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Racionalidade argumentativa da Filosofia e a

dimensão discursiva do trabalho filosófico


Tese, argumento, validade, verdade e solidez
Teses, teorias e argumentos: Para quê?
Para responder aos problemas que colocam, os filósofos apresentam teses e teorias.
Uma tese corresponde a uma ideia que se quer afirmar a propósito de um dado problema.
No âmbito da filosofia, uma tese constitui uma resposta a um problema em aberto, estando,
por conseguinte, sujeita à discussão.
Para defende uma ideia, ou tese, é necessário construir bons argumentos.
Para assegurar a qualidade e o rigor dos argumentos dos argumentos que apoiam as suas
teses e teorias, os filósofos recorrem à lógica.

Lógica: O que é?
Disciplina filosófica que estuda a distinção entre argumentos corretos (válidos) e incorretos
(inválidos), mediante a identificação das leis e regras necessárias à operação que conduz da
verdade de certas crenças à verdade de outras.
Estudo das leis, princípios e regras a que devem obedecer o pensamento e o discurso para
serem válidos.
Existem dois tipos de lógica:
Lógica formal -> analisa a validade formal dos argumentos dedutivos.
Lógica informal -> analisa fundamentalmente a validade dos argumentos não dedutivos.

Argumento: o que é?
Conjunto de proposições devidamente articuladas.
Proposição
É nas frases que usamos no nosso discurso que encontramos expressas as proposições que
compõem os argumentos.

Proposições ≠ Frases
Nem todas as frases expressam proposições.
Só as frases declarativas.
Afirmam, negam, atribuem, declaram ou constatam alguma coisa.
O seu conteúdo pode ser considerado verdadeiro ou falso.

Exemplos de frases que não expressam proposições


Saia da minha frente! – Frase imperativa
Que belo jardim você tem! – Frase exclamativa
Quem sou eu? – Frase interrogativa
Farei o que me mandas fazer. – Frase que traduz uma promessa
Ajuda-me a transportar estes sacos. – Frase que expressa um pedido

Proposição: O que é?
Pensamento ou conteúdo, verdadeiro ou falso, expresso por uma frase declarativa.
NOTA: A mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases declarativas:
«Camões é o autor de Os Lusíadas.» = «O autor de Os Lusíadas é Camões.»
As frases ambíguas podem exprimir (pelo menos para quem as interpreta) mais do que uma
proposição:
«Joana encontrou Carlos com o seu irmão.» pode exprimir a ideia de que «Joana encontrou o
seu irmão com Carlos» ou que «A Joana encontrou Carlos com o irmão dele.».
REPARA QUE: Proposições (categóricas) -> Relacionam termos, de modo implícito ou
explícito. -> Termo -> É geralmente entendido como a expressão verbal do conceito.
Os carros elétricos são económicos.

O Conceito e o Juízo
Conceito -> Elemento básico do pensamento. -> Representação intelectual de determinada
realidade. -> O conteúdo dessa representação pode dizer respeito a uma classe de objetos ou
a uma realidade singular.
Juízo -> Operação mental que permite estabelecer uma relação entre conceitos e que está
subjacente à formação de proposições.
REPARA: O mesmo conceito pode ser expresso por termos diferentes sob o ponto de vista
linguístico («domicílio» e «residência») e o mesmo termo pode exprimir diferentes conceitos
(«nota», enquanto «apontamento», e «nota» enquanto «classificação»). Um termo pode ser
constituído por mais do que uma palavram exprimindo um único conceito: por exemplo,
«livros de arquitetura».

Argumentos
Exemplo
Os alunos da turma 1-A são estudantes de
Premissa Nexo
Antecedente Filosofia.
Premissa Katsuki e Kirishima são alunos da turma 1-A. lógico
Logo, Katsuki e Kirishima são estudantes de
Consequente Conclusão
Filosofia.

Indicador de
conclusão
Conclusão -> Um argumento tem subjacente uma inferência ou raciocínio, uma operação
mental através da qual chagamos a uma conclusão partindo de determinadas razões e
efetuando a transição lógica entre proposições.
ATENÇÃO: Não se enquadram na categoria de «argumentos» aqueles que são meros
conjuntos de proposições sem qualquer conexão lógica entre si.
Exemplo
Os portugueses são giros.
As cerejas fazem bem à saúde.
Logo, as férias devem continuar.
ATENÇÃO: Quando, num argumento, a transição lógica falha, algo está errado.
Exemplo
Os alunos da turma 1-A são estudantes de Filosofia.
Katsuki e Kirishima são estudantes de Filosofia.
Logo, Katsuki e Kirishima são alunos da turma 1-A.
REPARA: Neste exemplo, compreendemos facilmente que o facto de Katsuki e Kirishima
serem estudantes de Filosofia não implica que façam parte da turma 1-A. Neste sentido,
estaremos a cometer um erro de raciocínio, tornando o argumento inválido e, portanto, nada
convincente.
Alguns indicadores de premissa Alguns indicadores de conclusão
Porque. . . Logo. . .
Pois. . . Então. . .
Admitindo que. . . Por conseguinte. . .
Pressupondo que. . . Portanto. . .
Considerando que. . . Por isso. . .
Partindo do princípio de que. . . Consequentemente. . .
Sabendo que. . . Segue-se que. . .
Dado que. . . Infere-se que. . .
Uma vez que. . . Conclui-se que. . .
Devido a. . . É por esta razão que. . .
Como. . . Daí que. . .
Ora. . . Assim. . .
Em virtude de. . . Isso prova que. . .
Com efeito. . .

O Entimema
Os adolescentes são capazes de se A premissa «Todos os que são capazes de se
espantar perante o mundo. espantar perante o mundo são criativos»
É por esta razão que, os adolescentes encontra-se implícita, tendo sido suprimida.
são criativos.

Entimema -> Argumento em que uma ou


mias proposições são omitidas, Todos os que são capazes de se espantar perante
encontrando-se subentendida(s) – pode o mundo são criativos.
inclusive omitir-se a conclusão. Os adolescentes são capazes de se espantar
perante o mundo.
Logo, os adolescentes são criativos.

Argumentos dedutivos
A sua validade depende essencialmente da forma lógica do argumento.
Num argumento dedutivo válido é logicamente impossível que as premissas sejam
verdadeiras e, simultaneamente, a conclusão falsa.
Argumentos dedutivos válidos são especialmente apreciados pelos filósofos.
Estes argumentos preservam a verdade.
NOTA: Se as premissas forem verdadeiras e a conclusão falsa, então o argumento é inválido.
Exemplo
Todos os alunos são sensatos. Todos os alunos são sensatos.
Todos os jovens de dezasseis anos são Todos os jovens de dezasseis anos são
alunos. sensatos.
Logo, todos os jovens de dezasseis anos Logo, todos os jovens de dezasseis anos
são sensatos. são alunos.

Argumento dedutivo Argumento dedutivo


válido inválido
É logicamente impossível as duas A verdade da conclusão não é garantida
premissas serem verdadeiras e a conclusão pela verdade das premissas.
falsa.
Todos os A são B.
Todos os A são B.
Todos os C são B.
Todos os C são A.
Logo, todos os C são A.
Logo, todos os C são B.

Forma inválida
Forma válida
Pode haver argumentos dedutivos
inválidos com premissas e conclusão
Pode haver argumentos dedutivos válidos verdadeiras.
com premissas e conclusões falsas.
Exemplo
Exemplo
Todos os naturais de Lisboa são
Todos os portugueses são pintores. portugueses.
Bertrand Russell é português. Fernando Pessoa é português.
Logo, Bertrand Russel é pintor. Logo, Fernando Pessoa é natural de
Lisboa.

Argumento dedutivo formalmente válido -


> Argumento que tem uma forma lógica tal Argumento dedutivo formalmente inválido
que a verdade das premissas garante -> Argumento que tem uma forma lógica
sempre a verdade da conclusão, sendo tal que a verdade das premissas não
impossível que as premissas sejam garante a verdade da conclusão.
verdadeiras e conclusão falsa.

Argumentos sólidos
Argumentos válidos constituídos por premissas verdadeiras.
A solidez já pressupõe a validade.
Exemplos
Todos os portugueses são europeus.
João Sousa é português.
Logo, João Sousa é europeu.

Argumentos não dedutivos


A sua validade depende de aspetos que vão para lá da forma lógica do argumento.

Falácia
Argumento incorreto ou inválido, embora aparente ser válido.
Falácias formais -> Decorrem da forma lógica do argumento. São cometidas ao nível dos
argumentos dedutivos.
Falácias informais -> Resultam de aspetos que vão para lá da forma lógica do argumento.
São cometidas ao nível dos argumentos não dedutivos.

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