Geralmente quando se fala da Igreja Neotestamentaria, ou da Igreja
do Primeiro Século, temos uma tendência a romantiza-la. Há até mesmo quem diga que a Igreja na atualidade se desviou da verdade, e que ela nada tem a ver com a Igreja que Lucas nos apresenta em Atos. Muitos se referem a Igreja de Atos como que se ela tivesse sido uma Igreja pura, sem mácula. Tal visão decorrente de uma falta de estudo das Escrituras muitas vezes gera crises, e faz com que muitas pessoas desistam da Igreja, ou fique de denominação em denominação a procura da “verdadeira Igreja Perdida”. Nesta noite quero destacar alguns pontos que nos ajudam a desmitificar essas ideias.
I – A Igreja de Cristo possui uma promessa.
A Igreja de Cristo, ao longo dos séculos, goza da inefável promessa
feita por Aquele que é o seu Cabeça: “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;...” Mateus 16:18 – E também, em Mateus 28:20: “...e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos…”
II – Todo crescimento traz problemas – (Atos 6.1)
A narrativa de Lucas nos fala no primeiro versículo que
ocorrendo o aumento do número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus. A Igreja de Cristo é chamada a ser multiétnica, mas a Igreja em seu nascedouro era composta majoritariamente por judeus. Os helenistas, ou gregos, eram judeus que viveram fora da palestina e assimilaram parte da cultura grega. Os judeus, chamados de “hebreus de hebreus” eram os que liam a Bíblia em hebraico, todavia, falavam em aramaico. São duas culturas diferentes, e podemos dizer que isso gerou um choque cultural, pois para muitos judeus hebreus, a adoção de práticas da cultura grega era condenável.
III – Qual era o problema?
A parte b do versículo 1 nos diz que as viúvas gregas estavam sendo esquecidas na distribuição diária. A Bíblia na Linguagem de Hoje fala que a distribuição era feita em dinheiro. Essa prática tem consonância com Atos 2.45, onde diz: “Vendiam suas propriedades e bens, e dividiam o produto entre todos, segundo a necessidade de cada um.” Mas, é bem mais provável que a distribuição fosse de comida mesmo, pois a Igreja nascente não tinha de início muitas pessoas de posse, então não havia de onde diariamente tirar dinheiro para distribuir. Tanto é que, a NVI e outras traduções trazem a palavra “alimentos” ao invés de dinheiro. A Igreja adotou o cuidado com as viúvas e órfãos como parte fundamental de sua estrutura, por isso que Tiago 1.27 vai nos dizer que: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.”
Na realidade o que ocorria não era um mero esquecimento,
mas sim uma atitude motivada por acepção de pessoas. Ocorreu FAVORITISMO em prol das hebreias em detrimento das gregas. Esse tipo de coisa acontecia na Igreja do Primeiro Século, tanto é que Tiago no capitulo 2, versículo 1 a 5, escreveu contra: “Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com vestes preciosas, e entrar também algum pobre com sórdida vestimenta, e atentardes para o que traz a veste preciosa e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui, num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé ou assenta-te abaixo do meu estrado, porventura não fizestes distinção dentro de vós mesmos e não vos fizestes juízes de maus pensamentos? 5 Ouvi, meus amados irmãos. Porventura, não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?”
IV – Como os apóstolos resolveram o problema? (Atos 6.1)
Os doze convocaram a comunidade dos discípulos. É
interessante que, na Bíblia o termo "cristão", entendido como seguidor de Cristo, só aparece 3 vezes, já a palavra discípulo ocorre 269 vezes no Novo Testamento. Hoje ser cristão é sinônimo de ser parte de uma religião, ao passo que ser discípulo significa crer no Mestre, significa estar junto do Mestre, andar com o Mestre, caminhar com o Mestre, escutar, ver e perceber o procedimento do Mestre. Como João declara: Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou. 1 João 2:6
V – Os apóstolos entenderam que havia funções que cabiam a
eles. Eles entendiam que eram chamados a se dedicarem a oração e ministério da Palavra. Eles estabeleceram que os critérios para que os leigos ocupassem a função de diaconia, serviço, boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria.
Boa reputação para evitar que quem antes estava na função e
fazendo acepção de pessoas não fosse eleito.
Cheio do Espírito Santo para que pudessem amar ao próximo
como a eles mesmos.
E cheio de sabedoria para poder administrar o dinheiro e a
compra dos alimentos.
Aqui podemos dizer que nasce uma Igreja de Dons e
Ministérios. O interessante é que os Apóstolos dão plena liberdade para a Comunidade escolher, mas, os escolhidos são todos gregos. Todos os nomes citados são gregos, por exemplo, Felipe significa “amigo dos cavalos”, “o que gosta de cavalos”. Felipe tem origem no nome grego Phílippos, formado pela junção das palavras phílos, que significa “amigo”, e híppos, que quer dizer “cavalo”. O nome Estevão, discipulo que vai se tornar o primeiro mártir vem de “Stephanos”, e significa “Coroa”.
Aqui podemos dizer que os humilhados foram exaltados.