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SÍNTESE

Simão e o
narrador

Narrador Simão
1 de outubro de 1862, Camilo Em 1805, Simão Botelho entrara
entra na Cadeia da Relação do na Cadeia da Relação do Porto.
Porto.
É acusado de crime de adultério Fora acusado por delitos
com Ana Plácido. semelhantes de amor e rebeldia.

Convenções de uma sociedade Convenções de duas famílias


incapaz de compreender os incapazes de compreender os
«direitos do coração». «direitos do coração. Camilo Castelo Branco,
fotografia de Horácio
Aranha.
Camilo Castelo Branco lê, escreve e evoca o caso do tio paterno
Simão Botelho. A partir da biografia do tio e de factos imaginados
imprime criatividade à sua novela passional.
Amor de Perdição, crónica da mudança social

A província: espaço dos valores tradicionais

 Pressão exercida sobre os protagonistas por


famílias apoiadas nas instituições jurídica e
monástica.
 Resistência dos protagonistas à submissão.
 Sociedade provinciana preconceituosa,
onde a tradição familiar e a reputação
pessoal se sobrepõem ao amor.
 A existência histórica de Simão impunha ao
autor que situasse esta novela antes da
revolução liberal, que abalaria os
fundamentos desse mundo provinciano.
Amor de Perdição, crónica da mudança social

As instituições repressivas: Família, Igreja e


Justiça

 Amor de Perdição é um novela passional e


um grito de denúncia de uma sociedade
repressiva.
 A instituição familiar representa o autoritarismo
paterno, os casamentos por conveniência e a
infelicidade da mulher.
 A insubmissão de Teresa e de Simão às
respetivas famílias leva-os a ficarem sob a
Alfredo Keil, Claustro do Convento
do Carmo – Colares, 1880. alçada de outras instituições repressivas: a
Igreja e a Justiça.
Amor de Perdição: linguagem e estilo

A técnica narrativa

 Escassas descrições.

 Predomínio da narração e do diálogo.

 Diálogo: vivo e espontâneo, nas intervenções das


personagens do povo; convencional e esmerado,
quando falam os nobres.
 Progressão rápida e lógica das cenas
dramáticas para a catástrofe.
Ernst Ludwig Kirchner,  Rapidez de peripécias, lances de
Três Faces, 1929.
movimento, em jeito de reportagem direta.
Amor de Perdição

O Narrador

 Focalização omnisciente: o narrador


domina por completo acontecimentos,
conhecimento que lhe foi proporcionado
por diversas fontes.
 Focalização interna: como se de outra
personagem se tratasse, comprovado pelo
diálogo com o leitor e pela recorrência a
notas de rodapé.
 O entrecruzar dos discursos (narrador /
leitor): o leitor é instituído como instância
do discurso através do diálogo interpessoal
que o narrador estabelece no presente da
enunciação.
Amor de Perdição

O Narrador

 O narrador-personagem: o narrador surge


como personagem viva no texto, intervém
na história e apresenta os vários períodos
temporais de forma organizada e
alternada, surgindo num discurso paralelo
ao contado, presentificando-se como
sujeito concreto.
Amor de Perdição

O Narrador

 As funções da relação entre o narrador e o


leitor: afirmando-se como voz da verdade,
o narrador condiciona o leitor a aceitar os
acontecimentos e as teses que lhe dirige;
mostra-lhe a sua aproximação do objeto
narrado e cria um efeito de real ao assumir
que o objeto da sua narrativa é a história da
sua própria família.

Camilo Castelo Branco,


fotografia de Horácio Aranha.
Ficha informativa nº 5

Amor de Perdição

A construção do herói romântico

 O herói romântico destaca-se a nível social,


moral e físico, porque a sua atuação se
pauta pela afirmação de direitos
fundamentais do ser humano (os ideais
revolucionários: liberdade, igualdade e
fraternidade).
Ficha informativa nº 5

Amor de Perdição

A construção do herói romântico

Delacroix: A Liberdade
guiando o povo, 1830
Ficha informativa nº 5

Amor de Perdição

A construção do herói romântico

 Características principais do herói romântico:


- busca do absoluto;
- vivência de comportamentos de rebeldia;
- força anímica na superação (ou tentativa de
superação) de barreiras e interdições de vária ordem;
- idealismo: individualismo e egocentrismo;
- persistência na busca de ideais: desilusão ou
destruição por não os alcançar.
Relações entre personagens
O amor de Simão e Teresa: oponentes e adjuvantes

Simão e Teresa
Domingos Botelho • Nutrem uma profunda aversão um pelo outro;
e • apego egoísta e inflexível à honra do sobrenome, aos brasões
Tadeu de Albuquerque (fidalguia ironicamente ridicularizada pelo narrador);
(o antagonismo motivado por • preferem perder os filhos a perder a sua dignidade social.
um Nota: Domingos Botelho acaba por interceder pelo seu filho
preconceito de honra social) pressionado pela esposa, D. Rita Preciosa.

Oponentes Opõe-se ao herói pela sua «falta de brios», ou seja, pelo conjunto de
defeitos que o caracterizam:
•presunção;
Baltasar Coutinho •vaidade (incapaz de esquecer o seu orgulho ferido);
(os valores sociais instituídos e •cinismo;
fossilizados) •perversidade;
•cobardia;
•insensibilidade ao amor.
Simão e Teresa
Apresenta um conjunto de traços que apagam, aos olhos do leitor,
os crimes que comete e que os substituem por uma honradez e
uma bondade inatas:
•o «bom bandido»;
•castiço: linguagem cheia de provérbios e ditados populares;
João da Cruz •dotado de sentimentos de gratidão: protege Simão porque o pai
(o homem do povo) deste o salvou da forca;
•aconselha o jovem com palavras sempre oportunas, lúcidas,
Adjuvantes estratégicas;
•tem atitudes de extrema coragem, e até de violência, para
defender e proteger Simão;
•muito amigo da filha.

Mariana
• Confidente e moderadora de impulsos passionais;
(a anulação perante o
• facilita a troca de correspondência entre Simão e Teresa,
amor de Simão por
assumindo-se como mensageira.
Teresa)
Amor de Perdição

O amor-paixão: a tríade romântica

Simão Botelho – protagonista (ama Teresa)


Primeira fase Oposição entre o indivíduo e a sociedade: período
de rebeldia, de negação revolucionária,
extremista.
Segunda fase Conversão à ordem instituída, reconciliação,
esperança e amor.
Terceira fase Oposição radical entre o indivíduo e a sociedade;
consciência da injustiça e de que é ele,
transformado pelo amor, que representa a Ordem
verdadeira, no respeito por si próprio e no direito
ao amor.
Amor de Perdição

O amor-paixão: a tríade romântica

Teresa de Albuquerque – protagonista (ama Simão)


Jovem de 15 anos, bonita e bem-nascida.
Heroína romântica: rompe com os desígnios da sociedade e da
sua família, em defesa dos seus sentimentos.
Aparentemente frágil, sustenta uma personalidade de carácter
firme e resoluto, que enfrenta tudo e todos pelo sentimento;
atua de forma inflexível, demonstra obstinação, somente por
amor, preferindo o martírio a ceder a um casamento por
imposição.
Amor de Perdição

O amor-paixão: a tríade romântica

Mariana – «protagonista» (ama Simão)


Mulher de vinte e quatro anos dotada de grande beleza.
Nobre de sentimentos, ama silenciosamente.
Renuncia à sua felicidade, para ser intermediária do homem
que ama.
Personagem complexa: pela generosidade, abnegação, amor
humilde, submissão, mas também na determinação da luta
pelo amor.
Rende-se à morte.
Personagem romântica: personificação do espírito de sacrifício

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