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CAMINHOS DO ROMANTISMO

Amor de Perdição
AMOR DE PERDIÇÃO
Sugestão biográfica (Simão e o narrador)

 Camilo Castelo Branco, preso na Cadeia da


Relação e Tribunal do Porto, encontra o
registo da condenação ao degredo do tio
paterno, Simão Botelho. O autor apoia-se
num dado real, a condenação de Simão,
para, a partir dele, reconstruir os
acontecimentos que levaram ao desfecho
dramático da ação de Amor de Perdição.
 Simão Botelho e o autor/narrador
partilham o mesmo destino – ambos são
Edifício da antiga Cadeia e Tribunal
presos pelo mesmo motivo: o amor. da Relação do Porto.
AMOR DE PERDIÇÃO
Sugestão biográfica (Simão e o narrador)

Domingos Botelho
e
Rita Preciosa
Manuel
e SIMÃO Maria Ana Rita
Jacinta
Degredado para a Índia,
onde chegou em 7/11/1807

CAMILO
1825/1890 Preso na Cadeia e Tribunal da
Relação do Porto em 1860
AMOR DE PERDIÇÃO
Estrutura

Introdução
O narrador/autor dá início ao processo narrativo. Perante
o acesso ao registo da condenação de Simão Botelho no
cartório da cadeia propõe-se a narrar a história do jovem
Simão que sintetiza na frase Amou, perdeu-se, e morreu
amando.
AMOR DE PERDIÇÃO
Estrutura

Vinte capítulos (dois capítulos selecionados: IV e X)


AMOR DE PERDIÇÃO

AMOU PERDEU-SE MORREU, AMANDO


Ódio entre os pais: SIMÃO TERESA ------------ SIMÃO
Domingos Botelho e • Expulso de casa;
Tadeu de Albuquerque • Mata Baltasar; Morre no Morre na
• Condenado ao degredo. convento viagem
AMOR entre Simão e Teresa TERESA
• Recusa o casamento MORTE
com Baltasar;
• Encerrada num
convento.
AMOR DE PERDIÇÃO
Estrutura

Conclusão
Desfecho da intriga
Identificação de Manuel Botelho como sendo o
pai do narrador/autor

Simão Botelho era seu tio paterno.


AMOR DE PERDIÇÃO
Relações entre as personagens

Domingos Botelho --------------- ÓDIO --------- Tadeu Albuquerque


D. Rita Preciosa

SIMÃO AMOR TERESA

João da Cruz Baltasar Coutinho


Mariana
Os amantes debatem-se, não contra a diferença de classe ou de riqueza,
mas contra o ódio implacável entre duas famílias de província ciosas dos
seus pergaminhos.
AMOR DE PERDIÇÃO
A construção do herói romântico

Simão um herói romântico:


- a virilidade física e moral;
- a impulsividade;
- a rebeldia e a solidão face à sociedade;
- os instintos violentos;
- a vivência de um amor transfigurador, que
redime os erros;
- o domínio dos sentimentos sobre a razão;
- o idealismo amoroso;
- a firmeza e a dignidade face à ameaça da forca
Chagall, Les amoureux au
e do degredo; bouquet, été (1927-30).
- a ideia de morte indissociável da ideia de amor
e encarada como salvação e transcendência;
- a força do destino que o persegue.
AMOR DE PERDIÇÃO
O amor-paixão

O amor é o tema fulcral de Amor de Perdição.


A paixão ocupa um espaço arrebatador e conduz
as personagens à morte.
Pode desdobrar-se:
•no amor sofrimento – só atinge a sua plenitude
na morte; é, portanto, um amor impossível; Klimt, O Abraço, 1905-09 (pormenor).
•no amor sagrado – que enfrenta a barreira do
social e permite a elevação espiritual.
AMOR DE PERDIÇÃO
A concentração temporal da ação

A ação decorre entre o final do século XVIII


e o início do século XIX.
•O tempo é cronológico e contínuo.
•Os acontecimentos são datados, mas há uma
delimitação imprecisa.
AMOR DE PERDIÇÃO
A concentração temporal da ação

Capítulo I – 1779/1801
•O início da novela é datado de 1779, mas logo é sugerida
uma época anterior.
•Abrange os antecedentes da ação, mas o tempo é
delimitado imprecisamente.
•O ritmo narrativo é rápido e a noção cronológica de tempo
é nítida.
AMOR DE PERDIÇÃO
A concentração temporal da ação

A ação decorre em seis anos


•1801 – Simão tem quinze anos.
•1803 – Teresa escreve uma carta a Simão, dizendo-lhe que o
seu pai a ameaça com a ida para o convento.
•1804 – Simão é preso. Tem 18 anos.
•1805-1807 – Simão encontra-se preso (20 meses na prisão
mais seis meses antes de partir para a Índia, degredado).
•17 de março de 1807 – Simão parte para a Índia.
•28 de março de 1807 – Simão morre.
AMOR DE PERDIÇÃO
A concentração temporal da ação

A concentração temporal da ação resulta


•do recurso aos diálogos, que permitem criar uma
coincidência do tempo de ação com o tempo do
discursos;

•do foco narrativo na movimentação das


personagens e nos seus gestos (o narrador não se
perde em considerações);

•da utilização das cartas, pois o narrador evita,


assim, o aprofundamento psicológico dos seus
protagonistas.
AMOR DE PERDIÇÃO
A obra como crónica da mudança social

A obra Amor de Perdição foi escrita na segunda


metade do século XIX (1861), época que evidencia,
por um lado, uma “sociedade aristocrática e
fradesca” (Óscar Lopes) com características que
definiam a aristocracia antes de 1832 e, por outro,
uma sociedade burguesa com bases no
Constitucionalismo.
AMOR DE PERDIÇÃO
A obra como crónica da mudança social

– A sociedade é repressiva.
A relação pais/filhos evidencia o conflito de mentalidades:
pais repressivos e inflexíveis que se opõem à felicidade dos
filhos (cf. autoritarismo de Tadeu de Albuquerque, por
exemplo, o casamento por conveniência, a restrição à
ação das mulheres).
– A Igreja enquanto instituição que age de acordo com a
sociedade por interesse, promove a clausura das jovens
mais rebeldes (aliás, os vícios e a corrupção dos conventos
são bem salientados ao longo da obra).
AMOR DE PERDIÇÃO
A obra como crónica da mudança social

– A Justiça e a sua arbitrariedade é desmascarada através


da parcialidade revelada nos julgamentos, em que a
classe social ou a influência de determinadas figuras
podem determinar o desfecho.

– A instituição militar, também ela movida pela influência


dos mais poderosos, é alvo de crítica.
AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Nesta novela, sentimos constantemente a presença de


Camilo Castelo Branco.

narrador/autor
Exemplo:
Na Introdução, o narrador/autor relata a história,
assumindo ser protagonista: utiliza a primeira pessoa como
suporte da verdade que vai ser narrada.
O autor parece procurar a subversão do ficcional.
É tipicamente romântico porque
está envolvido na história que criou.
AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Assim eu lhe soubesse dizer o doloroso sobressalto que


me causaram aquelas linhas, de propósito procuradas, e
lidas com amargura e respeito e, ao mesmo tempo, ódio.
Ódio, sim… A tempo verão se é perdoável o ódio, ou se
antes me não fora melhor abrir mão desde já de uma
historia que me pode acarear enojos dos frios julgadores
do coração, e das sentenças que eu aqui lavrar contra a
falsa virtude de homens, feitos bárbaros, em nome de
sua honra.
Camilo Castelo Branco. Amor de Perdição. 2015. Porto Editora, p. 3.
AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Nos vinte capítulos da obra, o narrador narra a história em


que não participa como personagem: utiliza a terceira
pessoa e a veracidade dos factos é confirmada pelas datas,
antecedentes familiares e circunstâncias das personagens.

Narrador não participante – heterodiegético


AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Focalização ou pontos de vista do narrador


O narrador, de forma objetiva e desapaixonada, dá-nos acesso a:
– atos e situações
– cartas
– espaços
– aspeto físico das personagens

Focalização externa
AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Focalização ou pontos de vista do narrador


O narrador assume uma posição demiúrgica, não deixa de
penetrar no interior das personagens, revelando as suas
ideias e pensamentos.

Exemplo: “Simão ficou pensando na sua espinhosa situação.


Deviam de ocorrer-lhe ideias aflitivas […]” (cap. VIII).

Focalização omnisciente
AMOR DE PERDIÇÃO
O narrador

Focalização ou pontos de vista do narrador


Mesmo não participando na história, o narrador emite opiniões e faz
comentários interventivos:
• Apela à sensibilidade dos leitores;
Exemplo: “Dezoito anos!… E degredado da pátria, do amor e da
família! […] É triste!” (Introdução).
• Acentua aspetos das personagens ou omite factos e situações.
Exemplo: “Simão ficou pensando na sua espinhosa situação.
Deviam de ocorrer-lhe ideias aflitivas […]” (cap. VIII).

Focalização interventiva
CAMINHOS DO ROMANTISMO
Amor de Perdição

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