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RIO – Críticas

- TRISTEZA DO IMPÉRIO
- O OPERÁRIO NO MAR
- MORRO DA BABILÔNIA
- CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO
- PRIVILÉGIO DO MAR
-INOCENTES DO LEBLON
-INDECISÃO DO MÉIER
-LA POSSESSION DU MONDE
-DENTADURAS DUPLAS
-REVELAÇÃO DO SUBÚRBIO
- A NOITE DISSOLVE OS HOMENS
-MADRIGAL LÚGUBRE
-ELEGIA 1938
-NOTURNO À JANELA DO APARTAMENTO
SONETOS,
DE CAMÕES

LUÍS DE CAMÕES
(1524/5-1580)
BREVE BIOGRAFIA:

 Nasce cerca de 1524/5? Lisboa? Coimbra? Alenquer? Santarém?


 Filho da pequena nobreza. Frequenta o curso de Artes no mosteiro de
Santa Cruz em Coimbra.
 Fidalgo pobre, alista-se nas armas, perde o olho direito em combate
junto a Ceuta, no Marrocos.
 Volta à vida boêmia e libertina em Lisboa, compõe versos para as
damas do Paço e para as de aluguel.
 Os Lusíadas é publicado em 1572, dedicado ao El-rei D. Sebastião,
com o que obtém a tença anual (e irrisória) de 15 mil-réis; paga
irregularmente até 1580, quando morre em estado de penúria.
O DIA DE PORTUGAL É COMEMORADO
NO ANIVERSÁRIO DE MORTE DE CAMÕES,
10 DE JUNHO.
Cronologia: Portugal e Brasil
CONTEXTO – SÉCULOS DE CONQUISTAS
XV-XVI
D. João, Mestre de Avis (1385-1433)
- 1415 - Tomada de Ceuta (África)
 D. João II (1481-1495)
- 1497 - Bartolomeu Dias - Cabo da Boa Esperança
 D. Manuel I (o venturoso) (1495-1521)
- 1498 - Vasco da Gama - Viagem às Índias
- 1500 – Achamento / Cabral
SÉCULOS DE CONQUISTAS XV-XVI

Fernão de Magalhães (1519-22)


Viagem de Circum-navegação
D. João III (1521 - 1557)
Início da colonização da América
 D. Sebastião (1557 - 1578)
Desaparecimento – decadência
1580/1640 - Domínio espanhol - União Ibérica
CLASSICISMO EM PORTUGAL

1527 - Sá de Miranda introduz a Medida Nova em Portugal


(principalmente o soneto e o decassílabo)

Medida nova

Medida velha
SONETO:

pequena composição poética composta de 14 versos, com número variável de


sílabas, sendo o mais frequente o decassílabo, e cujo último verso (dito chave
de ouro) concentra em si a ideia principal do poema ou deve encerrá-lo de
maneira a encantar ou surpreender o leitor .
DICIONÁRIO HOUAISS

*soneto italiano ou petrarquiano:


formado por dois quartetos e dois tercetos
TEMÁTICA
AMOROSA
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Amor é um fogo que arde sem se ver, A Aspectos formais:
é ferida que dói, e não se sente; B
é um contentamento descontente, B  Esquema rímico
é dor que desatina sem doer. A (ABBA, ABBA, CDC, DCD)

É um não querer mais que bem querer; A  verso decassílabo


é um andar solitário entre a gente; B
é nunca contentar se de contente; B  Uso de aliterações
é um cuidar que ganha em se perder. A r no 1º verso
t no 3º e 7º versos
É querer estar preso por vontade; C d no 4º verso
é servir a quem vence, o vencedor; D v no 10º verso
é ter com quem nos mata, lealdade. C
Conclusão:
Mas como causar pode seu favor D Rica unidade sonora
nos corações humanos amizade, C
se tão contrário a si é o mesmo Amor? D
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente, Aspectos semânticos:
é dor que desatina sem doer.
 Procedimento anafórico
É um não querer mais que bem querer; (3 primeiras estrofes)
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;  Definições de amor
é um cuidar que ganha em se perder. (sensoriais, sentimentais e morais)

É querer estar preso por vontade;  Tensão entre forças contrárias


é servir a quem vence, o vencedor; (paradoxos e antíteses)
é ter com quem nos mata, lealdade.
 Conclusão:
Mas como causar pode seu favor sentimento indefinível
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,


memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer te


algüa causa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver te,
quão cedo de meus olhos te levou.
Anima bella da quel nodo sciolta
che piú bel mai non seppe ordir natura,
pon’ dal ciel mente a la mia vita oscura,
da sí lieti pensieri a pianger volta.
La falsa opinion dal cor s’è tolta,
che mi fece alcun tempo acerba et dura
tua dolce vista: omai tutta secura
volgi a me gli occhi, e i miei sospiri ascolta.

Mira ’l gran sasso, donde Sorga nasce,


10et vedra’vi un che sol tra l’erbe et l’acque
di tua memoria et di dolor si pasce.
Ove giace il tuo albergo, et dove nacque
il nostro amor, vo’ ch’abbandoni et lasce,
per non veder ne’ tuoi quel ch’a te spiacque.
Petrarca
(As rimas, 1º ed., LIsboa, Editora Bertrand, p.784)
Alma bela, de tal nó desatada
que mais belo não soube urdir natura,
olha o céu minha vida escura
de tão ledo pensar ao choro dada.

Do coração saiu-te a ideia errada


que algum tempo me fez acerba e dura
a tua doce vista: e ora segura,
escuta os ais que dou a mim voltada.

Olha o penedo em que o Sorga nasce


e lá verás entre erva e águas quem
de te lembrar da sua dor se pasce.
Onde repousas e onde nasceu bem
o nosso amor, deixa ora para trás se
o que nos teus despraz te não convém.
Petrarca
(Trad. de Vasco Graça Moura, in As rimas, 1º ed., LIsboa, Editora Bertrand, p.785)
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste, Aspectos formais:


memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.  Exemplo
da imitação renascentista
E se vires que pode merecer te (petrarquismo)
algüa causa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver te,
quão cedo de meus olhos te levou.
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente, Aspectos semânticos:
e viva eu cá na terra sempre triste.
 Dinamene
Se lá no assento etéreo, onde subiste, (ideal de Mulher)
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente  “Eu amante” “Eu amado”
que já nos olhos meus tão puro viste.
 Confessa sua dor e sofrimento
E se vires que pode merecer te
algüa causa a dor que me ficou  Deseja o reencontro fora do
da mágoa, sem remédio, de perder te, mundo físico em que padece

roga a Deus, que teus anos encurtou,  Desejo de morte do sujeito poético
que tão cedo de cá me leve a ver te,
quão cedo de meus olhos te levou.
DESCONCERTO
DO MUNDO /
TRANSITORIEDADE
DAS COISAS
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Mor = maior
Soía = costumava
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança, Aspectos semânticos:
Tomando sempre novas qualidades.
 Predominantemente descritivo
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;  Filosofia; Heráclito –
Do mal ficam as mágoas na lembrança, o mundo é composto de
E do bem, se algum houve, as saudades. contradições e mudanças
O tempo cobre o chão de verde manto,  Mudança dentro da mudança >
Que já coberto foi de neve fria,
inesperado > absurdo e
E em mim converte em choro o doce canto. degenerado > desconcerto
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,  A inconstância é a essência
Que não se muda já como soía. da vida humana
O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
a força, a arte, a manha, a fortaleza;
o tempo acaba a fama e a riqueza,
o tempo o mesmo tempo de si chora.

tempo busca e acaba o onde mora Manha – habilidade, aptidão


qualquer ingratidão, qualquer dureza;
mas não pode acabar minha tristeza, Ledo – alegre
enquanto não quiserdes vós, Senhora.
Peito de diamante – coração
O tempo o claro dia torna escuro, duro, cruel, sem compaixão
e o mais ledo prazer em choro triste;
o tempo a tempestade em grã bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro


o peito de diamante, onde consiste
a pena e o prazer desta esperança.
O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
a força, a arte, a manha, a fortaleza; Aspectos semânticos:
o tempo acaba a fama e a riqueza,
o tempo o mesmo tempo de si chora.  Acúmulo de afirmações

tempo busca e acaba o onde mora Temática:


qualquer ingratidão, qualquer dureza; Capacidade transformadora
mas não pode acabar minha tristeza, do tempo
enquanto não quiserdes vós, Senhora.
 O tempo destrói a tudo
O tempo o claro dia torna escuro, (até mesmo o próprio tempo)
e o mais ledo prazer em choro triste;
o tempo a tempestade em grã bonança.  A mulher amada é indiferente
(mesmo com a passagem do tempo)
Mas de abrandar o tempo estou seguro
o peito de diamante, onde consiste  O sujeito poético permanece fiel
a pena e o prazer desta esperança. à amada, caso ela mude de opinião
TEMÁTICA RELIGIOSA
(INTERTEXTO COM A BÍBLIA)
HIPÉRBATO (INVERSÃO SINTÁTICA)
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela; Sete anos de pastor Jacó servia
Mas não servia ao pai, servia a ela, Labão, pai de Raquel, serrana bela;
E a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia, ORDEM DIRETA:
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela, Jacó servia como pastor por sete
Em lugar de Raquel lhe dava Lia. anos Labão, pai de Raquel.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora, O uso do hipérbato é
Como se a não tivera merecida, comum na poesia classicista.
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!
Serrana – aquela que habita as serras
Cautela – precaução, cuidado
Aspectos semânticos:

Intertexto bíblico
Sete anos de pastor Jacó servia Gênesis (XXIX, 25)
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,  Essencialmente narrativo
E a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,  Fidelidade e constância do amor
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,  Neoplatonismo: idealização
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos  Glorifica o esforço
Lhe fora assim negada a sua pastora, (sacrifício)
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos, Persistência do amor

Dizendo: – Mais servira, se não fora x
Para tão longo amor tão curta a vida! Efemeridade da vida humana
O dia em que eu nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.
A luz lhe falte, o Sol se lhe escureça, Moura – morra
Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar, Perecer – acabar, findar
A mãe ao próprio filho não conheça.
As pessoas pasmadas, de ignorantes, Passo – momento, instante
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o Mundo já se destruiu. Cuidar – Pensar, julgar

Ó gente temerosa, não te espantes,


Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu.
O dia em que eu nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar; Aspectos semânticos:
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.  Intertexto bíblico
A luz lhe falte, o Sol se lhe escureça, Paráfrase de Jó (III, 1-26 )
Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,  Pessimismo
A mãe ao próprio filho não conheça. (Queixa e maldições de Jó)

As pessoas pasmadas, de ignorantes,  Tempo contínuo


As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o Mundo já se destruiu.  Tempo cíclico
Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu.
Cá nesta Babilônia, donde mana
matéria a quanto mal o mundo cria;
cá donde o puro Amor não tem valia,
que a Mãe, que manda mais, tudo profana;
cá donde o mal se afina e o bem se dana,
e pode mais que a honra a tirania; Babilônia – exílio dos judeus.
cá, donde a errada e cega Monarquia
Mãe – Vênus, símbolo do amor
cuida que um nome vão a Deus engana; sensual
cá neste labirinto, onde a Nobreza,
o Valor e o Saber pedindo vão Sião – pátria dos Judeus
às portas da Cobiça e da Vileza;
cá neste escuro caos de confusão,
cumprindo o curso estou da natureza...
vê se me esquecerei de ti, Sião!
Cá nesta Babilônia, donde mana
matéria a quanto mal o mundo cria;
cá donde o puro Amor não tem valia,
que a Mãe, que manda mais, tudo profana; Aspectos formais:
cá donde o mal se afina e o bem se dana,
e pode mais que a honra a tirania;
 Repetição anafórica
cá, donde a errada e cega Monarquia  Metonímia
cuida que um nome vão a Deus engana;
cá neste labirinto, onde a Nobreza,  Palavras negativas
o Valor e o Saber pedindo vão
às portas da Cobiça e da Vileza;  Amor e Mãe
oposição
cá neste escuro caos de confusão,
cumprindo o curso estou da natureza...
vê se me esquecerei de ti, Sião!
Cá nesta Babilônia, donde mana
Aspectos semânticos:
matéria a quanto mal o mundo cria;
cá donde o puro Amor não tem valia,  Exílio do sujeito poético
que a Mãe, que manda mais, tudo profana; no oriente
cá donde o mal se afina e o bem se dana,
 Do 1º ao 13º versos:
e pode mais que a honra a tirania;
Descreve a vida na
cá, donde a errada e cega Monarquia “Babilônia”
cuida que um nome vão a Deus engana;
cá neste labirinto, onde a Nobreza, 14º verso:
o Valor e o Saber pedindo vão O sujeito poético declara
que não esqueceu sua
às portas da Cobiça e da Vileza; pátria
cá neste escuro caos de confusão,
cumprindo o curso estou da natureza...  Monarquia corrupta
vê se me esquecerei de ti, Sião!
 Nobreza ávida de riqueza
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Boa sorte!

Bons vestibulares!

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