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O Menino e a Picanha

Terminamos de lecionar a classe, já eram passadas as 10 da noite. Nos convidaram a


comermos uma picanha num restaurante conhecido, no canal. Chegamos e paramos o
carro perto do restaurante quando veio um menino de mais ou menos uns 8 anos de
idade, descalço, sem camisa, apenas um short longo bem surrado. Ele nos disse que
ia tomar conta do carro e nos perguntou quanto tempo iamos demorar. Creio que como
uma hora, dissemos, e nos encaminhamos ao restaurante.

A conversa sobre ministerios em tempos passados, os rumos da igreja no presente, a


historia do seminario e tantos outros assuntos proprios de um bate-papo pastoral,
claro, não esqueçamos da picanha, nos fez nem ver a hora passar. Finalmente
regressamos ao carro, ali estava o menino, deitado na capota do motor, braços
cruzados, de costas para o calor do motor.

Todos nos comovemos, o Pr. Neemias logo procurou acorda-lo, estava em profundo
sono, chamamos os comerciantes locais indagando se conheciam aquela criança ou sua
familia. Disseram que devia ser um dos meninos do bairro Jacaré. Um bairro pobre
da redondeza. O Neemias não sabia o que fazer, vi o seu coração entranhar-se de
compaixão pela criança.

Naquele momento todos nos lembramos da nossa infancia, lembrei-me do paupombo , o


parque tipo jardim botanico lá na querida Garanhuns dos pernambucos, eu tinha mais
ou menos a mesma idade daquele menino, um dia vi um moço, de uns trinta anos,
creio, abrir uma lata de salcichas e com um palito tirar uma por uma e as
saboreava como nectar dos deuses. Imaginei que um dia quando eu fosse grande
compraria toda uma lata pra mim, sozinho.

Ninguem veio atender o menino, não podiamos por no carro porque não havia na
cidade um lugar de recolhimento de menores, e com as noticias que ouvimos a cada
dia seria contraproducente coloca-lo no carro. Os comercianes chamaram uma
patrulha que viesse buscar o garoto. Quadro que nunca vou esquecer enquanto vivo.

A cidade não permite que os alimentemos na rua ou lhes demos dinheiro, isso
atrairia mais meninos pobres e afugentaria os turistas. A cidade não tem um abrigo
para eles. Que poderia a igreja fazer? e aqui vejo a importancia dos ministerios
das e nas igrejas.

Que tal se de uma igreja, um grupo de irmãos, adultos e jovens criassem um


ministério "jovens de futuro", onde se cadastrasse todos os adolescentes de um
determinado bairro, principalmente os "filhos de pais ausentes", cadastro informal
claro, só para conhecimento do ministerio, e, às tardes reunir os que queiram,
seja para classes após escola, futebol, esportes, jogos, etc, ou seja pelo menos
uma hora diária onde conselhos da palavra de Deus fossem dados, e uma vida sadia
pudesse ser ensinada.

Não é utopia, sei de igrejas que organizam grupos para irem às casas e se
colocarem à disposição das familias no que for preciso em ajudar seus filhos.

Foi o evangelho que nos tirou da rua, que do desejo de comer "salsichas" nos levou
a trilhar caminhos onde hoje podemos saborear uma "picanha". Foi a graça de Deus
que nos livrou de tantos males no mundo, que podemos fazer por meninos como
aquele?
Postado por Pr. Evaristo Lacerda às Sábado, Abril 25, 2009

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