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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESErsTTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir {1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
' »^ r *• jt. J t' A eró
índice

MAIS UM ANO QUE PASSA ! 513

No calendarlo crlstSo:
1975: ANO SANTO E JUBILEU 515

Aínda a ICAB :

"CANONIZACAO" DO PADRE CICERO 531

Ecos da récenle historia de Israel:


O TEMPLO DE SALOMAO SERÁ RECONSTRUIDO ? 542

RESENHA DE LIVROS 554

ÍNDICE GERAL DE 1973 557

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

ERRATA: Em PR 166/1973, p. 427, I. 7, le i a-so : séc. VIII/VII.

NO PRÓXIMO NÚMERO :

A Holanda fala sobre o Popa. — Juventudc em revoluto por


Jecus. — «Godspell» no cinema. — Pilula anticoncepcional e pílula
reguladora.

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

Assinatura anual Cr$ 40,00


Número avulso de qualquer mes Cr$ 5 00
Volumes encadernados de 1958 e 1959 (prego unitario) ... Cr$ 35,00
índice Geral de 1957 a 1964 Cr$ 10,00

EDITORA LAUDES S. A.

REDACAO DE PR ADMINISTRAgAO
Caixa Postal 2.666 Rúa Süo Rafael, 38, ZC-09
ZC-00 20000 Rio de Janeiro (GB)
2000 Rio de Janeiro (GB) Tels.: 268-9981 e 268-2796
MAIS UM ANO QUE PASSA!

No mes de dezembro, costumamos encerrar as atividades


de mais um ano que vai chegando ao fim : balangos do passado
e programacóes do futuro caracterizan! esse período.

É espontáneo entáo dizer-se : «Como o tempo passa de-


pressa! Incrivel!» Muitas pessoas o verificam, como que assus-
tadas. — E por que assustadas? — Uns talvez se espantem por
verificar que anida nao fizeram o que desejavam fazer na vida;
aínda nao conseguiram entrar no seu rumo ou atingir tal ou
tal meta. Outras pessoas se assustaráo talvez por tomar cons-
ciéncia de que estáo ficando mais velhas, sujeitas a já nao
poder participar de certas atividades.

Esses sustos sao bem compreensiveis a partir da psicolo


gía humana. Mas, para um cristáo, eles nao significam atitude
decisiva ou definitiva.

Com efeito, para o cristáo, o passar do tempo deve signifi


car desabrochamento, encaminhamento para a plenitude da
vida. Diz o Apostólo: «Ainda que o nosso homem exterior
seja destruido, o nosso homem interior se renova de día para
día» (2 Cor 4,16). O «homem exterior», no caso, é a natureza
visível, sensível, ao passo que o «homem interior» significa o
inicio da vida eterna lancada no cristáo pelo Batismo e alimen
tada pela Eucaristía. Donde se vé que, se o Cristáo é autentica-
mente cristáo, ele nao conhece envelhecimento, mas apenas
transformagáo : o corpo mortal cede, sem dúvida, as leis da
biologia, ao passo que simultáneamente a vida imortal se desa
brocha no íntimo do cristáo, até que um día ela transfigure
por completo a carne do mesmo — o que se dará no dia da
ressurreigáo dos mortos.

Quem tem consciéncia disto, nao pode deixar de se rego-


zijar profundamente : o cristáo nao tem vocacáo para envelhe-
cer e morrer propriamente, mas para rejuvenescer constante
mente, revigorando-se cada vez mais na posse da vida imortal.
Todavía, para que essa alegría seja realmente fundamentada,
requer-se que o cristáo viva conscientemente a sua vida crista...
De modo especial:... reconheca que a lei da vida é crescer;
quem se furta, consciente ou inconscientemente, ao crescimento,
furtase á vida. De fato, cada dia que passa é mais um número
na soma dos nossos días, cada ano que passa é mais urna uni-

— 513 —
dade que se acrescenta as anteriores: 1974 é 1973 + 1, como
1973 foi 1972 + 1. É impossível vivermos sem aceitarmos esse
aumento numérico ou esse crescimento quantitativo.

Que acontece, porém, quando alguém só cresce quantita-


tivamente, somando dias e anos ? No plano físico, tal pes-
soa torna-se um anáo. Anáo é quem tem os anos (30, 40, 50...)
de um adulto e a estatura de um menino (o anáo nao tem
culpa disto). No plano físico, visivel, sao relativamente poucos
os andes. Mas no plano espiritual, no plano cristáo, nao se
poderia pensar que existem muitos e muitos anóes? Ou seja,...
que existem cristáos que vivem os seus dias, meses e anos sem
lhes dar conteúdo e qualidade? Somam dias sem os viver de
maneira plenamente crista, contentando-se com atitudes super-
ficiais, levianas e semiconscientes. Tal tipo de existencia vem
a ser incoeréncia para com a vida. Equivale a tornar-se anáo
no plano cristáo, que é o plano decisivo e definitivo.

É por isto que, no fim de mais um ano de existencia ou


no limiar de novo ano, o cristáo ouve mais urna vez o apelo
de Deus á vida em plenitude e se senté impelido a rever o seu
passado, a fim de sacudir qualquer empecilho ao crescimento.
Diz aínda S. Paulo : «Exortamo-vos a que nao recebáis em váo
a graga de Deus... É este o tempo favorável; é este o día da
salvacáo» (2 Cor 6,ls). Quem sabe ouvir, percebe que existe,
da parte do Senhor, urna santa preméncia:... preméncia para
que nao percamos tempo, mas vamos dando a cada um de
nossos dias o conteúdo plenamente cristáo que lhe compete. Se
no passado procedí leviana ou fútilmente, isto nao prejudica o
meu futuro. O apelo de Deus é sempre o mesmo; Ele, que me
chamou a encher cada um de meus dias com realizares de
vida crista cada vez mais lúcidas, me dará também subsidios
para atender a tal vocacáo.

Foi em vista desta conquista da VIDA por parte de todos


os homens que Cristo veio trazer a Eternidade aos nossos tem-
pos. Ele, que nasceu em Belém há quase vinte séculos, renova
seu Natal a 25 de dezembro em cada um de seus membros.
E Ele quer estender esse Natal a todos os homens que ainda
nao O conhecem.

Consciente disto, a equipe de PIt desoja a todos os seus


amigos e leitores as mais copiosas gracas de Natal e um prós
pero Ano Novo, marcados por aquela palavra do Apostólo:
«... Cheguemos á estatura que realiza a plenitude de Cristo»
(Ef 4, 13).
E. B.

— 514 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS:I»
Ano XIV — N* 168 — Dexembro de 1973

No calendario cristáo:

1975: ano santo e jubileu

Em síntese: A instituicfio do Ano Santo tem seu fundamento na Biblia.


Com efelto, a Lei de Moisés mandava que todo qulnquagésimo ano
fosse sabático ou de repouso: ano em que os escravos recuperavam a líber-
dade e as propiedades vendidas voltavam ao seu senhor originarlo. Asslm
se renovava regularmente a vida de Israel. O ano sabático era também dito
Jubileu, porque anunciado mediante trombeta de ehifre (yobel).

No Cristianismo, a instltuicáo do jubileu caiu em desuso até 1300,-quando


o Papa Bonifacio VIII o quis restaurar. O Papa Paulo II em 1470 fcouve por
bem mandar celebrá-lo de 25 em 25 anos, a flm de beneficiar malor número
de fiéis mediante Indulgencias e gracas esplrituais concedidas ao3 cristfios
que peregrlnassem a Roma durante o ano jubilar ou Ano Santo.

Aproxlmondo-se o ano de 1975, o Papa Paulo VI proclamou em malo pp.


a celebracfio do jubileu periódico. Os conceltos de "ano santo, peregrina'
gao e Indulgencia", assoclados ao de jubileu, poderiam parecer estranhos
á mentalidade moderna. Todavía, bem entendidos e explicados ao público,
perdem suas notas estranhas; o crlstño pode integrar-se perfeitarhehté' na
esplritualidade do Ano Santo sem ter que renunciar ás tendencias da pie-
dada e do pcnsamento contemporáneo.

A fim de tornar o Ano Santo de 1975 realmente significativo e frutuoso


para os homens de hoja, o Papa Paulo VI quis assinalar-lhe duas finalidades:

— renovacSo Interior do homem,... do homem cólico em relacSo a


vordade, dilacerado peto trabalho e privado do encontró consigo mosmo,
Intoxicado pelas falsas diversees e receitas de felicldade;

— reconciliado dos homens com Deus e entre si.

A realizagSo deste programa de espiritualidade do Ano Santo teve Inicio


em Pentecostés pp. (10/VI/73): desde entSo ñas dioceses e ñas paróquias,
os fiéis hio dé ser colocados frente á necessidade de conversSo e recon
ciliado mediante celebrares de tipos diversos. Em 1975 teráo lugar as

— 515 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS^ 168/1973

peregrinantes a Roma, das quais deverá resultar, entre outros beneficios,


maior coesfiq. do povo de Deus com o Santo Padre o Papa, merecedor de
toda a estima e reverencia dos fiéis católicos.

Assim concebido, o Ano Santo celebrado dez anos após o encerramento


do Concilio do Vaticano II corroborará os apelos deste á renovacfio interior
dos fiéis católicos.

Comentario: Aos 9 e 16 de maio pp., o Santo Padre


Paulo VI anunciou ao mundo a proclamagáo do ano de 1975
como Ano Santo ou ano de jubileu. Este sería precedido de
numerosas celébraseles a partir de Pentecostés de 1973, visando
assim á obtengáo de copiosos frutos espirituais para o povo de
Deus e para toda a humanidade. — Ora, em vista de esclarecer
o público sobre algo de táo insólito para muitos dos nossos con
temporáneos, seguir-se-áo abaixo algumas nocóes do que sejam
o Ano Santo ou o jubileu e seu significado.

1. Ano Santo: origem e histórico

1. A instituicáo do Ano Santo ou jubilar na Igreja Cató


lica tem sua origem na Biblia.

Com efeito. A Lei de Moisés mandava que de 50 em 50


anos, ou seja, após cada período de 7 semanas (7x7) de anos,
se celebrasse um ano sabático (ou ano de repouso).1 Nesse ano
nao se deveria cultivar o solo; os escravos recuperariam a liber-
dade; as propriedades vendidas retornariam ao seu senhor ori
ginario; em suma, a térra de Israel voltaria ós condigóes em
que Deus a doara ao seu povo, Desta forma, a Lei de Moisés
tencionava recordar aos israelitas que o Senhor era, em última
análise, o proprietário do pais. Provocava-se também assim a
renovagáo da vida de Israel e fazia-se a reconciliagáo dos ho-
mens entre si e com Deus; os desvíos e desordens acarretados
pelo decurso dos anos eram saneados. Eis como a Lei de Moisés
propóe a celebragáo do 50? ano:

"Contarás sete anos sabáticos, sete vezes sete anos, de forma que a
duraefio desses sete anos sabáticos corresponderá a quarenta e nove anos.
Depols, farda retiñir a trombeta no décimo dia do sétimo mes. No dia das

> Como se sabe, a palavra shabbath, em hebraico, significa sete e


repouso.

— 516 —
1975 : ANO SANTO E JUBILEU

expiacoes, fareis reunir o som da trombeta através da toda a vossa torra.


Santificareis o qulnquagésimo ano, proclamando no pafs a libertada de todos
os que o habilam. Este ano será para vos jubfleu, cada um de vos reco
brará a sua propriedade e voltará para a sua familia. O quinquagéslmo
ano é o ano do jublleu. Nao semearels, nfio colherels os frutos, nem vindi-
marels as vlnhas que n§o foram podadas, porque este ano ó Jublleu e deve
ser uma colsa santa para vos. E, da mesma forma, o campo, cujo fruto
comerás.

... Se disserdes: 'Que comeremos no sétimo ano, pols nao podemos


semear nem colher as nossas colheitas?1, entáo Eu vos concederé! a mlnha
béncfio no sexto ano, de tal forma que produzlrá a colhelta de tres anos;
e, quando semeardC3 no oitavo ano, viverels da colhelta anterior até o íiono
ano. Ató que procedáis á sua colheita, viverels da anterior" (Lev 25,8-13.
20-22).

Visto que o ano sabático era anunciado pelo toque de trom


beta ou chifre (que em hebraico ó dito yobel), passou a ser
chamado também jubilen ou ano jubilar.

O profeta Ezequiel, no séc. VI a. C, referia-se ao ano de


remissao para indicar o 50* ano, em que se perdoavam as divi
das, se restauravam as posses originarias e se libertavam os
escravos (cf. Ez 46,17).

Aos poucos, o ano jubilar foi tomando um sentido cada vez


mais espiritual. Depois do exilio de Israel (587-538 a. C),
passou a designar a obra do Messias, como dáo a entender os
seguintes dizeres atribuidos por Isaías ao Servidor de Javé:

"O Espirito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor me ungiu.


Envlou-me a levar a boa-nova aos humildes, a curar os de coragáo despe-
da$ado..., a publicar um ano de misericordia da parte do Senhor" (Is 61,1s).

No Novo Testamento, Jesús aplicou este texto de Isaías a


Si mesmo e designou o período de sua pregacáo messiánica
como «ano de graga do Senhor» (Le 4,16-21).

Vé-sc assim que a nogáo de ano sabático ou jubilar está


arraigada no ámago da espiritualidade biblica. Tal ano é dito
santo, porque reservado ou dedicado ao Senhor e, por isto, mar
cado pelos homens com a renovacáo ou purificagáo de sua
conduta.

2. Com a queda das instituicóes do Antigo Testamento,


o ano sabático ou 50? deixou de ser especialmente celebrado en
tre os cristáos. Aconteceu, porém, que na Idade Media, prin
cipalmente no decorrer do séc. XIIT, se verificaram entre os

_ 517 —
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 1G8/1973

cristáos movimentos penitenciáis de certo vulto; os fiéis pere-


grinavam aos santuarios europeus (principalmente a Roma,
onde havía os túmulos dos Apostólos S. Pedro e S. Paulo),
em espirito de penitencia, a fim de obter a absolvicáo de seus
pecados e das censuras ou penas que lhes estivessem anexas.
Já estava em voga entüo o costume — adotado pelos Sumos
Pontífices — de se concederem indugéncias, ou seja, a remis-
sáo das penas temporais devidas a pecados já absolvidos, indul
gencias ... aos fiéis que fizessem com auténtico espirito de
penitencia determinadas obras boas.1

Na tarde de 1? de Janeiro de 1300, grande multidáo de


povo precipitou-se na basílica de S. Pedro em Roma, convicta
de que lucraría urna indulgencia extraordinaria; o mesmo
ocorreu nos días seguintes. O povo apelava para antiga tradi-
eáo segundo a qual todo ano centenario devia ser tido como
ano de perdáo universal; na Curia Romana, porém, nao se en-
controu vestigio escrito de tal costume. Como quer que fosse,
o Papa Bonifacio VIII aos 22 de fevereiro de 1300 publicou urna
Bula em que determinava que de 100 em 100 anos haveria ju
bileu universal, com o perdáo de faltas e penas, para quem se
confessasse contritamente dos seus pecados e visitasse os tú
mulos dos Apostólos S. Pedro e S. Paulo. Essa proclamacño
de jubileu em 1300 teve ampia repercussáo em toda a Europa,
provocando o afluxo a Roma de multidóes e multidóes de pere
grinos das mais diversas partes do continente.

Em 1342 urna delegagáo de cristáos de Roma foi pedir ao


Papa Clemente VI em Avinháo (Franca), concedesse o jubileu
de 50 em 50 anos, a fim de poder beneficiar maior número de
fiéis. O Pontífice houve entáo por bem promulgar para 1350
um jubileu, que foi fervorosamente celebrado em Roma por
grandes caravanas de peregrinos.

Em 1389, o Papa Urbano VI, desejoso de sanear o grande


Cisma do Ocidente (1378-1417), estabeleceu que, em memoria
dos anos de vida mortal de Jesús, o jubileu se celebraría de 33
em 33 anos; em conseqüéncia, o próximo jubileu seria celebra
do em 1390. Esta celebracáo de fato se deu sob Bonifacio EX,
sucessor de Urbano VI, que entrementes falecera. Em 1400, já
que ocorria um ano centenario, os peregrinos afluiram a Roma,

1 A propósito das indulgencias — assunto por vezes mal entendido —,


veja PR 90/1967, pp. 252-261 e 108/1968, pp. 516-526.

— 518 —
1975 : ANO SANTO K JUBILEU

de tal modo que o Papa Bonifacio IX concedeu o jubileu tam-


bém para aquele ano (embora houvesse apenas um intervalo
de dez anos a partir do jubileu anterior). O prazo de trinta e
tres anos estipulado por Urbano VI para os anos jubilares
venceu-se no ano de 1423. Todavía o Papa Martinho V resolveu
só celebrar o ano santo em 1425, depois de extinto o cisma do
Ocidente e pacificada a cidade de Roma.

Em 1450, o Papa Nicolau V presidiu a solene ano jubilar,


marcado pela canon izacáo de Sao Bernardino de Sena, que era
muito popular em toda a Italia. Finalmente em 1470 o Papa
Paulo II resolveu amiudar os jubileus, fazendo-os ocorrer de 25
em 25 anos, visto que suscitavam grande fervor e a renovagáo
de vida dos fiéis. De entáo aos nossos dias, os anos jubilares
tém sido celebrados regularmente, notando-se apenas duas
excegóes (1800 e 1850), devidas as ingratas circunstancias em
que se achava a cidade de Roma.

Eis o elenco completo dos anos jubilares ordinarios:

19 1300 Bonifacio VIII


29 1350 Clemente VI
39 1390 Urbano VI, Bonifacio IX
49 1400 Bonifacio IX
59 1425 Martinho V
69 1450 Nicolau V
79 1475 Sixto IV
89 1500 Alexandre VI
99 1525 Clemente Vil
109 1550 Paulo III, Julio III
119 1575 Gregorio XIII
129 1600 Clemente VIII
139 1625 Urbano VIII
149 1650 Inocencio X
159 1675 Clemente X
169 1700 Inocencio XII, Clemente XI
179 1725 Bento XIII
189 1750 Bento XIV
199 1775 Clemente XIV, Pió VI
1800 nao celebrado (Pió VI era alvo de NapoleSo
Imperador)
209 1825 Leáo XII
1850 nao celebrado (Roma, sob Pió IX, era pertur
bada pelo movimento de unificagáo da Italia)
219 1875 Pió IX (jubileu celebrado sem grande soleni-
dade, pois Roma caira em 1870 e o Papa era
prisioneíro no Vaticano)
229 1900 LeSo XIII
239 1925 Pío XI
249 1950 Pío XII
fcuJLa Vi
— 519 _
<-PERGUNTE E RESPONDEREMOS- 1(58/1973

Houve também numerosos jubilcus extraordinarios, pro


mulgados pelos Pontífices por ocasiáo de algum acontecimento
especial da historia da Igreja. Entre outros, seja notado o de
1933, com que o Papa Pió XI quis comemorar o 19* centenario
da Redencáo do género humano.

Aproximando-se, pois, o ano de 1975, colocou-se nos ambi


entes católicos a qucstáo da oportunidade de o declarar ano
jubilar ou Ano Santo. Vejamos em que termos se punha a per-
gunta e como S. Santidade o Papa Paulo VI lhe quis responder.

2. Ano Sonto em 1975 : sim ou nao ?

2.1. Urna alocu$óo de Paulo VI

Dizia o S. Padre Paulo VI na audiencia pública de 9 de


maio de 1973:

"Perguntamo-Nos a Nos mesmos se valeria a pena ser mentida essa


tradicáo (dos anos jubilares) em nossos tempos. tao diversos dos tempos
passados e, além disso, tio condicionados, de um lado, pelo estilo religioso
impresso pelo recente Concilio á vida oclesial e, do outro lado, peto desin-
teresse prátlco que se verifica em diversas partes do mundo moderno com
relacio a expressdes rituais de outros sáculos".

Depois de propor o problema, continua S. Santidade:

"Convencemo-Nos bem depressa de que a celebracfio do Ano Santo


n3o só pode Inserir-se na linha espiritual do masmo Concilio,... mas pode
multi'ssimo bem contribuir aínda para aquele eslorco incansável e amoroso
que a Igreja está a envidar no sentido de acorrer ás necessidades moráis
da nossa época" (cf. SEOOC n° 63, agosto 1973, cois. 156s).

Importa-nos aprofundar as dif¡ciudades a que aceña o S.


Padre, a fim de melhor entendermos a resposta positiva que S.
Santidade lhes dá.

2.2. Tres obje;óes em foco

O histórico dos anos jubilares deu a ver quanto a institui-


eáo do Ano Santo entre os cristáos está associada a tragos bem
característicos da piedade medieval ou, mais amplamente, de
épocas passadas, tragos que parecem ter-se tornado menos mar
cantes na piedade contemporánea. Assim é que hoje em dia,
quando tanto se fala de cultivar urna piedade mais consciente

— 520 —
1975 : ANO SANTO E JUBILEU

e profunda, purificada de expressóes ambiguas, aparentemente


supersticiosas, muitos perguntam se ainda vale a pena falar de
Ano Santo e acreditar na santidade de um ano,... se ainda se
devem estimular as peregrinacóes ou apregoar as indulgencias
(too sujeitas a ser mal entendidas pela gente simples).

Examinemos cada qual dessas questóés de per si, a comecar


peta própria nocáo de Ano Santo.

a) Ano Santo: conceito pagáo ou cristáo?

Ha quem rejeite a expressáo «Ano Santo», afirmando que


a santidade convém a Deus, e nao ás coisas. Mais: alegam que
o homem de hoje, habituado a considerar o tempo como algo
de essencialmente profano, nao pode entender o que venha a
ser «Ano Santo».

— Em resposta, faz-se mister elucidar o conceito de «tem


po santo». Na verdade, existe urna maneira paga ou mítica de
entender tal expressáo.

Para os pagaos, o tempo sagrado se distingue do profano,


porque nele opera urna forca superior, benéfica ou maléfica,
que torna felizes ou infelizes as átividades do homem realizadas
naquele tempo sagrado; há, sim, días fastos e días nefastos no
calendario pagáo. — Segundo outro modo de ver, inspirado na
mitología, o tempo é sagrado porque certos ritos entáo celebra
dos reproduzem acontecimentos prímordiais ocorridos no inicio
da historia: entre os babilonios, por exemplo, os doze primeiros
dias do ano (akitu) eram marcados por cerimónias que repre-
sentavam a luta entre Marduque e o monstro Tiamat, luta que
terminou com a vitória de Marduque e pos fim ao caos primor
dial; o poema de Enuma elish era entáo recitado repetidamente.

Ora a concepgáo crista de tempo sagrado é diferente. O


cristáo nao atribuí ao tempo como tal urna sacralidade; para
ele, nenhum tempo é sagrado ou santo por ter em si a capa-
cidade mágica de salvar o homem ou de favorecer o encontró
com Deus; o tempo é sempre igual a si mesmo. Nao há, por
tanto, tempos propicios e tempos nefastos. Toda e qualquer
época é favorável ao encontró do homem com Deus e á salva-
cáo, pois Deus incessantemente chama os homens ao encontró
com Ele na fé e no amor.

— 521 —
1D .PERGUNTE E RESPONDEREMOS;- 163/1973

Nao obstante, o Cristianismo fala de tempos santos, como


sao, por exemplo, o domingo, a Semana Santa, o Ano Santo...
Essa santidade entender-se-á no sentido seguinte: a historia da
humanidade é, por inteiro, historia sagrada ou historia da sal
vacáo pelo fato de que Deus nela está sempre a agir, convidan
do o homem a se converter ou a se reconciliar com o Pai do céu
e com seus irmáos. Mas nessa historia sagrada existem mo
mentos em que os apelos do Senhor sao mais insistentes e a
acáo da graga mais intensa: a S. Escritura reserva para tais
momentos o nome de kairói, em lugar de clirónoi (que sao os
tempos físicos, astronómicos, medidos por um cronometrista);
conseqüentemente, Sao Paulo fala de kairós euprósdektos ou
«tempo bem aceito», favorável & conversáo, e «dia da salvacáo»
(2 Cor 6,2).

É a luz desta proposicáo que se deve considerar o Ano


Santo. Este vem a ser urna fase da historia da humanidade
em que o amor salvífico de Deus age mais intensamente na
Igreja e em todo o género humano; é entáo mais forte o apelo
de Deus á conversáo e á salvacáo, e mais ricas sao as gracas
do Salvador. Em testemunho disto, a Igreja, dispensadora dos
méritos de Cristo, abre mais largamente os tesouros da Reden-
cáo, concedendo indulgencias, que incitam os fiéis ao arrepen-
dimento e á mudanca de vida.

Passemos agora á segunda questáo que o Ano Santo pode


suscitar na mente de um homem de hoje.

b) Peregr¡na$6o ?

Sabemos que os cristáos antigos e medievais procuravam


freqüentemente os grandes santuarios (de Jerusalém, de Roma,
da Gália, da Espanha), a fim de lá orarem mais fervorosamen
te; sacrificavam-se duramente, caminhando pelas estradas, as
vezes mesmo descalcos, sem ter onde pousar, passando noites
em vigilia, etc. Mas também se sabe quanto as peregrinacóes
estáo sujeitas a ser desvirtuadas em nossos dias: para muitos,
podem tornar-se ocasiáo de viagens turísticas, luxuosas, em-
preendidas em espirito de gozo e recreacáo. Em outros casos,
as peregrinacóes podem ser realizadas com intencóes supersti
ciosas, como se o encontró com tal imagem religiosa fosse pro
piciar certamente a cura de alguma doenca ou a solucáo de
1975 : ANO SANTO E JUBILEU 11

determinado problema. — É em vista destes abusos que certos


autores se mostram reservados no tocante á conveniencia de
promover peregrinagóes em nossos tempos.

A estas dificuldades deve-se responder que, quando bem


entendidas e praticadas, as peregrinagóes constituem um exer-
cicio de fé altamente valioso. A Biblia Sagrada e a praxe de
judeus, cristáos e mugulmanos as recomendam. Quem pere
grina, vai procurar contato com um lugar em que a presenga
de Deus se tornou particularmente manifesta ou com um lugar
que Deus quis designar para ter seus encontros marcados com
os homens, derramando ai particulares gragas sobre os fiéis.
— Entende-se que hoje em dia os peregrinos recorram aos
meios de transporte modernos; isto, porém, nao excluí que du
rante o trajeto pratiquem atos de penitencia, pobreza, sobrie-
dade, abstinencia ou jejum, e procurem libertar-se do super-
fluo, do inútil, do que entrava o amor a Deus e o espirito de
oragáo. Assim urna peregrinacáo se distinguirá bem de um
passeio turístico; os incómodos que ela possa acarretar, seráo
aceitos pelo cristáo em atitude de penitencia e santificagáo.

Entre os lugares que mais estima mereceram dos peregri


nos cristáos, vem, antes do mais, a Térra Santa, santificada
pela presenga de Cristo e da SS. Virgem (tenham-se em vista
Jerusalém, Belém, Nazaré...); os fiéis de Cristo sempre pro-
curaram com grande fervor visitar o país bíblico por excelencia.
— Mas Cristo se manifestou e manifesta também na vida de
seus Santos, principalmente na dos Apostólos. Dai a venera-
gáo que os cristáos sempre dedicaram a Roma, onde os Apos
tólos Pedro e Paulo pregaram a fé e morreram, ficando lá se
pultados. A estima a Roma era táo grande entre os cristáos
peregrinos que a palavra «romeiro» veio a ser símbolo de
«peregrino>.

c) Indulgencias?

As indulgencias tém sua justificativa teológica clara, como


já foi demonstrado em PR 90/1967, pp. 252-261. Em poucas
palavras, eis como se devem entender: na Igreja antiga, a absol-
vigáo dos pecados só era dada aos penitentes que deles se
acusassem e, a seguir, se submetessem a rigorosa penitencia:
urna quarentena de jejum, por exemplo, durante a qual o peni
tente se trajava com sacos e cilicio, ficando privado de assistir

— 523 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 1G8/1973

á Liturgia eucaristica. Essa penitencia, realizada com fervor


e contricáo, tinha a finalidade de concorrer para extinguir os
resquicios ou as más inclinacóes que o pecado sempre deixa
no íntimo de quem o comete.

Com o tempo, porém, a Igreja houve por bem abrandar


táo rigorosas práticas penitenciáis, pois estas em muitos cases
exigiam condicóes de saúde que os penitentes nao possuiam. O
abrandamento fez-se por etapas sucessivas e paulatinas me
diante o seguinte raciocinio teológico: a S. Igreja é depositaría
dos méritos de Cristo que frutificaram nos méritos da Bem-
-aventurada Virgem Maria e dos Santos, constituindo o tcsouro
da Igreja. Ora os Papas e Concilios julgaram oportuno, a partir
do séc. IX, aplicar esses méritos em favor dos pecadores que
so deviam submeter a rigorosas penitencias. A estes se dava a
absolvigáo dos pecados após a confissáo de suas faltas. Quanto
as duras obras expiatorias que se impunham a tais penitentes,
foram sendo substituidas (comutadas) por outras mais brandas,
obras ás quais a S. Igreja associava diretamente os méritos
satisfatónos de Cristo; assim, em lugar de jejuns, podiam ser
impostas oragóes; em vez de longa peregrinacáo, o pernoitar
em um santuario; em vez de flagelacóes, urna esmola... Estas
obras mais brandas, embora üvessem em si menos valor expia
torio, eram, nao obstante, igualmente valiosas, pois a S. Igreja,
num gesto de indulgencia, lhes anexava algo da expiagáo suma
mente meritoria de Cristo. Foram chamadas «obras indulgen
ciadas» (enriquecidas de indulgencias). A remissáo da pena
temporal obtida pela prática de tais obras tomou o nome de
«indulgencia».

No séc. XI, os bispos comecaram a conceder indulgencias


gerais, isto é, oferecidas a todos os fiéis, sem se exigir a inter-
vencáo direta de um sacerdote. Em outros termos: os bispos
estipularam que, prestando tal ou tal obra, os fiéis poderiam
obter, por especial aplicacáo dos méritos de Cristo, a remissáo
da dura satisfacáo devida aos seus pecados já absolvidos. Com-
preende-se, porém, que tal remissáo ou indulgencia nao se lu-
crava de maneira mecánica; era sempre necessário que o peni
tente, ao realizar a obra indulgenciada, tivesse em si as disposi-
góes interiores, ou seja, o horror ao pecado e o férvido amor
a Deus que ele teria se fosse prestar urna quarenta ou mais
de jejum e cilicio... Sem tais disposic5es, nao se ganharia a
indulgencia almejada.

— 524 —
1975 : ANO SANTO E JUBILEU 13

Verdade é que no fim da Idade Media a prática das indul


gencias foi ofuscada pela exuberante piedade e a pobreza teo
lógica dos fiéis e dos pregadores da época. Urna aparéncia de
automatismo e «contabilidade religiosa» fizeram que a instituí-
gao das indulgencias se tomasse objeto de críticas. Finalmente,
após o Concilio do Vaticano II, o Papa Paulo VI em 1967 re-
afirmou o valor das indulgencias; quis, porém, por em relevo
o sentido profundo e teológico das mesmas, reformulando a
maneira de se lucrarem indulgencias; visou assim a excitar o
espirito de contricüo e penitencia que deve animar a execugáo
das obras indulgenciadas, ficando removida toda aparéncia de
automatismo espiritual que outrora podía inspirar certos fiéis.

É por isto que a proclamagáo do Ano Santo de 1975 fica


anexa, como de costume, a concessáo de indulgencias especiáis.
Estas nada tém de estranho para o homem moderno, desde que
compreenda o significado e o espirito das mesmas. Sejam con
sideradas como dom particularmente generoso da misericordia
divina e como convite, feito ao cristáo, para conceber a contri-
gao de seus pecados e entrar, de maneira mais copiosa, em
comunháo salvífica com os méritos de Cristo e dos Santos.

Vé-se assim que mesmo o cristáo de nossos días pode en


contrar na praxe da peregrinacáo e das indulgencias, caracterís
tica do Ano Santo, urna resposta ás suas aspiracóes religiosas.
Basta que tais costumes de piedade tradidonais lhe sejam apre-
sentados em auténtica luz, com todo o seu significado teológico.
Alias, se os cristáos antigos e medievais deram tanta importan
cia a tais práticas (principalmente ao peregrinar), nao é de
crer que o tenham feito sem motivos. Também nao é de crer
que a autentica vida crista e a genuína piedade só comecem
cm nossos días, como se as geracóes de cristáos antepassados
tivessem tido urna fé infantil, necessitada de se nutrir em prá
ticas religiosas de dúbio e escasso valor.

Urna vez propostas as razóes que justificam o jubileu ou


o Ano Santo de 1975, incumbe-nos realgar o programa de espi-
rituaJidade e de celebracóes que o S. Padre quis assinalar para
csse ano jubilar.

3. Ano Santo : renovagao interior e reconciliarás

Duas sao as Iinhas do programa de espiritualidade proposto


por S. Santidade para o Ano Santo: renovagáo e reconciliagáo.

— 525 —
14 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 168/1973

Sao estas, alias, duas características do jubileu tal como é indi


cado pela própria Biblia (cf. Lev 25); sao também os tragos
típicos da penitencia crista.

3.1. Renovajño

Sao palavras de Paulo VI na citada alocucáo de 9 de maio


de 1973:

"A concepcáo essencial do Ano Santo é a renovacfio Interior do ho


mem: do 'homem que pensa c, ao pensar, ve que perdeu a certeza da ver-
dade;... do homem que trabalha e, ao trabaihar, se dá conta de se ter
extrovertido a tal ponto que já nao conserva a posse bastante do próprio
coloquio pessoal;... do homem que goza e se diverte e que desfruta em
lal grau os meios que excitam a sua jubilosa experiencia, que chega a
sentir-se bem depressa entediado e deslludido por tudo isso. é necessárfo
reconstruir o homem; e Isso, a partir de dentro para fora. Fazer aqullo
que o Evangelho denomina conversSo, penitencia ou entáo metanola. Trata-
-se de um processo de auto-renasclmento, simples como urna tomada de
conscléncla o, ao mesmo tempo, complexo como um longo tirocinio peda
gógico e reformador. £ um momento de graga; e esta habltualmente nao
se recebe senáo de cabeca Inclinada. E pensamos nSo estar em erro, ao
descobrir no homem de hoje urna Insatlsfacao profunda, urna sacledade
luntamente com urna insuficiencia, urna infellcldade exasperada pelas falsas
receitas de fellcidade, com as quals ele se senté Intoxicado, e. enflm, urna
estupefacSo pelo fato de nao poder gozar os mil e um prazeres que a
cMllzacSo Ihe proporciona com abundancia. Por outras palavras: o homem
tem necessldade de urna renovacSo Interior, conforme o recente Concillo
preconlzou.

Ora bem, é precisamente para essa renovacSo pessoal e Interior e,


conseqüentemente, sob alguns aspectos também exterior que se destina o
Ano Santo" (cf. SEDOC n? 63, agosto 1973, col. 157).

O que chama a atengáo nestes dizeres de S. Santidade, é_o


interesse de propor a renovagáo dos cristSos como contribuicáo
para a reconstrucáo do homem de hoje. Sim; este é, muitas
vezes,

— cético em relacáo á Verdade. Aceita as proposigóes das


ditas ciencias exatas, ¿aseadas em matemática e na experimen-
tagáo. Todavia fora deste setor é propenso ao relativismo,...
relativismo que campeia na ética, na filosofía, no direito e ñas
expressdes religiosas do homem contemporáneo;

—: dilacerado pelo trabalho. Vive sempre nao só fora de


casa, mas também fora de si mesmo, de sua intimidade, de sorte

— 526 —
1975 : ANO SANTO E JUBILEU 15

que nao se encontra mais com o seu próprio cu. Ora o homem
que nao tem mais interioridade, silencio, recotiniento, arrisea-
-se a se tornar máquina, robó, joguete...;

— embriagado e também enfastiado pelas recreac5es (prin


cipalmente as eróticas). Tantos e tais sao os meios de diverti-
mento, que fácilmente empolgam o homem, mas fácilmente
também o decepcionam e deixam vazio, desiludido.

Frente a esta situagáo Paulo VI propóe urna renovacáo


que parta do íntimo do homem para fora, ou seja, para os seus
respectivos ambientes de familia, de trabalho, de recreagáo...
É dentro do homem que estáo as verdadeiras riquezas da per-
sonalidade (as riquezas do pensar, do querer, do amar, do auto
dominio, da purificagáo dos afetos...). Essas riquezas, urna
vez descobertas e cultivadas, se irradiaráo para o contexto de
vida da pessoa e o transformaráo.

Ora cabe, antes do mais, aos cristáos realizar essa obra de


renovacáo interior, para que possam mostrar e comunicar aos
seus semelhantes a alegría de haver encontrado nao somente
esta ou aquela faceta da Verdade, mas a Verdade (que é o pró
prio Deus a falar pelo Evangelho);... a alegría de serem felizes
por saberem donde vém, para onde váo, qual o sentido da vida
humana, do trabalho aqui na térra, do sofrimento, etc. Aos
cristáos, que receberam gratuitamente o dom da fé, do batismo
e da Eucaristía, toca a ingente responsabilidade de nao enterrar
esses talentos, mas desenvolvé-los em seu íntimo e em seus
ambientes a fim de que seus contemporáneos — cansados, cé-
ticos ou «intoxicados» — se possam interessar e entusiasmar
pela vida crista e finalmente encontrar nesta também a sua
resposta feliz e entusiasmadora.

É, pois, para favorecer aos cristáos e a todos os homens


a renovacáo interior que Paulo VI quis instituir a celebracáo
do Ano Santo.

3.2. Reconcilíaselo

Esta segunda nota da espiritualidade do jubileu de 1975


está muito próxima da anterior, como observa o S. Padre na
mencionada audiencia de 9 de maio de 1973:

— 527 —
■••PKKGUNTE E RESPONDEREMOS» 168/1973

"Renovacáo é a tdéia central garal do próximo Ano Santo, polarizada


numa outra idéia central particular e orientada para a prátlca: a reconciüa-
cáo.

... Temos necessidade de roslabelecor relacdes auténticas, vitáis «


felizes, com Deus;... de ser reconciliados, na humildado o no amor, com
Ele, a fim de que, por meio desta primordial e constitucional harmonía,
todo o campo da nossa experiencia... se revista da urna virtude de re-
conciliacáo, na caridade e na Jusilca para com os homens, de modo a Ihes
reconhecermos ¡mediatamente o titulo de irmfios... A reconclllagSo realiza
rse também em outros pianos:... na própria comunidade eclesial, na so-
ciedade, na política, no ecumenismo, na paz..." (cf. SEDOC n? 63, agosto
1973, cois. 157s).

Com tais palavras, Paulo VI tem em vista a dolorosa situa


dlo da humanidade de nossos dias, dilacerada por odios e por
desejos de vinganga, represalia..., embora muito aspire á paz.
A Igreja se senté envolvida com todos os homens na procura
de urna so.'ucáo para o impasse.

Essa solugáo, Ela a indica por etapas, a saber: a experien


cia mostra que a paz entre os homens é impossivel se nao se
I he dá urna fundamentado sólida,... fundamentaQáo que é a
adesáo a Deus. Deve-se mesmo dizcr numa auténtica visáo
crista; se os homens nao se entendem entre si, divididos por
interesses egoísticos, isto se deve ao fato de que muitos e mui-
tos romperam o seu relacionamento com Deus (a Biblia mostra
que o irmáo matou seu irmüo, logo depois de mostrar que os
primeiros pais abandonaram a Deus; cf. Gen 1-4); o perdáo
aos inimigos, a benevolencia para com estes e a justiga sincera
nao podem brotar senáo num coragáo reconciliado com Deus;
é o Senhor quem inspira e comunica aos homens o amor gene
roso, forte como a morte (isto é, capaz de superar ofensas e
ingratidóes). É por isto que a procura de reconciliacüo e paz
entre os homens está inseparavelmente associada á reconcilia-
Cáo dos homens com Deus na programagáo do próximo Ano
Santo. Assim a Igreja repete hoje com énfase especial as pala
vras do Apostólo: «limaos, nos vos suplicamos em nome de
Cristo: reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5,20). Dessa recon-
ciliagáo proviráo frutos copiosos para toda a Igreja e para a
sociedade civil em seus diversos setores.

Vejamos agora sumariamente em que consistiráo as cele-


bragoes do Ano Santo.

— 528 —
1975: ANO SANTO E JUBILEU 17

4. As celebrares do ¡ubileu

A fim de que o ano de 1975 seja realmente um ano de


gracas para todos os homens, o S. Padre Paulo .VI quis dar
inicio 'ás celebracóes do jubileu no domingo de Pentecostés, ou
seja, aos 10 de junho de 1973; a partir dessa data, a S. Igreja
já está vivendo um clima de ano jubilar. Toca ás Conferencias
Episcopais ou aos bispos de cada país católico tragar normas
para promover em cada diocese e paróquia a renovacáo da vida
crista. O S. Padre deseja que nos próximos tempos haja em
cada célula da Igreja no mundo inteiro

— a explicacáo das finalidades do Ano Santo;

— a pregacáo da Palavra de Deus que prepare os fiéis


para atos penitenciáis, individuáis e comunitarios;

— celebragóes litúrgicas apropriadas para despertar nos


fiéis a consciéncia de sua comunháo com Cristo e com os
homens;

— peregrinag5es a igrejas e santuarios famosos em cada


país do mundo, como que em preparacáo para a grande pere-
grinacáo final a Roma.

Essas diversas celebragóes deveráo abrir-se, na medida do


possível, para os irmáos separados (protestantes e orientáis
ortodoxos). Isto quer dizer: os fiéis católicos háo de procurar
unir-se aos outros cristáos numa orac.áo comum (sem Eucaris
tía) em prol da reconciliagáo, como também em obras de cola-
boragáo em favor da sociedade (luta contra a fome, a nudez,
a ignorancia...).

Mais: o S. Padre desoja que o Ano Santo tenha seu signi


ficado para os homens que professam outras crencas religiosas
ou mesmo sejam indiferentes a Deus. Possam os fiéis católicos
empreender, juntamente com eles, iniciativas que tenham em
mira a reconciliagáo das familias e dos grupos separados pelo
odio e pela desconfianza!-

Os programas de renovacáo paroquial e diocesana seráo


executados por todo o ano de 1974. Por fim, em 1975 seráo
organizadas as peregrinacóes a Roma a partir das diversas
partes do mundo católico. Nao se poderia deixar de Iembrar

— 529 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 168/1973

que essas viagens nao devem assumir caráter meramente turís


tico ou ostensivo e luxuoso, pois entáo já nao seriam animadas
do espirito de penitencia próprio das peregrinacóes. É outros-
sim para desejar que a oportunidade de peregrinar nao seja
privilegio apenas de urna élite de fiéis; ao contrario, seria con
veniente que os mais aquinhoados (pessoas ou grupos) se inte-
ressassem pelos seus irmáos menos favorecidos económicamen
te, a fim de que também estes, dentro do espirito de pobreza,
penitencia e oracáo, possam entrar em contato com os lugares
santos de Roma. Na Cidade Eterna, além dos túmulos dos
mártires, merece carinhosa visita a pessoa do S. Padre
Paulo VI. O Papa é, para os fiéis católicos, o símbolo e o fator
visivel da unidade da Igreja; a sua missáo dura e espinhosa
tem-se tornado cada vez mais pesada em conseqüéncia da con-
testacáo que procede das correntes extremistas da Igreja. Nao'
é possível, porém, ser cristáo sem «sentir com a Igreja» e,
conseqüentemente, com o Papa, na medida em que o Sumo
Pontífice é o porta-voz da Igreja inteira e do Cristo Jesús. O
Ano Santo proporcionará aos fiéis católicos a oportunidade de
reavivarem em si a consciéncia da funcáo imprescindível do S.
Padre e a nogáo de fidelidade filial ao Sumo Pontífice.

Em 1975 também se completaráo dez anos de encerramen-


to do Concilio do Vaticano II. Possam entáo ser de novo modo
enfatizados os apelos do Concilio á conversáo e á renovacáo
interior! Se o Concilio se tornou ocasiáo de confusóes e desor-
dens na Igreja, isto se deve ao fato de que muitos o entenderam
superficialmente, assumindo atitudes de reformismo desenfrea-
do ou de conservadorismo obcecado, sem levar em conta que
a linha-mestra dos documentos do Concilio é um apelo caloroso
á conversáo interior e á fidelidade ao Evangelho. Quem se
compenetrar praticamente desta verdade, contribuirá podero
samente para amainar a presente crise da Igreja. — Ora é a
isto que tende a instituicáo do Ano Santo ou jubilar de 1975.

Nos fascículos de SEOOC (ed. Vozes), a partir do mes de agosto


1973 (vol. 6, n? 63), encontram-se os documentos da Santa Sé concer-
nentes ao próximo Ano Santo.

CORRESPONDENCIA MIODA

CONSTANTE LEITOR (Belo Horizonte): Recebemos o Boletim


que nos enviou. O assunto se prende á tese da ressurreicáo logo após
a morte. A propósito veja PR 138/1971, pp. 247-258; 156/1972, pp.
542-556.

— 530 —
Aínda a ICAB:

"canonizacáo" do padre cicero

Em síntose: O Pe. Cicero RomSo Batista (1844-1934) exerceu seu mi


nisterio sacerdotal em Juazelro (CE), auxiliando o povo fiel de todo o NE
na solucáo de problemas espirituais e temporals; tornou-se asslm extrema
mente caro á gente simples e religiosa daquela regISo. Todavía veriflcaram-
-se na vida do Padrim Cisso (asslm era chamado pelo povo) fatos eetra-
nhos: atribulam-se-lhe milagres, era lido como urna das pessoas da SS.
Trindade, num ambiente de fanatismo, que o Pe. Cicero (presumidamente,
de boa fé) contribuía para aumentar. As autoridades eclesiásticas suspen
de ram de ordens o "taumaturgo"; este foi a Roma prestar contas de sua
conduta... Envolveu-se também na política cearense, chegando a mover
o povo a urna sedigáo armada contra o Governo do Estado — atitude esta
que parece ter sido inspirada ao padre por amigos que o exploraram politi
camente. Finalmente morreu aos 90 anos, delxando fama de Messlas no
povo cearense.

Ora a dita "Igreja Brasllelra" canonlzou em julho pp. o Pe. Cicero


RomSo Batista, Isto é, declarou-o santo. Este ato merece a reprovacSo da
oplnlao pública a varios títulos: trata-se de fmltagSo de um ato típico da
Igreja Católica Apostólica Romana; por conseguinte, vem a ser mals um
dos numerosos plagios que a ICAB tem realizado para Iludir o povo simples
do Brasil. Reveste-se também de um cunho de demagogia, pols a figura
do Pe. Cicero é dlscutlvel do ponto de vista da sanldade mental; o seu
comportamento, propenso ao fanatismo, tem traeos patológicos. —Ademáis
a canonlzacáo do Pe. Cicero pela ICAB vem a ser a condenacáo da pró-
prla ICAB, pols o Pe. Cicero, em seu testamento, exortou todos os ro-
melros e fiéis a que segulssem fielmente a Igreja Católica Romana, da qual
ele mesmo quería ser membro. Donde se vé que venerar o Pe. Cicero
significa aderir á única Igreja de Cristo, que está fundada vlslvelmente
sobre Pedro e seus sucessores.

Em suma, a "canonizacáo" do Pe. Cicero fe re nSo somonte os senti-


mentos católicos do povo brasllelro, mas também as fibras de honestldade
e lealdade que existem em todo hometn de bem.

Comentario: Chamou a atengáo do púbico a apregoada


«canonizaqáo» do Pe. Cicero Romáo Batista (dito popularmen
te Padre Cisso ou também Meu Padrim ou Padim), que a cha
mada «Igreja Católica Apostólica Brasileira» (ICAB) levou a
efeito no comego de julho pp., por ocasiáo de um Concilio
plenário brasiliano.

A fim de propiciar clareza sobre o ambiguo assunto, pro


curaremos abaixo trabar um esbogo biográfico-psicológico do

— 531 —
20 «tPERGUNTE E RESPONDEREMOS* 1G8/1073

Pe. Cicero (1844-1934). Ao que se seguiráo algumas nogóos


atinentes á canonizagáo dos santos e urna análise do gesto da
ICAB.

1. Quem era «Meu Padim» ?

1.1. Trajos biográficos

1. O Padre Cicero Romáo Batista nasceu em 1844 na ci-


dade do Crato (CE). Tendo ingressado no Seminario, chamou
a atengáo dos Superiores pelas suas atitudes singulares, de tal
modo que o Reitor do estabelecimento, em Fortaleza, Padre
Pedro Chevalier, levantou dúvidas sobre a conveniencia de se
lhe conferirem as Ordens sacras. Todavía o bispo do Ceará,
D. Luís dos Santos, julgou que o «misticismo» do candidato
nao seria entrave para a sua acáo missionária; em conseqüén-
cia, o diácono Cicero Romáo Batista recebeu o presbiterado no
ano de 1870.

Tendo sido enviado para servir no Crato, sua térra natal,


o Pe. Cicero comegou ardoroso trabalho de evangelizagáo na
fazenda do Juazeiro, a tres leguas daquela cidade. Os habitan
tes dessa pequeña vila, que nao contava mais do que cinqüenta
palhogas, em breve se afeigoaram ao seu Cura, que passou a
exercer notavel influencia sobre tal populagáo; o padre entáo
desenvolveu agáo benfazeja em prol dos seus fiéis simples e
rudes.

Sobrevieram os calamitosos anos da seca de 1877-1879 —


o que deu ocasiáo a que o sacerdote mais exercesse seu zelo
missionário: atribui-se-lhe a iniciativa do plantío da mandioca
c da manicoba na Serra do Araripe, além de construgáo de
pogos e pequeños agudes. O Padre Cicero se esmerava tarn-
bém em dar conselhos o ensinamentos ao povo que repetida
mente o procurava para lhe expor as suas afligóes; assim pra-
ticava ele urna paternidade espiritual, que passou a se exprimir
no apelativo «padrinho» ou «meu padrinho» ou ainda «padrim»
com que o povo designava o sacerdote. Muitos dos conselhos do
«padrinho» passaram de geragáo a geragáo no NE sob forma de
proverbios, dentre os quais se podem citar os seguintes: «Carne
de sexta-feira é muito ruim de se comer. Mas é melhor comer
carne na sexta-feira do que falar com amancebado»; «A pessoa
que bebe muito, é urna raposa no inferno»; «Se quiser viver

— 532 —
DO PADRE CICERO 21

nestes lugares, no santo Juazeiro, se quiser trazer urna carga


de dinheiro, traga urna mochila de paciencia, que será melhor».

2. Em junho de 1890, deram-se no Juazeiro fatos estra-


nhos, que contribuiram para aumentar a autoridade e a fama
do Pe. Cicero. Com efeito, Maria de Araujo, depois de receber
a S. Comunháo das máos do Pe. Cicero, no dia 11/71/1890,
caiu convulsionada por térra. Os fiéis que a socorreram, veri-
fícaram que um fio de sangue Ihe escorria da boca entreaberta;
esse sangue foi tido como o sangue mesmo de Cristo. O pre
sumido milagre se repetiu por ocasiáo do sucessivas comunhóes
de Maria de Araujo. Propagou-so entáo pelos arredores a noti
cia de tais acontecimentos, até mesmo com pormenores fanta-
sistas ou exagerados. Milhares de devotos, atraídos pelo mara-
vilhoso, se deslocaram para o Juazeiro, certos de que o Pe.
Cicero era um carismático ou um novo Messias; com o tempo,
houve mesmo quem o identificasse com urna pessoa da SS.
Trindade, como atesta o refráo que o povo repetía insistente
mente:

"Nao tenho capaeldade


Mas sei que nfio digo a toa:
Padre Cipo é urna pessoa
Da Santíssima Trindade".

Muitos outros mil agres eram atribuidos ao poder tauma


turgo de Pe. Cicero: assim o apressar a chuva que tardava, a
repressáo de invernó demasiado copioso, a cura de paralíticos,
maniacos, enfeiticados...

Quanto ao caso de Maria de Araujo, em cuja boca a hostia


consagrada «sangrava», foi investigado por urna comissáo de
sacerdotes e médicos nomeada pelo bispo do Ceará D. Joaquim
Vieira. Num primeiro laudo, tal comissáo concluiu seu exame
dizendo que o fenómeno nao podia ter explicacáo natural e de-
via ser tido como «realmente milagroso». Um dos médicos
chegou mesmo a declarar em atestado escrito «que o sangue
em que a hostia se transformava nao podia deixar de ser se-
náo o sangue de Nosso Senhor Jesús Cristo». Todavía o Sr.
bispo D. Joaquim Vieira, suspeitando de tal parecer, mandou
proceder a novas investigacóes, ao término das quais a comis
sáo se retratou: averigüou-se que Maria de Araujo, antes de
comungar, colocava na boca urna cápsula cheia de sangue de
galinha, cápsula que ela premia entre os dentes depois de co
mungar, de modo a fazer jorrar o sangue. A conclusáo que de

— 533 —
22 tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 1G8/1973

imediato se tirava do fato, era que o próprio sangue de Cristo


assim se manifestava aos homens!...

O Pe. Cicero nao se furtava a receitar em favor dos en


fermos que o fossem procurar em busca de alivio: prescrevia
cha de angélica, purga de salapa, infusáo de pepa conha e ou-
tros meios caseiros, que, segundo se dizia, eram eficazes para
proporcionar a cura ao enfermo.

3. Aconteceu aínda em Juazeiro o rumoroso caso do


«boi santo». Com efeito, certa vez deram ao Pe. Cicero um
garrote mestigado de zebú, em retribuicáo de um milagre ou
receita do Padrim. Sendo um animal de raga, o Pe. Cicero
entregou-o a um dos homens de sua confianga — José Louren-
co —, para que o criasse. Um dia, porém, um dos amigos e
eompanheiros de Zé Lourengo fez a promessa de oferecer ao
boi do Padrinho um tenro feixe de capim, da melhor qualidade,
caso fosse atendido em scus apuros.

Urna vez alcancacla a graga, o devoto viu-se obrigado a


cumprir o prometido. Todavía, dada a intensa seca da época,
nao havia no local senáo gravetos ressequidos ou a rama ama-
relada das juremas em agonía. Ora deixar de cumprir a pro
messa equivalía a incorrer em castigo, castigo com que o Pa
drinho onipotente fulminava os maus (segundo a interpretacáo
do povo). Por isto o fiel devoto resolveu ir roubar a forragem
a alguns quilómetros de distancia em um pasto fechado numa
várzea sempre fresca. Eis, porém, que, ao apresentar ao boi
o capim roubado, notou que o animal o rejeitava com mugidos
nao habituáis. O devoto entáo atirou-se aos pés do animal e
pós-se a suplicar: «Misericordia, meu Padrim! Misericordia! Eu
roubei, mas nao roubo mais ! Misericordia !» Diante do fato,
Lourengo, o guarda do boi, concluiu que se tratava de milagre
operado pelo boi. Em desagravo ao Padrinho, os fiéis rezaram
urna novena em presenta do animal. Daí por diante, numerosos
foram os milagres que a piedade popular passou a atribuir ao
«boi santo». Poucos dias depois do ocorrido, o boi ruminava
diante de manjedoura florida, com rosarios de tucum pendentes
ao pescogo, e bentinhos e lagarotes ñas aspas. Muitos romeiros,
logo depois de haver saudado o Padrinho, iam procurar o ani
mal na ansia de o ver ou mesmo de cumprir urna promessa:
ofereciam-lhe erva fresca, mingaus, papas, bolos... Um frag
mento dos chifres ou dos cascos do animal (o que só podia ser
comprado a elevado prego) punha fora de perigo qualquer

_ 534 —
tCANONIZACAO DO PADRE CICERO 23

pessoa que, atacada de quebranto, «espinhela calda» ou «bouba


de legitima», o trouxcsse ao pescoco (dizia o vozerio popular).

Impressionado pelos acontecimentos, o Dr. Floro Barto-


lomeu, chefe político do Juazeiro, resolveu mandar por fim a
esse culto do animal. Mas Zé Lourenco e muitos fiéis se revol-
taram contra tal ordem. Em conseqüéncia, o guarda do boi
foi encarcerado com alguns de seus companheiros, e o boi foi
imolado em frente á própria cadeia, entre lamentagóes e lágri
mas copiosas dos romeiros inconsoláveis.

4. Compreende-se que, em vista dos acontecimentos do


Juazeiro, as autoridades eclesiásticas tenham chamado a aten-
cao do Padre Cicero, que, renitente, foi finalmente suspenso
de ordens e chamado a Roma para se justificar.

De regresso ao Juazeiro, o Padrinho continuou a exercer


a lideranga religiosa — e também política — na sua regiáo,
por própria iniciativa e á revelia dos Superiores eclesiásticos.

Um médico baiano, Dr. Floro Bartolomeu da Costa, em


1908 apareceu no Juazeiro, acossado por inimigos (segundo se
dizia). Acolhido em casa do padre, tornou-se o seu homem de
confianga. O Dr. Floro, assim favorecido, compreendeu as van-
tagens que poderia tirar da situagáo. Pós-se a exercer intensa
atividade política, servindo-se do nome do Padre, que seria o
instrumento dócil das maquinacóes do Dr. Floro.

Em 1911, os dois líderes obtiveram a criagáo do municipio


de Juazeiro, onde o Pe. Cicero assumiu o lugar de prefeito. O
Dr. Floro conseguiu um lugar na Cámara Federal pelo Ceará,
e tornou-se ardoroso defensor do Padre, a quem chamava
«santo».

5. Em 1913, o Pe. Cicero, incitado pelo Dr. Floro e ou-


tros espertalhóes, induziu o povo a pegar em armas contra o
Governo do Ceará, que passara das máos da familia Accioly
para as do Govemador Franco Rabelo. Aos 9 de dezembro de
3913, o Padrim depós as autoridades constituidas de sua po-
voacáo e desarmou o pequeño contingente da Forga Pública ai
destacada. Logo deu posse ao novo Govemador do Estado, que
seria o Dr. Floro Bartolomeu da Costa. Este nomeou os Se
cretarios de seu Gabinete e transferiu a sede do Governo de
Fortaleza para o Juazeiro, e pós-se a baixar decretos, que eram
comunicados ao público por telégrafo. O legítimo Governo do

— 535 —
2-i «PERGUNTE E RESPONDEREMOS^ 1Ü8/1973

Estado reagiu, enviando urna expedigáo militar a rugiüo rebel


de. Todavía os sequazes do Pe. Cicero resistiram dentro das
trinchen-as que cercavam a cidado do Juazeiro. Acreditavam
os devotos que quem morresse pelo Padrinho, onde quer que
fosse, ressuscitaria perfeito e sao no Juazeiro mesmo; conta-
ram-sü até casos que pareciam comprovar cssa crenga. Os re
volucionarios puseram-se em marcha sobre Fortaleza, depre
dando o saqueando cidades c aldeias, como Quixeramobim,
Quixadá, Baturité, Redengáo... Estabeleceram seu Quartel-
-Gcneral em Maranguape, cortando as comunicagóes entre a
capital e o interior do Estado. Em conseqüéncia, aos 4 de
marco de 1914 foi decretado o estado de sitio em todo o Ceará
e deu-se intervengáo federal no Estado sob o comando do Co
ronel Fernando Setembrino de Carvalho.

G. Da sedicáo decorreram numerosos males para o Esta


do, entre os quais a afluencia de cangaceiros para o Juazeiro:
Virgolino Ferreira da Silva, por exemplo, encontrou refugio
nesla cidade, depois de ter declarado guerra oficial aos Gover-
nos da Paraiba e de Pernambuco.

O jornal «O Ceará», diario de Fortaleza, mandou pergun-


tar ao Pe. Cicero por que nao mandava repelir ou prender
^Lampiño», pois que tinha á sua disposigáo oitocentos homens
armados do batalháo patriótico. Ao que respondeu o Padrim:

"Nao, meu amiguinho! Lampiáo procurou o Juazeiro com intuitos pa


trióticos; ele pretende se alistar ñas (oreas legáis para dar combate aos
revoltosos. Urna vez vltorloso, espera que o governo Irte perdoe os crlmes.
Este homem, que velo ao Juazeiro confiando em mlnha protecáo, pretende
se regenerar. Se n§o for posslvel alistá-io ñas torgas legáis, eu o encami-
nharcl para Goles, onde levará vida honesta, como já flz com Slnho Perelra
e Luis Padre. Está mals ou menos demonstrado que os Governos de Per
nambuco e Paraiba nSo conseguírflo prender Lampiio, entregando seu ban
do á Justlca. O povo é sempre prejudicado nestas coisas: é vltlma de Lam
piáo e, multas vezes, da policía também... Este estado de coisas pode ser
modificado fácilmente: eu consigo que LampISo se vá embora para muito
longe e asslm (loaremos livres deles.

Porém, mandar prendé-Io aquí em Juazeiro nestas circunstancias?! Era


um ato de revoltante tralefio. indigno de qualquer homem, quanto mals de
um sacerdote católico.

Eu prevejo que muita gente agora, e principalmente meus desafetos,


vao dizer que estou mancomunado com LampISo: mas nao é tal. Aquí no
Juazeiro eu recebo todas as pessoas que me procuram é (Ico satisfello em
prestar asslstfincla a um transvlado da sociedade, procurando gulá-lo no
bom caminho" (transcrito do llvro de Lourengo Fllho "Juazeiro do Padre
Cicero", p. 144. n. 68).

— 536 —
aCANONIZACAO> DO PADRE CiCERO 25

O Pe. Cicero viveu noventa anos, deixando um belo testa


mento, em que professava fidelidade & S. Igreja Católica Apos
tólica Romana, justificava seu comportamento e doava seus
bens a obras caritativas.

1.2. Que pensar?

Os julgamentos proferidos sobre o Padre Cicero tém sido


os mais contraditórios possíveis.

É sabido que o povo sertanejo do Nordeste o declarou


santo ou mesmo divino, em atitudes mescladas de crcndices e
superstigóes. Inegavelmente, o Pe. Cicero fez bem a muita
gente; promoveu seus interesses moráis e humanos, mercccndo
o apreco dos fiéis. Também foi exaltado por intelectuais, como
o Deputado Floro Bartolomeu da Costa, que obteve urna ca-
deira na Cámara Federal por prestigio do Padre.

Outros pensadores, porétn, recriminam severamente o Pa-


drim, atribuindo-lhe sentimentos e atitudes merecedores de
reprovacáo.

Entre as duas opinióes extremadas, muitas outras foram


proferidas, ora positivas, ora contrarias ao Padrim.

Na verdade, nao se podem ignorar boas intengóes e valio


sas realizagóes na pessoa e na vida do Pe. Cicero Romáo Ba
tista. Teve zelo missionário e, justamente por causa desse zelo,
conquistou a simpatía e a estima do povo. Mas parece que nao
se.podem negar no Padrim traeos de aberragáo mental, mito-,
manía e megalomanía. Só Deus pode julgar as consciéncias e
definir até que ponto o Pe. Cicero era guiado por sincero zelo
sacerdotal, e desde quando os desvíos mentáis o impulsionavam
a agir. Terá sido envolvido talvez em círculo vicioso: já pro
penso a atitudes pouco normáis ou fanáticas, o padre passou
a viver, como lider, em meio a um povo ignorante, tendente ao
fanatismo obcecado; em conseqüéncia, o padre empolgou ou
fanatizou aquela gente simples e foi por essa gente cada vez
mais obcecado e fanatizado; era difícil a quem quer que fosse,
deter a bola de nevé dos acontecimentos estranhos que se iam
acumulando na vida do Padre Cicero e dos seus admiradores.

Quanto ao foro externo ou ao comportamento visível do


Pe. Cicero, nao há dúvida de que nao é modelo, mas, antes,
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 168/1973

merece nítida reprovagáo. A insubordinagáo dentro da Igreja


e a sedigáo armada por motivos partidarios e politiqueiros nao
se justificam; antes, constituem prototipos do que nao se deve
imitar.

Ora foi o Padre Cicero Romáo Batista, do Juazeiro, que a


ICAB canonizou em julho pp. Vejamos, pois, o que é canoniza-
sao, na acepgáo precisa ou técnica deste vocábulo.

2. Ganonizasao : que é ?

A palavra canonizagao vem de kánoa (catálogo, em grego)


e significa etimológicamente o ato de colocar a!guém no canon
ou no catálogo (dos Santos). Quando a Igreja canoniza um
fiel cristáo, declara que ele levou vida santa e pode ser tido
como modelo para todos os seus irmáos em Cristo.

Nos primeiros sáculos, a proclamagáo de santidade de um


cristáo era feita espontáneamente pelo povo de Deus. A co-
munidade que houvesse convivido com tal ou tal irmáo marca
do por heroicas virtudes ou pelo martirio, reconhecia a santi
dade do mesmo e comegava a venera 4o após a morte.

Contudo as autoridades eclesiásticas velavam para que so-


mente os auténticos homens de Deus fossem venerados pelo
povo cristáo; pessoas idóneas eram encarregadas pe'os bispos
de consignar por escrito o que se dizia a respeito das virtudes
de tal justo e dos milagros obtidos por sua interccssáo. Diver
sos Concilios da antigüidade e do inicio da Idade Media tiveram
que proibir o culto público prestado a servos de Deus antes
que a autoridade eclesiástica se tivesse oficialmente pronuncia
do a seu respeito; também promulgaram cánones que manda-
vam cancelar das listas dos Santos nomes ai prematuramente
inseridos pelo fervor popular.

Tal estado de coisas se prolongou até o séc. XII... Nesta


época sabe-se que os Papas Urbano II (t 1124) e Eugenio III
(t 1153) repetidamente recomendaran! que as virtudes e os
milagres dos justos que pareciam dignos de ser inscritos no ca
tálogo dos santos, fossem examinados de preferencia em con
cilios, e principalmente em concilios gerais. Esta exortagáo é
bastante significativa: supóe que a piedade dos fiéis crlstáos se
deixara nao raro engañar por virtudes mais aparentes do que

— 538 —
«CANONIZACAO» DO PADRE CICERO 27

reais e que os bispos nao sempre davam conta da tarefa de se


informar diligentemente a respeito das qualidades e dos mila-
gres atribuidos a tal ou tal cristáo falecido. A Santa Sé era
conseqüentemente obrigada a nao ficar mais na atitude de
aprovagáo tácita ao culto dos Santos; mais e mais ela, de entáo
por diante, tendería a reservar ao seu supremo juizo a palavra
definitiva em assunto táo importante.

Aos poucos foi-se elaborando na Igreja urna Iegislagáo me


ticulosa concernente á canonizagáo dos Santos; esta supóe, hoje
em dia, um processo que consta de tres etapas :

a) o exame da vida e dos atos da pessoa que morreu


com fama de santidade. É preciso comprovar a heroicidade das
virtudes respectivas, apesar das objegóes que lhes possa fazer
o chamado «Advogado do Diabo»;

b) o exame dos escritos (cartas, notas pessoais, livros de


espiritualidade ou teología) que tal pessoa haja redigido. Re-
quer-se que tenha nutrido urna fé sadia, isenta de deturpagóes;

c) a realizagáo de milagres auténticos obtidos por inter-


cessáo do (a) servo (a) de Deus em favor de seus irmáos. A S.
Igreja nao faz questáo de apregoar milagres; mas reconhece
que Deus os pode efetuar a pedido de seus fiéis, a fim de lhes
testemunhar mais vivamente urna verdade ou mensagem de
terminada. Caso alguém declare ter sido beneficiado milagro
samente por algum Santo, a Igreja submete o apregoado por
tento ao exame de médicos e dentistas e, somente após verificar
que nao há explioagáo natural para o fato, Ela reconhece, no
caso, a intervengáo do Senhor, que assim quis atestar aos ho-
mens na térra a santidade do (a) servo (a) de Deus por cuja
Lntercessáo se obteve o milagre.

3. Padre Cicero e «canonizacao» pela ICAB

A respeito da atitude da ICAB em relagáo ao Pe. Cicero


Romáo Batista, podemos propor tres observares :

1) Em primeiro lugar, nao se pode deixar de sublinhar


que a chamada «Igreja Brasileira» nao é a Igreja de Cristo.
Este fundou urna única Igreja, que só pode ser aquela que
passou pe.'os Apostólos de geragáo em geragáo até nossos dias,

— 539 _
28 «PERPUNTE E RESPONDEREMOS» 168/1973

sem sofrer interrupcáo ou hiato e sem recomego humano. Ora


a Igreja BrasUeira nao existia antes de D. Carlos Duarte, ex-
-bispo de Maura, que deu inicio á ICAB em 6 de julho de 1945;
o fundador dessa Igreja é o infeliz D. Carlos, e nao Jesús Cris
to; por conseguinte, a ICAB, criada pelos homens, nao tem
autoridade para declarar em nome de Deus a santidade de
algum cristáo.

O que a ICAB tem procurado constantemente, é confundir-


-se com a Igreja Católica fundada por Cristo, usurpando para
tanto insignias e cerimónias do Catolicismo. A «canonizagáo»
do Pe. Cicero é mais um dos atos que a ICAB copia do Cato
licismo a fim de explorar a credulidade do povo brasileiro.

2) «Canonizando» (embora sem autoridade) o Pe. Cicero,


a ICAB lavrou a sua própria condenagáo, pois o Pe. Cicero
em seu testamento se dirigiu a todos os amigos nestes termos:

"Insistlndo, peso, como sempre aconselhel, que (os moradores desta


nossa térra, Juazelro) sejam bons e honestos, trabajadores e crentes,
amigos uro dos outros e obedientes e respeltadores ás lels e autoridades
civls e da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, no selo da qual táo
somente pode haver felicldade e salvacfio,... obedientes e respeltadore6
ás leis e autoridades clvls e da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana,
no selo da qual t9o somente podemos encontrar felicldade e salvagáo.
Estes conselhos, que sempre del em mirtha vida, nflo me canso de repetl-los
aquí, para que depois da mlnha morte bem gravados fiquem na lembranca
deste povo, cuja felicldade e salvacSo sempre foram objetos da mlnha
malor preocupacfio" (extraído do citado livro de Lourenco Fllho, p. 197).

Como se vé, o Pe. Cicero repudiava qualquer divisáo entre


os cristáos o incitava-os a permanecer fiéis á S. Igreja Católica,
cujo Chefe visivel é o Papa. Donde se vé que cultuar o Pe.
Cicero implica necessariamente adesáo á Igreja Católica Apos
tólica Romana e abandono decidido de qualquer cisma, que o
Pe. Cicero nunca reconheceria e aceitaría. — Parece que a
ICAB teria sido mais prudente se nao houvesse tocado no nome
do Pe. Cicero, que já de antemáo a rejeitou. Alias, os fatos
sugerem a pergunta: será que os líderes da ICAB examinaram
cuidadosamente os atos e os escritos do Pe. Cicero, para proce
der a urna canonizagáo crlteriosa c ponderada? Nao se tem a
impressáo de que foi o desejo de captar a simpatía do povo
simples do Nordeste que os levou a tal «canonizacáo» precipi
tada e inoportuna para a própria ICAB?

3) Além do mais, como se depreende da primeira parle


deste artigo, a vida do Pe. Cicero está envolvida em fatos ambi-

— 540 —
^CANONIZACACb DO PADRE CtCERO 2?

guos, ou seja, fatos inspirados nao só por fé, mas também por
estados psicopatológicos. Com esta observacáo, nao tencionamos
julgar a consciéncia do Padim, que podía estar de boa fé sob o
efeito do desequilibrio psíquico, num clima de fanatismo ali
mentado pela ignorancia dos pequeños c a esperteza dos maio-
rais da térra. Temos em vista, porém, lembrar que as atitudes
do Pe. Cicero nao sao modelo incontestável que se possa apre-
sentar ao povo de Deus como ideal ou prototipo de vida crista
e de santidade.

Este artigo Já eslava redigldo quando um leile* amigo nos cbamou a


atencáo para InterpretecSes mala b«névo(a« doe fenómenos exVaordinárlos
ocorrldos em torno do Padre Cicero e, da modo especial, na peseoa da
María de Arau)o. Esta terla sido urna autentica crista agradada por dons
de elevada vida mística Tal parece ser, entre outras, a tese do Pe. Azarias
Sobreira, citado na bibliografía abalxo.

Ora, apos haver ponderado quanto o Padre Azarias escreve, devemo»


dizer que sua exposl(lo favorável á gemilnidade doa referidos fenómenos
6 pouco convincente. O Ilustre escritor é Uto fiel a realidade histórica que,
atreves de suas llnhaa, se depreendem exageras » atitudes slmptórlaa, s»
nao doenlias, no Patriarca do Juazelro e em seua admiradores de outrora.
Em conaeqtlencla, |ulgamos mala urna vez nao poder dar crédito aos fenó
menos "misttcoa" do Juazelro do Padre Cicero.

Esta obaeryaefio nao significa necessariamente falha moral no Patriarca


e em seus devotos. O fervor mal orientado, unido a desequilibrios psico
lógicos, pode ter dado origem a tala fenómenos extraordinarios. Somonte
Deas sabe até que ponto o Padre Cícera era responsivo! por' seus atoa e
a partir de que ponto era vftbna da obcecacio palcopatológJca. Em todo e
qualquer caso, a eua eonsslincla parece ter procedido sempre com boa fé
e reta Intencio.

Bibliografía:

M. B. Lourengo Filho, "Juazelro do Padre Cicero". S9o Paulo, sem


data.

Pe. Azarias Sobreira "O Patriarca de Juazeiro". Juázeiro 1969.

Floro Bartolomeu, "Joazelro e o Padre Cicero". Rio de Janeiro 1923.

E. Hoornaert, "A distlncSo entre Leí e Roligiáo no Nordeste", em REB


19 (1969), pp. 580-606.

Notas do Secretárlo-Gera! da Conferencia Nacional dos Blepos do


Brasil e do Arcebispo-Primaz publicadas em "Lar Católico" de
29/Vil/73, p. 1.

— 541 —
Ecos da recente historia de Israel:

o templo de salomáo será reconstruido?

Em sfntese: O Templo de Jerusalém, construido pela primelra vez por


Salomáo (séc. Xa. C), reconstruido no séc. VI a. C, após a destruicfio
provocada por Nabucodonosor da Babilonia, fol finalmente arrasado pelos
romanos em 70 d. C. É o único lugar em que a Leí permite e prescreve
sejam oferecldos os sacrificios rltuais de Israel. Fora do Templo, os judeus
só tem o culto de lelturas e preces em suas sinagogas, mas nSo oferecem
os sacrificios previstos pela Leí de Moisés.

Sobre o lugar do Templo destruido, os muculmanos construíram no


séc. Vil a bela e suntuosa mesquita de Ornar, que ó um dos principáis
santuarios do Islamismo, até hoje altamente venerado e visitado pelos
muculmanos.

Mesmo após a destruicfio do segundo Templo em 70 d. C, os Israe


litas sempre asplraram é reconstrucfio do mesmo, pola o Templo de Jeru
salém é, para a piedade Judaica, o slnal sensfve! da presenca de Deus
em meló ao seu povo.

Até 1948, tal aspIracSo parecía vfi ou utópica. Tornou-se, porém, objeto
de reflexáo mais seria quando o Sionismo conseguiu fundar o moderno Esta
do de Israel na Palestina; principalmente após 1967, quando fol unificada
a Cidade Santa em mSos dos judeus, a questSo da reconstrucfio do Templo
e da restaurado dos sacrificios se tornou presente aos espirites dos
Israelitas.

Oíante da quastfio, dlstlnguem-se as posIcSes extremistas dos que


absolutamente nSo se Importam com tal problema, e a dos que porlam
mfios sem demora á tárela de reconstrucSo. A malorla, porém, dos judeus,
mesmo entre os ortodoxos e pledosos, detém-se em atitude hesitante, moti
vada por cinco razóes principáis: 1) nfio há mais dados precisos sobre a
localIzacflo exata do antigo Templo; 2) o ritual de sacrlffcios, ao menos
em parte, jé é desconhecido ou sujelto a dú vidas; 3) nave ría serlas diflcul-
dades para observar tal ritual em nossos dias; 4) a mentatldade moderna
é avessa ao culto tradicional dos sacrificios; 5) nSo seria fácil descobrli
hoje em día quals os genulnos descendentes do sacerdote AarSo, únicos
ministros legítimos dos sacrificios prescritos pela Leí.

Ponderando estas dlflculdades, há judeus que se mantém na expecta


tiva de que o Senhor manifesté mais claramente a sua vontade. Outros
dizem que o próprio Deus se encarregará de reconstruir o Templo, pondo
ssslm o termo final á historia do mundo.

Comentario: Sábese que, para os judeus, o Templo de


Jerusalém até 70 d. C. era simultáneamente a Casa de Deus,
o símbolo da fé monoteísta e o centro da vida religiosa e na-

— 542 —
O TEMPLO DE SALOMAO SERA RECONSTRUIDO? 31

cional. Só havia um Templo legitimo, e só podia haver um: o


que o próprio Deus mandara construir na Cidade Santa, sobre
a colina de Siáo. O reino cismático do Norte, no séc. Xa. C,
ergueu um Templo ilegítimo em Betel; cf. 1 Rs 12, 26-32. O
mesmo fizeram os samaritaños sobre o monte Garizim; cf. Jo
4, 20. Sabe-se ainda que respectivamente em Elefantina e Leon-
tópolis no Egito dois Templos foram construidos pelos judeus
da Diáspora, contradizendo aos principios da ortodoxia israelita.

A Lei de Moisés prescrevia que no Templo de Jerusalém


— e somente ali — se deviam oferecer os diversos sacrificios de
vegetáis e animáis prescritos pelo Ritual israelita. Fora do
Templo, principalmente na Diáspora, os judeus se reuniam e
reunem em sinagogas, que sao lugares de leituras, oragóes, can
tos, nao, porém, de sacrificios rituais. As sinagogas existem no
mundo inteiro; todavía o Templo de Jerusalém já nao subsiste,
ficando assim o povo de Israel impossibilitado de cumprir os
preceitos litúrgicos da Lei de Moisés. Enquanto Jerusalém era
ocupada por nagóes nao judias, compreende-se que os judeus
nao se pusessem concretamente a questáo da reconstrugáo do
Templo da Cidade Santa. Eis, porém, que a partir de 1967 toda
a cidade de Jerusalém está em máos de Israel. É o que torna
atual a questáo da possibilidade de se reconstruir o Templo do
Senhor em Jerusalém. Esta reconstrugáo, caso se dé, que sig
nificado terá para os judeus?... e para os cristáos? — Exa
minaremos o assunto, propondo primeiramente os termos exa-
tos do problema, para depois analisar o pensamento dos judeus
contemporáneos nossos a respeito.

1. O problema

1. As origens do Templo de Jerusalém datam dos tempos


áureos da monarquía israelita. O rei Davi, no séc. Xa. C,
tendo tomado a fortaleza Jebus para ali estabelecer a capital
do seu reino com o nome de Jerusalém, tencionou construir ai
um Templo para o Senhor, segundo as prescricóes da Lei de
Moisés; todavía o Senhor lhe deu a saber que nao ele, o rei
belicoso, mas seu filho Salomáo, o Pacífico, seria o construtor
da Casa do Senhor em Jerusalém; cf. 1 Crón 28,2-21; 2 Sam
7, 1-17.

Salomáo construiu o Templo e o dedicou ao Senhor em


960 a. C. com grande solenidade; cf. 1 Rs 6-8; 2 Crón 3-4.
Todavía em 587 Nabucodonosor, rei da Babilonia, arrasou Je-

._ 543 —
32 ^PERGUNTli E RESPONDEREMOS* 1G8/1973

rusalém e seu Templo, exilando a populagáo da cidade. Em


538, Ciro permitiu que os judeus voltassem á Cidade Santa;
estes entáo comecaram em breve a reconstrucáo da Casa do
Senhor, obra esta que lutou contra muitos entraves da parte
dos samaritanos e dos estrangeiros; após diversas peripecias, o
chamado «Segundo Templo» foi consagrado ao Senhor em 520
a. C. aproximadamente, sob o rei Darío I da Pérsia. Esse Se
gundo Templo era pobre e pequeño (cf. Esdr 3,12; Ag 2,3);
além do que, já nao continha a Arca da AHanca, que desapa
recerá na tormenta de 587. Foi violado e profanado por An-
tíoco Epifánio da Siria.

Finalmente Herodes o Grande concebeu o designio de dar


ao Templo do Senhor a amplidáo e a suntuosidade que pudes-
sem rivalizar com o esplendor do Primeiro Templo, construido
por Salomáo; a esplanada do monte Morían (ou Siáo, segundo
outra nomenclatura) foi alargada gracas a obras audaciosas e
gigantescas de terraplanagem. Os trabalhos iniciados no ano
20 a. C. so foram terminados em 63 d. C.; o edificio era real
mente majestoso. Infelizmente teve duragáo efémera, pois em
70 d. C. se tornou presa das chamas e os seus muros foram
arrasados pelos romanos, segundo a profecía de Jesús: «Nao
ficará pedra sobre pedra» (Mt 24,2).

A revolta de Simáo Bar Kochba contra os romanos em 132


conseguiu restaurar parte do Templo de Jerusalém. Mas em
135 Adriano, tendo vencido os rebeldes, mandou construir no
local do Templo um santuario dedicado a Júpiter Capitalino;
colocou ai urna estatua do próprio Imperador Adriano, á qual
se juntou posteriormente a de seu sucessor Antonino Pió
(138-161).

No séc. IV o Imperador bizantino Juliano o Apóstata


(361-363), querendo afligir os cristáos, permitiu aos judeus
que reconstruissem o Templo em Jerusalém; mas a obra, logo
que iniciada, teve que ser abandonada, pois erupcóes de fogo
procedentes do terreno a impediam.

Depois desses fatos, a Esplanada do Monte Moriah esteve


abandonada, já que aos cristáos parecia ser um lugar amal-
digoado por Deus; ervas bravas e lixo recobriram o terreno.

2. No séc. VII d. C, os maometanos, apoderando-se da


cidade de Jerusalém, ergueram no lugar mesmo do antigo Tem
plo dos judeus a mesquita dita de Ornar, que até hoje é um dos

— 544 —
O TEMPLO DE SALOMAO SERA RECONSTRUIDO? 33

principáis santuarios do islamismo e objetivo muito estimado


das peregrinacóes musulmanas. Diz a tradigáo islámica que íoi
na área do Templo que Abraáo se dispós a imolar seu fílho
Ismael (!) e que o profeta Maomé visitou o local.

Mesmo destituidos do seu Templo c da cidade santa de


Jerusalém, os judeus durante os últimos sáculos de sua disper-
sáo sempre formularam preces em favor da reconstrucáo do
Templo de Jerusalém e da restauracáo do culto do Senhor na-
quele santuario. Eis o teor de tais preces como se encontram
em diversos livros santos dó judaismo:

"Por causa de nossos pecados é que fomos exilados da nossa patria


o estamos longe da nossa térra. Já nao nos é posslvel subir ao Templo,
aparecer e prostrar-nos diante de Ti, para cumprlr nossas obrigacOes na
Casa que escomeste para Ti, Senhor, nesse Templo grandioso e santo que
traz o teu nome... Em tua ¡mensa misericordia, tem piedade de nos e do
leu santuario, e faze que este seja reconstruido e restaurado em seu es
plendor de outrora. Nosso Pal, nosso Rei, que a gloria do Teu reino venha
sobre nos... Reúne em tomo de Ti o teu povo disperso em meló as nacóes
e chama das extremidades da térra todos os nossos exilados. Reconduze-
-nos na alegría para a tua cidade de Siáo, Jerusalém, o lugar do teu san
tuario. Lá ofereceremos sem interrupcBo sacrificios de oblacfio por nossos
pecados segundo o ritual da nossa Leí. Nossa alegría será grande quando
nossos passos se detiverem dlante das tuas portas, ó Jerusalém, e nos
disserem: 'Subiréis á casa do Senhor!'"

No culto adicional — Moussaph — dos dias de festa, a


assembléia da sinagoga assim ora :

"Reconstrói, Senhor, tua morada como ela era, e restabelece o teu


santuario no seu lugar... Possamos vé-lo reconstruido e regozljar-nos com
a sua restauracáo!"

Compreende-se a nostalgia dos judeus pelo Templo c pela


cidade de Jerusalém, desde que se leve em conta que as sortes
do Templo se identificaran!, no decorrer da historia, com as
sortes do próprio povo de Israel. Profanacáo e destruicáo do
Templo significaran! geralmente dominio estrangeiro e exilio
para os judeus; reconstrucáo do Templo e restauracáo do culto
sempre implicaram em liberdade política e aprofundamento da
consciéncia nacional.

Mais: a montanha do Templo sempre foi tida como o mais


santo dos lugares santos dos judeus. A sua santidade intrínseca
e eterna ter-lhe-á sido conferida pelo próprio Deus por ocasiáo
da criagáo do mundo. Segundo os rabinos, era lá que Caím e
Abel ofereciam os seus sacrificios; foi lá que Noé agradeceu
ao Senhor depois do diluvio e que Abraáo preparou o sacrificio
M <;PERCUN'iT: E RESPONDEREMOS> 1GS/1973

de Isaque. O Templo, erguido sobre esse lugar que o próprlo


Deus terá escolhido, era considerado por Israel como a recom
pensa mais preciosa do Senhor ao seu povo. Duas vezes por
dia, os sacerdotes lá ofereciam sacrificios em nome de Israel
e em favor de todas as nagóes do mundo. Tres vezes ao ano,
ñas solenidades de Páscoa, Pentecostés e Tabernáculos, os ju-
cléus peregrinavam até esse lugar sagrado para «ver a face do
Senhor». No Templo os profetas recebiam a sua inspiragáo e
ñas imediagóes deste proferiam seus oráculos. O Sinedrio (ou
Tribunal Supremo do povo) tinha sua sede permanente no cor
til do Templo, interpretando ai a Tora para todos os israelitas.

Após a destruigáo do Templo era 70 d. C, os sinais de


iuío pela catástrofe sao até hoje freqüentes nos costumes ju
deus. Assim em toda casa de israelitas piedosos deixa-se urna
pequeña secgáo sem pintura; as mulheres nao devem usar todas
as suas joias simultáneamente; a cerimónia do casamento com
porta sempre um gesto de luto, que é geralmente a quebra de
um frasco por parte do marido debaixo do leito nupcial. Qua-
tro dias de jejum sao observados anualmente: o mais impor
tante de todos, o do 9n dia do mes Av, é precedido de vinte
dias de lamentagóes.

3. Até os últimos tempos, podía parecer temerario, se


nao quimérico e utópico, falar da possibilidade de se reerguer
o Templo de Jerusalém e nele recomegar o culto oficial pres
crito pela Lei. A partir de 1948, porém, ano em que se inau-
gurou o Estado de Israel na Palestina, surgiu a questáo, coloca
da talvez mais freqüentemente por nao judeus do que por ju
deus: o povo de Israel nao pensará em reconstruir o seu Tem
plo? Essa pergunta aínda era tímida até 1967, pois até esta
data os israelenses só possuiam a cidade nova de Jerusalém,
ficando a cidade velha (com a mesquita de Ornar) em poder
da Jordania. Todavía a partir de 1967, quando Jerusalém se
unificou por completo em máos dos judeus, a questáo tomou
novo propósito e vulto. De modo especial, levando em conta o
Sionismo mundial, com a sua filosofía, muitos perguntavam
(e perguntam): o Sionismo, preconizando desde o século passa-
do a fundacáo de um Estado judeu na Palestina, tem em mira
apenas urna instituicáo política? Ou visa também á restauragao
das plenas expressóes religiosas dos judeus, tais como sempre
foram apregoadas pelos rabinos e sabios de Israel?
r

Pode-se, de resto, notar que no século passado o rabino


alemáo Tsevi Hirsch Kallischer levantou seriamente a questáo

— 546 —
O TEMPLO DE SALOMAO SERA RECONSTRUIDO? 35

da reconstrugáo do Templo e da restauracáo dos sacrificios; foi,


porém, voz isolada entre os seus colegas de rabinato.

O fato é que, mesmo após a Guerra dos Seis Dias em 1967,


os mugulmanos conservam até hoje o dominio exclusivo da
Esplanada do antigo Templo; nao foram alterados essencial-
mente os estatutos que regulamentavam a presenca simultánea
de judeus, cristáos e mugulmanos na cidade de Jerusalém-Leste
ou na velha cidade. Verdade é que aos 15 de agosto de 1967,
pouco depois da entrada dos judeus na Jerusalém Santa, o ra
bino Goren, capeláo-mor do exército israelense, presidiu a um
oficio religioso no recinto da Esplanada do Templo (Haram
esh-Sherif). Este gesto avivou o problema da restauragáo do
culto no lugar do antigo Templo de Salomáo, provocando co
mentarios e tomadas de posigáo por parte dos mestres e dos
simples fiéis de Israel diante da questáo candente.

4. Tornou-se, daí por diante, evidente que as opinióes dos


próprios judeus divergem sobre o assunto.

Com efeito. Nao poucos israelitas nao se preocupam com


a questáo, pois se dizem indiferentes á religiáo. Para eles, a
criapáo do Estado de Israel tem significado meramente político;
por isto nao lhes interessam a reconstrugáo do Templo e a res
tauracáo do culto oficial tradicional.

Os grupos que mais se empenham pela restauragáo, nao


sao os partidos religiosos propriamente ditos, mas os movimen-
tos nacionalistas extremados. Julgam que o ressurgimento do
Templo significada um novo liame com a historia antiga de
Israel e apagaría de certo modo a memoria do longo periodo
de ausencia dos judeus de Jerusalém. Os objetivos desses na
cionalistas sao preponderantemente politicos e patrióticos; nao
levam em conta os pros e contras que a reconstrucáo do Tem
plo aprésenla do ponto de vista religioso.

Quanto aos judeus ortodoxos e chefes religiosos de Israel,


sao mais comedidos; em conseqüéncia de seus estudos de Es
critura e de Tradigáo judaicas, perguntam, antes do mais, se
Israel deve reconstruir o Templo. Em caso positivo, quem de-
veria proceder a essa tarefa?... onde?... e como? Tém cons-
ciéncia de que o reerguimento do Templo suscitará novos pro
blemas: que forma de culto se deverá ai exerceró Será necessá-
rio restaurar os ritos e sacrificios antigos? Será possível encon
trar os auténticos descendentes dos sacerdotes israelitas (aaro-

— 547 —
3(¡ rPKRGL'NTf-: E RESPONDEREMOS^ 108/1973

nitas) de outrora? Estas e outras perguntas detém pensativos


muitos israelitas, mesmo entre aqueles que, á primeira vista,
pareceriam propensos a propugnar a plena restaurac.áo do
passado.

Importa, pois, considerarmos mais atentamente

2. Os motivos da hesitagao

O Professor R. J. Zvi-Worblosky, que rege a cátedra de


Historia das Religióes comparadas na Universidade de Jerusa-
lém, xpós em longo artigo do jornal «The Jerusalem Posl.
Week-End Magazine» de 25/VIII/1967 as razóes de hesitacáo
dos judeus religiosos no tocante á reconstrugáo do Templo.
Reproduzimos aqui o teor dessa explanagáo, que Ate hoje re
presenta o pensamento dos judeus ortodoxos.

As razóes da hositacáo se podem sintetizar sob cinco


títulos:

1) Há carencia de dados precisos e seguros sobre a locali-


zacáo exata do Tempjo antigo;

2) Nao se pode mais precisar com exatidáo qua o autén


tico ritual dos sacrificios;

3) Haveria dificuldades para observar muitas das prescri-


qóes desse ritual;

4) A mentalidade moderna é avessa ao culto tradicional


dos sacrificios;

5) Seria difícil descobrir hoje os genuínos descendentes do


sacerdote Aaráo.

Examinemos cada um destes pontos de per si.

1) A respeito da localizacáo do Templo antigo, os dados


topográficos e as medidas minuciosas fornecidas pelo Talmud
e codificadas por Moisés Maimonides (1135-1204) estáo sujeitas
a ser questionadas, pois nao se sabe se correspondem fielmente
á realidade histórica. Ora estas dúvidas constituem obstáculos
á reconstrucáo do Templo, pois os sacrificios, segundo certos

— 548 —
O TEMPLO DE SALOMAO SERA RECONSTRUIDO? 37

autores judeus, devem ser oferecidos exatamente no lugar tra


dicional em que se situava o altar do Templo.

2) Tais sacrificios obedeciam a normas muito exatas e


minuciosas. Ora hoje nao se conhece mais o teor preciso de
tais normas. Após a catástrofe de 70 d. C, os judeus foram
pet-dendo gradativamente o contato com seus rituais e cerimo-
niais litúrgicos, já que nao mais os praticavam; os sacrificios
rituais foram sendo substituidos por oracóes correspondentes.
Verdade é que muitos rabinos, no decorrer dos sáculos, alimen-
taram a esperanga de que Deus mesmo reconstruiría o Templo
de Jerusalém e, em conseqüéncia, desenvolverán! estudos sobre
as minucias do ritual que deveria ser executado em táo alvissa-
reira hipótese; mas nunca se fixaram em regras precisas e de
finitivas.

3 e 4) Muitos judeus, mesmo dentre os mais religiosos, per-


guntam se, nos tempos atuais, ainda seria possível observar
todos os pormenores do ritual dos sacrificios. Este se tornaría
para todo o povo de Israel, mormente para os encarregados do
culto, um peso insuportável.

Mais. Perguntam: qual seria a reasáo psicológica dos ho-


mens modernos, mesmo dos judeus, principalmente dos judeus
dos Estados Unidos e da Europa, diante dos sacrificios rituais
de animáis, que táo pouco corresponden! as tendencias do pen-
samento culto contemporáneo? — Esta pergunta tem sua im
portancia, pois repercute no plano político e social.

5) A restauragáo do ritual no Templo exigiría naturalmen


te a í-estauragáo do sacerdocio israelita. Com efeito; a «Hala-
kah» (ou legislagáo dos rabinos) prescreve, para a validade
dos ritos, sejam estes executados táo somente por «sacerdotes
filhos de Aaráo». Neste particular, a tradigáo rabínica é uná
nime; ela entende a descendencia de Aaráo em sentido estrito,
isto é, biológico, e nao metafóricamente. Ora hoje em día seria
muito difícil dizer quais sao os auténticos descendentes de Aaráo
entre as familias que afirmam ter conservado o sacerdocio isra
elita em linha genealógica constante, nao interrompida. Nao
há dúvida, existem muitas familias judaicas com o nome Cohén,
Kohn ou Kfl!hn (sacerdote, em hebraico); todavía este designa-
tivo nao basta para identificar os filhos de Aaráo hoje. — De
passagem, observe: um rabino nao é um sacerdote em Israel,
mas é um mestre, pregador, presidente do culto da Palavra —

— 549 —
38 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 1G8/1973

o que nao quer dizer: oficiante do cerimonial dos sacrificios ;


este é reservado únicamente á linhagem de Aarao.

Ponderando tais dificuldades, nao poucos judeus piedosos


sao favoráveis a urna evolugáo da doutrina atinente ao Templo
e aos sacrificios: propóem, sim, que seja «espiritualizada». Tal
espiritualizagáo removería a problemática, pois dispensaría os
judeus de pensar em reconstrucáo do Templo e restauragáo dos
sacrificios. Como se compreende, os judeus liberáis, reforma
dos e progressistas sao favoráveis a tal posigáo; conseqüente-
mente cancelaram em seus livros litúrgicos toda referencia á
restauracáo dos sacrificios.

3. A posi;áo afirmativa

1. Entre os judeus piedosos, porém, há os que, apesar


das hesitagdes propostas, sustentam a necessidade, para Israel,
de aspirar a um Templo material reconstruido sobre a Espla-
nada do antigo santuario em Jerusalém. O Templo material,
para eles, é o lugar da «presenga real» de Deus em meio a
Israel; os antigos judeus sempre se sentiram apoiados e fortes
pelo fato de terem o seu santuario visível em Jerusalém, aonde
iam regularmente para comparecer «diante da face do Senhor
Deus». — Á piedade popular entre os judeus de hoje é freqüen-
temente herdeira desse amor ao sinal sensível do Templo.

Entre esses israelitas religiosos, existem os radicáis, que


sem tardanza estariam dispostos a por máos á obra imediata-
mente, enfrentando destemidamente os obstáculos religiosos,
políticos, sociais que fazem hesitar os seus correligionarios.

Esses zelosos judeus julgam que o etudo atento das nor


mas e tradicóes dos rabinos, assim como da documentagáo his
tórica de Israel, revelará o modo como proceder a tüo monu
mental tarefa; a reconstrugáo do Templo, dizem, deverá dar-se
aos poucos, como a própria redengáo de Israel se cumpre pro-
gressivamente. Mais precisamente: a obra desenrolar-se-á em
quatro etapas: a primeira consistirá em se oferecer um sacrifi
cio no lugar do antigo altar do Templo, lugar que será deter
minado mediante estudos minuciosos; a seguir, haverá a re
construgáo do Templo segundo as instrugóes do livro de Eze-
quiel (cf. Ez 40-48) e a respectiva interpretagáo dada pelo
Talmud. Depois, aparecerá o Messias, que corrigirá e embele-

— 550 —
O TEMPLO DE SALOMAO SERA RECONSTRUIDO? 39

zara a estrutura do Templo e dará as normas relativas aos sa


crificios a ser oferecidos. Por último, Deus fará descer um
Templo de Fogo celeste, que se colocará no interior do Templo
construido por máos humanas. Todas as leis da natureza seráo
entáo transformadas, as criaturas chegaráo á perfeigáo e
plenitude.

Como quer que seja, atualmente é certo que o Estado de


Israel se arriscaría a ver serios tumultos, se nao conseqüéncias
desastrosas ou fatais para a sua substéncia, se permitisse a
anulagáo dos servigos religiosos celebrados na mesquita de
Ornar. Qualquer atentado contra esta provocaría violenta re-
agáo dos árabes de Jerusalém, do Próximo Oriente, assim como
da opiniáo pública mundial.

2. Outros, dentre os israelitas que preconizam um Tem


plo material restaurado em Jerusalém, julgam que nao toca
aos homens empreender concretamente essa restauracáo, como
tocou aos homens construir o primeiro e o segundo Templos.
Desta vez, dizem, é o próprio Deus que há de dar o Templo aos
homens; Ele o fará mediante o Messias, que assim inaugurará
o fim dos tempos. Alias, urna tradigáo popular oriunda após a
destruigáo do segundo Templo em 70 d. C. afirma que o novo
— o terceiro e definitivo — Templo será reconstruido pelo pró
prio Deus por ocasiáo da redengáo final de Israel. A diferenga
dos dois Templos anteriores, que eram obra das máos dos ho
mens, o novo ou terceiro Templo durará eternamente, pois será
obra de Deus. Descera milagrosamente do céu, com o seu altar
novo. Por isto, dizem, toda tentativa humana que agora se
quisesse substituir á obra de Deus, seria ato de impiedade e
arrogancia. — Tal é o modo de pensar da «corrente apocalíp
tica» entre os judeus.

3. Muito próximo a este modo de pensar é o daqueles


israelitas que afirmam o seguinte: a restauragáo do Templo
nao há de ser empreendida, sem mais, pelos homens, nem tam-
bém se deverá á intervencáo do Messias na historia, mas de
pende de um profeta de Deus. Os adeptos desta tese lembram
que a lei judaica nao permite a reconstrugáo do Templo nem o
reinício dos sacrificios a menos que explícitas ordens proféticas
sejam dadas; os criterios necessários para se empreenderem
40 -JERCUNTK K KESPONDEKKMOS- 1GS/J973

estas duas tarefas só podem ser conhccidos sob o ofcito da inspi-


ragüo divina concedida aos profetas. Escrevia o Rabino Kook,
Gráo-Rabino de Israel há poucos decenios, na sua obra «Mish-
path ha-Cohen» (Lei do Sacerdote): «As disposicóes que se re-
l'erem á construgáo do Templo e do Altar dependem da profecía
e da inspiracáo divina».

Alegam outrossim os defensores desta posicáo que duas


condigóes devem ser preenchidas para que se possa pensar em
reerguer o Templo de Jerusalóm: reine a paz no mundo, e volte
o povo judeu (ao menos, em sua grande maioria) a residir de
modo permanente na térra de Israel. Ora estas duas condicóes
ainda estáo longe de se realizar.

4. Para terminar, ainda se poderia citar urna sentenca


que envolve em síntese elementos das outras posicócs afirma
tivas. Com efeito, há israelitas que julgam que, no lugar do
antigo Templo, se deveria comecar a celebracáo de oficios re
ligiosos; sustentam que algumas regióes da montanha do Tem
plo sao acessiveis a todos os judeus, em conformidadc com a
«Halakah» (ou legislacáo religiosa de Israel). Apelam também
para precedentes históricos: sim, entre os anos de 636 e 1080
os judeus oravam regularmente numa sinagoga erguida sobre
o local do Templo. Mais: houvc tempo em que a vigilancia dos
edificios existentes sobre a Montanha do Templo era confiada
aos judeus. — Os defensores desta tese esperam que a celebra-
gáo de oficios religiosos naquele sagrado local contribua para
implantar a paz no mundo e prefigure a redengáo de Israel e
do género humano tal como está predita no livro de Isaias:
«Quanto aos estrangeiros,... conduzi-los-ei ao meu santo mon
te; cumulá-los-ei de alegría na minha casa de oracáo; os seus
holocaustos e sacrificios ser-me-ño agradáveis sobre o meu
altar, porque a minha casa será chamada casa de oragáo para
todos os povos» (Is 56, 6s).

4. Entrementes ...

1. Enquanto os mestres e os fiéis de Israel comcntam o


assunto em foco, confrontando pros e contras, as autoridades
públicas do país, responsáveis pela boa ordem da nacáo e sensí-
O TEMPLO DE SALOMAO SERA RECONSTRUIDO? 41

veis á opinláo mundial, estáo dispostas a manter o «statu quo»


religioso da cidade de Jerusalém. Também o Gráo-Rabinato de
Jerusalém houve por bem proibir, por enquanto, qualquer acáo
que tenda á reconstrucáo do Templo e á restauragáo dos sacrifi
cios, dado que nao há certeza de que seria oportuna e conforme
á «Halakah» ou á legislagáo tradicional dos rabinos e mestres
de Israel.

A reagáo geral provocada pela atitude do Rabino Goren em


1967 é sinal de que a maioria dos israelitas compreende quanto
o problema é delicado; é tambcm penhor de que as autoridades
judaicas nao permitiráo gesto algum que ofenda os sentimentos
religiosos dos mugulmanos e diminua a simpatía de que os ju-
deus precisam no mundo inteiro para sustentar o Estado de
Israel.

2. Por ora, há judeus que váo a Esplanada do Templo


(que c a Esplanada da mesquita de Ornar, nao o esquecamos)
e a visitam tranquilamente, como os demais visitantes, sem re-
ceio de contrair impureza legal. Outros, ao contrario, respeitam
a proibigáo baixada pelas autoridades religiosas judaicas, que
colocaram junto á entrada da Esplanada ura grande aviso, por
tador dos seguintes dizeres em hebraico, inglés e francés:

AVISO E ADVERTENCIA

A entrada na área do monle do Templo é proibida a todos pela leí


judaica, em vista da santldade do lugar.

O GrSo-Rabinato de Israel

Atentos a tal norma, os judeus piedosos abstém-se de visi


tar a área, aguardando o dia em que ela será purificada segun
do a Lei. Limitam-se por ora a contemplar a Esplanada do
Templo a partir do monte das Oliveiras ou simplesmente de
urna das portas de entrada. — Fica, porém, franqueado a todos
os judeus o acesso ao Muro Ocidental do Templo ou Muro das
Lamentacóes, em frente ao qual se construiu urna grande pra-
ca, que diariamente (máxime aos sábados e dias santos) cen
tenas ou milhares de judeus palmilham para ir orar junto ao
Muro.

— 553 —
42 iPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 168/1973

3. Em conclusáo, pode-se dizer que a hipótese da recons-


trugáo do Templo levantada recentemente em virtude das no
vas circunstancias políticas ñas quais vivem os judeus, parece
estar longe de qualquer realizagáo concreta. Todavía para os
estudiosos, principalmente para aqueles que se dedicam á histo
ria da salvagáo, é altamente interessante e significativo exami
nar as diversas atitudes do povo judeu diante da questáo. Com-
preende-se que muitos judeus, mesmo após 2.000 anos de expec
tativa, se recusem agora a realizar o seu sonho, por mais viável
que ele possa parecer á primeira vista.

A propósito vejam-se

Ignace Manclni, "Reverrons-nous un )our le Temple de Jérusalem?",


em "La Torre Salnte", mal 1968, pp. 138-145.

Rabbln Mordechal Ha-Cohen, "Le Temple sera-t-ll reconstrult de nos


jours?", em "Nouvelles chrótlennes d'Israel", nouvelle serle, vol. XXII, 1971,
pp. 9-11.
Estevao Bettencourt O.S.B.

resenha de livros
A Biblia na llngnagexn de hoje. Edlgao da Sociedade Bíblica do
Brasil, com aprovagao da Comlssáo Episcopal de Pastoral da Conferen
cia Nacional dos Bispos do Brasil. Rio de Janeiro 1973.

Eis mals urna tentativa de tornar a Hnguagem das Escrituras aces-


stvel ao nosso povo. Trata-se, no caso, do Novo Testamento apenas,
e nao da Biblia inteira, como poderla sugerir o titulo. O texto, prepara
do por biblistas protestantes, íol revisto por tres biblistas católicos —
o que n&o permite dizer que seja urna tradugáo ecuménica (tradugáo
ecuménica serla o resultado de um trabalho conjugado de cristaos de
diversas denomlnacSes, que, a partir dos origináis, procurariam verter
para a lingua vernácula). O fato de ter esta edigao recebido a aprova-
Cao de urna Comissáo de Bispos do Brasil parece dar-lhe autoridade
e valor novos.

Na verdade, a linguagem da nova edigao do Novo Testamento é


simples e clara. Isto, porém, nao quer dizer que seja urna traducao
bem íeita. Toda tradugüo. para merecer aprego, tem que guardar
fldelidade aos textos origináis, transmitindo com exatidSo o sentido
destes. Ora pódese dizer tranquilamente que a nova edigSo da Socie
dade Bíblica sacriflcou, em mals de um caso « significado dos textos
origináis, dando lugar a interpretacOes que nem sempre condizem com
os origináis e a fé católica. Abalxo apontaremos apenas alguns
cxemplos:

Le 2,7: «María deu a luz o seu primeiro fllho», em lugar de «Pri


mogénito:». Ora em portugués quem diz primeiro, Insinúa lógicamente
RESENHA DE UVROS 43

asegundo, terceiro...». Todavía na linguagcm semita, que o Evan


gelio de Lucas supóu c utiliza, quem diz bekor (filho primogénito)
quer significar aquelo antes do qual nenhum outro nasceu e no quaJ
todo o amor dos pais se concentra, independentemente da possibilidade
de virem ou nao outros íilhos depois desse. A Leí de Moisés, por
cxemplo, mandava que, oito dias depois do nascimento, se consagras-
sem a Deus todos os primogénitos; estes eram tidos como termo de
especial amor da parte de Deus. Cf. Éx 13,2; 34.19; Núm 3,11-13.

O primogénito podia mcsmo ser o unigénito ou o único, como se


deprcende do paralelismo sinónimo em Zac 12,10:

íQuanto áquele que traspassaram,


chorá-lo-So como se chora um filho único;
ehorá-lo-üo amargamente como se chora uin primogénito!.

Mesmo íora de Israel, podia-sc chamar primogénito o menino que


nao tivesse irmaos. Leve-se em conta, por exemplo, a antiga inscricáo
funeraria dcscoberta cm Tell el-Hedouhieh (Egito) no ano de 1922:
lé-sc ai que urna jovem mulher, chamada Arsinoé, morreu «ñas dores
do parto do seu filho primogénito».

Vé-se, pois, que a fidelidade ao sentido do texto original pede rulo


se traduza bekor (hebraico) ou protótokos (grego) por primeiro filho.
Por que nao traduzir por bem-amodo, se é que primogénito nao pode
íicar na nova versüo?

Im 1,34: Maria responde ao anjo que lhc anuncia a Encarnacáo


do Filho de Deus: «Aínda sou virgem», enquanto o texto original diz:
«N3o conheco varao ou nüo tcnlio convivio marital». O adverbio aínda,
no caso, nao consta do texto grego original. É interpretacüo arbitra
ria, a qual sugerc que Maria tenha admitido a possibilidade, ou mcs
mo tenha tido a intencao, de ter relacOes conjugáis, deixando cntüo
de ser virgem.

Em Mfc 16,19, onde se encontra a promessa feita a Pedro, a nova


traducüo usa os verbos mandar e prolbir, em vez de ligar e' desligar
da clássica traducüo; cTudo o que ligares sobres a térra, será ligado no
céu, e eudo o que desligares sobre a térra, será desligado no céu». —
Ora mandar e proibir sao expressSes mais iracas, que podem ter signi
ficado meramente moral e que nao reproduzem o conteúdo dos verbos
ligar e desligar da linguagem dos rabinos. Estes, mediante tais vocá-
bulos, entondiam o poder jurídico de um tribunal, como se depreende
dos dizeres do Talmud citados em PR 132/1970, pp. 546s. As pala-
vras «ligar» c «desligar», que Cristo usa sobre o fundo da tradicáo de
Israel, dúo á Igreja um poder sacramental (absolver ou nao absolver)
que a traducüo «mandan e «proibir» silencia ou cancela.

Eis tres pontos, entre outros, em que a nova cdicüo do Novo Tes
tamento nos parece francamente infeliz. Nao podemos delxar de men
cionar ainda a índole banal ou mcsmo depauperada de outras passagens
dessa traducüo'.

Na verdade, nüo é fácil realizar urna boa versáo da Biblia. Toda


vía vem ao caso a que Fr. Gilberto da Silva Gorgulho c a Sra. Ana
Flora Anderson estúo empreendendo ñas Edlcües Paulinos. Em íasci-

— 555 —
U «PERPUNTE E RESPONDEREMOS > 1G8/1973

culos de 125 x 180 mm, estes dois beneméritos estudiosos vem publi
cando o texto dos Evangelhos; Já sairam a lume Matero, Atareos c
JoSto, estando o de Sao Lucas no prelo. Tüm cm vista um texto por
tugués que soja, ao mesmo tempo, perto do grego c próximo -do povo.
Na verdade, a linguagcm dcssa traducjlo guarda fldelidade aos origi
náis; é tambem de fácil compreensao, scm. porém, cair no vulgar ou
banal. A obra merece encomios dada a sériedado c metieulosidade
com que vem sendo executada.

A Fé Crista, por R. Palva. Edicdes Loyola, Süo Paulo 1973,


I-JO x 210 mm, 225 pp.

Estamos multas vezes a procura de compendias que, tic mancha


sucinta e construtiva, apresentem a íé católica para uso de jovens
estudantes ou de adultos que se voltam para o Catolicismo. Ora o
livro do Pe. Raúl Paiva S. J. atonde a este interesse. O autor, que
é professor ñas Facilidades Anchieta (Süo Paulo), constról a sua sin-
tese cm seis capítulos: Os principios da fé, A Crlacüo e a Queda, Jesús
Cristo Nosso Senhor, O Espirito Santo e a Igreja enslnada pelo Espi
rito Santo, Vida eterna e tempo presente. A exposicao 6 original e
ciara; além do que, propOe com fidelidade o pensamento da Igreja
(tenha-se em vista, de modo especial, a doutrina concernente ao peca
do dos primeiros país, ás pp. 51-65). O autor recorre frcqüentemont<-'
a textos bíblicos (substancioso alimento da doutrlna) c a alusdes a
historia antiga ou moderna. Poderiam alguns mestres desejar um mé
todo de exposicSo que fosse mais diretamente aos scus objetivos ou
-se iiispirassc mals no proceder escolástico. Cremos, porém, que, como
iniclacáo á íé crista, o trabalho do Pe. Paiva é muito valido; poderA
ser completado por obras mals minuciosas e ampias. Merece particular
destaque o capitulo sobre o Espirito Santo e a Igreja cnsinada pelo
Espirito Santo. — Ficam aquí expressos os nossos votos para que o
autor continué a trabalhar no setor da formacüo crista de nossa gente.

Natal cristáo. Beílexóes para o Advento, Natal e Epifanía, por


Almir Ribeiro Guimanles. Editora Vozes, Petrópolis 1973, 160 x 230
mm, 32 pp.

O livro apresenta urna serie de ponsamentos, preces e textos aptos


para a preparacao c a cclebracüo de Natal c da Epifanía, tanto ñas
igrejas como nos lares. O repertorio é bom. Para o Natal de 1974,
o autor podera enriquecer a colecao com novas pecas, pois a literatura
crista relativa a Natividade de Jesús é imensa e bem merecería sor
mais condecida pelo nosso público. Freí Almir nos ajuda e a.judará
assim a sondar melhor a grandeza do dom de Natal.
K.B.

CORRESPONDENCIA MIÚDA

I. R. 31. (Rio de Janeiro): O assunto que a Sra. sugerc, jú foi


abordado em PR 152/1972, pp. 360-363. A Editora Laudes tem esse
fascículo em depósito.

— 556 —
ÍNDICE 1973

ERGUNTE

Responderemos
ÍNDICE 1973

(Os números á direita indicam respectivamente fascículo, ano do


edícSo e página)

A
ABSOLVICÁO COMUNITARIA: nova praxe ... 101/1973, p. 212.
ACASO e existencia de Ueus ^HK' p> lít
ADULTERIO: crime ou nao? ■ If^íulv' P> S«'
ALMA 1MORTAL NA BIBLIA ,• • 1S7/19W, p. 36.
AiVlAI VOSSOS 1NIM1GOS»: sentido do prcceito lbá/197J, p. 2Sá.
AMOR A UEUS K V1SÁO FACE-A-FACtí Í^JgS' P" £?'
CRISTAO 163/1973, p. <fi)l,
tí COMUNHAO' FÍSICA ^T/S P' ífK '
TOTAL NO CASAMENTO ?£<K P" ?&'
ANDES E CANIBALISMO ^S P' 4?«*.
ANGUSTIA DA CULPABIL1DADE í^/í™ £ ISA'
DA SOLIDÁO ^I/S^lna'
DO VAZIO 165/1973, p. 41W.
ANJOS E DEMONIOS EXISTEM? J2KÍS £' 52?'•
ANO SANTO: conceito pagáo ou cristao? ^}«™ S" H\'
origem e histórico ÍG8/}^B' p# 2¿f'
ronovacáo interior e reconciliacáo 168/J^l' P- ÍZ
ANOS JUBILARES: elenco ,■■•:■•;"• ífSOiq?!' S" lofi"
ANTIGO TESTAMENTO: histeria ou tondas? .. 159/1973. P- Mb-
ANTROPOFAGIA ^CACA^MAGIA ....... 159/1973. p. £.

DE 1'0D0S °S
ANTROPOLOGÍA -'slntese da historia da í^íql?1 £ 10'•
p. 222.

ASCESE CRISTA: valor sempre atual 161/1973, p! 22.'

B
164/1973, p. 363.
OUTRORA E HOJE 162/1973, p. 271.

Sric^ .-: 15V1973. P. 13.


BONHOEFFEkV D'.','e sÉcÚLARIZACAO 16V1973, p. 190.
c
CABALA E GEMATR1A: que sao? VS/ÁV,l !í' ÍÍl~
CANIBALISMO NOS ANDES? JS/íSw" 5' m"
«CANONIZACAO» DO PADRE CICERO ^|^2I!' g" |o?/
CANONIZACAO: que é? •••■■• 168/1973, p. 536.
CARTA PASTORAL SOBRE «IGREJAS BRA-
SILEIRAS» 159/1973. p. 132.
CASAMENTO DE EMERGENCIA 167<1£5P P> ilí''
EM REALIZACAO GRADATIVA? ^^SS1 P- It¡
INDISSOLOVEL E MORRIS WEST ... 15J/1973. p. 45;
160/xy 10» p• ioh •
CASTIDADE PRÉ-NUPCIAL: sim ou nao? .... 167/1973, p. 467.
CAVALEIRO MEDIEVAL: ideal e influencia .. 167/1973, p. 491.
CELEBRACÓES DO JUBILEU EM 1975 }5|<!2ZÍ' P" SI"
CEU OU VIDA ETERNA Ib2/1973, p. 235.

— 558 —
ÍNDICE DE 1973 47

CLA: mentalidade do 158/1973, p. 52.


CICERO, PADRE, «CANONIZADO» 168/1973, p. 531.
«COMA JOANEU* (1 Jo 5,7b-8a): auténtico
ou nao? 166/1973, p. 451.
C0MPROMISS0 POBLICO NO CASAMENTO 167/1973, p. 477.
CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO
BRASIL (CNBB): histórico e significado .. 157/1973, p. 13.
CONFESSIONARIO: ORIGEM E SENTIDO ... 165/1973, p. 416.
CONFISSAO SACRAMENTAL E REPORTAGEM
NA ITALIA 165/1973, p. 412.
CONGRESSO EUCARISTICO EM MELBOURNE 158/1973, p. 49;
16V1973, p. 232.
CONSCIÉNCIA MORAL E DIGNIDADE HU
MANA 158/1973, p. 56;
MORAL E TRANSPLANTE DE OVARIO 158/1973, p. 90.
CONSUMO DE CARNE HUMANA NOS ANDES 159/1973, p. 138.
CONTEMPLACAO CRISTA: valor 157/1973, p. 3.
CONTINENCIA PRÉ-MATRIMONIAL: discussao
do problema 167/1973, p. 467.
CORACAO HUMANO: maravilha da criacáo 160/1973, p. 148.
CORPO HUMANO: arteíato do Criador 160/1973, p. 144.
CORRESPONSABILIDADE E DIGNIDADE HU
MANA 158/1973, p. 59.
CRISE E SANTIDADE NA IGREJA 162/1973, p. 246.
CRISTAOS ANÓNIMOS: que sao? 162/1973, p. 261.
CRISTIANISMO HORIZONTALIZADO HOJE .. 161/1973, p. 200.
CRISTO COM OU SEM IGREJA? 164/1973, p. 331.
CRUZADAS MEDIEVAIS E ESPIRITO CRISTAO 167/1973, p. 485.
CURSILHOS DE CRISTANDADE: sim ou nao? 158/1973, p. 74.

D
DECLARACAO BALFOUR 164/1973, p. 363.
DEMONIO E POSSESSAO DIABÓLICA 160/1973, p. 157.
DESENVOLVIMENTO E MISSAO 162/1973, p. 252.
DEUS EXISTE: rcílcxao sobre mundo e homem 160/1973, p. 143.
DÍA DO SENHOR: sábado ou domingo? 158/1973, p. 63.
DIASPORA DOS JUDEUS: origem e historia 164/1973, p. 354.
DIREITO CANÓNICO E SACRAMENTO DA
PENITENCIA 165/1973, p. 417.
DISPONIBILIDADE NA JUVENTUDE 160/1973, p. 172.
DIVORCIO NA IGREJA? 157/1973, p. 43;
166/1973, p. 464.
DOENCA: psicologia do enfermo 165/1973, p. 397.
DOMINGO OU SÁBADO: dia do Senhor? 158/1973, p. 63.

E
ENFERMO, COMO TE AJUDAR? 165/1973, p. 397.
ESCATOLOGIA CRISTA: vida eterna 162/1973, p. 235.
ESCRAVATURA E FILOSOFÍA GREGA 158/1973. p. 54.
ESPIRITO SANTO E ORACAO 157/1973, p. 8.
ESTACIONAMENTO DO SOL (JOS 10,7-15) E
ELETR6NICA 159/1973, p. 121.
ESTATUTO DE JERUSALÉM INTERNACIO
NALIZADA 164/1973,3» capa.
ETIOLÓGICA, NARRACAO: que é? 159/1973, p. 117.

— 559 _
ÍNDICE DE 1973

EUCARISTÍA E IGREJA: corrclacüo 164/1973, p 335


EVANGELHO E DIGNIDADE DA MULHER .. 164/1973. p. 342.
EVANGELIZACAO E DESENVOLVIMENTO:
correlacáo 162/1973, p. 258.
EXCOMUNHAO E SEGREDO DA CONFISSAO 165/1973, p. 413.
EXISTENCIA DOS ANJOS 166/1973,0.435.
EXISTENCIA DE DEUS COMPROVADA PELA
CRIACAO 160/1973, p. 143.
EXPULSAO DE DEMONIOS NOS EVAN-
GELHOS 160/1973, p. 15tí.

F
FACE-A-FACE COM DEUS 162/1973, p 237
FAMILIA E EDUCACAO NO «KIBBUTZ» .... 165/1973, p. 389.
«FÉ SECULARIZADA»: que é? 161/1973, p. 187.
FILOSOFÍA DO «KIBBUTZ» 165/1973, p. 385.

G
GALO: SIMBOLISMO 167/1973, p. 503.
GÉNEROS LITERARIOS DO ANTIGO TESTA
MENTO 159/1973, p. 115.
GIOVANNI PAPINI — um depoimento 160/1973, p. 176.
GRACA E NATUREZA: correlacao 16V1973, p-. 203.

H
HERZL, THEODOR, E SIONISMO 164/1973, p. 361.
HISTORIA ORIENTAL ANTIGA: estilo c modos 159/1973. p. 109.
HISTORIOGRAFÍA ISRAELITA: géneros lite
rarios 159/1973, p. 113.
HOMEM, QUEM ÉS TU? 158/1973, p. 51.
HOMEM-PARA-OS-OUTROS 161/1973, p. 189.

I
IDADE MEDIA E ANTROPOLOGÍA 158/1973, p. 57.
IGREJA, ALVO DE CONTRADICAO 164/1973, p. 331;
E CRISE 162/1973, p. 246;
E EVANGEUZAQAO 162/1973, p. 259;
IGREJA-SACRAMENTO 164/1973. p. 332.
IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA BRASI-
LEIRA 159/1973, p. 132.
<-IGREJAS BRASILEIRAS*: Carta Pastoral
de Bispos paulistas 159/1973, p. 132.
aspectos juridlcolcgais (parecer do Proí.
Ataliba Noguclra) 160/1973, p. 179.
ILHA DE PASCOA: misterios 163/1973, p. 301.
IMOBILISMO E HISTORIOGRAFÍA ANTIGA 159/1973, p. 110.
IMORTAUDADE DA ALMA HUMANA 157/1973. p. 36.
INDISSOLUBIUDADE DO MATRIMONIO .... 157/1973. p. 43;
166/1973.3* capa.
INDULGENCIAS: significado 168/1973, p. 521.
INJUSTICADOS SEM VOZ, em nossos dios ... 158/1973, p. 60.
INQUISICAO E PENSAMENTO MEDIEVAL 158/1973, p. 57.
ÍNDICE DE 1973 49

INTERNACIONAUZACAO DE JERUSALÉM:
slm ou n5o? •• 164/1973, p. 369.
ISRAEL, APÓS A VINDA DE CRISTO 1G4/1973, p. 351.

J
JEOVA OU JAVÉ? 157/1973, p. 34.
JERUSALÉM: histórico 164/1973, p. 369;
sinal de contradic&o 164/1973, p. 373.
JESÚS MENINO E DEVOCAO POPULAR .... 161/1973, p. 213.
JUAZEIRO E PADRE CICERO 168/1973, p. 531.
JUBILEU E ANO SANTO 168/1973, p. 515.
JUDEU: QUEM É? 164/1973, p. 365.
JUDEUS DEPOIS DE CRISTO 164/1973, p. 351.
JUVENTUDE, ESTADO DE ANIMO 160/1973, p. 172;
E ESCOLA EM ISRAEL 163/1973, p. 296;
ISRAELITA E FÉ 163/1973, p. 295.

K
«KIBBUTZ»: que éT Jgg£ J.'Sí

L
LAZER DA ORACAO 157/1973, p. 11.
LJBERDADE RELIGIOSA E ICAB 159/1973, p. 133'.
LTBERDADE SEXUAL 167/1973, p. 467.
LINGUAGEM DOS NÚMEROS 163/1973, p. 308.

M
MAGIA £ RELIGIAO? 159/1973, p. 95;
NEGRA 159/1973, p. 98.
MAL'AK YAHVEH (MENSAGEIRO DO SE-
NHOR) 166/1973, p. 437.
MANDAMENTOS DE DEUS: outra versáo? .. 166/1973, p. 423.
MANUSCRITOS DE QUMRAN: significado c
valor 166/1973, p. 424.
MARÍA SENHORA DE TODOS OS POVOS 161/1973, p. 222.
MATRIMONIO DE EMERGENCIA 167/1973, p. 474;
GRADATIVO 167/1973, .p 473;
INDISSOLOVEL 157/1973, p. 45.
MELBOURNE E CONGRESSO EUCAR1STICO 158/1973, p. 49;
161/1973, p. 213.
MISTERIO DA IGREJA 164/1973, p. 339.
MORAL NO CAMPO SEXUAL HOJE 167/1973, p. 469.
MORTE: sentido c importancia 165/1973, p. 397.
MORTE DE DEUS E DO HOMEM 161/1973, p. 198.
MULHER ANTES DE CRISTO NO ORIENTE 164/1973, p. 342.
MULLOY, WILLJAM, E ILHA DE PASCOA .. 163/1973. p. 305.
N
NATUREZA E GRACA: correlacSo 161/1973. p. 203.
NOIVADO: revaloiizagao do contrato 167/1973, p. 472.
NOVIDADE CRISTA E ANTROPOLOGÍA 158/1973. p. 54.

— 561 —
50 ÍNDICE DE 1973

NUMEROLOGIA 163/1973, p. 308.


NÚMEROS: simbologia 163/1973, p. 309.

O
OLHO HUMANO: artefato do Criador 160/1973, p. 146.
ORACAO NA VIDA DO CRISTAO 157/1973, p. 4;
POR UM ENFERMO 165/1973, p. 409.
OUVIDO HUMANO: arteíato do Criador 160/1973, p. 149.
OVARIO E TRANSPLANTE: sim ou nao? .... 158/1973, p. 87.
P
PADRE CICERO E «CANONIZACAO» PELA
ICAB 168/1973, p. 531.
PALESTINA E PALESTINO: nomenclatura ... 164/1973, p. 353.
PAPINI, GIOVANNI — um depoimento 160/1973, p. 176.
PASCOA, ILHA DE: misterios 163/1973, p. 301.
PAULO VI E ANO SANTO 168/1973, p. 518;
E EXISTENCIA DO DEMONIO 160/1973, p. 168;
E SEUS DEZ ANOS DE PONTIFICADO 164/1973, p. 329.
PENITENCIA SACRAMENTAL E DIREITO
CANÓNICO 165/1973, p. 412.
PEREGRINACAO: sentido e valor 162/1973, p. 263;
168/1973, p. 520.
PERFEICAO CRISTA: apelo de Deus 162/1973, p. 248.
«PERGAMINHO DO TEMPLO» E DEZ MAN-
DAMENTOS 166/1973, p. 424.
PIEDADE PARA COM JESÚS MENINO através
dos séculos 16V1973, p. 214.
POSSESSAO DIABÓLICA 160/1973, p. 153.
PROMOVER OU EVANGELIZAR? 162/1973, p. 252.

Q
QUERIGMA E CATEQUESE: que sao? 158/1973, p. 77.
QUMRAN: ambiente humano e manuscritos 166/1973, p. 423.

R
RECONCILIACAO DOS HOMENS COM DEUS 1G8/1973, p. 513.
RECONSTRUCAO DO TEMPLO DE JERU-
SALÉM: acontecerá? 168/1973, p. 548.
REFORMISMO NO JUDAISMO 164/1973, p. 359.
REINO DE DEUS SECULARIZADO 161/1973, p. 189.
RELACOES SEXUAIS PRÉ-MATRIMONIAIS:
sim ou nao? 167/1973. p. 468.
RELIGIAO E MAGIA DIFEREM ENTRE SI .. 159/1973, p. 102.
RENOVACAO DO DIREITO CANÓNICO 166/1973, p. 463;
DOS CRISTAOS 168/1973, p. 524;
INTERIOR DO HOMÉM 168/1973, p. 513.
REPORTAGEM — TRAICAO NA ITALIA .... 165/1973, p. 412.
RESPEITO A VIDA HUMANA HOJE 158/1973, p. 60.
REVELACOES PARTICULARES: valor e re
servas 161/1973, p. 225.
REVOLUCAO DO EVANGELHO E MULHER 164/1973, p. 348;
INDUSTRIAL 158/1973, p. 58.
ÍNDICE DE 1973 51

ROM ARIAS E PEREGRINACÓES 162/1973, p. 263.

s
SÁBADO OU DOMINGO: (lia do Senhor? 158/1973. p. 64.
SABÁTICO ANO 168/1973, p. 516.
SACRAMENTO DA IGREJA 164/1973, p. 331.
SANTIDADE: vocacao dos cristaos 157/1973, p. 6.
SANTUARIOS DUVIDOSOS E PEREGRINACÓES 162/1973, p. 269.
SATA NA BÍBLIA 166/1973, p. 439.
SECULARIZACAO EXTREMADA 161/1973, p. 187.
SENHORA DE TODOS OS POVOS 161/1973, p. 222.
SENSO DE DEUS NO HOMEM DE HOJE .... 161/1973, p. 195.
SERMAO DA MONTANHA E SUA DINÁMICA 163/1973, p. 284.
SEXO ANTES DO CASAMENTO 167/1973, p. 467.
SIGILO DA CONFISSAO SACRAMENTAL 165/1973, p. 412.
SIMBOLISMO DOS NÚMEROS 159/1973, p. 118;
163/1973, p. 308.
SIONISMO 164/1973, p. 361.
SOCIALISMO NO «KIBBUTZ» 165/1973, p. 381.
SOL PAROU EM JOS 10,7-15? 159/1973, p. 123.
T
TABÚ MÁGICO 159/1973, p. 98.
TAVARD, GEORGES: «OS ANJOS> 166/1973, p. 435.
TEMPLO DE JERUSALÉM SERA RECONS
TRUIDO? 168/1973, p. 541.
TEOCRACIA: ESTADO DE ISRAEL? 164/1973, p. 367.
«TERCEIRO HOMEM»: indiferente na Igreja .. 164/1973, p. 331.
TÉRRA PAROU EM JOS 10,7-15? 159/1973, p. 125.
TESTEMUNHAS DE JEOVA: quem sao? 157/1973, p. 25.
TOTEMISMO E ANTROPOLOGÍA 158/1973, p. 53.
TRADICAO CRISTA E FÉ NOS ANJOS 166/1973, p. 445.
TRANSPLANTE DE OVARIO: sim ou nao? 158/1973, p. 87.

u
UNIAO COM DEUS E VIDA ETERNA 162/1973, p. 238.
V
VALORES HUMANOS e VALORES CRISTAOS 161/1973, p. 203;
MORÁIS NO «KIBBUTZ» 165/1973, p. 391.
VAN BURÉN, PAÚL, E SECULARIZACAO ... 161/1973, p. 192.
«VIAGEM DA CRUZ» OU CRUZADAS 167/1973, p. 487.
VIDA CONSUMADA SEGUNDO O NOVO TES
TAMENTO 162/1973, p. 235.
VIDA ETERNA INICIADA NO TEMPO 162/1973, p. 243;
E CONSCIÉNCIA PESSOAL .. 162/1073, p. 244.
«VIDA» ÑAS PÁGINAS BÍBLICAS 162/1973, p. 235.
VIDA SEXUAL PRÉ-MATRIMONIAL 167/1973, p. 471.
VISAO DE DEUS FACE-A-FACE 162/1973, p. 235.
VOCACAO CRISTA E FACE-A-FACE 157/1973, p. 5.

Y
YADIN, YIGAEL, E QUMRAN 166/1973, p. 423.
YOGA E CRISTIANISMO 16V1973, p. 210.

_ 563 —
52 ÍNDICE DE 1973

EDITORIAIS

APRESENTANDO... DE ROMA 164/1973, p 329


ATRÁS VEM GENTE 157/1973, p. 1
CARTA AOS AMIGOS 161/1973, p. 232;
162/1973, p. 262;
163/1973, p. 328.
EM CIRCULO DE AMIGOS 165/1973, p. 377.
EM MELBOURNE O MUNDO ORA 158/1973, p. 49.
HOMEM DE PALAVRA, HOMEM DA PALA-
VRA, HOMEM-PALAVRA 162/1973, p. 233.
MAIS UM ANO QUE PASSA 168/1973, p. 513.
NINGUÉM É JOAO-NINGUÉM 167/1973, p. 465.
O CANTO DA PALAVRA 159/1973, p. 93.
O POEMA DA AGUA 163/1973, p. 281.
O SEGREDO DA FELICIDADE 166/1973, p. 421.
«SENHOR, DAI PAO A QUEM TEM FOME!> .. 160/1973, p. 141.
3,5 = 1.000 161/1973, p. 185.

LIVROS APRECIADOS

Alfred Ancel — EVANGELHO, AMOR E


FECUNDIDADE 159/1973,3' capa.
Alfred Lapple — AS ORIGENS DA BIBLIA.
SUBSIDIOS PARA A LEITURA DA BIBLIA
E A PREGACAO 167/1973, p. 511.
A. Pronzato — EVANGELHOS QUE INCO-
MODAM 167/1973,3» capa
Carlos Mesters — CÍRCULOS BÍBLICOS 167/1973, p. 512.
Ceríaux, Hamman e outros — A ORACAO .... 160/1973, p 184
David Wilkerson — A CRUZ E O PUNHAL .. 157/1973, p 42*
Edicdes Paulinas — A IGREJA E O ABORTO.
DECLARACOES DE CONFERENCIAS EPIS-
COPAIS 157/1973, p. 24.
Georges Tavard, LES ANGES (OS ANJOS) .. 166/1973, p. 435.
Geraldo Pennock — VEM E VÉ. A VOCAQAO
NA BIBLIA 160/1973, p. 184.
Gibran Khalil Gibran — JESÚS O FILHO DO
HOMEM 160/1973,3* capa.
Jean-Claude Barreau — QUEM É DEUS? 158/1973, p. 92.
Jéróme Murphy • O'Connor O.P. — MILAGRES
EM MATEUS 159/1973,3«capa.
S. PAULO E A MORAL DOS NOSSOS
TEMPOS 159/1973.4'capa.
JoSo Alfredo Montenegro — EVOLUCAO DO
CATOLICISMO NO BRASIL 158/1973,3* capa.
JoSo Mohana — PAZ PELA ORACÁO 163/1973, p. 299.
Ladislaus Boros — CRISTO E OS HOMENS
DIANTE DA TENTACÁO 160/1973, p. 184.
L. Cerfaux — O TESOURO DAS PARÁBOLAS 167/1973,31 capa.
Morris West e Robert Francis — ESCÁNDALO
NA IGREJA 157/1973. p. 43.
Rene Voillaume — A CONTEMPLACAO HOJE 160/1973, p. 184.

— 564 —
CARO LEITOR :

DÉ A SEUS AMIGOS UMA ASSINATURA DE PR

COMO PRESENTE DE NATAL. VOCÉ ASSIM SERÁ LEM-

BRADO TODOS OS MESES DE 1974.

OS NOVOS ASSINANTES RECEBERAO O NUME

RO DE DEZEMBRO DE 1973, COM A INDICACÁO DO

NOME DE QUEM O OFERECE.


ORA CAO DO ANO SANTO

SENHOR DEUS, PAI E AMIGO DOS HOMENS, QUE


QUISESTES RECONCILIAR CONVOSCO A HUMANIDADE IN-
TEIRA NO VOSSO FILHO JESÚS, MORTO E RESSUSCITADO,
RECONCILIANDO ASSIM TODOS OS HOMENS ENTRE SI,
... .>.<*»■

(R.) Escutai a oracao do vosso povo neste Ano de graca


e de salvacáo !'

QUE O VOSSO ESPIRITO DE VIDA E DE SANTIDADE


NOS RENOVÉ NO MAIS ÍNTIMO DO CORAQÁO E NOS UNA
PELA VIDA INTEIRA A CRISTO RESSUSCITADO, NOSSO
IRMÁO E NOSSO SALVADOR, (R.)

PEREGRINOS, COM TODOS OS CRISTAOS. NOS CAMI-


NHOS DO EVANGELHO, CONCEDEI-NOS QUE, FIÉIS A DOU-
TRINA DA IGREJA E SOLÍCITOS EM AJUDAR OS NOSSOS
IRMÁOS. SEJAMOS CONSTRUTORES DE RECONCILIAQÁO,
DE UNIDADE E DE PAZ, (R.)

TORNAI FECUNDOS OS ESFORCOS DAQUELES QUE


TRABALHAM NO SERVigO DOS HOMENS. SEDE VrtS A ES-
PERANCA E A LUZ DE "QUEM VOS BUSCA TAMBÉM SEM
VOS CONHECER E DAQUELES QUE. EMBORA VOS CONHE-
QAM, VOS PROCURAM SEMPRE MAIS, (R.)

PERDOAI OS NOSSOS PECADOS. CONFIRMA! A NOSSA


FÉ ESTIMULAI A NOSSA ESPERANCA, AUMENTAI A NOSSA
CARIDADE. A EXEMPLO DE JESÚS. FAZEI QUE VIVAMOS
COMO VOSSOS FILHOS MUITO AMADOS, (R.)

FAZEI QUE A VOSSA IGREJA. COM O AUXÍLIO MATER


NO DE MARÍA, SEJA SINAL E SACRAMENTO DE SALVAQÁO
PARA TODA A HUMANIDADE, A FIM DE QUE O MUNDO
CREÍA NO VOSSO AMOR E NA VOSSA VERDADE, (R.)

PAI DE BONDADE INFINITA, ATENDEI A ORACÁO QUE


O VOSSO ESPIRITO NOS INSPIRA, PARA VOSSA GLORIA E
NOSSA SALVAQÁO, POR JESÚS CRISTO VOSSO FILHO E
SENHOR NOSSO, CAMINHO. VERDADE E VIDA, NA UNIDADE
DO ESPIRITO SANTO, (R.) AMÉM.

i Na oragao teUa em particular, suprime-se o refrfio (R.) após cada


Invocacáo. — Na oracao comunitaria, os liéis podem também responder:
Senhor, tende piedade de nos ou outra fórmula conveniente.

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