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Coletânea de Poesia

4º ano
Buscando a Cristo
Gregório de Matos
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados


De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,


A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, pra chamar-me

A vós, lado patente, quero unir-me,


A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.

O Deserto
Júlia Cortines
O sol queima; o ar sufoca; a infinita celagem
Do céu resplende sobre o infinito deserto;
E do vasto horizonte, ao derredor aberto,
Sopra, como de um forno, uma ardente bafagem.

Nada à flor do areal, quer a distância ou perto;


E, através da nudez da vazia paisagem,
Nem sequer a ilusória e efêmera miragem
Deixa, ao longe, entrever o seu perfil incerto...

Nem o leve ruflar de uma asa; nem um grito,


Fazendo estremecer o deserto que dorme,
Como uma flecha, vara a mudez do infinito...

Implacável, o sol, quente e fulvo, dardeja


Uma luz que, abrasando a solidão enorme,
No ar, na areia e no céu treme, brilha e flameja...

CSLM 2023

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