Você está na página 1de 32

Saúde da

População
Negra:
Uma questão
de Equidade.

Altair Lira
Bacharel em Antropologia da Saúde
Mestre em Saúde Coletiva
Consultor Técnico Programas de Saúde
Pesquisador ISC/UFBA
“sou invisível, compreendam,
simplesmente porque as pessoas
se recusam a me ver...
Quando se aproximam de mim, só enxergam o
que me circunda,
a si próprios ou o que imaginam ver — na
verdade, tudo, menos eu.”
(ELLISON, O Homem Invisível, 2013, p.25).
3

NAVIO NEGREIRO
O Brasil foi

• A segunda maior nação escravista da era moderna

• O último país do mundo ocidental a abolir a escravidão (1888)

• O penúltimo país da América a abolir o tráfico de escravos (1850)

• O maior importador de toda a história do tráfico atlântico

O Brasil tem hoje

• A segunda maior população negra (afrodescendente) do mundo, com


cerca de 110 milhões de indivíduos, só sendo superado pela Nigéria
Cronologia da abolição da escravidão na América

Saint Domingue (Haiti) 1804


Chile 1823
Províncias Unidas da América Central 1824
México 1829
Uruguai 1842
Colônias suecas 1847
Colônias dinamarquesas 1848
Colônias francesas 1848
Bolívia 1851
Colômbia 1851
Equador 1852
Argentina 1853
Venezuela 1854
Peru 1855
Colônias holandesas 1863
Estados Unidos 1863
Porto Rico 1873
Cuba 1886
Brasil 1888
Desigualdades raciais no Brasil hoje: a realidade desmente o mito

•Mais de um século depois da abolição, as desvantagens e


desigualdades geradas pelo regime escravista permanecem entre nós, e
continuam sendo transmitidas entre as gerações

• No Brasil persistem grandes diferenças entre os indicadores sócio-


econômicos de brancos e negros e, o que é mais grave,vários desses
indicadores não tem uma trajetória convergente

•Apesar disso, a sociedade brasileira continua negando a existência do


problema e a necessidade de enfrentá-lo
Média de anos de estudo da população
ocupada com 16 anos ou mais de
idade, segundo sexo e cor/raça. Brasil, 1999 e 2009

Fonte: Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, IPEA, 2011


Taxa de desemprego da população de
16 anos ou mais de idade, segundo sexo e cor/raça.
Brasil, 2009.

Fonte: Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, IPEA, 2011


Renda média da população, segundo
sexo e cor/raça. Brasil, 2009.

Fonte: Retrato das Desigualdades de Genêro e Raça, IPEA, 2011


Um dos principais atributos das
ideologias é se estabelecerem para
além das individualidades, vontades
ou opiniões, fixando-se internamente
aos mecanismos de sociabilidade e
grupalização
II SEMINÁRIO NACIONAL DE SAÚDE DA
POPULAÇÃO NEGRA

EVIDÊNCIAS DAS DESIGUALDADES E ESTRATEGIAS DE


ENFRENTAMENTO PARA PROMOÇÃO DA SAÚDE DA
POPULAÇÃO NEGRA

Expedito Luna
DEPARTAMENTO DE ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE SAÚDE
MINISTÉRIO DA SAÚDE
16 de novembro de 2004
Outubro 2006
Distribuição de consultas pré-natal referidas de mães sem nenhum ano de estudo segundo
raça-cor. Brasil, 2004
Fonte: SVS/MS-2007

Consultas Branca % Preta %

Nenhuma 2.127 10,3 591 17,6

1-3 vezes 3.509 17,0 803 23,9

4-6 vezes 7.805 37,7 1.212 36,0

7e+ 6.960 33,6 696 20,7


Distribuição de consultas pré-natal referidas de mães com 12 ou mais anos de estudo
segundo raça-cor. Brasil, 2004
Fonte: SVS/MS-2007

Consultas Branca % Preta %

Nenhuma 823 0,3 59 1,4

1-3 vezes 3.612 1,5 221 5,1

4-6 vezes 31.517 13,0 1.082 24,8

7e+ 205.186 84,4 2.905 66,6


Distribuição percentual de óbitos maternos das principais
causas diretas de mulheres brancas, pretas e pardas. Brasil - 2005

25

20

15

10

-
Hemorragia pos- Anormalidades Descolamento
Eclampsia Pre-eclâmpsia Infecc puerperal Aborto
parto da contracao prematuro da
Branca 13,14 9,28 9,02 8,25 6,96 6,19 7,62
Preta 23,28 12,07 6,03 5,17 1,72 9,48 14,19
Parda 20,64 6,01 8,02 7,21 3,01 5,21 11,04

Branca Preta Parda

Fonte:
SIM/SVS/MS
Proporção de nascidos vivos com baixo peso ao nascer (menos de
2500 g), segundo raça/cor e estados, Brasil, 2003
12

10

6
%

0
RO AC AM RR PA AP TO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MS MT GO DF

Branca 5,0 5,5 6,9 6,2 6,2 6,4 5,3 4,9 5,1 5,1 6,6 4,6 6,0 5,1 5,9 6,3 8,8 6,2 8,1 8,9 8,6 8,1 9,3 7,2 6,3 6,2 9,8
Negra 7,1 7,3 6,9 7,1 6,9 8,0 7,1 6,4 6,3 7,6 8,4 8,0 8,4 8,2 8,0 8,2 10,0 9,2 10,310,2 8,8 9,3 11,1 7,4 6,9 7,0 9,8
Taxas padronizadas de óbito por causas externas por raça/cor e
regiões. Brasil, 2004.
100

90
Taxa padronizada (por 100.000 hab.)

80

70

60

50

40

30

20

10

0
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Branco 42,7 25,6 62,0 70,2 65,7
Negro 67,5 65,1 79,0 52,8 88,3
Total 60,7 62,1 71,7 69,5 81,8
Taxa de homicídio (100 mil) no sexo masculino, segundo raça/cor.
Brasil 2000-2005
70

65
6 6 ,1 6 3 ,5
6 3 ,7 6 3 ,8
60
6 0 ,5
55
56 ,9

50

45

40

3 8 ,2 3 3 ,5
35 3 8 ,0 3 7,5
3 6 ,8

30 2 9 ,7

25
2000 2001 2002 2003 2004 2005

b ranca neg ra

Fonte: SVS/MS
O risco relativo aumento de 1,4 para 2,1.
Variação % 2003/5
homens brancos -20,9%
homens negros -3,9%
Taxa de homicídio (100 mil) no sexo feminino, segundo raça/cor.
Brasil 2000-2005
5,0
4 ,9
4 ,8 4 ,7
4 ,6 4 ,8
4 ,6 4 ,4
4 ,7
4 ,4

4 ,2

4 ,0

3 ,8

3 ,6
3 ,6 3 ,6
3 ,4 3 ,5 3 ,5

3 ,2 3 ,4
3 ,1
3 ,0
2000 2001 2002 2003 2004 2005

b ranca neg ra

O risco relativo variou de 1,2 para 1,6.


Variação % 2000/5
Fonte: SVS/MS mulheres brancas -13,8%
mulheres negras 10,7%
Freqüência do
gene S no Brasil
até 2005

PE Pernambuco
AS 4% (1:23)
DF 1:1.400
BA
Bahia
AS 5,3% (1:17)
DF 1:650
São Paulo MG
AS 2,6% (1:35)
Minas Gerais
DF 1:4.000
AS 3% (1:23)
SP RJ
DF 1:1.400

Rio de Janeiro
AS 4% (1:21)
DF 1:1.200
RS
Rio Grande do Sul
AS=traço falciforme AS 2% (1:65)
DF=doença falciforme DF 1:10.000
Fonte: Ministério da Saúde do Brasil
PROPORÇÃO DE RECÉM NASCIDOS COM DOENÇAS
FALCIFORMES NO RECÔNCAVO BAIANO (2006-2009)
CIDADES Nº CASOS DOENÇAS Nº TESTES FREQ. (%) PROPORÇÃO DE
FALCIFORMES CASOS DF/RNs
CACHOEIRA 12 1612 0,7 1/134

CABACEIRAS DO PARAGUAÇU 04 990 0,4 1/247

CONCEIÇÃO DO ALMEIDA 00 618 0,0

CONCEIÇÃO DA FEIRA 02 1091 0,2 1/515

CRUZ DAS ALMAS 14 3810 0,4 1/272

GOVERNADOR MANGABEIRA 03 265*

MARAGOGIPE 02 2009 0,0 1/1004

MURITIBA 02 789 0,2 1/394

SÃO FELIPE 01 1078 0,0 1/1078

SÃO FÉLIX 02 717 0,3 1/358

SAPEAÇU 03 1168 0,2 1/389

SAUBARA 02 626 0,3 1/313

TOTAL 47 14773 0,3 1/314


LETALIDADE EM DOENÇA FALCIFORME
NO BRASIL

LETALIDADE SEM CUIDADOS COM CUIDADOS


DE SAÚDE DE SAÚDE

Crianças até 5 80,0% 1,8%


anos de idade (vida média 8 anos) (vida média 45 anos)

Gestantes
Durante o parto 50,0% 2,0%

Fonte: CPNSH / MS,


NOSOLOGIAS DAS POPULAÇÕES AFRO-BRASILEIRAS

Condições
geneticamente
  Condições
adquiridas, derivadas
Doenças cuja
evolução é agravada
Condições fisiológicas
que sofrem
determinantes, de condições sócio- ou o tratamento é interferência das
dependentes de econômicas e dificultado pelas condições ambientais
elevada freqüência educacionais condições ambientais citadas, contribuindo
de gene(s) desfavoráveis e indicadas para a evolução de
responsáveis pela intensa pressão doenças
doença ou a ela social
associada

 Anemia falciforme  Alcoolismo  Hipertensão  Crescimento


 Hipertensão  Toxicomania Arterial  Gravidez
Arterial  Desnutrição  Diabete Melito  Parto
 Diabete Melito  Mortalidade  Coronariopatias  Envelhecimento
 Deficiência de infantil  Insuficiência renal
glicose – 6 – fosfato  Abortos sépticos crônica
desidrogenase Anemia Ferropriva  Cânceres

 DST/AIDS  miomas

 Doenças do Trab.
 Transt. Mentais Fonte: GTI/1996
Por que enfrentar o racismo no
SUS?

A vigência do racismo no SUS


interfere inclusive, na realização dos
princípios do Sistema dado que, em
tese, dever-se-ia oferecer tudo
aquilo que está disponível e
aprovado para todos, de acordo com
as diferentes necessidades, partindo
de uma construção democrática,
solidária e descentralizada.
Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra

Marca
Reconhecimento do racismo, das
desigualdades étnico-raciais e do
racismo institucional como
determinantes sociais das
condições de saúde, com vistas à
promoção da equidade em saúde
Saúde da População Negra
Parte da constatação de que o racismo e a
discriminação racial colocam mulheres e
homens negros em situações perversas de
vulnerabilidade, as quais podem ser
modificadas pela adoção de políticas
públicas capazes de reconhecer os
múltiplos fatores que resultam em tais
iniquidades (Lopes,2005).
Fases da oficialização

Você também pode gostar