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O “audion” foi a primeira válvula termiónica capaz

de amplificação, inventada em 1906 por Lee de


Forest.
Com a sua invenção nasceu o mundo moderno!
Porque amplificação a válvulas?
Tecnologia muito antiga no entanto:
• Audiófilos acreditam que o som produzido é mais
natural
• Tecnologia preferencialmente utilizada para
amplificadores de guitarra
• Existe um sólido nicho de mercado para
amplificadores HiFi de topo de gama.
Válvulas vs Transístores
Tecnicamente um amplificador a transístores tem
quase sempre características superiores em relação
a um amplificador a válvulas, relativamente a largura
de banda, distorção, eficiência, factor de
amortecimento entre outros.

No entanto, porque é que um amplificador a


válvulas soa melhor?
Válvulas vs Transístores

O famoso som da válvula, será que realmente


existe? Estudos recentes dizem que sim.
Válvulas vs Transístores
•Quando em saturação, o corte do sinal (clipping) é “suave”, em oposição
à característica de corte forte dos amplificadores com transístores.

• Efeito de compressão, devido a uma fonte de alimentação com alta


impedância interna.

• Um som mais “cheio” devido à presença de harmónicos de ordem par


produzidos pela curva de resposta assimétrica (até mesmo para gamas de
pequeno sinal).

• Grande influência das características dos altifalantes devido à saída de


alta impedância do amplificador (baixo factor de amortecimento).
O que é uma válvula?
Elemento activo num circuito electrónico, capaz de
amplificação ou rectificação de um sinal eléctrico
O que é uma válvula?
Existem diversos tipos de válvulas: Díodos, Tríodos,
Pêntodos, entre outros. Estas designações estão
relacionadas com o número de eléctrodos internos
da válvula.
Por exemplo, uma válvula do tipo Díodo possui dois eléctrodos (um cátodo
e um ânodo) mais os filamentos. Um Tríodo possui 3 eléctrodos (cátodo,
ânodo, grelha) mais os filamentos.
Eléctrodos de uma válvula
Cátodo: pode ser considerado o coração, fonte
geradora de electrões necessários para se gerar
uma corrente.
Filamento: tem como função aquecer o cátodo para
este poder gerar electrões livres.
Ânodo (ou placa): tem como função receber os
electrões emitidos pelo cátodo. Encontra-se a uma
tensão positiva em relação ao Cátodo.
Eléctrodos de uma válvula
Grelha: é normalmente composta por um fio em
forma espiral que envolve o cátodo. Tem como
função controlar a corrente que flui do cátodo para o
ânodo, através da aplicação de uma tensão negativa
em relação ao cátodo, repelindo assim alguns
electrões que de outra forma viajariam para o ânodo.
Um factor importante, é que uma pequena quantidade de tensão negativa
na grelha pode controlar uma grande excursão de corrente entre cátodo e
o ânodo.
Eléctrodos de uma válvula
Símbolo elétrico da válvula
Díodo
Este tipo de válvula tem 2 electrodos. Utiliza-se
principalmente em fontes de alimentação para
rectificação de corrente AC.
Aplicando uma tensão positiva no ânodo, a nuvem
de electrões que rodeiam o cátodo aquecido, serão
atraídos originando assim, corrente eléctrica. Logo
aplicando uma tensão alternada só existirá corrente
quando a tensão for positiva no ânodo em relação ao
cátodo. Desta forma a corrente vai ser rectificada em
meia-onda, só fluindo num sentido.
Díodo
Tríodo
Possui 3 eléctrodos (ânodo, cátodo, grelha) mais
filamentos. Tendo uma tensão positiva no ânodo e
aplicando uma tensão cada vez mais negativa à
grelha, vai-se repelir cada vez mais eletrões que de
outra forma chegariam ao ânodo. Em oposição, uma
tensão de grelha cada vez menos negativa, vai
permitir uma maior afluência de electrões ao ânodo.

Exemplos destas válvulas são as ECC81, ECC82,


ECC83 (preamp) e 300B, PX4, 2A3 (poweramp)
Tríodo
Tirando partido deste fenómeno, se aplicarmos um
pequeno sinal na grelha é possível uma grande
variação de corrente no ânodo de acordo com o sinal
da grelha.

Funcionando assim como um amplificador de


sinal!
Tríodo

ECC81

300B
Curva característica de um Tríodo
Tríodo
De notar que se formam capacidades parasitas entre
os diversos eléctrodos do tríodo. Essas capacidades
parasitas vão limitar a performance do tríodo a altas
frequências. A capacidade entre a grelha e o ânodo
é provavelmente a mais critica, visto sofrer muitas
vezes das condições do efeito de Miller, sendo o seu
valor multiplicado.
Tétrodos e Pentodos
Apesar dos tríodos possuírem algumas vantagens
como válvulas amplificadoras, tais como baixo ruído
e distorção reduzida, sofrem de uma capacidade
parasita entre a grelha e o ânodo de cerca de 2.5 pF.

A resposta para este problema surgiu com a


invenção do tétrodo.
Tétrodos e Pentodos
Na válvula do tipo tétrodo introduz-se mais uma
grelha entre a grelha de controlo e o ânodo, sendo
essa grelha conhecida como grelha screen.
Conseguimos assim reduzir a capacidade entre
ânodo-grelha. Outro efeito consequente da inclusão
da grelha screen é tornar a corrente de ânodo
“quase” independente da tensão de ânodo na sua
região linear (tal como nos transístores).
A grelha screen normalmente está ligada a uma
fonte de tensão positiva.
Tétrodos e Pentodos
No entanto, infelizmente quando a tensão de ânodo
baixa para valores inferiores a da tensão da grelha
screen, alguns electrões que embatem no ânodo
podem provocar emissão secundária do ânodo para
a grelha screen, visto esta encontrar-se a uma
tensão mais elevada que o ânodo. Isto causa uma
“cova” na curva de características corrente/tensão da
válvula. Esta alteração na curva de característica,
introduz um nível de distorção inaceitável em áudio.
Tétrodos e Pentodos
Para resolver este problema surgiram duas soluções:
Uma das soluções foi a invenção do pêntodo,
recorrendo à simples mas eficaz ideia da introdução
de mais uma grelha entre a grelha screen e o ânodo
da válvula, esta grelha é conhecida como grelha
supressora. A grelha supressora está normalmente
ligada ao cátodo e tem como função eliminar
quaisquer emissões secundárias do ânodo. A esta
válvula chama-se de pêntodo.

Exemplos destas válvulas são as EF86 (preamp)


EL34 e EL84 (poweramp)
Tétrodos e Pentodos

EL34

EF86
Tétrodos e Pêntodos

Elementos de uma EL84


Tétrodos e Pêntodos
A outra solução encontrada foi alinhar os fios da
grelha de controlo e grelha screen por forma a que a
corrente de electrões entre cátodo/ânodo ocorra na
forma de feixes (beams). A formação desses feixes é
tal que se formam pontos de elevada concentração
de eletrões entre a “screen” e o ânodo formando-se
assim uma grelha “supressora” virtual que impede
eficazmente a emissão secundária.
Tétrodos e Pêntodos
Estas válvulas são
conhecidas como beam-
tétrodos e normalmente
possuem menor distorção
que pêntodos de potência e
menor consumo na grelha
screen.
Exemplos destas válvulas
são as 6L6 e KT88
Nota: KT88, KT - kinkless
tetrode
Tétrodos e Pentodos
Parâmetros da Válvula
Gm – transcondutância é aproximadamente igual à
relação existente entre uma pequena variação
produzida na corrente de placa (ânodo) e a variação
na tensão de grelha, isto mantendo a tensão de
ânodo constante.
Rp – resistência interna é aproximadamente igual à
relação existente entre uma pequena variação entre
a tensão de placa (ânodo) e a consequente variação
na corrente de placa, isto quando a tensão de grelha
se mantém constante.
Parâmetros da Válvula
µ – factor de amplificação é aproximadamente
igual à relação existente entre uma pequena
variação na tensão de placa e a variação
necessária na tensão de grelha para que a
corrente de placa adquira de novo o valor de
corrente anterior.
Parâmetros da Válvula
Parâmetros da Válvula
Estes parâmetros, gm, rp, não são constantes,
variam com a temperatura do cátodo, corrente da
placa e tensão da placa. No entanto µ é um dos
parâmetros que menos varia na válvula.
Modelos para pequenos sinais
Topologia de um Amplificador a Válvulas
Topologia de um Amplificador a Válvulas
O pré-amplificador é o principal responsável pelo
ganho em tensão do amplificador. É também o
principal responsável pela performance sinal/ruído
no amplificador, visto que qualquer ruído gerado por
este andar será amplificador pelos andar
consequentes. Deve ser um circuito de baixo ruído,
baixa distorção e que possuía um bom PSRR –
power supply rejection ratio.
O circuito mais utilizado para pré-amplificação é o
cátodo comum.
Topologia de um Amplificador a Válvulas
A função do circuito inversor de fase é fornecer ao
andar final push-pull dois sinais idênticos mas
desfasados entre si, 180º. Ao contrário dos
transístores em que existe componentes
complementares (ex. NPN e PNP), tal não sucede
nas válvulas. Logo, para podermos excitar um andar
push-pull em classe AB ou classe B é necessário
que cada válvula dos pares push-pull recebam sinais
desfasados 180º entre si.
Topologia de um Amplificador a Válvulas
O andar Driver, tem como função amplificação
adicional ao sinal para alimentar o andar de saída.
Muitas vezes tal não é necessário e este andar não é
implementado.
O andar de saída normalmente opera em Classe A
ou Classe AB, raramente em Classe B, pois não se
adequa a aplicações HiFi devido principalmente à
distorção de crossover e ao aumento da distorção
harmónica. Configurações podem ser single-ended
ou push-pull.
Amplificador Cátodo Comum

A topologia mais popular para a amplificação de


pequenos sinais utilizando válvulas é o
Amplificador Cátodo Comum.
Amplificador Cátodo Comum
A tensão entre ânodo-cátodo e grelha-
cátodo, controla a corrente de ânodo.
A grelha é usada como entrada de sinal e o
ânodo como saída. VAA é uma fonte de
alimentação de alta tensão (tipicamente
>100V). Ci e Co fornecem isolamento DC.
Corrente flui pela resistência Rk o que vai
impor uma tensão positiva no cátodo.

Como não existe corrente de grelha, podemos


utilizar uma resistência de valor elevado Rg para
referênciar a grelha à massa e manter a
impedância de entrada do circuito elevada.
Garantimos assim que a tensão Vgk será sempre
negativa, necessária ao bom funcionamento do
circuito.
Amplificador Cátodo Comum
Notar no entanto que Rk introduz
realimentação negativa, influenciando as
condições AC, modificando o ganho e
impedância de saída do circuito. Caso isso
não seja desejado, um condensador de
bypass Ck pode ser introduzido em paralelo.

Para a válvula amplificar de uma forma linear


com o mínimo de distorção possível, é
necessário configurar e polarizar o circuito
corretamente. As curvas características da
válvula é das ferramentas mais úteis para essa
função.
Amplificador Cátodo Comum

Utilizando como exemplo RL=24k e VAA=250V.


Através da cuva de características e da recta
de carga, podemos estabelecer um ponto de
polarização (por exemplo Vgk= -4V), averiguar
ganho em tensão do circuito e parâmetros da
valvula nesse ponto de polarização, µ, gm, ra
Amplificador Cátodo Comum

Sem o condensador Ck em paralelo com Rk, RS = a resistência de saída


existe uma realimentação local, o que seria da fonte de sinal

benéfico aumentando a linearidade do circuito.


No entanto observamos pela formula acima
que a impedância de saída do circuito
aumenta drasticamente, sendo assim essa
solução raramente é aplicada.
Amplificador Cátodo Comum
Resposta a altas frequências

As capacidades parasitas da válvula


afectam a performance a altas frequências
Amplificador Cátodo Comum
Resposta a altas frequências

Normalmente devido ao efeito de


Miller o polo dominante é Wp1

Frequência de corte a -3dB


Amplificador Cátodo Comum
Resposta a baixas frequências

A performance a baixas frequências do circuito é afectada pelas


capacidades maiores (Ci, CK and Co)

Frequência de corte a -3dB


Inversor de Fase – “Concertina”

Se RA=RK os sinais no ânodo e cátodo vão ser


semelhantes mas em oposição de fase. Apesar da
sua simplicidade este circuito tem ganho <1 e não
é muito linear dado que as saídas vem de
eléctrodos diferentes
Inversor de Fase – “Cátodo acoplado”
Inversor de Fase – “Cátodo acoplado”
Baseado num par diferencial.
Apresenta duas vantagens
perante o inversor de fase
anterior:
• ganho >1
• saídas tem a mesma
impedância
Como desvantagem, os sinais não tem a
mesma amplitude nas suas saídas mas se
escolhermos valores diferentes para as
resistências de placa de cada válvula é
possível compensar isso.
Andar de Saída – Single Ended
• Opera em Classe A
• É possível ligar mais
de que uma válvula em
paralelo para aumentar
a potência de saída.
• Bastante ineficiente em
termos de consumo.
Andar de Saida – Push-Pull
Andar de Saída – Push-Pull
• Opera normalmente em Classe AB1
• Distorção harmónica de ordem par
é eliminada.
• Correntes de polarização das
válvulas atravessam o transformador
de saída em sentidos oposto,
cancelando-se mutuamente.

Para a mesma potência o transformador de saída pode ser mais pequeno


pois apenas tem que lidar com corrente de sinal. As corrente quiescentes
das válvulas devem ser idênticas, caso contrario ocorrerá magnetização
DC no núcleo do transformador e aumento de distorção harmónica
Andar de Saída – Push-Pull
Dado que os tríodos geram principalmente
harmónicos de ordem par, a sua eliminação
por este circuito é vantajosa.
Os pêntodos geram principalmente
harmónicos de ordem impar (considerados
mais desagradáveis pelo ouvido humano)

As válvulas pêntodos ligadas em modo pêntodo puro não são muito


aconselhadas para aplicações HiFi devido aos harmónicos gerados de
ordem impar, deixam de ser mascarados audivelmente pelos de ordem
par.
Para colmatar este fenómeno, normalmente utilização uma quantidade
apreciável de realimentação negativa.
Transformador de Saída
As válvulas de potência do andar final estão
normalmente ligadas a um transformador de saída.
Este dispositivo converte no seu primário as tensões
elevadas necessárias à operação das válvulas para
tensões mais baixas no seu secundário. Converte as
correntes baixas das válvulas em correntes mais
elevadas apropriadas para controlar altifalantes
modernos. Basicamente trata-se de um adaptador
de impedâncias.
Transformador de Saida
Relação entre o primário e o secundário
As válvulas não conseguem fornecer directamente grandes correntes.
Elas podem apenas fornecer correntes de alguns miliamperes, que não é
suficiente para controlar os altifalantes. Sendo assim, é necessário um
transformador de saída para converter a baixa impedância dos altifalantes
numa alta impedância próxima da impedância interna das válvulas de
saída.
Amplificadores OTL
(Output transformer-less)
A ideia por detrás deste conceito é eliminar o transformador de saída,
visto que é normalmente o elo mais fraco da cadeia de amplificação.

No entanto controlar directamente baixas impedâncias não é “natural”


para as válvulas

Válvulas especiais podem ser utilizadas, que normalmente nem foram


desenhadas para áudio.

Normalmente a configuração utilizada é uma variante do ânodo comum


com varias válvulas em paralelo (existem versões comerciais com 16
válvulas em paralelo por canal) utilizando bastante realimentação
negativa, tudo por forma a baixar a impedância de saída do andar final.
Fonte de Alimentação
A fonte de alimentação de um amplificador a válvulas é normalmente
composta por 2 ou 3 tensões principais:

• Alta-tensão conhecida como B+, é uma tensão que pode ter valores
desde 250V até 500V

• Tensão para filamentos das válvulas. Esta tensão depende das válvulas
empregues. Valores típicos são 6.3V, 5V e 12V.

• Tensão negativa. Esta tensão é necessária para os andares de saída


que não utilizam resistência de cátodo. É uma tensão variável através de
um potenciómetro. A tensão normalmente varia entre -10V e -60V.
Fonte de Alimentação
Exemplo de um Amplificador a válvulas comercial

JoLida
SJ-502B
Receptor Super Heterodino
Receptor Super Heterodino

cos(x) x cos(y)=1/2cos(x-y)+1/2cos(x+y)
Receptor Super Heterodino

Marconiphone 256 (1932)


Receptor Super Heterodino

Marconiphone 256 (1932)


Bibliografia
• Morgan Jones. Valve Amplifiers. United Kingdom: Newnes, Oxford, 3rd
edition, 2003.

• Ir. Menno van der Veen. Modern High-End Valve Amplifiers based on
toroidal output transformers, England: Elektor Electronics, Dorchester.

• Rainer Zur Linde, Build Your Own Audio Valve Amplifiers, Elektor
Electronics, July, 1995

• Ricardo Faro. Amplificador de áudio integrado a válvulas controlado por


microprocessador. Final rep., FEUP, Porto, July 2006.

• Tiago Campos. Amplificador a válvulas controlado, FEUP Julho, 2011


Obrigado pela vossa atenção
Ricardo Faro (Eng. Eletrotécnico)
Ivo C. Faro – Técnicos de Eletrónica
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4250-431 Porto
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