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ANTÓNIO NOBRE

FRANCISCA FARIA
“AQUI SOBRE ESTAS ÁGUAS COR DE AZEITE”

• Aqui, sobre estas águas cor de azeite,


cismo em meu Lar, na paz que lá havia:
Carlota, à noite, ia ver se eu dormia
e vinha. de manhã, trazer-me o leite.

Aqui, não tenho um únito deleite!


Talvez-... baixando. em breve, à Água fria,
sem um beijo, sem uma Avé-Maria,
Sem uma flor, sem o menor enfeite!

Ah pudesse eu voltar à minha infância!


Lar adorado, em fumos, a distância,
ao pé de minha Irmã, vendo-a bordar;

Minha velha Aia! Conta-me essa história


que principiava, tenho-a na memória,
"Era uma vez..."
Ah deixem-me chorar!
“Ó VIRGENS QUE PASSAIS”

• Ó virgens que passais, ao sol-poente,


Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente
Que me transporte ao meu perdido lar...

• Cantai-me, nessa voz omnipotente,


O sol que tomba, aureolando o mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!

• Cantai! cantai as límpidas cantigas!


Das ruínas do meu lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas

• Que eu vi morrer n'um sonho, como um ai...


Ó suaves e frescas raparigas;
Adormecei-me n'essa voz... Cantai! 
“BALADA DO CAIXÃO”

• O meu vizinho é carpinteiro,


Algibebe de Dona Morte.
Ponteia e cose o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mogno, debruados de veludo,
Flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vai a aborrecer,
Fui-me lá ontem: (era Entrudo,
Havia imenso que fazer...)
– Olá, bom homem! Quero um fato,
Tem que me sirva? – Vamos ver...
Olhou, mexeu na casa toda.
– Eis aqui um e bem barato.
– Está na moda? – Está na moda.
(Gostei e nem quis apreçá-lo:
Muito justinho, pouca roda...)
– Quando posso mandar buscá-lo?
– Ao pôr-do-Sol. Vou dá-lo ao ferro:
(Pôs-se o bom homem a aplainá-lo...)
Ó meus Amigos! Salvo erro,
Juro-o pela alma, pelo Céu:
Nenhum de vós, ao meu enterro,
Irá mais dândi, olhai!, do que eu!

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