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1.2.4.

O empirismo de David Hume


DAVID HUME
(1711-1776)

Filósofo empirista

O conhecimento deriva fundamentalmente da


experiência.

Todas as crenças e ideias têm uma base empírica, até


as mais complexas.

É na experiência que deve ser procurado o


fundamento do conhecimento.
Elementos do conhecimento

Perceções
internas
Ex.:
Impressões Grau de Ideias
paixões
(SENTIR) maior força e menor
(PENSAR)
vivacidade
externas

Ex.: Sensações, paixões,


Visão, emoções adquiridas São as representações
audição imediatamente pela das impressões, ou as
As ideias derivam das suas imagens criadas
experiência
impressões, são cópias na mente
manifestam-se com
delas. posteriormente a
mais força e vigor.
Ex.: sensação da dor partir das impressões.
quando se toca num Ex.: recordação da dor
objeto cortante
Não existem ideias
inatas.
Ideias

Simples

Derivam diretamente das


impressões.

Combinações de ideias
simples construídas pela
imaginação.

Complexas/
compostas
A ideia de Deus, por exemplo, referindo-se a um Ser infinitamente inteligente, sábio e bom, é uma ideia complexa
que tem por base ideias simples que a mente e a vontade compõem, elevando sem limite as qualidades de bondade
e sabedoria. Nenhum objeto da experiência sensível lhe corresponde.
Princípios de associação de ideias
As ideias nunca surgem isoladas, mas dependem sempre de outras,
segundo um princípio lógico de associação. É a partir da relação que
estabelecemos entre as diversas ideias que vamos criando novas
ideias, originando o conhecimento cuja base de elaboração assenta
em três princípios:

Semelhança Contiguidade no Causalidade


tempo e no espaço (causa e efeito)

Estabelece a relação Estabelece a relação entre um Estabelece a relação entre um


entre um «objeto» e «objeto» e outro que dele «objeto» e a causa ou efeito
outro semelhante. depende ou lhe sucede espacial que deu origem a algo.
Ex.: uma cópia e o ou temporariamente. Ex.:
original. Ex.: a recordação de uma festa o vinho que se bebeu em
de aniversário leva à recordação excesso (causa) faz pensar nas
dos amigos que estavam desagradáveis consequências
presentes. que daí advirão (efeito).
Não estão Tipos ou modos de A sua
dependentes do
conhecimento justificação
confronto com a encontra-se na
experiência. experiência
Decorre de sensível.
RELAÇÕES DE QUESTÕES DE
relações Decorre da
estabelecidas
IDEIAS FACTO
experiência
entre ideias. sensorial.
Conhecimento a Conhecimento a
priori, traduzido posteriori,
São sempre traduzido em
em proposições
verdadeiras, em proposições
necessárias.
quaisquer contingentes.
circunstâncias.
Negá-las implica Verdades Poderiam ter
Verdades
contradição. necessárias. sido falsas.
contingentes.
São os Exemplo: Negá-las não
Exemplo: «As
conhecimentos «2 + 4 = 6.» implica
estrelas cintilam.»
da lógica e da contradição.
matemática.
Os conhecimentos a priori nada nos dizem de substancial acerca do mundo.

A distinção entre relações de ideias e questões de facto é, de certa maneira,


equivalente à distinção entre juízos analíticos e juízos sintéticos (a posteriori).
Princípio da
causalidade
Princípio que defende a CAUSALIDADE E INDUÇÃO
relação necessária entre
uma causa e o seu efeito,
ou seja, que o
acontecimento de algo é
sempre precedido por Factos que esperamos que se
uma causa, e assim verifiquem no futuro…
sucessivamente.

…têm por base uma inferência causal.

Inferências de carácter indutivo


(indução como previsão).

Exemplo:
Até hoje, sempre o calor dilatou os corpos. Logo, isso irá
igualmente verificar-se amanhã.
CONEXÃO NECESSÁRIA?

RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO

É geralmente entendida como uma conexão necessária.

Mas não dispomos de qualquer impressão


relativa à ideia de conexão necessária
entre fenómenos.

As certezas relativas
A única coisa que percecionamos é que aos factos futuros têm
entre dois fenómenos se verifica uma só um fundamento
conjunção constante. psicológico: o hábito
ou costume.
Conhecimento O conhecimento acerca dos factos futuros
a posteriori e é apenas suposição ou probabilidade,
não a priori. assentando na expectativa.

O hábito é um guia imprescindível da vida prática,


mas não constitui um princípio racional.
CONEXÃO NECESSÁRIA?

Relação em que se afirma que um dos acontecimentos é sempre causa do outro.

Exemplo: um determinado aumento de temperatura é a causa da dilatação de certos corpos


Os dois acontecimentos estão conectados.
Se há um certo aumento de temperatura (A) acontece, necessariamente, a dilatação de um
corpo (B).
Esta relação é uma conexão necessária porque acreditamos que, acontecendo A sempre
acontecerá B ou que este não ocorre nunca sem aquele.

Hume afirma que a nossa crença na ideia de que há uma conexão necessária entre
determinados acontecimentos não pode ser justificada.

O princípio da cópia decide [as ideias são cópias das impressões]


A ideia de conexão necessária corresponde a alguma impressão sensível? NÃO
CONEXÃO NECESSÁRIA?

Dizer que A causa sempre B não é simplesmente afirmar que A causa B agora e causou B
antes. É dizer que A causará B no futuro. É aqui que Hume diz que «perdemos o pé».
A experiência não justifica esse «salto» porque se reduz às impressões atuais e passadas. Não
podemos ter a experiência do que ainda não aconteceu.

Portanto, a ideia de conexão necessária


1. Não tem fundamento racional. É impossível pela mera análise de um acontecimento, tido
como causa, descobrir os supostos efeitos a que dá origem (Adão nunca poderia a priori,
i. e, antes da experiência, saber que a água afoga) e, portanto, a ideia de conexão
necessária não tem um fundamento racional e não pode ser necessária.
CONEXÃO NECESSÁRIA?

2. Não tem justificação empírica. À ideia de causa ou de conexão necessária não


corresponde nenhuma impressão sensível. Por mais que observemos a ocorrência
conjunta de dois acontecimentos (p. ex., o impacto de uma bola de bilhar numa outra
bola e o consequente movimento desta), nunca encontraríamos aí qualquer impressão
que corresponda à ideia de relação causal, i.e., de conexão necessária e que a possa
justificar.
A ideia de causalidade exprime uma conexão que não podemos mostrar nem demonstrar que
existe na realidade.

Problema da indução

Segundo David Hume a indução não está justificada, uma vez que a tentativa de a justificar
por meio da experiência é circular.
Ou seja, a tentativa de a justificar por meio do raciocínio indutivo se baseia, ela própria, no
raciocínio indutivo que, precisamente, necessita de justificação.
Apenas se pode aceitar quando é
Inferência causal
estabelecida entre impressões.

Algo de que nunca tenhamos tido qualquer impressão.

MUNDO (REALIDADE
EU DEUS
EXTERIOR)

A crença na Não temos experiência O que concebemos


identidade, na ou impressão de uma como existente
unidade e na realidade exterior e também o podemos
permanência do eu é independente das conceber como não
apenas um produto da nossas impressões. Só existente. Por outro
imaginação, não a coerência e a lado, Deus não é
sendo possível afirmar constância de certas objeto de qualquer
que existe o eu como perceções é que nos impressão. Os
substância distinta em levam a acreditar argumentos
relação às impressões nessa realidade tradicionais deixam de
e às ideias. externa. ter sentido.
Relativo às teorias
metafísicas: elas
Fundacionalismo de Hume procuram
ultrapassar
o âmbito da
Empirismo experiência e da
observação, o que
Hume considera
inaceitável.
Fenomenismo Ceticismo

Mitigado ou
moderado: Hume
Só conhecemos as A crença na reconhece as
perceções, pelo que a existência de algo para limitações
realidade acaba por se lá dos fenómenos das nossas
reduzir aos carece de capacidades
fenómenos. fundamento. A cognitivas e a
capacidade cognitiva nossa propensão
do entendimento para o erro.
humano limita-se ao
âmbito do provável.
Crenças básicas para um empirista: crenças de que se está Baseiam-se nas
a ter estas ou aquelas experiências. impressões dos sentidos.
1.2.5. Análise comparativa das teorias de
Descartes e Hume
ANÁLISE COMPARATIVA DAS TEORIAS DE DESCARTES E HUME
DESCARTES HUME
A experiência é a fonte principal do conhecimento e
A razão é a fonte principal do conhecimento – Origem do todas as ideias têm uma origem empírica –
racionalismo. conhecimento empirismo.

Há ideias factícias, adventícias e inatas. A partir das Não há ideias inatas. As ideias associam-se por
Operações da semelhança, contiguidade no tempo e no espaço e
ideias inatas, obtém-se o conhecimento (por
mente e ideias causalidade. Sublinha-se o papel do raciocínio
intuição e dedução).
indutivo.

Descartes adotou um ceticismo metódico. Mas, A capacidade cognitiva do entendimento humano


Possibilidade do
porque depositava inteira confiança na razão, poderá limita-se ao âmbito do provável (ceticismo mitigado).
conhecimento Nada podemos conhecer para lá do âmbito da
ser enquadrado no âmbito do dogmatismo.
experiência (ceticismo metafísico).

Não encontramos qualquer princípio que confira


Podemos ter ideias claras e distintas dos atributos Perspetivas unidade e conexão às perceções. Não temos
essenciais de três tipos de substâncias: pensante, metafísicas impressões do eu pensante, de uma realidade
extensa e divina.
exterior, de Deus.

O fundamento do conhecimento encontra-se na O fundamento do conhecimento encontra-se nas


razão: é o cogito e outras ideias claras e distintas.
Fundamentação impressões dos sentidos. É a crença básica de que se
Mas tal fundamento depende do princípio de toda a do conhecimento está a ter determinada experiência que justifica as
realidade: Deus. crenças obtidas através dela.

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