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Visceral
2
Axills
Rio de Janeiro/Rio de Janeiro: Edição Independente,
2011. 75 p.
Rio de Janeiro 2011.
Todos os direitos reservados
Esta obra está licenciada sob uma Licença
Creative Commons
Capa: Axills
Produção Editorial:
Samuel Achilles
Revisão e Formatação:
Alessandra Bertazzo
2011
Trovart Publications
Visceral
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SUMÁRIO
Prefácio ................................................................................................................... 7
Certíssima mors ...................................................................................................... 8
Bonsai .................................................................................................................... 9
Pó ......................................................................................................................... 10
Torto ..................................................................................................................... 11
Volúvel .................................................................................................................. 12
A nau .................................................................................................................... 13
Desconexo............................................................................................................. 14
Lusco-fusco mítico ................................................................................................ 15
Destilado............................................................................................................... 16
Ponto cego............................................................................................................. 17
Vômito .................................................................................................................. 18
Desgosto ............................................................................................................... 19
Atos falam alto ...................................................................................................... 20
Fofoca ................................................................................................................... 21
Soneto de uma rima só ......................................................................................... 22
Surto .................................................................................................................... 23
Piso de granito ...................................................................................................... 24
Rasguei o véu que me encobria ............................................................................. 25
Deslocamento zero ................................................................................................ 26
Atarantado ............................................................................................................ 27
Colecionador de sonhos perdidos .......................................................................... 28
Caleidoscópio ........................................................................................................ 29
O teu cabelo não, nêga! ......................................................................................... 30
Maldade da cadela ................................................................................................ 31
Peteca ................................................................................................................... 32
Saturnal................................................................................................................ 33
Cybernético ........................................................................................................... 34
O mel das cobras .................................................................................................. 35
Rio 2016 ............................................................................................................... 36
Marisa................................................................................................................... 37
Jazigos .................................................................................................................. 38
Sem rumo ............................................................................................................. 39
Ledo engano .......................................................................................................... 40
Desvario ................................................................................................................ 41
Mobilidade godard................................................................................................. 42
The book is on the table ........................................................................................ 43
Happy birthday, sam............................................................................................. 44
Prantos ............................................................................................................... 46
Troca de plantão ................................................................................................... 47
Meu bem querer .................................................................................................... 48
A nado .................................................................................................................. 49
Coragem ............................................................................................................... 50
Certo tempo .......................................................................................................... 51
Rendimentos ......................................................................................................... 52
Mulher fracionada................................................................................................. 53
A morte ................................................................................................................. 54
Duas luzes ........................................................................................................... 55
Bruna ................................................................................................................... 56
O tempo urge ........................................................................................................ 58
Amigo sol .............................................................................................................. 59
Pelezinho .............................................................................................................. 60
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Diamante .............................................................................................................. 61
Veni vidi vici ......................................................................................................... 62
Pérolas aos porcos ............................................................................................... 63
Sou o que sou ....................................................................................................... 63
Mente presa ......................................................................................................... 65
Tristeza ................................................................................................................. 66
Cabisbaixo ............................................................................................................ 67
Mente insana ........................................................................................................ 68
Vazio concreto....................................................................................................... 69
Knockdown ........................................................................................................... 70
Posfácio ................................................................................................................ 72
Minibiografia ......................................................................................................... 74
Contatos com o autor ............................................................................................ 75
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O(RATÓ)(RIO)
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VENTO
Eu, cata-vento
Levado pela ventania
E varrido do mundo
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PREFÁCIO
Este livro, caro leitor, não se trata de um tratado do esgoto, mas também não
mapeia a podridão da minha alma. Convencionei-me a enxergar meus escritos
como poemas e prosas por culpa da pedagogia que a mim me foi imposta.
Das escorrências dos meus medos, das inflamações da minha fúria e dos
resíduos resultantes das expectoração da minha mesquinhez surgem ideias que
formatam este trabalho.
Cada pedra no caminho é só um objeto de tropeço. Nunca fiz castelos. Não
sou pedreiro ou engenheiro. Sou um construtor de textos e por isso costumo usar
as pedras no caminho para tropeçar, de forma proposital, obtendo assim a matéria
prima para a minha obra.
Gosto de olhar nos olhos do meu tédio, escutar os choros de minhas
angústias e dos sofrimentos alheios através de um noticiário de fim de tarde. Meu
voyeurismo é ver o mundo sangrando em sua escatologia e transmitir isso numa
lírica forma onanista para um papel amassado com uma caneta falhando.
Este livro, estimado leitor, é concernente de algumas imagens remoídas e
ruminadas por mim e que se mantiveram presas em minhas entranhas poéticas.
São palavras que não foram defecadas em minhas censuras e nem mesmo
vomitadas nas canções de os meus momentos anti-higiênicos.
Portanto, antes que apodrecessem em mim em forma de neoplasma maligno,
eu as expus, fazendo um corte profundo no abdômen do meu lirismo séptico,
revelando minhas vísceras verminadas.
Axills
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CERTÍSSIMA MORS
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9
BONSAI
Alphonse de Lamartine
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10
PÓ
Amado Nervo
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TORTO
Mário Quintana
Sambo feliz
Foda-se o mundo
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VOLÚVEL
Jane Austen
Meu amor é como a fumaça que é facilmente sugada pelo exaustor rebolado de
qualquer rabo de saia.
Ah...
Eu quero a mulher que passa...
Eu quero aquela parada e quero a que já passou.
Meus sentimentos são nuvens que não dão chuva e não geram colheita.
Mas tudo bem, nada foi plantado.
O sol castiga,
Mas não vou reclamar, meu clima é climatizado.
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A NAU
Henrique Jardiel Poncela
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DESCONEXO
Salvador Dali
Desprezarei
Todo teto, toda tralha e tal
Desprezarei
Tira teima e texto teatral
Desprezarei
Tamanco, tabaco, tutorial
Desprezarei
Túnica, Tebas, Taj Mahal
Desprezarei
Tu e o til da tez do ator total
Desprezarei
Tara touro um tera do termal
Desprezarei
Truta traz a treta até traval
Desprezarei
Tinta em tela toma tamargal
Desprezarei
Tabua do tabu tri tabucal
Desprezarei
Trena torta e tato trifocal
Desprezarei
Tatu torrado em terra tremedal
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LUSCO-FUSCO MÍTICO
Mário Quintana
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DESTILADO
Ludwig Wittgenstein
Na mão os visgos
Do puxa-saquismo
Elogiando rabisco
Do escritório em panela
Se cismo com cisco nos olhos alheios
Não mesmo,
Nem com os mariscos fétidos do hálito dos teus versos
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PONTO CEGO
Horácio
Vão à merda
Vão à merda víboras tagarelas
Vão à merda em anáforas
À merda de merda diáforas
Vão à merda assassinos meninos do povo facínora
Da diáspora e da gólgota
Vão à merda os grânulos dos glóbulos
Das superfícies ásperas citoplasmáticas
Do grupamento das pequenas partículas arredondadas
Estímulos de substâncias das células de minha secreção
Vão à merda
Mundo a fora que devora
Vão embora doutoras ensurdecedoras senhoras impostoras que imploram
O raiar da aurora que demora o agora que não haverá hora de chegar
Apenas o nunca de todo instante
Zombador do tempo exato cravado em ponto cego do relógio parado na parede
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VÔMITO
Marquês de Maricá
E, com raras exceções, é enterrada viva e hemorrágica com seu falecido dono
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DESGOSTO
Victor Hugo
Pensando...
Pensando...
Pensando...
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Visceral
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FOFOCA
Provérbio turco
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Visceral
23
SURTO
H. F. Amiel
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24
PISO DE GRANITO
Ovídio
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Antero de Figueiredo
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DESLOCAMENTO ZERO
Voltaire
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ATARANTADO
Plínio Salgado
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CALEIDOSCÓPIO
J. Dryden
Foi silêncio
Até que se acordou o grito adormecido
Esquecido na garganta
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Visceral
31
MALDADE DA CADELA
Platão
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PETECA
Anacársis
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SATURNAL
Jean-Paul Sartre
Eu chumbo
Eu saturno
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CYBERNÉTICO
Pablo Picasso
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Visceral
36
RIO 2016
Mahatma Gandhi
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MARISA
Cruz e Sousa
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JAZIGOS
W Shakespeare
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SEM RUMO
Antoine Bret
Visceral
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LEDO ENGANO
Homero
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DESVARIO
Erasmo de Roterdã
Mastigo relâmpagos
Tusso trovões
Espirro granizos
Vomitei a alegria
Quando o mau tempo tatuou-se em meu corpo
Desvairei-me
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MOBILIDADE GODARD
Plutarco
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Tudo o que aprendi foi que o livro deveria estar sobre a mesa
Nada mais
Pouco sabe minha língua
Enrola-se com outras línguas somente
Gosta de gostos diferentes
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Visceral
45
Visceral
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PRANTOS
Dante Aliguiere
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TROCA DE PLANTÃO
Aristóteles
Cheguei cedo
Vi quando o adúltero sol despachou a lua
E passou a paquerar a água do mar
Presenteando-a com uma incomensurável camada de ouro
Foi no horário do fim do plantão dos bêbados e prostitutas
Das esquinas da Av. Atlântica
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49
A NADO
Joseph Roux
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CORAGEM
Pierre Augustin Caron de Beaumarchais
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CERTO TEMPO
Confúcio
Pois eu sei
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RENDIMENTOS
Leonardo da Vinci
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MULHER FRACIONADA
E. Pontich
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54
A MORTE
Vinicius de Moraes
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DUAS LUZES
Mário Quintana
Escondeste,
Não me avisaste o teu drama
Que depois do calor do desejo saciado
Em conversas dos corpos
Que se entendem e se entregam sem votos
Partiste,
E tal qual como chegaste
Às ocultas, calada, à surdina
Fui restando plangente na vida
E perdi o fechar das cortinas
Partiste,
Apagaste a luz pequena
Dirigiste um grande drama de cinema
Mas tua luz também se foi no fim cena
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BRUNA
Ovídio
A noite me fascina
A noite e a menina
A noite é a sina da donzela felina
À noite ela sai de casa
Vai da Glória ao Catete
Então um parceiro, um hotel barato
Fazendo amor sem culpa ou precaução
A mãe quis pô-la num internato
Mas isso ela não quis aceitar
Ao pai cobrava mais e mais
Mas só conselhos ele tinha pra dar:
▬ Tenha cuidado, Bruna! O que você tem feito para se ajudar?
A noite me fascina
A noite e a menina
À noite ela se pinta
E se vende na esquina
Numa noite ou madrugada
Um velho padre acordou
Perdeu o sono sem motivo
Foi à rua sem batina
Repentinamente então
Encontrou Bruna, meretriz
E disse a ela:
▬ Linda menina Deus pode te fazer feliz.
▬ Mas você parece padre ou se parece com meu pai
Já recebi tantos conselhos, mas ainda não enriqueci.
Vago pela estrada escura, procuro a luz do dia
O sol a minha procura, mas a noite me vigia
O meu futuro é mau.
O tempo passa, o sol chegando e de repente amanheceu
▬ Me desculpe, linda menina, eu volto pra casa de Deus.
▬ Você é padre então.
Noutra noite
Ou madrugada
Enquanto o padre repousou
A menina ia pra cama
Longe da casa do Senhor
Mas o tempo foi passando
E ela ficou doente
Foi à procura do seu tio
O mais próximo parente
▬ Me escute bem, menina. Você que nunca me escutou.
Se nunca ouviu nossos conselhos, procure outro protetor.
Ela retorna a cidade, sem ajuda, sem ninguém.
Até que se lembrou do padre
Do padre que a tratou tão bem.
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Visceral
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O TEMPO URGE
Sêneca
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AMIGO SOL
Cruz e Sousa
Não, senhor!
Para já com esta tormenta
Estás passando dos quarenta
Precisamos prorrogar o jogo
Dize-nos, como?
Responde-nos e te cultuaremos como os maias
Que dizimamos e não to ofertamos
Que te parece voltar a ser o Deus da fertilidade?
SOLetraremos em SOLos SÓ Louvor a ti
Ó, SOL do meio-dia
Ó, SOL da meia-noite
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PELEZINHO
Jorge Mautner
Malabarista
Parado no sinal
Sorriso cariado
Sem graça, sem graxa
Mas consegue seu Real
É crack nisso
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DIAMANTE
Woody Allen
Sou “di”amante
E me encontro no teu rio
Deslizando teus sulcos
Gástrico.
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Volta e meia
Fonte de vontades vizinhas
Vinha Vera Verônica varrer verdades vividas
Ventava ávida frente minha face
Fazia-se difícil vendo-me a mim
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Visceral
64
Visceral
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MENTE PRESA
Blaise Pascal
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TRISTEZA
Facundes Varela
Tristeza,
Eu sei que um dia alguém virá
Fará você desocupar
Seu reino, em meu coração, despótico
Tristeza,
Quando esse alguém acontecer
Não há porque se incomodar
Não ligue ou pense em escrever
Afaste-se irresistente
Não olhe para trás
Vá em paz,
Siga em frente
Tristeza,
A quem eu penso enganar?
Eu sei que esse alguém morreu
Com o sonho que não pude prolongar
E acordei lentamente
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67
CABISBAIXO
Miguel de Cervantes
Visceral
68
MENTE INSANA
Clarice Lispector
Visceral
69
VAZIO CONCRETO
Martin Lutero
Canso-me
Enjôo-me
Impertinente, inoportuno e inconveniente a mim mesmo
Vasculho-me,
E nada há de interessante
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70
KNOCKDOWN
Camilo Castelo Branco
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71
EXPECTATIVA DE VIDA
Safo de Lesbos
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POSFÁCIO
Nesta obra, o poeta despido de todo o seu lirismo habitual nos apresenta
como o próprio título antecipa, versos carregados de uma ira e uma revolta toda
particular contra tudo aquilo que sente de errado, podre, miserável e sujo na
percepção tanto de sua realidade de ser humano como da realidade do mundo.
E ao observar essas realidades bem de perto através de sua lente
diferenciada, mas ao mesmo tempo bastante similar à visão de nós, leitores,
Axills expressa esses sentimentos como um soco direcionado na boca do nosso
estômago a fim de nos causar a mesma sensação de náusea e enjôo sentidas
por ele.
Trata-se de uma sensação que vai muito além dos nossos cinco sentidos,
atingindo um nível tão denso e profundo, que chega a doer e revirar as vísceras,
pois o contato íntimo e sincero tanto com nós mesmos como com a realidade
que nos cerca nunca é feito senão através de uma maneira perturbadora e
inquietante, uma vez que dificilmente estamos preparados para o
reconhecimento de algo que até então nos parecia perfeitamente normal e
aceitável.
Entretanto, ao tomarmos conhecimento de outra forma de percepção
advinda de uma visão diferenciada da nossa, trazendo uma nova proposta de
reflexão, temos a possibilidade de nos reavaliarmos enquanto seres humanos,
bem como de repensarmos nossas interferências e atitudes dentro desta
realidade da qual, todos fazemos parte.
Podemos dizer então que o objetivo deste Visceral é – levar-nos a uma
reflexão intensa sobre o nosso já rotineiro hábito de fecharmos os olhos e nos
omitirmos de questões do dia a dia que fariam toda a diferença em nossas vidas
se agíssemos de modo diverso, ou seja, do modo como realmente deveríamos
agir tanto em nível particular como em nível de sociedade.
Sem dúvidas, uma obra feita para pensar.
Alessa B.
Professora Pós-Graduada em Literatura e Poetisa
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MUSICAL
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MINIBIOGRAFIA
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Axills Blog
http://axills.blogspot.com/
Palco MP3
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E-mail: axills@hotmail.com
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Alessa B.
Professora Pós-Graduada em Literatura e Poetisa
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