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sábado, 11 de deze mbro de 2010

Batismo infantil, prática da igreja primitiva

A prova de que esta prática existia, pelo menos desde cedo, está na condenação
que dela faz Tertuliano.
Perto do ano 200, este severo teólogo condenou o costume de batizar crianças.
Não haveria a condenação se a prática não estivesse difundida.
Hipólito (169-235), em sua obra “Tradição Apostólica” (215 d.C), recomenda:
"Sejam batizadas, primeiramente as crianças"

A oposição regular veio dos Anabatistas. Estes condenavam os Reformadores


porque, tendo recebido o batismo na Igreja Católica, ao tornarem-se protestantes
não se tinham voltado a batizar e ainda mantiveram nas novas Igrejas a prática
pedobatista. Calvino, que também fora batizado na infância e nunca aceitou um
rebatismo, teve o cuidado de dedicar um longo capítulo das suas Institutas a este
assunto (Livro IV, cap. XVI),
para mostrar o erro das conclusões anabatistas, que, como outros radicalismos,
ameaçavam a obra da Reforma. Até por esse capítulo de Calvino podemos ver que
os argumentos dos anabatistas eram os mesmos que hoje são usados contra as
Igrejas que batizam crianças, mas ao grande teólogo de Genebra não faltaram
textos bíblicos para justificar aquela prática.
Os Pais da Igreja, como Irineu ( século II ), por exemplo, se referem ao batismo
infantil ; sendo que o próprio Orígines ( século III ) foi batizado quando criança.
Afirma Orígenes (185 - 255) sobre o batismo infantil: "A Igreja recebeu dos
Apóstolos a tradição de dar batismo também aos recém-nascidos". (Epist. ad Rom.
Livro 5, 9). E Cipriano, em 258, adverte: "A graça do batismo não deve ser
apartada de ninguém e especialmente das crianças". (Carta a Fido).
Clemente de Alexandria (155-225), diz que o batismo se destina "a crianças
pequenas"(0 Pedagogo, 195 d.C, 3:11);
No século III, um sínodo do Norte da África determinou que era permitido batizar
as crianças "já a partir do segundo ou terceiro dia após o nascimento" (Epístola 64
de Cipriano).
O Sínodo de Elvira (306-312 d.C) recomenda: "As crianças devem receber o banho
do batismo"
Em 418, o Concílio de Cartago declara: "Também os mais pequeninos, que não
tenham ainda podido cometer pessoalmente algum pecado, são verdadeiramente
batizados para a remissão dos pecados, a fim de que, mediante a regeneração,
seja purificado aquilo que eles têm de nascença" (Dz.-Sch., Enquirídio, nº 223).
Já no século II a patrística trata o batismo infantil com naturalidade: Irineu de Lião
(+ 202) considera óbvia, entre os batizados, a presença de "crianças e pequeninos"
ao lado dos jovens e adultos (Contra as Heresias II-24,4).
Os pais da igreja de um modo geral sempre aceitaram o batismo infantil como
uma prática vinda desde os tempos apostólicos e pelo menos 9 dentre 12 pais da
igreja, o aceitaram foram eles: Justino Mártir, Irineu, Orígenes e posteriormente
Agostinho.
Justino o Mártir (89-166), em sua "Primeira Apologia"(150 d.C), afirma que no
batismo, "muitos homens e mulheres se tornaram discípulos desde
crianças"(15:6); e em seu "Diálogo com Trifo"(160 d.C), diz que o batismo é uma
"Circuncisão Espiritual"(43:2).
A argumentação é muito maior e forte para quem aceita essa prática do que para
aqueles que não a vêem com bons olhos. Se por um lado os opositores a essa
doutrina dizem não haver exemplos explícitos disso em o NT, também não há a
menor referência a batismos de adultos nascidos e criados em lares cristãos.

Calvino usa os seguintes argumentos:

“O Senhor disse expressamente que a circuncisão que se administra às crianças


lhe servirá de confirmação do pacto que temos exposto. Se pois, o pacto
permanece sempre o mesmo, é de todo certo que os filhos dos cristãos não são
menos participantes dele do que foram os judeus do AT. E se participam da
realidade significada, por que não lhes a de ser comunicado também o sinal.”

“Alguns espíritos mal-intencionados se levantam contra o nosso hábito de batizar


crianças, como se essa prática não tivesse sido instituída por Deus, mas se
tratasse de algo inventado pelos homens recentemente, ou ao menos pouco
tempo depois dos apóstolos. Em face disso, achamos que, por dever de ofício, é
preciso confirmar e fortalecer, nesse ponto, as consciências fracas e refutar as
falsas objeções dos enganosos oponentes, com as quais eles poderiam perverter a
verdade de Deus no coração das pessoas simples, não suficientemente preparadas
para contestar suas astúcias sutis e hipócritas.”

"Assim como os filhos dos judeus eram chamados linhagem santa, porque eram
herdeiros da aliança e eram separados dos filhos dos incrédulos e dos idólatras,
assim também os filhos dos cristãos são chamados santos, ainda que só o pai ou a
mãe seja crente."

Portanto o batismo infantil é bíblico e não podemos negar ou passar


desapercebidos a esse fato que é tão importante para a edificação dos membros,
para o conforto de saber que nossos filhos pertencem ao pacto e traz sobre nós
pais, a responsabilidade de ensinarmos os nossos filhos no caminho do Senhor.

INTRODUÇÃO
O batismo de crianças é uma prática antiga da Igreja, que foi instituída pelos
apóstolos. Desta vez eu quero estudar a evidência que nos foram deixados pela
Igreja ao longo da história em favor deste sacramento, no qual fomos sepultados
com Cristo na sua morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos
pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. Vou tentar também
tratar brevemente quais têm sido ao longo dos séculos as heresias que tem
colocado obstáculos contra o fato das crianças serem regeneradas no
nascimento da água e do espírito.
O BATISMO DE CRIANÇAS NOS PADRES DA IGREJA NOS
SÉCULOS I A IV
Nos primeiros quatro séculos da era cristã, é completa a unanimidade a respeito
(Tertuliano sendo praticamente a única exceção). Há inúmeros relatos de pais
da igreja que falam sobre a importância do batismo infantil. Havia, claro, quem
optava por rejeitá-lo, mas por razões imorais, para não abandonar a vida
pecaminosa e obter o perdão dos pecados apenas na hora da morte (muito tolo
porque ninguém sabe quando vai morrer ou se vai ter a oportunidade de ser
batizado), ou até mesmo se livrar das penitências que fariam se eles caíssem em
pecado depois do batismo.

IRENEU DE LYON (130 - 202 D.C)


Ecoa a fé da Igreja primitiva, que professava que todo homem nasce na carne
e, portanto, deve nascer da água e do espírito, o qual inequivocamente
interpretava como o batismo, com o qual se obtinha também a remissão dos
pecados.
“Não foi por nada que Naamã de idade, sofrendo de lepra, foi purificada por
ser batizada, mas para dizer-nos que, como leprosos no pecado, somos
purificados por meio da água sagrada e a invocação do Senhor, de nossas
transgressões, sendoespiritualmente regenerados como os bebês recém-
nascidos, quando o Senhor disse: ‘Se alguém não nascer de novo da água e
do Espírito, não entrará no reino dos céus.’”[1]
Ao longo dos escritos deste e de outros pais se verá como em nenhum momento
restringem a graça e dons de Deus para alguém, se as crianças, adolescentes ou
adultos. No texto a seguir, embora não seja uma referência explícita ao batismo
de crianças, nós encontrarmos a crença de que Deus pode derramar a sua graça
e santificar todos, independentemente, se tem idade para acreditar ou não
(rejeitando mais de um milênio antes os argumentos utilizados pelos
anabatistas).
“Porque Ele veio para salvar a todos: digo a todos, ou seja, todos
aqueles renasceram a Deus sejam eles bebês, crianças, adolescentes, jovens
ou adultos. Então, quis passar por todas as idades: fez-se bebê como os
bebês para santificar os bebês; criança como as crianças, a fim de santificar
aos de sua idade, dando-lhes um exemplo de piedade, e sendo para eles modelo
de justiça e obediência; se fez jovem como os jovens, para dar aos jovens,
exemplo, e santificá-los para o Senhor.” [2]

ORÍGENES DE ALEXANDRIA (185 - 254 D.C.)


O Testemunho de Orígenes é crucial, não só porque, como outros pais, explica
por que é necessário batizar as crianças, mas por seu testemunho explícito de
que esta era uma prática que a Igreja recebeu diretamente dos apóstolos.
Orígenes confirmaram previamente com sua caneta o que a arqueologia
comprovaria ao encontrar provas do batismo de crianças pela Igreja primitiva.
“A Igreja recebeu dos Apóstolos o costume de administrar o batismo até
mesmo para crianças. Pois aqueles a quem foram confiados os segredos dos
mistérios divinos sabiam muito bem que todos carregam a mancha do pecado
original, que deve ser lavada com água e o espírito.” [3]
“Se as crianças são batizadas “para a remissão dos pecados” cabe uma
pergunta: de que pecados se tratam? Quando eles poderiam pecar? Como
podemos aceitar tal testemunho para o batismo de crianças, a menos que se
admita que ‘ninguém está sem pecado, mesmo quando sua vida na terra não
tenha durado mais que um dia’?. As manchas do nascimento são removidas
pelo mistério do batismo. Se batiza crianças porque ‘se alguém não nascer da
água e do espírito, é impossível entrar no reino dos céus.’” [4]
“Havia muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, mas nenhum deles
foi purificado, senão Naamã, o sírio, que pertencia ao povo de Israel.
Considere o grande número de leprosos que tinha até então ‘em Israel segundo
a carne’. Veja, por outro lado, a espiritual Eliseu, nosso Senhor e Salvador,
que purifica no mistério do batismo os homens cobertos pelas manchas da lepra
e dirige-lhe estas palavras: ‘Levanta-te, vai ao Jordão, e a tua carne ficará
limpa’. Naamã se levantou, foi tomar banho e cumpriu o mistério do batismo,
‘sua carne ficou como a carne de uma criança.’ Que criança? Daquele que
‘no banho de regeneração’ nasce em Cristo Jesus.” [5]
“Se você gosta de ouvir o que os outros santos disseram sobre o nascimento
físico, ouça Davi, quando ele diz: ‘Eu fui formado, assim diz o texto, em
maldade, e minha mãe me concebeu no pecado’; mostra que toda alma que
nasce em carne carrega a mancha da iniquidade e do pecado. É por isso que
esta frase citada acima: Ninguém está livre de pecado, nem mesmo a criança
que tem apenas um dia. Tudo isso pode ser adicionado a consideração da
razão sobre o motivo que tem a Igreja para o costume de batizar crianças,
pois este sacramento da Igreja seja para a remissão dos pecados. Certamente,
se não houvesse crianças em necessidade de remissão e perdão, a graça do
batismo pareceria desnecessária.” [6]

HIPÓLITO DE ROMA (? - 235 D.C.)


Um testemunho de singular importância, temos graças à Tradição Apostólica,
que é uma das constituições eclesiásticas mais antigas e importantes da
antiguidade (foi escrito por volta do ano 215). Nela encontramos instruções
específicas sobre a administração do batismo, onde consta a prática de batizar
crianças e como em virtude da fé dos pais poderiam ser batizados.
“Ao cantar do galo, se se começará a rezar sobre a água. Far-se-á assim a não
ser que exista uma necessidade. Mas se houver necessidade permanente e
urgente, se utilizará a água que se encontre. Desvestir-se-ão, e si batizarão as
crianças em primeiro lugar. Todos os que puderem falar por si mesmos,
falarão. Enquanto aos que não podem, seus pais falarão por eles ou alguém
de sua família. Se batizará em seguida os homens e finalmente as mulheres...
O Bispo impor as mãos dirá a invocação: “Senhor Deus, que os fizeste dignos
de obter a remissão dos pecados pela lavagem da regeneração, tornai-os
dignos de receber o Espírito Santo e enviar-lhes a tua graça, para que te sirvam
seguindo a tua vontade; a ti a glória, Pai, filho e Espírito Santo na Santa Igreja,
agora e por todos os séculos, Amém.” [7]

CIPRIANO DE CARTAGO (200 - 258 D.C.)


Tem-se a evidência de que durante a sua vida advertiu quem não batizava as
crianças até o oitavo dia depois do nascimento, em semelhança a circuncisão,
então se fez necessário que Cipriano, em seu nome e de 66 bispos, enviasse uma
carta a Fido testemunhando a fé da Igreja a cerca de que o batismo das crianças
não poderia ser atrasado e que elas poderiam ser batizadas a qualquer momento.
A carta completa está disponível na WEB no Volume V do Ante-Nicene
Fathers de Philip Schaff (protestante) bem como na New Advent
Encyclopedia.[8]
Porém em relação com o caso das crianças, na qual disse que não devem ser
batizados no segundo diz ou terceiro dia depois do nascimento, e que a antiga
lei da circuncisão deve ser considerada, pela qual pensa que alguém que de
nascer não deve ser batizado e santificado dentro de 8 dias, todos nos
pensamos de uma maneira muito diferente em nosso concílio. Por que neste
curso que pensas tomar, nada está de acordo, se não que todos julgamos que a
misericórdia e graça de Deus não devem ser negada a nenhum nascido do
homem. Por que como disse o senhor em seu evangelho: “o Filho do Homem
não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las.” Na medida
em que possamos, devemos depois procurar que se possível, que nenhuma alma
se perca...
Por outro lado, a fé nas escrituras divinas nos declaram que todos, sejam
crianças ou maiores, temos a mesma igualdade nos dons divinos...
A razão pela qual cremos que ninguém deve ser impedido de obter a graça da
lei, por que na lei que foi ordenada, e a circuncisão espiritual não deve ser
impedida pela circuncisão carnal, senão que absolutamente todos os homens
tem que ser admitidos à graça de Cristo., já que também Pedro nos Atos dos
Apóstolos fala e diz: “Deus me mostrou que eu não deveria ligar para qualquer
homem comum ou imundo.”. Mas se nada poderia impedir a obtenção da graça
aos homens, e o mais atroz de todos os pecados não pode por obstáculos aos
que são maiores. Mas se até aos que são os maiores pecadores, e os que
haviam pecado contra Deus, quando creem, lhes é concedido a remissão
dos pecados e nada se vê impedindo o batismo e a graça, deveríamos
impedir um bebê? Que sendo recém nascido, não há pecado, salvo, que
nascido da carne de Adão, contraiu o contágio da morte antiga em seus
nascimento?...
E, portanto, querido irmão, esta foi nossa opinião no concílio, que por nós,
nada deve impedir o batismo e a graça de Deus, que é misericordioso, amável
e carinhoso para com todos. Que, posto que é observado e mantido em respeito
a tudo, nos parece que se deve respeitar em todos os casos inclusive nos das
crianças...” [9]
É importante notar aqui que Fido e possivelmente os outros presbíteros,
pretendiam fazer não era negar o batismo as crianças, tal como as seitas
protestantes fazem hoje, e sim simplesmente atrasá-lo até o 8 dia de nascido.

GREGORIO DE NAZIANZO (329 – 390 D.C.)


Gregório escreveu um belo sermão sobre o batismo onde testemunha a fé da
Igreja primitiva no qual vem que para o adulto é necessária a fé para receber o
sacramento, mas não é assim para as crianças (que recebem em virtude da fé
dos pais), portanto não há motivo algum para atrasar o batismo, nem mesmo no
caso das crianças.
“11. Vamos batizar para vencer. Tomemos nossa parte nessas, mais
detergentes que hissopo, mais puras que o sangue das vítimas impostas pela
lei, mais sagradas que as cinzas de uma novilha, cuja a aspersão podia ser
suficientes para dar as faltas comuns uma provisória purificação corporal, mas
não uma completa remissão do pecado: Havia sido necessário, sem ele,
renovar a purificação daqueles que a haviam recebido uma vez?
Vamos batizar hoje, para não estar obrigado a fazê-lo amanha. Não
retardemos o benefício como se não ocasionasse algum problema. Não
esperamos haver pecado mais para ser, mediante ele, perdoados em maior
medida. Isso seria fazer uma indigna especulação comercial a propósito de
Cristo. Tomar uma carga maior da qual podemos levar é correr o risco de
perder em um naufrágio, navio, corpo e bebês, ou seja todo o fruto da graça
do Senhor que não se sabe aproveitar[...]
17. Incluindo as crianças: não dê tempo para a malícia apoderar-se deles,
santificai-os quando todavia são inocentes, consagrai-os ao Espírito quando
todavia não tenham nascido os dentes. Que falta de coragem e que falta de fé
a das mães que temem o caráter batismal pela debilidade de sua
natureza. Antes de havê-lo trazido ao mundo, Ana dedicou Samuel a Deus, e,
imediatamente depois de seus nascimento, o consagrou; desde então, o levou
vestido com uma hábito sacerdotal sem nenhum temor dos homens, por causa
da sua confiança em Deus.
Não há necessidade, então, de amuletos nem encantamentos, meios do que
servem ao maligno para insinuar-se nos espíritos fracos e trazer em seu
beneficio o temor religioso a Deus: põem contra a trindade um grande e belo
talismã.” [10]
Recomenta como uma opinião pessoal que se não estão em perigo de morrer,
esperem até os 3 anos até que possam recitar os mistérios da fé, algo que não é
necessário para receber o batismo:
“26. Todo isto está bem dito para aqueles que solicitam por si mesmo o
batismo, mas o que podemos dizer das crianças, todavia de pouca idade, que
são incapazes de dar-se conta do perigo que estão e da graça do sacramento?
Eles são batizados também?
Certamente, no caso de perigo imediato é melhor batiza-los sem seu
conhecimento do que deixa-los morrer sem haver recebido o selo da iniciação.
Estamos obrigados a dizer o mesmo a respeito da prática da circuncisão, que
se realizava no oitavo dia prefigurando o batismo e que também se fazia sobre
as crianças desprovidas de razão. Da mesma maneira se realizava a unção
sobre as soleiras das portas e que, se tratando de coisas inanimadas, protegia
aos primogênitos.
E a respeito das demais crianças? Está aqui minha opinião: Esperem que
cheguem a idade de 3 anos, de modo que sejam capazes de compreender e
expressar brevemente os mistérios; apesar da imperfeição de sua inteligência
recebem o sinal, e seu corpo, o mesmo que sua alma, se encontram
santificados pelo grande sacramento da iniciação. Eles devem prestar contas
de seus atos no momento preciso em que, em plena possessão da razão,
cheguem ao conhecimento completo do Mistério, pois não serão responsáveis
das faltas que chegaram a cometer pela ignorância própria de sua idade. Pois,
de todos os modos resulta vantajoso possuir a muralha do batismo para
proteger-se dos perigosos ataques que caem sobre nós e superam nossas
forças.
27. Mas, se dirá, Cristo, que é Deus, se fez batizar aos trinta ano e tu nos
empurras a adiantar o batismo. Afirmar desse modo a sua divindade, é o que
resolve a objeção. Ele, a própria pureza, não necessitava de purificação, mas
se fez purificar por vocês como por vocês se fez carne, pois Deus não tem corpo.
Também, ele não corria nenhum perigo para retardar seu batismo, pois podia
regular a sua vontade seu sofrimento como havia regulado seu nascimento.
Para nós, pelo contrário, não seria pequeno o perigo, no caso de abandonar o
mundo sem haver recebido, a vosso nascimento, mais uma vida perecerá, sem
estar revestida da incorruptibilidade.” [11]

JOÃO CRISÓSTOMO (347 - 407 D.C.)


“Deus seja louvado! Ele, que produz tais maravilhas. Vê quão grande é a graça
do batismo? Alguns só veem nela a remissão dos pecados, enquanto que nós
podemos alinhar dons de honra. Por esta razão batizamos também as crianças
de pouca idade, quando, todavia ainda não começaram a pecar, para que
recebam a santidade, a justiça, a filiação, a herança, a fraternidade de Cristo,
para que se convertam nos membros e moradas do Espírito Santo.” [12]

BASÍLIO O GRANDE (330 - 379 D.C.)


“Há um tempo conveniente para cada coisa: um tempo para o sono, outro para
a vigília, um tempo para a guerra e um tempo para a paz. No entanto, o tempo
do batismo absorve toda a vida do homem. Se não é possível ao corpo viver
sem respirar, muito menos o será para a alma subsistir sem conhecer ao seu
criador.
A ignorância de deus é a morte da alma. Aquele não foi batizado tampouco foi
iluminado. Assim como sem luz, a vista não pode examinar aquilo que lhe
interessa, do mesmo modo, a alma não pode comtemplar a Deus. Ademais,
todo tempo é favorável para chegar a salvação por meio do batismo, já se trata
do dia ou da noite, de uma hora ou de um menor espaço de tempo, por mais
breve que seja. Certamente, a data que se aproxima, é, em maior extensão, a
mais adequada. Que época poderia ser, em efeito, mais adequada para o
batismo do que o dia da páscoa? Pois esse dia se comemora a ressurreição, e
o batismo é uma fonte de energia para chegar a salvação.
Por esta razão, a Igreja convoca desde a muito tempo seus “filhos de peito”,
em uma sublime proclamação, a fim de que eles a quem ela deu a luz sem dor,
colocando os no mundo depois de havê-los alimentado com o leite do
ensinamento e da catequese, para que degustem o alimento sólido de seus
dogmas.” [13]
O PELAGIANISMO, PRIMEIRA HERESIA A REJEITAR O
BATISMO DAS CRIANÇAS.
Mas foi no século V, onde apareceu a primeira heresia a negar a necessidade do
batismo, incluindo o batismo infantil; seu autor foi Pelágio, um monge
influenciado por doutrinas pagãs (especialmente do estoicismo). Minimizou a
eficácia da graça e acreditava que a vontade, com o seu livre arbítrio, poderia
alcançar a santidade sozinho. Para os pelagianos não havia pecado original,
pensavam que Adão não foi criado imortal, por isso que morreu, mas não tinha
pecado, e que as crianças estão no mesmo estado de Adão antes de sua queda,
sem contrair qualquer pecado original. Ao negar o pecado original,
consequentemente, viu o batismo de crianças como desnecessário.
Depois de se tornar um monge Pelágio viaja a Roma antes do ano 400. Depois
de Roma ser conquistada e saqueada pelos godos parte para Cartago e depois
para Jerusalém acompanhado de Celestius, outro partidário do Pelagianismo
que o ajuda, de forma eficiente, a propagar suas doutrinas.
Dezoito bispos, incluindo Juliano de Eclana aderiu ao Pelagianismo, enquanto
Santo Agostinho tenazmente combatia a heresia. Os bispos Pelagianos são
privados de suas sés e são condenados pelos concílios africanos de Cartago e
Milevis (anos 411, 412 e 416) que sentenciam:
“Igualmente satisfeito que quem quer negue que os recém-nascidos do seio de
suas mães, não são para ser batizados, não ou dizem que na verdade são
batizados para a remissão dos pecados, mas que do pecado original de Adão
nada trazemos seja necessário expiar na lavagem de regeneração; de onde
consequentemente seguem entre eles a fórmula do batismo “para a remissão
dos pecados”, é para ser entendido que não é verdade, mas falsa, seja anátema.
Porque o que diz o Apóstolo: Por um homem entrou o pecado no mundo e pelo
pecado a morte, e assim passou a todos os homens, porque todos pecaram [ Cf.
Rom. 5, 12], não há outro modo de se entender, do que como sempre entendeu
a Igreja Católica espalhada por todo o mundo. Por que para esta regra de fé,
até mesmo as crianças que ainda não podem cometer qualquer pecado de si
mesmas, são verdadeiramente batizadas para a remissão dos pecados, de modo
que pela regeneração eles são limpos pela geração contraída.”[14]
No entanto, os pelagianos se recusaram a se submeter-se aos concílios. Os
concílios escrevem ao Papa para aprovar as decisões desses concílios locais, o
que faz o Papa Inocêncio I. Santo Agostinho com a sentença da Sé Apostólica
(Roma) dá o caso encerrado, no entanto, após a morte do Papa Inocêncio,
Celestius ante o papa Zózimo faz uma confissão de fé que quase o confundi-o,
mas este confirma os julgamentos de seu antecessor. Posteriormente, o concílio
de Éfeso em 431, novamente condenou o pelagianismo tentando se espalhar
agora na Inglaterra.

AGOSTINHO DE HIPONA (354 – 430 D.C.)


Graças à sua dura luta contra o pelagianismo são abundantes os textos onde
explora a necessidade de batizar bebês para purificá-los do pecado original.
“O batismo das crianças pelos pais Cristãos.
Por causa desta concupiscência, nem mesmo de um matrimónio justo e legítimo
de filhos de Deus, podem nascer filhos de Deus. Porque os que geram, mesmo
que tenham sido regenerados, não geram filhos de Deus, se não filhos do
mundo. Na verdade isto é o julgamento do Senhor. Os filhos deste mundo geram
e são gerados. Como ainda somos filhos deste mundo nossa natureza interna
esta corrompida. Por esta razão eles são filhos nascidos deste mundo, e não
serão filhos de Deus antes de serem regenerados. Mas como somos filhos de
Deus, o homem interior se renova dia a dia, e o homem exterior, pelo banho
de regeneração, é santificado e recebe a esperança da incorruptibilidade
futura, por esta razão somos chamados templo de Deus.[15]
“Qualquer um que negar que as crianças são arrancadas, ao serem batizadas,
deste poder das trevas, das quais o diabo é o príncipe, isto é, do poder do diabo
e seus anjos, é refutado pela verdade dos sacramentos da igreja. Nenhuma
novidade herética pode alterar qualquer coisa na igreja de Cristo, eis que a
cabeça dirige e ajuda a todo o corpo, tanto dos pequenos como dos grandes.”
[16]
Com efeito, desde que foi instituída a circuncisão, dentre o povo de Deus, que
era então o sinal da justificação pela fé, tinha valor para significar a
purificação do pecado original antigo também para as crianças, pelo mesmo
motivo que o batismo começou a ter um valor também para a renovação do
homem desde o momento que foi instituído. Não que antes da circuncisão não
houvesse justiça alguma pela fé, por que o mesmo Abraão, pai das nações que
haviam de seguir sua mesma fé, foi justificado pela fé quando todavia era
incircunciso, sinal que o sacramento da justificação pela fé estava oculto de
todos nos tempos mais antigos. No entanto, a mesma fé no mediador salvava
aos antigos justos, pequenos e grandes.” [17]

A REFORMA PROTESTANTE E O MOVIMENTO ANABATISTA

Seria apenas séculos depois, não mais pelos pelagianos mas por um movimento
totalmente diferente, surgido em Zurique em torno da Reforma Protestante
promovida pelo reformador Ulrico Zwínglio, que se levantaria oposição ao
batismo das crianças. Os partidários deste movimento foram chamados
“anabatistas” (ou “batistas”).

O nascimento deste movimento remonta ao ano 1523, quando a Reforma


chegou a Zurique. Não passou muito tempo para que começasse a ocorrer
divisões dentro do Protestantismo. De Zwínglio se separaram vários grupos
protestantes que anteriormente colaboravam na formação de uma comunidade
independente da tutela da autoridade civil. Entre estes estavam Conrado Grebel
(1498-1526) e Feliz Mantz (1500-1527), que passaram a desenvolver a idéia de
que apenas os que críam retamente e levavam conduta pia eram membros da
Igreja; assim, segundo suas opiniões, o batismo das crianças não podia nem
sequer ser considerado batismo, sendo portanto inválido. Os anabatistas
passaram então a se rebatizar, rejeitando a validade do seu primeiro batismo e
alegando que apenas aqueles que podiam expressar conscientemente a fé em
Cristo podiam ser batizados.

No ano 1524, Grebel rejeitou que seu novo filho fosse batizado e ocasionou um
conflito com o Conselho de Zurique; em janeiro de 1525, o Conselho dispôs
que fosse expulso da cidade quem, no prazo de oito dias, não batizasse seus
filhos. Grebel e Mantz também foram proibidos de pregar[18], mas como o
Protestantismo já tinha rejeitado a autoridade da Igreja [Católica], tendo em
vista a livre interpretação da Bíblia, o novo movimento também não tinha
motivos para se submeter às novas autoridades protestantes. A “caixa de
Pandora” estava aberta e a partir de então não havia mais como o Protestantismo
guardar uma unidade doutrinária.

É neste contexto que surgiram as inquisições protestantes. Mas apesar de se


servirem da tortura e, em 7 de março de 1526, ter sido decretada pena de morte
para todos aqueles que realizassem um segundo batismo, não foi possível conter
os anabatistas (o mesmo passaria a ocorrer, aliás, com cada nova denominação
protestante). Começaram assim as execuções de anabatistas, entre elas as de
Félix Mantz (por afogamento), Jorge Blaurock e Miguel Sattler (ambos
queimados vivos). As vítimas continuaram, mas o Anabatismo se propagou
inclusive para a Alemanha, terra de Lutero, e os Países Baixos, onde a palavra
de Calvino era a lei.

Proibidos tanto nas regiões católicas quanto nas protestantes, apareceram


diferentes grupos anabatistas (menonitas, huterianos), alguns pacíficos, outros
nem tanto. Um dos líderes destes grupos anabatistas violentos foi Tomás
Müntzer, que logo depois de ser seguidor de Lutero acabou se tornando seu
férreo inimigo. Liderou grupos de camponeses que, embora fizessem
reclamações justas e buscassem o apoio de Lutero, acabaram partindo para a
violência quando este último ofereceu-lhes a espada. É neste momento que
Lutero escreve a obra “Contra as Hordas de Bandidos e Assassinos
Camponeses” (WA 18,357-361), em que exorta os príncipes a realizar uma
matança de camponeses, em público ou em privado, culminando tudo em um
grotesco massacre.

Com o passar do tempo, a tendência anabatista foi penetrando nas diversas


denominações protestantes, ecoando suas tendências referentes ao batismo
inclusive em denominações não- anabatistas (pentecostais, metodistas), embora
rejeitadas por outras (calvinistas, luteranos, reformados). A divisão chegou a tal
ponto que hoje conheço comunidades eclesiais luteranas que rejeitam o batismo
de crianças (embora continuem sendo exceção e não regra).

Entre algumas confissões protestantes rejeitando as doutrinas anabatistas,


podemos mencionar:

“O Batismo: ensinamos que o Batismo é necessário para a salvação e que


pelo Batismo nos é dada a graça divina. Ensinamos também que se devem
batizar as crianças e que por este Batismo são oferecidas a Deus e recebem a
graça de Deus. É por isso que condenamos os Anabatistas que rejeitam o
Batismo das crianças” (Confissão de Augsburgo, artigo 9; ano 1530 – Igrejas
Luteranas).

“Não apenas devem ser batizados aqueles que professam a fé em Cristo e


obediência a Ele, como também as crianças, filhas de um ou de ambos os pais
crentes” (Confissão de Westminster 28,4 – Igrejas Reformadas).

“Pergunta: Deve-se também batizar as crianças?


Resposta: Naturalmente, pois, como os adultos, encontram-se compreendidas
na Aliança e pertencem à Igreja de Deus[a]. Tanto a estas quanto aos adultos
se lhes promete, pelo sangue de Cristo, a remissão dos pecados[b] e o
Espírito Santo, operário da fé[c]; por isso, e como sinal desta Aliança,
[ambos] devem ser incorporados à Igreja de Deus e diferenciados dos filhos
dos infiéis[d], assim como se fazia na Aliança do Antigo Testamento pela
circuncisão[e], cujo substituto na Nova Aliança é o Batismo[f]. Notas: [a]
Gênesis 17,7; [b] Mateus 19,14; [c] Lucas 1,15; Salmo 22,10; Isaías 44,1-3;
Atos 2,39; [d] Atos 10,47; [e] Gênesis 17,14; [f] Colossenses 2,11-13”
(Catecismo de Heidelberg, pergunta 74 – Igrejas Reformadas).

“Opomo-nos aos anabatistas, os quais não aceitam o batismo infantil dos


filhos dos crentes. Porém, conforme o Evangelho, 'o reino de Deus é dos
pequeninos' e estes encontram-se incluídos na Aliança de Deus. Portanto, por
que não devem receber o sinal da Aliança de Deus? Por que não devem ser
consagrados pelo santo batismo, considerando que já pertencem à Igreja e
são propriedade de Deus e da Igreja? Igualmente negamos as demais
doutrinas dos anabatistas, que contêm pequenas considerações próprias e
contrárias à Palavra de Deus. Em suma: não somos anabatistas e com eles
nada temos em comum” (Confissão Helvética – antiga confissão protestante
de 1566).

“Por esta razão, cremos que quem deseja entrar na vida eterna deve ser
batizado uma [só] vez com o único Batismo, sem repetí-lo jamais, já que
tampouco podemos nascer duas vezes. Mas este Batismo é útil não apenas
enquanto a água está sobre nós, mas também todo o tempo de nossa vida.
Portanto, reprovamos o erro dos anabatistas, que não se conformam com o
único batismo que receberam e que, além disso, condenam o batismo das
crianças [filhas] de crentes, as quais cremos que se deve batizar e selar com
o sinal da Aliança, como as crianças em Israel eram circuncidadas nas
mesmas promessas que foram feitas aos nossos filhos. E, certamente, Cristo
não derramou menos o seu sangue para lavar as crianças dos fiéis como o fez
pelos adultos; [por seu sangue] devem receber o sinal e o sacramento daquilo
que Cristo fez por elas, da mesma forma como o Senhor, na Lei, ordenou que
participassem do sacramento do padecimento e morte de Cristo pouco depois
de terem nascido, sacrificando por elas um cordeiro, o qual era um sinal de
Jesus Cristo. Por outro lado, o Batismo significa para nossos filhos o mesmo
que a circuncisão significava para o povo judeu, o que fez São Paulo chamar
o Batismo de 'a circuncisão de Cristo'” (Confissão Belga de 1619, artigo 34 –
a Confissão Reformada dos Países Baixos e de várias igrejas reformadas
atuais).

Os anglicanos também rejeitaram o anabatismo:

“Do Batismo – O batismo não é apenas um sinal da profissão e uma nota de


distinção pela qual se identificam os cristãos e os não-batizados, mas também
é um sinal da regeneração ou renascimento, pelo qual, como por instrumento,
os que recebem retamente o batismo são inseridos na Igreja; as promessas da
remissão dos pecados e a de nossa adoção como filhos de Deus por meio do
Espírito Santo são visivelmente assinaladas e seladas; a fé é confirmada; e a
graça, em razão da oração a Deus, é ampliada. O Batismo das crianças,
sendo conforme com a instituição de Cristo, deve ser inteiramente conservado
na Igreja” (Os 39 Artigos da Religião, capítulo 27 – confissão doutrinária
histórica da Igreja Anglicana).

João Calvino, em sua obra “Instituição da Religião Cristã” dedica uma seção
para refutar o anabatismo. Pode ser vista aqui .
NOTAS

[1] Ireneo de Lyon, Fragmento 34. New Advent


Encyclopedia, http://www.newadvent.org/fathers/0134.htm
Early Church Fathers, http://www.ccel.org/print/schaff/anf01/ix.viii.xxxiv
[2] Ireneo de Lyon, Contra las herejías 2, 22,4. Carlos Ignacio González,
S.J., Ireneo de Lyon, Contra los herejes, Conferencia del Episcopado
Mexicano, México 2000
[3] Orígenes In Rom. Com. 5,9: EH 249. Johannes Quasten, Patrología I,
Biblioteca de Autores Cristianos 206, Quita Edición, Madrid 1995, pág. 395
[4] Orígenes, In Luc. hom. 14, 1.5
Enrique Contreras, El Bautismo, Selección de textos patrísticos, Editorial Patria
Grande, Segunda Reimpresión, Buenos Aires 2005, pág. 41
[5] Orígenes, In Luc. hom. 33, 5
Ibid pág. 43
[6] Orígenes, In Lev. Hom. 8,3. Johannes Quasten, Patrología I, Biblioteca de
Autores Cristianos 206, Quita Edición, Madrid 1995, pág. 394
[7] Hipólito, Tradición apostólica 20,21 . Enrique Contreras, El Bautismo,
Selección de textos patrísticos, Editorial Patria Grande, Segunda Reimpresión,
Buenos Aires 2005, págs. 45,47
[8] Early Church Fathers, http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.iv.lviii
[9] Cipriano de Cartago, A Fido sobre el bautismo de infantes, Carta 58. Early
Church Fathers, http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.iv.lviii.; New
Advent Encyclopedia, http://www.newadvent.org/fathers/050658.htm
[10] Gregorio Nacianceno, Sermón 40,11-17 (sobre el santo bautismo) . Carlos
Etchevarne, El bautismo según los padres griegos, Adaptación
Pedagógica:,Bach. Teol., pág. 14, 16-17
Early Church Fathers, http://www.ccel.org/print/schaff/npnf207/iii.xxiii
New Advent Encyclopedia, http://www.newadvent.org/fathers/310240.htm
[11] Gregorio Nacianceno, Sermón 40,26-27 (sobre el santo bautismo)
Carlos Etchevarne, El bautismo según los padres griegos, Adaptación
Pedagógica:,Bach. Teol., págs. 22-23
Early Church Fathers, http://www.ccel.org/print/schaff/npnf207/iii.xxiii
New Advent Encyclopedia, http://www.newadvent.org/fathers/310240.htm
[12] Juan Crisóstomo, Sermón a los neófitos, 1. Carlos Etchevarne, El
bautismo según los padres griegos, Adaptación Pedagógica:,Bach. Teol., pág.
57
[13] Basilio el Grande, Protríptico del Santo Bautismo, 1. Ibid pág. 4
[14] II Concilio Milevis, 416 y XVI Concilio de Cartago, 418, aprobados por
los papas San Inocencio I y San Zósimo, del Pecado Original y de la gracia,
canon 2 . Daniel Ruiz Bueno, Denzinger, El Magisterio de la Iglesia, Manual
de Símbolos, Definiciones y Declaraciones de laIglesia en materia de fe y
costumbres, Editorial Herder 1963, D-102
[15] Agustín de Hipona, El Matrimonio y la concupiscencia, Libro I, XVIII, 20.
Obras completas de San Agustín, Tomo XXXV, Biblioteca de Autores
Cristianos 457, Madrid 1984, pág. 272-273
[16] Agustín de Hipona, El Matrimonio y la concupiscencia, Libro I, XX,
22 Ibid pág. 276
[17] Agustín de Hipona, El Matrimonio y la concupiscencia, Libro II, XI,
24 Ibid pág. 332

PARA CITAR

ARRAIZ, José Miguel. Os Pais da Igreja e o batismo das


crianças. Disponível em:
<http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-
patristicos/570-os-pais-da-igreja-e-o-batismo-das-criancas>. Desde
27/02/2013. Tradução: Rafael Rodrigues

Tertuliano é uma prova contra o batismo infantil?

Pais da Igreja e o Pecado Original

INTRODUÇÃO

Tanto no Oriente como no Ocidente, a prática de batizar as crianças é considerada uma norma
de tradição imemorial. Orígenes e, mais tarde, Santo Agostinho consideravam-na uma
"tradição recebida dos Apóstolos».[1] Quando no século II aparecem os primeiros
testemunhos diretos, jamais algum deles apresenta o Batismo das crianças como uma
inovação. Santo Irineu, de modo particular, considera óbvia a presença entre os batizados “das
crianças e dos pequeninos”, ao lado dos adolescentes, dos jovens e das pessoas adultas.[2] O
mais antigo ritual conhecido, aquele que descreve, no início do século III, a Tradição
Apostólica, contém a prescrição seguinte: “Batizar-se-ão em primeiro lugar as crianças; todas
aquelas que podem falar por si mesmas que falem; quanto às que não podem fazê-1o, os pais
ou alguém da sua família devem falar por elas”.[3] São Cipriano, estando num Sínodo com os
Bispos da África, afirmava que “não se pode negar a misericórdia e a graça de Deus a nenhum
homem que vem à existência”; e esse mesmo Sínodo, recordando “a igualdade espiritual” de
todos os homens, seja qual for a “sua estatura ou idade”, decretou que se podiam batizar as
crianças “já a partir do segundo ou terceiro dia após o seu nascimento”[4] (Pastoralis Actio).

A “CONTROVÉRSIA”

Tendo em vista que Tertuliano recomendava o adiamento do batismo de crianças, muitos


protestantes tentam levantar, com isso, um ponto supostamente contraditório na Tradição
Apostólica, como se houvesse certa dissensão entre os Padres, ao tratar sobre batismo infantil.
A citação utilizada por eles é:

“(...) E então, de acordo com as circunstâncias e disposição, e até mesmo a idade, o adiamento
do batismo é preferível, principalmente, contudo, no caso de crianças pequenas. Por que é
necessário – se (o batismo em si) não é tão necessário – que os padrinhos sejam colocados em
risco? Ambos, devido ao perigo de perecerem, podem não conseguir cumprir suas promessas e
podem ficar decepcionados com o desenvolvimento de uma má disposição naqueles que
estavam de pé? O Senhor, de fato, diz: “Não as impeçais de vir a mim”. Deixai-as vir, então,
enquanto estiverem crescendo; venham elas enquanto estiverem aprendendo, enquanto
estiverem aprendendo para onde ir. Deixai-as tornarem-se cristãs quando forem capazes de
conhecerem a Cristo. Por que apressar a remissão dos pecados para o período da inocência?
Mais cuidado deve ser tomado em assuntos mundanos: de modo que um que não seja dado a
questões terrenas seja confiado às divinas! Deixe eles saberem como pedir pela salvação, para
que você não pareça (ao menos) ter dado a ele que pede. (...) Se alguém entender a pesada
importância do batismo, eles temerão sua recepção mais do que seu atraso: fé livre de erros é
a garantia de salvação. (...)” (De baptismo, 18)

Mas será mesmo que Tertuliano condenava o batismo infantil? O que levou Tertuliano a
recomendar que o batismo fosse adiado? Será mesmo que recomendar que seja adiado é o
mesmo que condenar? Analisemos o contexto da época em que Tertuliano estava inserido,
para ver se realmente há uma dissonância entre a prática do batismo infantil e o adiamento da
mesma, recomendada por Tertuliano.

A DISCIPLINA DA IGREJA

A fim de entender a razão de Tertuliano fornecer esta prescrição, temos que analisar dois
fatores que influenciaram-na: a “pesada importância do batismo”e também outro fator que
está intimamente ligado a esta grande importância do sacramento do batismo: a disciplina do
sacramento da penitência, da época de Tertuliano.

Para demonstrar a importância do “sacramento da água” (De bapt., 1) para Tertuliano, vemos
que ele diz no capítulo 12 da referida obra: “sem batismo, a salvação não é atingível por
ninguém.”. Ótimo! Já sabemos que para ele o batismo não era um mero símbolo, mas algo
decisivo e necessário à salvação do indivíduo. Bem, Tertuliano também afirma no capítulo 7
que “somos mergulhados na água, mas o efeito é espiritual, nele [no batismo] somos limpos
do pecado” afirmando, com isso, que cria numa eficácia operada neste sacramento.

Oras, o que isso então tem a ver com a postura de adiar o batismo de crianças? Tudo. E é
agora que entra em cena o outro fator levantado para explicar esta atitude de Tertuliano: o
sacramento da penitência. Vemos que nosso protagonista indagou: “por que apressar a
remissão dos pecados para o período da inocência?”. Oras, uma vez que ele cria que no
sacramento do batismo somos limpos do pecado, nesta indagação Tertuliano demonstra não
achar necessário conferir a remissão dos pecados a criaturas inocentes e que só contam com a
mancha do pecado original [5]. Mas então, qual a razão de agir desta forma? Onde entra o
sacramento da penitência?

Relaciona-se mais precisamente com a disciplina que a Igreja ocidental aplicava a este
sacramento. Para Tertuliano, a penitência era oferecida apenas uma vez na vida, àquelas
pessoas que, após o batismo cometeram pecados graves:

“(...) Prevendo estes venenos do maligno, Deus, embora as portas do perdão estivessem
seladas e fixadas com a barra do batismo , tem permitido ainda que elas permaneçam um
pouco abertas. No vestíbulo, ele tem disposto um segundo arrependimento para [as portas do
perdão] serem abertas com a batida. Mas de uma vez por todas [será aberta] por agora, uma
segunda vez. Mas nunca mais [será], porque a primeira vez tinha sido em vão... No entanto, se
houver [a necessidade] de incorrer na dívida de um segundo arrependimento, não é para seu
espírito ser imediatamente cortado e minado por desespero. Que seja difícil para pecar, mas
não seja difícil se arrepender de novo. (...)” (De Paenitentia, 7) [colchetes meus]

Os patrologistas Altaner e Stuiber, comentando esta obra de Tertuliano, dizem o mesmo:

“(...) A doutrina relativa à penitência. Em sua obra “De paenitentia”, Tertuliano concita a todos
os pecadores à penitência eclesiástica, admissível uma só vez e não reiterável. (...)”(Patrologia:
vida, obras e doutrina dos Padres da Igreja / 2.ed. Berthold Altaner, Alfred Stuiber; (tradução
Monjas Beneditinas) – São Paulo: Paulinas, 1988, p. 169).
E também, pela disciplina da penitência ser dura (OTT, 1966), ele recomendava que ela fosse
evitada:

“(...) Oh Jesus Cristo, meu Senhor, concede aos teus servos a graça de conhecer e aprender
com a minha boca a disciplina da penitência, mas enquanto lhes convém e não para o pecado,
em outras palavras, que depois (do batismo) não tenham que conhecer a penitencia e nem
pedi-la. Odeio mencionar aqui a segunda, ou por melhor dizer, neste caso, a última penitência.
Temo que, ao falar de um remédio da penitência que se tem em reserva, parece sugerir que
existe, todavia, um tempo em que se pode pecar. Deus me livre alguém interprete mal meu
pensamento, fazendo-os dizer que com esta porta aberta a penitência existe, portanto, agora
uma porta aberta ao pecado. (...) Temos escapado uma vez (no batismo). Não vamos entrar
mais em perigo, mesmo que nos pareça que ainda escaparemos outra vez. (...)” (De
paenitentia, 7).

Como se sabe, a penitência (ἐξομολόγησις) era humilhante, além de rígida, podendo durar por
toda a vida, ou algumas semanas dependendo da região (AUER, 1983), para que então a
absolvição fosse dada. Explico: na antiguidade, exceto em perigo de morte, o comum era
depois da confissão, cumprir a satisfação (penitência) antes de receber a absolvição dos
pecados pelo sacerdote (OTT, 1966). Isso gera dificuldades para que o penitente recebesse
absolvição, pelos longos períodos que muitas vezes era submetido à satisfação, que poderia
resultar em não encontrar novamente o sacerdote com o qual se confessou para receber a
absolvição. Além de ser usual, no ocidente até por volta do século VIII, só ser possível conferir
o sacramento da penitência apenas uma vez (FUNK, 1905).

Levando então em consideração o que foi dito acima, evidencia-se o motivo prático e pastoral
de Tertuliano falar de adiar o batismo de crianças: havendo uma só possibilidade de
reconciliação após o batismo, na visão de Tertuliano era bom que se adiasse o batismo, para
que o indivíduo já com uma “fé livre de erros”, pudesse ter seus pecados lavados no batismo e
com esta consciência, “não tenha que conhecer a penitência e nem pedi-la”, uma vez que era
aplicada somente uma vez na vida, com humilhantes e prolongadas práticas penitenciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Respondendo às perguntas iniciais: Tertuliano condenava o batismo infantil? Não, não


condenava. A esta pergunta responde também J. N. D. Kelly:

“(...) Tertuliano leva-nos um passo adiante. Ele sustenta que o batismo (De bapt. 1; 12-15) é
necessário à salvação; seguindo o exemplo de Cristo, nascemos na água e só podemos ser
salvos permanecendo nela. Ele é ministrado a crianças, embora Tertuliano pessoalmente
prefira (De bapt., 18) que seja adiado até chegarem à idade do discernimento. (...)” (Kelly,
J.N.D. Patrística: origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã / J.N.D. Kelly;
Tradução Márcio Loureiro Redondo - São Paulo : Vida Nova, 1994. p. 157)

Como vemos, apesar de preferir que o batismo seja adiado, ele pode também ser
administrado às crianças. E, uma vez que ele diz que “de acordo com as circunstâncias” o
batismo pode ser adiado, igualmente pode ser conferido, como por exemplo, em casos de
risco de vida, já que ensinou o batismo é necessário à salvação. Oras, é o que também
sustentam Altaner e Stuiber ao ler Tertuliano:

“(...) Tertuliano ensina em 'De Anima' 41, ser o pecado original 'vitium' originis': em
consequência do pecado de Adão, o veneno da concupiscência contaminou a natureza
humana; o 'vitium originis', por ação demoníaca, se tornou um 'naturale quodammodo'. Não
obstante, não aconselha o batismo das crianças, exceto em caso de emergência (bapt. 18).
(...)” (Patrologia: vida, obras e doutrina dos Padres da Igreja / 2.ed. Berthold Altaner, Alfred
Stuiber; (tradução Monjas Beneditinas) – São Paulo: Paulinas, 1988, p. 169).

Como vimos, foram motivações práticas e pastorais, de acordo com a disciplina da Igreja
norte-africana daquela época, que motivaram Tertuliano a preferir o adiamento do batismo (é
por isso que ele fala que “o batismo em si não é tão necessário”), para que o indivíduo
pudesse ter mais oportunidades de viver uma fé livre de erros com uma vida em santidade,
sem precisar recorrer à rígida prática penitenciária de seu tempo.

Embora ele tivesse suas razões em optar por esta prática, para todos os Padres da Igreja que
se pronunciaram sobre a questão ele não tinha razão, e fazia-se necessário o batismo de
crianças. Por exemplo, Santo Agostinho, que foi deixado para ser batizado tardiamente,
queixou-se de não ter sido batizado quando criança, pois assim receberia logo a cura:

“(...) Rogo-te, meu Deus, que me mostres — se nisso consentes — por qual desígnio foi adiado
o meu Batismo (...) Quanto teria sido preferível para mim ser logo curado e esforçar-me, eu e
os meus, para conservar intacta a saúde da minha alma, sob a proteção que me terias dado!
Sem dúvida teria sido melhor. (...)” (Confissões, I, 11)

Vale ressaltar que além de Agostinho, Padres e Doutores, como um São Basílio, um São
Gregário de Nissa, um Santo Ambrósio, um São João Crisóstomo, um São Jerónimo — que
também tinham sido eles próprios batizados na idade adulta, em virtude deste estado de
coisas — reagiram em seguida vigorosamente contra uma tal negligência, pedindo com
insistência aos adultos para não retardarem o batismo, necessário para a salvação,[6] e
muitos de entre eles insistiram igualmente para que o mesmo fosse administrado também às
criancinhas.[7]
Logicamente, se Tertuliano considerar A melhor que B, não é o mesmo que –condenar– B. E é
isso que o texto demonstrou: a compatibilidade da posição de Tertuliano, neste aspecto, com
a doutrina da Igreja: apesar de não ser uma orientação pastoral que coincida com o ensino dos
demais Padres, para Tertuliano era perfeitamente possível o batismo de crianças, mesmo que
sendo uma exceção, pois sua doutrina acerca da necessidade e do efeito do batismo,
registradas em seu tratado sobre o batismo, foram absolutamente católicas.

NOTAS

[1] Orígenes, In Romanos lib. V. 9, PG 14, 1047; cf. S. Agostinho, De Genesi ad litteram, X, 23,
39, PL 34, 426; De peccatorum meritis et remissione et de baptismo parvulorum I, 26, 39, PL
44, 131. Na verdade, já em três passagens dos Actos dos Apóstolos (Act 16, 15; Act16, 33; Act
18, 8), se lê que foi baptizada "toda uma casa de família".

[2] Adv. Haereses II, 24, 4, PG 7, 184, Harvey I, 330. Em muitos documentos epigráficos, já
desde o século II, muitas crianças são designadas "filhas de Deus", título que só era concedido
aos baptizados, ou se fala mesmo do Baptismo delas expressamente; cf. por exemplo, Corpus
inscriptionum graecarum, III, nn. 9727, 9801, 9817; E. Diehl,Inscriptiones christianae latinae
veteres, Berlin, 1961, nn. 1523 (3), 4429 A.

[3] Hipólito de Roma, La Tradition Apostolique, ed. e trad. de B. Botte, Münster W.,
Aschendorff, 1963 (Liturgiewiessenschaftliche Quellen und Forschungen 396) pp. 44-45.

[4] Epist. LXIV, Cyprianus et coeteri collegae, qui in concilio adfuerunt numero LXVI Fido fratri,
PL 3, 1013-1019, ed. Hartel, CSEL 3, pp. 717-721. Tal prática estava particularmente firmada na
Igreja africana, não obstante a oposição de Tertuliano, o qual aconselhava adiar para mais
tarde o Batismo das crianças, por causa de sua tenra idade e por causa do temor de eventuais
defecções, no período da juventude. Cf. De baptismo, XVIII, 3; XIX, 1, PL 1, 1220-1222; De
anima, 39-41, PL 2, 719 e ss.

[5] Sobre a fé de Tertuliano no pecado original, vemos em "De testimonio animae" 3,2

[6] Cf. S. Basílio, Homilia XIII exhortatoria ad sanctum baptisma, PG 31, 424436; S. Gregório de
Nissa, Adversus eos qui differunt baptismum oratio: PG 46, 2; S. Agostinho, In Joannem tract.
XIII, 7: PL 35, 1496, CCL 36, p. 134.
[7] Cf. S. Ambrósio, De Abraham II, 11, 81-84, PL 14, 495497, CSEL 32, 1, pp. 632-635; S. João
Crisóstomo, Catechesis III, 5-6, ed. A. Wenger, SC 50, pp. 153-154; S. Jerónimo, Epist. 107, 6: PL
32, 873, ed. J. Labourt (Coll. Budé), t. 5, pp. 151-152. Todavia São Gregório de Nazianzo, muito
embora faça pressão sobre as mães para mandarem baptizar os seus filhos de tenra idade,
limita-se a fixar tal idade aos três anos. Cf. Oratio XL in sanctum baptisma,17 e 28, PG 36, 380
D e 399 A-B.

REFERÊNCIAS

Instrução da Congregação da Doutrina da Fé “Pastoralis Actio”, 20 de outubro de 1980


(Batismo de Crianças).

OTT, Ludwig. Manual de teología dogmática, Editorial Herder 1966, p. 617.

AUER, Johann. Los Sacramentos de la Iglesia. Vol. VII. Barcelona, 1983, p. 148-149.

OTT, Ludwig. Manual de teología dogmática, Editorial Herder 1966, p. 638.

FUNK, Franz Xavier von. Didascalia et Constitutiones Apostolicae, 1, Paderborn 1905, p 344-
350.

PARA CITAR

OLIVEIRA, L.H. Tertuliano é uma prova contra o batismo infantil? Disponível em:
<http://apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/811-tertuliano-e-
uma-prova-contra-o-batismo-infantil> Desde: 07/08/2015.

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