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Nasceu em Timbó em 1938 e faleceu em Blumenau

em 1998
Criou a CATEQUESE POÉTICA e o CORPOEMA
Poeta marcado pela intensidade – a agressividade
somada à simplicidade no fazer poético
Agitador cultural, sua poesia é engajada sem ser
engajada, inconformada sem ser inconformada.
o CÓDIGO DAS ÁGUAS = tentativa de conciliar 2
coisas opostas: o método, a codificação com a
inconstância da água
O prazer em fazer a poesia no cotidiano e no
transitório
A palavra primitiva, a anterior à própria palavra
A poesia da mutabilidade
A inconstância da água na poesia
A transição da vida, da palavra, da água
O dinamismo constante
O CÓDIGO DAS ÁGUAS é poesia em movimento e
este movimento é ultrapassar-se, ir além. E,
principalmente, ir mais fundo
A linguagem para falar do imemorial e do anterior
à memória também é outra: requer uma palavra
anterior à palavra
Parte 1 - POEMAS

Busca a origem, a essência e a substância da


palavra.
Busca a escrita primordial, o movimento. Nota-
se a ideia da desconstrução e reconstrução dos
processos.
Há uma reflexão sobre a poesia, o fazer
poético.
Através da palavra, recria a realidade, explora
seus sentimentos e sua memória.
Busca a palavra como código, como símbolo
capaz de desvendar os mistérios da vida e de
seus anseios.
Parte 2 - DESTERRO

Apresenta apenas um poema que se divide em


duas partes.

A primeira parte mostra que o poeta se sente


incapaz de aplicar o que aprendeu dos
ensinamentos de Platão.

A segunda apresenta um poeta que se sente


fora do seu mundo particular. Está em outro
mundo, o da Capital, entre pessoas que não são
afetuosas, que faltam com a verdade.
Parte 3 - MINIFÚNDIO

Mostra a interiorização do poeta;


O poeta defini-se como um “Minifúndio” em que existe
apenas a simplicidade
Fala do Vale do Itajaí (guardado na memória);
Apresenta seus medos
Reflete sobre a complexidade da vida
Fala da efemeridade das coisas e sobre o destino do
homem, o fim da liberdade
Critica a ganância do homem
O poeta afirma que devemos sonhar sempre.
Faz uma analogia entre o homem e os pássaros.
Faz uma crítica à indiferença, ao preconceito. Para o
poeta, a solidariedade e a amizade são princípios
importantíssimos.
 o espelho
Parte 4 - POEMA DO ANDARILHO

São seis poemas pequenos

Todos os poemas tratam do mesmo tema: as


experiências do poeta durante a sua vida (alegrias,
tristezas, desrespeito, burocracia, lembranças, etc.).
Parte 5 - POEMAS FINAIS

No poema I, o assunto é a transitoriedade do homem


No poema II, o tema é o tempo, a alma.
Em “Recôndito Impulso”, destaca a palavra, que
amadurece, que poetiza através de antíteses,
anagramas e metáforas.
Em “Recado Final”, o poeta pede que o poema seja
guardado na memória, nas nossas mais ternas
lembranças, como “uma chave num colar”.
PROCURO A PALAVRA PALAVRA

1. Não é a palavra fácil


2. que procuro.
3. Nem a difícil sentença,
4. aquela da morte,
5. a da fértil e definitiva solitude.
6. A que antecede este caminho sempre de repente.
7. Onde me esgueiro, me soletro,
8. em fantasias de pássaro, homem, serpente.
9. Procuro a palavra fóssil.
10. A palavra antes da palavra.

11. Procuro a palavra palavra.


12. Esta que me antecede
13. E se antecede na aurora
14. De na origem do homem
15. Procuro desenhos
16. dentro da palavra.
17. Sonoros desenhos, tácteis,
18. Cheiros, desencantos e sombras.
19. Esquecidos traços. Laços.
20. Escritos, encantos re-escritos.
21. Na área dos atritos.
22. Dos detritos.
23. Em ritos ardidos da carne
24. e ritmos do verbo.
25. Sinais, vendavais, silêncios.
26. Na palavra enigmam restos, rastos de animais,
27. Minerais da insensatez.
28. Distâncias, circunstâncias, soluços,
29. Desterro.

30. Palavras são seda, aço.


31. Cinza onde faço poemas, me refaço.

32. Uso raciocínio.


33. Procuro na razão.
34. Mas o que se revela, arcaico, pungente,
35. eterno e para sempre, vivo,
36. vem do buril do coração.
PROCURO A PALAVRA PALAVRA

1. Não é a palavra fácil DÚVIDA: qual


palavra ou idéia ele
2. que procuro.
ANTÍTESE quer? Nem a
FÁCIL, nem a de
3. Nem a difícil sentença,
DIFÍCIL
4. aquela da morte, entendimento
5. a da fértil e definitiva solitude.
Caminho que me
6. desviosempre
A que antecede este caminho e me decifro
de repente.
7. Onde me esgueiro, me soletro,
8. em fantasias de pássaro, homem, serpente.
9. Procuro a palavra fóssil.
10. A palavra antes da palavra.

11. Procuro a palavra palavra.


12. Esta que me antecede
13. E se antecede na aurora
14. De na origem do homem
15. Procuro desenhos
16. dentro da palavra. SINESTESIA
17. Sonoros desenhos, tácteis,
18. Cheiros, desencantos e sombras.
19. Esquecidos traços. Laços.
20. CONFLITOS
Escritos, METAFÍSICOS
encantos re-escritos.
JOGO DE
= PALAVRAS
21. Na área dos atritos.
ABSTRATO, NEBULOSO
22. Dos detritos.
23. Em ritos ardidos da carne
24. e ritmos do verbo.
25. Sinais, vendavais, silêncios.
26. Na palavra enigmam restos, rastos de animais,
27. Minerais da insensatez.
ALITERAÇÃO
28. Distâncias, circunstâncias, soluços,
29. Desterro.

30. Palavras são seda, aço. METÁFORA


31. Cinza onde faço poemas, me refaço.

32. Uso raciocínio.


OBJETIVIDADE
33. Procuro na razão.
34. Mas o que se revela, arcaico, pungente, VS
35. eterno e para sempre, vivo, SUBJETIVIDADE
36. vem do buril do coração.
POEMA MATEMÁTICO

ANÁFORA Me somo
E fico um
Me multiplico
E permaneço um.
ANÁFORA
Me divido.
ou
E continuo um.
POLISSÍNDETO Me diminuo.
E resto um.

Me escrevo
E sou nenhum.
O ESPELHO I
Ah! Então é isto!
O Espelho:
O espelho
na conquista da máscara
definitiva é onde o pássaro do tempo
pousa.
no prelúdio da morte capturada
Se reflete,
se debate ferido, aferido.
O espelho, este
labirinto de Creta. Este
E deflagra a morte provável.
dédalo de meandros.
Esta verdade nua
e crua. Esta vertigem,
este hieróglifo de luz
O ESPELHO II

O espelho sujo
deforma a imagem: do rosto.
O espelho dentro do rosto
Não o rosto
como o rosto espesso, diverso, esparso
diante do espelho.
estúpido, estranho

Porque o espelho dentro do rosto


é estrume do tempo
é inimigo apropriado.
e ouro da morte.
Eterno e breve.
Transcende a convivência consigo mesmo
e o tempo marcado.
Amadureço
na palavra
PROSOPOPÉIA
que amadurece. Na maravilha,
Entre fibras, sangue, desejo na armadilha.
que intumesce.
No amor
onde cresço, me acresço: CENTRO, CERNE
Amadurecer no âmago.
eis a messe.
CONQUISTA O âmago amado.
O amargo âmago, amado.
Amadurecer o âmago armado
Nivelar do tempo esplêndido da alegria.
é navalhar a liberdade. Mas também de tempo da amargura
E viver é longa estrada, que estraçalha
É recôndita vontade
DESCONHECIDA, INDECIFRÁVEL e desconfia.
dita e não dita:
vocábulo, SINESTESIA
coágulo. Amadurecer.
A áspera saliência e rubra.
A macia maçã
Amadurecer. do recôndito impulso.
Lúcido,
RAZÃO vs EMOÇÃO
lúdico.
ANDORINHAS ESCREVEM NO AR

Guardo na infância
andorinhas escrevendo
no ar Entendi minha escrita
ao entender a escrita da andorinha
Hoje
recolho ainda
andorinhas escrevendo
no ar

Andorinhas ANDORINHA (Manuel Bandeira)


não publicam Andorinha lá fora dizendo:
-“Passei o dia à toa, à toa!”
nem reclamam
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
o que escrevem
Passei a vida à toa, à toa
no ar
Na segunda-feira trabalho. Na quinta-feira trabalho.
Afio enganos, anos e anos Esqueço um percevejo
no fundo da gaveta
Na terça-feira trabalho.
do desejo
Faço promessas de vagar
e de pressas. Sábado trabalho.
No fonema, no poema.
Na sexta-feira trabalho.
No sonho enlatado da verdade.
Descubro um buraco na calça.
No dilema da felicidade.
Outro buraco na alma.
Liquido a traça. No domingo
sento numa praça deserta.
Na quarta-feira trabalho.
E penso, covarde,
Empilho o tédio em caixas.
na próxima semana
Penduro em branco nas ruas,
escrita no livro da liberdade.
as faixas
Recado final:
Peço pendurar
este poema
entre as chaves
De teu colar
feito de chaves e aves de recordações

Porque este pedido


é mais que um poema
e mais que uma recordação.

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