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Antnio Torrado
escreveu e Cristina Malaquias ilustrou
Mas o rosto da bailarina gentil era sisudo, quase zangado. Belo, muito belo, mas to ao contrrio da jovialidade do corpo, nos seus meneios de dana, que causava uma estranha impresso. Um dos convivas reparou no desconcerto e disse-o em voz alta. Outro, a seu lado, explicou: No admira. a princesa, filha do rei deposto. O pai acorrentado na cave e ela a danar no salo... Mesmo assim, para quem dana sem vontade muito bem dana comentou outro conviva. Embora, melhor danaria se sorrisse... Ri ordenou-lhe o senhor da festa e dos vencedores, tanto como dos vencidos. Mas a bailarina nem sorriu. Continuava a danar, vestida da msica, com a felicidade a tinir nos pulsos e nos tornozelos, como se o corpo existisse sozinho, decepado do rosto em luto. A noite minha. O palcio meu. O reino e todos os que nele vivem pertencem-me clamava o rei dos vencedores. Tens de rir. Ela, muito sria, s danava. E que bem danava! Maravilhavam-se, sua roda, porque nunca tinham visto danar assim, com tanta graa, tanta leveza de pluma, ptala, brisa, asa, perfume... Ento, o comandante, de corao rendido, proclamou: Libertem de vez o rei vencido. Quero-o, aqui, ao nosso lado, a ver a filha danar. Uma labareda de guizos e risos correu, rolou, adejou pelas arcarias do palcio. Os msicos atnitos ouviram a msica, que eles no tocavam, desprender-se, intacta, dos seus instrumentos e engrinaldar de alegria redopiante a 2
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princesa danarina. Nenhuma bailarina danou, em gestos de riso, em olhos e lbios iluminados de riso, como, naquela noite, a princesa danou... E por muitos mais anos se contar a histria da dana prodigiosa, que fez pulsar, em triunfo, a harmonia da msica nos coraes dos homens, vencedores ou vencidos...
FIM
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