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ABORDAGENS

CONTEMPORÂNEAS DO
CONCEITO DE SAÚDE

IHAC/UFBA
HACA10 – 2021.1
RETOMANDO A REFLEXÃO SOBRE AS
CONCEPÇÕES DE SAÚDE-DOENÇA

 O que a historicidade dos


conceitos de saúde nos faz
pensar?

 Modelos explicativos da
doença ou da saúde?

 O desafio filosófico e
científico de conceituar a
saúde! O Pensador: escultura de Auguste Rodin
ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS DO
CONCEITO DE SAÚDE

Saúde como ausência de


doença

Saúde como bem-estar

Saúde como direito


SAÚDE COMO AUSÊNCIA DE DOENÇA

 Trata-se da concepção de saúde mais


difundida no senso comum e também no
campo científico da saúde;

 Esta concepção de saúde tem orientado


práticas de pesquisa e de intervenções em
saúde, estando fortemente alinhada ao
sistema teórico do modelo biomédico;
BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO...

 Ideias emergentes a partir do advento da


Ciência Moderna (XVI-XVII):
 A Ciência se torna experimental – o
conhecimento científico é rigidamente
testado para validação pública, mediante
método experimental;
 A Ciência rejeita a busca pela essência das
coisas – longe de indagar-se sobre “o quê” as
coisas são, a ciência volta-se para o “como”
os fenômenos se desenvolvem;
BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO...

 A Ciência tem como objetivo intervir na


natureza – o conhecimento científico deve
servir para o aprimoramento de
técnicas/tecnologias;
 Valorização do método científico:
 Métodos de investigação definidos - a experimentação deve
fundamentar o conhecimento científico;
 Redução dos fenômenos da realidade em níveis básicos;
 Objetividade (controlável, reproduzível e intersubjetivamente
observável);
 Linguagem rigorosa, clara e linguisticamente apropriada.
A CIÊNCIA MODERNA E O MODELO
BIOMÉDICO
 Até meados do século XVIII, a doença era vista como
uma entidade que subsistia no ambiente como
qualquer outro elemento da natureza;

 Por influência de outros campos disciplinares, como a


botânica, as doenças foram agrupadas em um sistema
classificatório fundado nos sintomas, o que
proporcionou bases racionais para a escolha
terapêutica;
 A Clínica Moderna representará uma ruptura com este
sistema teórico médico.

(Batistella, 2007, p. 52)


A CIÊNCIA MODERNA E O MODELO
BIOMÉDICO
Os estudos sobre anatomia,
fisiologia e a prática de
dissecação de cadáveres,
iniciados a partir do
Renascimento (século XVI),
repercutiu no objeto da
medicina: a doença está no
corpo e não fora dele;

Estudo da fisiologia do cérebro (1508)


de Leonardo Da Vinci
A CIÊNCIA MODERNA E O MODELO
BIOMÉDICO
O estudo da doença envolve a identificação e
descrição de sinais e sintomas que se
manifestam no corpo do indivíduo, em seus
órgãos, tecidos, células, DNA...

A investigação clínica, ancorada em sistemas


teóricos e em aparato tecnológico cada vez
mais avançado, busca com rigor e
objetividade demonstrar evidências empíricas
sobre as causas das doenças.
A CIÊNCIA MODERNA E O MODELO
BIOMÉDICO

As doenças são então descritas em termos de


mudanças morfológicas, orgânicas e
estruturais:

“ A doença, então, transforma-se em patologia”

(Batistela, 2007, 53)


A CIÊNCIA MODERNA E O MODELO
BIOMÉDICO

A saúde, por oposição, é concebida como


estado fisiológico normal, a inexistência de
patologia.

“A saúde de um organismo consiste no


desempenho da função normal de cada parte”

(Cristopher Boorse apud Batistella, 2007, p. 54)


Saúde como
Modelo
ausência de
Biomédico
doença
O MODELO BIOMÉDICO:
PRESSUPOSTOS E CONSEQUÊNCIAS
Ênfase nos aspectos biológicos e
individuais (enfoque reducionista);

Descrição objetiva dos fenômenos


X aspectos subjetivos e culturais
do adoecimento;

O corpo como unidade de análise:


regularidade do funcionamento de
suas partes constituintes (visão
mecanicista);

Homem ‘Vitruviano’ de Leonardo Da Vinci


O MODELO BIOMÉDICO:
CARACTERÍSTICAS
Funda-se em conhecimento cada vez mais
especializado sobre cada função e disfunção
orgânica (fragmentação do conhecimento);
Enfoque na doença, no diagnóstico e na cura
(abordagem curativista);
Práticas de cuidado altamente dependentes do
aparato tecnológico para o diagnóstico e a
intervenção terapêutica (modelo
hospitalocêntrico);
O MODELO BIOMÉDICO:
CARACTERÍSTICAS
 Abordagem prescritiva
(medicalização);

 A consequente
culpabilização dos
indivíduos pelo
adoecimento ou
ineficácia do
tratamento.

http://www.usp.br/aun/index.php/2017/03/22/estudo-busca-compreender-melhor-o-processo-de-medicalizacao/
CONTRIBUIÇÕES DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS E
DA FILOSOFIA PARA PROBLEMATIZAÇÃO DO CONCEITO
NEGATIVO DA SAÚDE

 Antropologia da Saúde: patologia X enfermidade


(Kleinman)

“...a patologia refere-se a alterações ou à disfunção de


processos biológicos e/ou psicológicos, definidos de
acordo com a concepção biomédica. A enfermidade, por
outro lado, incorpora a experiência e a percepção
individual, dizendo respeito aos processos de
significação da doença”.

(Batistella, 2007, p. 55)


O conceito de cultura:

“sistemas de significados criados


historicamente em termos dos
quais damos forma, ordem,
objetivo e direção às nossas
vidas”

(Geertz,1989, p. 37)
A partir do conceito de cultura, a
antropologia argumenta que as
diferenças do comportamento
humano não podem ser explicadas
exclusivamente através da biologia;

A cultura incide sobre as


necessidades e as características
biológicas e corporais;

A cultura determina diferentes


concepções e práticas singulares
quanto à experiência da doença,
assim como a noção de saúde e de
tratamento;
“A cultura oferece uma visão de
mundo, uma explicação sobre como
o mundo é organizado”: possibilita
aos grupos sociais um sistema de
classificação e valorativo dos
fenômenos;

O modelo biomédico compreendido


como um sistema cultural;

“Cada e todas as culturas possuem


conceitos sobre o que é ser doente
ou saudável”

(Langdon e Wiik, 2009)


CONTRIBUIÇÕES DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS E
DA FILOSOFIA PARA PROBLEMATIZAÇÃO DO CONCEITO
NEGATIVO DA SAÚDE

A crítica ao
antagonismo entre o
normal e o
patológico – a
epistemologia
médica de Georges
Canguilhem

Georges Canguilhem – 1904-1995)


CONTRIBUIÇÕES DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS E
DA FILOSOFIA PARA PROBLEMATIZAÇÃO DO CONCEITO
NEGATIVO DA SAÚDE

 O ser vivo como um


organismo normativo;
 “Saúde como possibilidade
de adoecimento”;
 “Saúde implica poder
adoecer e sair do estado
patológico”;
 “A saúde não é um conceito
científico, e sim um conceito
vulgar e uma questão
(1943/1966)
filosófica”.
SAÚDE E BEM-ESTAR

A criação da Organização
Mundial de Saúde (OMS) em
1948;

“A saúde como um


completo estado de bem-
estar físico, mental e social,
e não apenas a ausência de
doença ou enfermidade”
SAÚDE E BEM-ESTAR

 Problematizando a concepção de saúde


como bem-estar:

 Caráter utópico, inalcançável;


 Ênfase na subjetividade da noção de bem-
estar;
 Difícil operacionalização pelos serviços de
saúde.
A CONCEPÇÃO POSITIVA DE SAÚDE

 A crise dos sistemas públicos de saúde e a


luta pela redemocratização em países da
América Latina (1970-1980);
 Movimento da Reforma Sanitária Brasileira;
 VIII Conferência Nacional de Saúde (1986);
 Promulgação da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988;
 Saúde como direito!
A CONCEPÇÃO POSITIVA DE SAÚDE

“Em sentido amplo, a saúde é


resultante das condições de
alimentação, habitação, educação,
renda, meio ambiente, trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade,
acesso e posse da terra e acesso aos
serviços de saúde. Sendo assim, é
principalmente resultado das formas
de organização social, de produção,
as quais podem gerar grandes
desigualdades nos níveis de vida”

(Brasil, 1986) Sérgio Arouca


"Saúde não é simplesmente ausência de doenças, é
muito mais que isso. É bem-estar mental, social,
político. As sociedades criam ciclos que, ou são ciclos
de miséria, ou são ciclos de desenvolvimento...”

"Saúde é o resultado do desenvolvimento econômico-


social justo.”

Sérgio Arouca – Médico Sanitarista e


Presidente da 8ª Conferência Nacional de Saúde em 1986
“A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação”
(CF, Art. 196, 1988)

Os Operários - Tarcila do Amaral


OS DESAFIOS DA CONCEITUAÇÃO
POSITIVA DE SAÚDE
A concepção positiva de saúde é AMPLIADA!

Ruptura com o modelo da causalidade;

Construção de modelos conceituais integrados:


articulação de dimensões estruturais, políticas,
econômicas, culturais, sociais, ambientais,
biológicas...

A saúde como objeto de estudo “impreciso, dinâmico


e abrangente”, não pode ser reduzido a qualquer
uma de suas dimensões – interdisciplinaridade.
ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS DO
CONCEITO DE SAÚDE

 O enfoque ecossistêmico da saúde;

 O modelo conceitual dos determinantes


sociais da saúde;

 A construção do conceito de vulnerabilidade;

 A construção do conceito de promoção da


saúde.
O DESAFIO DE OPERACIONALIZAÇÃO
DO CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE
Objetos
necessidades e determinantes de saúde

Sujeitos
gestores, profissionais e população

Meios de Trabalho
interdisciplinaridade
Formas de organização das práticas
de saúde
Intersetorialidade e políticas públicas
O QUE É SAÚDE, AFINAL?

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