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TEORIA DO CRIME

PROFESSOR: RICARDO AMAURY VASCONCELOS


ADVOGADO
CONDUTA
Temos a conduta como primeiro elemento integrante do fato típico. Conduta é sinônimo de ação e de comportamento.
Conduta quer dizer, ainda, ação ou comportamento humano.1 Não se fala em conduta de pessoa jurídica no sentido de
imputar a esta a prática de alguma infração penal. Embora seja o delito o resultado de uma ação humana, nosso
legislador constituinte previu expressamente em nossa Constituição Federal a possibilidade de punir penalmente a
pessoa jurídica por ter ela própria praticado uma atividade lesiva ao meio ambiente, conforme se dessume da redação
de seu art. 225, § 3":
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1" ( ... ].
§ 2" ( ... ].
§ 3" As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
A ação, ou conduta, compreende qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo),
podendo ser ainda doloso (quando o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado) ou culposo (quando o
agente infringe o seu dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia).
CONDUTA

• CONCEITO DE AÇÃO - CAUSAL, FINAL E SOCIAL Segundo a concepção causalista, devemos analisar o
conceito de ação em dois momentos diferentes. O primeiro, proposto inicialmente pela teoria clássica, no sistema
causal-naturalista criado por Liszt e Beling, diz ser a ação o movimento humano voluntário produtor de uma
modificação no mundo exterior. Nas palavras de Franz von Liszt, "ação é pois o fato que repousa sobre a vontade
humana, a mudança do mundo exterior referível à vontade do homem. Sem ato de vontade não há ação, não há
injusto, não há crime: cogitationis poenam nemo patitur. Mas também não há ação, não há injusto, não há crime sem
uma mudança operada no mundo exterior, sem um resultado.
• Com o finalismo de Welzel, a ação passou a ser concebida como o exercfcio de uma atividade final. É a ação,
portanto, um comportamento humano voluntário, dirigido a uma finalidade qualquer. O homem, quando atua, seja
fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado, dirige a sua conduta sempre à determinada final:
da de, que pode ser ilícita (quando atua com dolo, por exemplo, querendo praticar qualquer conduta proibida pela lei
penal) ou lícita (quando não quer cometer delito algum, mas que, por negligência, imprudência ou imperícia, causa
um resultado lesivo, previsto pela lei penal).
• De acordo com a teoria social da ação, conforme preleciona Daniela de Freitas Marques, "o conceito jurídico
decomportamento humano é toda atividade humana social e juridicamente relevcnte, segundo os padrões axiológicos
de uma determinada época, dominada ou dominável pela vontade." Ou, ainda, segundo as palavras de Johannes
Wessels, um dos maiores defensores desta teoria, "o conceito de ação, comum a todas as formas de conduta, reside na
relevância social da ação ou da omissãc. Interpreta a ação como fator estruturante conforme o sentido da realidade
social. como todos os seus aspectos pessoais, finalistas, causais e normativos."
CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS

Ao autor da prática do fato podem ser imputados dois tipos de condutas: dolosa ou culposa. Ou o agente atua com dolo,
quando quer diretamente o resultado ou assume o risco de produzi-lo; ou age com culpa, quando dá causa ao resultado em
virtude de st:.a imprudência, imperícia ou negligência.

A regra, para o Código Penal, é de que todo crime seja doloso, somente sendo punida a conduta culposa quando houver
previsão legal expressa nesse sentido, conforme determina o parágrafo único do art. 18, assim redigido:
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei,
ninguém pode ser punido por fato previsto como crime,
senão quando o pratica dolosamente.

Assim, se alguém, no interior de uma loja de departamentos, de forma extremamente imprudente, derrubar uma prateleira
de cristais, embora tenha a obrigação de reparar os prejuízos causados, não estará sujeito a sanção alguma de natureza
penal, uma vez que o Código Penal somente fez previsão para a conduta dolosa dirigida à destruição, deterioração ou
inutilização de coisa alheia (art. 163 do CP). Portanto, embora tenha destruído os cristais, sua conduta não tem relevo para
o Direito Penal, haja vista a ausência de tipicidade para o fato praticado.
CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS

• Além de atuar com dolo ou culpa, o agente pode praticar a infração penal fazend~ ou deixando de fazer alguma coisa
a que estava obrigado. As condutas, dessa forma, podem ser comissivas (positivas) ou omissivas (negativas). Nos
crimes comissivos, o agente direciona sua conduta a uma finalidade ilícita. Por exemplo, no crime de furto, o agente
atua com a finalidade de subtrair os bens móveis pertencentes à vítima, ou, r,o delito de homicídio, nela desfere
punhaladas querendo a sua morte. Nessas hipóteses, diz-se que a conduta praticada pelo agente é positiva. Nos crimes
omissivos, ao contrário, há uma abstenção de uma atividade que era imposta pela lei ao agente, como no crime de
omissão de socorro, previsto no art.135 do Código Penal. A omissão, na definição de René Ariel Dotti, "é a abstenção
da atividade juridicamente exigida. Constitui uma atitude psicológica e física de não atendimento da ação esperada,
que devia e podia ser praticada. O conceito, portanto, é puramente normativo.“ Diz-se que sua conduta, aqui, é
negativa.
• Os crimes omissivos ainda podem ser próprios (puros ou simples) ou impróprios (comissivos por omissão ou
omissivos qualificados).
• AUSÊNCIA DE CONDUTA A ação regida pela vontade é sempre uma ação final, isto é, dirigida à consecução de um
fim. Se não houver vontade dirigida a uma finalidade qualquer, não se pode falar em conduta. Preleciona Zaffaroni:
• "A vontade implica sempre uma finalidade, porque não se concebe que haja vontade de nada ou vontade para nada;
sempre a vontade é vontade de algo, quer dizer, sempre a vontade tem um conteúdo, que é uma finalidade."
CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS

• Se o agente não atua dolosa ou culposamente, não há ação. Isso pode acontecer quando o sujeito se
vir impedido de atuar, como nos casos de:
• a) força irresistível;
• b) movimentos reflexos;
• c) estados de inconsciência.
• Existem, também, os casos de total inconsciência, que têm o condão de eliminar a conduta do
agente, como o sonambulismo, os ataques epiléticos, hipnose etc. No caso de embriaguez completa,
desde que não seja proveniente de caso fortuito ou de força maior, embora não tenha o agente se
embriagado com o fim de praticar qualquer infração penal, mesmo que não possua a menor
consciência daquilo que faz, ainda assim será responsabilizado pelos seus atos. Isso porque
• o art. 28, 11, do Código Penal determina:
• Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal:
• I- [ ... ];
• 11 - a embriaguez voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS
• Aqui,(na embriaguez) na verdade, o agente é responsabilizado pelos resultados ocorridos em virtude do ato de
querer, voluntariamente, embriagar-se, ou mesmo em razão de ter, culposamente, chegado ao estado de
embriaguez. Prevalece, nessa hipótese, a teoria da actio libera in causa, visto que se a ação foi livre na causa (ato
de fazer a ingestão de bebidas alcoólicas, por exemplo) deverá o agente ser responsabilizado pelos resultados dela
decorrentes.
• FASES DE REALIZAÇÃO DA AÇÃO
• Para que o agente possa alcançar sua finalidade, sua ação deve passar, necessariamente, por duas fases: interna e
externa. A fase interna, na lição de Welzel, é aquela que transcorre na "esfera do pensamento" e é composta:
• a) pela representação e pela antecipação mental do resultado a ser alcançado;
• b) pela escolha dos meios a serem utilizados;
• c) pela consideração dos efeitos co!aterais ou concomitantes à utilização dos meios escolhidos. Para que o agente
possa praticar uma infração penal é preciso, em primeiro lugar, que decida sobre o crime a ser cometido. É
necessário que antecipe mentalmente o fim a ser por ele perseguido. Depois de pensar e refletir sobre aquilo o que
deseja alcançar, ou seja, aquilo à que sua conduta estará finalisticamente dirigida, ele parte para a escolha dos
meios que utilizará na prática criminosa. Em seguida, terá de refletir se, utilizados os meios por ele escolhidos,
poderá haver algum efeito colateral ou concomitante, ou seja, se sua conduta poderá dar causa a outros resultados.
CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS

• Na fase externa, o agente exterioriza tudo aquilo que havia arquitetado mentalmente, colocando em
prática o plano criminoso, procedendo a uma realização no mundo exterior. Ainda nas palavras de
Welzel:
• "A segunda etapa da direção final se leva a cabo no mundo real. É um processo causal,
determinado pela definição do fim e dos meios na esfera do pensamento. Na medida em que não se
consegue a determinação final no mundo real, por exemplo, quando o resultado não se produz por
qualquer razão, a ação final correspondente é somente tentada.
• Para que o agente possa ser punido pelo Estado é preciso que, além de querer cometer a infração
penal, exteriorize sua vontade, praticando atos de execução tendentes a consumá-la. Caso contrário,
se permanecer tão somente na fase da cogitação ou na de preparação, sua conduta não terá interesse
para o Direito Penal, ressalvadas as exceções previstas expressamente na lei, como no caso do
delito do art. 288 do Código Penal (associação criminosa), mesmo após a nova redação que lhe foi
conferida pela Lei n" 12.850, de 2 de agosto de 2013 (associarem-se três ou mais pessoas, para o
fim específico de cometer crimes), em que o legislador elevando-o à categoria de infração
autônoma, pune aquilo que, normalmente, seria considerado um ato preparatório.
CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS

• TIPICIDADE PENAL
• Já tivemos oportunidade de salientar que o fato típico é composto pela conduta do agente, dolosa ou culposa,
comissiva ou omissiva; pelo resultado; bem como pelo nexo de causalidade entre aquela e este. Mas isso não basta. É
preciso que a conduta também se amolde, subsuma-se a um modelo abstrato previsto na lei, que denominamos tipo.
Tipicidade quer dizer, assim, a subsunção perfeita da conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei
penal, isto é, a um tipo penal
• incriminador, ou, conforme preceitua Mufioz Conde: "É a adequação de um fato cometido à ·descrição que dele se faz
na lei penal. Por imperativo do princípio da legalidade, em sua vertente do nu l/um crimen sine lege, só os fatos
tipificados na lei penal como delitos podem ser considerados como tal.“
• A adequação da conduta do agente ao modelo abstrato previsto na lei penal (tipo) faz surgir a tipicidade formal ou
legal. Essa adequação deve ser perfeita, pois, caso contrário, o fato será considerado formalmente atípico.
• Quando afirmamos que só haverá tipicidade se existir adequação perfeita da conduta do agente ao modelo em abstrato
previsto na lei penal (tipo), estamos querendo dizer que, por mais que seja parecida a conduta levada a efeito pelo
agente com aquela descrita no tipo penal, se não houver um encaixe perfeito, não se pode falar em tipicidade. Assim, a
exemplo do art. 155 do Código Penal, aquele que simplesmente subtrai coisa alheia móvel não com o fim de tê-la para
si ou para outrem, mas, sim, com a intenção de usá-la, não comete o crime de furto, uma vez que no tipo penal em tela
não existe a previsão dessa conduta, não sendo punível, portanto, o "furto de uso."
CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS

• Imaginemos o seguinte exemplo: um carrasco que tem a obrigação legal de executar o


condenado, dispara contra ele um tiro mortal, visto que este tinha sido sentenciado a morte
por fuzilamento. Raciocinemos de acordo com o quadro correspondente à teoria do crime.
Como dizia Welzel, cada um dos elementos que integram o crime, segundo o conceito
analítico, deve ser analisado na seguinte ordem: fato típico, ilicitude, culpabilidade. O
fato típico, como já dissemos, é composto pelos seguintes elementos: conduta dolosa ou
culposa, resultado, nexo de causalidade entre a conduta e o resultado e a tipicidade
penal (formada pelas tipicidades formal). No exemplo fornecido, o carrasco havia dirigido
a sua conduta finalisticamente no sentido de causar a morte do condenado, agindo,
portanto, com dolo. Houve um resultado – morte do executado. A conduta do carrasco
produziu o resultado (nexo de causalidade). Agora, teremos de saber se o fato praticado é
típico. O primeiro passo, na ordem que foi anunciada, é descobrir se a conduta do carrasco
subsume-se a um modelo abstrato previsto pela lei penal, a fim de descobrirmos se, no caso
concreto, há tipicidade formal. Em conclusão, diremos que existe formalmente adequação
típica da conduta do carrasco em face do art. 121 do Código Penal.
CONDUTA E FATO
• Em seguida, faremos a seguinte indagação: Existe tipicidade conglobante? Para que se possa falar em tipicidade
conglobante é preciso que:
• a) a conduta do agente seja antinormativa;
• b) que haja tipicidade material, ou seja, que ocorra um critério material de seleção do bem a ser protegido.
• A tipicidade conglobante surge quando comprovado, no caso concreto, que a conduta praticada pelo agente é
considerada antinormativa, isto é, contrária à norma penal, e não imposta ou fomentada por ela, bem como ofensiva a
bens de relevo para o Direito Penal (tipicidade material).
• Voltando ao exemplo do carrasco, teríamos de raciocinar da seguinte maneira: existe uma norma contida no art. 121
do Código Penal que diz ser proibido matar. Embora exista essa norma, a proibição nela contida se dirige a todos, até
mesmo ao carrasco que tem um dever legal de matar nos casos de pena de morte? A resposta só pode ser negativa.
Com isso queremos afirmar que a proibição contida no art. 121 do Código Penal se dirige a todos, à exceção daqueles
que têm o dever de matar. No confronto entre a proibição (norma contida no art. 121 do CP) e uma imposição (norma
que determina que o carrasco execute a sentença de morte) devemos concluir que a proibição de matar, nos casos em
que a lei prevê, não se dirige ao carrasco. Portanto, sua conduta não seria antinormativa, contrária à norma, mas, sim,
de acordo, imposta pela norma. Resolve-se, portanto, o problema da antinomia, pois se "antinomia significa o
encontro de duas proposições incompatíveis, que não podem ser ambas verdadeiras, e, com referência a um sistema de
normas, o encontro de duas normas que não podem ser ambas aplicadas, a eliminação do inconveniente não poderá
consistir em outra coisa senão na eliminação de uma das duas normas.

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