia ou 25.550 TWh/ano. A título de declividades maiores que 5 graus, rodovias
espacial foi adotada, de modo que áreas ilustração, uma área com apenas 0,02% do (margem de 100 metros), ferrovias (margem
protegidas e alagadas também foram incluí‐ Estado da Paraíba seria suficiente para ge‐ de 100 metros), terras indígenas, terras
das no cálculo. rar quantidade de eletricidade equivalente quilombolas, unidades de conservação;
Potencial de geração fotovoltaica
53
Potencial de geração fotovoltaica
POTENCIAL
Dados de Irradiação no Plano Inclinado a 10°;
TEÓRICO
Módulos fotovoltaicos em condições ideais;
25.550 TWh/ano
Taxa de desempenho = 100%;
Considerada a área total do Estado da Paraíba
(taxa de ocupação = 100%).
Potencial de geração fotovoltaica
POTENCIAL
ECONÔMICO I
2.375 TWh/ano Utilizado o potencial técnico, excluídas também as áreas a
mais de 30 km das linhas de transmissão e distribuição.
POTENCIAL
ECONÔMICO II
1.479 TWh/ano Utilizado o potencial econômico I, excluídas também as áreas
a mais de 10 km das linhas de transmissão e distribuição.
POTENCIAL
Sistemas de geração distribuída instalados nos telhados das
ECONÔMICO III edificações em áreas urbanas;
6,52 TWh/ano Adoção da Nota Técnica DEA/EPE 19/14;
Áreas médias de telhado de 85 m2 para casas e 15 m2 para
apartamentos.
54
Potencial de geração fotovoltaica
55
OUTROS ASPECTOS RELEVANTES
Energia solar térmica consumo elétrico (ou de lenha) a partir do
aquecimento termossolar para seus pro-
(ou termossolar) cessos industriais.
pouco competitivos. Por outro lado, soluções tunidade para maximizar o emprego das elétrica, armazenamento de energia e
híbridas que combinam um concentrador energias renováveis com segurança e baixo processos industriais. Metas de neutra-
solar linear a outra fonte de calor impacto ambiental. lidade climática e de segurança energética,
complementar (como biomassa) vem tem levado economias sólidas de países na
ganhando atenção e podem se tornar Europa e Ásia a lançar investimentos
alternativas importantes para compor o importantes de fomento a uma transição
parque gerador brasileiro no futuro. Hidrogênio verde energética baseada no hidrogênio verde.
Contudo, muitos desses países não
dispõem de farto potencial de energia
O hidrogênio produzido a partir de renovável como o Brasil, desfavorecendo
Complementaridades fontes renováveis de energia, conhecido sua produção local e abre um mercado
com hidrogênio verde, desponta como um promissor para exportação dessa
(geração híbrida) novo vetor energético para a des- commodity pelo Brasil. Particularmente os
carbonização das matrizes de energia no estados do nordeste brasileiro possuem
Embora a radiação solar não constitua mundo todo. Além dos mercados já altos níveis de irradiação solar ao longo do
uma fonte de energia despachável visto que tradicionais de fertilizantes, refino e outros ano, com baixíssima variabilidade inter-
é dependente das flutuações do ambiente usos (como gases industriais e hospitalares, anual e decenal e tais condições poderiam
meteorológico, usinas híbridas solar-eólicas dentre outros), novos mercados para o ser ideais para o desenvolvimento de
têm surgido como uma alternativa para hidrogênio verde podem ser desenvolvidos plantas geradoras de hidrogênio verde.
redução dessa variabilidade no parque nos segmentos de transporte, geração Contudo, a produção do hidrogênio verde
gerador, além de reduzir custos pelo através da eletrólise de água, requer mais
compartilhamento de infraestrutura. Nesse de 18 litros de água doce para produzir um
contexto, os estados do nordeste brasileiro quilograma de hidrogênio, considerando-se
se destacam pela abundância dessas duas o estágio atual da tecnologia. Isso repre-
fontes de energia. Ademais, considerando- senta um desafio em um estado onde os
se que o SIN é alimentado principalmente recursos hídricos são escassos, exatamente
por usinas hidrelétricas, apresentando onde ocorrem os maiores níveis de
consequentemente forte dependência do irradiação solar. A Figura 6.3 apresenta o
regime hídrico, pode se beneficiar com a esquema de produção do hidrogênio verde.
penetração da fonte solar. Por norma,
períodos de seca se caracterizam por menor
nebulosidade, portanto, maiores níveis de
irradiação solar. Períodos de ventos (alísios) Energia solar e
mais intensos também se caracterizam por mitigação de emissões
menor precipitação na região nordeste,
como diversos estudos já mostraram. Sendo
Figura 6.2 - Diagrama sistematizando de possíveis
assim, a complementaridade entre as complementariedades entre as fontes renováveis A geração de energia solar desempenha
fontes hídrica-solar-eólica (Figura 6.2) se assim como respectivas escalas de variabilidade. um papel importante no paradigma de
apresenta como uma importante opor- Fonte: André Gonçalves, 2017. crescimento econômico moderno, susten-
57
Outros aspectos relevantes
tável e com baixo impacto ambiental. Como A evolução rápida de sistemas de arma‐
Tecnologia, economia e
fonte livre de emissões durante a geração zenamento, como baterias, armazenamento
de eletricidade, a energia solar pode reduzir térmico, ou, futuramente, o hidrogênio geração de empregos
as emissões de CO₂ do setor de geração verde, soma-se aos ganhos promovidos pe‐
elétrica, uma vez que cada MWh de energia la energia solar, pois permitirá impulsionar Segundo dados da Associação Brasileira
gerada empregando a fonte solar evita a descarbonização de setores mais difíceis, de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), o
entre 534 e 1143 kg de CO₂ equivalentes tais como o transporte e as indústrias do emprego de tecnologias de aproveitamento
emitidos para a atmosfera em plantas cimento e siderúrgica. Nessa esteira, a da energia solar já gerou mais de 390 mil
termoelétricas alimentadas com combus- energia solar se apresenta como a principal postos de trabalho entre 2012 e 2020,
tíveis fosseis. alternativa para um posicionamento es‐ sendo a maior parcela destes oriunda do
tratégico do país no mercado de hidrogênio segmento de geração distribuída, devido à
A diversificação e eletrificação da matriz verde, podendo tornar o Brasil um dos forte expansão desse setor. A geração de
energética brasileira representa uma países mais competitivos do mundo neste empregos diretos ocorre principalmente
oportunidade ambiental e econômica se produto no longo prazo. nas atividades de instalação de sistemas
realizada em bases predominantemente
renováveis. Neste contexto, a energia solar fotovoltaicos, beneficiando principalmente
se destaca entre as tecnologias de baixo o perfil de ensino médio profissionalizante,
carbono em pelo menos três aspectos conforme ilustra a Figura 6.4. Os empregos
determinantes:
58
Outros aspectos relevantes
indiretos estão associados a cadeia do aço, irradiação global é de 5,71 kWh/m², os Observando a variação da irradiação
alumínio, cobre e do concreto, pelos totais diários podem variar de 2,0 kWh/m² a solar nas quatro localidades, percebe-se
materiais utilizados nas instalações. 8,0 kWh/m², dependendo dos sistemas que o recurso de energia solar apresentou
meteorológicos atuantes. Por outro lado, o uma variação positiva nos anos de 2015 e
recurso solar apresenta uma baixa 2016 em todas as localidades. Por outro
variabilidade ao longo dos anos para o lado, o recurso solar apresentou valores
Estado da Paraíba, de modo que a variação abaixo da média nos quatro locais em 2018,
entre um ano de maior potencial e outro de com redução de até 3,5% em relação à
menor potencial solar é, tipicamente, média do período de 10 anos.
inferior a 5,0% em torno de seu valor médio
A Figura 6.7 mostra a variabilidade diária
climatológico, como mostra a Figura 6.6.
para cada componente da irradiação solar na
Esta variabilidade é inferior do que a
Paraíba estimada pelo desvio-padrão (σ) dos
variabilidade sazonal, mostrada pelos
totais diários de irradiação ao longo dos anos.
extremos dos gráficos de caixa (‘box plots’).
Em princípio, o desvio-padrão pode ser útil
Estes dados demonstram a grande
para estimar o quão diferentes os dias são em
estabilidade interanual da geração solar
torno da média (μ), de modo que μ +/- σ
quando comparado a outras fontes
contém 68,2% dos dias, μ +/- 2σ contém
renováveis disponíveis na região, como a
95,6% dos dias e assim por diante, assumindo
eólica e hídrica. Quanto às tendências,
distribuições aproximadamente gaussianas.
cenários climáticos futuros apontam uma
Figura 6.4 - Perfil de atuação dos empregos discreta redução (de 1% a 2%) no potencial Nota-se pelos mapas que a maior
diretos gerados pelo setor de energia solar. solar nas mesorregiões do Sertão Parai- variabilidade da GHI (superior a 600Wh/m²)
Fonte: ABSOLAR. bano, Borborema e Agreste Paraibano até o ocorre na porção sudoeste da região
meio do século, embora exista ainda grande intermediária de Campina Grande (próximo
incerteza sobre estes impactos. ao município de Monteiro), além de
Variabilidade climática pequenas porções das regiões interme-
diárias de João Pessoa (próximo ao litoral) e
do potencial solar de Patos. A DNI, por outro lado, apresenta
maior variabilidade a noroeste da região
Para o estudo da variabilidade climática intermediária de Souza-Cajazeiras, chegan-
foram selecionadas quatro importantes do a valores superiores a 800Wh/m². A
cidades representativas do Estado da Paraí‐ irradiação global no plano inclinado (GTI)
ba, apresentadas na Figura 6.5. apresenta uma variabilidade 20% inferior à
GHI, atingindo valores máximos de na faixa
O recurso solar apresenta como de 500Wh/m². A DHI apresenta baixa
característica uma elevada variabilidade variabilidade em todo estado, com valores
diária devido ao ciclo diurno e uma absolutos na faixa de 150 – 300wh/m².
Figura 6.5 - Localidades representativas para as
moderada variabilidade intrasazonal. No quais foram gerados gráficos de variabilidade:
Estado da Paraíba, onde a média anual de João Pessoa, Campina Grande, Patos e Sousa.
59
Outros aspectos relevantes
Figura 6.6 - Gráficos da variabilidade climática do recurso solar em quatro localidades representativas: João Pessoa, Campina Grande, Patos e Sousa. O gráfico de caixas
(superior) mostra a variabilidade sazonal através da distribuição das médias mensais ao longo do ano. A média anual se encontra em linha tracejada. O gráfico de
variação (inferior) mostra a variação das médias anuais em torno da média de longo prazo (climatológica).
60
Outros aspectos relevantes
(a) (b)
(c) (d)
Figura 6.7 - Desvio-padrão (σ) dos totais diários de irradiação (a) global horizontal; (b) global inclinada; (c) direta normal e (d) difusa horizontal
obtidos ao longo dos anos de 2012 a 2021.
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A crise do petróleo da década de 70, Dentro desse contexto, a fonte solar, e O Estado da Paraíba, perceptivo a estas
com a alta dos preços imposta pelos principalmente a solar fotovoltaica, se mudanças, deu mais um passo importante
países da OPEP, mostrou a fragilidade dos mostrou extremamente confiável e uma em sua rica história, entregando à
países pela sua grande dependência desse grande aliada no combate às mudanças sociedade paraibana o Atlas Solarimétrico
recurso, o que determinou desde então climáticas, com capacidade instalada da Paraíba e sua Ferramenta Interativa
com que se buscasse fontes alternativas mundial passando, em pouco mais de Web, para promover e disseminar o uso
ao petróleo que pudessem atender às de‐ vinte anos, de 1 GWp em 1999 para mais desta tecnologia e, desta forma, contribuir
mandas. de 1 TWp. para uma matriz energética mais limpa e
renovável. A Ferramenta Interativa permite
Em décadas ainda mais recentes, o A situação no Brasil não tem sido a realização de consultas e simulações para
mundo se deparou com um novo diferente. Ao longo dos últimos 30 anos, qualquer local do estado. O acesso a essas
paradigma, ainda mais desafiador: a importantes pesquisas e publicações foram informações permitirá maior assertividade
necessidade de encontrar fontes alter- desenvolvidas que embasaram e continuam nos investimentos a serem realizados no
nativas e renováveis de energia, não a contribuir para a aplicação desta fonte em estado, beneficiando governo e sociedade
apenas devido ao preço e dependência dos solo brasileiro, com destaque àquelas com a geração de empregos e renda.
combustíveis fósseis, mas agora em desenvolvidas pelo INPE, como a publicação
decorrência da sua queima e emissão de do Atlas Brasileiro de Energia Solar, 1ª e 2ª
CO₂ na atmosfera, o que contribui de edições, as quais já indicavam o excelente
forma significativa com o aumento da potencial solar em todo o Brasil, em
temperatura global e com as mudanças especial na região nordeste.
climáticas no planeta.
ANEXO - LEGISLAÇÃO APLICADA AO SETOR DE ENERGIA
A legislação brasileira aplicada ao setor As Tabelas A.1, A.2, A.3 e A.4 apresentam (DGOA 017/2022 NT-EPE-DEA-SMA-019/2022).
de energia vem evoluindo continuamente uma breve lista de documentos que possuem Ambos os documentos estão listados nas
para atender às questões que se carácter de regulamentação, normatização e referências bibliográficas deste Atlas.
apresentam em razão do avanço científico e orientação para instalações voltadas ao
A Tabela A.1 inclui as normas ABNT e a
tecnológico e aspectos ambientais associa- aproveitamento do recurso energético solar. É
Tabela A.2 as resoluções ANEEL rela-
dos às mudanças climáticas, preservação, importante ressaltar que este capítulo não
cionadas à geração de energia elétrica a
conservação e recuperação do meio tem intuito de esgotar a discussão sobre a
partir da fonte solar. Artigos técnicos e
ambiente, visando propiciar tanto o acesso temática, uma vez que a geração solar é um
científicos abordando os aspectos da
à energia e seus benefícios quanto a saúde setor que está em evolução contínua e com
legislação técnica e ambiental (Tabela A.3),
e qualidade de vida da população brasileira. crescimento rápido na participação na matriz
tanto em âmbito nacional quanto regional,
energética brasileira.
Com relação ao atendimento da legis- estão disponíveis para acesso público e
lação ambiental, a Resolução CONAMA A nota técnica “Legislação Ambiental de novos estudos devem seguir em futuro bre‐
237/1997 permite que os órgãos ambientais interesse do setor elétrico”, publicada pela ve, dado o crescimento do setor e o
estabeleçam procedimentos simplificados Eletrobrás em setembro de 2022, é uma interesse que o tema possui para os
para o licenciamento ambiental de empre- fonte importante de informação que empreendedores, tomadores de decisão e
endimentos de pequeno potencial de apresenta uma abordagem bastante com‐ para a sociedade civil como um todo
impacto ambiental, e a Resolução CONAMA pleta do ordenamento jurídico brasileiro (Hoffmann et al., 2019; Luna et al., 2019;
279/2001 (e suas alterações) estabelece aplicado ao setor de energia. Outra fonte Silva et al., 2019; Pereira, 2019; Viana e
procedimento simplificado para o licen- importante de consulta é a Nota Técnica Basso, 2021; Severo et al., 2022). E por
ciamento ambiental dos empreendimentos “Levantamento da legislação para licencia- último, a Tabela A.4 lista a legislação federal
com impacto ambiental de pequeno porte, mento ambiental de empreendimentos de e estadual aplicadas ao setor.
que inclui a geração com aproveitamento geração de energia elétrica por fonte solar”
do recurso solar. elaborada conjuntamente pela Eletrobrás e
pela EPE e publicada em maio de 2022
Anexo - Legislação aplicada ao setor de energia
Tabela A.1 - Normas direcionadas a usinas de geração de eletricidade a partir da fonte solar.
Tabela A.2 - Portarias e resoluções normativas voltadas à geração de eletricidade por fonte solar.
64
Anexo - Legislação aplicada ao setor de energia
Tabela A.3 - Artigos técnicos e científicos abordando a legislação técnica e ambiental em várias alçadas.
65
Anexo - Legislação aplicada ao setor de energia
Tabela A.4 - Leis, decretos, portarias e normas que regulamentam a atividade de geração de energia.
66
ÍNDICE DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS
Figura 1.1 Figura 1.11 Figura 2.7
Mapa da Divisão Urbano Regional 4 Percentual de participação por classe de Exemplos de processos de medição da
consumo da fonte solar fotovoltaica 20 radiação solar direta 28
Figura 1.2
Topografia 5 Figura 1.12 Figura 2.8
Percentual de participação das fontes Plataformas de coleta de dados
Figura 1.3
renováveis na matriz energética 20 solarimétricos 29
Mapa da declividade do terreno 7
Figura 1.13 Figura 2.9
Figura 1.4
Sistema elétrico 22 Ilustração do efeito fotovoltaico sobre uma
Mapa da precipitação 8
célula fotovoltaica 30
Figura 2.1
Figura 1.5
Movimento da Terra em torno do Sol 24 Figura 2.10
Mapa dos tipos climáticos 11
Sistemas de geração heliotérmica 31
Figura 2.2
Figura 1.6
Principais ângulos que definem a posição Figura 3.1
Mapa da temperatura diurna 12
do Sol na abóbada celeste 25 Diagrama da metodologia empregada no
Figura 1.7 Atlas Solarimétrico 33
Figura 2.3
Mapa dos recursos hídricos 13 Figura 3.2
Ângulo de declinação (δ) 25
Figura 1.8 Imagens no canal visível dos satélites GOES
Figura 2.4
Unidades de Conservação, Terras 13 e GOES 16 35
Espectro da radiação solar incidente 26
Indígenas e Quilombolas 17 Figura 3.3
Figura 2.5
Figura 1.9 Mapas de relevo e de biomas utilizados no
Componentes da radiação solar incidente 26
Mapa da densidade demográfica 18 modelo BRASIL-SR 36
Figura 2.6
Figura 1.10 Figura 3.4
Respostas espectrais relativas de uma
Evolução do Produto Interno Bruto 19 A área adotada na configuração do
célula solar Sc-Si e de um piranômetro
modelo BRASIL-SR e localização das
termopilha 28
estações de superfície 37
Índice de figuras e tabelas
68
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