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STi~, DE ISSN 0100-íSSí

DCESSO
1
·1: . 1S2 • agosto/2018

-c;·5:r
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.4Q rfíERNACIONAL - Alan Uze!ae: (Doutor - Universidade de Zagreb - Croáda), Álvaro Pérez Ragone {Doutor - PUC-Valparaiso - Chile),
= ,,_sa~' (Frofessor ntular- Universidade de Floren>• - ltália), Carlos Ferreira da Silva (PortugaO, Christoph A. Kern {Mestre - Universidade de
· ~ o-s•oa). Dmítry Maleshin (Doutor- Uníversídade Estadual de Moscou - Rússia), Eduardo Ferrer Mac-Gregor (Doutor- Universidade Nacional
':: .'.'óúo - México), Eduardo Oteiza (ProfessorTitular - Universidade de la Plata -Argentina), Emmanuel Jeuland (Doutor- Universidade de
r-;2: Fe.:le:ríco Carpi (Professor Titular- Universidade de Bologna - ltália) 1 Francesco Pao!o Luisa (Professor Titular - Universidade de Pisa - ltália),
:-";-· :·s tDoutor - Universidad e de Tessaloniki - Grécia), Han ns Prütting (Professor Titular - Universidad e de Cologne - Alemanha), Héctor Fix- REVISTA DE
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. - -: , IDcutor - Universidade Rovira i Virgilli - Espanha), José Lebre de Freitas (Doutor - Universidad e Nova de Lisboa - Portugal), Linda
:•: .-::"'2 - Universídade do Texas - USA), Lo"lc Cadiet (Doutor- Universidade de París - Fran~a), Lorena Bachmaier Winter (Doutora - Universidad e
PROCESSO
-s= == \'adn -Espanha), Luigi Paolo Comoglio (ProfessorTitular-Uníversídade Católica de "Sacro Cuore" de Miláo- ltália), Mario Pisani (Professor Ano 43 • vol. 282 • agosto/2018
.-\"-s-:ade de Milao - ltália), Michele Taruffo (Professor Titular- Universidade Pávia - ltália), Miguel Teixeira de Sousa (Doutor- Universidade de
!::,-::... ;=:J, I íeil Andrews (Professor Titular - Universidade de Cambridge - Inglaterra), Nikolaos Klamaris (Doutor- Universidade de Atenas - Grécia),
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.-::,. - ...!nf\·ersidade Johann Wolfgang Goethe- Alemanha)1 Peter Gottwald (Doutor- Universidade de Regensburg -Alemanha), Roberto Berizonce
- - ·~-s'dade de la Plata -Argentina), Rolf Stürner (Doutor- Universidade de Freiburg -Alemanha), Sergio Chiarloni (Livre-Docente - Universidad e
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-'J % RELA~OES INTERNACIONAIS - Aluisio Gon>alves de Castro Mendes (Pós-Doutor - UERJ), Antonio Carlos Oliveira Gidi (Doutor -
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:e~: .~.-tónio Bandeira de Mello (Livre-Docente - PUC-SP), Clito Fornaciari Júnior (Mestre - PUC-SP), Egas Dirceu Moniz Aragao (Doutor- UFPR),
o:-,, Jr., Eduardo Ribeiro de Oliveira, Eliana Calman Alves (Especialista - UFBA), Fátima Nancy Andrighi (Mestre - IUKB), Joao Batista Lopes
~ -~-5°),José Augusto Delgado (Especialista - UNICEUB), José Carlos Moreira Alves (Livre-Docente - UnB), José Eduardo Carreira Alvim (Doutor-
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:e C . ,eira Castro Filho (Mestre - IESB), Sérgio Ferraz (Doutor- PUC-RJ), Sydney Sanches (Doutor - USP).
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Bastos (Doutor - UFBA), Antonio Carlos de Araújo Cintra (Livre-Docente - USP), Antonio Carlos Marcato (Livre-Docente - USP), An!Onio
Junior (Mestre - Escala Superior da Magistratura), Antonio Magalháes Gomes Filho (Livre-Docente - USP), Antonio Scarance Fernandes
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' Sa-::s [Pós-Doutor- UFBA), Edson Ribas Malachini (Doutor - UFPR), José Hor.icio Cintra Gon,alves Pereira (Doutor- Universidade Mackenzie),
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•: :"':: == Camar~o Mancuso (Livre-Docente - USP), Sergio Bermudes (Doutor- PUC-RJ), Vicente Greco Filho (Livre-Docente - USP).
"J D': REDAi;:AO -Alexandre Reis Siqueira Freire (Doutor - UFMA), André Luís Quintas Monteiro (Doutor - PUC-SP), Angélica Muniz Leao de
.'- 1'.'Eo'tre - PUC-SP), Antonio Carlos Matteis de Arruda (Mestre - PUC-SP), Antonio Cezar Pelusa (Doutor- USP), Antonio Cláudio Mariz de
!es:ce - PUC-SP), Antonio Rigolin (Mestre - PUC-SP), Carlos Alberto Carmona (Doutor - USP), Carlos Roberto Barbosa Moreira (Graduado -
::s,,-·: S::;;rpinella Bueno (Livre-Docente - PUC-SP), Celso Antonio Pacheco Fiorillo (Uvre-Dotente- UNINOVE), Eduardo Pellegriní de Arruda Alvim
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: 'so·e l {Livre-Docente - USP), Francisco Carlos Duarte (Pós-Doutor - UNISINOS), Francisco Glauber Pessoa Alves (Doutor - UNl-RN), Gílson
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i·:_::·- UNIPAR), José Roberto dos Santos Bedaque (Livre-Docente - USP), José Scarance Fernandes (Doutor- USP), Luiz Edson Fachin (Pós-
.= 1• '-"·=Femando Bellinetti (Doutor- UEL), Luiz Guilherme Marinoni (Pós-Doutor- UFPR), Luiz Paulo da Silva Araújo Rlho (Mestre - UERJ), Luiz

.'.s-:e-(Doutor- IDP), LuizSergio deSouza Rizzi (Mestre-FADISP), LuizVicente Pellegrini Porto (Especialista-UNIP), Mairan Gon,alves Maia
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-==- - PJC-RS), Sergio Ricardo de Arruda Fernandes (Graduado - EMERJ), Sérgio Seiji Shimura (Livre-Docente - PUC-SP], Sidnei Agostinho
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· =~ :-SP), Cláudio Cintra Zarif (Mestre - EPD), Cleunice Aparecida Valentim Bastos Pitombo (Doutora - USP), Cristiano Chaves de Farias (Mestre-
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'.'aºa Thereza Rocha de Assis Maura (Doutora - USP), Rita de Cássia Correa de Vasconcelos (Doutora - PUC-PR), Roberto Portugal Bacellar
=- :-SP), Robson Carlos de Oliveira (Mestre - PUC-SP), Rodrigo Barioni (Doutor - PUC-SP), Rogerio Licastro Torres de Mello (Doutor - PUC-SP),
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': :e Camargo (Doutor - UCDB), Luíz Manoel Gomes Junior (Doutor - UNIPAR), Marco Antonio Rodrigues (Pós-Doutor - UERJ], Marco Félix
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s-1J.:otor- PUC-RS), Marcos de Araújo Cavalcanti (Doutor- IDP), Osmar Mendes Paixao Cortes (Doutor- IDP), Pedro Miranda de Oliveira (Doutor-
C;e. 'finheiro Monteiro Barbosa (Doutor-UFAM), Rodrigo Reís Mazzei (Pós-Doutor-UFES), Rogéria Fagundes Dotti (Doutora-UFPR), Sérgio Cruz
=:s-Doutor- UFPR), Sidnei Amendoeira Junior (Doutor- FGV).
112 RE\115TA DE PF.OCESSO 2018 • REPRO 282

RODRIGUES, Daniel Colnago. O princípio da primazia da ~utela de mérito:


urna apresentar;:ao. In: MIRANDA, Néstor H. Gutiérrez; PENA, Isabel Ramírez;
HUARCAYA, Cesar A. Turpo (Coord.). Horizontes Contemporáneos del De-
recho Procesal "um espacio para reflexiones jurídicas, filosóficas y doctrinales TEORIA DA PROVA: STANDARDS DE PROVA E OS
sobre Derecho Procesal". Peru: Adrus, 2014. CRITÉRIOS DE SOLIDEZ DA INFERENCIA PROBATÓRIA
SCHENK, Leonardo Faria. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa et al.
(Coord.). Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. Sao Paulo:
Ed. RT, 2015. THEORY OF EV/DENCE: STANDARDS OF PROOF AND THE CR!TER!A
SOUZA, Gelson Amaro de. Curso de direito processual civil. 2. ed. Presidente OF SOUDITY OF THE EV/DENT/AL INFERENCE
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TALAMINI, Eduardo; WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avanc;ado de processo HUMBERTO ÁVILA
civil. 16. ed. Sao Paulo: Ed. RT, 2016. v. l. Professor Titular de Direito Tributário da Universidade de Sao Paulo. Advogado.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoría geral academico@humbertoavila.com.br
do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento co-
mum. 56. ed. Río dejaneiro: Forense, 2016. v. l. Recebido em: 27.04.2018
Aprovado em: 18.05.2018

ÁREAS DO DIREITO: Pracessual; Civil

PESQUISA DO EDITORIAL RESUMO: As pravas, sejam diretas, sejam indi- AssTRACT: Direct and indirect praofs require
retas, envolvem raciocínios por inferencia. A reasoning by inference. The strength of an in-
for~a do argumento indutivo depende, de um ductive argument depends, on the one hand, on
Veja também Doutrina lado, do standard de prova a ser adotado, e, de the standard of praof adopted, and, on the other
• Será o fim da categoría condi~6es da a~ao? Urna intromissao no debate travado entre outra lado, da solidez da inferencia probatória. hand, on criteria of so/idity of the evidential
O presente artigo analisa criticamente os tipos inference. The present article aims at critically
Fredie Didier Jr. e Alexandre Freitas Camara, de Leonardo Carneiro da Cunha - RePro
de prova em geral admitidos pelo Direito e o analyzing the types of proof generally admitted
198/227-236 (DTR\2011\2320).
grau de justifica~ao exigido pelo ordenamento by Law and the degree ofjustification demanded by
jurídico para considerar suficientes as provas the legal arder to consíder that the proofs pro-
ad uzidas nos processos. duced in a proceeding are sufficient.
PALAVRAS-CHAVE: Teoria da prava - Standards de KEYWoRos: Evidence theory- Standards of praof-
prava - Inferencia prabatória. Evidential inference.

SUMÁR10: lntrodu~ao. 1. Os tipos de prava em geral admitidos. 2. Os standards de prava em


geral adotados. 3. Os critérios de solidez da inferencia probatória. 3.1. Considera~6es intro-
dutórias. 3.2. Critérios relacionados aos meios de prava. 3.3. Critérios relativos a inferencia.
3.4. Critérios relativos a hipótese. Conclusoes. Referencias.

INrnoout;Ao
As provas, sejam diretas, sejam indiretas, envolvem raciocínios por infe-
rencia. Se as provas devem sustentar a hipótese em um processo, é preciso
Á,,,,,., U,,,.....,h,.,..¡..,.. T,...,...~:,.. ..J,.. -~-··-·_ ... _. _ _¡_, __ ,_.t.
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TEORIA GERAL DO PROCESSO 115
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verificar quais sao os requisitos para que os fatos possam ser considerados Advirta-se que, a rigor, tanto a prava direta quanto a prova indireta envol-
compravados a fim de sustentar urna conclusao suficientemente justificada. vem raciocínios por inferencia. Mesmo no caso de urna prava testemunhal, por
~.\ fon;:a do argumento indutivo depende nao apenas do standard de prava a exemplo, o argumento jamais é conclusivo. Primeiro, porque é preciso que se
ser adotado, como também da solidez da inferencia prabatória. Enquanto a acredite na veracidade daquilo que a testemunha narrou. A circunstancia de a
decisao acerca do standard de prava a ser aplicado depende da escolha relativa testemunha dizer que viu algo acontecer nao prava que algo de fato aconteceu;
ao risco de erro e aos fatores explicativos, a solidez da inferencia probatória é pro va apenas que a testemunha disse ter visto algo acontecer, o que é diferen-
furn;:ao da adequacao e suficiencia das pravas. te.3 Note-se que, também nesse caso, há urna inferencia: passa-se de um fato (o
A análise da robustez das pravas depende do exame de tres elementos: (1) testemunho) a outro fato (o objeto do testemunho). 4 Segundo, seu testemunho
a hipó tese (aquilo que deve ser provado); (2) os meios de prava (aquilo que pode estar eivado de vicio - ela pode estar mentindo ou simplesmente estar
serve para provar a hipótese); e (3) o critério inferencial (aquilo que relaciona equivocada. 5 Por exemplo, urna testemunha, por erro de percepcao, pode ter
os meios de prova com a hipótese). Critérios distintos sao aplicados a cada se equivocado quando acreditava avistar urna pessoa mexendo os bracos. Com
um desses elementos. Assim, enquanto os meios de prova devem atender aos efeito, ela pode náo ter enxergado a cena com precisáo, pode ter sido vitima de
critérios da admissibilidade e da suficiencia, o critério inferencial depende da urna ilusáo ou mesmo ter padecido de um estado de alucinacao. E, ainda que
suficiencia da fundamentacao lógica e da provabilidade causal, ao passo que a tenha de fato enxergado urna pessoa mexendo os bracos, pode ter interpretado
hipótese deve observar os critérios de refutabilidade, derivacao, singularidade, equivocadamente aquilo que viu, pela singela razao de que o ato de mexer os
coerencia e simplicidade. bracos pode denotar urna saudacao, urna ameaca ou um aviso de perigo. 6
Nesse contexto, o presente artigo analisa criticamente os tipos de prava em A diferenca entre as pravas diretas e as indiretas nao é, pois, ontológica nem
geral admitidos pelo Direito e o grau de justificacao exigido pelo ordenamento de tipo, mas de objeto e de grau: nas pravas indiretas, o objeto é algo diverso da
jurídico para considerar suficientes as pravas aduzidas nos pracessos. hipótese principal a ser comprovada, e o grau de inferencia entre os meios de
prava e a hipótese é sensivelmente maior. As pravas ditas indiretas requerem
inferencias adicionais, pois é preciso conectar o fato secundário (o indício)
1. ÜS TIPOS DE PROVA EM GERAL ADMITIDOS como fato principal (a hipótese) por meio de um raciocínio condizente. 7 Por
Em que pese seja essa urna classificacáo controvertida, pode-se dizer que isso mesmo a confiabilidade desse tipo de prova tanto será maior quanto me-
há dois tipos de prava: as diretas (ou imediatas) e as indiretas (ou circunstan- nor for a cadeía de inferencias necessárias para comprovar a hipó tese. 8
ciais).1 De um lado, as pravas diretas sáo aquelas que dizem respeito ao próprio O essencial é que, no caso das pravas ditas indiretas ou circunstanciais, o in-
fato que precisa ser comprovado. O testemunho de alguém que alega ter visto térprete, com mais enfase, infere que, a partir da comprovacao de determinado
o acusado "atirando urna pedra através da janela" seria urna prava direta. O
fato bruto narrado é precisamente aquele que necessita ser pravado e teria sido
diretamente presenciado pela testemunha. De outro lado, as pravas indiretas 3. LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestio Factí. Ensayos sobre prueba, causalidad y acción.
sao aquelas que apresentam elementos a partir de cujo exame se pode inferir a Lima: Palestra, 2005. p. 81.
ocorrencia do fato objeto de comprovacao. O testemunho de alguém que alega 4. SALAVERRÍA, Juan Igartua. Los indicios tomados en serio. In: GOMERO, Santiago
ter visto o acusado "correndo do local logo após a janela ter sido quebrada" Ortega. (Org.). Razonamiento e Interpretación jurídica. Lima: Ara, 2009. p. 478.
seria urna prava indireta. O fato bruto narrado nao é aquele que precisa ser 5. WALTON, Douglas. Legal argumentation and evidence. Pennsylvania State University
2
provado, mas este pode ser inferido a partir daquele. Press: Pennsylvania, 2002. p. 76.
6. LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestio Facti. Ensayos sobre prueba, causalidad y acción.
Lima: Palestra, 2005. p. 26.
l. WALTON, Douglas. Legal argumentatíon and evídence. Pennsylvania State University 7. SALAVERRÍA, Juan Igartua. Los indicios. tomados en serio. In: GOMERO, Santiago
Press: Pennsylvania, 2002. p. 86. Ortega. (Org.). Razonamiento e Interpretación jurídica. Lima: Ara; 2009. p. 495.
2. SALAVERRÍA, Juan Igartua. Los indicios tomados en serio. In: GOMERO, Santiago 8. LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestio Factí. Ensayos sobre prueba, causalidad y acción.
Ortega. (Org.). Razonamiento e InterpretaciónJurídica. Lima: Ara, 2009. p. 494. Lima: Palestra, 2005. p. 82.
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TEORIA GERAL DO PROCESSO

fato, pode-se concluir como comprovado também outro fato, nao diretamente, que todos até entao observados assim o eram. Eis que entao o explorador ingles
mas podendo considerar-se como comprovado na medida em que, dada a sua deparou-se com cisnes negros naquela terra. Esse singelo exemplo demonstra
rela(:ao inferencial ou causal com aquele provado, deve ter provavelmente ocor- que nao importa quao forte seja o argumento indutivo, há sempre a possibili-
rido. Por conseguinte, o decisivo no mencionado raciocínio é a inferencia feíta dade de ele restar prejudicado combase ero novas informa(:oes. Consequente-
pelo intérprete. mente, as premissas de um argumento indutivo válido proporcionam apenas
Assim, pass a a ser crucial saber o que caracteriza urna inferencia e quais um suporte parcial para suas conclusóes. O argumento indutivo é, por con-
sao os requisitos que ela deve possuir para justificar determinada conclusa.o. seguinte, derrotável. Ele é concebido para controlar o risco de erro quando a
A inferencia é urna espécie de raciocínio indutivo que se contrapóe ao racio- seguran(:a inferencial absoluta for inatingível.
cínio dedutivo. No caso deste, se as premissas sao verdadeiras, a conclusa.o é Assim, o essencial para um argumento indutivo está em sua for(:a - ela po-
necessaríamente verdadeira. Por exemplo, se todos os corvos sao pretos e há de ser maior ou menor. 12 Mas quao f arte deve ser um argumento indu tivo para
um corvo no pico da montanha, entao ele é (necessariamente) preto. No caso que se possa considerar suficientemente justificada a sua conclusa o? É o que se
do raciocínio indutivo, a situa(:ao é diferente: se as premissas sao verdadeiras, passa agora a analisar.
a conclusa.o é apenas provavelmente verdadeira. Se todos os corvos observados
até hoje sao pretos e há um corvo no pico da montanha, entao ele é (provavel-
mente) preto. 9 2. ÜS STANDARDS DE PROVA EM GERAL ADOTADOS
Daí se dizer que os raciocínios dedutivo e indutivo se submetem a critérios O peso ou for(:a probatória de um argumento indutivo depende, em primei-
distintos de avalia(:ao. O critério aplicável ao raciocínio dedutivo é a validade. ro lugar, do standard de prova exigido para cada caso, isto é, da for(:a ou do pe-
Nao há possibilidade de as premissas serem verdadeiras e a conclusa.o, falsa. so requerido para que se possa considerar comprovada determinada conclusa.o.
Isso porque a premissa maior estabelece um princípio universal que govema Standard de prova conota, assim, os requisitos que devem ser satisfeitos para
todos os casos (todos os corvos sao pretos). Na verdade, a informa(:ao contida que os fatos possam ser considerados comprovados. 13 Entre aqueles standards
na conclusa.o nao vai além da informa(:ao já contida na premissa maior. 10 As- geralmente admitidos, podem ser destacados os seguintes:
sim, se ela for verdadeira, todos os casos individuais devem ser verdadeiros (se
for um corvo, entao ele será preto). Por isso, as premissas de um argumento (a) prava irrefutável, própria de ambitos do Direito em que há restri<;:ao de di-
dedutivo válido proporcionam suporte conclusivo para suas conclusóes. O ar- reitos de personalidade, é obtida a partir de meios de prova que, em virtude
gumento dedutivo é, portanto, inderrotável. Ele é desenhado justamente para de máximas da experiencia ou de experimentos científicos, proporcionam
atingir seguran(:a inferencial absoluta. 11 conclusoes com índice de probabilidade próximo de 100%, como ocorre,
por exemplo, como exame de DNA no caso de investiga<;:oes de paternidade;
Diversamente, o critério aplicável ao raciocínio indutivo é a fon;;a. Ainda
(b) prava acima de qualquer dúvída razoável, adequada a ambitos do Direito
que as premissas sejam verdadeiras, a conclusa.o é apenas provavelmente ver-
que envolvem puni<;:6es com restri<;:áo da liberdade do acusado, como é 0
dadeira, dado que novas informa(:óes podem alterá-la. Para usar um exemplo caso do Direito Penal, é obtida a partir de meios de prova que asseguram
antigo, porém ilustrativo, afirma-se que, até a chegada do Capitao Cook ao que qualquer dúvida remanescente seja tao insignificante, mas tao insigni-
território da Austrália, acreditava-se que todos os cisnes eram brancos, visto ficante, que urna pessoa razoável iría assim mesmo considerar a hipótese
discutida como comprovada;

9. SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; FOGELIN, Robert. Understanding Arguments: An


Introduction to Informal Logic. 9. ed. Stanford: Cengage, 2015. p. 180 e ss.
12. KELLEY, David. The Art of Reasoníng. 3. ed. New York: Norton, 1998. p. 456.
10. LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestio Facti. Ensayos sobre prueba, causalidad y acción.
Lima: Palestra, 2005. p. 65. 13. HELLSTRÓN, Per. A Uniform Standard of Proof in EU Competition Proceedings.
In: EHLERMANN, Claus-Dieter; MARQUIS, Mel. (Org.). European Competítion Law
ll. RUDINOW, Joel; BARRY, Vincent E. Critica! Thinking. Belmont: Thomson West, Annual 2009. The Evaluation of Evidence and its Judicial Review in Competition Cases.
2008. p. 230. Oxford and Portland: Hart, 20ll. p. 147.
118 REVISTA DE PRocEsso 2018 • REPRo 282 TEORIA GERAL DO PROCESSO 11 !

(c) prava clara e convincente, apropriada a ambitos do Direito que abrangem se afirma que o standard aplicável é o do "balanc;;o de probabilidades": ganha-
sanc;;óes das quais resultem restric;;óes aos direitos de liberdade e de proprie- rá o caso quem conseguir produzir provas com maior peso para estribar sua
dade, como é o caso do Direito Administrativo Sancionador, por isso mesmo alegac;;ao, ainda que esse peso atinja o nível de meros 51 %. Exatamente em de-
qualificado de Direito "quase Penal", é obtida a partir da "preponderancia da correncia disso é que se qualifica o ónus da prova como simétrico nesses casos.
prava", isto é, por meio de indícios qualificados que assegurem haver muito
mais probabilidade de a hipótese discutida ser verdadeira do que o contrário
A decisáo acerca do standard de prova a ser aplicado depende de escolhas a
(much more likely than not); respeito do risco de erro e dos fatores explicativos. Quanto ao risco de erro, po-
de-se dizer que a escolha do standard depende de urna equac;;ao acerca de qual
(d) prava convincente ou de verossimilhani;a razoável, consentanea com am-
risco se pretende evitar com sua adoc;;ao. Nos casos em que há possibilidade de
bitos do Direito que resguardam direitos disponíveis e patrimoniais, como
é o caso de áreas do Direito Civil, é obtida a partir de um "balanc;;o de pro-
imposic;;ao de punic;;óes extremamente graves, como o encarceramento do acu-
babilidades" ou da constatac;;ao de urna "probabilidade prevalente", ou se- sado, o standard é o da prova acima de qualquer dúvida razoável, pois é preciso
ja, por meio de indícios orientados que assegurem haver símplesmente mais ter a certeza quase absoluta de que o acusado tenha praticado o crime que lhe
probabilidade de a hipótese ser verdadeira do que o contrário (more likely foi imputado. Parte-se do pressuposto de que é melhor para o sistema puniti-
than not). vo em geral deixar de punir um culpado do que punir um inocente, recaindo
sobre a sociedade o eventual risco de erro. 15 Assim, se remanescer qualquer
Os standards de prova descritos podem ser metaforicamente representados dúvida razoável de que o acusado possa nao ter cometido o crime e, portanto,
por urna gangorra. 14 No caso do critério de prova "acima de qualquer dúvida nao for quase certo que ele o tenha feito, é mais aconselhável deixá-lo livre do
razoável", um dos lados da gangorra está quase totalmente inclinado para baixo, que o contrário.
em favor de quem pode receber urna sarn;:ao restritiva de liberdade física. Cabe Nos casos em que há risco de imposic;;áo de sanc;;6es altamente gravosas,
ao acusador o ónus de inverter essa posü;:ao inicial, mediante a eliminac;;ao de como penalidades pecuniárias elevadas ou restric;;óes severas ao exercício de
qualquer dúvida a respeito da autoria. A defesa do acusado compete a func;;ao atividades lícitas, o standard adequado é o da prova clara e convincente, pois
de apresentar questionamentos suficientes para demonstrar que o acusador é preciso estar presente em geral urna alta probabilidade de que a ampla maio-
nao se desincumbiu adequadamente de seu ónus. Daí se dizer que o ónus da ria dos acusados tenha praticado as infrac;;oes que lhes foram atribuídas. Aqui
prova é assimétrico nesses casos. também se parte do pressuposto de que é melhor para o sistema sancionatór].o
No caso do critério de prova "clara e convincente", um dos lados da gan- como um todo deixar de sancionar um culpado do que punir um inocente.
gorra está bastante inclinado para baixo, em favor de quem pode sofrer urna Se as provas nao forero robustas e substanciais o suficiente para provar que: o
sanc;;ao restritiva dos direitos fundamentais de liberdade e de propriedade. Ca- acusado cometeu a infrac;;ao e, por conseguinte, nao for altamente provável que
be ao acusador o ónus de alterar essa posic;;ao inicial, mediante a produc;;ao de ele o tenha feito, é mais aconselhável deixar de sancioná-lo do que o contrário.
urna prova clara e convincente que corrobore a hipótese acusatória. A defesa Daí se dizer que é preciso, nesses casos, haver urna prova substancial (substan-
do acusado incumbe a func;;ao de demonstrar que os meios de prova nao sao tial evidence). 16
suficientemente robustos e qualificados para tanto. Por isso se pode afirmar
que o ónus da prova também é assimétrico nesses casos.
15. HAACK, Susan. Legal Probabilism. Evídence Matters. Scíence, Proof and Ii-uth in the
No caso do critério de prova "convincente ou de verossimilhanc;;a razoável",
Law. Cambridge: CUP, 2014. p. 51.
no entanto, os dois lados da gangorra estao ombreados no mesmo nível. O que
16. GIPPINI-FOURNIER, Eric. The Elusive Standard of Proof in EU Competition Cases.
precisa ser decidido é qual dos lados apresenta urna hipótese mais plausível de
In: EHLERMANN, Claus-Dieter; MARQUIS, Mel. (Org.). European Competítíon L~w
ser verdadeira de acordo com as provas constantes dos autos. Por isso mesmo Annual 2009. The Evaluation of Evidence and íts]udícial Revíew in Competition Cases.
Oxford and Portland: Hart, 2011. p. 296; SIRAGUSA, Mario. Antitrust and Merger
Cases in Italy: Standard of Proof, Burden of Proof and Evaluation of Evidence. 1n:
In: EHLERMANN, Claus-Dieter; MARQUIS, Mel. (Org.). European Competition Law
14. WALTON, Douglas. Legal argumentation and evídence. Pennsylvania State University Annual 2009. The Evaluation of Evidence and its judicial Review in Competition Cases.
Press: Pennsylvania, 2002. p. 14. Oxford and Portland: Hart, 2011. p. 588.
2018 • REPRO 282 TEORIA GERAL DO PROCESSO
120 REVISTA DE PROCESSO

Agora, nos casos em que o litígio envolve particulares e a solu<;áo buscada de inocencia e da proibi<;áo de prova ilícita; de outro, da aplica<;áo dos direito:
diz respeito a direitos patrimoniais disponíveis, o standard é o da prova con- fundamentais em sua fun<;áo de direito de defesa contra restri<;oes estatais, co-
vincente ou de verossimilhan<;a razqável, bastando a mera plausibilidade de que mo é o caso do devido processo legal.
a hipótese seja verdadeira, isto é, a sua mera verossimilhan<;a. Assim, estando Em terceiro lugar, a preferencia pelo standard decorre da natureza das aiega-
presentes indícios orientados que demonstrem haver mais pravas da verossi- r;:oes a serem comprovadas. Quanto mais pessoais forem os fatos a serem apu-
milhan<;a da hipótese do que o contrário, presume-se que ela tenha sido com- rados, e mais severas as consequencias deles decorrentes, tanto mais rigorosa
provada, porquanto náo há risco nem para o funcíonamento do sistema nem deverá ser a prova exigida para sua comprova<;áo. 19 Tal determina<;áo resulta da
para a preserva<;áo do interesse público. aplica<;áo dos direitos fundamentais em sua fum;áo de direito de defesa contra
Quanto aos fatores explicativos da escolha do standard, pode-se dizer que restri<;oes estatais, como é o caso da dignidade humana, para as pessoas, e do
ela depende, em geral, de uma série de elementos relativos a infra<;áo, a san<;áo, direito de livre exercício de atividade económica, para as empresas.
ao poder investigatório e ao raciocínio desenvolvido. Em quarto lugar, a sele<;áo do standard deriva da amplitude de competencias
de que dispoe a autoridade para investigar. Quanto maiores e mais amplos fo-
Em primeiro lugar, a escolha do standard depende da natureza da infra<;áo
rero os poderes atribuídos a autoridade para a apura<;áo dos fatos, tanto mais
que é imputada ao acusado. Quanto mais séria for a natureza das alega<;oes,
cogente deverá ser a prova exigida para a comprova<;áo da hipótese. Esse pa-
tanto mais cogente deverá ser a prova exigida para afastar-lhes a inverossimi-
rámetro advém da correla<;áo entre o poder para produzir pravas e a avalia<;áo
lhan<;a e provar a ocorrencia da hipótese.17 Isso se deve ao fundamento an-
que deve ser feita de seu resultado: se a autoridade possuí amplo poder para
teriormente apontado de que náo se pode aceitar o risco de sancionar quem
requerer, produzir e avaliar as pravas, aquilo que foi requerido, produzido e
é inocente num sistema que privilegia tanto a presurn;ao de inocencia do
avahado deve ser o melhor possível para comprovar a hipótese acusatória, ra-
acusado quanto a prote<;áo de seus direitos fundamentais de liberdade e de pro-
záo pela qual o critério para sua avalia<;áo há de ser mais rígido.
priedade.
Em quinto lugar, a elei<;áo do standard provém da complexa cadeia de cau-
Em segundo lugar, a op<;áo pelo standard resulta da gravidade das sani;óes
salidades envolvida na demonstra<;áo da ocorrencia da hipótese. Quanto maior
a serem eventualmente aplicadas. Quanto mais gravosa for a san<;áo, tanto for a cadeia de inferencias necessárias para demonstrar a ocorrencia da hipó-
mais exigente deverá ser a prova requerida para sua aplica<;áo. 18 Havendo san- tese, tanto mais severa deverá ser a prova exigida para sua comprova<;áo. Tal
<;5es gravosas, necessária será a presen<;a de prova forte (strong) e convincente diretriz decorre da cumula<;áo de requisitos necessários para que a hipótese
(compelling) de que o fato realmente ocorreu. Tal exigencia decorre, de um possa ser considerada-verdadeira: se sua comprova<;áo advém da rela<;áo entre
lado, da atra<;áo de garantias constitucionais, como sao os casos da presun<;áo os vários meios de prova, para que o critério inferencia! possa ser dotado de
um alto grau de justifica<;áo, os indícios, mais do que meramente especulati-
vos, devem ser portadores de urna maior gravidade.
17. BLANCO, Luis Ortiz. Standards of Proof and Personal Conviction in EU Antitrust O peso ou for<;a probatória de um argumento indutivo depende, em segun-
and Merger Control Procedures. In: EHLERMANN, Claus-Dieter; MARQUIS, Mel. do lugar, de sua adequa<;áo e de sua suficiencia. Ambas as qualidades exigem,
(Org.). European Competition Law Annual 2009. The Evaluation of Evídence and íts para sua realiza<;áo, o preenchimento de urna série de critérios. É sobre esses
Judicial Review in Competítion Cases. Oxford and Portland: Hart, 2011. p. 181.
requisitos que se passa a dissertar.
18. LA TORRE, Femando Castillo. Evidence, Proof andJudicial Review in Cartel Cases.
In: EHLERMANN, Claus-Dieter; MARQUIS, Mel. (Org.). European Competition Law
Annual 2009. The Evaluation of Evidence and its Judicial Review in Competition Cases.
Oxford and Portland: Hart, 2011. p. 345; VENIT,James. HumanAll Too Human: The 19. VENIT, James. Human All Too Human: The Gathering and Assessment of Evidence
Gathering and Assessment of Evidence and the Appropriate Standard of Proof and and the Appropriate Standard of Proof and Judicial Review in Commission of En-
Judicial Review in Commission of Enforcement Proceedings Applying Articles 81 e forcement Proceedings Applying Articles 81 e 82. In: EHLERMANN, Claus-Dieter;
82. In: EHLERMANN, Claus-Dieter; MARQUIS, Mel. (Org.). European Competition MARQUIS, Mel. (Org.). European Competition Law AnnuaI 2009. The Evahtatibn oj
Law Annual 2009. The Evaluation of Evidence and its Judicial Review in Competition Evidence and íts Judicial Review in Competition Cases. Oxford and Portland: Hart,
Cases. Oxford and Portland: Hart, 2011. p. 246. 2011. p. 246.
122 REVISTA DE PROCESSO 2018 • REPRO 282 TEORIA GERAL DO PROCESSO 123

3. ÜS CRITÉRIOS DE SOLIDEZ DA INFERENCIA PROBATÓRIA Do ponto de vista jurídico, os meios de prava devem preencher o critérío da
Iicítude. Tal critério corresponde a seguinte indaga<;ao, a ser respondida pelo
3. 1. Consíderar;oes introdutórias julgador: posso usar esse meio de prava? Somente urna prava obtida por meios
lícitos pode ser usada como prava, por duas razoes.
A análise da robustez das pravas depende do exame de tres elementos fun-
damentaís: (1) a hipótese (aquilo que <leve ser pravado); (2) os meios de prava De um lado, porque a Constitui<;ao Federal, de maneira categórica, isto é,
(aquílo que serve para pravar a hipótese); e (3) o critério inferencial (aquilo sem qualquer tipo de condi<;ao, torna inadmissível a utiliza<;ao de pravas ilí-
que relaciona os meios de prava com a hipó tese) .20 citas, nos seguintes termos: "sao inadmissíveis, no processo, as pravas obtidas
por meios ilícitos" (art. 5°, inciso LVI). Assim, pouco importa por que a prava
A hipótese ou fato objeto de comprava<;ao (factum probandum) é precisa-
foi colhida por meio ilícito, nem para que ela seria utilizada. Tendo sido obtida
mente aquilo que necessíta ser compravado no curso do processo. Ela pode
por "meios ilícitos", ela se torna inadmissível. De outra lado, porque a aceita-
abranger urna hipótese central ou hipóteses subsidiárias. Do ponto de vista
<;ao de urna prava ilícita nao apenas a colocaría "sob suspeita" no tocante a seu
lógico, a hipótese constituí a conclusao a que se pretende chegar por meio do
conteúdo, como significaría um verdadeira incentivo a usurpa<;ao de veda<;6es
raciocínio. Sua importancia reside em demonstrar, lógica e jurídicamente, o
legais e constitucionais.
ponto contraverso cuja existencia depende de comprava<;ao.
Várias sao as causas da ilicitude. Entre elas, destacam-se as proibi<;oes legais
Os meios de prava (factum probans) sao os instrumentos ou as atividades
que afetam o objeto da investiga<;ao (por exemplo, prava envolvendo matéria
que servem para compravar a hipótese. Abrangem quaisquer elementos utili- sigilosa), os métodos de investiga<;ao (por exemplo, prava obtida mediante
zados com a finalidade de amparar a ocorrencia ou veracidade da hipótese. Do violencia ou coa<;ao) e os meios de prava (por exemplo, prava testemunhal de
ponto de vista lógico, os meios de prava constituem as premissas empregadas parente), as pravas irregulares ou defeituosas (por exemplo, prava obtida sem
para respaldar a conclusao. Sua relevancia está em indicar, lógica e jurídica- a observancia das formalidades essenciais) e as pravas colhidas ou praduzidas
mente, aquilo que fundamenta a existencia da hipótese. com viola<;ao de direitos fundamentais (por exemplo, prava que infringe os
O critério inferencial conota aquilo que relaciona os meios de prava com direitos a intimidade, ªºsigilo de dados ou a inviolabilidade do domicílio). 21
a hipótese. Sob o aspecto lógico, o critério inferencial constituí o raciocínio O critério da licitude significa que as pravas que tenham sido obtidas por
indutivo que relaciona as premissas com a conclusao. Seu relevo está em de- meios ilícitos nao poderao ser utilizadas para condena<;ao. Assim, por exem-
monstrar, lógica e jurídicamente, a justifica<;ao em que se baseou o julgador plo, se o meio de prava foi obtido por alguém que sobre ele deveria manter
para decidir. A validade dos meios de prava, do critério inferencial e da hipó~ sigilo profissional em razao da fun<;ao entao exercida, haverá prava ilícita em
tese prende-se a observancia de urna série de requisitos lógicos e jurídicos. E razao de proibi<;ao que afeta o objeto da investiga<;ao. Em virtude disso, nao
sobre cada um deles que se passa a dissertar. poderá a prava ser utilizada simplesmente por ser, segundo expressa veda<;ao
constitucional, "inadmissível".
3.2. Crítérios relacionados aos meios de prava Do ponto de vista lógico, os meios de prava devem preencher os critérios da
confiabilidade, da precisao e da relevancia para serem admissíveis como pre-
Em primeiro lugar, os meios de prava só podem ser empregados se admis-
missa de um raciocínio jurídica e logicamente válido.
síveis. Com efeito, só se examina a suficiencia dos meios de prava depois de se
examinar sua admissibilidade, isto é, depois de se verificar se podem ser consi- O critério da confiabilidade diz respeito ao grau de convencimento que o
derados, tanto jurídica como logicamente, como premissas de um raciocínio. meio de prava proporciona, isto é, a sua capacidade de eliminar eventual dúvi-
da no destinatário. Tal critério corresponde ao seguínte questionamento, a ser
enfrentado pelo julgador: posso confiar nesse meio de prava? As pravas ditas
20. LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestio Facti. Ensayos sobre prueba, causalidad y acción.
Lima: Palestra, 2005. p. 55; SALAVERRÍA, Juan lgartua. Los indicios tomados en
serio. In: GOMERO, Santiago Ortega. (Org.). Razonamiento e Interpretación jurídica. 21. ESTRAMPES, Manuel Miranda. El concepto de prueba ilícita y su tratamiento en el
Lima: Ara, 2009. p. 483. proceso penal. Barcelona: Bosch, 1999. p. 29 e ss.
124 R=•·íST,'.., DE PROCESSO 2018 • REPRO 282 TEORIA GERAL DO PROCESSO 12!

diretas possuem maior grau de confiabilidade precisamente por envolverem a De um lado, sao indispensáveis para verificar se estao presentes os requisi-
percepcao imediata do fato objeto de compravacao. Já as pravas ditas indiretas ws necessários e suficientes a comprovai;:ao da hipótese. Nao estando presen-
possuem um grau menor de confiabilidade, na medida em que o fato objeto de tes, a hipótese simplesmente nao poderá ser havida con¡.o compravada, por
compravai;:ao é havido como pravado apenas por meio de urna variada gama falta de seus requisitos indispensáveis. Assim, quanto maior o grau de deta-
de inferencias. Por essa razao, sua confiabilidade depende da observancia de lhamento da prava, tanto maior a sua credibilidade, pela singela razao de que
urna série de requisitos objetivos e subjetivos. o nível de precisao da prava é a chave para determinar seu valor indiciário.24
Entre os requisitos objetivos, devem ser verificadas as circunstancias da pra- De outra lado, a clareza e o detalhamento dos meios .de prava sao indispen-
va, isto é, o contexto em que ela foi colhida ou praduzida. Por exemplo, quando sáveis para verificar a qualidade da inferencia que eventualmente é feita pelo
o elemento de prava foi praduzido de maneira clandestina, na calada da noite, julgador a partir deles. Na ausencia de detalhes que indiquem com clareza a
ele revela o intuito de mascarar a realidade; quando produzido de maneira ins- autoría, o destinatário, o objeto, a data e o contexto dos meios de prava, mais
titucional, a luz do dia, denota o intuito de deslindar os fatos acorridos. frágil se torna o argumento indutivo neles baseado, na medida em que mais
Entre os requisitos subjetivos, devem ser verificados os sujeitos da prava, elementos devem ser pressupostos pelo julgador para que a hipótese por eles
Yale dizer, quem obteve ou praduziu o elemento de prava que está senda uti- aventada possa ser havida como comprovada e, por via de consequencia, mais
lizado, especialmente para saber se nao há qualquer tipo de circunstancia que robustas devem ser a fundamentai;:ao e a justificacao por eles utilizadas para
possa afetar sua fiabilidade. Nesse aspecto, cumpre analisar, por exemplo, se a compensar a ausencia das mencionadas especificai;:óes.
pessoa se manifestou de maneira individual ou institucional; se haveria con- O critério da relevancia, certamente o requisito mais importante no ambito
sequencias negativas caso ela estivesse mentindo ou tivesse se equivocado; se da teoría das pravas, diz respeito a relai;:ao de pertinencia, lógica ou causal, en-
ela pensou refletidamente sobre aquilo que disse ou expressou-se de forma im- tre os meios de prava e a hipótese cuja veracidade eles pretendem comprovar.
pulsiva; se havia qualquer tipo de incentivo ou vantagem para ela dizer o que Tal critério corresponde a seguinte indaga<;ao, a ser respondida pelo julgador:
disse; se suas afirma<;óes foram feítas sob juramento ou nao; se havia ou nao o meio de prava serve de premissa para a conclusao a que se pretende chegar ou
motivo para vinganca; entre outros fatores. 22 contribuí para a existencia da hipótese? A relevancia, no sentido aqui estipula-
O critério da precisao diz respeito a exatidao jurídicamente exigida para do, estabelece um requisito para que a prava possa ser admitida, devendo esse
que um meio de prava possa corroborar determinado requisito constante de requisito ser preenchido ou nao, sem gradai;:óes. Ou algo é relevante ou nao o
hipótese legal de incidencia, ou ao grau mínimo de exatidao (sufficiently pre- é, no sentido de ser ou nao ser pertinente a hipótese objeto de comprovacao.2s
cise) necessário a fim de que a ilai;:ao nele baseada possa ser considerada sufi- ] á o critério da suficiencia qualifica a for<;a persuasiva da prava depois de esta
ciente para comprovar determinada alegai;:ao. 23 Vale dize~, o referido critério ter sido admitida como relevante, podendo ser maior ou menor. Urna prava
indica a capacídade dos elementos de prava de transmitir com acurácia in- pode ser mais ou menos persuasiva, devendo, conforme o standard exigido,
forma<;óes a respeito do fato que se pretende pravar. Tal critério corresponde atingir determinado nível de forca persuasiva. 26
a seguinte pergunta, a ser superada pelo julgador: o meio de prava especifica
aquílo que é essencial para compravar a hipótese? A clareza e o detalhamento
dos meios de prava sao indispensáveis para compravar o fato acorrido, por 24. LA TORRE, Fernando Castillo. Evidence, Proof andJudicial Review in Cartel Cases.
duas razóes. In: EHLERMANN, Claus-Dieter; MARQUIS, Mel. (Org.). European Competition Law
AnnuaI 2009. The Evaluation aj Evidence and its Judicial Review in Competition Cases.
Oxford and Portland: Hart, 2011. p. 369.
25. LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestío Facti. Ensayos sobre prueba, causalidad y acción.
22. VENIT, James. Human All Too Human: The Gathering and Assessment of Evidence Lima: Palestra, 2005. p. 85.
and the Appropriate Standard of Proof. In: EHLERMANN, Claus-Dieter; MARQUIS,
26. WALTON, Douglas. Legal argumentation and evidence. Pennsylvania State University
Mel. (Org.). European Competition Law AnnuaI 2009. The Evaluation of Evídence and
Press: Pennsylvania, 2002. p. 21; SALAVERRÍA, Juan Igartua. Los indicios tomados
its]udicíal Review in Competition Cases. Oxford and Portland: Hart, 2011. p. 248.
en serio. In: GOMERO, Santiago Ortega. (Org.). Razonamiento e Interpretacíón]urídi-
23. Ibidem. p. 250. ca. Lima: Ara, 2009. p. 485.
126 RE»'íST?. DE PROCESSO 2018 • REPRO 282
TEORIA GERAL DO PROCESSO

Meio de prova relevante significa aquele meio que faz com que a hipótese seja relevantes foram devidamente selecionados, apresentados e interpretados. Tal
mais ou menos provável do que seria sem a sua considerai;:ao. Vale dizer, a pre- critério corresponde a seguinte pergunta, a: ser arrostada pelo julgador: terao
missa ou meio de prova "A" é relevante para a conclusao "B" se, e somente se, a sido devidamente consideradas todas as informa<;:oes relevantes para confirmar
probabilidade condicional de "B" for maior coma considera<;:ao de "A" do que ou infirmar a hipó tese? O referido critério, pois, náo apenas investiga o que foí
seria sem a sua considera<;:ao. Daí se dizer que o meio de prova "A" possui peso considerado e como foi considerado; indaga também o que nao foí considerado.
probatório em rela<;:ao a hipótese "B" se "A" torna "B" mais provável que seria Sua fun<;:ao precípua é a de avaliar como se situam os meios de prova conside-
sem a sua considerai;:ao. 27 Dado que um meio de prova funciona como premissa rados perante outros meios de prova que deixaram de ser considerados, mas
de um argumento, pode-se dizer que um argumento preencherá o requisito da que, se tivessem sido devidamente considerados, poderiam alterar ou mesmo
relevancia se suas prernissas providenciarem comprova<;:ao que mantenha rela- infirmar a conclusa.o havida como comprovada. Por isso se afirma:
<;:áo lógica, fática ou causal coma conclusa.o que ele pretende sustentar. 28 Se a sua i
1

considera<;:ao nao alterar em nada a conclusao, o meio de prova será irrelevante. Assim, uma investiga<;:ao factual intensa nao pode ser limitada a questáo
de saber se um dado fato é correto ou se em razao dele a decisáo parece ser
O emprego de um meio de prova irrelevante, por conseguinte, ignora a ques-
coerente. Em vez disso, é preciso determinar se a decisao que produz con-
tao que precisa ser comprovada chamando aten<;:ao para uma questao diversa.
sequencias legais é suportada pela totalidade dos fatos. Isso inevitavelmente
E, por nao manter nenhum vinculo com a conclusa.o objeto de discussao, nao implica examinar nao apenas os fatos em que tal decisao se baseia ou que
pode servir de instrumento para fundamentá-la, embora possa servir de funda- tenham sido por ela apresentados, mas também considerar a relevancia dos
mento para apoiar outra conclusao. 29 Por tal motivo, a utiliza<;:áo de um argu- fatos que podem ter sido omitidos ou que nao lhe tenham servido de base,
mento irrelevante provoca a falácia da obteni;:ao da conclusa.o equivocada -vale o modo como os fatos utilizados foram selecionados, apresentados e inter-
dizer, uma conclusa.o nao suportada pelas premissas, que fundamentariam con- pretados e como seu valor probatório pode ser comparado coro o de outros
clusa.o diversa. Logo, das duas, uma: ou se constata que se chegou a conclusa.o fatos. 31
errada em face das premissas escolhidas, ou se verifica terem sido escolhidas as
premissas erradas para se chegar a conclusáo desejada. 30 Num caso como nou- A completude dos meios de prova depende de sua extensao. Deve ela ser su-
tro inexíste rela<;:áo lógica, jurídica ou factual entre premissas e conclusao. ficientemente numerosa para permitir urna inferencia capaz de justificar a con-
clusáo.32 Urna conclusáo indutiva baseada numa amostra muito pequena pode
Em segundo lugar, só poderáo os meios de prova ser utilizados se forem
conduzir a falácia da conclusáo apressada: chega-se a conclusáo antes mesmo
suficientes, isto é, se apresentarem propriedades que incrementem a probabi-
de haver meios de prova suficientes para fundamentá-la. Ao se proceder desse
lidade de a hipótese objeto de comprova<;:ao ser verdadeira. Nesse aspecto, os
modo, concluí-se antes de haver prova para concluir. Daí ser a conclusa.o apres-
meios de prova devem preencher os critérios da abrangencia, da confiabilidade
sada.33 Por exemplo, encontrar urna pessoa duas ou tres vezes com aspecto
e da consistencia.
O critérío da abrangencía diz respeito a completude dos meios de prova
examinados, sendo a sua principal finalidade determinar se todos os dados 31. VENIT, James. Human All Too Human: The Gathering and Assessment of Eviden-
ce and the Appropriate Standard of Proof and Judicial Review in Commission of
Enforcement Proceedings Applying Articles 81 e 82. In: EHLERMANN Claus-Die-
27. WALTON, Douglas. RelevanceinArgumentatíon. Routledge: NewYork, 2004. p. 98. ter; MARQUIS, Mel. (Org.). European Competition Law Annual 2009. Th~ Evaluatton
of Evidence and its judicial Review in Competitíon Cases. Oxford and Portland: Hart,
28. SOCCIO, Douglas; BARRY, Vincent. Practical Logic. 5. ed. Belmont: Wadsworth Cen- 2011. p. 147.
gage, 1998. p. 13. DAMER, Edward. Attacking Faulty Reasoning. 6. ed. Belmont:
Wadsworth Cengage, 2009. p. 32. 32. KELLEY, David. The Art of Reasoning. 3. ed. New York: Norton, 1998. p. 457; RUDI-
NOW,Joel; BARRY, Vincent. Critica! Thinhing. Belmont: Wadsworth Cengage, 2008.
29. WALTON, Douglas. Relevance in Argumentation. Routledge: New York, 2004. p. 20 p. 356.
e 72.
33. SOCCIO, Douglas; BARRY, Vincent. Practica! Logic. 5. ed. Belmont: Wadsworth Cen-
30. DAMER, Edward. Attachíng Faulty Reasoning. 6. ed. Belmont: Wadsworth Cengage, gage, 1998. p. 269; DAMER, Edward. Attacking Faulty Reasoning. 6. ed. Belmont:
2009. p. 97. Wadsworth Cengage, 2009. p. 32.
128 REVISTA DE PROCESSO 2018 • REPRO 282
TEORIA GERAL DO PROCESSO

alegre nao permite concluir imediatamente que se trate de urna pessoa alegre,
ir_err:-os encontrar". º ~procura exclusiva de casos positivos que confirmem a
4

pois de poucas manifestac;:oes de alegria nao se pode chegar a urna conclusa.o


hipotese revela que o 3ulgador nao chegou a conclusa.o a partir das premissas
geral a respeito da personalidade de urna pessoa. 34
mas construiu as pr~miss~s para poder chegar a conclusa.o. Ao assim proce~
O critério da abrangencia ou completude dos meios de prava é, por conse- der, contudo, ele evidencia nefasta parcialidade, maculando inteiramente
guinte, fundamental para avaliar a razoabilidade de um argumento, isto é, para conclusa.o, c~mo ~ontifica Damer: "O debatedor pode querer tanto que um:
saber se há prava suficiente a favor da veracidade de suas premissas e nenhu- d~da conclusao se3a verdadeira, que ele acaba por elege-la, muito embora nao
ma prava relevante contra ela. 35 A inobservancia desse critério pode produzir se3a a conclusa.o suportada pelas pravas apresentadas" 41 M ·
. as, se isso acor-
resultados com o canda.o de eliminar a forc;:a justificativa dos meios de prava rer, na ~erdade nao haverá uma investigac;:ao, mas outra coisa. Como lembra
utilizados. Primeiro, pode omitir ou suprimir urna prova-chave considerada Ha_a~k, se voce está tentando encontrar prava para suportar uma conclusa.o
essencial para comprovar a hipótese (falácia da omissao de prova-chave). 36 pr~via, e~ vez de seguir a prava para onde ela conduz, voce nao está realmen-
Segundo, pode negar ou ignorar contraevidencias passíveis de infirmar a hipó- te mvestigando" .42
tese defendida (falácia da negac;:ao de contraevidencias). 37 Terceiro, pode per- , O crit:rio da a~rangencia é decisivo para a: análise de um caso. A hipótese
mitir urna conclusa.o meramente subjetiva, baseada em urna crenc;:a inflexível, so podera ser co.ns1dera~a suficientemente fundamentada, de um lado, se todos
mesmo havendo meios de prava apontando em sentido contrário, em vez de os documentos tiv~rem si~o _considerados, e nao apenas aqueles que suposta-
permitir urna conclusa.o objetiva, baseada em comprovado conhecimento (fa- men~e compr~vanam a h1potese acusatória. De outro, cada documento deverá
lácia do subjetivismo). 38 ter sido exammado em sua íntegralidade, com a considerac;:ao do contexto em
Precisamente para evitar os resultados mencionados é que deve a amostra q~e foi praduzido e das partes ou aspectos que possam conduzir a conclusoes
ser suficientemente numerosa. Se, em vez de avaliar todos os meios de prava diversas. Nao pracedendo dessa forma, a decisao terá feíto qualquer coisa me-
relevantes, decidir o julgador selecionar apenas urna pequena parte, poderá nos basear-se em pravas suficientes. · '
estar omitindo meios de prava que poderiam contrariar frontalmente a hi- _ O c.rítérío da variedad~ diz respeito a diversidade dos meios de prava, isto
pótese objeto de comprovac;:ao. Daí a necessidade de examinar tanto casos e, avaha se houve a cons1derac;:ao de meios de prava provenientes de diferen-
que infirmam quanto casos que confirmam determinada generalizac;:ao. Co- tes font~s e examinados. s~b distintas perspectivas, especialmente para saber
mo lembra Kelley, "Se só .examinarmos rigorosamente casos negativos e nao se ele~ sao4~apaze~ ~~ ehmmar possíveis explicac;:oes alternativas para os fatos
encontrarmos nenhum, poderemos ficar mais confiantes da generalizac;:ao do . oc~rndos. T~l cnten~ corresponde a seguinte indagac;:ao, a ser respondida pe-
que se nao os examinarmos" .39 Afinal, como complementa o mesmo autor, "Se lo 3ulgador: sao os ~e10s de prava diversos o bastante para compravar a hipó-
procurarmos apenas casos positivos, estes sera.o provavelmente os únicos que tese ale~a.da em detrnr:ento de alternativas explicativas? Sua func;:ao principal é
a de venfrcar se os me10s de prava nao foram parcialmente selecionados e se a
a~ostra de c~sos representa alguns, poucos, muitos, a maioria, a grande maio-
34. SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; FOGELIN, Robert. Understanding Arguments: an
na ou a totahda~e daqueles acorridos, no caso de inferencia causal, e se serve
Introduction to Informal Logic. 9. ed. Stanford: Cengage, 2015. p. 186. de suporte razoavel para a conclusa.o, no caso de inferencia lógica.
35. SOCCIO, Douglas; BARRY, Vincent. Practical Logic. 5. ed. Belrnont: Wadsworth Cen-
gage, 1998. p. 12.
36. KAHANE, Howard; CAVENDER, Nancy. Logic and Contemporary Rhetoric. Belrnont: 40. Idem.
Thornson!Wadsworth, 2006. p. 62
37. DAMER, Edward. Attacking Faulty Reasoníng. 6. ed. Belrnont: Wadsworth Cengage,
41. DAMER, Edward. Attacking Faulty Reasoning. 6. ed. Belrnont· Wadsworth e ,
2009. p. 97. . engage,
2009. p. 173 e 194. 42.
38. SOCCIO, Douglas; BARRY, Vincent. Practícal Logic. 5. ed. Belrnont: Wadsworth Cen- HAACK, Susan'. Epistemology Legalized. Evidence Matters. Science, Proof and Truth in
theLaw. Cambridge: CUP, 2014. p. 30.
gage, 1998. p. 157. 43.
LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestio Facti. Ensayos sobre prueba causalidad y ·.
39. KELLEY, David. TheArt ofReasoning. 3. ed. NewYork: Norton, 1998. p. 458. Lrma: Palestra, 2005. p. 83. ' accwn.
REVISTA DE PRomso 2018 • REPRo 282 TEORI.!\ GERAL DO PROCESSO 13'
130

A variedade dos meios de prova nao depende apenas de sua extensao, mas possui esse tipo de veículo. Tal procedimento, todavia, resultará insuficiente,
também de sua qualidade. Ela deve ser suficientemente diversificada para permi- dada a possibilidade de que todas as pessoas consultadas tenham adquirido
tir urna inferencia capaz de justificar a conclusao, isto é, deve considerar todo o mesmo modelo, do mesmo vendedor e comos mesmos opcionais, de sorte
e qualquer fato ou propriedade do fato que possa alterar a conclusao. Urna
44 que eventuais problemas poderao decorrer de um desses fatores comuns, e nao
conclusao indutiva baseada em urna amostra parcial também pode conduzir a propriamente do fato de o veículo ser da marca "X". A conclusa o a respeito
falácia da conclusao apressada: pode-se chegar a conclusao combase em fato desse veículo só poderá ser considerada suficientemente justificada, portanto,
atípico ou excepcional que, como tal, nao seja representativo de todos os casos se derivar do exame de automóveis de diferentes anos, com diferentes opcio-
nais e adquiridos de diferentes revendedores. 48
nem de sua maioria. 45
Tres exemplos permitem ilustrar a importancia desse critério. Primeiro O critério da variedade dos meios de prova é, como se ve, essencial para
avaliar a abrangencia de um meio de prova, isto é, para saber se ele foi consi-
exemplo: ninguém pode concluir que urna moeda canadense nao funciona em
derado em todos os aspectos passíveis de alterar a conclusa.o nele baseada. A
urna máquina americana de venda automática depois de a ter testado somente
inobservancia desse critério pode igualmente produzir resultados como con-
algumas vezes. Por outro lado, o simples fato de o teste ter sido realizado mui-
dao de eliminar a for<;:a justificativa dos meios de prova utilizados. Primeiro,
tas vezes também nao altera automaticamente o resultado. É que, se foi usada
pode esconder determinada prova por considerar somente os fatos favoráveis
a mesma moeda em muitas máquinas diferentes, ou muitas moedas diferentes
a determinada conclusao, com exclusa.o de outros que a poderiam infirmar ou
na mesma máquina, é possível que haja alguma coisa errada com a moeda, no
de hipóteses alternativas passíveis de contrariar a hipótese havida como com-
primeiro caso, ou coma máquina, no segundo. 46 Em outras palavras, nao basta
provada.49 Segundo, pode levar a que se avaliem dados ou aspectos de dados
que os testes sejam numerosos; eles precisam considerar todos os casos ou as-
que nao sao representativos do conjunto de dados examinados (falácia da con-
pectos dos casos que possam potencialmente confirmar ou infirmar a conclu- clusa.o apressada). 50 Terceiro, pode fazer acentuar apenas alguns aspectos que
sao que se pretende sustentar. favorecem a conclusao, em detrimento de outros que a infirmam (falácia da
Segundo exemplo: se alguém precisa averiguar a qualidade dos tomates pre- enfase enganosa). 51 Quarto, pode levar a que se interpretem ou reinterpretem
sentes em um dado carregamento, deverá retirar amostras de diferentes partes os fatos a luz de urna preconcep<;:ao ou de um preconceito (falácia do precon-
do caminhao, inclusive de sua parte inferior. Como no transporte os tomates ceito) .52 Quinto, pode fazer assumir erroneamente que urna propriedade das
menores invariavelmente se alojam na parte inferior da carga, urna amostra partes de um todo é também urna propriedade do todo enquanto tal (falácia
proveniente apenas da parte superior (ou inferior) nao representaria a varieda- da composi<;:ao). 53
de presente em toda a carga. 47 Vale dizer, nao é suficiente examinar urna grande
quantidade de um objeto; é preciso também encontrar meios de considerar as
diferentes qualidades desse mesmo objeto. 48. KELLEY, David. TheArt ofReasoning. 3. ed. NewYork: Norton, 1998. p. 457.
Terceiro exemplo: um dado consumidor está considerando comprar um 49. SOCCIO, Douglas; BARRY, Vincent. Practica! Logic. 5. ed. Belmont: Wadsworth Cen-
veículo da marca "X", para o que irá conferir o grau de satisfa;:ao de quem gage, 1998. p. 300.
50. SOCCIO, Douglas; BARRY, Vincent. Practica! Logic. 5. ed. Belmont: Wadsworth Cen-
gage, 1998. p. 286. DAMER, Edward. Attacking Faulty Reasoning. 6. ed. Belmont:
Wadsworth Cengage, 2009. p. 163.
44. KELLEY, David. TheArt ofReasoning. 3. ed. NewYork: Norton, 1998. p. 457. 51. DAMER, Edward. Attacking Faulty Reasoning, 6. ed. Belmont: Wadsworth Cengage,
45. SOCCIO, Douglas; BARRY, Vincent. Practica1 Logic. 5. ed. Belmont: Wadsworth Cen- 2009. p. 126.
gage, 1998. p. 271. DAMER, Edward. Attacking Faulty Reasoning. 6. ed. Belmont: 52. SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; FOGELIN, Robert. Understanding Arguments: An
Wadsworth Cengage, 2009. p. 163. Introduction to Informal Logic. 9. ed. Stanford: Cengage, 2015. p. 187.
46. SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; FOGELIN, Robert. Understanding Arguments: An 53. DAMER, Edward. Attacking Faulty Reasoning, 6. ed. Belmont: Wadsworth Cengage,
Introduction to Informal Logic. 9. ed. Stanford: Cengage, 2015. p. 186. 2009. p. 140; SOCCIO, Douglas; BARRY, Vincent. Practica! Logic. 5. ed. Belmont:
4 7. SOCCIO, Douglas; BARRY, Vincent. Practica! Logic. 5. ed. Belmont: Wadsworth Cen- Wadsworth Cengage, 1998. p. 120; KELLEY, David. TheArt ofReasoning. 3. ed. New
York: Norton, 1998. p. 145. '
gage, 1998. p. 265.
132 R=. ST.º ::·:: PRocESso 2018 • REPHo 282 TEORIA GERAL DO PROCESSO 133

O c1ité1io da concordancia diz respeito a combinac;:ao entre os meios de pro- insuficiente significa apenas dois meios de prava irrelevantes e insuficientes. E
'"ª· isto é, a sua capacidade de confluir na mesma direc;:ao e de nao contrariar assim por diante. Nada mais do que isso.
o conjunto probatório. Tal critério corresponde a seguinte pergunta, a ser res-
Tais observac;:óes sao essenciais para afastar a falácia de que urna hipótese
pondida pelo julgador: fazem sentido os meios de prava quando examinados
pode ser considerada comprovada pelo simples fato de o processo conter mi-
em conjunto? Sua func;:ao principal é a de verificar se os meios de prava apon-
lhares de documentos. O mero número de documentos, insista-se, nada tem a
tam para a mesma direc;:ao, nao entram em conflito uns comos outros e se
dizer de sua relevancia e suficiencia como meio de prava para a confirmac;:ao
apoiam reciprocamente. Daí ser o critério da concordancia cumprido quando da ocorrencia de determinada hipótese.
observados os requisitos da convergencia, da consistencia e da coerencia.
O essencial, até aquí, é demonstrar que os meios de prava devem ser ad-
O requisito da convergencia conota a exigencia de que os meios de prava
missíveis e suficientes para servir de fundamento e esteio da hipótese acusa-
apontem para a mesma direc;:ao, isto é, que permitam inferencias capazes de
tória. Para que sejam admissíveis, devem obedecer aos critérios da licitude,
dar suporte a mesma conclusao. 54 Desse modo, se o indício "X" suporta a hi-
da confiabilidade, da precisáo e da relevancia. -Para que sejam considerados
pótese "A", mas o indício "Y" suporta a conclusao "B", havendo os indícios a
suficientes, devem satisfazer os critérios da abrangencia, da variedade e da
mesma forc;:a, nao é dado concluir pela comprovac;:ao da hipótese "A". Os in-
concordancia. Pois bem, analisados os critérios a que devem se submeter os
dícios, nesse caso, seriam equiprováveis, razao por que nao poderia a hipótese
meios de prava, impende agora examinar os requisitos que devem ser cumpri-
ser considerada suficientemente suportada.
dos pela inferencia realizada entre os meios de prava e a hipótese. É o que se
O requisito da consistencia conota a exigencia de que os meios de prava passa a fazer.
nao entrem em conflito uns com os outros. Assim, se o indício "X" suporta a
hipó tese "A", mas o indício "Y" suporta a conclusao "nao A", há entre as pro-
Yas urna contradic;:ao tal que a forc;:a probatória dos indícios se ve anulada.
a
3.3. Critérios relativos inferencia

O requisito da coerencia conota a exigencia de que os meios de prava es- Os meios de prava terao forc;:a probatória maior em razao da validez do cri-
tejam concatenados entre si. Haverá concatenac;:ao quando os meios de prava tério inferencial aplicado. 56 Esta depende do preenchimento dos critérios da
estiverem estruturados como urna cadeia, de maneira que se possa afirmar que suficiencia da fundamentac;:áo lógica e da suficiencia da probabilidade causal.
o meio de prava "C" decorra do "B" e este advenha do "A". Nessa ilustrac;:ao, · O critério da suficiencia da fundamenta¡;ao lógica aplica-se aos casos de in-
maís do que mera acumulac;:ao, há verdadeira concatenac;:ao entre os meios de ferencia probatória, isto é, aqueles em que o raciocínio envolve a relac;:ao infe-
prava "A", "B" e "C". rencia! entre enunciados (premissas e conclusao). Nesses casos, pode-se falar
Logo, percebe-se que o critério da convergencia nao é cumprido pela mera em "probabilidade inferencial" ou "grau de credibilidade" do raciocínio: a in-
acumulac;:ao de pravas. Se as pravas sao fracas, nao é a mera quantidade delas ferencia probatória dependerá do grau de suporte que as premissas prestam a
que lhes confere forc;:a. Nesse aspecto, convém recordar as palavras de Igartua conclusao, senda esse grau garantido por máximas da experiencia, por presun-
Salaverría: "A mera acumulac;:ao de dados indiciários (desde que inconsis- c;:óes ou por definic;:óes. 57
tentes e ambíguos) nao transforma o valor que eles tinham em sua origem As máximas da experiencia conotam regularidades comportamentais ad-
(BATTAGLIO, 1995: 419-420); assim, urna inconsistencia, sornada a tres in- vindas da avaliac;:áo racional da ac;:ao humana. Desse modo, tanto maior será
consistencias mais, resulta em quatro inconsistencias" .55 Vale dizer: um meio o grau de confirmac;:áo da hipótese quanto mais bem fundamentadas forem
de prava irrelevante e insuficiente sornado a outro meio de prava irrelevante e as máximas em regras científicas e em conhecimentos sedimentados sobre as

54. SALAVERRÍA, Juan Igartua. Los indicios tomados en serio. In: GOMERO, Santiago 56. SALAVERRÍA, Juan Igartua. Los indicios tomados en serio. In: GOMERO, Santiago
Ortega. (Org.). Razonamiento e Interpretación Jurídica. Lima: Ara, 2009. p. 506. Ortega. (Org.). Razonamiento e Interpretación Jurídica. Lima: Ara, 2009. p. 483.
55. SALAVERRÍA, Juan Igartua. Los indicios tomados en serio. In: GOMERO, Santiago 57. LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestio Facti. Ensayos sobre prueba, causalidad y acción.
Ortega. (Org.). Razonamiento e Interpretación Jurídica. Lima: Ara, 2009. p. 501-502. Lima: Palestra, 2005. p. 62 e 85.
134 RE.ISTA DE PROCESSO 2018 • REPRO 282 TEORIA GERAL DO PROCESSO 135

regularidades. 58 As máximas assumem a seguinte estrutura: "Se X, entao é pro- pela máxima da experiencia, menor será a probabilidade inferencial de confir-
Yável Y". Por exemplo, segundo a máxima denominada "princípio da econo- mac;:ao da hipó tese final. 60
mia do comportamento humano", para atingir determinado fim o ser humano Examinados os critérios que devem ser satisfeitos tanto pelos meios de pro-
que age racionalmente costuma empregar o meio adequado mais simples, e va quanto pela relac;:ao entre estes e a hipótese, resta agora analisar os critérios
nao o mais complexo. Assim, na cena do crime foram encontrados resquícios que devem ser preenchidos pela hipótese.
de balas de dois calibres diferentes, duas armas devem ter sido utilizadas; tal
circunstancia permitiria sustentar duas hipóteses, a saber: a de que dois indi- 3.4. Critérios relativos ahipótese
víduos participaram dos disparos ou a de que um único indivíduo fez uso de
duas armas. Coro base na referida máxima, é de supor que o emprego de duas A hipótese só poderá ser considerada comprovada se preencher os cri-
armas por duas pessoas parece de mais simples execm;:ao que a hipótese alter- térios da refutabilidade, da derivac;:ao, da singularidade, da coerencia e da'
nativa. 59 simplicidade. 61
As presun¡;óes conotam a consequencia legal aplicada a determinados fa- O critério da refutabilidade concerne a inexistencia de provas que contrariem
tos que se reputam comprovados por simples incidencia de urna hipótese le- ou refutein, direta ou indiretamente, a hipótese havida como comprovada. Tal
gal. Elas revestem-se da seguinte estrutura: "Se X, entao está provado Y". Por critério corresponde a seguinte pergunta, a ser enfrentada pelo julgador: terá
exemplo, presume-se comprovada a distribui<;:ao disfan;:ada de lucros sempre sido a hipótese contestada por indícios que apontavam para conclusa.o diver-
que a sociedade vende um bem a um dos seus sócios por valor inferior ao de sa? Sua func;:ao principal é a de avaliar se os meios de prava analisados nao
mercado, cabendo ao interessado provar o contrário caso nao queira que a con- fundamentariam outra conclusao ou, no mínimo, neutralizariam a conclusao
sequencia legal seja aplicada. havida como comprovada. Por exemplo, urna hipótese nao pode ser considera-
As defíni<;óes explicam quais sao as propriedades que devem estar presentes da comprovada se sua veracidade resulta incompatível com outra informac;:ao
considerada comprovada no mesmo processo.
para que um caso possa ser considerado incluído em um conceito. Elas sao
constituídas do seguinte modo: "X conta como provado Y". Por exemplo, urna O critério da deriva¡;ao diz respeito a necessidade de concatenac;:ao entre a
sarn;ao pecuniária pode ser definida como urna penalidade ("A") em dinheiro hipótese principal e as hipóteses dela derivadas, de tal sorte que a probabili-
("B") a ser paga em razao do cometimento de urna infrac;:ao ("C"). Assim, sem- dade de a hipótese principal ser verdadeira aumentará se as hipóteses dela de-
pre que um caso possuir as propriedades "A", "B" e "C", será caracterizado ou rivadas também o forero. Tal critério corresponde a seguinte indagac;:ao, a ser
contará como urna sanc;:ao pecuniária. enfrentada pelo julgador: as hipóteses derivadas também foram comprovadas?
O critério da suficiencia da probabilídade causal aplica-se aos casos de indu- Sua func;:ao primordial é a de avaliar se a hipótese é confirmada ou infirmada
c;:ao generalizadora, isto é, aqueles em que o raciocínio envolve a correlac;:ao por hipóteses correlacionadas. Por exemplo, seja a hipótese principal a de que
causal (que admite excec;:oes) entre acontecimentos (causas e efeitos). Nesses urna dada epidemia foi causada por infecc;:ao. decorrente de má higiene dos
casos, pode-se falar em "probabilidade causal": a induc;:ao generalizadora de- médicos; a comprovar-se a hipó tese derivada de que tal infecc;:ao diminuirá se
penderá do grau de probabilidade de ocorrencia de um evento em decorrencia houver higiene adequada, cresce a probabilidade de ter sido ela realmente cau~
sada por falta de higiene, e nao por outro motivo. 62 .
de outro, sendo esse grau garantido por máximas da experiencia que assegu-
rem, com alto grau de probabilidade, que, ocorrendo um fenomeno, outro se
(lhe) seguirá. Assim, quanto menor for o grau de probabilidade expressado
60. LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestio Facti. Ensayos sobre prueba, causalidad y acción!
Lima: Palestra, 2005. p. 87.
58. Ibídem. p. 86. 61. Ibídem, p. 88 e ss.
59. SALAVERRÍA, Juan Igartua. Los indicios tomados en serio. In: GOMERO, Santiago 62. LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestio Factí. Ensayos sobre prueba, causalidad y acción.
Ortega. (Org.). Razonamiento e Interpretación Jurídica. Lima: Ara, 2009. p. 498. Lima: Palestra, 2005. p. 90.

"·-·· 11 ...--1--....L.- T- ,.:_ -1- - - - · · - · -L---1---1-..I- -··-··- ___ __ :.1....!-'.-- ..l- --1!..l-- J_ !-L--~--:- ---L-.t....!:-!-
136 RE•/15TA DE PROCESSO 2018 • REPRO 282 TEORIA GERAL DO PROCESSO

O c1ité1io da singulandade respeita a exigencia de que tenham sido afastadas armas diferentes e as ter levado para o local do crime, teria ainda urna razao
as hipóteses alternativas. Ele traduz o seguinte questionamento, de que deverá para usar essas duas armas ero vez de optar pelo mais fácil, barato e eficiente:
se ocupar o julgador: foram eliminadas as hipóteses alternativas no curso da comprar urna só e dar mais tiros coro ela. O presente critério, portanto, nada
comprovac;:ao da hipótese principal? Sua func;:ao básica é a de avaliar a credibili- mais faz que testar a verossimilhanc;:a da hipótese acusatória a fim de verificar
dade de urna hipótese em razao de sua confrontai;ao com hipóteses alternativas. se ela é plausível ou provável, e ero que medida o é, ou se nao passa de uro ex-
Por exemplo, se na arma de que partiu o tiro que matou alguém foram encon- travagante e fantástico devaneio do intérprete.
tradas as digitais de duas pessoas, os indícios apontam indistintamente para
duas hipóteses coro o mesmo grau de probabilidade, nao se podendo considerar
comprovada nenhuma delas por ausencia de probabilidade prevalente. 63
CoNcLusóEs
O criténo da coerencia refere-se a exigencia de que a hipótese acusatória seja As considerac;:6es anteriores permitem chegar a conclusáo de que as provas
compativel com o resto do conhecimento de que se dispoe. Ele representa o diretas e indiretas dependem da forc;:a do raciocínio indutivo. Isso porque, in-
seguinte questionamento, a ser respondido pelo julgador: a hipótese está em dependentemente da veracidade das premissas, a conclusao é apenas provavel-
harmonía coro outros dados havidos como verdadeiros? Sua func;:ao primordial mente verdadeira, urna vez que novas informac;:oes podem alterá-las. Tal forc;:a,
é a de avaliar a credibilidade de urna hipótese ero razao de seu confronto coro · a seu turno, é func;:ao do standard (requisitos que devem ser satisfeitos para que
outros conhecimentos. Por exemplo, urna hipótese nao poderá ser considera- os fatos possam ser considerados comprovados) e da robustez das provas (ade-
da comprovada se sua veracidade resultar incompativel com o conhecimento quac;:ao e suficiencia da hipó tese, dos meios de prova e do critério inferencial).
que se possui a respeito do funcionamento empresarial ou de um dado ramo Assim, só se poderá ter por comprovada urna hipó tese se, e sornente se, cum-
de atividade. pridos forem os seguintes requisitos quanto aos meios de prova, a inferencia e
Finalmente, o clitélio da simplícidade diz respeito a exigencia de que a hi- a hipótese. Os meios de prova devem ser admissíveis e suficientes. Serao consi-
pótese acusatória seja simples. Ele invoca a seguinte questao, a ser enfrentada derados admissíveis se cumprirem os requisitos da licitude (serem acreditados
pelo julgador: está a hipótese condicionada a verificac;:ao de muítos passos para quanto ao objeto, ao método e aos meios), da confiabilidade (serem capazes de
ser considerada verdadeira? A questao central, aquí, reside na quantidade de eliminar a dúvida no destinatário), da precisao (terem o grau mínimo de exati-
inferencias necessárias para comprovar a hipótese. Quanto mais complexa for dao necessário para que a ilac;:ao nele baseada possa ser considerada suficiente
a hipótese acusatória, mais ila<;:oes serao necessárias para que ela fac;:a sentido e, para comprovar a alegac;:áo) e da relevancia (manterem pertinencia lógica, fática
consequentemente, mais pressuposii;oes deverao ser feitas para que o julgador ou causal coro a hipótese). Serao qualificados como suficientes se preencherem
consiga comprová-la. Sua func;:ao básica é a de avaliar a credibilidade de urna os requisitos da abrangencia (englobarem todos os dados relevantes para con-
hipótese ero decorrencia da quantidade de pressuposic;:6es necessárias a sua firmar ou infirmar a hipótese), da vanedade (provirem de diferentes fontes e se-
confirmac;:ao. 64 No exemplo anteriormente referido, ero que duas armas devem rem examinados por distintas perspectivas) e da concordéincia (confluírem para
ter sido utilizadas, urna vez que foram encontrados resquícios de balas de dois a mesma direc;:ao e nao contrariarem o conjunto probatório).
calibres diferentes na cena do crime, a hipótese de que uro único individuo te- A inferencia deve satisfazer os critérios da suficiencia da fundamentai;ao ló-
nha usado duas armas envolvería muito mais pressuposic;:6es do que a hipótese gica (as premissas devem fornecer um alto grau de suporte para a conclusao,
alternativa de que duas armas teriam sido empregadas por duas pessoas; seria este medido pela qualidade da fundamentac;:ao baseada em máximas da expe-
necessário pressupor que o autor dos disparos, além de ter comprado duas riencia, presunc;:oes e definic;:oes) e da suficiencia da probabilidade causal (deve
haver alto grau de probabilidade de que, ocorrendo uro dado fenéimeno, outro
se seguirá).
63. SALAVERRÍA, Juan Igartua. Los indicios tomados en serio. In: GOMERO, Santiago A hipótese deve preencher os critérios da refutabílidade (as provas nao po-
Ortega. (Org.). Razonamiento e Interpretación jurídica. Lima: Ara, 2009. p. 499. dem, direta ou indiretamente, contrariar a hipó tese), da derívai;ao (a hipótese
64. LAGIER, Daniel Gonzales. Quaestio Facti. Ensayos sobre prueba, causalidad y acción. principal <leve estar concatenada comas hipóteses derivadas), da singula1idade
Lima: Palestra, 2005. p. 91. (as hipóteses explicativas alternativas devem ter sido afastadas), da coerencia
138 RciíSTA DE PROCESso 2018 • REPRo 282 TEORIA GERAL DO PROCESSO 13

(deve haver compatibilidade da hipótese principal como conhecimento geral) RUDINOW, Joel; BARRY, Vincent E. Critical Thinhing. Belmont: Thomson
e da simplicidade (a hipótese principal deve poder ser comprovada sem a ne- West, 2008.
cessidade de um grande número de pressuposic;:óes). SALAVERRÍA,Juan Igartua. Los indicios tomados en serio. In: GOMERO, Santiago
Ortega. (Org.). Razonamiento e Interpretación jurídica. Lima: Ara, 2009.
As provas devem sustentar a hipótese, e nao a hipótese sustentar o exame
das provas. Assim, o argumento indutivo que nao satisfaz os requisitos para SINNOTT-ARMSTRONG, Walter; FOGELIN, Robert. UnderstandíngArguments:
An Introduction to Informal Logic. 9. ed. Stanford: Cengage, 2015.
que os fatos possam ser considerados comprovados e nao emprega provas mi-
nimamente robustas é incapaz de sustentar urna conclusao suficientemente SIRAGUSA, Mario. Antitrust and Merger Cases in Italy: Standard of Proof,
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