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URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

EM SAÚDE MENTAL

1.AS COMORBIDADES NOS


TRANSTORNOS MENTAIS

Diana Malito
OBJETIVOS DA AULA:

A incidência de comorbidades nas pessoas com sofrimento


psíquico é um tema urgente para a saúde pública. Nos
serviços de saúde mental, a desatenção dos profissionais à
ocorrência de doenças clínicas e/ou transtornos mentais
secundários ao transtornos mental principal, tem efeitos
danosos na vida dos pacientes. Propomos:
 Compreender o que são as comorbidades e qual a sua
relevância nas estratégias de tratamento em saúde mental;
 Conhecer a diretriz da atenção integral da Política
Nacional de Saúde Mental.
COMORBIDADES:

Correspondem a coexistência de pelo menos duas patologias


no mesmo indivíduo. Estas patologias devem estar
correlacionadas,
correlacionadas influenciando-se e complementando-se
reciprocamente.
A coexistência de sintomas não configura comorbidade. Elas
ocorrem:
 Entre doenças clínicas - ex.: obesidade associada a
diabetes; doença coronariana e insuficiência cardíaca.
 Entre transtornos mentais - ex.: transtorno bipolar e
transtorno relacionado ao uso de substâncias psicoativas;
transtorno fóbico-ansioso e transtorno depressivo.
 Entre doenças clínicas e transtornos mentais - ex.
parkinson e transtorno depressivo.
 Entre transtornos mentais e doenças clínicas - ex.
bulimia e doenças gastrointestinais, transtorno relacionado ao
uso de substâncias e doença hepática.

Frequentemente, apenas o transtorno que se sobressai é


foco de tratamento, invisibilizando a coexistência de outros.

A concepção global do quadro psicopatológico depende


de práticas em saúde que considerem a integralidade dos
indivíduos.
COMORBIDADES E DIAGNÓSTICO:

A identificação das comorbidades existentes influenciam no


curso, na resposta ao tratamento e no prognóstico da
enfermidade.

Considerar que alguns transtornos podem contribuir para o


desenvolvimento de outros transtornos e doenças futuras,
auxilia na prevenção de morbidades.
morbidades Ex.: algumas pesquisas
apontam que pessoas com transtorno obssessivo-compulsivo
têm maior risco em desenvolver transtornos de ansiedade, do
humor, e/ou da alimentação.

Contudo, não há uma relação causal determinista nessas


hipóteses. O principal termômetro da evolução dos casos em
saúde mental está na processualidade do tratamento.
tratamento
Não há consenso nas pesquisas científicas sobre as causas
das doenças psíquicas.
psíquicas Almeja-se o modelo das doenças
clínicas, atribuindo-lhes causas genéticas, ambientais, na
busca por justificativas universais para o sofrimento.

Mas, não podemos dizer, por exemplo, as causas da


esquizofrenia; determinar a sequência da coemergência de
transtornos; compreender porque algumas pessoas abrem
surto e outras não; porque alguns se devastam diante de
condições adversas e outros mantém a saúde preservada.

O curso dos transtornos mentais e de suas comorbidades é


indeterminado.
indeterminado Eis a complexidade de trabalhar com o
tratamento, e a prevenção, em saúde mental.
COMORBIDADES E SUBSTÂNCIAS
PSICOATIVAS :
É significativo o uso prejudicial de substâncias psicoativas em
pessoas com transtorno depressivo, transtorno bipolar,
transtorno fóbico-ansioso, transtorno obssessivo-compulsivo,
esquizofrenia e outros transtornos psicóticos.

Os motivos são multifatoriais, mas o alívio e o prazer trazidos


por essas substâncias têm relevância nessa análise. Ex.: O
uso prejudicial de tabaco em pacientes de CAPS é uma
prática naturalizada entre pacientes e profissionais.

A dependência de nicotina pode interferir no humor, ansiedade


e cognição. Entretanto, diminui os efeitos colaterais causados
pelos remédios antipsicóticos. (BIGATTO, 2009)
As comorbidades ligadas ao uso de substâncias influenciam
na adesão e no curso do tratamento. Potencializam sintomas
(ex. álcool/depressão, cocaína/mania, alucinógenos/sintomas
psicóticos), aumentam as possibilidades de surto,
surto alteram
os efeitos dos psicofármacos.

Entretanto, os serviços têm poucos recursos para abordar a


questão do uso de drogas dentro das diretrizes éticas da
saúde.
saúde Prevalece uma abordagem moral e segregatória:
segregatória
Aos pacientes que usam drogas, o CAPSad.
O “EXÍLIO” DA PESSOA EM SOFRIMENTO
PSÍQUICO:
Sintomas ligados ao sofrimento mental podem se manifestar
fisicamente. Entretanto, é reducionista concluir que qualquer
queixa corporal esteja atrelada ao sofrimento mental.
mental Ex.:
uma pessoa com esquizofrenia pode sofrer de enxaqueca, e
isso não estar relacionado ao fato de ouvir vozes.

Inclusive, os pacientes com transtornos psiquiátricos têm


maior incidência de doenças físicas,
físicas devido ao próprio
transtorno mental, a efeitos colaterais de medicações, vida
sedentária, dificuldade de acessar serviços de saúde, etc.

Apesar disso, a dimensão clínica é negligenciada.


negligenciada
Dalgalarrondo (2008) aponta os principais motivos:
 O clínico geral não examina adequadamente o paciente
com transtorno mental pois ele não é “seu doente”, é “doente
do psiquiatra”.
 O psiquiatra não realiza o exame físico do paciente, pois
não se considera “médico do corpo”, mas “especialista do
psiquismo ou do comportamento”.
 Os pacientes com transtornos graves têm dificuldades em
comunicar objetivamente suas queixas somáticas.
 Os “pacientes psiquiátricos” não são adequadamente
“ouvidos” pelos médicos em geral, pois o estigma de “louco”
invalida suas queixas somáticas.
INTEGRALIDADE DO CUIDADO:

As conquistas da Reforma Psiquiátrica possibilitaram que as


pessoas não sejam mais alijadas do convívio familiar e
comunitário em prol do “tratamento”. Mas, o funcionamento da
rede substitutiva ao modelo hospitalocêntrico, bem como sua
articulação com outras políticas públicas, ainda é um desafio:

“Não é suficiente apenas a criação de novos serviços de


saúde mental para a busca do princípio da integralidade,
mas é necessário articular propostas que considerem as
dimensões políticas, sociais, técnicas e científicas para a
construção de modos de atenção orientadas pelo paradigma
psicossocial, procurando garantir uma ruptura com o
atendimento prestado no modelo biomédico”.
(CARDOSO, 2009)
A Reforma Psiquiátrica derrubou muros, até então
intransponíveis, entre a “loucura” e a cidade. Entretanto,
prevalecem alguns muros invisíveis,
invisíveis e a pessoa em
sofrimento psíquico fica circunscrita ao seu diagnóstico. É
fundamental:
 Insistir na articulação entre Saúde Mental e Atenção Básica.
 Incluir no tratamento o interesse pela história clínica dos
pacientes. Ex.: é comum que mulheres não façam preventivo;
que jovens e adultos não utilizem preservativo; que ocorra
ganho de sobrepeso com a medicação, etc.
 Rever as hipóteses diagnósticas ao longo de todo o
tratamento para atentar-se às possíveis comorbidades.
ESTRATÉGIAS DE INTEGRALIDADE:

Os serviços de saúde mental


não tratam de doenças,
doenças
tratam de pessoas.
pessoas A
adesão ao tratamento
melhora quando são
ofertadas práticas de cuidado
que contribuem para a
qualidade de vida integral.
integral
A interdisciplinariedade
entre a equipe é fundamental
para construir estratégias de
cuidado não referidas apenas
à medicação e à psicoterapia.
Alguns exemplos de estratégias
na perspectiva da integralidade:
 Grupos de cuidados pessoais
e de beleza são terapêuticos;
 Rodas de conversa sobre
medicações ajudam a reduzir
seu uso inadequado;
 Práticas de enfermagem na
sala de espera (aferir pressão,
bate-papo sobre cuidados
gerais, etc.), são acolhedoras.
 Grupos de discussão sobre
sexualidade,DST´s, alimentação
saudável, temas livres diversos,
tornam o tratamento mais
interessante.
 Atividades ao ar-livre
(caminhadas, passeios culturais,
pique-niques com troca de
receitas saudáveis, oficinas
variadas) melhoram a qualidade
de vida dos pacientes.
PRÓXIMA AULA:

O acolhimento das situações de urgência e de


emergência.
REFERÊNCIAS :

BIGATTO, Roberta Steagall; MACHADO, Ana Lúcia; SANTOS,


Sara Giubilei; SORDI, Luisa Petelincar de. Comorbidades em
usuários de um serviço de saúde mental. Revista Portuguesa
de Enfermagem de Saúde Mental, nº2, 2015.
<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1647-21602015000100015 >

BRASIL, Ministério da Saúde. Capítulo V Transtornos Mentais


e Comportamentais (F00-F99). Departamento de Informática
do SUS (DATASUS).
<http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/cap05_3d.ht
m>
REFERÊNCIAS :

CARDOSO, Adriana Serdotte Freitas; NASI, Cíntia;


SCHNEIDER, Jacó Fernando; OLSCHOWSKY, Agnes;
WETZEL, Christine. Conceito de integralidade na atenção em
saúde mental no contexto da reforma psiquiátrica. Revista
Mineira de Enfermagem, vol. 13.1, 2009.
<http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/174>

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos


transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.
<http://pablo.deassis.net.br/wp-content/uploads/Psicopatologia-
e-semiologia-dos-transtornos-mentais-Paulo-
Dalgalarrondo.pdf>
REFERÊNCIAS :

BARBOSA, et. al. Comorbidades clínicas e psiquiátricas em


pacientes com transtorno bipolar do tipo I. J. Bras. Psiquiatr., nº
60, v.4, 2011, p. 271-276.
http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v60n4/a07v60n4.pdf

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