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NICOLE: Oi.
NICOLE: Eu posso te passar algumas coisas até você ter o que pendurar. Quer a foto do Henry
na barca de Staten Island?
CHARLIE (cortando Nicole): Volto no dia 22, um dia antes do previsto. Posso ficar com o Henry
na sexta?
NICOLE: No dia 22? Ou seja, no dia 21? Hum. A gente já tem compromisso. Vamos ao Museu
de Los Angeles com os primos.
CHARLIE: Sério?
NICOLE: Eu sou flexível. Você chega, e eu mudo a minha rotina. Nessa noite, acontece que
vamos...
CHARLIE: Acho que ele fica muito ansioso e se cobra demais. Dizem que ele arrasa em
matemática.
NICOLE: Ele desiste fácil quando tem dificuldade. Assim como nós, ele é teimoso. É péssimo no
Monopoly porque quer poupar tudo.
NICOLE: Então... Achei melhor a gente conversar. As coisas passaram dos limites. Minha mãe
pegou um empréstimo para me ajudar a pagar a Nora.
CHARLIE: Também estou com dificuldade financeira se serve de consolo. Vou dirigir duas peças
de merda. A poupança para faculdade do Henry já era.
NICOLE: É que até agora conseguimos deixar o Henry de fora, mas isso vai mudar. Temos que
protegê-lo.
CHARLIE: Eu concordo.
NICOLE: Nora disse que a avaliadora vai entrar nas nossas casas, entrevistar o Henry e nós dois,
nossos amigos, familiares, inimigos... E nos observar com ele, ver como somos enquanto pais.
NICOLE: Com alguém me observando acho que nem fico com a guarda. Isso foi uma piada.
CHARLIE: Ok.
Silêncio entre os dois. Os dois ficam se encarando e Nicole faz gesto com a cabeça esperando
uma resposta dele.
CHARLIE: Não.
CHARLIE: Nós conversamos sobre. Éramos casados e conversávamos sobre certos assuntos.
Falamos de morar na Europa. Falamos de comprar um bufê ou sei lá como se chama... Um
aparador! Para colocar atrás do sofá. Não fizemos nada disso.
NICOLE: Recusou a oferta do Geffen. Teríamos ficado aqui por um ano.
CHARLIE: Não era algo que eu queria. Tínhamos a companhia de teatro e uma ótima vida lá.
CHARLIE: Você entendeu o que eu disse. Não estou falando do casamento, mas da vida no
Brooklyn. Profissionalmente. Sinceramente, nunca cogitei nada diferente.
NICOLE: Bem, o problema é esse, né? Eu era sua mulher. Devia ter pensado na minha
felicidade.
CHARLIE: Ah, pelo amor de Deus. Você era feliz. Agora, resolveu que não era feliz.
CHARLIE: O Henry veio estudar, porque a série foi aprovada. Fiz isso sabendo que, no final, ele
voltaria pra lá.
NICOLE: Nunca falamos isso. Pode ter suposto, mas nunca falamos.
NICOLE: Para de me interromper. Desculpe. Eu fico repetindo isso. Eu pensei que, se o Henry
gostasse daqui e a minha série continuasse, fôssemos dar um tempo em Los Angeles.
NICOLE: A gente só não morava aqui porque você não pensa em vontades além das suas. A
não ser que imponham a você.
CHARLIE: Ok. Você não queria ter casado comigo. Queria ter tido uma vida diferente. Mas foi
isso que aconteceu.
CHARLIE: Que se foda a Nora. Odeio quando ela diz que eu sempre morei aqui apesar de eu
nunca ter morado. Como deixou ela falar mal de mim assim?
NICOLE: Jay também falou mal de mim. Não devia ter demitido o Bert.
NICOLE: Agora vai sofrer só pra, mais uma vez, ter o que quer!
CHARLIE: Não é o que quero. Sim, quero, mas era pra ser o que fosse... Fosse... melhor pra ele.
NICOLE: Ah bem. Já estava querendo saber quando se lembraria do que ele quer.
NICOLE: Vai você se foder! Se ouvisse seu filho ou qualquer um, ele diria que prefere morar
aqui.
NICOLE: Ele diz que você vive no celular e nem brinca com ele.
CHARLIE: Porque me divorcio em Los Angeles e dirijo uma peça em Nova York. E fechou por eu
não estar lá. Perdi uma chance enorme.
NICOLE: Luta por algo que nem quer. Está agindo igual seu pai.
CHARLIE: E age como sua mãe. Faz o que sempre reclamou dela. Você sufoca o Henry .
NICOLE: Segundo. Como você ousa me comparar como mãe à minha mãe? Posso ser como
meu pai, mas não como minha mãe.
CHARLIE: É, sim! E é como meu pai. E também como minha mãe. Reúne os defeitos de todos
eles! Principalmente da sua mãe. Na cama às vezes, olhava pra você e eu a via. Eu sentia nojo.
CHARLIE: Nunca vai ser feliz. Nem aqui e nem em lugar nenhum. Pensará que achou o cara
oposto melhor que eu, mas se rebelará contra ele em alguns anos. Porque você diz que quer
ter sua própria voz, mas não é isso. Só quer reclamar pra caralho que não tem voz.
NICOLE: A mulher que foi casada com você é uma estranha pra mim. Foi um casamento de
brincadeira.
CHARLIE: Quer bancar a vítima? Beleza. Mas nós dois sabemos que você escolheu aquela vida!
Você a quis até mudar de ideia. Você me usou pra sair de Los Angeles.
CHARLIE: Usou sim. E agora me culpa. Me avisava do que eu fazia errado, de onde eu
decepcionava. A vida com você era cinzenta.
CHARLIE: Não deveria ficar triste porque eu transei com ele, deveria estar triste porque eu ri
com ela.
NICOLE: Você me odiava. Comeu uma pessoa que trabalhava com a gente.
CHARLIE: Mas eu podia ter feito muito mais! Era um diretor de 20 anos que de repente estava
na capa da Time Out New York! Eu era o fodão, podia comer todas, mas não comi. Eu te amava
e não queria te perder. Mas ainda estou nos meus 20 e poucos anos e não quis perder isso
também, mas meio que perdi. E você queria tanto tão depressa. Eu nem queria me casar. Que
merda! Há muitas coisas que eu deixei de fazer!
CHARLIE: De nada!
CHARLIE (socando a parede): Você é uma maluca de merda! E está ganhando, porra!
NICOLE: Está brincando? Eu queria estar casada. Eu já perdi. Não me amou o quanto eu te
amei.
CHARLIE: O que isso tem a ver com Los Angeles? O que foi?
NICOLE: Você é tão mergulhado no seu próprio egoísmo que nem reconhece mais como
egoísmo! Você é um filho da puta!
CHARLIE: Todo dia eu acordo desejando que você esteja morta! Morta! Se eu pudesse garantir
o bem-estar do Henry, queria que pegasse uma doença, fosse atropelada e morresse!
Charlie cai no choro. Se ajoelha no chão. Nicole coloca a mão do ombro dele para consolá-lo.
CHARLIE: Me desculpa.
NICOLE: Me desculpa também.