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[Madrugada Beira-Mar] O firmamento inteiro Transborda de fulgores, Do sol aos esplendores, De Deus ao vasto olhar; Esparsas no infinito As nuvens

s cambiantes Se espelham triunfantes Na face azul do mar. A tribo das gaivotas, Abrindo as asas leves, Descreve giros breves Das rochas ao redor; E alm, na praia extensa, Ao cntico das aves Misturam-se as suaves Canes do pescador. Nas ondas transparentes, D'aurora os brandos lumes Prateiam os cardumes Dos vvidos peixinhos; E os botes descuidosos, Em prolongadas voltas, Correm de velas soltas Nos pramos marinhos. Contudo entre as belezas Deste festim sublime Eu sinto que me oprime Um ntimo pesar! Porque no sou a concha Que volve-se na praia? E a espuma que desmaia? A onda azul do mar? Porque no tenho eu asas Assim como a andorinha, Que se levanta asinha E voa n'amplido? Se a inspirao procura Erguer-me pelo espao, Um rijo, estreito lao Me prende os ps no cho! O sol que hoje fulgura E as vagas ilumina, De novo a luz divina Derramar nos cus; A madrugada esplndida, No dia de amanh, Vir bela e lou Quebrar da noite os vus. Mas eu, ente maldito, Da criao no meio, Tenho no frgil seio Martrios infernais!

Hoje reflito, sinto, Mas amanh, cado, Do lodo apodrecido No surgirei jamais!

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