Lenda

Lenda

 A lenda é uma narrativa oral criada pelo povo, que tenta explicar uma
realidade, tal como fenómenos da natureza, factos históricos ou nomes de
localidades. Pode ainda apresentar a razão para a existência de costumes
ou hábitos populares.
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 Combina factos históricos ou reais com a imaginação do povo.

 Normalmente, as suas personagens são humanas, mas podem ser também

elementos da natureza ou sobrenaturais.
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 O tempo é, normalmente, indefinido, mas o espaço é, muitas vezes,

concreto.

 De forma a que estas narrativas não sejam esquecidas, são passadas a

escrito por alguns autores que as recolhem. Estes autores utilizam
recursos expressivos para embelezar os textos.

 A palavra lenda vem do latim legenda, que significa «o que deve ser lido».
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Personagens não
Personagens Lenda da Madeira humanas
humanas
Conta-se que o Mar teve uma filha, D. Marinha, que casou
com D. Froiaz. Já de pequenos, os filhos do casal, os Marinhos, Elementos
punham o ouvido à escuta nos grandes búzios que tinham da praia maravilhosos,

acarretado e escutavam as histórias que o Mar, para entretê-los, de provenientes

da imaginação
lá de dentro lhes contava. Ninguém, como os Marinhos, conhecia os
do povo
segredos do Oceano.
Ora um dos Marinhos, o mais novo, a quem chamavam
Machico, ouvira muitas vezes falar das ilhas encantadas e muitos
marinheiros lhe contavam que as tinham conseguido ver, mas
jamais abordar.
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Personagens não
humanas
E o Marinho, tendo sabido que as ilhas eram tão formosas que numa
delas encontrara S. Brandão o Paraíso, concebeu dentro de si um ardente
desejo de ir à busca delas. E havendo carregado a sua boa barca de
mantimentos e de aparelhos necessários, o Machico partiu. Mais não
seriam andados que quatro ou cinco dias, quando, depois de ter seguido
em certa volta que lhe haviam ensinado, uma bela manhã, ele e os seus
homens viram no horizonte nuvens ou névoas que pousavam sobre o mar,
sinal certo de alguma ilha ou terra próxima.

Tempo
indefinido
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Cheio de alvoroço, o Machico seguiu naquela direção. De súbito a

névoa começou a descerrar-se como se invisíveis mãos apartassem
uma cortina para os lados. E viu-se um espetáculo tão belo que pelos Uso de
marinheiros passou um calafrio e alguns ajoelharam de pasmo sobre as recursos
tábuas da barca. Era uma das ilhas encantadas que se erguia para o céu, expressivos

como um altar de serras e arvoredos entornando ondas de cantos, de

cores e de perfumes sobre o Mar! Mas o que mais assombro lhes
causou foi ver que quantos animais habitavam a ilha não mostravam o
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menor receio daqueles novos habitantes. As focas, nunca por eles vistas, e
às quais puseram o nome de lobos-marinhos, deixavam-se ficar, se eles se
aproximavam, como se nada tivessem que temer.
Era tamanho o esplendor da ilha, a suavidade dos ares e a inocência
natural dos bichos, que o Machico se convenceu de ter aportado àquele
mesmo lugar do Paraíso.

Elementos
reais
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Elementos
reais
E porque a terra era toda coberta de florestas, como ele
nunca vira, chamou-lhe a ilha da Madeira. Aí há um lugar a que Explicação
Espaço chamam o Machico, do nome do seu descobridor, e outro do nome da
concreto Câmara de Lobos, pelo grande número de lobos-marinhos que ilha e das

ali viviam; e ainda hoje nessa ilha reina uma primavera eterna, localidades

como no tempo em que S. Brandão a visitou.

Criada pelo Jaime Cortesão, O Romance das Ilhas Encantadas, Lisboa, Vega, 1998
(texto com supressões)
povo e recolhida por
um escritor