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Ficha

informativa
n.º 5
Ficha informativa n.º 5
Perceção sensorial

Programaticamente realista e naturalista, e, até, materialista, a intrínseca


necessidade impunha que a poesia de Cesário tendesse para o percecionismo. Com
efeito, olhar e ver, ouvir e entender, cheirar e apreciar, etc., eis aí como que um dos
pontos de partida da estesia1 do autor […].

[A] «força» de Cesário resulta da tendência para a síntese das suas experiências

percetivas, cada uma delas, por natureza, analítica:

«Chegam do gigo emanações sadias,

Oiço um canário – que infantil chilrada! –

Lidam ménages entre as gelosias

1
E o sol estende, pelas frontarias,
Estesia: estética, arte
poética. Seus raios de laranja destilada.»
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Os cheiros, os sons, as cores e, nalguns outros casos, as impressões táteis


conjugam-se, mas sempre em termos de uma irremediável frustração: a da «pintura».
[…] «Não poder pintar / Com versos magistrais, salubres e sinceros, / esguia difusão
dos vossos reverberas, / E a vossa palidez romântica e lunar!» […]

Joel Serrão, O Essencial sobre Cesário Verde, Lisboa,


Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1986, pp. 39-40.
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Transfiguração poética do real

A sua poesia é marcada pelo sensorialismo2, isto é, o


primado dado às sensações, sobretudo visuais, mas
também provenientes de outros sentidos […]; é mesmo
frequente a perceção sinestésica3, típica do sensorialismo
impressionista […].

2
Sensorialismo: conhecimento através dos sentidos.
3
Perceção sinestésica: perceção através de vários sentidos em simultâneo.
Gustave Caillebotte, Homem à Varanda no
Boulevard Haussmann, 1880.
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No entanto, a par de uma visão objetiva do real, em poemas que constituem […]
longas deambulações – segundo a técnica que no cinema se chama travelling – pela
cidade ou pelo campo (passeios em que o olhar, como se fosse uma câmara, vai
captando o que vê, ouve, toca, cheira, saboreia), apresenta-nos Cesário marcas de
intervenção subjetiva e transfiguradora (fugas imaginativas no espaço e no tempo,
imaginação pictórica4, quase «surrealista» […], uma perceção subjetiva da realidade
objetiva).

4
Imaginação pictórica: imaginação através da linguagem visual.

Amélia Pinto Pais, História da Literatura em Portugal – Uma perspetiva didática,


vol. 2, Porto, Areal Editores, 2004, pp. 180; 183.

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