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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XIII

CURSO ANUAL
OPÇÃO 3
Direito Econômico e Financeiro
Direito Eleitoral
Direito Internacional
Direito Previdenciário
Direitos Humanos
Medicina Legal

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XIII

DIREITO ADMINISTRATIVO
Licitação: Princípios e Tipos

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Licitação: Princípios e Tipos

1. TIPOS DE LICITAÇÃO

A Lei n. 8.666/93 define os tipos de licitação no art. 45, § 1.º, ou seja, a maneira de
julgamento de um procedimento licitatório. Nada impede, entretanto, que leis especiais
disponham de forma diversa, trazendo regras específicas a esse procedimento.

Há a previsão de quatro tipos diferentes de licitação que podem ser aplicados a


todas as modalidades (salvo a modalidade concurso, que pode adotar outros tipos de
procedimento):

• Menor preço: o proponente vencedor será aquele que apresentar proposta com o
menor valor nominal.

• Melhor técnica: será vitorioso o proponente que apresentar a proposta de melhor


técnica dentro das especificações da Administração. É o instrumento
convocatório aquele que define qual a melhor técnica e quais os critérios a serem
observados.

• Técnica e preço: de acordo com os preceitos do instrumento convocatório, a


Administração conjuga a melhor técnica e o menor preço (a proposta deverá
apresentar técnica satisfatória e preço mais vantajoso).

• Maior lance ou oferta: será aplicado nos casos de alienação de bens ou


concessão de direito real de uso.

Entre os quatro critérios apontados, dois são objetivos (menor preço e maior lance)
e dois subjetivos (melhor técnica e técnica e preço).

O tipo regra é o de menor preço. Os demais se aplicam aos casos expressamente


previstos em lei.

Os tipos melhor técnica ou técnica e preço podem ser adotados no caso de serviços
de natureza predominantemente intelectual, em especial na elaboração de projetos,
cálculos, fiscalização, supervisão e gerenciamento, e de serviços de engenharia consultiva
em geral, principalmente para a elaboração de estudos técnicos preliminares, projetos
básicos e executivos, ressalvado o disposto no § 4.º do art. 45 da Lei n. 8.666/93.

Alguns doutrinadores entendem que, para essas hipóteses, os tipos melhor técnica
ou técnica e preço devem prevalecer. Como são tipos excepcionais, entretanto, não há
como torná-los obrigatórios. À Administração é facultado adotá-los. Para isso, será

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necessária autorização expressa da autoridade de maior nível hierárquico da Administração


promotora da licitação (art. 46, § 3.º, da Lei n. 8.666/93).

O art. 45, § 4.º, “Contratação de bens e serviços de informática”, dispõe que o tipo
obrigatório para esses casos é o de técnica e preço, permitindo o emprego de outro tipo de
licitação nos casos indicados em decreto do Poder Executivo.

O tipo melhor lance pode ser adotado nos casos de alienações ou de concessões de
direito real de uso (art. 45, § 1.º, inc. IV, da Lei n. 8.666/93). Nos casos de concessão de
uso ou permissão de uso, analogicamente, pode ser usado o tipo melhor lance.

2. FASES DO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO

A licitação, procedimento administrativo que visa selecionar a proposta mais


vantajosa para a contratação com a Administração, é um conjunto de atos que pode ser
dividido em diversas fases.

Alguns autores entendem que o ato em que se inicia a licitação é a publicação do


instrumento convocatório. O art. 38 da Lei n. 8.666/93, no seu caput, entretanto, dispõe
que o procedimento da licitação será iniciado com a abertura do processo administrativo
(que ocorre antes da publicação do instrumento convocatório).

Os autores dividem a licitação em duas fases: interna e externa.

A fase interna tem início com a decisão de realizar o procedimento licitatório. Reúne
todos os atos que, pela lei, devem anteceder o momento da publicação do instrumento
convocatório.

Não há uma definição da seqüência dos atos que devem ser praticados na fase
interna, o que fica a critério de cada Administração. Com a publicação do instrumento
convocatório, encerra-se a fase interna.

A fase externa é iniciada com a publicação do instrumento convocatório, que se


destina aos interessados em contratar com a Administração.

Nessa fase, as etapas do processo são perfeitamente definidas e a seqüência deve ser
obrigatoriamente observada:

• edital;

• apresentação da documentação e das propostas;

• habilitação;

• classificação;

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• adjudicação;

• homologação.

Para alguns autores, a homologação estaria antes da adjudicação.

2.1. Edital
O edital reflete a lei interna das licitações e obriga as partes envolvidas às suas
regras, decorrência do princípio da vinculação ao edital, que deve ser respeitado tanto pela
Administração quanto pelos participantes.

2.1.1. Conteúdo do edital


O art. 40 da lei em estudo dispõe sobre o conteúdo do edital:

• objeto da licitação, que não poderá ser descrito genericamente;

• prazos e condições para a assinatura do contrato ou para a retirada dos


instrumentos, como previsto no art. 64;

• garantias para a execução do contrato;

• sanções para o caso de inadimplemento;

• local onde poderá ser examinado e adquirido o projeto básico;

• critério de julgamento das propostas;

• condições de pagamento.

2.1.2. Impugnação administrativa ao edital


As regras constantes do edital poderão ser impugnadas pelos licitantes (no prazo de
dois dias) ou por qualquer cidadão (art. 41, § 1.º) que entender ser o edital discriminatório
ou omisso em pontos essenciais.

2.2. Apresentação das Propostas


As propostas são as ofertas feitas pelos licitantes. A lei exige um prazo mínimo a ser
observado entre o momento da publicação do instrumento convocatório e o da
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apresentação das propostas. Esse prazo variará de acordo com a modalidade, o tipo e a
natureza do contrato (art. 21 da Lei n. 8.666/93).

A proposta deve ser apresentada em envelope lacrado, por força do princípio do


sigilo das propostas, diverso do envelope referente aos documentos necessários para
habilitação. Devassar o conteúdo de uma proposta é crime previsto pela Lei das Licitações.
Assim, o licitante deve apresentar no mínimo dois envelopes: o primeiro contendo a
documentação relativa à capacitação do licitante, condições técnicas, econômicas, jurídicas
e fiscais, e o segundo, a proposta propriamente dita.

Em certos tipos de licitação (melhor técnica e técnica e preço), deverão ser


entregues três envelopes. A proposta deve ser desdobrada em dois deles: um deve conter a
proposta de técnica e o outro a de preço; no terceiro, deve ser incluída a documentação
sobre a capacitação do licitante.

Os envelopes são encaminhados à comissão de licitação, composta por, no mínimo,


três servidores. Excepcionalmente, no convite, pode haver o julgamento por apenas um
servidor, e, no leilão, não há comissão de julgamento, mas leiloeiro.

2.3. Habilitação
Nessa fase, o objetivo da Administração Pública é o conhecimento das condições
pessoais de cada licitante. O órgão competente examinará a documentação apresentada,
habilitando-a ou não.

O art. 27 dispõe sobre a documentação exigida dos interessados:

• habilitação jurídica;

• qualificação técnica;

• qualificação econômico-financeira;

• regularidade fiscal;

• cumprimento ao inc. XXXIII, art. 7.º, da Constituição Federal.

O art. 28 trata da documentação relativa à habilitação jurídica, documentos que


demonstrarão que o licitante estará apto a exercer direitos e a contrair obrigações.

O art. 29 refere-se à habilitação fiscal. Serão analisadas a existência de débitos do


licitante com a Administração Pública e sua regularidade com a Seguridade Social (art.
195, § 3.º, da Constituição Federal).

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Quanto à qualificação técnica, as exigências encontram-se relacionadas no art. 30 da


lei em estudo, “Demonstração da capacidade para executar o contrato”. Ex.: possuir
equipamento, material e mão-de-obra suficientes para a execução do contrato.

O art. 31 dispõe sobre a habilitação financeira. A documentação exigida possibilita a


análise da saúde financeira do licitante em suportar o cumprimento do contrato.

O licitante deverá, ainda, demonstrar que tem qualificação trabalhista e cumpre a


proibição imposta pelo art. 7.º, inc. XXXIII, da Constituição Federal.

A lei faculta a possibilidade de a Administração Pública se utilizar de registros


cadastrais de outros órgãos de entidades públicas (art. 34, § 2.º, da Lei n. 8.666/93).

Se o licitante demonstrar possuir as condições necessárias, será considerado


habilitado e poderá passar para a fase seguinte. Os inabilitados, ao contrário, serão
excluídos da licitação, recebendo os seus envelopes com as propostas devidamente
lacradas.

2.4. Classificação
É a etapa do procedimento licitatório em que são apreciadas e julgadas as propostas
dos licitantes habilitados. Nesse momento, serão abertos os envelopes das propostas
comerciais.

O processamento da fase de classificação variará de acordo com o tipo de


procedimento (tipificado no art. 45 da lei em estudo).

2.4.1. Desclassificação das propostas


A desclassificação das propostas está disciplinada no art. 48, caput, da Lei n.
8.666/93:

• Inc. I – serão desclassificadas “as propostas que não atendam às exigências do


ato convocatório da licitação”.

• Inc. II – “propostas com valor global superior ao limite estabelecido ou com


preços manifestamente inexeqüíveis, assim considerados aqueles que não
venham a ter demonstrada sua viabilidade através de documentação que
comprove que os custos dos insumos são coerentes com os de mercado e que os
coeficientes de produtividade são compatíveis com a execução do objeto do
contrato, condições estas necessariamente especificadas no ato convocatório da
licitação”.

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O inc. II dispõe sobre duas situações distintas:

• o licitante apresenta proposta com valor superior ao limite máximo previsto no


instrumento convocatório;

• falta de seriedade econômica da proposta.

Admite-se que o instrumento convocatório contenha um parâmetro relativo ao valor


do objeto. O licitante que apresentar uma proposta abaixo do parâmetro mínimo
especificado deverá demonstrar como executará o contrato. Caso demonstre, a proposta
poderá ser classificada; se não demonstrar, será desclassificada.

Há certas hipóteses em que a estipulação do valor mínimo é obrigatória (art. 48, §


1.º, da Lei n. 8.666/93), como nos contratos que envolvem serviços de engenharia; nesses
casos, sempre que a proposta estiver abaixo do percentual que a lei prescreve, o licitante
deverá demonstrar como cumprirá o contrato (é um parâmetro legal que independe da
vontade do administrador).

Se uma proposta trouxer uma vantagem extraordinária que não esteja explícita no
instrumento convocatório, a Administração deve desconsiderá-la, como se não estivesse
escrita, e julgar apenas a parte que está em conformidade com o instrumento convocatório
(art. 44, § 2.º, da Lei n. 8.666/93).

Se todas as propostas forem inabilitadas ou desclassificadas, verifica-se o que se


chama de “licitação fracassada”. Nesse caso, a lei faculta à Administração tentar “salvar” a
licitação (art. 48, § 3.º, da Lei n. 8.666/93), permitindo que todos os inabilitados
apresentem nova documentação ou todos os desclassificados apresentem nova proposta (o
prazo para apresentação de documentos ou propostas é de oito dias).

Quando o tipo de licitação for o de melhor técnica, processa-se de acordo com o


regulado pelo art. 46, §1.º, da Lei n. 8.666/93. Deverão ser apresentados dois envelopes. Os
da proposta técnica deverão ser abertos primeiro. Com o resultado do julgamento técnico,
abrem-se os envelopes da proposta preço. O administrador deverá comparar o preço
apresentado pelo licitante vencedor do julgamento técnico com o menor preço apresentado
pelos demais licitantes. Se o preço do vencedor estiver muito acima, pode-se fazer uma
tentativa de acordo para diminuição do valor; se não houver acordo a Administração,
poderá ser afastado o primeiro colocado e iniciar-se-á uma negociação com o segundo, e
assim por diante.

Quando o tipo for técnica e preço, em primeiro lugar serão abertos os envelopes da
proposta técnica. Concluído o julgamento, abrem-se os envelopes da proposta preço,
havendo o julgamento deste. Encerrado, combinam-se as propostas conforme o critério
determinado no instrumento convocatório. Nesse tipo de licitação, não se faz acordo como
no anterior.

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2.5. Homologação e Adjudicação

Adjudicação Homologação

Classificação

Homologação Adjudicação

Para aqueles que defendem que a próxima fase é a adjudicação, após esta, abrir-se-á
prazo para recurso, e o processo será encaminhado a uma comissão superior para
homologação. No caso, a classificação e a adjudicação seriam feitos pela Comissão de
Licitação.

Para aqueles que defendem que a fase de homologação é anterior à adjudicação, o


julgamento da licitação é feito na fase de classificação, abrindo-se, logo após esta,
oportunidade para recurso, então encaminhando-se o processo à autoridade superior para
homologação e em seguida para adjudicação.

Homologação é o ato administrativo pelo qual a autoridade superior manifesta sua


concordância com a legalidade e conveniência do procedimento licitatório.

Adjudicação é o ato administrativo pelo qual se declara como satisfatória a proposta


vencedora do procedimento e se afirma a intenção de celebrar o contrato com o seu
ofertante.

A divergência na doutrina advém do disposto nos arts. 38, inc. VII, e 43, inc. VI,
ambos da Lei n. 8.666/93. Observadas, entretanto, as formas de processamento, é correto
afirmar que o mais adequado é o disposto no art. 43, tendo em vista que o art. 38 trata da
juntada de documentos. Ainda, não é lógico adjudicar antes da homologação pela
autoridade superior, entretanto, se isto ocorrer, não se deve considerar nula a licitação.

O primeiro classificado não tem direito subjetivo à adjudicação.

O adjudicatário não tem direito subjetivo ao contrato, visto que a Administração


poderá revogar a licitação antes da assinatura do contrato.

São efeitos da adjudicação:

• direito do adjudicatório de assinar o contrato, na hipótese de ele vir a ser


celebrado;

• liberação dos demais proponentes em relação às propostas apresentadas;

• direito da Administração de, no prazo de validade da proposta, exigir do


adjudicatário o aperfeiçoamento do contrato nos termos resultantes do
procedimento licitatório.
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O adjudicatário que se recusar a assinar o contrato será considerado inadimplente,


ou seja, ficará na mesma situação daquele que assinar o contrato e não o cumprir.
Responderá por perdas e danos e sofrerá as sanções administrativas previstas no art. 87 da
Lei n. 8.666/93,que serão aplicadas de acordo com o comportamento do adjudicatário.

Havendo a recusa (justificada ou injustificada), a lei admite a possibilidade de a


Administração propor a assinatura do contrato ao segundo colocado, nos termos da
proposta vencedora. Se houver concordância do segundo colocado, o contrato será
firmado; se ele não concordar, a Administração poderá propor ao terceiro colocado, e assim
por diante, sempre nos termos da proposta vencedora.

2.6. Anulação
Anular é extinguir um ato ou um conjunto de atos em razão de sua ilegalidade.
Quando se fala, portanto, em anulação de uma licitação, pressupõe-se a ilegalidade da
mesma, pois anula-se o que é ilegítimo. A licitação poderá ser anulada pela via
administrativa ou pela via judiciária.

A anulação de uma licitação pode ser total (se o vício atingir a origem dos atos
licitatórios) ou parcial (se o vício atingir parte dos atos licitatórios).

2.6.1. Anulação pela via administrativa


Está disciplinada no art. 49 da Lei n. 8.666/93. A autoridade competente para a
aprovação do procedimento será competente para anular a licitação. O § 3.º do mesmo art.
dispõe, ainda, que, no caso de anulação da licitação, ficam assegurados o contraditório e a
ampla defesa. A anulação da licitação deve vir acompanhada de um parecer escrito e
devidamente fundamentado.

Nada impede que, após a assinatura do contrato, seja anulada a licitação e,


reflexamente, também o contrato firmado com base nela (art. 49, § 2.º, da Lei n. 8.666/93).

A anulação da licitação, em regra, não gera o dever de indenizar (art. 49, § 1.º),
salvo na hipótese do par. ún. do art. 59 da Lei n. 8.666/93, que disciplina a indenização do
contratado se este não tiver dado causa ao vício que anulou o contrato (indenização pelos
serviços prestados e pelos danos sofridos). Nos casos em que a anulação da licitação
ocorrer após a assinatura do contrato e o contratado não tiver dado causa ao vício, será a
Administração, portanto, obrigada a indenizar.

Há uma corrente intermediária que entende que o dever de indenizar existirá se tiver
ocorrido a adjudicação somente em relação ao adjudicatário, independentemente da
assinatura ou não do contrato.

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2.7. Revogação
Revogar uma licitação é extingui-la por ser inconveniente ou inoportuna. Desde o
momento em que a licitação foi aberta até o final da mesma, pode-se falar em revogação.
Após a assinatura do contrato, entretanto, não poderá haver a revogação da licitação.

A revogação também está disciplinada no art. 49 da Lei n. 8.666/93, que restringiu o


campo discricionário da Administração: para uma licitação ser revogada, é necessário um
fato superveniente, comprovado, pertinente e suficiente para justificá-lo.

Somente se justifica a revogação quando houver um fato posterior à abertura da


licitação e quando o fato for pertinente, ou seja, quando possuir uma relação lógica com a
revogação da licitação. Ainda deve ser suficiente, quando a intensidade do fato justificar a
revogação. Deve ser respeitado o direito ao contraditório e ampla defesa, e a revogação
deverá ser feita mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.

Quanto à indenização, no caso, a lei foi omissa, fazendo alguns autores entenderem
que há o dever de indenizar, fundamentado no art. 37, § 6.º, da Constituição Federal de
1988. A posição intermediária, entretanto, entende que somente haveria indenização nos
casos de adjudicação em relação ao adjudicatário pelos prejuízos que sofreu, mas não pelos
lucros cessantes.

2.8. Desistência do Proponente


Até o final da fase de habilitação, o licitante pode, legitimamente, desistir da
licitação, visto que sua proposta ainda não foi conhecida. Abertos os envelopes na fase de
classificação, porém, o licitante não poderá desistir, salvo nos casos de fato superveniente
que justifique a sua desistência (a justificação deve ser aceita pela Comissão de Licitação).

3. SANÇÕES PENAIS

Os arts. 89 a 98 da Lei n. 8.666/93 tipificam as condutas criminosas e as respectivas


penas, que serão de detenção (variável de seis meses a dois anos) ou de multa (fixada entre
2% e 5% do valor do contrato, revertendo-se à Fazenda da entidade licitante).

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Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. DIREITOS REAIS

1.1. Conceito
É o conjunto de normas que estabelece a relação potestativa entre a pessoa e os
bens; é o estudo da dinâmica da propriedade (o cerne do direito real é a propriedade).

De um lado estudam-se os direitos reais sobre coisas alheias; de outro, estuda-se


a posse (não é direito real e, sim, uma situação de fato, protegida, por se enxergar no
possuidor a pretensão da propriedade); e, no meio, estuda-se a propriedade.

1.2. Características

DIREITOS PESSOAIS DIREITOS REAIS

SA SA SB
SB
Credor Proprietário Indeterminado
Devedor

Relação
Objeto Relação de Objeto Jurídica
Poder
Relação Dívida
Jurídica }Responsabilidade

1.2.1. Eficácia “erga omnes”


O direito real pode gerar efeitos contra todos, tendo em vista ser o sujeito passivo
indeterminado e haver publicidade dos atos processuais.

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1.2.2. Direito de seqüela


É o vínculo de subordinação da coisa e da pessoa. Esse vínculo vem alicerçado em
dois princípios:

• princípio da aderência: é o princípio segundo o qual o titular do direito real


pode ir atrás do bem aonde quer que ele se encontre (princípio positivo);

• princípio da ambulatoriedade: é o princípio segundo o qual todos os ônus da


coisa– como tributos, despesas condôminas etc.– acompanham a coisa, aonde
quer que ela vá (princípio negativo).

1.2.3. Ação real


Os direitos reais e a posse têm uma tutela diferenciada pela Teoria do Processo,
tendo em vista a garantia da celeridade dentro do sistema. As duas principais características
da ação possessória são:

• fungibilidade: o pedido é fungível, ou seja, nas relações jurídicas da ação


possessória, o pedido poderá ser mudado, se houver mudança da situação de
fato;

• duplicidade: não há reconvenção, é um pedido contraposto.

1.2.4. Exclusividade
Não existem dois titulares com direitos reais análogos, ou seja, duas pessoas não
podem exercer o mesmo direito real sobre a mesma coisa. No caso de condomínios, esses
não ferem a exclusividade, tendo em vista que cada condômino exerce o seu direito real
sobre parte ideal.

1.2.5. Privilégio
O crédito real não se submete à divisão, tendo em vista a existência de uma ordem entre
os credores, estabelecida por meio do princípio cronológico, ou seja, aquele que primeiro
apresentar o crédito em cartório será o credor privilegiado.

1.2.6. Abandono
O abandono do direito real é a perda de efeitos jurídicos devido à disponibilidade
material da coisa. O abandono e a renúncia, no campo dos efeitos, fazem cessar os efeitos

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jurídicos. A renúncia, no entanto, difere do abandono, visto que a obrigação cessa pela
prerrogativa que o titular tem conferida por norma jurídica (resilição).

• Renúncia: extinção da obrigação por ato unilateral voluntário.

• Abandono: extinção da obrigação por ato unilateral material.

1.2.7. Prescrição aquisitiva


Somente no direito real a passagem do tempo poderá gerar aquisição de direitos. Não
basta, no entanto, somente a passagem do tempo, deverá haver um ato da outra parte (por
exemplo: um sujeito possui um imóvel e passa 20 anos sem ir até ele; a simples passagem do
tempo não prescreve o direito de propriedade; no entanto, se terceira pessoa toma posse do imóvel,
a passagem do tempo, combinada com o ato de posse dessa pessoa, faz com que o sujeito “perca”
o seu direito à propriedade).

1.2.8. O bem deve ser certo, determinado e existente


Em decorrência do princípio da veracidade de registro, o bem deve ter as
características de certo, determinado e existente.

1.3. Classificação
O direito real, segundo o disposto no artigo 1.225 do Código Civil, classifica-se em:

• direito real sobre coisa própria;

• direito real sobre coisa alheia.

1.3.1. Direito real sobre coisa própria


O único direito real sobre coisa própria é a propriedade, que confere o título de dono
ou domínio. Normalmente, a propriedade é ilimitada ou plena, conferindo poderes de uso,
gozo, posse, reivindicação e disposição.

1.3.2. Direito real sobre coisa alheia


É o desmembramento do direito real sobre coisa própria. Poderá somente ser
temporário, visto que, dentro do princípio da elasticidade, a coisa tende a voltar à
situação original, que é a propriedade plena. Divide-se em três grupos:
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• Direito real de fruição: é o desmembramento em relação ao uso da coisa. Pode


ser enfiteuse, servidão, usufruto, uso e habitação.

• Direito real de garantia: é o desmembramento em relação à disposição da coisa


(limita o direito de disposição). Se não cumprida a obrigação principal, o credor
irá dispor da coisa. Pode ser hipoteca, penhor e anticrese.

• Direito real de aquisição: é o desmembramento do direito de aquisição. O titular


transmite a propriedade para terceiros, paulatinamente. Pode ser compromisso
irretratável de compra e venda, e alienação fiduciária em garantia.

Observação: Existem divergências quanto à natureza jurídica da renda constituída


sobre imóveis, havendo alguns autores que entendem tratar-se de um direito de fruição, e
outros que entendem tratar-se de um direito de garantia.

Para alguns autores, essa classificação é exemplificativa. Majoritariamente, no


entanto, os autores entendem que a classificação é taxativa, tendo em vista que o direito
real é um direito público, que deve ser registrado e, ainda, porque não se pode limitar
direitos de terceiros, a não ser por expressa criação legal. Não há, portanto, de se falar em
elaboração de novos direito reais por particulares.

Esse rol do artigo 1.225 é taxativo, mas é rol não exaustivo, visto que os direitos
reais de aquisição foram criados por normas especiais, adotando-se o princípio da
taxatividade.

2. POSSE

2.1. Conceito
Para SAVIGNY, posse é “a possibilidade de disposição física da coisa com ânimo de tê-
la como sua e de defendê-la contra terceiros”. Para IHERING, posse é “a exteriorização ou
visibilidade do domínio” (bastaria o ato de propriedade para ser possuidor).

O nosso sistema jurídico adota com maior intensidade o conceito de IHERING, no


entanto, não é um conceito puro, visto que o conceito de SAVIGNY também foi utilizado pelo
Código Civil.

Para o Prof. WALD, posse é “uma situação de fato que gera conseqüências jurídicas”.
Protege-se essa situação de fato, visto que há uma hipótese de que, naquela situação de
fato, exista um proprietário.

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2.2. Teorias

2.2.1. Teoria subjetiva (SAVIGNY)


Nessa teoria tem-se um elemento objetivo (corpus), que é a relação material
estabelecida com a coisa, e tem-se um elemento subjetivo (animus rem sibi habendi), que é
a vontade de ter a coisa como sua.

Estabeleceram-se esses dois elementos para se distinguir posse de mera detenção,


visto que em ambas as figuras existe a relação material com a coisa. Na detenção, no
entanto, essa relação material não gera efeitos jurídicos.

2.2.2. Teoria objetiva (IHERING)


Nessa teoria tem-se apenas o elemento objetivo (corpus). Afirma-se que o animus
está inserido no corpus e que o elemento subjetivo é dispensável. Essa teoria é adotada
pelo Direito brasileiro, não havendo, então, necessidade de comprovar o animus.

2.3. Natureza Jurídica


afirmava que a posse é um direito real, tendo em vista os efeitos serem reais.
SAVIGNY
IHERING afirmou que não se pode dizer que a posse é um direito real, visto que não existe
registro, sendo, então, um direito pessoal.

O sistema brasileiro, no entanto, adota outro entendimento, no qual a posse é tão-


somente um fato, não sendo direito real, nem pessoal.

2.4. Efeitos
Em primeiro lugar deve-se distinguir jus possidendi e jus possessionis. Jus
possidendi é a posse que tem por substrato uma propriedade– é o proprietário-possuidor.
Jus possessionis é a posse que não tem substrato jurídico. Tem por substrato uma mera
situação de fato.

A posse tem três efeitos básicos:

• Proteção possessória (interdicta): é a tutela possessória, que consiste em a


pessoa poder se valer do instrumento processual para proteger a relação jurídica.
São as ações de manutenção, de reintegração e o interdito proibitório.

• Usucapião: é a possibilidade de transformar a posse em propriedade.

• Legítima defesa da posse (desforço pessoal da posse): sistema de autotutela.

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Esses efeitos, entretanto, variam no jus possidendi e no jus possessionis:

• No jus possidendi o titular tem como prerrogativa a proteção possessória e a


legítima defesa da posse, mas não tem direito ao usucapião, tendo em vista ser
proprietário-possuidor.

• No jus possessionis o titular terá as tutelas de possuidor-não-proprietário, quais


sejam: proteção possessória, usucapião e legítima defesa da posse.

2.5. Espécies

2.5.1. Posse direta e posse indireta


A posse direta decorre da efetiva relação material entre a pessoa e a coisa. A posse
indireta nasce por meio de uma ficção, pela qualidade jurídica do titular do direito. Essa
classificação somente será possível no jus possidendi, e poderá acontecer tanto nos
contratos (consensuais ou reais) quanto nos direitos reais limitados (exemplo: usufruto).

Essa classificação tem o efeito de proteção possessória. No caso da posse indireta, o


proprietário será o possuidor indireto da coisa. O possuidor direto tem prerrogativa
possessória, mas não poderá usucapir a coisa, tendo em vista a posse ser precária
(estabelecida por uma relação de confiança), existindo a proteção à posse indireta.

2.5.2. Posse justa e posse injusta


A posse justa é aquela que está em conformidade com o ordenamento jurídico. A posse
injusta é aquela contrária ao ordenamento jurídico, podendo ser:

• violenta: obtida mediante força física injustificada;

• clandestina: obtida às escondidas; não havendo a prática de ato material, como


plantações ou construções;

• precária: obtida por meio de uma relação de confiança entre as partes, mas
retida indevidamente.

A posse injusta poderá tornar-se justa quando o vício for sanável. Esse vício será
sanado após um ano e um dia, cessada a violência ou a clandestinidade. A precariedade,
entretanto, não convalesce jamais, ou seja, o vício não poderá ser sanado.

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2.5.3. Posse de boa-fé e posse de má-fé


Trata-se aqui do elemento subjetivo da posse. A posse de boa-fé é aquela cujo titular
desconhece qualquer vício que macule a posse. A posse de má-fé se dá quando o titular sabe
do vício. No nosso sistema, prevalece a presunção da posse de boa-fé, tendo o titular direito a
frutos, benfeitorias e à retenção e notificação.

2.5.4. Posse “ad interdicta” e posse “ad usucapione”


A posse ad interdicta visa à proteção possessória. A posse ad usucapione é aquela
que visa à aquisição do domínio, da propriedade.

2.5.5. Posse nova e posse velha


É a questão temporal da posse. A posse nova é aquela cujo prazo não excede um ano
e um dia. A posse velha é aquela superior a um ano e um dia. A importância dessa distinção
é que um dos requisitos, para que seja concedida a liminar na ação possessória, é que o
possuidor não tenha deixado ultrapassar um ano e um dia.

2.5.6. Posse natural e posse civil


Posse natural é aquela que decorre da relação material entre a pessoa e a coisa. Posse
civil é aquela que decorre de lei. A posse civil pode ser de três formas:

• Constituto possessório: é uma forma de aquisição e de perda da posse em que o


possuidor pleno passa a ser apenas possuidor direto da coisa (ex.: alienação de
um imóvel em que o alienante continua no imóvel como locatário). O constituto
possessório jamais pode ser presumido, devendo vir expressamente disposto, por
meio da “cláusula constituinte”, no contrato entre as partes.

• Traditio breve manu: é aquela situação em que o possuidor direto passa a ser
possuidor pleno da coisa.

• Traditio longa manu: o possuidor da coisa, apesar de não ter tido disponibilidade
material plena, por ficção, passa a tê-la (ex.: adquire-se uma fazenda de vários
hectares; presume-se que, se o adquirente tomar posse de apenas uma pequena
área, estará tomando posse de toda a área, ficticiamente).

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DIREITO CIVIL

2.5.7. Posse quase-posse e composse


Posse quase-posse é aquela que decorre dos direitos reais limitados sobre coisa
alheia (exemplo: posse do usufrutuário, posse do usuário etc.).

Composse é a posse comum, exercida por duas ou mais pessoas, sobre parte ideal da
coisa. A composse gera dois efeitos:

• os compossuidores podem exercer proteção possessória e usucapião;

• os compossuidores podem exercer proteção possessória uns contra os outros.

2.5.8. Posse pro diviso e posse pro indiviso


Posse pro diviso é aquela exercida sobre parte específica da coisa. Posse pro
indiviso é aquela exercida sobre parte ideal.

2.6. Aquisição da Posse


O Código Civil de 1916 tratava da aquisição e perda da posse, nos Capítulos II e IV,
tal qual o Código atual. Porém, a grande crítica em relação ao Código Civil de 1916 é que,
para a aquisição da posse, o Código Civil anterior adotava a teoria de SAVIGNY (corpus +
animus). Se fosse utilizada a teoria de IHERING, não haveria formas de aquisição da posse,
tendo em vista que qualquer relação material geraria a aquisição da posse. O artigo 493 do
Código Civil anterior apresentava um rol exemplificativo das formas de aquisição da
posse:

• pela aquisição da coisa (apreender para si);

• pela disposição da coisa (tirar de si);

• por qualquer outra forma.

O atual Código Civil, no seu artigo 1204, por adotar a teoria de Ihering apenas
estabelece: "Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em
nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade".

2.6.1. Classificação dos modos de aquisição da posse


a) Quanto ao ato de vontade

• Unilateral:

− disposição;
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− apreensão: res nullius, quando for coisa de ninguém, ou res derelicta,


quando for coisa abandonada;

− exercício do direito.

• Bilateral:

É a posse por contrato (tradição). Na relação contratual, a tradição (entrega da coisa)


pode acontecer de três maneiras:

− efetiva: ocorre a entrega da própria coisa na relação contratual;

− simbólica: não ocorre a entrega da coisa e, sim, da representação da mesma;

− constituto possessório: não ocorre a entrega efetiva da coisa e, sim, uma mera
ficção.

b) Quanto aos efeitos

• Originária: é aquela em que não existe relação de causalidade entre o possuidor


atual e o possuidor anterior (ex.: esbulho).

• Derivada: é aquela em que existe o nexo de causalidade entre o possuidor atual e


o possuidor anterior (ex.: com a morte do pai, a posse transmite-se ao filho).

Os efeitos que decorrem dessa classificação são:

• Ninguém pode transmitir mais direitos do que tem, ou seja, a posse é transmitida
com o mesmo caráter que ela possui (ex.: havendo posse precária, se transmitida,
ainda será precária).

• Acessão da posse: é a soma do tempo da posse atual com o da posse anterior, na


posse derivada. Jamais poderá acontecer na posse originária, tendo em vista que
há necessidade de nexo de causalidade para que seja somado o tempo.

2.6.2. Aquisição a título universal


É a aquisição do conjunto de bens e direitos do indivíduo. Só ocorre na hipótese de
causa mortis, ou seja, não se transmite a universalidade de bens a não ser por herança. Essa
transmissão se dá, sempre, pelo modo derivado. O bem nunca pode ficar sem um titular
(Princípio da Saisine), ou seja, quando morre o titular do bem, esse bem será imediatamente
transmitido para os seus herdeiros.

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2.6.3. Aquisição a título singular


Pode se dar inter vivos ou causa mortis (legado). A transmissão do legado pode se
dar tanto pelo modo originário quanto pelo modo derivado, dependendo da vontade do
legatário (artigo 1.207 do Código Civil), ou seja, o legatário irá escolher se a transmissão
se fará pelo modo derivado ou pelo modo originário.

2.7. Sujeitos

2.7.1. Parte
É aquele que tem a relação material com a coisa. É o chamado titular. O incapaz,
para adquirir posse, não precisa estar representado ou assistido, tendo em vista ser a posse
uma relação material e não jurídica.

2.7.2. Procurador
É aquele que recebe, numa relação contratual, o poder de exercer a posse em nome
de outrem.

2.7.3. Gestor
A gestão de negócios é um ato unilateral, ratificado pela parte.

2.8. Perda da Posse


Perde-se a posse por meio de três vias: perda do corpus, perda do animus, ou perda
do corpus e do animus.

2.8.1. Perda do corpus


Perde-se o corpus nas seguintes hipóteses:

a) Perecimento

O artigo 78 do Código Civil de 1916 informava as hipóteses de perecimento:

• perda das qualidades essenciais ou valor econômico (o valor econômico é


fundamental, tendo em vista ser a diferenciação entre coisa e bem);

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• quando se torna intangível ou inseparável de outro bem.

b) Fora do comércio, portanto, inalienável

Perde-se o corpus somente em relação a alguns efeitos decorrentes da posse.

c) Afastamento

Perda da relação material com a coisa.

2.8.2. Perda do “animus”


Perde-se o animus por meio do constituto possessório

2.8.3. Perda do “corpus” e do “animus”


Perde-se o corpus e o animus pela tradição ou pelo abandono, tendo em vista que
eles cessam os efeitos decorrentes da relação material com a coisa.

Observação: Pelo disposto no artigo 1.209 do Código Civil, presume-se que o


possuidor do bem imóvel é possuidor de todos os bens móveis que o compõe (presunção
juris tantum), ou seja, ocorre a inversão da prova. Como decorrência disso temos um
princípio no direito de família, qual seja: “Todos os bens móveis no casamento pertencem à
comunhão”.

Observação: O artigo 1.224 do Código Civil apresenta o princípio de


aderência (direito de seqüela) dos bens móveis. Estabelece, no caso de perda ou de
furto, o direito de seqüela, ou seja, o titular pode ir atrás do bem onde ele estiver. A
doutrina entende, por meio do princípio da simetria do direito (aplicação de efeitos a
institutos análogos), que esse artigo será estendido ao roubo, não podendo,
entretanto, ser estendido ao estelionato e à apropriação indébita, tendo em vista,
nesses dois casos, haver a entrega voluntária da coisa. Só haverá o direito de seqüela
enquanto não houver o usucapião do objeto móvel.

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2.9. Efeitos da Posse

2.9.1. Legítima defesa da posse


Também chamada de desforço físico, é a auto-tutela, em que o titular, usando meios
moderados, repele turbação ou esbulho na posse.

Os requisitos são os mesmos da legítima defesa em Direito Penal, tendo em vista


não existir diferença entre a responsabilidade civil e a responsabilidade penal. São eles:

• uso dos meios necessários;

• moderação;

• ocorrência de injusta agressão;

• atual ou iminente;

• posse.

Na hipótese de excesso na legítima defesa da posse, sendo doloso ou culposo,


aplica-se o artigo 186 do Código Civil, gerando indenização, ou seja, o excesso não gera a
perda da posse, mas sim uma indenização.

2.9.2. Acessórios da coisa


São os frutos e as benfeitorias. Os frutos são melhoramentos internos da coisa, ou
seja, aumento da qualidade ou quantidade interna da coisa. As benfeitorias são acréscimos
externos da coisa, ou seja, aumento da qualidade ou quantidade externa da coisa.

Os frutos podem ser:

• materiais: decorrem da natureza;

• industriais: decorrem da mão humana;

• legais: decorrem da lei.

As benfeitorias podem ser:

• necessárias: aquelas indispensáveis à manutenção da coisa, ou seja, o acréscimo


mantém o valor econômico da coisa;

• úteis: aquelas que aumentam a qualidade econômica da coisa por gerar maior
utilidade;

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• voluptuárias: aquelas que aumentam substancialmente o valor econômico da


coisa para lhe garantir maior deleite.

Existem três princípios que regem a matéria:

• acessório segue o principal: quem possui o principal possui também o


acessório;

• res perit domino: a coisa perece para o dono;

• princípio da boa-fé: existe a presunção de boa-fé; ou seja, no silêncio, presume-


se a posse de boa-fé

2.9.3. Efeitos da posse de boa-fé

a) Em relação aos frutos

O possuidor de boa-fé terá direito aos frutos percebidos e colhidos, direito aos frutos
pendentes, e direito à indenização pela produção e custeio (todos os aparatos da coisa).

b) Em relação às benfeitorias

O possuidor tem direito a indenização plena pelas benfeitorias necessárias, úteis e


voluptuárias, direito de retenção pelas benfeitorias necessárias e úteis (poderá reter a coisa
até que seja indenizado) e direito a levantar as benfeitorias voluptuárias se não houver
indenização por elas.

c) Em relação à deterioração

Em tese, o possuidor é irresponsável pela deterioração natural. Tem


responsabilidade subjetiva.

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2.9.4. Efeitos da posse de má-fé

a) Em relação aos frutos

O possuidor de má-fé tem obrigação de devolução dos frutos percebidos e colhidos,


perderá os frutos pendentes e tem o direito de ser indenizado pela produção e custeio (visa
ao não enriquecimento indevido de terceiros).

b) Em relação às benfeitorias

O possuidor perderá as benfeitorias úteis e voluptuárias, terá direito à indenização


pelas benfeitorias necessárias e não poderá reter a coisa, nem levantar, se não houver
indenização por elas.

c) Em relação à deterioração

O possuidor de má-fé tem responsabilidade objetiva. Será responsável por qualquer


perecimento, só podendo se eximir se demonstrar que a deterioração ocorreria em qualquer
hipótese. Há a inversão do ônus da prova.

2.9.5. Prescrição aquisitiva (usucapião)


É um efeito possessório. A passagem do tempo com uma relação de posse gera a
propriedade. É a única em que o proprietário não tem publicidade, tendo em vista que a
sentença do juiz, no usucapião, é meramente declaratória, não havendo registro. Nesse
caso, a propriedade é adquirida com o decurso do tempo, independente de haver ou não
registro.

Existem dois sistemas regendo essa matéria:

• Constitucional: trata de imóvel. Trabalha com duas hipóteses: pro labore e pro
misero. Ambas tem prazo de cinco anos.

• Legal (Código Civil): trata de móvel e imóvel. Trabalha com cinco hipóteses–
nos móveis: extraordinário (5 anos) e ordinário (3 anos); nos imóveis:
extraordinário (15 anos) e ordinário (10 ou 5 anos). Menciona ainda as duas
modalidades constitucionais e usucapião coletivo (artigo 1228, § 4.º, do Código
Civil).

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3. AÇÕES POSSESSÓRIAS (INTERDITOS POSSESSÓRIOS)

Existem dois grupos de ações possessórias:

• Típicas: são aquelas que tratam da relação material da pessoa com a coisa.
Podem ser: reintegração de posse, em caso de esbulho; manutenção de posse,
em caso de turbação, ou interdito proibitório, em caso de ameaça.

• Atípicas: são aquelas que tratam, além da relação material, da relação jurídica e
suas conseqüências no sistema jurídico. Podem ser: embargos de terceiros
possuidores, nunciação de obra nova, ou imissão de posse (necessita de título).

Observação: Exceptio domini ou exceptio proprietatis: é o fenômeno segundo o


qual o réu alega, na defesa, ser titular do domínio nas ações possessórias.

Quanto à alegação de domínio (exceptio domini) nas ações possessórias, existem


duas posições:

• Artigo 505 do Código Civil de 1916: “Não obsta à manutenção, ou reintegração na


posse, a alegação de domínio ou de outro direito sobre a coisa. Não se deve,
entretanto, julgar a posse em favor daquele a quem evidentemente não pertencer o
domínio”. O artigo 505, em sua primeira parte, dispõe que não se pode alegar
domínio sobre a coisa; entretanto, na segunda parte, dispõe que não se deve julgar
em favor daquele que não tem o domínio.

• Artigo 923 do Código de Processo Civil: “Na pendência do processo


possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu, intentar a ação do esbulho
cometido pelo autor”. O artigo 923 proíbe a alegação de domínio sobre a coisa,
em caso de ação possessória.

Regra geral, portanto, em matéria possessória, o juiz não irá decidir domínio;
entretanto, existem duas exceções a essa regra:

• Súmula n. 487 do Supremo Tribunal Federal: se as duas partes fundamentarem a


posse em propriedade (se os dois alegarem ser proprietários), o juiz deverá julgar
pela propriedade.

• Julga-se pelo domínio quando não se prova posse, ou seja, se nenhuma das
partes provar a posse, o juiz julgará pelo domínio.

O Novo Código Civil sepulta todo o problema no seu artigo 1.210, § 2.º, pois
determina: "Não obsta a manutenção ou reintegração na posse a alegação de
propriedade, ou de outro direito sobre a coisa". Portanto, pelo novo sistema não
existe "exceptio proprietatis", não podendo ser adotada a Súmula 487 do Supremo
Tribunal Federal.
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DIREITO CIVIL

As ações possessórias, no Código de Processo Civil, são tratadas com quatro regras
fundamentais, quais sejam:

a) Duplicidade

É a hipótese em que a ação possessória dá cognição plena ao juiz,


independentemente da reconvenção. O réu contrapõe, na mesma ação, pedido possessório.
Não existe reconvenção: a contestação tem caráter de reconvenção. O fundamento dessa
regra é a celeridade e, por ser posse, é uma situação de fato.

b) Fungibilidade

A ação possessória pode ter seu pedido alterado no curso da demanda possessória,
entretanto, somente no que diz respeito à tutela possessória. É a mutabilidade do pedido no
curso da demanda.

c) Cumulatividade

O pedido não precisa ser exclusivamente possessório. Poderão ser pedidos, também,
indenização, perdas e danos, e multa. Tem todo um caráter patrimonial, visto que, além da
situação possessória, pode-se cumular quanto ao patrimônio.

d) Rito próprio

É um rito especial para a demanda possessória. Começa com uma petição inicial,
que possui os requisitos gerais do artigo 282 e requisitos específicos de ação possessória:

• existência da posse;

• existência de turbação, esbulho ou ameaça;

• data da turbação, esbulho ou ameaça, para fins de liminar (1 ano e 1 dia);

• perda ou manutenção da posse.

Uma vez presentes esses requisitos, o juiz poderá, ao despachar a inicial, praticar
três atos:

• indeferir a inicial;

• conceder liminar, sem ouvir a parte contrária;

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• determinar audiência de justificação: diante da impossibilidade de concessão da


liminar, de plano, poderá o juiz determinar audiência de justificação acerca das
determinações do artigo 927 do Código de Processo Civil.

O réu deve ser citado para a audiência de justificação. Nessa audiência, o réu não
pode apresentar suas testemunhas; não precisa apresentar resposta e não pode apresentar
alegações no termo de audiência. O réu pode contraditar testemunhas do autor e
reperguntar às testemunhas. A partir da audiência de justificação começa a fluir o prazo
para resposta, que será de 5 dias. No mais, segue o rito ordinário da Parte Geral do Código
de Processo Civil.

3.1. Ação de Imissão na Posse


Não existe essa tutela no sistema jurídico brasileiro. Era prevista no Código de
Processo Civil de 1939, entretanto, no Código de Processo Civil de 1970 não foi incluída.

É a ação do proprietário não-possuidor (adquirente) contra o possuidor não-


proprietário (alienante). É uma ação típica de proprietário. Inexistindo um rito especial, a
imissão na posse estará revestida de uma ação ordinária ou uma execução de entrega de
coisa certa.

3.2. Nunciação de Obra Nova


É a paralisação de obra nova. É a ação promovida pelo proprietário, possuidor ou
município, para as hipóteses em que haja dano ou desobediência à postura legal ou
administrativa. Tem legitimação para agir:

• proprietário ou possuidor contra qualquer espécie de dano causado pelo vizinho;

• condômino contra modificação da coisa comum;

• município, sempre que houver desrespeito ao Código de Obras ou desobediência


à postura legal.

O pedido na nunciação de obra nova, além da paralisação da obra, pode ser de


modificação ou demolição da coisa, de indenização, ou de multa.

Notificação verbal é um ato formal pelo qual o proprietário ou possuidor comparece


na obra nova, acompanhado de duas testemunhas, e paralisa verbalmente a construção. A
única eficácia que teria esse procedimento é que, na procedência final do pedido, a
incidência de multa pode ocorrer da data da notificação verbal ratificada judicialmente.

Segue-se o mesmo procedimento das ações possessórias. O indeferimento da inicial


pode ocorrer quando o juiz julga que a obra já não é mais nova, visto estar na fase final de
acabamento.
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Nessa ação, o prazo de contestação, nos termos do artigo 938 do Código de


Processo Civil vigente é de 5 dias, contados da juntada aos autos da citação feita pelo
oficial de justiça, deferido ou não o embargo, ou da audiência de justificação prévia,
quando o juiz considerar necessária a sua realização.

No caso de nunciação de obra nova proposta contra condôminos com procuradores


diferentes, aplicar-se-á o disposto no artigo 191 do mesmo diploma, caso não haja
substituição processual por um deles (quando apenas um vem a juízo na defesa de
interesses próprios e de terceiro). Logo, nesta hipótese (procuradores diversos para
litisconsortes no pólo passivo), tem-se o prazo em dobro para apresentar contestação (10
dias, contados conforme acima).

3.3. Embargos do Terceiro Possuidor


É a tutela que garante ao terceiro, que não é parte nem terceiro interveniente em
processo de conhecimento ou de execução, a prerrogativa de obter tutela possessória, a fim de
resguardar a relação material de constrição judicial. O prazo para a interposição desses
embargos, na ação de conhecimento, corre até o trânsito em julgado da sentença; e, na ação de
execução, é de 5 dias contados da hasta pública positiva, ou cinco dias antes da assinatura da
carta.

O rol do artigo 1.046 do Código de Processo Civil é meramente exemplificativo.


É possível que um possuidor obtenha liminar nos embargos do terceiro possuidor, desde
que caucione.

3.4. Actio Damni Infecti


É a tutela que tem o possuidor ou proprietário contra risco futuro, que possa incidir em
sua propriedade, proveniente de futura obra de terceiro. É uma preliminar de nunciação de
obra nova. Não há obra nova, serve para resguardar-se de futuro prejuízo que aquela futura
obra possa causar. É uma ação ordinária.

3.5. Ação Publiciana


É uma ação de caráter reivindicatório, na qual o possuidor, que não tem prazo para o
usucapião, mas está em vias de alcançá-lo, requer proteção possessória cumulada com
proteção para futura aquisição de domínio.

O possuidor tem posse justa, prazo próximo para usucapião e justo título, e requer
que seja mantido na posse até que seja completado o prazo. Não se pode propor ação
publiciana contra o proprietário, visto que não há prazo e, em regra, o direito possessório é
imprescritível.

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4. POSSE SOBRE SERVIDÕES

Servidão é um direito real limitado em que o terceiro pode utilizar a coisa alheia.
Para que gere um efeito possessório, são necessárias duas características:

• a servidão deve ser aparente (aquela em que há atos materiais exteriores);

• a servidão deve ser contínua (práticas constantes desses atos materiais


possessórios).

A servidão de trânsito ou de passagem é aparente, mas não é contínua (a posse pode


ser esporádica). De acordo com o artigo 1.213 do Código Civil, a servidão de trânsito ou de
passagem não pode gerar efeitos possessórios; entretanto, a Súmula n. 415 do Supremo
Tribunal Federal dispõe que, ainda que não haja continuidade, essa servidão gera efeitos
possessórios.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

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1. EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DA FALÊNCIA EM


RELAÇÃO À PESSOA DO FALIDO

O falido não se torna incapaz, nem sequer relativamente incapaz com a declaração
de falência, pois esta não atinge sua capacidade civil. Traz, todavia, algumas limitações no
que se refere a alguns de seus direitos (no que diz respeito à falência).

As restrições são:

• O falido tem restrito o direito ao exercício de atividade profissional, uma vez


que não pode exercer atividade comercial.

• O falido não poderá ausentar-se do local (Comarca) em que tramita o processo,


sem prévia autorização judicial.

• O falido tem suspenso o direito ao sigilo na correspondência (arts. 15, § 2.º e 63,
II, da Lei de Falência). Há quem sustente que esta norma é inconstitucional.

1.1. Obrigação do Falido (art. 34, Dec.-lei n. 7.661/45)


•Deverá assinar termo de comparecimento, bem como entregar seus livros
comerciais em Cartório.

• Deve manifestar-se sobre as declarações de crédito.

•Prestar todas as informações solicitadas pelas partes atuantes no processo, como o


Juiz, credor, MP, síndico etc.

• Assistir ao levantamento e à verificação do balanço e exame dos livros.

• Examinar e dar parecer sobre as contas do síndico.

O falido pode ser remunerado pela massa para cumprimento de suas obrigações,
desde que seja uma módica remuneração.

Caso o falido não cumpra com suas obrigações, poderá ter sua prisão administrativa
decretada, que não poderá exceder a 60 (sessenta) dias (não se trata de prisão por dívidas,
mas pelo descumprimento de obrigação).

Contra o despacho que determina a prisão cabe o recurso de Agravo.

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2. EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DA FALÊNCIA EM


RELAÇÃO AOS BENS DO FALIDO

Uma vez declarada a falência, o síndico procederá à arrecadação dos bens do falido.

Na falência, arrecadam-se todos os bens de propriedade do falido, ainda que não


estejam em sua posse, bem como todos os bens em sua posse, mesmo que não sejam de sua
propriedade.

A arrecadação deve ser acompanhada pelo representante do MP. Não são


arrecadáveis os seguintes bens:

•os absolutamente impenhoráveis, incluindo-se os bens de família (Lei n. 8.009/90)


Atenção: os bens utilizados para desenvolvimento de atividade profissional, embora
impenhoráveis, poderão ser objeto de arrecadação;

• os bens protegidos pela meação do cônjuge (Lei n. 4.121/62);

• os gravados com cláusula de inalienabilidade.

2.1. Mecanismos que Possibilitam a Devolução dos Bens Arrecadados


a) Pedido de restituição

Está previsto no art. 76 da Lei de Falência e poderá ser feito sob dois fundamentos
distintos, a saber:

• art. 76, caput: permite a restituição com base em direito real ou contrato;

• art. 76, § 2.º: permite a restituição de mercadorias vendidas a prazo e entregues


ao falido nos 15 dias anteriores ao requerimento da falência. O prazo de 15 dias
é contado a partir da entrega da coisa e não de sua remessa – Súmula n. 193,
STF (a não ser que ela já tenha sido vendida pela massa).

Situações Específicas:

• cabe pedido de restituição de bem alienado fiduciariamente em garantia.

Dispõe o Dec. n. 911/69 que falido o devedor fiduciante, poderá o credor


fiduciário pedir a restituição do bem, sem precisar habilitar seu crédito.

• a Súmula n. 417 do STF permite a restituição de dinheiro em poder do falido,


por este recebido em nome de outrem. Exs.:

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DIREITO COMERCIAL

− o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pode pedir a restituição de


garantias (dinheiro) já descontadas da folha de pagamento dos empregados
do falido e ainda não recolhidas (neste caso, o INSS não precisa executar e
nem habilitar o seu crédito).

− -cabe a restituição de garantia entregue ao falido por conta de Adiantamento


sobre Contrato de Câmbio (ACC).

Contrato de câmbio: é o contrato feito entre dois países (contrato de compra e


venda). Ex.: se o Brasil comprar dos EUA, terá que trocar o real pelo dólar. Se os EUA
comprar do Brasil, vice-versa.

Se o banco adiantar o valor do contrato celebrado entre as duas partes (contrato de


câmbio) e o exportador falir, o banco poderá pedir a restituição dessa quantia. Se o
importador não pagar, o prejuízo será da massa.

O pedido de restituição é autuado em separado no juízo da falência, decidido por


sentença, contra a qual cabe recurso de apelação.

O MP também tem legitimidade recursal, apesar de a lei não ser expressa.

b) Embargos de terceiro - art. 79 da Lei de Falências

O art. 79 nos remete aos arts. 1.046 a 1.054 do CPC.

Trata-se de uma opção. O falido pode escolher entre o pedido de restituição e os


embargos de terceiro. Estes comportam liminar, o pedido de restituição não. A condição
para os dois é que os bens tenham sido arrecadados.

3. EFEITOS DA FALÊNCIA EM RELAÇÃO AOS ATOS DO FALIDO

Certos atos do falido praticados antes da falência podem não gerar eficácia em
relação à massa falida.

•art. 52, LF: o legislador enumera uma série de atos e diz que serão ineficazes,
independentemente da constatação de fraude, basta a mera prática do ato. Trata-se
de ineficácia absoluta.

•art. 53, LF: condiciona a ineficácia à caracterização da fraude, mas não relaciona
atos. Trata-se da ineficácia subjetiva.

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DIREITO COMERCIAL

3.1. Ineficácia Objetiva


•pagamento de dívida não vencida durante o termo legal da falência por qualquer
forma de extinção de obrigação, incluindo-se aquela originalmente pactuada entre as
partes.

Termo legal da falência: período suspeito (período de até 60 dias contados


retroativamente à data do primeiro protesto do despacho ao requerimento inicial da
falência, ou da distribuição do pedido de concordata preventiva, art. 14, par. ún., III, LF).

O síndico poderá retomar essa garantia em favor da massa.

• o pagamento de dívida vencida durante o termo legal da falência por qualquer


forma de extinção de obrigação distinta da originalmente pactuada. Ex.: falido
assumiu a obrigação de pagar determinada quantia em dinheiro, mas pactua
dação em pagamento.

O bem dado em pagamento volta à massa falida (esses atos não são nulos, são
ineficazes).

A compensação, apesar de ser forma distinta da contratada, é admitida.

• constituição de uma garantia real em relação a uma obrigação anteriormente


pactuada, durante o termo legal da falência.

A lei quis evitar que o crédito quirografário seja transformado em crédito com
garantia real durante o período suspeito.

• atos praticados a título gratuito nos dois anos anteriores à quebra,


independentemente da caracterização de fraude.

Bonificações, gratificações a empregados não são considerados fraude, desde que


proporcionais.

Doações com valores irrisórios não são consideradas ineficazes, Ex.: doação de
agendas.

• alienação de estabelecimento comercial, sem anuência prévia dos credores, à


época existente.

Se o credor possui outros bens que o mantêm solvente, para vender o fundo de
comércio não precisará pedir anuência aos credores.

• também é ato ineficaz reembolso pago a acionista dissidente em S/A, desde que:

- tenha ocorrido a conta do capital social;

- o dissidente não tenha sido substituído.

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DIREITO COMERCIAL

3.2. Ineficácia Subjetiva


Nos termos do art. 53 da Lei de Falências, é ineficaz todo e qualquer ato praticado
pelo falido com a intenção de prejudicar credores.

Pode ser qualquer ato, desde que caracterizada a fraude.

O art. 53 fala em revogabilidade, que consiste em ineficácia do ato.

O ato somente é declarado ineficaz pelo Juiz. Para isso, é necessária a propositura
de ação revocatória.

3.3. Ação Revocatória


Deve ser proposta pelo síndico nos 30 dias seguintes ao início da liquidação, que
tem início com a publicação do aviso do art. 114 da Lei de Falências.

Decorridos os 30 dias, além do síndico, qualquer credor poderá propor a ação


revocatória até o prazo máximo de 1 (um) ano a contar da liquidação, quando então se
operará a decadência desse direito.

Essa ação é proposta em face de todos aqueles que foram pagos, garantidos os
beneficiados.

Tramita pelo juízo da falência em rito ordinário e é decidida por sentença, contra a
qual cabe recurso de apelação.

Os efeitos em que esse recurso é recebido varia. Se o fundamento da revocatória é o


art. 52 da Lei de Falências, será recebida no efeito devolutivo. Se o fundamento é o art. 53
da supra citada lei, será recebida nos efeitos devolutivo e suspensivo.

4. EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DA FALÊNCIA EM


RELAÇÃO AOS CONTRATOS DO FALIDO

4.1. Regra Geral Aplicada aos Contratos Bilaterais


O art. 43 da Lei de Falências dispõe que os contratos bilaterais não se resolvem com
a falência e podem ser executados pelo síndico, se este considerá-los de interesse da massa.

O contrato se resolve com ou sem o cumprimento das obrigações. O não


cumprimento das obrigações pode ocorrer:

• sem culpa: decorrente de caso fortuito ou força maior. A resolução é


involuntária. A parte não se obriga a pagar indenização;
5
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO COMERCIAL

• com culpa: a resolução é voluntária. A parte deve indenizar (ex.: mora da


obrigação).

Os contratos bilaterais não sofrem qualquer efeito com a falência. Mesmo com o
término desta, as obrigações devem ser cumpridas. A falência não resolve o contrato.

Se o síndico decide extinguir o contrato, a resolução será voluntária e o terceiro


contratante terá direito à indenização.

A Lei de Falências diz que, declarada a falência, o terceiro contratante poderá


notificar o síndico para que este, em cinco dias, declare se cumprirá ou não o contrato.
Decorrido esse prazo e sem manifestação, o contrato será considerado resolvido (art. 43,
par. ún., LF).

4.2. Regra Aplicada aos Contratos Unilaterais


Os contratos unilaterais em que o falido é credor não vencem, não se resolvem com
a declaração da falência, permanecem intactos.

Os contratos unilaterais em que o falido é devedor vencem com a declaração da


falência (art. 25 da LF).

A multa contratual só poderá ser cobrada na falência se a sua exigibilidade antecede


à quebra. Trata-se de indenização fixada entre as partes caso uma delas não cumpra a
obrigação.

4.3. Regras Específicas Aplicáveis a Determinadas Situações


Contratuais (Art. 44 da Lei de Falências)
• Inc. I – o vendedor de mercadoria tem o direito de obstar a sua entrega quando
tem conhecimento da falência do comprador, desde que presentes duas
condições:

− que as mercadorias não tenham sido pagas;

− que não se tenha verificado a tradição simbólica ou documental.

• Inc. VI – contrato de promessa de compra e venda de imóvel:

− se a falência for do promitente vendedor, o síndico não poderá resolver o


contrato, devendo dar-lhe cumprimento;

− se a falência for do promitente comprador, os direitos serão arrecadados e


alienados pela massa falida.

• Inc. VII – aplicável a contrato de locação com direito à revocatória:


6
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO COMERCIAL

− o despejo por falta de pagamento apenas poderá ser decretado se o atraso for
superior a dois meses e se o síndico, depois de intimado, deixar de purgar a
mora em 10 dias.

4.4. Observações Finais


É válida a cláusula que prevê a rescisão de contrato em caso de falência. Trata-se de
cláusula resolutiva expressa.

Contratos de trabalho não se resolvem com a falência. Ex.: se o síndico demitir o


empregado sem justa causa, este pode reclamar as verbas indenizatórias pertinentes.

5. EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DA FALÊNCIA EM


RELAÇÃO AOS CREDORES DO FALIDO

5.1. Créditos Não Reclamáveis na Falência


• Créditos por obrigações, a título gratuito – o donatário não pode cobrar o crédito
na falência do doador.

• Prestações alimentícias – são reclamadas diretamente contra o falido.

• Créditos por despesas individualmente feitas pelos credores para o ingresso na


massa. Exceção: as despesas incorridas por aquele que requereu a falência (são
reclamáveis como dívidas da massa).

• Multas fiscais impostas pelas Fazendas Estaduais e Municipais. Súmulas n. 191,


192, 565 do STF.

As multas fiscais impostas pela Fazenda Nacional são reclamáveis como encargo da
massa, nos termos do Dec. n. 1.893/81.

6. EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DA FALÊNCIA EM


RELAÇÃO AOS CREDORES

6.1. Formação da Massa Falida Subjetiva


A massa falida pode ser objetiva (compreende o conjunto de bens arrecadados) ou
subjetiva (consubstancia-se na comunhão de interesses dos credores).

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DIREITO COMERCIAL

6.2. Suspensão das Ações Individuais dos Credores contra o Falido


Os credores habilitam seus créditos na massa falida. Se o falido já estava sendo
executado, suspende-se a execução.

Exceções ao Juízo Universal da falência. Ações que não se suspendem e não são
atraídas ao juízo falimentar:

• Reclamações trabalhistas – porém, no momento da execução, o crédito deve ser


reclamado junto à massa falida, com preferência. O crédito trabalhista não
poderá ser impugnado na falência.

O credor trabalhista não precisa propor reclamação trabalhista, pode diretamente


reclamar seu crédito na falência, desde que não haja discussão sobre sua existência.

O credor trabalhista pode ingressar com reserva de bens na falência se o seu crédito
não foi ainda decidido pela justiça especializada.

• Execuções fiscais – o CTN dispõe que o Fisco não habilita o crédito na falência.

A penhora dos bens recai sobre o rosto dos autos da falência, caso a execução fiscal
esteja em andamento. Se inexistir execução fiscal, o Fisco notificará o síndico para que
pague; se não pagar, ingressa-se com a execução.

Se, à época da declaração da falência, já existia execução fiscal com penhora, não
poderá ser desrespeitada a ordem de classificação dos créditos da falência – o Fisco não
poderá ser pago antes do credor trabalhista.

• Execuções individuais com hasta já realizada ou designada.

6.2.1. Não se suspendem, mas são atraídos ao juízo falimentar:


Ações que versam sobre quantia ilíquida, prestação ou abstenção de fato. Ex.: ação
de indenização em andamento terá sua tramitação normal, mas passará a ser decidida pelo
juízo universal da falência (que tem aptidão atrativa).

6.2.2. Regras em que a massa é pólo ativo


Seja como autora ou litisconsorte, estas não se suspendem, nem são atraídas ao juízo
falimentar. Ex.: falido é autor da ação de indenização. A ação prossegue, mas o pólo ativo
passa a ser ocupado pela massa falida representada pelo síndico.

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DIREITO COMERCIAL

6.3. Vencimento Antecipado dos Créditos contra o Falido


Os créditos vencem antecipadamente, art. 25 da Lei de Falência.

6.4. Suspensão da Fluência de Juros


Contra a massa não correm juros. Estes constituem remuneração pela
disponibilização de capital; limitam-se a 12% ao ano (essa limitação decorre da Lei de
Usura).

A Súmula n. 596 do STF dispõe que às instituições financeiras não se aplica o limite
de 12%.

Juros não se confundem com correção monetária, que é a reposição do valor de


compra da moeda desgastado pelos efeitos inflacionários.

Contra a massa não correm juros, mas corre correção monetária. Exceções em que
os juros são computados:

• em favor do credor com garantia real se o bem suportar (o pagamento de


principal mais juros);

• em favor do credor fiscal.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XIII

DIREITO CONSTITUCIONAL
Sistema Constitucional das Crises

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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO CONSTITUCIONAL

1. DO ESTADO DE DEFESA

Ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional (órgãos


meramente consultivos, cujos pareceres não são vinculantes - artigos 89 e 91 da
Constituição Federal), o Presidente da República pode decretar o estado de defesa para
preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública
ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por
calamidades da natureza de grandes proporções.

No decreto presidencial, que não depende de prévia autorização do Congresso


Nacional, deve constar o tempo de duração da medida (não superior a 30 dias, prorrogável
uma vez por igual período), a área que a medida atinge e, nos limites da lei, quais das
restrições previstas nos incisos I e II do § 1.º do artigo 136 da Constituição Federal serão
adotadas.

Em 24 horas, o decreto deve ser encaminhado com a respectiva justificativa ao


Congresso Nacional (não há, portanto, prévio pedido de autorização), que no prazo de 10
dias deverá aprová-lo (artigo 49, inciso IV, da Constituição Federal) ou rejeitá-lo (artigo
136, § 4.º), sempre por maioria absoluta (voto da maioria dos membros). Rejeitado o
decreto, cessa de imediato o estado de defesa.

Se estiver em recesso, o Congresso será convocado para se reunir em cinco dias,


permanecendo em funcionamento durante todo o período do estado de defesa.

Qualquer prisão por crime contra o Estado deverá ser imediatamente comunicada
pelo executor da medida ao juiz competente (controle jurisdicional concomitante), que a
relaxará se for ilegal. A comunicação da prisão, que, salvo hipótese de autorização do
Poder Judiciário, não poderá exceder a 10 dias, será acompanhada de declaração, feita pela
autoridade competente, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação. É
facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial, e qualquer
pessoa pode impetrar habeas corpus.

A previsão deixa claro que na hipótese de estado de defesa é constitucional a prisão,


ainda que não em flagrante, efetuada sem ordem judicial (artigo 136, § 3.º, inciso I, da
Constituição Federal), determinada pelo executor da medida, no caso de crime contra o
Estado e, comunicada imediatamente ao juiz competente. É uma exceção ao disposto nos
incisos LIV e LXI do artigo 5.º da Constituição Federal, já que nesse período convive-se
dentro de um critério de legalidade extraordinária, estabelecido pela própria Constituição.

É vedada a incomunicabilidade do preso.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

2. DO ESTADO DE SÍTIO (ARTIGO 137 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL)

Ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional (órgãos


meramente consultivos), pode o Presidente da República solicitar (há um controle político
prévio) ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:

• Comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem


a ineficácia da medida tomada durante o estado de defesa (prazo de 30 dias,
prorrogável cada vez por igual período). Luiz Alberto David Araújo e Vidal
Serrano Nunes Júnior denominam essa hipótese de estado de sítio repressivo.

• Declaração de estado de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira (pode


perdurar por todo o tempo da guerra ou da agressão armada estrangeira). É o
denominado estado de sítio defensivo.

O pedido de autorização ou de prorrogação do estado de sítio deve ser acompanhado


da respectiva exposição dos motivos, decidindo o Congresso por maioria absoluta.

O decreto de estado de sítio indicará a sua duração, as normas necessárias à sua


execução e as garantias e direitos constitucionais que ficarão suspensos. Depois de
publicado o decreto, o Presidente da República indicará o executor das medidas específicas
e as áreas abrangidas.

O estado de sítio decretado com base no inciso I do artigo 137 da Constituição


Federal só autoriza a imposição das medidas específicas no artigo 139 da própria
Constituição Federal.

O estado de sítio decretado com base no inciso II do artigo 137, em tese, admite a
suspensão de qualquer direito ou garantia constitucional, desde que prevista na autorização
do Congresso Nacional.

3. OBSERVAÇÕES FINAIS

O estado de defesa e o estado de sítio estão sujeitos a um controle político


concomitante – uma comissão composta por cinco parlamentares (designados pela Mesa do
Congresso Nacional após ser dada oportunidade de manifestação aos líderes partidários)
acompanhará e fiscalizará a execução das medidas, nos termos do artigo 140 da
Constituição Federal – e a um controle político posterior – na apreciação do relatório que

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO CONSTITUCIONAL

será encaminhado pelo Presidente da República ao Congresso Nacional logo que cesse a
medida, nos termos do artigo 141 da Constituição Federal.

A qualquer tempo, o Congresso Nacional, que permanece em funcionamento


enquanto perdurar a medida de exceção, pode suspender o estado de defesa ou o estado de
sítio (artigo 49, inciso IV, da Constituição Federal).

O controle jurisdicional concomitante se faz, sobretudo, por intermédio do habeas


corpus e do mandado de segurança, que serão analisados à luz das restrições autorizadas
pela própria Constituição Federal (sob à ótica da legalidade extraordinária).

O controle jurisdicional posterior é o mesmo previsto para o estado de defesa e para


o estado de sítio, pois os executores e os agentes das medidas excepcionais poderão ser
responsabilizados pelos ilícitos (principalmente excessos) eventualmente cometidos.

Não cabe ao Poder Judiciário analisar a conveniência ou a oportunidade da medida,


que é essencialmente política.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XIII

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO


TRABALHO
Princípios e Singularidades do Processo do Trabalho

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Princípios e Singularidades do Processo do Trabalho

1. CONCEITO

O Direito Processual do Trabalho é um conjunto de regras e princípios que tem por


finalidade solucionar os conflitos individuais e coletivos do trabalho, disciplinando as
atividades das partes, dos procuradores e da organização e funcionamento da Justiça.

As regras abrangem as normas constitucionais, as inseridas na Consolidação das


Leis do Trabalho, as do Código de Processo Civil, os diplomas esparsos e os demais
códigos e regras aplicáveis subsidiariamente ao processo do trabalho.

Os princípios são vetores, caminhos, causas primárias e proposições que arrimam e


sustentam o ordenamento jurídico e a sua plena concretização. Os princípios servem para a
aplicação correta das normas e para a consecução do sistema e da própria justiça nas
lacunas do ordenamento.

Vamos diferenciar os princípios das peculiaridades e das técnicas. Os primeiros


estão acima explicados e dizem respeito a todo o sistema processual. As peculiaridades
completam os princípios, visando a cada sistema, cada ramo do Direito. Podem redundar
numa forma específica de aplicação dos princípios gerais e/ou dos novos princípios.
Princípios próprios, que, de qualquer modo, não contrariam os princípios gerais. Já as
técnicas dizem respeito ao procedimento, um estágio dinâmico do processo no qual são
aplicados os princípios e as peculiaridades.

2. PRINCÍPIOS

Entre os princípios temos: formalismo, celeridade, dispositivo, inquisitivo,


oralidade, concentração, eventualidade, livre convicção, jus postulandi, publicidade,
lealdade processual, eventualidade e conciliação. A doutrina, às vezes, menciona um ou
outro nome para o mesmo princípio, contudo, basicamente há concordância com as
denominações acima descritas.

2.1. Formalismo
Os atos e as formas processuais somente dependem de forma determinada quando a
lei assim exigir expressamente, reputando-se válidos aqueles que, realizados de outro
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_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

modo, lhe preencham a finalidade essencial. É o que diz o art. 154 do Código de Processo
Civil.

O processo, normalmente, é submetido a regras precisas e coordenadas dentro de


um todo lógico. As formas propostas pelo legislador devem ser obedecidas. Observa-se que
a forma se destina a alcançar um fim. O processo é essencialmente instrumental e só tem
razão de ser quando serve à Justiça. A existência de formas processuais evita a confusão, a
desordem e o eventual arbítrio do juiz.

2.2. Celeridade
Caracteriza-se pela busca de um processo mais rápido, sem prejuízo da aplicação de
outros princípios. Uma das concretizações desse princípio é a existência da chamada
audiência única, com as fases processuais acontecendo numa única sessão: fase
postulatória, fase instrutória e fase decisória. Vincula-se o princípio da celeridade
processual ao da concentração e ao da oralidade, todos cooperando para que o processo
aconteça de forma célere.

2.3. Dispositivo
Sem o princípio dispositivo não haveria processo, porque este se inicia com a ação e
esta é iniciativa da parte, do interessado, uma vez que a Justiça é inerte. O princípio
dispositivo diz respeito à iniciativa dos interessados que dispõem de seus próprios atos,
acionando ou não a Justiça e, quando a lei assim determina, movimentando ou não o
processo. Está ligado à autonomia da vontade. Também, em virtude desse princípio, o juiz
deverá decidir sobre aquilo que foi alegado pela parte. Não que a vontade da parte
predomine, mas essa vontade é fundamental para provocar a prestação jurisdicional.

2.4. Inquisitivo
Também chamado de inquisitório, nele prevalece a iniciativa do juiz na direção do
processo e, em algumas situações, na condução da prova. Embora o princípio dispositivo
sempre exista em todos os processos, no processo do trabalho prevalece o princípio
inquisitório. Depois de acionada a justiça, o juiz conduz o processo até o final, ainda que as
partes não mais se manifestem. O art. 848 da Consolidação das Leis do Trabalho é um
exemplo da concretização desse princípio: “Terminada a defesa, seguir-se-á a instrução do
processo, podendo o presidente ex officio ou a requerimento de qualquer Juiz temporário
interrogar os litigantes”. O dispositivo em análise não se coaduna com a realidade atual do
processo do trabalho no que se refere ao “presidente” e ao “juiz temporário”, uma vez que,
com a saída dos classistas, o juiz que agora subsiste é o de Direito, não presidindo mais o
órgão jurisdicional, porque não se trata mais de Junta e sim de Vara do Trabalho; é, pois, o

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

juiz do trabalho, pura e simplesmente. Como não há mais o juiz classista, não se pode falar
em juiz temporário.

Afora essa análise, é fato que na Justiça do Trabalho as partes são interrogadas pelo
juiz, não existindo depoimento requerido pela parte contrária, embora isso normalmente
aconteça nas petições iniciais e nas defesas.

2.5. Oralidade
O princípio da oralidade é caracterizado sob quatro aspectos que, reunidos, dão
substância a esse princípio: prevalência da palavra falada, imediatidade do juiz com as
partes, identidade física do juiz com o processo e irrecorribilidade das decisões
interlocutórias.

Tudo isso faz com que a concentração dos atos processuais ocorra de forma mais
efetiva. Na prática, desvirtuando-se a intenção do legislador e a orientação desse princípio,
vemos a prevalência da palavra escrita. (Está claro que não há proibição de que se
peticione e de que se escreva sempre nos autos, mas a escrita deveria ser deixada para
casos estritamente necessários ou para quando a lei determinasse.)

Interessante notar alguns artigos que são a incorporação do princípio da oralidade:


art. 847 – “Não havendo acordo, o reclamado terá vinte minutos para aduzir sua defesa,
após a leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes”; e art.
850 – “Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em prazo não
excedente de dez minutos para cada uma. Em seguida, o Juiz ou presidente renovará a
proposta de conciliação, e, não se realizando esta, será proferida a decisão”.

2.6. Concentração
Esse princípio, de certo modo, já restou evidenciado. Estabelece a concentração de
todos os atos do processo em uma mesma audiência, isto é, a postulação do autor, a
resposta do réu, as provas, as razões finais e, finalmente, a sentença. É o que se deduz da
legislação aplicável. Quando puder, o juiz deve buscar concentrar todos os atos numa
mesma audiência, evidentemente, sem prejuízo da verdade e sem cercear a atuação das
partes.

2.7. Eventualidade
Pelo princípio da eventualidade, o autor deve requerer todo o seu direito na inicial e
o réu deve exaurir na defesa toda a matéria. O momento processual para a reprodução da
prova necessária também ocorre em audiência: o reclamante e o reclamado comparecerão à
audiência acompanhados de suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião, as demais
provas.
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_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

2.8. Livre Convicção


A livre convicção diz respeito ao juiz. É a persuasão racional: art. 131 do Código de
Processo Civil – “O Juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias
constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença,
os motivos que lhe formaram o convencimento”. Assim, o julgador está livre para dar a sua
decisão, apenas devendo obediência à sua própria consciência. Não poderá, entretanto,
decidir de forma desvinculada do processo. A fundamentação da sentença ou de qualquer
decisão interlocutória deve ter base nos autos e na lei (se tais parâmetros forem
desrespeitados, haverá a nulidade do julgado ou a sua reforma).

2.9. “Conciliação”
A conciliação foi elevada à categoria de verdadeiro princípio, tal a importância no
processo atual. A tentativa de conciliação sempre deve vir em primeiro lugar. Quando as
partes transacionam, quando chegam a um acordo, a justiça realmente acontece, porque a
decisão judicial, por mais sábia, sempre contraria interesses. Além do mais, é preferível
que uma disputa seja resolvida pela boa vontade dos litigantes do que pela interferência do
Estado. Observe-se o seguinte artigo: art. 764 – “Os dissídios individuais ou coletivos
submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação”.

2.10. Publicidade
Esse princípio garante a transparência para os atos jurisdicionais e para as
audiências públicas, a possibilidade de se examinarem os autos, a possibilidade de se
fiscalizarem os atos da parte contrária, dos procuradores e do juiz, a possibilidade de pedir
certidão dos processos etc., salvo o caso de segredo de Justiça.

2.11. Lealdade Processual


É dever das partes e de seus procuradores o comportamento adequado nas
audiências e quando se manifestem nos autos, sem o uso de meios artificiosos, dolosos,
alterando a verdade dos fatos, provocando incidentes infundados, agindo de modo
temerário ou desvirtuando o caminho da Justiça. Diz o art. 14 do Código de Processo Civil:
“Compete às partes e aos seus procuradores: I – expor os fatos em juízo conforme a
verdade; II – proceder com lealdade e boa fé; III – não formular pretensões, nem alegar
defesa, cientes de que são destituídas de fundamento; IV – não produzir provas, nem
praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa de direito”.

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

2.12. Jus Postulandi


Foi elevado à categoria de princípio no Direito Processual do Trabalho, mas nem
todos os autores assim pensam. Na verdade, não há necessidade do técnico (advogado)
para a Justiça ser acionada. Particularmente entendemos que não há mais motivo para essa
regra porque aquele que não tem dinheiro para pagar o advogado pode utilizar-se de
advogado de seu sindicato ou mesmo da Procuradoria do Estado ou da Justiça do Trabalho,
sem necessidade de despender o valor dos honorários advocatícios. As custas do processo
podem não ser adimplidas, veja-se o teor das Leis n. 1.060/50 e 7.115/83 (Justiça Gratuita).
O art. 791 da Consolidação das Leis do Trabalho é claro: “Os empregados e empregadores
poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas
reclamações até o final”.

Outros princípios poderiam ser apontados; cremos, no entanto, que aqui estão os
mais importantes.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO VII

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

1. ORDEM CONSTITUCIONAL ECONÔMICA

A idéia de ordem econômica pressupõe a possibilidade lógica de se distinguirem as


normas jurídicas de conteúdo econômico de todas as demais normas jurídicas, o que,
segundo os ensinamentos do Prof. FÁBIO KONDER COMPARATO1, talvez não seja
possível, dado que, até hoje, ninguém conseguiu definir precisamente no que consiste a
ordem econômica, já que há concordância geral em que a economia tem a ver com a
produção e a distribuição da riqueza, a formação de preços, a determinação da renda
nacional e o nível de emprego. Não há unanimidade, porém, quando se pensa que o próprio
conceito de riqueza tem evoluído e compreende, além dos bens materiais, certos bens
culturais e condições sociais de vida, tais como a saúde e a educação, que são geralmente
consideradas como resultantes de políticas sociais e não propriamente de decisões
econômicas stricto sensu.

O Direito Constitucional brasileiro, entretanto, caminhou em sentido contrário à


evolução do conceito de riqueza, uma vez que, enquanto as Constituições de 1934, 1946 e
1967 combinaram em um único capítulo a ordem econômica e a social, a atual
Constituição separou essas duas séries de normas, reservando o seu título VII à “ordem
econômica e financeira” e o título VIII à “ordem social”.

Bem ou mal caracterizada a ordem econômica, além dos preceitos constantes no


título VII da Constituição Federal, são transportados ao seu bojo – pelos ensinamentos do
Prof. EROS ROBERTO GRAU2 –, fundamentalmente, os preceitos inscritos nos arts. 1.º,
3.º, 7.º a 11, 201, 202, 218 e 219, bem como, entre outros, os preceitos do art. 5.º, inc.
LXXI, do art. 24, inc. I, do art. 37, incs. XIX e XX, do § 2.º do art. 103, do art. 149 e do
art. 225, ou seja:

• a dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do


Brasil (art. 1.º, inc. III) e como fim da ordem econômica (art. 170, caput);

• os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa como fundamentos da


República Federativa do Brasil (art. 1.º, inc. IV) e a valorização do trabalho
humano e da livre iniciativa como fundamentos da ordem econômica (art. 170,
caput);

• a construção de uma sociedade livre, justa e solidária como um dos objetivos


fundamentais da República Federativa do Brasil (art. 3.º, inc. I);

1
COMPARATO, Fábio Konder. Ordem Econômica na Constituição Brasileira de 1988. RDP 93/263.
Cadernos de Direito Econômico e Empresarial.
2
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 4.ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998.
p. 215.
1
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

• a garantia do desenvolvimento nacional como um dos objetivos fundamentais da


República Federativa do Brasil (art. 3.º, inc. II);

• a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades


sociais e regionais como um dos objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil (art. 3.º, inc. III);

• a redução das desigualdades regionais e sociais também como princípio da


ordem econômica (art. 170, inc. VII);

• a liberdade de associação profissional ou sindical (art. 8.º); a garantia do direito


de greve (art. 9.º);

• a sujeição da ordem econômica aos ditames da justiça social (art. 170, caput);

• a soberania nacional, a propriedade e a função social da propriedade, a livre


concorrência, a defesa do consumidor, a defesa do meio ambiente, a redução das
desigualdades regionais e sociais, a busca do pleno emprego, o tratamento
favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte
(todos princípios enunciados nos incs. do art. 170);

• a integração do mercado interno ao patrimônio nacional (art. 219), além de


outros preceitos que não são expressamente enunciados em normas
constitucionais explícitas3.

1.1. Princípios Gerais da Atividade Econômica


O art. 170 da Constituição Federal de 1988, ao fixar os princípios fundamentais do
ordenamento econômico, não fugiu à linha traçada pela Lei Magna anterior, tendo,
entretanto, explicitado melhor os referidos princípios.

A justiça social é indicada pelo art. 170 da Constituição Federal como uma das
metas da ordem econômica brasileira. O termo justiça social está longe de ter sentido
unívoco, mas, em sentido comum, pode ser entendido como a virtude que ordena para o
bem comum todos os atos humanos exteriores. Assim sendo, a afirmação constitucional
significa que a ordem econômica deve ser orientada para o bem comum.

Outra meta da ordem econômica é a do desenvolvimento econômico, que, na


verdade, configura condição da justiça social, dado que não é possível assegurar a todo o
povo uma vida digna se a produção nacional não atingir grau elevado. O desenvolvimento,
entretanto, não é um fim em si mesmo, mas um simples meio para o bem-estar geral.

A liberdade de iniciativa envolve a liberdade de indústria e comércio (ou a liberdade


de empresa) e a liberdade de contrato. O princípio da liberdade de iniciativa reclama a
livre concorrência, que também é erigida em princípio (art. 170, inc. IV).

3
Denominados de “Princípios Gerais Não Positivados” pelo Prof. EROS ROBERTO GRAU. Op. cit. p. 216.
2
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Esse conjunto de princípios, entretanto, há de ser ponderado na sua globalidade,


visto que a Constituição não é um mero agregado de normas, não se podendo interpretá-la
em compartimentos, em pedaços.

Nesse sentido é que se faz necessário conciliar, como fundamento da República


Federativa do Brasil e da ordem econômica, o valor social da livre iniciativa e, como
princípio da ordem econômica, a livre concorrência (arts. 1.º, inc. IV, e 170, caput e inc.
IV).

O termo livre iniciativa é encontrado na Constituição Federal de 1988 já no seu art.


1.º, inc. IV, bem como no caput do art. 170.

Uma das faces da livre iniciativa se expõe como liberdade econômica, ou liberdade
de iniciativa econômica4, que foi encontrada, em toda a sua plenitude, no Decreto
d’Allarde, de 2-17 de março de 1791, cujo art. 7. º determinava que, a partir de 1.º de abril
daquele ano, seria livre a qualquer pessoa a realização de qualquer negócio ou o exercício
de qualquer profissão, arte ou ofício que lhe aprouvesse, sendo, contudo, ela obrigada a se
munir previamente de uma “patente” (imposto direto), a pagar as taxas exigíveis e a se
sujeitar aos regulamentos de polícia aplicáveis. Logo após, na chamada Lei de Chapelier
(Decreto de 14-17 de junho de 1791), na qual restaram proibidas todas as espécies de
corporações, o princípio foi reiterado.

É possível perceber, assim, como salienta o Prof. EROS ROBERTO GRAU 5, que no
princípio da livre iniciativa, mesmo quando da sua origem, não se consagrava a liberdade
absoluta de iniciativa econômica, ou seja, a visão de um Estado inteiramente omisso, no
liberalismo, em relação à iniciativa econômica privada. Trata-se de uma expressão pura e
exclusiva de um tipo ideal, dado que, nesse estágio, medidas de polícia já eram impostas.

Não se pode perder de vista que a Constituição declara assentar a ordem econômica,
conjuntamente, na livre iniciativa e na valorização do trabalho humano, assinalando que o
objetivo global e último dessa ordenação consiste em “assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social” (art. 170, caput). O texto constitucional, portanto,
permite a imposição de restrições de natureza pública ao exercício da liberdade
empresarial, as quais visaem à realização dos valores ou finalidades superiores, igualmente
expressos como mandamentos constitucionais.

A Ordem Econômica e Financeira da Constituição Brasileira estabelece, assim, as


finalidades e os princípios gerais dessa “ordem econômica”, bem como o tipo de
organização econômica, a delimitação entre o domínio da iniciativa privada e o da
intervenção direta do Estado na economia e, ainda, as bases jurídicas dos fatores de
produção, ou seja, o “núcleo duro da constituição econômica brasileira”.

Estando a livre iniciativa ligada ao seu valor social e devendo ser exercida em
conformidade com os objetivos da “ordem econômica” – é o que se encontra estabelecido
na Constituição Federal, repita-se –, apesar do papel primordial que lhe foi atribuído, o seu
valor é relativizado pela própria Constituição. A livre iniciativa – que pode ser entendida,
4
Idem, ibidem. p. 224.
5
Idem, ibidem p. 225
3
_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

em duplo aspecto, como a liberdade de criar e explorar uma atividade econômica e,


sobretudo, a rejeição da atividade econômica estatal – não é admitida de maneira absoluta,
mas unicamente em razão do seu valor social (conforme art. 1.º, inc. IV, da própria
Constituição Federal) e deve ser entendida no contexto de uma ordem econômica,
idealmente concebida pela Constituição, que “tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social” e que deve respeitar toda uma série de
princípios.

Assim é que, uma vez consagrada a livre concorrência como um princípio da ordem
econômica (inc. IV do art. 170), princípio que a livre iniciativa deve respeitar, a
Constituição estabelece uma distinção entre livre iniciativa e livre concorrência. Desse
modo, a Constituição não considera a livre concorrência uma conseqüência natural ou
necessária da livre iniciativa, mas, sim, o que é consagrado, como atividade econômica
legítima no contexto da ordem econômica constitucional, é a livre iniciativa concorrencial.
Declarando-se, portanto, que a livre concorrência é um princípio ao qual a livre iniciativa
deve se submeter, a Constituição Brasileira rejeitou a concepção dos liberais clássicos do
século XIX, segundo a qual a livre concorrência é uma conseqüência natural da livre
iniciativa. Ao mesmo tempo, a Constituição, adotando uma nova ordem econômica,
consagra o dogma segundo o qual se presume que a livre iniciativa concorrencial é útil à
coletividade.

Verifica-se, via de conseqüência, que o princípio da livre concorrência tem um


significado próprio que o distingue do princípio da livre iniciativa. Aquele se apresenta
como um elemento desejável ou mesmo necessário para possibilitar a presunção de que a
livre iniciativa promove a realização do bem comum, o que é, a seu turno, um elemento
favorável para que a livre iniciativa reencontre o seu valor social. A livre concorrência,
assim, desempenha um papel fundamental para que a livre iniciativa possa gozar da
presunção de beneficiar a coletividade. Trata-se de um elemento importante para a
valorização social da livre iniciativa. A livre ação dos agentes econômicos, o livre acesso
ao mercado e a livre escolha dos consumidores e utilizadores são as três liberdades que
caracterizam um mercado concorrencial, ou seja, um mercado em que a concorrência joga
livremente, configurando essas liberdades o objetivo a que visa o princípio da livre
concorrência, distinguindo-o, portanto, do conceito da livre iniciativa, mas não os
incompatibilizando, entretanto.

Assim, buscando a existência digna, conforme os ditames da justiça social, é que


devem ser compreendidos e harmonizados os demais princípios expressos no artigo 170 da
Constituição, ou seja, a função social da propriedade, a defesa do consumidor, a busca do
pleno emprego e, entre outros, a livre concorrência.

Aliando-se a possibilidade de se imporem restrições ao exercício da liberdade


empresarial e harmonizando-se o princípio da livre concorrência com a busca da existência
digna, conforme os ditames da justiça social, é que se pode afirmar que a tutela da livre
concorrência pode aparecer como um limite negativo ao fundamento da livre iniciativa,
uma vez que essa última interessa a todo o conjunto social, dado que existem fins
constitucionalmente propostos à livre iniciativa.

4
_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

O texto da Constituição de 1988 não deixa dúvidas quanto ao fato de a concorrência


ser, entre nós, um meio, um instrumento para o alcance de outro bem maior, qual seja,
“assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”.

O caráter instrumental da proteção da concorrência é evidente quando determina


reprimir o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados e à eliminação
da concorrência, em atenção ao princípio da livre concorrência, e quando determina
reprimir o aumento arbitrário de lucros, em atenção ao princípio da defesa do consumidor.

Essa proteção, entretanto, vai inserta no fim geral e maior, qual seja, “assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”, demonstrando que a tutela
da concorrência não é um fim em si mesma e poderá ser afastada quando o escopo maior
perseguido pelo sistema assim o exigir.

Aconselha-se, assim, nesse momento, a leitura atenta, na íntegra, do art. 170 da


Constituição Federal de 1988.

1.2. Política Agrícola e Fundiária e a Reforma Agrária


A propriedade rural, com sua natureza de bem de produção, tem como utilidade
natural a produção de bens necessários à sobrevivência humana, daí por que a Constituição
Federal de 1988 traz normas que servem de base à sua peculiar disciplina jurídica (arts.
184 ao 191).

A Constituição Federal, assim, traz normas especiais sobre a propriedade rural que
caracterizam seu regime jurídico especial, quer porque especificam o conteúdo de sua
função social, quer porque instituem regras sobre a política agrícola e sobre a reforma
agrária, com o fim de promover a distribuição da terra, ou mesmo porque inserem a
problemática da propriedade agrária no título da ordem econômica, preordenando, pois, o
cumprimento de seu fim, ou seja, “assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
da justiça social”.

O regime jurídico da terra fundamenta-se na doutrina da função social da


propriedade, pela qual toda riqueza produtiva tem uma finalidade social e econômica, e
quem a detém deve fazê-la frutificar, em benefício próprio e da comunidade em que vive.
Essa doutrina foi acolhida pela Constituição Federal de 1988, que declara que toda
propriedade atenderá sua função social (art. 5.º, inc. XXIII), que é um princípio da ordem
econômica (art. 170, inc. III). Justamente por isso se exige que a propriedade rural cumpra
sua função social, mediante o atendimento simultâneo dos requisitos apresentados no art.
186 da Constituição Federal de 1988.

A sanção para o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social é a
desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, de acordo e com os
requisitos do art. 184 da Constituição Federal de 1988.

5
_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

A possibilidade de desapropriação para reforma agrária, prevista no art. 184, tem


uma exceção prevista no art. 185, ambos da Constituição Federal de 1988 (pequena e
média propriedade rural e propriedade produtiva).

A política agrícola, cujas ações devem ser compatibilizadas com as da reforma


agrária, será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de
produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de
comercialização, de armazenamento e de transportes. Levará em conta, especialmente, os
instrumentos creditícios e fiscais, os preços compatíveis com os custos de produção e a
garantia de comercialização, o incentivo à pesquisa e à tecnologia, o seguro agrícola, o
cooperativismo, a eletrificação rural, a irrigação e a habitação para o trabalhador rural, tudo
em conformidade com o art. 187 da Constituição Federal de 1988.

Verifica-se, assim, que o legislador constituinte quis, com esse artigo, deixar claro
que a política agrícola, a assistência financeira e técnica e outros estímulos não
caracterizam reforma agrária, já que não significam intervenção na repartição da
propriedade e da renda da terra.

Há, ainda, como política fundiária, a previsão de a lei poder limitar a aquisição ou o
arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira (art. 190), bem
como o usucapião pró-labore, que tem esse nome porque o título que o justifica decorre do
fato de a área ter sido tornada produtiva pelo trabalho do beneficiário ou de sua família,
cujos requisitos se encontram previstos no art. 191.

6
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MÓDULO VII

DIREITO ELEITORAL

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DIREITO ELEITORAL

DIREITO ELEITORAL

1. SISTEMA PROPORCIONAL E SISTEMA MAJORITÁRIO

No sistema majoritário, adotados nas eleições para Prefeitos, Governadores,


Presidente da República e Senadores, ganha o candidato mais votado, independentemente
dos votos de seu partido.

Pelo sistema proporcional, adotado nas eleições para deputado federal, deputado
estadual e vereador e disciplinado nos arts. 105 a 113 do Código Eleitoral, inicialmente
mais vale a votação do partido que a do candidato, circunstância que deu ao critério a
denominação de colorido partidário.

Nesse sistema proporcional, inicialmente se somam os votos válidos (votos dados


para os partidos e seus candidatos) e divide-se o resultado pelo número de cadeiras a
preencher, obtendo-se assim o quociente eleitoral. Atualmente, de acordo com o art. 5.º da
Lei n. 9.504/97 (que alterou a regra do art. 106 do Código Eleitoral), os votos brancos e os
votos nulos não são considerados nos cálculos.

Em seguida, dividem-se os votos de cada partido ou coligação pelo quociente eleitoral,


obtendo-se assim o número de eleitos de cada agremiação (quociente partidário).

Partido que não atinge o quociente eleitoral não elege qualquer deputado ou
vereador (salvo se nenhum partido atingir o quociente eleitoral, quando as vagas serão
preenchidas pelos candidatos mais votados independentemente do partido).

As sobras também serão destinadas aos partidos que obtiverem as maiores médias.
Essa técnica da maior média determina que os votos do partido ou coligação sejam
divididos pelo número de cadeiras por ele obtidas mais um, atingindo-se assim a média de
cada um dos concorrentes e o número final de cadeiras a que cada partido ou coligação terá
direito.

Obtido o número final de cadeiras de cada um, estarão eleitos os candidatos mais
votados de cada partido ou coligação, em número capaz de preencher as vagas destinadas à
agremiação.

Exemplo: município no qual sejam apurados dez mil votos válidos (votos dados
para as legendas ou para os candidatos) e que tenha dez cadeiras de vereador a preencher:

O quociente eleitoral é 1.000, ou seja, 10.000 votos divididos por dez cadeiras a
preencher.

O Partido A e seus candidatos somam 5.500 votos. Dividido esse número pelo
quociente eleitoral (5.500 : 1.000 = 5,5), desde logo o partido A terá 5 cadeiras.

1
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DIREITO ELEITORAL

A Coligação B/C e seus candidatos somam 3.800 votos, garantindo desde logo 3
cadeiras (3.800 : 1.000 = 3,8).

O Partido D e seus candidatos somam 700 votos e assim não atingem o quociente
eleitoral (1.000). Com isso, o Partido D não elege nenhum candidato.

Por ora, foram preenchidas oito vagas e restam duas. Essas sobras (duas cadeiras)
serão divididas da seguinte forma:

•divide-se o número de votos do Partido A (5.500) pelo número de cadeiras por ele
obtidas (5) + 1, ou seja, 5.500 : 6, atingindo-se a média 916;

•divide-se o número de votos da coligação B/C (3.800) pelo número de cadeiras por
ela obtidas (3) + 1, ou seja, 3.800 : 4, atingindo-se a média 950.

A maior média foi obtida pela Coligação B/C, que assim ganha mais uma cadeira
(a 4.ª).

Resta, porém, a 10.ª cadeira. Por isso, os cálculos são repetidos, agora
considerando a nova cadeira obtida pela Coligação B/C, nos seguintes termos:

•divide-se o número de votos do Partido A (5.500) pelo número de cadeiras por ele
obtidas (5) + 1, ou seja, 5.500 : 6, atingindo-se a média 916;

•divide-se o número de votos da coligação B/C (3.800) pelo número de cadeiras por
ela obtidas (agora 4) + 1, ou seja, 3.800 : 5, atingindo-se a média 760.

A maior média foi obtida pelo Partido A, que assim ganha mais uma cadeira (a 6.ª).

No final, o Partido A preencherá 6 cadeiras e a coligação B/C preencherá 4, sendo


esses seus quocientes partidários.

Nas eleições proporcionais, somente após a apuração dos números finais de cada
partido ou coligação é que interessará a ordem interna de votação individual, ou seja, o
número de votos obtidos por cada candidato. Os lugares que cada partido ou coligação
obtiver serão distribuídos aos seus candidatos mais votados (os 6 mais votados do Partido
A e os 4 mais votados da Coligação B/C ganharão uma cadeira).

2
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MÓDULO VII

DIREITO INTERNACIONAL
Direito Internacional Privado

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DIREITO INTERNACIONAL

DIREITO INTERNACIONAL

Direito Internacional Privado

Prof. Carlos Husek

1. CONCEITO

É o ramo da ciência jurídica que se define pelo conjunto de normas e princípios que
atuam sobre as relações jurídicas nas quais estão presentes elementos estrangeiros. O
Direito Internacional Privado regra o conflito de normas no espaço. Cada país possui suas
próprias normas de direito internacional privado, e, por isso, o juiz, ao aplicar o direito,
fundamenta-se em primeiro lugar na ordem jurídica interna.

Atenção: as normas de direito internacional privado indicam o direito estrangeiro


como aplicável desde que o legislador nacional assim queira (e nunca o Estado
estrangeiro).

Trata-se de um direito privado porque se circunscreve no campo das relações entre


particulares, e o vocábulo “internacional” de sua denominação representa a existência do
elemento estrangeiro, em virtude do qual o Direito em análise se debruça: local da
assinatura do contrato, localização do imóvel, domicílio do interessado etc. Cada vez mais
são freqüentes as relações jurídicas com conexão internacional a transcender as fronteiras
nacionais.

2. FUNDAMENTOS

O Direito Internacional Privado tem por fundamentos:

• a natureza cosmopolita do homem;

• a variedade de leis estatais;

• o comércio internacional;

• a multiplicação dos meios de comunicação;

• o adensamento das relações entre particulares de diversos países.

1
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DIREITO INTERNACIONAL

2.1. A Natureza Cosmopolita do Homem


Significa a tendência do homem de interagir – ser político social –, utilizando-se de
todos os meios de comunicação e transporte, e de estabelecer, querendo ou não, relações
jurídicas além-fronteiras. Exemplo: uma pessoa nasce no Brasil, casa-se na Argentina, onde
tem um filho, e morre na Inglaterra.

Tais fatos revelam o campo de aplicação do Direito Internacional Privado porque


contêm elementos estranhos ao País – elementos de estraneidade –, isto é, nem todos os
elementos dessa história estão dentro do mesmo território e sob uma mesma ordem
jurídica.

2.2. A Variedade de Leis Estatais


Cada país tem seu corpo próprio de leis, seu sistema, sua ordem. O fenômeno é,
pois, da pluralidade de ordenamentos jurídicos, específicos para cada povo, o que pode
provocar conflitos quando particulares de um e de outro povo se relacionam (casamento,
por exemplo). Não são, necessariamente, conflitos de repúdio e não-aceitação, mas
conflitos entre leis que regulam um mesmo fato jurídico.

Quando isso acontece e as pessoas envolvidas não podem ou não têm capacidade de
resolver o problema, alguém, em nome da ordem jurídica, o faz, aplicando à situação em
análise a regra interna advinda do Estado, ou decorrente de um tratado ou dos princípios
conhecidos.

Como tais ocorrências se revelam na atuação de uma autoridade específica, como


um juiz nacional, entendem alguns doutrinadores que o Direito Internacional Privado não
é, na verdade, internacional, nem mesmo privado, porque as normas aplicáveis são, em
geral, de ordem pública. Isso é apenas para demonstrar a riqueza da matéria e da discussão
que gira em torno de seus fundamentos.

2.3. O Comércio Internacional


Corolário de tudo que foi dito é essa característica: o comércio internacional.

A intensificação dos relacionamentos leva naturalmente às relações comerciais e aos


problemas decorrentes.

A matéria também se ajusta ao chamado “Direito do Comércio Internacional”, tendo


em vista as qualidades muito particulares dessa área: obrigações decorrentes de um
contrato, incoterms (normas de costume internacional sobre compra e venda), arbitragem,
etc.

Na maioria dos casos, todavia, há atuação simultânea de regras de Direito


Internacional Privado e de Direito do Comércio Internacional.
2
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DIREITO INTERNACIONAL

2.4. A Multiplicação dos Meios de Comunicação


Hoje, a comunicação humana compreende um vasto campo, moderno e intricado.
Comunica-se por meio de cartas (moda antiga) e por computadores (moda moderna), sem
falar no telefone, fax e outros meios. Todos esses meios são suficientes para fechar
contratos, propor negociações, celebrar casamentos, reconhecer filhos etc. Evidente que os
efeitos jurídicos ganham espaço e que as fronteiras dos países não são mais impeditivas
para tanto.

O Direito Internacional Privado, nesses casos, dá instrumentos para o aplicador da


norma solucionar e regular as questões que surgem no dia-a-dia.

2.5. O Adensamento das Relações entre Particulares de Diversos


Países
Caso os fatos narrados fossem esporádicos, não haveria preocupação jurídica e
legislativa em torno dos mesmos, entretanto, assim não ocorre. Dificilmente temos, nos
dias de hoje, relacionamentos dentro de um mesmo território.

Na vida de um ser humano acontecem fatos que, uma ou outra vez, o liga a pessoas
ou bens existentes em outros países. O homem de hoje é um “homem do mundo”.

Acompanha-o, aonde vá, a sua nacionalidade, um sistema que o protege, que lhe dá
personalidade e o faz apto a adquirir direitos e obrigações. As fronteiras esmaecem e o
ritmo das comunicações e dos meios de transporte – pode-se estar no Japão em menos de
48 horas – implica envolvimento, cada vez maior, de cidadãos de países diferentes e,
portanto, entrelaçamento de regras jurídicas incidentes. Daí o papel do Direito
Internacional Privado, revelando, analisando e solucionando tais situações.

3. ELEMENTOS CARACTERIZADORES

De tudo que foi escrito, deduzem-se os seus elementos caracterizadores:


cosmopolitismo, diversidade de leis, fatos anormais, coexistência de ordenamentos
jurídicos diversos e conflitos de leis no espaço.

3
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MÓDULO XIII

DIREITO PENAL

Dos Crimes Contra a Pessoa

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DIREITO PENAL

DIREITO PENAL

Dos Crimes Contra a Pessoa

Prof. Fernando Capez

1. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO (ARTIGO 122


DO CÓDIGO PENAL)

A doutrina denomina o crime em estudo de participação em suicídio, pois a lei pune


quem colabora ou incentiva um suicídio alheio.

Suicídio é a supressão voluntária e consciente da própria vida.

Havendo violência ou grave ameaça por parte de outrem, o crime será de homicídio.
A violência ou grave ameaça exclui a voluntariedade e, por conseqüência, não há se falar
em suicídio.

A fraude exclui a consciência quanto ao suicídio, portanto ocorrerá homicídio,


respondendo o autor da fraude por esse delito. Exemplo: colocar veneno na bebida da
vítima e convencê-la a tomar.

1.1. Núcleos do Tipo


• Induzir: dar a idéia a alguém que ainda não tinha pensado em suicídio, ou seja,
criar a idéia de suicídio na cabeça da vítima.

• Instigar: reforçar a idéia suicida preexistente na mente da vítima.

• Auxiliar: o agente colabora com a própria prática do suicídio. Exemplo:


emprestar corda, arma, veneno etc. O auxílio deve ser acessório, ou seja, não
poderá ser a causa direta da morte, pois, se for, o crime será de homicídio.
Assim, pratica o crime definido no artigo 122 quem empresta a arma para a
vítima se matar, mas comete homicídio quem aperta o gatilho, mesmo com
autorização da vítima.

O induzimento e a instigação são formas de participação moral, enquanto o auxílio é


forma de participação material.

1
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO PENAL

Se o agente induzir, instigar e prestar auxílio à mesma vítima, cometerá um só


crime, pois se trata de crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, também chamado
tipo misto alternativo.

Pergunta: O crime do artigo 122 pode ser praticado por omissão?

Resposta: Se o agente não tem o dever jurídico de evitar o resultado, é pacífico que
não. Mas no caso do agente que tem o dever jurídico de evitar o resultado e pode evitá-lo,
há duas correntes:

• Magalhães Noronha entende que haverá o crime do artigo 122 do Código Penal
com fundamento no artigo 13, § 2.º, do mesmo diploma;

• Damásio de Jesus, Fragoso e Frederico Marques entendem que o artigo 13, §


2.o, do Código Penal não pode ser aplicado, porque os verbos do artigo 122 do
Código Penal são incompatíveis com a figura omissiva. De acordo com essa
visão, portanto, quem tem o dever jurídico de agir responderá por omissão de
socorro, que será qualificada, pois houve morte.

1.2. Sujeito Passivo


Qualquer pessoa que tenha alguma capacidade de discernimento e resistência.

Não podem ser vítimas: crianças e pessoas com desenvolvimento mental retardado.
Nesses casos o agente responderá por homicídio.

1.3. Elemento Subjetivo


Dolo direto ou eventual. O exemplo de dolo eventual verifica-se no caso da pessoa
que estimula outra a praticar roleta russa. Se várias pessoas praticam roleta russa, umas
estimulando as outras, haverá crime se alguém morrer.

Deve haver seriedade na conduta. Se alguém, por brincadeira, diz para outrem se
matar, e ele se mata, não há dolo.

Não há previsão legal de forma culposa no tipo do artigo 122 do Código Penal.
Livros ou músicas que possam estimular o suicídio não geram a responsabilidade de seus
autores por ausência de dolo em relação a uma pessoa ou a pessoas determinadas.

Deve haver nexo causal (relação de causa e efeito) entre o auxílio prestado e o modo
pelo qual a vítima se matou. Exemplo: no caso de emprestar uma corda e a vítima se matar
com um tiro, não há nexo, assim, aquele que emprestou a corda não responderá por auxílio
ao suicídio.
2
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO PENAL

1.4. Pena
No caso de morte, a pena será de dois a seis anos de reclusão; se a vítima sofrer
lesão grave, de um a três anos de reclusão. Concluiu-se que o legislador não quis punir as
outras hipóteses, como a lesão leve e a forma culposa.

1.5. Consumação
Ocorre quando a vítima morre ou sofre lesões graves. Consideram-se a lesão grave
ou a morte elementares do crime (estas geralmente se encontram no preceito primário, mas
no crime do artigo 122 do Código Penal, estão no preceito secundário).

O crime em estudo não admite a tentativa, pois na hipótese em que a vítima sofre
lesão grave, o crime se considera consumado.

Ocorrendo lesão leve, o fato será atípico.

Resumindo:

• se a vítima morre, o crime está consumado;

• se a vítima sofre lesão grave, o crime está consumado;

• se a vítima sofre lesão leve, o fato será atípico.

1.6. Aumento de Pena (Artigo 122, parágrafo único, do Código Penal)


A pena será duplicada:

• Quando praticado o crime por motivo egoístico.

• Se a vítima é menor (inciso II, primeira parte). Segundo a doutrina, trata-se do


menor de 18 anos. Se no caso concreto ficar provado que pela pouca idade a
vítima não tinha nenhuma capacidade de entender que estava tirando a própria
vida, o crime será de homicídio. Damásio de Jesus entende que se a vítima tiver
idade não superior a 14 anos presume-se a incapacidade de entendimento, e
nesse caso o crime é de homicídio.

• Se a vítima, por qualquer causa, tiver diminuída sua capacidade de resistência


(inciso II, segunda parte). Exemplo: se o agente aproveita que a vítima está
embriagada ou em estado de depressão. Atente-se à expressão “diminuída”,
pois, se a capacidade da vítima for nula, haverá homicídio.

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DIREITO PENAL

2. INFANTICÍDIO (ARTIGO 123 DO CÓDIGO PENAL)

2.1. Tipo Penal


Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo
após. Pena: detenção de dois a seis anos.

2.2. Elementares do Crime


• Matar: aplicam-se as regras do homicídio quanto a esse verbo (consumação,
tentativa etc.).

• O próprio filho: é o sujeito passivo do crime; nascente ou recém nascido. Se a


mulher, por erro, mata o filho de outra, supondo ser o dela, responderá por
infanticídio (artigo 20, § 3.º, do Código Penal – erro quanto à pessoa). Não são
aplicadas as agravantes genéricas de crime contra descendente e de crime contra
criança por constituírem elementos essenciais do crime.

• Sob influência do estado puerperal: estado puerperal é o conjunto de alterações


psíquicas que podem ocorrer no organismo da mulher em razão do fenômeno do
parto. O estado puerperal não se presume; tem de ser provado por perícia
médica, mas, se os médicos ficarem em dúvida sobre sua existência e o laudo
for inconclusivo, será presumido o estado puerperal, aplicando-se o in dubio pro
reo.

• Durante o parto ou logo após: este é o elemento temporal, ou seja, o crime só


poderá ser praticado em um determinado momento. Considera-se início do parto
a dilatação do colo do útero, e fim do parto, o nascimento completo. A
expressão “logo após” poderá variar conforme o caso concreto, pois a duração
do estado puerperal difere de uma mulher para outra.

Diferenças entre o infanticídio e o abandono de recém-nascido qualificado pela


morte (artigo 134, § 2.º, do Código Penal): no infanticídio existe dolo de matar e a mulher
age em razão do estado puerperal, enquanto no abandono, o dolo é apenas o de abandonar
o recém-nascido para ocultar desonra própria, e o evento morte decorre da culpa.

2.3. Elemento Subjetivo


É o dolo, direto ou eventual. O infanticídio não possui forma culposa. Assim, se a
morte da criança resulta de conduta culposa da mãe, mesmo que esta esteja sob a influência
do estado puerperal, o crime será de homicídio culposo. É o que defende, entre outros,
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DIREITO PENAL

Nelson Hungria. Outra corrente, seguida por Damásio de Jesus, entende que, estando a
mulher sob a influência do estado puerperal, não se pode exigir dela uma conduta de
cuidado (cuidado do homem comum) e prudência, sendo, portanto, atípico o fato
(incompatibilidade entre a conduta culposa e o estado puerperal).

2.4. Sujeito Ativo


É a mãe sob estado puerperal. O infanticídio é crime próprio.

Pergunta: É possível concurso de pessoas?

Resposta: Sim. Conforme dispõe o artigo 30 do Código Penal, não se comunicam as


circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. O
estado puerperal é uma circunstância de caráter pessoal, porém é elementar do crime de
infanticídio, portanto alcança os participantes, que responderão pelo delito.

Há, contudo, três situações possíveis:

• Mãe que mata o próprio filho, contando com o auxílio de terceiro: a mãe é
autora de infanticídio e o terceiro também responde por infanticídio.

• Mãe e terceiro executam em co-autoria a conduta principal, matando a vítima: a


mãe será autora de infanticídio e o terceiro, por força da teoria unitária ou
monista, responderá pelo mesmo crime, nos expressos termos do artigo 29,
caput, do Código Penal.

• O terceiro mata o infante, contando com a participação da mãe: o terceiro


comete homicídio, pois foi autor da conduta principal. A mãe foi sua partícipe,
já que não realizou o núcleo do tipo, devendo responder também por homicídio.
Essa solução, que é tecnicamente correta (artigo 29 do Código Penal), é injusta,
pois se a mãe mata comete infanticídio e se ajuda a matar comete homicídio. A
solução sugerida pela doutrina, enquanto não há alteração legislativa, é de que a
mãe responda por infanticídio.

Durante muitos anos, uma corrente defendida por Nélson Hungria, entendeu ser o
estado puerperal uma condição personalíssima, incomunicável. Para esta corrente, não se
admite co-autoria nem participação em infanticídio. Como a lei não fala em condição de
caráter personalíssimo, essa corrente é minoritária. Vale salientar que Nélson Hungria, na
última edição de sua obra, reformulou a sua posição, passando a sustentar que “em face do
nosso Código, mesmo os terceiros que concorrem para o infanticídio respondem pelas
penas a este cominadas, e não pelas do homicídio”.

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DIREITO PENAL

2.5. Sujeito Passivo


O filho nascente ou recém-nascido.

Se a mãe, durante o estado puerperal, vier a matar outro filho que não o recém-
nascido, cometerá crime de homicídio. Se a mãe, entretanto, por erro, mata outro recém-
nascido, supondo que seja o seu filho, responderá por infanticídio, por aplicação do artigo
20, § 3.º, do Código Penal.

3. ABORTO (ARTIGOS 124 A 128 DO CÓDIGO PENAL)

3.1. Conceito e Modalidades


Aborto é a interrupção da gravidez com a conseqüente morte do produto da
concepção. O aborto pode ser: natural (interrupção espontânea), acidental, criminoso ou
legal (permitido).

3.2. Aborto Criminoso (artigos 124 a 126 do Código Penal)

3.2.1. Auto-aborto e aborto consentido (artigo 124 do Código Penal)


O artigo 124 do Código Penal traz duas figuras que punem a mulher grávida. Trata-
se de crime próprio. A pena é de detenção de 1 a 3 anos.

• Auto-aborto: provocar aborto em si mesma. Quando a própria gestante realiza a


manobra abortiva. Trata-se de crime de mão-própria, pois não admite co-autoria,
mas somente participação.

• Aborto consentido: consentir que terceiro provoque aborto. Nesse caso, o


terceiro realiza a manobra abortiva com o consentimento da gestante. O terceiro
responderá pelo artigo 126, que prevê pena maior. Trata-se de exceção à teoria
monista ou unitária. É uma exceção expressa. Também não admite co-autoria,
mas somente participação (só a gestante pode consentir). A gestante que
consentiu não será punida se os atos de execução não forem iniciados.

3.2.2. Aborto provocado por terceiro


O artigo 126 trata do aborto praticado por terceiro com o consentimento da gestante.
A pena é de 1 a 4 anos. O crime pressupõe que a autorização da mulher dure até a
consumação do aborto.

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O artigo 125 pune com reclusão de 3 a 10 anos o terceiro que provoca aborto sem o
consentimento da gestante.

Em alguns casos, o aborto é praticado com o consentimento da gestante, mas o


legislador entendeu que nesses casos seu consentimento deve ser considerado inválido. São
as hipóteses tratadas no parágrafo único do artigo 126 do Código Penal, em que o agente
responderá pela pena cominada no artigo 125:

•Quando houver violência, grave ameaça ou fraude na obtenção do consentimento


(vontade viciada).

•Se a gestante for menor de 14 anos ou doente mental (ausência de capacidade de


entendimento do ato). Observação: No caso da gestante menor de 14 anos, significa
que ela foi vítima de estupro, no mínimo com violência presumida. Neste caso, o
artigo 128, inciso II, do Código Penal permite o aborto praticado por médico, desde
que haja autorização do representante legal.

3.2.3. Questões diversas


a) Sujeito ativo

• auto-aborto ou aborto consentido: somente a gestante;

• aborto provocado por terceiro (com ou sem consentimento): qualquer pessoa. É


crime comum.

b) Sujeito passivo

• auto-aborto ou aborto consentido: o feto;

• aborto provocado por terceiro sem consentimento: o feto e a mãe.

c) Elemento subjetivo

É o dolo. Não se pune o aborto culposo. Quem, por imprudência, dá causa a um


aborto responde por crime de lesão corporal culposa, sendo vítima a gestante. Porém, se foi
a própria gestante que, por imprudência, deu causa ao aborto, o fato será atípico, pois não
se pune a autolesão.

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DIREITO PENAL

d) Meios de execução

O aborto é um crime de ação livre (pode ser praticado por qualquer meio), mas
desde que seja um meio apto a provocar a morte do feto, caso contrário, haverá crime
impossível.

Manobra abortiva em quem não está grávida constitui crime impossível por absoluta
impropriedade do objeto.

É possível cometer aborto por omissão. Exemplo: gestante que dolosamente não
toma medicamento indicado para evitar o aborto.

Se a gravidez era de gêmeos e a pessoa que praticou o aborto não sabia, há crime
único para evitar a responsabilidade objetiva. Se sabia que eram gêmeos, responde pelos
dois crimes de aborto (concurso formal impróprio ou imperfeito: uma ação, dois
resultados, cuja conseqüência é a soma de penas).

e) Consumação e tentativa

O aborto se consuma com a morte do feto. A tentativa é possível.

3.2.4. Forma qualificada (artigo 127 do Código Penal)


Não são qualificadoras, mas sim causas de aumento de pena.

Se a gestante sofre lesão grave, a pena é aumentada em um terço.

Se a gestante morre, a pena é duplicada.

Só vale para o aborto praticado por terceiro, com ou sem o consentimento da


gestante (artigos 125 e 126). A forma qualificada não é aplicada ao artigo 124 por
expressa disposição.

São hipóteses preterdolosas. Há dolo no antecedente e culpa no conseqüente.

Quem mata dolosamente uma gestante, sabendo que ela está grávida, responde por
homicídio doloso e aborto. Se houver desígnios autônomos as penas serão somadas.

3.3. Aborto Legal (artigo 128 do Código Penal)


Prevê duas hipóteses em que a provocação do aborto é permitida.

Trata-se de causas excludentes da ilicitude.

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DIREITO PENAL

3.3.1. Aborto necessário ou terapêutico


Requisitos:

• que seja feito por médico;

• que não haja outro meio para salvar a vida da gestante.

Não se exige risco atual, como no estado de necessidade. Ante a simples constatação
de que no futuro haverá perigo, poderá o aborto ser realizado desde logo. Havendo perigo
atual, o aborto pode ser praticado por qualquer pessoa, aplicando-se nesse caso o estado de
necessidade.

A expressão aborto eugênico ou aborto eugenésico se refere ao aborto feito em razão


de alguma anomalia ou doença do feto. Exemplo: Síndrome de Dawn. Esse aborto não é
permitido em nosso ordenamento jurídico. Atualmente, por exames, é possível se constatar
certas doenças no feto que o levarão à morte, logo que se corte o cordão umbilical
(ausência de um órgão vital). Nesse caso, será excepcionalmente possível o aborto, mas
com prévia autorização judicial.

3.3.2. Aborto sentimental


Requisitos:

• que seja feito por médico;

• que a gravidez tenha resultado de estupro;

• que haja o consentimento da gestante ou, se incapaz, de seu representante legal.

Não se exige a autorização judicial. Na prática, basta o boletim de ocorrência.

O médico não responderá por crime se a gestante mentir, dizendo que foi estuprada,
só para viabilizar o aborto. A gestante, todavia, responderá por aborto e por comunicação
falsa de crime (artigo 340 Código Penal).

Pergunta: É permitido o aborto quando a gravidez resultar de crime de atentado


violento ao pudor?

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DIREITO PENAL

Resposta: A doutrina é unânime em dizer que sim. Aplica-se a analogia in bonam


partem (em favor do causador do aborto). Assim como o estupro, o atentado violento ao
pudor é cometido com violência ou grave ameaça e ambos atingem o mesmo bem jurídico,
que é a liberdade sexual.

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MÓDULO VII

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Benefício em Espécie
Benefícios Devidos aos Dependentes dos Segurados

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Benefício em Espécie

Benefícios Devidos aos Dependentes dos Segurados

1. PENSÃO POR MORTE

Esse benefício encontra-se disciplinado nos arts. 74 a 79 da Lei n. 8.213/91.

Tem por objetivo suprir as necessidades dos dependentes do segurado por ocasião
do óbito deste.

2. REQUISITOS

2.1. Condição de Dependente


Importante ressaltar que temos três classes de dependentes:

• 1.ª classe: esposo/esposa, companheiro/companheira, filhos;

• 2.ª classe: pais;

• 3.ª classe: irmãos.

Os dependentes de 2.ª e 3.ª classes têm de comprovar dependência econômica, ainda


que parcial, com o segurado.

Os dependentes da mesma classe dividem o valor da pensão.

Por fim, os dependentes da classe superior excluem os da classe inferior.

2.2. Carência
Não há carência para esse benefício.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

2.3. Morte do Segurado


Pode ser morte real ou presumida.

A morte presumida é uma situação que a lei equipara à morte real. Ex: ausência,
caso a pessoa se encontrasse em local onde ocorreu um desastre, como incêndio ou
desabamento de prédio. Esses indícios são equiparados à morte. Quando a morte for
presumida, a pensão é temporária. Só é definitiva quando houver morte real (enquanto não
houver atestado de óbito, não é definitiva).

Caso os dependentes estejam recebendo a pensão por morte e o segurado venha a


aparecer, o INSS não poderá receber de volta o valor pago aos dependentes, exceto se
houver fraude; nesse caso, o segurado deverá restituir ao INSS o que recebeu.

3. TERMO INICIAL

O termo inicial é contado da data do óbito, da declaração judicial de ausência ou da


data em que ocorreu o sinistro (de incêndio, desabamento, inundação – que levou à
conclusão de que a pessoa pereceu), se os dependentes requererem em até 30 dias após a
ocorrência de um desses fatos. Se o(s) dependente(s) requerer(em) após o 30.º dia, o termo
inicial será contado da data do requerimento.

É importante que os dependentes de 2.ª ou 3.ª classes requeiram o benefício dentro


dos 30 dias após a ocorrência do fato, pois, caso demorem muito para pleitear o benefício,
ficará difícil provar a dependência econômica.

Normalmente, o INSS não concede o benefício aos dependentes de 2.ª ou 3.ª classes
antes dos 30 dias da ocorrência do fato, pois esse é o prazo para a 1.ª classe receber (a
partir do óbito). Assim, o INSS não corre o risco de sofrer prejuízo.

Muitas vezes, o INSS exige que os dependentes de 2.ª classe demonstrem que
não há dependentes de 1.ª classe.

4. VALOR DO BENEFÍCIO

Será calculado em 100% do valor a que o segurado faria jus se, ao invés de morrer,
ele tivesse se aposentado por invalidez. É, portanto, o valor da aposentadoria por invalidez.

O cálculo da aposentadoria por invalidez é feito com base em 80% dos maiores
salários de contribuição, compreendidos entre o mês anterior ao requerimento do benefício
e julho de 1994. Os valores encontrados devem ser somados, atualizados e divididos pelo
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

número de contribuições utilizadas no cálculo. A aposentadoria por invalidez será


equivalente a 100% do valor encontrado.

Importante ressaltar que, se o segurado recebia mais que o teto, o salário de


contribuição será estipulado com base no teto.

Caso o segurado tenha menos que 144 contribuições, utilizam-se todas as


contribuições, e não 80% dos maiores salários de contribuição.

Se houver mais de um dependente da mesma classe, deverá ser dividido o valor da


pensão.

O salário de benefício será dividido pelo número de dependentes. Quando um dos


dependentes perder a condição de dependente, sua cota parte será dividida entre os outros
dependentes (essa cota parte não se extingue em favor da Previdência, como ocorria
antigamente). Quando o último dependente perder essa condição, acaba o benefício.

Se o segurado, quando morreu, já estava aposentado, o valor da pensão por morte


será de 100% do valor do beneficio que ele já recebia.

Caso haja dependentes de unidades familiares diferentes, cada unidade familiar


receberá no mínimo um salário mínimo.

Quando os dependentes de 1.ª classe perderem essa condição, os dependentes de 2.ª


e 3.ª classes não terão mais direito a esse benefício.

Se o benefício se extinguir para os dependentes da 2.ª ou 3.ª classes, e os da 1.ª


vierem a se habilitar, estes terão direito, pois a dependência econômica é presumida
(enquanto eles preencherem os requisitos para serem dependentes, terão direito).

5. TERMO FINAL

O termo final será quando o último dependente com direito a pensão perder a
condição de dependente.

A pensão por morte pode ser cumulada com outros benefícios, exceto com outra
pensão por morte do cônjuge ou companheiro (nesses casos, tem-se que optar).

É permitido cumular, por exemplo: pensão de marido e de filho, se se conseguir


comprovar que dependia do filho; pensão de dois filhos. Mas a cumulação não pode
ultrapassar o teto previdenciário.

Se os regimes previdenciários forem diferentes, podem-se cumular benefícios de


dois maridos, mas o valor não poderá ser superior ao dos ministros do Supremo Tribunal
Federal (pois os dois valores vêm dos cofres públicos).
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_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

6. AUXÍLIO-RECLUSÃO

O benefício encontra-se disciplinado no art. 80 da Lei n. 8.213/91.

O princípio que deu origem a esse benefício é o de que a pena não pode passar da
pessoa do criminoso. Não pode, dessa forma, atingir a família do criminoso (art. 5.º, inc.
XLV, da CF).

O auxílio reclusão é pago aos dependentes do recluso.

6.1. Requisitos

6.1.1. Condição de dependente


A partir da Emenda Constitucional n. 20 (art. 13), quem possui direito a esse
beneficio são apenas os dependentes do segurado recluso de baixa renda.

É considerado de baixa renda o segurado que possui salário igual ou inferior a três
salários mínimos.

6.1.2. Carência
Não há período de carência para o benefício.

6.1.3. Detenção ou reclusão do segurado


Faz-se necessário que o segurado do INSS se encontre detido ou recluso em razão
da aplicação de sanção pela prática de ato ilícito.

Os dependentes do segurado, trimestralmente, terão que apresentar uma certidão


comprovando que o segurado continua detido ou recluso.

Não há necessidade do trânsito em julgado da sentença condenatória para que os


dependentes do segurado tenham direito ao benefício.

Caso o preso continue recebendo remuneração do seu trabalho (o que nunca ocorre
na prática), os dependentes não terão direito ao auxílio reclusão.

Se o preso tiver apenas filhos menores, o Ministério Público não só pode como deve
requerer o benefício.
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

6.2. Termo Inicial


O termo inicial do benefício é a data do efetivo recolhimento do segurado à prisão,
se for requerido até 30 dias da mesma; caso contrário, observar-se-á a data do
requerimento.

6.3. Valor do Benefício


O valor do benefício será calculado nos mesmos termos em que é calculada a
pensão por morte.

Primeiro, faz-se o cálculo do valor da aposentadoria por invalidez. Assim, 100%


desse valor será o auxílio-reclusão.

Caso o segurado seja aposentado, não terá direito ao auxílio-reclusão, pois os


dependentes continuarão a receber a aposentadoria.

Se o segurado estiver no período de graça, os dependentes terão direito ao benefício.

6.4. Termo Final

6.4.1. Morte do segurado


Nesse caso, os dependentes passam a receber pensão por morte.

6.4.2. Perda da condição de dependente


Quando os dependentes perdem essa condição, também o benefício chega a seu
termo.

6.4.3. Segurado solto


Quando o segurado é solto, cessa o benefício. Isso ocorrerá quando o segurado
cumprir a pena, for beneficiado com o regime aberto ou obtiver o livramento condicional.

Caso o segurado fuja da cadeia, cessará o benefício. Se for recapturado e durante o


período da fuga não tiver perdido a condição de segurado, os dependentes terão direito ao
benefício. Se perdeu, contudo, a condição de segurado, os dependentes não terão direito ao
auxílio-reclusão.

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_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Vejamos alguns exemplos:

12 meses

|_____________|__________________|________________|___________
Preso Fugiu Recapturado

12 meses = período de graça. Os dependentes terão direito ao auxílio-reclusão, pois ele foi
recapturado dentro do período de graça.

12 meses

|_____________|________________________________|_______________
Preso Fugiu Recapturado
Os dependentes não terão mais direito, pois o segurado foi recapturado após o
período de graça, que é de 12 meses.

Importante ressaltar que, se durante o período em que esteve foragido o segurado


contribuiu, essa contribuição valerá para continuar segurado. Nesse caso, ao ser novamente
preso, os dependentes terão direito ao auxílio reclusão, desde que o novo trabalho do
segurado não tenha salário superior a três salários mínimos.

Ressalta-se, por fim, que a cota-parte de quem deixar de ser dependente transfere-se
aos demais dependentes.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XIII

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Processo de Execução
Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Processo de Execução

Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente

Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. DEPÓSITO – AVALIAÇÃO – ALIENAÇÃO ANTECIPADA DOS BENS

1.1. Depósito de Bens Penhorados


Depósito é o ato pelo qual alguém se incumbe da conservação e guarda dos bens
empenhados. Ocorre a transmissão da posse direta de tais bens, sendo parte constitutiva da
penhora.

Não podemos confundir o depósito do Código Civil (art. 627) com o depósito
processual, pois este tem caráter executivo e é público, não tendo qualquer natureza
contratual. Aqui temos uma relação entre o depositário e o Estado, que se torna perfeita no
momento em que ocorrem a nomeação e a aceitação da parte.

Depositário é auxiliar do juiz, sendo sua longa manus. Conforme dispõe o artigo
139 do Código de Processo Civil, passa a ser um auxiliar do juiz. Aliás, o dispositivo
processual faz menção expressa ao depositário, para não restar dúvida da inexistência
meramente contratual. A partir daí, surgem deveres, direitos e responsabilidades.

No processo de execução, de preferência, deve ser depositário o próprio devedor.


Porém tal munus pode recair a um terceiro qualquer, inclusive ao credor.

O princípio adotado está no artigo 666 do Código de Processo Civil, que estabelece
o menor sacrifício, devendo, em princípio, o devedor tornar-se depositário. A
jurisprudência oscila na hipótese de o executado recusar o encargo sem justificativa,
havendo julgados do Superior Tribunal de Justiça entendendo que ele pode ser compelido,
e outros entendendo que ele não pode ser compelido a aceitar o munus.

Por outro lado, o credor pode impugnar a designação do devedor como depositário,
desde que fundamente tal discordância. O juiz deve, com base no artigo 620 do Código de
Processo Civil, estabelecer a forma menos gravosa ao devedor.

São credores preferenciais (art. 666):

• o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, os bancos estaduais ou até os


bancos particulares, quando a penhora recair em dinheiro, títulos de crédito,
metais preciosos e pedras;

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

• depositário judicial, se a constrição recair sobre móveis ou imóveis urbanos;

• depositário particular, quando se tratar de bens de quaisquer outras espécies.


Aqui, o juiz pode e deve acolher sugestões das partes.

Em algumas situações onerosas é de bom alvitre que o credor se torne depositário,


sendo, nessa hipótese, parte e longa manus do juiz. O ideal, porém, é que o próprio
devedor seja nomeado depositário, porque tem interesse na conservação do bem.

1.2. Obrigações do Depositário


De acordo com o artigo 148 do Código de Processo Civil, a guarda e a conservação
dos bens penhorados são confiadas ao depositário, salvo se a lei dispuser de outro modo.

O depositário não pode usar nem fruir da coisa conforme desejar. Aliás, o artigo835
do Código Civil expressamente determina que o depositário responda pelos prejuízos a que
der causa por dolo ou culpa, subjetivamente com base na lex aquilia (art. 186 do Código
Civil). O credor ou terceiro interessado terá, portanto, legitimidade ativa para propor ação
reparatória contra o depositário ou contra o Estado, que é objetivamente o responsável,
conforme artigo 37, § 6.º, da Constituição Federal. Aliás, o Estado não só é responsável
quando o depositário for público, mas também quando for particular, já que o munus
exercido por ele é público. Alguns doutrinadores entendem que é possível a exclusão
estatal, outros entendem que não, no caso de a escolha ser da parte, o que não parece a
melhor posição.

Muitas vezes, o depositário tem o dever de administrar, por exemplo, em caso de


estabelecimentos comerciais e industriais ou mesmo empresas que são concessionárias de
serviços públicos. Aqui, os poderes do depositário são muito amplos, considerada toda a
atividade de gestor. Pode ser, inclusive, responsável pela contratação e fiscalização de
pessoas. Para isso, o depositário responde in vigilando e in eligendo na hipótese de dano.
Se a contratação for expressamente autorizada pelo juiz, o depositário será responsável
pela fiscalização da atuação do preposto.

O depositário tem o dever de entregar o bem depositado assim que for determinado
pelo juiz, sob pena de se tornar infiel, gerando até a possibilidade de prisão, conforme
artigo 5.º, inc. LXVII, da Constituição Federal.

De acordo com a Súmula n. 619 do Supremo Tribunal Federal, “A prisão do


depositário judicial pode ser decretada no próprio processo em que se constitui o encargo,
independentemente da propositura de ação de deposito”, podendo o juiz determinar a
entrega do bem no próprio processo de execução. Não há ofensa ao devido processo legal.
Ressalte-se que o juiz deve ter o cuidado de ouvir o depositário e produzir prova na própria
execução.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Ademais, a não entrega do bem pelo depositário caracteriza crime, conforme o


artigo 168, § 1.º, e artigo 178, ambos do Código Penal.

A lavratura do termo de depósito é fundamental, pois, apesar de não ser nula a


penhora, proíbe a imposição dos deveres e penas ao depositário. A advertência ao
depositário tem de ser expressa quanto aos seus direitos e obrigações.

O depositário é o titular de ação possessória contra terceiros, inclusive do próprio


titular, pois é o possuidor direto da coisa.

O depositário deve receber rendimentos e frutos da coisa e prestar contas ao juiz. As


partes, credor e devedor, podem ajuizar prestação de contas contra o depositário.

1.3. Direitos do Depositário


O grande direito do depositário é ser remunerado pelo seu munus. Caso o
depositário seja público, haverá o pagamento por meio de uma tabela oficial de custas e
emolumentos. Se o depositário for particular, o juiz fixará o pagamento de acordo com
todo o trabalho que teve o depositário (art. 173 do Código Civil).

Caso o devedor fique como depositário, não deverá ser remunerado, até porque
estará sendo beneficiado por isso.

1.4. Avaliação dos Bens


Trata-se de uma perícia em que será definido o valor dos bens penhorados, visando
à expropriação de tais bens. É o passo seguinte à decisão dos embargos à execução. Isso
porque o processo já foi decidido e o ato seguinte será o da expropriação (art. 680 do
Código de Processo Civil).

De acordo com o artigo 680 do Código de Processo Civil, o juiz nomeará perito para
estimar os bens penhorados se não houver na comarca avaliador oficial. O laudo deverá ser
apresentado em dez dias.

O juiz pode dispensar a avaliação:

•Se o credor aceitar a estimativa feita pelo devedor na nomeação da penhora (art.
481 do Código de Processo Civil). Obviamente deverá ocorrer uma atualização nos
valores.

• Se for título com cotação oficial em bolsa.

•Sendo bens de pequeno valor, em que o custo do trabalho é mais oneroso que o
próprio valor da coisa.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O laudo do perito, conforme determina o artigo 681 do Código de Processo Civil,


como já dissemos, será apresentado em dez dias e conterá a descrição dos bens,
características e indicação do estado em que se encontram. Indicará, ainda, o valor dos
bens. Também deverá indicar todos os critérios que utilizou para a avaliação.

Haverá em seqüência o contraditório, já que as partes serão instadas a se manifestar


sobre a avaliação. As partes, portanto, controlam e apresentam eventuais falhas do laudo.
Em seguida, o juiz decidirá fundamentadamente, podendo a parte agravar da decisão.

De acordo com o artigo 683 do Código de Processo Civil, a avaliação será repetida:

• quando houver erro ou dolo do avaliador;

• quando houver mudança no valor dos bens;

• quando houver dúvida sobre o valor atribuído ao bem.

1.5. Alienação Antecipada dos Bens Penhorados


A alienação pode ser requerida pelo credor, pelo devedor ou pelo depositário,
sempre motivadamente. O juiz deverá se ater ao princípio da máxima utilidade da
execução e do menor sacrifício do devedor. Obviamente, o juiz deve sempre ouvir a parte
contrária antes, devendo fundamentar a decisão.

É importante ressaltar que a venda antecipada não é cautelar. Antecipa-se a


arrematação da coisa, visando à obtenção de dinheiro para satisfação do crédito, que será
depositado em guia judicial, não sendo entregue ao credor.

2. ALIENAÇÃO JUDICIAL (ARREMATAÇÃO)

2.1. Expropriação dos Bens Penhorados


Temos aqui a transferência forçada dos bens do devedor, visando à satisfação do
credor exeqüente. É muito raro a penhora recair sobre dinheiro, sendo, por isso, necessária
a expropriação dos bens do devedor.

O artigo 647 do Código de Processo Civil prevê três casos de expropriação:

• alienação de bens do devedor;

• adjudicação em favor do credor;

• usufruto de imóvel ou empresa.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Enquanto, na arrematação, a satisfação é prorrogada para momento posterior, no


usufruto e na adjudicação, a satisfação é instantânea. A alienação e a adjudicação geram
uma expropriação total da coisa. O usufruto é uma expropriação parcial, já que só os frutos
e os rendimentos são expropriados.

2.2. Natureza da Alienação Judicial


A alienação judicial tem natureza pública, sendo um ato de império do Estado, de
caráter executivo. O órgão da jurisdição transfere, a título oneroso, o direito do executado
para terceiro.

Temos um ato público e de coerção, independentemente da vontade do devedor. O


aspecto contratual é subsidiário e ocorre na manifestação expressa de vontade do
arrematante. O negócio é processual, não tem qualquer relação com compra e venda.

2.3. Conceito de Alienação Judicial


Como já dissemos, a alienação judicial é uma coerção estatal executiva, na qual os
bens penhorados são transferidos por licitação, o que está a cargo do juízo da execução.
Visa, na realidade, à transubstanciação da coisa em dinheiro para satisfação do credor, por
meio da obtenção do melhor peço, com a transferência para terceiro.

2.4. Espécies de Hasta Pública


Temos duas espécies de hasta pública:

•Leilão: é a hasta pública de todos os bens móveis, exceção feita aos títulos de bolsa
de valores (art. 704 do Código de Processo Civil).

Praça: é a hasta pública de todos os bens imóveis (art. 697 do Código de Processo

Civil), excepcionando os alienados antecipadamente.

É bom observar que o leilão é dirigido por leiloeiro público, escolhido pelo credor,
enquanto a praça é dirigida por oficial porteiro no átrio do Fórum. Na penhora de ações,
cuja competência é da Bolsa de Valores, sua arrematação se fará por intermédio de
corretores.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

2.5. Atos Preparatórios da Arrematação


Temos os seguintes atos:

• Avaliação.

•Publicação de editais: visa garantir publicidade à hasta pública, para que um maior
número de pessoas possam se interessar em arrematar os bens. Sua falta gera
nulidade absoluta (art. 694, par. ún., do Código de Processo Civil). O edital deverá
conter a descrição detalhada dos bens, a localização e o valor, além do dia, hora e
local da hasta pública. Será afixado no átrio do Fórum, onde ficam os editais, e
publicado em jornal de ampla circulação, pelo menos cinco dias antes da data
convencionada. O credor beneficiário da gratuidade da Justiça pode publicar no
órgão oficial. Os bens inferiores a vinte salários mínimos não precisam de
publicação de edital.

•Intimações: o devedor e todos os credores serão intimados via AR(aviso de


recebimento).

•Intimação do exeqüente: deve, pelo menos, ser intimado a retirar os editais, não
precisando ser intimação específica. Só quando não houver edital é que deverá ser
especificamente intimado.

2.6. Legitimidade para Arrematar


Todos os que estão na livre administração dos seus bens são legitimados para
arrematar. Não podem arrematar todos aqueles que têm responsabilidades e guardas de
bens que lhe são confiados, por exemplo, os tutores e os curadores, os mandatários em
bens que devem administrar e alienar, além de, obviamente, o juiz, o escrivão, o
depositário, o avaliador e o oficial de justiça (art. 690, § 1.º, incs. I, II e III, do Código de
Processo Civil).

Todos aqueles que não honraram os compromissos no procedimento licitatório de


arrematação também estão vedados (art. 695, § 3.º, do Código de Processo Civil).

3. ADJUDICAÇÃO – USUFRUTO EXECUTIVO – ENTREGA DO


DINHEIRO

3.1. Adjudicação
É a prerrogativa em que o exeqüente tem de adquirir o bem penhorado, nas
hipóteses em que nenhum dos interessados tenha procedido à arrematação em hasta
pública.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

A adjudicação não poderá ser feita em valor inferior ao da avaliação, e o credor


abaterá o montante do seu crédito, portanto, o credor, mediante o instituto da compensação,
poderá ter crédito ou débito em relação ao bem. O bem se transfere in natura ao credor.

3.2. Legitimidade para Adjudicar


Têm legitimidade para adjudicar:

• o exeqüente;

•o credor com garantia real: são os credores hipotecários, no caso da adjudicação de


imóveis- pode também a adjudicação recair sobre móveis, pois aplicamos por
analogia ao credor pignoratício;

• outros credores com penhora.

3.3. Condições Objetivas da Adjudicação


•Hasta pública infrutífera: deve ter ocorrido leilão ou praça. Com todos os
requisitos de validade, porém, sem o comparecimento de licitante interessado em
arrematar o bem pelo valor mínimo exigido.

•Concurso de credores: há critérios para resolver o concurso. Em primeiro lugar,


aquele que oferecer maior valor ao bem. Na igualdade de valor oferecido, o detentor
de crédito privilegiado. Tendo os credores o mesmo privilégio (dois créditos
trabalhistas), terá preferência aquele que ajuizou a execução em que ocorreu a
primeira penhora sobre o bem (temos a preferência processual atribuída pela
penhora). Dessa decisão, cabe agravo de instrumento. Alguns chegam a falar que
caberia apelação, já que o ato seria uma sentença.

• Valor não inferior ao da avaliação.

• Desnecessidade da exibição da oferta.

• Adjudicação e garantia real anterior.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

4. REMIÇÃO DA EXECUÇÃO E REMIÇÃO DOS BENS – SUSPENSÃO E


EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO

4.1. Remição da Execução


O artigo 651 do Código de Processo Civil determina: “antes de arrematados ou
adjudicados os bens, pode o devedor, a todo o tempo, remir a execução, pagando ou
consignando a importância da dívida, mais juros, custas e honorários advocatícios”.

Enquanto o credor pode pagar o preço da avaliação, o devedor terá de pagar o total
do crédito, objeto da execução, incluindo todos os acessórios. O devedor, quando citado, é
chamado a cumprir sua obrigação, e, não o fazendo 24 horas depois de citado, começam os
meios coercitivos. Decorrido esse tempo, também poderá pagar, só que deverá arcar com
as conseqüências da mora. Logo, deverá pagar os honorários advocatícios, os juros, a
correção monetária e o principal.

4.2. Legitimidade
• devedor;

•qualquer terceiro que se proponha a quitar a dívida, conforme expressamente


preceitua o artigo 630 e ss. do Código de Processo Civil.

É bom observar que tal ato só pode ser praticado antes da arrematação ou
adjudicação. Uma vez assinado o auto, torna-se impossível a remissão da execução.

4.3. Remição dos Bens


É o resgate dos bens penhorados, por pessoas próximas ao devedor na execução, por
quantia certa, contra devedor solvente, ou dos bens arrecadados no processo de
insolvência.

Visa, mais uma vez, garantir o menor sacrifício do devedor a que se refere o artigo
620 do Código de Processo Civil, já que qualquer dos familiares do executado tem poder
de impedir que os bens sejam alienados a estranhos. Os familiares podem depositar o valor
estimado dos bens, tornando sem efeito a adjudicação ou arrematação.

Conforme o artigo 787 do Código de Processo Civil, tal faculdade recai ao cônjuge,
aos descendentes e aos ascendentes do devedor.

Como já vimos, o próprio executado não pode remir seus bens, a não ser que pague
a integralidade do débito. O rol do artigo 787 do Código de Processo Civil é taxativo, e a
remição é uma figura excepcional. É óbvio que o companheiro ou a companheira também
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

tem tal prerrogativa, não porque o rol seja exemplificativo, mas sim porque o artigo 226, §
3.º, da Constituição Federal dá essa prerrogativa.

Entre as condições objetivas para remição temos o direito que deverá ser exercido
entre a arrematação dos bens em hasta pública e a assinatura do auto, e nas demais
hipóteses do artigo 788 do Código de Processo Civil. Antes da arrematação ou adjudicação,
não é possível a remição de bens.

O depósito do valor deverá ser feito junto com o pedido de remição. A pessoa
legitimada a remir deve acompanhar o processo expropriatório e não será intimada para
remição. Não se pode esquecer de que a remição pode ser parcial. Porém, se todos os bens
forem arrematados ou adjudicados, a remição só poderá ser total.

Em igualdade de oferta, sempre terá preferência o cônjuge e, depois, o ascendente e


o descendente.

A remição será formalizada por sentença, conforme o artigo 790 do Código de


Processo Civil. Parte da doutrina diz que é uma decisão interlocutória, passível de agravo.
Outros falam em sentença e, portanto, em apelação. O ideal é aplicar o princípio da
fungibilidade, admitindo tanto o agravo quanto a apelação. Muitas decisões do Superior
Tribunal de Justiça entendem que é apelação, mas admite-se o agravo.

4.4. Suspensão e Extinção da Execução


Por uma questão sistemática, a suspensão e a extinção da execução serão abordadas
depois das demais formas de execução, comparativamente às execuções especiais, também
adiante, a serem analisadas.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XIII

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Dos Sujeitos Processuais

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Dos Sujeitos Processuais

Prof. Fernando Capez

1. DOS SUJEITOS PROCESSUAIS

Os sujeitos processuais dividem-se em principais e acessórios. Principais ou


essenciais são aqueles cuja ausência torna impossível a existência da relação jurídico-
processual: o juiz e as partes. O juiz é o sujeito processual imparcial e as partes são os
sujeitos processuais parciais, representados pela acusação, que é o Ministério Público ou o
querelante, e pela defesa, que é o réu ou o querelado. Os sujeitos acessórios ou secundários
não são indispensáveis ao processo, mas nele intervêm de alguma forma: são os órgãos
auxiliares da justiça, o assistente de acusação e os terceiros (interessados e não-
interessados).

O rol de terceiros interessados consta do artigo 31 do Código de Processo Penal. Os


terceiros não-interessados são as testemunhas, os peritos, o tradutor e o intérprete.

1.1. Juiz
O juiz exerce o papel de maior relevo no processo. A lei confere-lhe os poderes
necessários para zelar pelo processo e solucionar a lide em nome do Estado.

Vedadas que estão, em matéria penal, a autotutela e a autocomposição, exceção feita


em casos restritos, o Estado assume o dever de prestar jurisdição, sempre que presentes
determinadas condições, sendo defeso ao juiz, diante de um caso complexo ou incômodo,
eximir-se de sentenciar (artigo 5.º, inciso XXXV, da Constituição Federal). Trata-se do
princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional.

Para desempenhar suas funções, o Estado confere ao juiz poderes que são na
verdade instrumentos para que o juiz possa julgar (artigo 251 do Código de Processo
Penal). Esses poderes são:

•Poderes de polícia ou administrativos: representa o poder de praticar atos para


manter a ordem e o decoro no decorrer do processo. É o que ocorre, por exemplo,
nas hipóteses dos artigos 792, § 1.º, 794 e 497, todos do Código de Processo Penal.

• Poderes jurisdicionais: podem ser:

− Poderes-meios: são os poderes ordinatórios consistentes nos atos de condução


do processo até a sentença (exemplo: intimar o réu) e poderes instrutórios
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

destinados a colher material para a formação da sua convicção, podendo


determinar até de ofício a realização de diligências (exemplo: Código de
Processo Penal, artigos 209, 407, 502 etc.).

− Poderes-fins: são os atos de decisão e de execução (decretação de prisão


provisória, concessão de liberdade provisória, arbitramento e concessão de
fiança, extinção da punibilidade do agente, absolvição ou condenação).

O juiz penal exerce, ainda, funções anômalas, tais como:

•Fiscalizar o princípio da obrigatoriedade da ação penal (artigo 28 do Código de


Processo Penal);

•Requisitar a instauração de inquérito (artigo 5.º, inciso II, do Código de Processo


Penal), bem como arquivá-lo;

Receber a notitia criminis (artigo 39 do Código de Processo Penal) e levá-la ao



Ministério Público (artigo 40 do Código de Processo Penal);

Para tanto, são necessários alguns pressupostos processuais subjetivos relativos à


função de juiz. São eles:

•Investidura: a jurisdição só pode ser exercida por quem tenha sido regularmente
investido na função de juiz, atualmente pela aprovação em concurso público de
provas e títulos, observando-se nas nomeações a ordem de classificação (artigo 93,
inciso I, da Constituição Federal).

•Imparcialidade: o juiz deve estar, no processo, acima e eqüidistante das partes,


super et inter partes. O juiz não pode ter qualquer interesse na solução da lide. Se
presentes algumas das causas de suspeição (artigo 254 do Código de Processo
Penal), impedimento (artigo 252 do Código de Processo Penal) ou
incompatibilidade (artigo 253 do Código de Processo Penal), o juiz deverá ser
afastado do processo. Os casos de impedimento são mais graves e acarretam a
inexistência do ato realizado pelo juiz impedido. Na suspeição, o juiz tem interesse
no resultado do processo, assim a suspeição gera a nulidade absoluta do processo.
Para a jurisprudência e parte da doutrina, o rol que trata do impedimento e da
suspeição, por ser restritivo de direitos, é um rol taxativo que não pode ser
ampliado. No processo penal, o juiz também pode declinar de sua atuação por
motivo de foro íntimo.

• Competência: o juiz deve ser o competente para julgar a lide, segundo as regras
de competência previstas na Constituição Federal e em leis infraconstitucionais.

1.2. Autor

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Autor, no processo penal, é o Ministério Público, no caso da ação penal pública, e o


querelante (ofendido ou seu representante legal), no caso de ação penal privada. A ação
penal privada pode ser: exclusivamente privada; ou subsidiária da pública no caso de
inércia do Ministério Público.

O Ministério Público atuará sempre no processo penal, seja como autor na ação
penal pública, seja como custus legis, isto é, fiscal da lei, na ação penal privada. Mesmo
enquanto autor da ação penal pública, o Ministério Público não deixa de atuar como fiscal
da lei, em razão dos interesses públicos que representa.

1.2.1. Ministério Público


“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis” (artigo 127 da Constituição Federal).

A Constituição Federal, no artigo 129, inciso I, atribuiu ao Ministério Público, além


de outras, a função de propor a ação penal pública com exclusividade, com exceção apenas
no artigo 5.º, inciso LIX, ao conferir ao ofendido a titularidade da ação penal privada
subsidiária da pública, em caso de desídia do membro do parquet.

As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira


(artigo 129, § 2.º, da Constituição Federal). Com isso, a Carta Magna vedou a possibilidade
do promotor ad hoc, isto é, a nomeação de uma pessoa que faça às vezes do promotor para
algum ato processual.

O Ministério Público tem natureza jurídica de parte no processo penal, mas não se
trata de uma parte qualquer, pois age motivado por interesses públicos. Por isso, possui
algumas peculiaridades, como a possibilidade de impetrar habeas corpus e de recorrer em
favor do réu.

Vale lembrar ainda que, conforme dispõe o artigo 68 do Código de Processo Penal,
o Ministério Público também tem legitimidade para promover a ação civil ex delicto em
nome do ofendido se este for pobre. Nesse caso, o Ministério Público atua como substituto
processual.

A atuação do Ministério Público deve ser imparcial, e para que isso seja possível a
Constituição Federal assegura ao órgão como um todo e aos seus membros algumas
garantias. Ao Ministério Público garante: estruturação em carreira, autonomia
administrativa e orçamentária, limitações à liberdade do chefe do executivo para nomeação
e destituição do procurador-geral, vedação de promotores ad hoc etc. Aos membros a
Constituição Federal garante: ingresso na carreira mediante concurso público de provas e
títulos, vitaliciedade, inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos etc.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Seus membros estão sujeitos à mesma disciplina dos magistrados quanto às


suspeições e impedimentos, no que lhes for aplicável (artigo 258 do Código de Processo
Penal).

São princípios do Ministério Público:

• Unidade: os membros de cada Ministério Público integram um só órgão.

•Indivisibilidade: seus membros podem ser substituídos por outros no curso do


processo, pois funcionam em nome da instituição.

•Independência funcional: seus membros não se sujeitam às ordens de quem quer


que seja, nem do procurador-geral. Também não estão subordinados a nenhum dos
poderes. O princípio não exclui, entretanto, a subordinação administrativa do órgão
à autoridade que lhe for, dentro da instituição, hierarquicamente superior,
sujeitando-se a fiscalizações, correições, punições etc.

1.2.2. Querelante
Em regra a acusação é feita pelo órgão do Ministério Público.

Excepcionalmente, a acusação será feita pelo ofendido, que é o sujeito passivo da


infração penal, nas seguintes hipóteses:

• ação penal privada subsidiária da pública: quando houver desídia do membro


do Ministério Público (artigo 29 do Código de Processo Penal) ;

• ação penal exclusivamente privada: nos casos previstos na lei penal.

1.3. Acusado
O acusado é aquele contra quem se dirige a pretensão punitiva estatal. É o sujeito
passivo da relação jurídico-processual.

O acusado deve ser identificado com o nome e outros qualificativos (prenome,


estado civil, profissão, filiação, apelido, residência e idade). O Código de Processo Penal,
entretanto, permite a propositura da ação penal somente com a descrição física do
indivíduo quando impossível sua identificação por seu verdadeiro nome (artigo 259 do
Código de Processo Penal). Descobrindo-se o verdadeiro nome do acusado, a correção da
irregularidade pode ser feita a qualquer tempo (inclusive após o trânsito em julgado) por
simples termo nos autos.

É necessário que o acusado tenha capacidade:

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

• “legitimatio ad causam”: deve haver coincidência entre a pessoa apontada na


peça inicial como o autor do fato e o suspeito da prática do crime, indicado no
inquérito ou nas peças de informação;

• “legitimatio ad processum”: é a capacidade de estar em juízo, que no processo


penal advém com a idade de 18 anos. Ao amental maior de 18 anos poderá ao
final do processo ser imposta medida de segurança.

Não podem ser acusadas as pessoas que dispõem de imunidade parlamentar ou


diplomática.

A Constituição Federal prevê uma série de garantias ao acusado no processo penal,


entre as quais:

• Devido processo legal (artigo 5.º, inciso LIV, da Constituição Federal).

•Contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (artigo 5.º,
inciso LV, da Constituição Federal). A ampla defesa compreende a defesa técnica,
exercida por profissional habilitado, e a autodefesa, manifestada no interrogatório,
no direito de audiência com o juiz, possibilidade de interpor recurso etc.
Observação: o acusado poderá, sem o defensor: impetrar habeas corpus, interpor
recurso (salvo algumas exceções), promover revisão criminal, pagar fiança arbitrada
pelo juiz e argüir suspeição.

•Direito de estar em juízo, devendo para tanto ser regularmente citado. Sendo citado,
o acusado poderá ou não comparecer em juízo, conforme sua conveniência. Poderá
até utilizar sua ausência como meio de defesa. Há casos, entretanto, em que a
presença do acusado é obrigatória, como nos crimes inafiançáveis da competência
do Tribunal do Júri, cujo julgamento não se realiza à revelia (artigo 451, § 1.º, do
Código de Processo Penal). Há também outros atos que reclamam a presença do
acusado. “Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório,
reconhecimento ou qualquer outro ato que sem ele não possa ser realizado, a
autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença” (artigo 260 do Código de
Processo Penal). Quanto ao interrogatório vale a seguinte observação: o réu pode
calar-se quanto aos fatos, mas deve comparecer para ser qualificado.

•Direito à defesa técnica. “O preso será informado de seus direitos, entre os quais o
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”
(artigo 5.º, inciso LXIII, da Constituição Federal). “Nenhum acusado, ainda que
ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor” (artigo 261 do
Código de Processo Penal). Se o réu não tiver advogado constituído, o juiz deverá
nomear um. A ausência de defesa técnica gera nulidade absoluta. A defesa deficiente
poderá gerar nulidade, se houver demonstração de prejuízo para o réu.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

• Direito de permanecer em silêncio.

• Direito à integridade física e moral.

A Constituição Federal assegura ao acusado muitos outros direitos em seu artigo 5.º:

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com


seus filhos durante o período de amamentação;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença


penal condenatória;

LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo


nas hipóteses previstas em lei;

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar
ou crime propriamente militar, definidos em lei;

LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados


imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer


calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por
seu interrogatório policial;

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos;

LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que
ficar preso além do tempo fixado na sentença;
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Além desses, outros dispositivos da Constituição Federal dispõem sobre direitos


individuais (artigo 5.º, § 2.º, da Constituição Federal).

A Constituição Federal previu a possibilidade de a pessoa jurídica ser o sujeito


passivo da infração penal nos casos de crime contra a economia popular, contra a ordem
econômica e financeira e nas condutas lesivas ao meio ambiente.

1.4. Defensor
O defensor não é sujeito processual. O defensor age em nome e nos interesses do
acusado. Exerce a defesa técnica do acusado, que é tão importante e indisponível que
poderá ser exercida ainda que contra a vontade do representado ou mesmo na sua ausência.
No processo civil, o contraditório se designa pelo binômio “ciência necessária e
participação possível”. No processo penal o contraditório deve ser real e efetivo, ou seja,
exige-se no processo penal “ciência e participação necessárias”.

A ampla defesa, no processo penal, constitui-se de:

• autodefesa (dividida em dois aspectos: direito de presença e direito de audiência);

•defesa técnica, desempenhada por pessoa legalmente habilitada, que é o advogado


(artigo 133 da Constituição Federal).

Pelos motivos já expostos, a defesa técnica é indispensável. A autodefesa,


entretanto, poderá ser dispensada pelo réu (nunca pelo juiz), o que caracterizará a revelia.

O Código de Processo Penal utiliza as seguintes denominações para o representante


do réu:

•procurador: é o advogado constituído por procuração ou indicado pelo réu no


interrogatório, sendo que neste caso dispensa-se a procuração;

•defensor: é nomeado pelo juiz e pode ser dativo (para o réu que, podendo, não
constitui procurador) ou público (para o réu necessitado que não tem condições de
constituir procurador);

•curador: patrono do réu maior de 18 e menor de 21 anos, seja ele constituído ou


nomeado.

Se o acusado possuir habilitação técnica, ele mesmo poderá se defender.

Para a realização de alguns atos no processo, o defensor precisa de poderes


especiais, como poderes para argüir a suspeição, argüir falsidade de documento e
concordar com perdão do querelante.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Se o juiz nomear defensor, o réu, a qualquer tempo, poderá constituir outro ou pedir
a substituição do primeiro.

Se o réu tiver condições de pagar procurador e não constituir um, o juiz nomear-lhe-
á defensor dativo, mas nesse caso ser-lhe-ão cobrados honorários advocatícios, arbitrados
pelo juiz.

O defensor nomeado pelo juiz tem o dever de aceitar a função, só podendo recusá-la
por motivo justificado, sob pena de infração disciplinar.

Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, o defensor dativo não tem a


obrigação de recorrer, mas, se o acusado interpuser recurso, o defensor dativo tem a
obrigação de arrazoar o recurso.

A intimação do defensor dativo é feita pessoalmente e a intimação do defensor


constituído é feita por publicação na imprensa oficial. A Lei n. 1.060/50, artigo 5.º, § 5.º,
que trata da assistência judiciária, prevê o prazo em dobro para o defensor público. A
jurisprudência estende a prerrogativa do prazo em dobro ao defensor dativo e aos
advogados com convênio na Procuradoria-Geral do Estado.

Se existirem vários réus, o juiz deverá nomear um defensor para cada um deles, a
fim de evitar colidência das teses defensivas, o que ensejaria nulidade absoluta.

A falta do defensor, ainda que motivada, não implica adiamento do ato processual,
devendo o juiz nomear ao réu um substituto ad hoc para o ato.

Entendíamos desnecessária a nomeação de curador para o réu menor de 21 anos que


já tenha defensor dativo ou constituído (súmula n. 352 do Supremo Tribunal Federal). Com
a entrada em vigor do novo Código Civil, desapareceu a necessidade de curador para o
menor de 21 anos.

1.5. Assistente de Acusação

1.5.1. Introdução
O assistente de acusação é parte contingente, eventual, no processo.

Podem intervir no processo, como assistentes do Ministério Público, o ofendido ou


seu representante legal, ou na falta desses, o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do
ofendido (artigo 31 do Código de Processo Penal), sempre por intermédio de advogado
(artigo 268 do Código de Processo Penal). Entendemos que o rol do artigo 31 é taxativo,
mas não podemos deixar de mencionar que há autores que defendem a possibilidade do (a)
companheiro (a) ser assistente.

O Poder Público pode intervir como assistente da acusação?

8
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Para Tourinho, o Estado não pode intervir, pois o Ministério Público já defende o
interesse público. Não há necessidade de o Estado participar como assistente da acusação.

Para o Vicente Greco, é possível a intervenção do Estado, pois o Ministério Público,


quando atua, defende interesse público primário (sociedade), e o Estado, quando se habilita
como assistente da acusação, vai defender interesse público secundário (patrimonial).

Algumas leis, entretanto, permitem que a Administração Pública habilite-se como


assistente:

•O Decreto-lei n. 201/67, que trata da responsabilidade dos prefeitos, no artigo 2.º, §


1.º, prevê expressamente a possibilidade de a Administração Pública federal,
estadual e municipal atuar como assistente da acusação.

•No mesmo sentido, o artigo 26, parágrafo único, da Lei n. 7.492/86 (crimes contra
o sistema financeiro), permite a intervenção da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) e do Banco Central do Brasil em alguns casos.

•Artigo 80 do Código de Defesa do Consumidor - Lei n. 8.078/90 - nos crimes


previstos nessa lei.

O co-réu pode ser assistente de acusação? Exemplo: lesões corporais recíprocas.


Ambos são denunciados pelo mesmo delito. Serão ao mesmo tempo co-réus e vítimas. Um
deles poderá habilitar-se como assistente de acusação?

O artigo 270 do Código de Processo Penal dispõe que o co-réu no mesmo processo
não poderá intervir como assistente do Ministério Público, concluindo-se, portanto, pela
impossibilidade da intervenção do co-réu como assistente da acusação. A doutrina,
entretanto, observa a seguinte possibilidade: no processo, um deles é absolvido, o
Ministério Público conforma-se com a decisão e esta transita em julgado, enquanto o outro
é condenado e apela de sua decisão. Aquele que foi anteriormente absolvido
posteriormente pode intervir como assistente da acusação, pois não é mais co-réu.

1.5.2. Finalidade do assistente de acusação


Qual o interesse do assistente de acusação em ingressar no processo penal?

Para uma primeira corrente, dominante na doutrina e na jurisprudência, o assistente


tem o interesse de auxiliar o Ministério Público na busca da realização da justiça,
reforçando a acusação, e de maneira secundária garantir a reparação do dano causado pelo
ilícito. Essa é a posição de José Frederico Marques.

Para uma segunda corrente, perfilhada por Tourinho, a intervenção do assistente


fundamenta-se exclusivamente no interesse em obter uma sentença penal condenatória,

9
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL

título executivo judicial a ser executado no juízo cível, reparando os danos decorrentes do
ato ilícito. É a posição que adotamos.

A solução de muitas questões envolvendo o tema assistência dependerá da opção em


se adotar a primeira ou a segunda corrente.

Por exemplo: se no processo foi aplicado ao réu o sursis na sentença condenatória e


o Ministério Público se conforma, o assistente de acusação poderá recorrer, interpondo
apelação?

Para os adeptos da primeira posição, o assistente quer a realização da justiça, a


correta aplicação da lei ao caso concreto, podendo, portanto, interpor apelação.

Para os adeptos da segunda posição, o assistente já alcançou seu objetivo, a sentença


penal condenatória, restando executá-la no juízo cível.

1.5.3. Admissão do Assistente


O assistente da acusação intervém em todos os termos da ação pública, enquanto
não passar em julgado a sentença. Desta feita, não toma parte do inquérito policial nem da
execução. Assim, pode intervir a partir do recebimento da denúncia até o trânsito em
julgado da decisão.

Deferida a habilitação, receberá o processo no estado em que se achar; não poderá,


pois, pretender a renovação de atos processuais sobre os quais já ocorreu a preclusão.

Sua intervenção se dará por meio de advogado com capacidade postulatória e


poderes especiais.

No Júri, se o assistente quer participar do julgamento, deve requerer a habilitação


três dias antes do julgamento, salvo se já admitido anteriormente. A ausência do assistente
não causa o adiamento do julgamento.

O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão do assistente. O


órgão ministerial manifesta-se somente sobre a legalidade. No tocante à avaliação pelo
Ministério Público acerca da conveniência e oportunidade para a intervenção do assistente,
existem duas posições:

•Para o Prof. Tourinho, seguido pela maioria, o Ministério Público somente examina
a legalidade da intervenção.

Para o Prof. Magalhães Noronha, além da legalidade, o Ministério Público pode



manifestar-se sobre a conveniência e a oportunidade da intervenção do assistente.

10
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Da decisão que admite ou não o assistente de acusação não cabe recurso, podendo,
entretanto, ser impetrado mandado de segurança. Se o juiz excluir ofendido já habilitado,
caberá correição parcial.

1.5.4. Atividades do assistente


O artigo 271 do Código de Processo Penal relaciona os poderes do assistente no
processo penal. É um rol taxativo:

a) Propor meios de prova

O assistente pode propor perícias, acareações etc., sendo que sobre a proposta o juiz
decide, ouvido o Ministério Público.

O assistente pode arrolar testemunhas?

O momento para a acusação arrolar testemunhas é no oferecimento da denúncia, e o


assistente intervém no processo após o recebimento da inicial, quando, portanto, já ocorreu
a preclusão. Há, no entanto, duas posições:

• O momento para arrolar testemunhas já precluiu, não sendo possível


posteriormente propor tal meio de prova. Entende, porém, que se o juiz deferir
pedido eventualmente formulado pelo assistente, não há nulidade, podendo
aqueleouvir a testemunha como se fosse sua.

• É possível, desde que o número de testemunhas arroladas pelo Ministério


Público somado ao número das arroladas pelo assistente fique dentro do limite
legal.

b) Requerer perguntas às testemunhas

Sempre posteriores às do Ministério Público.

c) Aditar o libelo

O prazo para aditamento do libelo é de dois dias, por analogia ao artigo 420 do
Código de Processo Penal. O assistente não pode aditar a denúncia, que é peça exclusiva
do Ministério Público.

d) Aditar articulados
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_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL

•alegações finais no prazo de 3 dias, sucessivo ao do Ministério Público, no


procedimento comum (artigo 500 do Código de Processo penal);

•alegações no Júri no prazo de 5 dias, conjuntamente com o do Ministério Público


(artigo 406, § 1.º, do Código de Processo Penal).

e) Participar dos debates orais

Sempre após o Ministério Público.

f) Arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público

Apelação interposta pelo Ministério Público deve ser arrazoada no prazo de 3 dias
(artigo 600, § 1.º, do Código de Processo Penal). O recurso em sentido estrito, no silêncio
da lei, deve ser arrazoado em 2 dias, pois é o mesmo conferido ao parquet (artigo 588 do
Código de Processo Penal).

Apesar do silêncio do legislador, o assistente pode contra-arrazoar recurso da


defesa.

g) Arrazoar os recursos por ele interpostos

O Código de Processo Penal só permite ao assistente de acusação interpor:

recurso de apelação no procedimento do Júri e no Juízo singular, no caso de o



Ministério Público não apresentar recurso;

•recurso em sentido estrito contra decisão de impronúncia e que julga extinta a


punibilidade.

Conforme a Súmula n. 210 do Supremo Tribunal Federal, o assistente pode recorrer,


inclusive extraordinariamente (e especial), contra acórdãos que julguem apelação ou
recurso em sentido estrito.

Da decisão concessiva de habeas corpus, o assistente de acusação não pode recorrer,


conforme a Súmula n. 208 do Supremo Tribunal Federal.

O prazo para o assistente interpor recurso em sentido estrito e de apelação é de 5


dias se ele já estiver habilitado nos autos, ou de 15 dias se não estiver habilitado, pois,
nesse caso, não é intimado da decisão. O termo inicial para o assistente interpor recurso é
supletivo e inicia-se no primeiro dia subseqüente ao término do prazo do Ministério
Público. Se o Ministério Público já interpôs recurso, não cabe ao assistente propor
12
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL

novamente. Se o Ministério Público só recorreu de parte da decisão, o assistente pode


recorrer da parte não recorrida.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XIII

DIREITO TRIBUTÁRIO
Suspensão do Crédito Tributário

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DIREITO TRIBUTÁRIO

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. CAUSAS SUSPENSIVAS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO (artigos 151 a


155-A do Código Tributário Nacional)
Ocorrendo o fato imponível e praticados o ato de lançamento e a notificação do
sujeito passivo, o tributo está “em termos”, em condições de ser pago pelo contribuinte e
recebido pela Fazenda Publica - o crédito tributário passará a ser exigível.

É possível, entretanto, a verificação de fato novo que venha a adiar o pagamento do


tributo. Trata-se das causas suspensivas da exigibilidade do crédito tributário (ato ou fato a
que a lei atribui o efeito de retardar a exigibilidade da cobrança do referido tributo).

Tais causas estão previstas no artigo 151, alterado pela Lei Complementar n. 104, de
10.01.2001, do Código Tributário Nacional:

• moratória;

• depósito do seu montante integral;

• reclamações e recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário


administrativo;

• concessão de medida liminar em mandado de segurança;

• concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação


judicial;

• parcelamento.

Ainda que presente a causa suspensiva da exigibilidade do crédito tributário, não


desaparece para o contribuinte o dever de cumprir as obrigações acessórias (artigo 151,
parágrafo único, do Código Tributário Nacional).

Cumpre antecipar que as causas que suspendem a exigibilidade do crédito tributário


ocasionam também a suspensão do prazo prescricional, por mero imperativo lógico: se o
crédito não pode ser exigido, não pode também correr prazo contra a Fazenda Pública,
impossibilitando a cobrança de tal crédito.

1.1. Moratória (Artigos 152 a 155 do Código Tributário Nacional)


É instituto que prevê a suspensão da exigibilidade do crédito tributário pela dilação
legal do prazo para o normal recolhimento do tributo.
1
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO TRIBUTÁRIO

Em regra, se a lei não fixa prazo para o pagamento do tributo, será este de 30 dias, a
contar da regular notificação do lançamento. Só a lei pode conceder moratória,
prorrogando aquele prazo (lei formal: princípio da legalidade e da indisponibilidade do
interesse público); lei essa da pessoa política competente para criar o tributo.

Cada ente político só pode conceder moratória de seus próprios tributos. Para os
doutrinadores que consideram essa afirmação de maneira absoluta, o artigo 152, inciso I,
alínea “b”, do Código Tributário Nacional – que permite a moratória, em caráter geral, pela
União, quanto a tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos
Municípios, quando simultaneamente concedida quanto aos tributos de competência
federal e às obrigações de direito privado – é inconstitucional, por ferir o princípio da
autonomia dos entes federados.

Para outros juristas, o dispositivo regulamenta hipótese de exceção.

A moratória é medida de política fiscal. É concedida, normalmente, após episódio


que reduz ou diminui a capacidade contributiva do sujeito passivo (exemplo: catástrofes
naturais etc.).

Consoante HUGO DE BRITO MACHADO (Curso de Direito Tributário, Malheiros


Editores, 2002:162), “a Lei Complementar n. 104, de 10.01.2001, inclui um novo inciso no
art. 151 do CTN, prevendo hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, o
parcelamento. É mais uma inovação inteiramente inútil porque o parcelamento nada mais é
do que uma modalidade de moratória”.

Para PAULO DE BARROS CARVALHO (obra citada, p. 434), “Moratória é a


dilação do intervalo de tempo estipulado para o implemento de uma prestação, por
convenção das partes, que podem fazê-lo tendo em vista uma execução unitária ou
parcelada”.

1.2. Depósito Integral do Montante Tributário


Trata-se de um depósito cautelar feito quando o contribuinte pretende litigar contra
o Fisco. Para acautelar-se dos efeitos de uma decisão contrária, o contribuinte pode colocar
à disposição da Fazenda Pública a quantia que ele entende indevida. Se o contribuinte tiver
sua ação julgada improcedente, a quantia será incorporada à Fazenda Pública. Se o
contribuinte tiver sua ação julgada procedente, ser-lhe-á restituído o depósito, corrigido
monetariamente. Esse depósito pode ser feito na esfera administrativa ou na esfera judicial.

O Superior Tribunal de Justiça sumulou sobre o assunto: “O depósito somente


suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro” (Súmula n.
112).

O artigo 38 da Lei n. 6.830/80 (Lei das Execuções Fiscais) estabelece que a ação
anulatória do débito fiscal deve ser precedida pelo depósito integral do montante a ser

2
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO TRIBUTÁRIO

discutido. Esse artigo, entretanto, é considerado inconstitucional porque fere o princípio da


igualdade e o princípio da universalidade da jurisdição.

Atinge o princípio da igualdade porque discrimina o contribuinte que não tem


possibilidade financeira de depositar o valor, impedindo-o de ter acesso à prestação
jurisdicional (assim, o contribuinte com condições de depositar teria oportunidade de
alcançar o Judiciário e o contribuinte carente dessas condições teria seu direito tolhido). E,
agride o princípio da universalidade da jurisdição porque cria obstáculos de ordem
econômica ao livre acesso ao Poder Judiciário.

Consoante súmula n. 247 do extinto Tribunal Federal de Recursos (TFR): “Não


constitui pressuposto da ação anulatória do débito fiscal o depósito de que cuida o art. 38
da Lei n. 6.830, de 1980”, entendimento que vem sendo utilizado como respaldo para a não
aplicação do dispositivo legal.

Surgiu, entretanto, o depósito recursal (depósito para recorrer em instância


superior). Na esfera federal, para recorrer ao Conselho de Contribuintes, deve ser
depositado entre 30% e 60% do valor da autuação. Vem se consolidando, na
jurisprudência, o entendimento de que esse depósito não é inconstitucional.

Essa necessidade do depósito prévio veio ressuscitar a regra solve et repete (pague
para repetir). Tal regra não mais vigora em face da inconstitucionalidade acima descrita.

Conveniência do depósito: se o contribuinte perder a demanda, incidirão sobre o


devido crédito juros e correção monetária, os quais serão cobertos pelos rendimentos do
depósito financeiro.

1.3. Interposição de Recurso Administrativo com Efeito Suspensivo


Se o contribuinte, antes de ir a Juízo, ingressar com recurso administrativo visando
obter seus direitos, e esse recurso for recebido com efeito suspensivo, será afastada a
possibilidade de uma execução fiscal.

A interposição do recurso administrativo não é obrigatória, o ingresso prévio nas


vias administrativas é facultativo, podendo o contribuinte recorrer diretamente ao
judiciário.

Qualquer decisão administrativa pode ser revista pelo Poder Judiciário, bastando
que a parte sucumbente ingresse com a devida ação (não há trânsito em julgado de decisões
administrativas no Brasil). Enquanto o recurso administrativo estiver tramitando, fica
suspensa a exigibilidade do crédito tributário.

3
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
DIREITO TRIBUTÁRIO

1.4. Concessão de Liminar em Mandado de Segurança


Liminar é uma medida cautelar, que observa para sua concessão a presença dos
requisitos fumus boni iure e periculum in mora. Enquanto a liminar estiver produzindo
efeitos, fica suspensa a exigibilidade do crédito tributário.

1.5. Concessão de Medida Liminar ou de Tutela Antecipada, em Outras


Espécies de Ação Judicial
A inclusão do inciso V no artigo 151 do Código Tributário Nacional pela Lei
Complementar n. 104, de 10.1.2001, trazendo como hipótese de suspensão da exigibilidade
do crédito tributário a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada em qualquer
espécie de ação judicial, veio em boa hora e teve o condão de acabar com as longas
discussões que existiam acerca do inciso IV do mesmo artigo. Dado que, para alguns
doutrinadores, somente a liminar concedida em mandado de segurança é que suspendia a
exigibilidade do crédito tributário.

O novo inciso evidencia o que já vinha sendo reclamado pelos juristas e estava
sendo reconhecido pela jurisprudência: as medidas liminares e a antecipação de tutela,
concedidas em qualquer tipo de ação judicial, possuem o condão de suspender a
exigibilidade do crédito tributário.

1.6. Parcelamento
Para confirmar o entendimento dos doutrinadores citados nesse módulo, sobre o
parcelamento ser uma modalidade de moratória, devemos verificar que o legislador não
criou outra seção dentro do Capítulo III, mas, sim, incluiu o parcelamento na Seção II, a
qual se refere à moratória.

No artigo 155-A, incluído pela Lei Complementar n. 104, de 10.01.2001, houve


mera especificação da referida modalidade de moratória, em que se estipulou que o
parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas em lei específica. § 1.º:
Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não exclui a
incidência de juros e multas.

O próprio § 2.º, do dispositivo menciona que se aplicam subsidiariamente ao


parcelamento as disposições relativas à moratória.

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MÓDULO VII

DIREITOS HUMANOS

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DIREITOS HUMANOS

DIREITOS HUMANOS

Convenção contra a Tortura e


Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes (1984)

Profs. Luiz Antônio de Souza e Vitor Frederico Kümpel

1. HISTÓRICO

A tortura, sabemos, foi utilizada em todas as épocas, sendo impossível determinar


quando realmente surgiu. Afirma-se que “a tortura, forma extremada de violência, parece
ter se entranhado no homem ao primeiro sinal de inteligência deste. Só o ser humano é
capaz de prolongar sofrimento de animal da mesma espécie ou de outra. Os seres inferiores
ferem ou matam a caça. Devoram-na depois. O homem é diferente. O impulso da
destruição o conduz à aflição de dores por prazer, por vingança ou para atender a objetivos
situados mais adiante”.6

Se percorrermos a história da humanidade, veremos que a tortura sempre esteve


presente.

CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ, fazendo uma incursão histórica,


revela que em Roma, durante o Império e a República, a confissão dos escravos e
estrangeiros, que não detinham idoneidade, somente adquiria valor se obtida mediante
tortura, forma pela qual se conferia credibilidade ao relato. Tal não acontecia com o
cidadão romano, que detinha idoneidade e credibilidade, bastando o seu juramento.
Posteriormente, todavia, os romanos também começaram a ser submetidos à tortura por
cometimento de crimes políticos ou contra o Estado romano7.

Na Idade Média, a tortura foi utilizada às escâncaras, sem qualquer respeito à


dignidade humana. No período que se estendeu de 1200 a 1800, o sistema inquisitorial foi
adotado na Europa, especialmente nos Tribunais Eclesiásticos da Inquisição, sendo a
heresia perseguida com tortura. JOSÉ GERALDO DA SILVA comenta que nessa época “a
confissão do réu foi considerada como a rainha das provas, a probatio probatissima. E,
para alcançar essa prova, recorria-se à tortura. Destarte, o réu era transformado em juiz da
sua própria causa, resistindo aos tormentos, para salvar-se, ou a eles cedendo, para perder-
se”.8

6
FERNANDES, Paulo Sérgio Leite; FERNANDES, Ana Maria Badette Bajer. Aspectos jurídico-penais da tortura. 2.ª ed. Ciência
Jurídica. p.102.
7
QUEIROZ, Carlos Alberto Marchi de. Resumo de Direitos Humanos e da cidadania. São Paulo: Iglu, 2001. p.91-92.
8
SILVA, José Geraldo da. A Lei de Tortura interpretada. Leme: Editora de Direito, 1997. p.14.
1
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DIREITOS HUMANOS

No século XX, muitos são os exemplos de utilização da tortura. Na Revolução


Socialista de 1917, a antiga União Soviética empregou amplamente a tortura para
implantar o novo regime e reprimir os descontentes, tendo essa prática perdurado quase até
o final do século. Na Alemanha, na época do nazismo de Hitler, milhares de pessoas,
principalmente judeus, foram torturadas. Mas, além desses exemplos normalmente citados,
vale lembrar que muitos países sofreram dominação de potências mundiais (países da
África, por exemplo), dominação essa mantida, entre outros instrumentos, pela submissão
dos povos, inclusive por meio de tortura.

Ainda hoje, sabemos, a tortura grassa no mundo. Há guerras pelo poder, em vários
países, que redundam em atos de tortura e barbárie diária. Na América Latina, até pouco
tempo, em que existiam diversos regimes militares instalados, a tortura foi utilizada para
sua manutenção. Ainda existem guerras religiosas e ideológicas no mundo, além de
discriminação em vários países, atingindo grupos de pessoas, especialmente a mulher, que
também resultam em exercício diário de atos de tortura.

Enfim, a tortura, não há como negar, é prática odiosa presente em todos os períodos
da história da humanidade, hodiernamente mantida: há um longo caminho para o homem
percorrer até eliminar tal prática de seu cotidiano. O homem, incrivelmente, sente prazer
em exercer dominação sobre outra pessoa, e ainda maior se puder impor-lhe sofrimento.

2. A CONVENÇÃO

A Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos e Punições Cruéis, Desumanos


e Degradantes foi adotada pela ONU em 1984, entrando em vigor internacionalmente em
1987, tendo sido ratificada pelo Brasil em 1989.

CARLOS WEIS, escrevendo a respeito, expõe que a Convenção Contra a Tortura e


Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes é a única que versa sobre
um tema específico, diferente das outras, que tratam de grupos sociais vulneráveis,
salientando que isso ocorre pelo fato de se tratar de um tema repugnante, objeto de uma
prática odiosa que deve ser banida do comportamento humano. Nessa linha de idéias,
ilustra: “Como princípio ético, a tortura repugna à consciência humanista, uma vez que
reduz a pessoa à condição de objeto, retirando-lhe toda forma de liberdade, essência da
noção de dignidade fundamental do ser humano...”.9

A Convenção, no seu artigo 1.º, define “tortura” como “qualquer ato pelo qual dores
ou sofrimentos agudos físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma pessoa a
fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por
ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido, ou seja suspeita de ter cometido; de
intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em
discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por

9
WEISS, Carlos. Direitos Humanos contemporâneos. São Paulo: Malheiros, 1999. p.85.
2
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DIREITOS HUMANOS

um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua


instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência”.

FLÁVIA PIOVESAN diz que a definição de tortura envolve três elementos


essenciais: “a) a inflição deliberada de dor ou sofrimentos físicos ou mentais; b) a
finalidade do ato (obtenção de informações ou confissões, aplicação de castigo,
intimidação ou coação, e qualquer outro motivo baseado em discriminação de qualquer
natureza); c) a vinculação do agente ou responsável, direta ou indiretamente, com o
Estado”10.

A definição de tortura, portanto, é ampla, abarcando inúmeras situações. Veja que


nela está incluída a tortura como forma de investigação policial, a tortura chamada
institucional, praticada por motivos político-ideológicos. Mas a Convenção vai além,
estendendo o seu alcance na medida em que compreende como tortura toda forma de
castigo, intimidação ou coação, bem como discriminação de qualquer natureza.

PAULO SÉRGIO LEITE FERNANDES e ANA MARIA BABETTE FERNANDES


sustentam que tortura e violência sempre estão associadas, não se podendo falar na
primeira sem a segunda: “Quando se pensa em tortura, vem imediatamente à luz a
característica da força física. Há tortura sempre que, com a finalidade de reduzir ou anular
a liberdade de vontade do indivíduo para a obtenção de informações retidas, a autoridade
ou seus agentes utilizam força física que provoque dor ou aviltamento da dignidade do
interrogado, ou ainda, procedimentos outros adequados à superação da efetiva ou esperada
resistência do indivíduo, nisto compreendida a intimação por ameaças de mal grave ao
próprio indivíduo ou a terceiros que com este mantêm relações familiares ou de afeto”.
Prosseguem considerando que “há tortura, igualmente, sempre que, por meio de simples
persuasão sugestiva de efeito racional, se obtiver, com técnicas psicológicas, a cooperação
do sujeito passivo, evidenciando as circunstâncias a prática disfarçada de conduta
demonstradora de anterior ou concomitante cerceamento abusivo da liberdade de
locomoção, seja em razão do descumprimento de formalidades exigidas por lei, seja pelo
regime prisional imposto em desconformidade com os regulamentos do estabelecimento
carcerário”11.

Apenas para se ter idéia do alcance da definição de tortura encontrada na


Convenção, FLÁVIA PIOVESAN, em sua obra, destaca uma decisão inédita proferida em
1995 pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A Comissão, num caso de
denúncia de violação dos direitos das mulheres no Haiti, reconheceu que o estupro e o
abuso sexual praticados contra essas mulheres, a par de ser um tratamento desumano,
violador da integridade física e moral, configuravam uma forma de tortura.

Nesse caso específico, a Comissão reconheceu que as violações sexuais havidas


eram uma forma de tortura, primeiro pelo fato de configurarem atos degradantes,
causadores de terrível trauma físico e mental e intenso sofrimento às vítimas. Em segundo
lugar, pelo fato de que essas violações representavam uma brutal discriminação contra elas.
Afora esse caráter, reconheceram a tortura porque tais violações “foram o resultado da
repressão em face de propósitos políticos”, uma vez que “a intenção daqueles que estavam
10
PIVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 4.ª ed. São Paulo: Max Limonad, 2000. p.194.
11
FERNANDES, Paulo Sérgio Leite; FERNANDES, Ana Maria Badette Bajer. Op. cit. p.165-167.
3
_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
DIREITOS HUMANOS

no poder foi a de destruir qualquer movimento democrático, mediante o terror criado pela
série de crimes sexuais”. Essas violações configuravam punição às mulheres em razão de
sua militância ou por sua associação com militantes, tendo sido praticadas para intimidá-
las, para destruir a capacidade de resistirem ao regime12.

Quanto ao estupro, vale lembrar que a Resolução n. 827, aprovada pelo Conselho de
Segurança da ONU, nos termos do Capítulo VII da Carta da ONU, reconhece esse crime
como uma violação aos Direitos Humanitários, daí porque a tendência é entendê-lo, em
algumas situações, como forma de tortura.

Voltando à definição de tortura, verificamos que a liberdade e a integridade física


são valores fundamentais que se encontram abrigados em seu núcleo, exatamente por se
tratar de traços fundamentais e indissociáveis da dignidade da pessoa.

Exatamente pelo fato de a integridade física ser objeto de violação diária, há alguma
crítica quanto à parte final do artigo 1.º da Convenção, em que está disposto que “não se
considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam conseqüência unicamente de
sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram”.

CARLOS WEIS diz que essa disposição “abre caminho para que castigos físicos
culturalmente aceitáveis sejam excluídos da proteção internacional, prenunciando a
tormentosa questão do universalismo dos direitos humanos versus peculiaridades culturais
a eles contrárias”13.

J. A. LINDGREN ALVES, no mesmo sentido, refere que essa limitação do conceito


de tortura assim como a falta de definição para os “outros tratamentos ou punições cruéis,
desumanos ou degradantes” são “adaptações realistas desse documento internacional à
diversidade de culturas, hábitos e tradições religiosas”, que, no entanto, desagradaram a
alguns, especialmente aos maximalistas, “que nelas entreviam a possibilidade de adoção
por alguns Governos de sanções brutais”.14

A Convenção, em suas disposições, assegura, entre outros, os seguintes direitos a


que os Estados- partes se obrigam:

• proibição total da tortura e a proteção contra atos de tortura e outras formas de


tratamento cruel, desumano ou degradante, conclamando os Estados a adotarem
as medidas necessárias para impedir essas práticas; consagra, ainda, a regra da
impossibilidade de derrogação da proibição da tortura, ao estabelecer que em
nenhum caso poderão ser invocadas circunstâncias excepcionais, tais como
ameaça ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra
emergência pública como justificação para tortura, além de que a obediência
hierárquica (ordem de um funcionário público ou de uma autoridade pública)
não poderá ser adotada como justificativa para tanto;

12
PIOVESAM, Flávia. Op. cit. p. 193 (rodapé).
13
WEISS, Carlos. Op. cit. p. 85.
14
ALVEZ, J. A. Lindgren. Os Direitos Humanos como tema global. São Paulo: Perspectiva e FUNAG, 1994. p. 59.
4
_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
DIREITOS HUMANOS

• proibição de expulsão, devolução ou extradição de pessoas para Estados quando


houver risco efetivo de virem a ser torturadas;

• criminalização, na legislação penal de cada Estado- parte, das condutas que


configurem tortura (nas formas consumada e tentada e em co-autoria);

• cooperação com outros Estados para a prisão, detenção e extradição de


torturadores;

• investigar prontamente alegações de tortura, examinando toda denúncia de


maneira imparcial;

• direito de que a declaração obtida mediante tortura não seja invocada como
prova em qualquer processo;

• direito, às vítimas de tortura, à reparação e indenização justa e adequada,


inclusive à completa reabilitação.

Finalizando, para garantir que as pessoas não sejam submetidas a atos cruéis,
desumanos ou degradantes, o artigo 16 da Convenção deixa estabelecido que os Estados-
partes deverão coibir atos dessa natureza, ainda que não considerados atos de tortura, nos
termos do artigo 1.º, enfatizando que os dispositivos deverão merecer interpretação ampla,
de molde a não restringir outros de qualquer instrumento internacional ou lei nacional que
proíba os tratamentos ou as penas cruéis, desumanos ou degradantes.

J. A. LINDGREN ALVES destaca que as organizações não-governamentais


exerceram papel importante e contribuíram enormemente para a elaboração dos princípios
e normas de direito das Nações Unidas. Salienta, todavia, que poucos documentos jurídicos
receberam tanta influência das ONGs como a Convenção contra a Tortura. A influência
aponta que “se manifestou tanto através da campanha de conscientização internacional para
o fenômeno, a partir dos anos 70, que se refletiu na adoção pela Assembléia Geral, em
1975, da Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra a Sujeição à Tortura e
outros Tratamentos e Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes, quanto através da
apresentação de propostas concretas ao Grupo de Trabalho da CDH, encarregado da
redação do documento”15.

Por último, o sistema de controle. Da mesma maneira que ocorre com a Convenção
sobre a Eliminação da Discriminação Racial, há três mecanismos de controle, de
monitoramento, que são as petições individuais, os relatórios e as comunicações interestatais,
e o órgão de controle é o Comitê contra a Tortura.

Quanto às comunicações individuais e interestatais, noticiando violação a direito


reconhecido pela Convenção contra a Tortura, somente podem ser encaminhadas ao
Comitê se o Estado-parte fizer uma declaração habilitando o Comitê contra a Tortura a
recebê-las.

15
ALVEZ, J. A. Lindgren. Op. cit. p. 58.
5
_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
DIREITOS HUMANOS

O Comitê contra a Tortura, recebendo tais comunicações, coleta informações e


formula sua decisão, e, se concluir pela ocorrência da violação, solicita ao Estado-parte que
informe as medidas adotadas para dar cumprimento e efetividade à decisão. Embora “as
decisões dos Comitês (Comitê contra a Tortura, Comitê de Direitos Humanos e Comitê
sobre a Eliminação da Discriminação Racial) não sejam legalmente vinculantes e
obrigatórias, tais decisões têm efetivamente auxiliado o exercício dos direitos humanos
reconhecidos no plano internacional”.16

O Comitê contra a Tortura apresenta uma peculiaridade em relação aos demais


Comitês estabelecidos pelas diversas Convenções. No caso de denúncia fidedigna de
prática sistemática de tortura em um Estado-parte, detém o Comitê competência, caso haja
concordância do Estado-parte envolvido, de realizar uma visita para investigação no
próprio território desse Estado-parte (tal previsão encontra-se no artigo 20, item 3, da
Convenção).

3. TRATAMENTO DA TORTURA NO DIREITO BRASILEIRO

3.1. Tratamento Constitucional


A Constituição Brasileira, no artigo 1.º, inciso III, estabelece que a República
Federativa do Brasil tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. Esse princípio,
que orienta todo o sistema, deixa bem clara a opção do legislador constituinte de absoluto
respeito para com a pessoa e seus predicados, entre esses, a liberdade e a integridade física,
valores fundamentais que se encontram abrigados em seu núcleo, exatamente por se tratar
de traços fundamentais e indissociáveis da dignidade da pessoa, e que são violados por
ocasião da prática de tortura.

Não bastante isso, a Carta Constitucional prevê, no artigo 5.º, inciso III, que
“ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”, também
prevendo, no inciso XLIII, que “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.

Em atenção ao comando constitucional, houve a edição da Lei n. 9.455, de 7.4.1997,


que define os crimes de tortura, e tal providência atendeu o artigo 4.º da Convenção contra
a Tortura, no qual está estabelecido que “cada Estado-parte assegurará que todos os atos de
tortura sejam considerados crimes segundo a sua legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à
tentativa de tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua cumplicidade ou
participação na tortura”.

16
PIOVESAN, Flávia. Op. cit. p. 195.
6
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DIREITOS HUMANOS

3.2. Lei n. 9.455/97


A Lei n. 9.455/97, que define os crimes de tortura e dá outras providências, constitui
o principal instrumento de combate à tortura.

O artigo 1.º dessa lei define o crime de tortura da seguinte forma:

“Art. 1.º. Constitui crime de tortura:

I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe


sofrimento físico ou mental;

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de


terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa.

II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de


violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Pena: reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.

§ 1.º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de
segurança, a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em
lei ou não resultante de medida legal.

§ 2.º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-
las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos.”

Como podemos observar na figura delitiva prevista no artigo 1.º, inciso I, trata-se de
crime comum, podendo ser realizado por qualquer pessoa. Já a figura delitiva do artigo 1.º,
inciso II, trata de crime próprio, cometido por quem possui autoridade, guarda ou
vigilância sobre a vítima, todavia essa vinculação pode ser de caráter público ou privado,
ou mesmo derivar de qualquer poder de fato do agente sobre a vítima. ALEJANDRO DEL
TORO MARZAL apóia essa construção típica por entender que “a tortura deve ser
castigada em si mesma e por si mesma, em razão de seus detestáveis métodos e por seus
fins contrários à liberdade e à dignidade”.17

Há aqueles, todavia, que pensam diferente, entendendo que os crimes de tortura


devam ser cunhados como crimes próprios, tendo como sujeito ativo o funcionário público
ou outra pessoa no exercício de função pública. Nesse sentido, encontramos as opiniões de
ALBERTO SILVA FRANCO, CRISTINA DE FREITAS CIRENZA e CLAYTON
17
MARZAL, Alejandro del Toro. Apud CIRENZA, Cristina de Freitas; NUNES, Clayton Alfredo. Convenção Contra a Tortura e
Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes e Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura. In: Direitos
Humanos – Construção da liberdade e da igualdade. Centro de Estudos da Procuradoria-Geral do Estado, 1998. p. 418.
7
_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
DIREITOS HUMANOS

ALFREDO NUNES, bem como de VIVES ANTÓN: “O que dá substantivação ao delito é


o abuso de poder vinculado ao atentado contra as garantias, penal e processual. Os fatos
realizados por particulares não podem reunir esses dados característicos e, em qualquer
caso, para seu castigo há uma larga série de figuras genéricas”.18

Apesar das críticas, a Lei n. 9.455/97 veio preencher uma lacuna no direito
brasileiro, uma vez que definiu os crimes de tortura, configurando um instrumento de real
valia na tarefa de eliminar atos de tortura da vida nacional e na construção da dignidade da
pessoa, princípio maior a orientar todo o sistema.

18
ANTÓN, Vives. Apud CIRENZA, Cristina de Freitas; NUNES, Clayton Alfredo. Loc. cit.
8
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XIII

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Código de Trânsito Brasileiro – Lei n. 9.503/97

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Código de Trânsito Brasileiro – Lei n. 9.503/97

Prof. Luiz Fernando Vaggione

1. VIGÊNCIA DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO

O Código de Trânsito Brasileiro foi publicado em 23.9.1997, prevendo vacatio legis


de 120 dias, o que implicou que entrasse em vigor em 22.1.1998.

2. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E DA LEI n.


9.099/95

Consoante dispõe o artigo 291, caput, do Código de Trânsito Brasileiro, aplicam-se


subsidiariamente as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, bem
como a Lei n. 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais), no que couber.

O parágrafo único do artigo 291, por sua vez, determina a aplicação da composição
civil, da transação penal e da representação (artigos 74, 76 e 88 da Lei n. 9.099/95) aos
crimes de lesão corporal culposa de trânsito (artigo 303), embriaguez ao volante (artigo
306) e “racha” (artigo 308). Devemos interpretar o parágrafo à luz do caput, isto é,
podemos utilizar os institutos mencionados acima, desde que compatíveis com os crimes
indicados no parágrafo. Assim, em relação à lesão corporal, incidem os artigos 74, 76 e 88,
enquanto que à embriaguez e ao “racha” só é viável a transação penal, devido à
inexistência de vítima definida. A aplicação desses institutos se fará no juízo criminal
comum, porque incompatível o procedimento do juizado a essas infrações.

Nota: a Lei n. 10.259/01, que instituiu os Juizados Especiais Civis e Criminais no


âmbito da Justiça Comum Federal, previu no parágrafo único do artigo 2.° que são
consideradas infrações penais de menor potencial ofensivo os crimes a que a lei comine
pena não superior a dois anos. Tratando-se de lei federal posterior à Lei n. 9.099/95 e que
se utiliza do mesmo critério para definir infrações de menor potencial ofensivo (pena
máxima abstrata), entende-se, atualmente, que o rol dessas infrações será ampliado (a partir
de janeiro de 2002). Assim, salvo a embriaguez ao volante, cuja pena máxima é de três
anos de detenção, a lesão culposa de trânsito (artigo 303) e o “racha” (artigo 308) passarão
a ser, genuinamente, crimes de menor potencial ofensivo, aplicando-se o procedimento
reservado a tais infrações.

1
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Há, no entanto, à luz da Lei n. 9.099/95, sete infrações que já são consideradas de
pequeno potencial, a saber: 1.ª) artigo 304 (omissão de socorro); 2.ª) artigo 305 (fuga do
local); 3.ª) artigo 307 (violação de suspensão ou proibição para dirigir); 4.ª) artigo 309
(falta de habilitação); 5.ª) artigo 310 (entrega da direção de veículo automotor a
determinadas pessoas); 6.ª) artigo 311 (excesso de velocidade em determinados lugares);
7.ª) artigo 312 (fraude na apuração de crime de trânsito com vítima).

3. SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO DE SE OBTER A PERMISSÃO OU A


HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR

A suspensão pressupõe a permissão ou habilitação já concedida, enquanto a


proibição é aplicada a aquele que ainda não obteve uma ou outra. Essa interdição de
direitos está disciplinada nos artigos 292, 293, 294 e 296 do Código de Trânsito Brasileiro,
podendo ser imposta na sentença ou cautelarmente, como veremos a seguir:

• Imposição na sentença penal condenatória:

1.ª hipótese: quando a interdição estiver prevista no preceito secundário da norma,


como sanção. É o que ocorre nas seguintes figuras típicas: homicídio culposo de trânsito
(artigo 302); lesão corporal culposa de trânsito (artigo 303); embriaguez ao volante (artigo
306); violação de suspensão ou proibição para dirigir (artigo 307); “racha” (artigo 308).

2.ª hipótese: reincidência em crime de trânsito. Nesse caso o juiz poderá impor a
suspensão ou a proibição para dirigir. Trata-se, como se percebe, de uma faculdade do
magistrado, que se norteará pelas circunstâncias do caso concreto. Embora não haja
previsão expressa, aplica-se subsidiariamente o artigo 64, inciso I, do Código Penal
(prescrição da reincidência). Frisamos, ainda, existir entendimento no sentido de que o
crime anterior deve ter sido cometido na vigência do Código de Trânsito Brasileiro.

Nota: o tempo de interdição para as duas hipóteses acima indicadas está previsto no
artigo 293 do Código de Trânsito Brasileiro: dois meses a cinco anos.

•Imposição como medida cautelar: pode ser imposta pelo juiz em qualquer fase do
inquérito policial ou do processo penal, de ofício, a requerimento do Ministério
Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, mas é necessário
que a ordem pública esteja sob risco. Entenda-se ordem pública como segurança no
tráfego de veículos. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou
da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido
estrito, sem efeito suspensivo (artigo 294, parágrafo único).

O Código de Trânsito Brasileiro derrogou o inciso III do artigo 47 do Código Penal,


que trata da suspensão da autorização ou da habilitação para a condução de veículo
automotor. Isso sucedeu porque o artigo 47, inciso III, do Código Penal só é aplicável aos
2
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

crimes culposos de trânsito (homicídio culposo e lesão corporal culposa), nos termos do
artigo 57 do Código Penal. Ocorre que, para o homicídio ou a lesão culposos de trânsito, o
Código de Trânsito Brasileiro previu expressamente a imposição da interdição ora estudada
no preceito secundário da norma, como acima vimos. Restaria a suspensão da autorização
para conduzir veículo automotor, não prevista no Código de Trânsito Brasileiro.

4. MULTA REPARATÓRIA

Está prevista no artigo 297 do Código de Trânsito Brasileiro, havendo no seu


confronto animada controvérsia. As objeções postas à sua aplicação são a ausência de
previsão expressa no Código de Trânsito Brasileiro quanto aos crimes nos quais possa ser
imposta e a não regulamentação do modo de aplicação.

De qualquer forma, a multa reparatória, consoante disposto no artigo 297, consiste


no pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima ou de seus sucessores, de
quantia calculada com base no § 1.º do artigo 49 do Código Penal, sempre que houver
prejuízo material decorrente de infração de trânsito. Nos termos do parágrafo único do
artigo 297 do Código de Trânsito Brasileiro, a multa reparatória não pode exceder o valor
do prejuízo demonstrado no processo.

Trata-se de uma sanção penal com destinação civil, já que se destina à vítima ou
aos seus sucessores, razão pela qual se distingue da multa prevista no Código Penal, na
qual o valor arrecadado é direcionado aos cofres públicos. Distingue-se, outrossim, da
prestação pecuniária (artigo 43, inciso I, do Código Penal), pois essa é sanção alternativa,
substitutiva da pena privativa de liberdade. A multa reparatória, ao contrário, não afasta a
pena privativa de liberdade.

5. CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES

Estão previstas no artigo 298 do Código de Trânsito Brasileiro e são em número de


sete, sendo tal rol fechado (inadmissível o emprego de analogia). Assim, comete-se a
infração de trânsito:

•Com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano
patrimonial a terceiros. Referida agravante não incide nos crimes de resultado, nos
quais a situação de risco – evidenciada pelo emprego das expressões dano potencial
e grande risco – foi superada pela produção do evento lesivo.

•Utilizando veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas. Se o autor da


falsificação ou adulteração for o mesmo da infração de trânsito, responderá também

3
_________________________________________________________________________ MÓDULO XIII
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

pelo crime definido no artigo 311 do Código Penal, em concurso material


(objetividades jurídicas distintas: segurança no tráfego de veículo e fé pública).

•Sem possuir permissão ou habilitação para dirigir. Inaplicável ao homicídio culposo


de trânsito (artigo 302), à lesão culposa de trânsito (artigo 303) e à falta de
habilitação (artigo 309). No caso dos crimes culposos supracitados, a agravante
coincide com causa de aumento (artigos 302, parágrafo único, inciso I, e 303,
parágrafo único, ambos do Código de Trânsito Brasileiro). No caso do artigo 309,
falta de permissão ou habilitação são elementares do tipo.

•Com permissão ou habilitação de categoria diversa da exigida para determinado


veículo automotor. As categorias de habilitação estão disciplinadas no artigo 143 do
Código de Trânsito Brasileiro. O inciso IV também não se aplica aos artigos 302,
303 e 309 do Código de Trânsito Brasileiro, pelas razões já expostas no inciso
antecedente.

•Quando a profissão ou a atividade do condutor exigirem cuidados especiais com o


transporte de passageiros ou carga. A circunstância – transporte de passageiros – foi
eleita como causa de aumento nos artigos 302 e 303 do Código de Trânsito
Brasileiro. Logo, a esses crimes, ela é inaplicável.

•Utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características


que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de
velocidade prescritos nas especificações do fabricante. O legislador pretendeu
evitar, por exemplo, a “preparação” (envenenamento) de motores.

•Sobre faixa de trânsito temporária ou permanente destinada a pedestres. Mais uma


vez, a agravante não incidirá sobre o homicídio e a lesão culposos de trânsito.
Nesses delitos, a circunstância em estudo representa uma causa de aumento de pena
(artigos 302, parágrafo único, inciso II, e 303, parágrafo único, ambos do Código de
Trânsito Brasileiro).

O quantum de aumento fica ao prudente arbítrio do juiz. As agravantes são de


aplicação obrigatória, excetuadas duas situações: a primeira, quando a agravante coincidir
com elementar do tipo; a segunda, quando for idêntica à causa de aumento de pena prevista
para o delito em espécie. Tais exceções visam evitar um bis in idem em matéria penal. As
agravantes previstas no artigo 298 do Código de Trânsito Brasileiro não impedem a
aplicação das agravantes genéricas do Código Penal (artigo 61). Como observa DAMÁSIO
DE JESUS, o artigo 298 não pode incidir quando a pena-base for fixada no máximo, dada
a impossibilidade de agravar a pena além do máximo abstrato.

4
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO VII

MEDICINA LEGAL

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MEDICINA LEGAL

MEDICINA LEGAL

1. SEXOLOGIA CRIMINAL

Em vários pontos do Código Civil, do Código Penal ou Código de Processo Penal


aparecem alguns aspectos ligados à sexologia humana e, em muitos desses aspectos, está
embutida a questão pericial.

1.1. Conceito Médico-Legal de Mulher Virgem


Mulher virgem é aquela em relação à qual não se prova experiência sexual anterior.

Dispõe o art. 217 do Código Penal: “Seduzir mulher virgem, menor de 18 (dezoito)
anos e maior de 14 (catorze) e ter com ela conjunção carnal, aproveitando-se de sua
inexperiência ou justificável confiança. Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos”.

Inexperiência quer dizer alheamento, falta de conhecimento do que seja conjunção


carnal.

Para que haja justificável confiança, deve existir uma relação suficientemente longa
e duradoura, estável e equilibrada, sobre a qual possa ser expedida uma sensação de confiar
no parceiro a ponto de se ter com ele uma conjunção carnal.

1.2. Conjunção Carnal


Conjunção carnal é a cópula vagínica, a contactação pênis/vagina (intromissio
penis). O que envolve aspectos da libido não faz parte do crime de sedução, configurando
os atos libidinosos, que são diferentes da conjunção carnal. A prova da conjunção carnal é
definitiva para a tipificação do crime.

1.2.1. Prova da conjunção carnal


A prova da conjunção carnal é feita por meio da observação de ruptura ou não do
hímen.

A anatomia feminina, vista de frente, na região perineal, envolve estrutura composta


de pequenos lábios, grandes lábios, intróito vaginal, fúrcula vaginal, orifício uretral, clitóris
e, implantada na parede da vagina, a presença de uma película membranosa ou rugosa
chamada hímen. Essa membrana tem uma anatomia extremamente variável nos seres
1
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MEDICINA LEGAL

humanos. Há desde mulheres que, congenitamente, nascem com ausência de hímen, até
mulheres que têm himens que fecham a cavidade vaginal.

Existem vários tipos de himens:

• anular: tem uma borda que se implanta na vagina, chamada borda vaginal;

• semilunar: orifício labiado, bilabiado, com duas fendas cribiformes (pequenos


orifícios).

Em cada tipo temos himens com óstio ou orifício pequeno, médio ou grande.

Na maioria das vezes a borda tem certas ondulações, de tal modo que o diâmetro do
óstio, em repouso, sem ser tracionado, é um; uma vez tracionado, ele se apresenta maior. O
diâmetro do orifício, devido a sua ondulação, apresenta-se de uma maneira; se forem
esticadas todas as ondulações, esse diâmetro se apresentará de maneira diferente.

Em 80% dos casos, nas mulheres com himens mais comuns, tendo havido uma
penetração com o pênis, há rompimento da membrana.

O diâmetro, pela ruptura, torna-se suficientemente largo, permitindo o acesso do


pênis no interior da vagina. Face às características da irrigação sanguínea do hímen, ele se
rompe e permanece roto, cicatrizando-se a borda da ruptura, mas não se refazendo. Até o
15.º dia da conjunção, as bordas sangram; após esse tempo, as bordas se cicatrizam.

O tecido vai se atrofiando até que, após algum tempo, os fragmentos são reduzidos a
meros nódulos na parede vaginal, que recebem o nome de carúnculas mirtiformes. As
rupturas estendem-se da borda ostial até a borda vaginal. Em alguns livros podemos
encontrar a terminologia “ruptura incompleta”, que significa que o hímen rompeu, mas a
ruptura não foi até a borda vaginal.

Em algumas mulheres pode haver uma configuração do hímen que se apresenta com
o óstio bastante irregular, cujas ondulações se aproximam bastante da borda vaginal.
Quando essas ondulações são mais pronunciadas, recebem o nome de “entalhes”.

Na medida em que os entalhes se estendem até muito próximo da borda vaginal,


quando nos deparamos com rupturas himenais já totalmente cicatrizadas, poderá surgir a
necessidade de se fazer um diagnóstico diferencial entre o que é ruptura e o que é entalhe.

1.2.2. Diferenças entre entalhes e ruptura de hímen


O diagnóstico é feito de três maneiras:

• os entalhes não se estendem até as bordas da vagina, as rupturas, sim;

2
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MEDICINA LEGAL

• as bordas da ruptura se coaptam (se encaixam); as bordas do entalhe não se


coaptam porque jamais pertenceram a um mesmo plano;

• as bordas da ruptura apresentam uma cicatriz; as bordas dos entalhes são do


mesmo tecido do hímen. Sob luz ultravioleta, as que forem bordas cicatriciais
(ruptura) apresentar-se-ão pálidas; as que forem bordas de entalhes apresentar-
se-ão mais vermelhas, tendo em vista a maior irrigação.

Essas três diferenças são fundamentais para diferenciar ruptura de entalhe.

1.2.3. Local de ruptura


É muito importante, num laudo pericial, que qualquer pessoa que leia o laudo possa
saber em que parte do hímen ocorreu a ruptura. Existem alguns parâmetros para identificar
em que parte do hímen se encontram as rupturas.

Antigamente, adotava-se a nomenclatura do mostrador de relógio (ex.: ruptura 2


horas). Hoje, divide-se a cavidade vaginal em quatro quadrantes – superior direito, superior
esquerdo, inferior direito e inferior esquerdo. Pelos quadrantes, tem-se oito pontos para
descrever o local da ruptura no laudo (quatro quadrantes e quatro junções).

A preocupação em descrever o local da ruptura é importante, pois, em 97% dos


casos, quando os parceiros se encontram em posição normal, as rupturas ocorrem nos
quadrantes inferiores ou na junção dos dois quadrantes inferiores.

As rupturas em quadrantes superiores, em princípio, podem ser produto de


manipulação, de trauma, ou de coitos com o parceiro em posição vertical. Rupturas por
manobras masturbatórias só ocorrem nos quadrantes superiores.

1.2.4. Tempo da ruptura


• Recentíssima: ocorreu há poucas horas, as bordas estão sangrantes.

• Recente: em cicatrização, ocorreu até 15 dias atrás.

• Não recente: ocorreu há mais de 15 dias.

1.2.5. Razões para não ocorrer a ruptura após a conjunção carnal


Até 22% das mulheres podem ter conjunção carnal sem apresentar o fenômeno da
ruptura; isso recebe o nome de complacência.

Poderá ocorrer ainda:

3
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MEDICINA LEGAL

• Ausência de hímen (casos muito raros).

• Óstios himenais de grande diâmetro.

• Hímen dotado de muitos entalhes que, quando submetidos a uma tensão,


produzem um diâmetro significativo que permite a cópula.

• Himens dotados de extraordinária elasticidade, ainda que sem óstio grande.

• O estado de lubrificação vaginal, que aparece no estado de excitação pré-


conjunção. A lubrificação também reduz o atrito e diminui a perspectiva de
ruptura do hímen. Podem ocorrer situações em que a mulher tem uma vivência
sexual ativa sem a ruptura do hímen e, quando vítima de uma situação de
estupro, pela situação de estresse causada, não havendo lubrificação, ocorre a
ruptura. O que leva à ruptura não é a violência em si, mas a ausência de
lubrificação.

• Pênis pequeno.

É importante o estudo dessas razões, visto que podem aparecer mulheres


declarando-se virgens, mas com um histórico de experiência sexual, vislumbrando a
hipótese de uma ação penal. Complacência não é um fenômeno exclusivamente do hímen,
mas “daquela” parceria. O tipo de parceria pode ser decisivo a permitir uma vivência
sexual sem ruptura, por um detalhe anatômico ligado ao órgão masculino.

1.2.6. Maneiras de diagnóstico de conjunção carnal


• Ruptura do hímen.

• Presença de espermatozóide no fundo do saco vaginal: com uma espátula,


colhe-se material no fundo da vagina e faz-se pesquisa de existência de
espermatozóide. A presença de espermatozóide gera diagnóstico de conjunção
carnal, pouco importando o tipo de hímen.

• Presença de doenças venéreas: presença de certas doenças venéreas no fundo da


vagina que só se reproduzem por contato (ex.: cancro sifilítico, cancróides,
granulomas e condilomas presentes no fundo da vagina).

• Presença de fosfatase ácida: presença, na vagina, de enzima que só existe no


líquido espermático, mesmo nos vasectomizados.

• Gravidez: sem considerar o estado do hímen, melhor do que qualquer outra


situação é o próprio resultado da conjunção. Não existe gravidez sem conjunção
carnal, pois o espermatozóide depende do meio ácido para sobreviver, e isso só
existe no ambiente vaginal.
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MEDICINA LEGAL

Em alguns países já se pesquisam as substâncias lubrificantes de alguns


preservativos, possibilitando o diagnóstico de conjunção carnal, mesmo quando o homem
utiliza preservativo.

Evidências de conjunção carnal não levam a diagnóstico (ex.: equimoses, pontos


hemorrágicos, escoriações, presença de pêlos etc. são evidências, mas não garantem um
diagnóstico).

Podem ser encontradas algumas tabelas sobre até quanto tempo após a conjunção se
pode pesquisar a presença de espermatozóides na vagina. Geralmente, as vítimas de
agressão sexual têm uma enorme tendência de, finda a agressão, limpar-se
exageradamente, como se limpassem também quaisquer vestígios de agressão, inclusive
com o uso de ducha vaginal. Para a Medicina, tal fato pode destruir a possibilidade da
prova. Segundo alguns autores, existe a possibilidade de se encontrarem vestígios de
espermatozóides na vagina até 22 dias após a conjunção. Na prática, porém, após cinco ou
seis dias já ficará mais difícil encontrá-los.

1.3. Atos Libidinosos


Entende-se por ato libidinoso o ato diverso da conjunção carnal. É todo ato
praticado com a finalidade de satisfazer o apetite sexual, o que traduz sempre uma
depravação moral.

O constrangimento não se processa apenas em quem pratica ou deixa que nele seja
praticado ato libidinoso, mas também naquele que é constrangido a presenciar ato
libidinoso diverso da conjunção carnal.

Uma mulher que, mediante violência ou grave ameaça, força um homem a praticar
com ela conjunção carnal não pratica o crime de estupro, não podendo ser considerado
atentado violento ao pudor, pois houve cópula vaginal. Configura-se, pois, o
constrangimento ilegal.

Na vida prática, encontram-se várias situações que poderiam ser caracterizadas


como ato libidinoso. Não existe prova pericial para o ato libidinoso, pois ele não deixa
vestígios que possam ser apreciados do ponto de vista pericial.

1.4. Sexualidade Anômala


É necessário que os instintos do homem se equilibrem dentro da normalidade para
que não comprometam a segurança das pessoas e da sociedade.

Toda variação da relação heterossexual normal que seja exclusiva, isto é, a própria
pessoa se satisfaz sexualmente, é uma variação anômala (ex.: a masturbação não se trata de
anomalia da sexualidade; porém, se o indivíduo usa a masturbação como substitutivo da
relação sexual normal, ela já é encarada como anomalia).
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No aspecto jurídico, principalmente no tocante à anulação do casamento, a prática


sexual anômala impede a sexualidade normal, tornando-se forma exclusiva da
manifestação sexual.

Sexualidade anômala é uma modificação qualitativa ou quantitativa do instinto


sexual, podendo existir como sintoma numa degeneração psíquica ou como intervenção de
fatores orgânicos glandulares.

A prática sexual anômala deve substituir em caráter permanente e total a prática


normal.

1.4.1. Práticas sexuais anômalas


a) Onanismo

É o impulso obsessivo à excitação dos órgãos genitais. É a prática orgásmica auto-


erótica. A masturbação é considerada anômala quando, pela duração e exclusividade,
bloqueia a prática da conjunção carnal normal.

b) Pedofilia

É a predileção sexual por crianças. Compreende desde os atos obscenos até a prática
de manifestações libidinosas.

c) Anafrodisia

Quando há diminuição do apetite sexual do homem. O sistema de ereção peniana


funciona, mas, por várias razões, deixa de existir o desejo sexual. Pode decorrer de doenças
do sistema nervoso e de outras causas externas ou internas.

d) Frigidez

É a ausência de libido na mulher. Distúrbio do instinto sexual que se caracteriza pela


diminuição do apetite sexual. Pode ter várias razões: sucessivas frustrações, situações
psíquicas (bloqueio infantil), vaginismo (psicofísica) ou outras doenças psíquicas ou
glandulares.

e) Erotismo

É o apetite sexual acentuado. Manifesta-se por meio da satiríase no homem, que é o


apetite sexual acentuado, não podendo ser confundido com o priapismo no homem (ereção
permanente) nem com a ninfomania na mulher, que é o desejo insaciável.

f) Auto-erotismo

É a manifestação da sexualidade que, para a satisfação sexual, não depende de


parceiro nem de masturbação, depende apenas da imaginação.

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g) Impotência

Pode ser coeundi, que é a incapacidade para o ato sexual; generandi, que é a
incapacidade para gerar (no homem); e concipiendi, que é a incapacidade para gestar (na
mulher).

h) Erotomania

É a fixação maníaca de alta morbidez, em que o indivíduo se fixa em alguém fora do


campo de seu relacionamento. O indivíduo desenvolve uma paixão mórbida e doentia,
podendo até transformar-se num criminoso de alta periculosidade.

O indivíduo é levado por uma idéia fixa de amor e tudo nele gira em torno dessa
paixão. Normalmente são castos e virgens (amor platônico).

i) Exibicionismo

É a obsessão impulsiva de exibir-se sexualmente. O indivíduo já invade a área


infracional. O prazer do exibicionista é mostrar-se por meio de seus órgãos sexuais.

O exibicionismo é uma das manifestações mais comuns das demências senis. Nos
idosos ocorre nos processos de demenciação senil (arteriosclerose) e na demenciação pré-
senil (mal de Alzheimer). As demências pré-senis são doenças específicas.

j) Narcisismo

É a fixação do prazer na admiração do próprio corpo. É o culto exagerado da própria


personalidade e sempre com indiferença para o outro sexo. Segundo FREUD, o indivíduo
passa por quatro fases:

• Oralidade: tudo o que toca a boca lhe dá prazer.

• Fase anal: satisfação em adquirir o controle da evacuação e da micção.

• Fase narcísica: cuidados com o aspecto. Quando essa fase se mantém além da
adolescência e impede o relacionamento com o sexo oposto, trata-se de
anomalia.

• Fase heterossexual: o indivíduo expressa a sua libido com parceiros


heterossexuais.

k) Mixoscopia

Popularmente chamada de voyeurismo, consiste no prazer em presenciar a relação


sexual de terceiros.

l) Fetichismo

Fetiche é a fixação da libido em objetos que ligam o indivíduo a pessoas para as


quais está direcionado. O indivíduo pervertido envolve-se apenas na excitação com uma
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parte da pessoa ou com um objeto a ela pertencente. Adora determinada parte do corpo
(mãos, seios) ou objetos (calcinhas, sutiãs) pertencentes à pessoa amada.

m) Lubricidade senil

É a manifestação sexual exagerada, em desproporção com a idade. É sempre sinal


de perturbação patológica, como demência senil ou paralisia geral progressiva. Em geral, a
idade da vítima é inversa à idade do delinqüente.

n) Pluralismo

Manifesta-se pela prática sexual grupal, de que participam três ou mais pessoas.
Traduzem um elevado grau de desajustamento moral e sexual (ménage à trois etc.)

o) Gerontofilia

É a desmedida atração sexual de pessoas muito jovens por pessoas de idade


avançada. Conhecida também por cronoinversão.

p) Riparofilia

É a atração sexual por pessoas desasseadas, sujas, de baixa condição social e


higiênica. Há homens que preferem manter relação sexual com mulheres em época de
menstruação.

q) Urolagnia

É o prazer sexual pela excitação de ver alguém no ato de urinar ou apenas de ouvir o
ruído da urina.

r) Coprofilia

É a perversão em que o ato sexual se prende ao ato da defecação ou do próprio


contato com as fezes do parceiro.

s) Coprolalia

É a satisfação sexual que se expressa por meio de falar ou de escutar palavrões e


obscenidades.

t) Edipismo

É a tendência ao incesto, isto é, ao impulso do ato sexual com parentes próximos.

u) Bestialismo

Também chamado de zoofilia, é a satisfação sexual com animais domésticos.


Indivíduos portadores dessa aberração muitas vezes são impotentes com mulheres.

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v) Sadismo

É a aplicação de sofrimento ao parceiro. A satisfação sexual está em produzir


sofrimento ao parceiro. Algumas dessas aberrações podem chegar ao extremo, a tal ponto
que o orgasmo só será conseguido com o sofrimento supremo do parceiro, que é a morte.

w) Masoquismo

É o prazer sexual por meio do sofrimento físico ou moral. O masoquismo é mais


comum nas mulheres.

x) Necrofilia

É a relação sexual com cadáveres. É tão compulsivo que, na inexistência de um


cadáver, o necrofílico “fabrica” um, ou seja, mata uma pessoa para que possa ter com ela
relação sexual após a morte.

y) Pigmalionismo

É o amor anormal pelas estátuas (hoje substituídas por bonecas infláveis).

1.4.2. Homossexualismo
Tanto o homossexualismo masculino, também chamado de uranismo ou pederastia,
como o homossexualismo feminino (lesbianismo), do ponto de vista fisiológico, são
anomalias. A Organização Mundial de Saúde, entretanto, considera o homossexualismo
como doença e não como anomalia.

O homossexualismo deve ser considerado como um caso estritamente médico,


havendo necessidade de que se faça distinção entre o homossexualismo, o intersexualismo,
o transexualismo e o travestismo.

a) Intersexualismo

O indivíduo se apresenta com a genitália externa e com a genitália interna


indiferenciadas, como se a natureza não tivesse se definido quanto ao sexo.

b) Transexualismo

O indivíduo é inconformado com seu estado sexual. Geralmente não admite a


prática homossexual.

c) Travestismo

O indivíduo sente-se gratificado com o uso de vestes, maneirismos e atitudes do


sexo oposto.

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2. ABORTO

O aborto define-se como morte fetal, não importando em que momento. A vida
humana inicia-se no momento da fecundação, com direitos legais (ex.: mulher viúva só
pode casar-se 10 meses após a morte do marido, para preservar os direitos sucessórios do
ser embrionário).

2.1. Técnicas de Aborto


Pode ser feito por meios mecânicos, tubos, sondas, hastes metálicas, com a intenção
de romper a bolsa e provocar a expulsão do feto, ou por meios químicos.

Em relação aos meios químicos, não existe uma substância especificamente feticida.
Existem substâncias tão tóxicas que, pela fragilidade do feto, são capazes de matá-lo e,
assim, provocar aborto. Existem drogas, como as prostaglandinas, que provocam contração
do útero, com dilatação e expulsão do feto.

2.2. Aspectos Legais do Aborto


O aborto legal ocorre em duas hipóteses:

• gestação proveniente de estupro;

• quando não há outra maneira de preservar a vida materna.

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Conjugação Verbal

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Conjugação Verbal

1. CONJUGAÇÃO VERBAL

Deve-se pensar que a conjugação só se erra por abundância de formas. Procura-se,


portanto, ter consciência da padronização adequada. Por exemplo: intervir é "filho" de vir,
logo veio gera interveio.

1.1. Pequena Teoria


A mínima teoria que não pode ser desprezada se refere a:

a) os tempos também possuem uma relação paternal, ou seja, há tempos que


geram outros.

Aqui serão destacados:

Tempo Primitivo Tempo Derivado

1. presentedo indicativo presente do subjuntivo (derivado)


eu caibo que eu caiba, tu caibas, etc.

2. pretérito perfeito pret. mais-que-perf. do indicativo: soubera, etc.


do indicativo: pret. imperf. do subjuntivo: se eu soubesse, etc.
eles souberam futuro do subjuntivo: quando souber, etc.

b) boa parte dos verbos irregulares ou defectivos apresentará problemas nas


formas rizotônicas (a vogal tônica está no radical).

Isso ocorre nos seguintes tempos e pessoas:

presente do indicativo presente do subjuntivo


1
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eu, tu, ele, eles eu, tu, ele, eles

1.2. Visão do conjunto


Principais verbos que apresentam problemas nos presentes do indicativo e do
subjuntivo.

Subjuntivo Presente Indicativo Presente

passeio, passeias, passeie, passeies,


Verbos terminados em –ear. nas f. rizotônicas, passeia(m) passeie(m)
o e do radical transforma-se no ditongo ei. (mas: passeamos, (mas: passeemos,
passeais) passeeis)

medeio, medeias, medeie, medeies,


Mediar, ansiar, remediar, incendiar e odiar, medeia(m) medeie(m)
nas f. rizotônicas, o i do radical passa para ei. (mas: mediamos, (mas: mediemos,
mediais) medieis)

Adequar – defec.: só se conjuga nas , , , adequamos,


não existe
f. arrizotônicas adequais

Computar – defec.: não há eu, tu, ele do , , , computamos,


não existe
presente do indicativo computais, computam

Precaver – defec.: só se conjuga nas , , , precavemos,


não existe
f. arrizotônicas precaveis

hei, hás, há,


Reaver – defec.: só se conjuga quando o havemos, haveis, hão
verbo haver conserva a letra v em sua não existe
conjugação , , , reavemos,
reaveis

, viges, vige,
Viger – defec.: não possui o eu no presente do
vigemos, vigeis, não existe
indicativo
vigem

2
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, aboles, abole,
*Abolir – defec.: não possui o eu no presente
abolimos, abolis, não existe
do indicativo
abolem

*Falir – defec.: só possui as f. arrizotônicas , , , falimos, falis não existe

* Muitos verbos seguem abolir, repetindo as mesmas falhas. São estes os principais:
aturdir, banir, brandir, brunir, carpir, colorir, delinqüir, delir, demolir, exaurir, explodir,
extorquir, fremir, fulgir, haurir, latir, puir, ruir, retorquir, tinir, ungir.

* Muitos verbos seguem a conjugação de falir, repetindo as mesmas lacunas. São


estes os principais: adimplir, adir, aguerrir, combalir, comedir-se, embair, empedernir,
foragir-se, fornir, puir, remir, renhir, transir.

1.3. Visão Individual


Os verbos que geralmente são usados com falha:

a) ter e seus derivados

Indicativo

Presente: ele tem – ele contém – ele detém – ele entretém – ele retém

eles têm – eles contêm – eles detêm – eles entretêm – eles retêm

Pret. Perf.: tive – tiveste – tive – tivemos – tivestes – tiveram

detive – detiveste – detive – detivemos – detivestes – detiveram

contive – contiveste – contive – contivemos – contivestes – contiveram

entretive – entretiveste – entretive – entretivemos – entretivestes – entretiveram

Pret. Imperf.: tinha – tinhas – tinha – tínhamos – tínheis – tinham

detinha – detinhas – detinha – detínhamos – detínheis – detinham

continha – continhas – continha – contínhamos – contínheis – continham

3
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entretinha – entretinhas – entretinha – entretínhamos – entretínheis – entretinham

Observação: Seguem o verbo ter: abster-se, ater-se, conter, deter, entreter, manter,
obter, reter e suster.

b) derivados de vir

Indicativo

Presente: ele vem – ele intervém – ele provém – ele sobrevém

eles vêm – eles intervêm – eles provêm – eles sobrevêm

Pret. Perf.: vim – vieste – veio – viemos – viestes – vieram

intervim – intervieste – interveio – interviemos – interviestes – intervieram

provim – provieste – proveio – proviemos – proviestes – provieram.

Observação: Seguem o verbo vir: advir, avir-se, contravir, convir, desavir-se,


intervir, provir, reconvir, sobrevir.

c) verbos terminados em –uir, –air e –oer, no “ele” do presente do indicativo,


recebem sempre a vogal “i”:

Indicativo

Presente: ele retribui

ele constitui

ele subtrai

ele extrai

ele remói

d) remediar e mediar (seguem fielmente odiar)

Indicativo

Presente: odeio – odeias – odeia – odiamos – odiais – odeiam

medeio – medeias – medeia – mediamos – mediais – medeiam

4
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e) verbos terminados em –ear (seguem passear)

Indicativo

Presente: passeio – passeias – passeia – passeamos – passeais – passeiam

pleiteio – pleiteias – pleiteia – pleiteamos – pleiteais – pleiteiam

f) requerer (não segue o verbo querer)

Indicativo

Presente: requeiro – requeres – requer – requeremos – requereis – requerem

Pret. Perf.: requeri – requereste – requereu – requeremos – requerestes – requereram

Subjuntivo

Pret. Imperf.: requeresse – requeresses – requeresse – requerêssemos –


requerêsseis – requeressem

Futuro: requerer – requereres – requerer – requerermos – requererdes – requererem

g) prover (segue “ver” só no presente do indicativo e tempos derivados; no


restante segue o verbo regular)

Indicativo

Presente: provejo – provês – provê – provemos – provedes – provêem

Pret. perf.: provi – proveste – proveu – provemos – provestes – proveram

Subjuntivo

Presente: proveja – provejas – proveja – provejamos – provejais – provejam

Pret. imperf.: provesse – provesses – provesse – provêssemos – provêsseis – provessem

Futuro: prover – proveres – prover – provermos – proverdes – proverem

h) computar (não possui “eu”, “tu” e “ele” do presente do indicativo e todo o


presente do subjuntivo)

Indicativo

Presente: – – – computamos – computais – computam

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Subjuntivo

Presente: – – – – –

i) viger (não possui o “eu” do presente do indicativo e, por conseqüência, o


presente do subjuntivo inteiro; é verbo usado quase sempre na terceira pessoa).

Indicativo

Presente: – viges – vige – vigemos – vigeis – vigem

Pretérito perf.: vigi – vigeste – vigeu – vigemos – vigestes – vigeram

Pretérito imperf.: vigia – vigias – vigia – vigíamos – vigíeis – vigiam

Futuro do presente: vigerei – vigerás – vigerá – vigeremos – vigereis – vigerão

Subjuntivo

Presente: – – – – –

Formas Nominais

Gerúndio: vigendo

Observação: Atenção ao pretérito perfeito do indicativo, na terceira pessoa do


singular, pois não existem na língua portuguesa a forma “a lei vigiu”, “a lei está
vigindo”. O correto é “a lei vigeu”, “a lei está vigendo”.

j) adequar (não possui as formas rizotônicas [eu, tu, ele e eles do presente do
indicativo] e também todo o presente do subjuntivo); no restante possui conjugação
normal

Indicativo

Presente: – – – adequamos – adequais –

Subjuntivo

Presente: – – – – –

l) precaver (não possui as formas rizotônicas [eu, tu, ele e eles do presente do
indicativo] e também todo o presente do subjuntivo); no restante segue o verbo
paradigma (vender, por exemplo)
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Indicativo

Presente: – – – precavemos – precaveis –

Pret. perf.: precavi – precaveste – precaveu – precavemos – precavestes – precaveram

Subjuntivo

Presente: – – – – –

m) reaver (não possui as formas rizotônicas [eu, tu, ele e eles do presente do
indicativo] e também todo o presente do subjuntivo); segue o verbo haver nas formas em
que há a letra V:

Indicativo

Presente: hei – hás – há – havemos – haveis – hão

Presente: – – – reavemos – reaveis –

Pret. Perf.: houve – houveste – houve – houvemos – houvestes – houveram

Pret. Perf.: reouve – reouveste – reouve – reouvemos – reouvestes – reouveram

Observação: não existem na língua portuguesa reavi, reaveu ou reaviu. É o


correto: eu reouve, ele reouve.

Subjuntivo

Presente: haja – hajas – haja – hajamos – hajais – hajam

Presente: – – – – –

n) apaziguar e averiguar (trazem complicações de acento e pronúncia)

Indicativo

Presente: apaziguo – apaziguas – apazigua – apaziguamos – apaziguais – apaziguam

Subjuntivo

Presente: apazigúe, apazigúes, apazigúe, apazigüemos, apazigüeis, apazigúem

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o) argüir (traz complicações de acento e pronúncia)

Indicativo

Presente: arguo – argúis – argúi – argüimos – argüis – argúem

Pretérito perf.: argüi – argüiste – argüiu – argüimos – argüistes – argüiram

Pretérito imperf.: argüia – argüias – argüia – argüíamos – argüíeis – argüiam

Subjuntivo

Presente: argua – arguas – argua – arguamos – arguais – arguam

p) ferir (apresenta irregularidades nos dois presentes)

Indicativo

Presente: firo – feres – fere – ferimos – feris – ferem

Subjuntivo

Presente: fira – firas – fira – firamos – firais – firam

Observação: Por ferir, conjugamos: aderir, advertir, aspergir, aferir, auferir, cerzir,
compelir, competir, concernir, conferir, conseguir, consentir, convergir, deferir, despir,
diferir, divergir, discernir, divertir, gerir, deferir, desferir, desservir, diferir, digerir, expelir,
impelir, indeferir, inerir, inferir, ingerir, inserir, investir, mentir, perseguir, preterir, propelir,
prosseguir, refletir, repelir, repetir, revestir, seguir, servir, sugerir, vestir e outros.

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PORTUGUÊS

EXERCÍCIOS

1) Indique a(s) alternativa(s) que completa(m) com correção a lacuna. No caso de


ausência, indique com .

a) Os Estados Unidos _______________ acordo no Oriente Médio. Essa intervenção


_______________ provisoriamente a situação.

( ) media ( ) medeia ( ) mediam ( ) medeiam

( ) remedia ( ) remedeia

b) Hoje, muitas organizações _______________ positivamente na sociedade, fazendo com


que a população se _______________.

( ) intervém ( ) intervêem ( ) intervêm

() ( ) precavenha ( ) precaveja

c) O governador _______________ sua posição partidária. Afirmou ser preciso que o


partido _______________ a confiança do eleitor.

( ) reouve ( ) reaveu ( ) reaviu ()

() ( ) reavenha ( ) reaveja ( ) reava

d) É viável que a prefeitura _______________ suas escolas. Em um caso, uma cidade não
_______________ por motivos políticos.

( ) proveja ()

( ) proveu ( ) proviu ( ) proveio ()

e) As dificuldades nem sempre _______________ dos grandes centros, pois as pesquisas


_______________ problemas no interior do país.

( ) provém ( ) provêem ( ) provêm ()

( ) prevém ( ) prevêem ( ) prevêm ()

f) O brasileiro nem sempre _______________ a atuação de seu candidato. Essa atitude


pouco _______________ na hora das eleições.

( ) computa ()

( ) contribui ( ) contribue

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g) Ele não se _______________ do acidente, mas seu bom senso _______________ na


hora. Depois todos _______________ mais segurança

( ) precaveu ( ) precaveio ( ) precaviu ()

( ) interviu ( ) interveio ()

( ) requereram ( ) requiseram

GABARITO

1) Indique a(s) alternativa(s) que completa(m) com correção a lacuna. No caso de


ausência, indique com .

a) medeiam, remedeia

b) intervêm,

c) reouve,

d) proveja, proveu

e) provêm, prevêem

f) , contribui

g) precaveu, interveio, requereram

QUESTÕES DE PROVAS

1) (Mag-SP) Escolha a alternativa que preenche as lacunas da frase abaixo com as


formas corretas dos verbos ter e vir.

A vida _______________ percalços que _______________ sem ninguém esperar; quando


um deles _______________, todos _______________ de enfrentar com decisão.

a) tem, vêm, vem, têm

b) têm, vêm, vem, tem

c) têm, vem, vêm, tem

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PORTUGUÊS

d) tem, vem, vêm, têm

2) (Mag-SP) Assinale a alternativa correta.

a) Não adianta buscar soluções que não se adéqüem ao caso concreto, nem se embasem na
lei.

b) Ela intermedeia conflitos e remedeia situações problemáticas.

c) É mister que ele se precavenha contra tudo e contra todos.

d) Pleitea-se o que não se pode obter e opta-se por uma solução à margem da lei.

3) (Mag-SP) Assinale a alternativa correta de acordo com a norma culta da língua.

a) Se se comporem consensualmente as partes, o processo terá um fim célebre.

b) Se reaverem seus bens antes da audiência, os autores não se oporão ao fim da demanda.

c) Porque não crêem na parte contrária, os réus mantêm uma atitude reservada.

d) O réu interviu no feito e reconviu no prazo legalmente previsto.

4) (MP-RS) Assinale a alternativa que completa corretamente o período:

“_______________ que a frase ficará mais elegante se _______________ os termos da


oração e _______________ o sujeito oculto.”

a) Convenhamos – transpormos – mantermos

b) Convimos – transpusermos – mantermos

c) Convimos – transpormos – mantivermos

d) Convenhamos – transpusermos – mantivermos

e) Convenhamos – transpusermos – mantermos

5) (MP- RS) Assinale a alternativa correta.

“Eu não _______________ outros autores; _______________ minhas falhas e


_______________ contra quaisquer críticas.”

a) plagio – remedio – acautelo-me

11
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PORTUGUÊS

b) plageio – remedeio – precavenho-me

c) plagio – remedeio – acautelo-me

d) plageio – remedeio – precavejo-me

e) plagio – remedeio – precavenho-me

6) (MP-RS) Marque a opção incorreta.

a) É provável que a comissão sobreste o exame desses processos.

b) Quando o vir, dê-lhe o recado.

c) O réu reconveio, como já era esperado.

d) Quero que se consignem na ata esses protestos.

e) É preciso que se distingam as duas situações.

GABARITO

1–A

2–B

3–C

4–D

5–C

6–A

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO VII

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS


E COLETIVOS
Estatuto da Criança e do Adolescente

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_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

Estatuto da Criança e do Adolescente

1. OS PROCEDIMENTOS DE ATOS INFRACIONAIS

1.1. Apuração de Ato Infracional Atribuído ao Adolescente


O art. 172 dispõe sobre o flagrante de ato infracional. Apreendido em flagrante, o
adolescente será encaminhado à Delegacia de Polícia para que a autoridade policial apure a
infração. O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê uma Delegacia Especial para o
encaminhamento de menores, delegacia essa que, entretanto, no Estado de São Paulo não
existe.

O Delegado de Polícia deve fazer um auto de apreensão em flagrante. O Estatuto da


Criança e do Adolescente permite a substituição do auto de apreensão em flagrante pelo
boletim de ocorrência circunstanciado quando o ato infracional não foi cometido com
violência ou grave ameaça.

Se uma criança for apreendida em flagrante de ato infracional, deverá ser


encaminhada ao Conselho Tutelar e, na falta desse, ao Juízo da Infância e Juventude,
sendo, quando possível, restituída aos pais ou responsáveis.

Além de preparar o auto, a autoridade policial deve determinar a realização das


perícias necessárias. Feito o auto e determinada a realização das perícias necessárias, a
autoridade tomará uma das duas providências a seguir:

• se o ato infracional não for grave e comparecem os pais ou responsáveis, o


adolescente será liberado, mediante termo de compromisso de apresentação ao
Ministério Público, no mesmo dia ou no dia útil seguinte. Liberado o menor, a
autoridade encaminha ao Ministério Público o auto de apreensão em flagrante e
todos os laudos que foram realizados;

• se o ato infracional for grave, que tenha repercussão social ou, ainda, para a
segurança do próprio adolescente ou da ordem pública, a autoridade policial não
libera o adolescente, ainda que os pais compareçam. Nesse caso, a própria
autoridade policial irá encaminhar o menor ao Ministério Público imediatamente,
junto com as peças que tiver. Se não for possível a apresentação imediata ao
Ministério Público, o menor deverá ser encaminhado a uma entidade de
atendimento, que deverá apresentá-lo no prazo de 24h. Na falta de uma entidade
de atendimento, o menor deve ficar numa dependência de uma Delegacia,
separado dos maiores, pelo prazo máximo de 24h.

1
_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

Pode acontecer de não haver a apreensão em flagrante. Sendo descoberto, por


investigação, que o menor cometeu ato infracional, deverá o Juiz da Infância determinar a
apreensão (apreensão judicial). Nesse caso, o menor deve ser apreendido e imediatamente
apresentado ao juiz.

O menor, após apresentado ao juiz, deve ser encaminhado ao Ministério Público,


que ouvirá o menor - oitiva informal -, apreciará as peças encaminhadas pela autoridade
policial e iniciará a ação sócio-educativa por meio de representação.

Pode o próprio Ministério Público, ao oferecer a representação, requerer a apreensão


judicial do menor.

O adolescente não pode ser conduzido no compartimento fechado do veículo


policial, ou em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
integridade física ou moral (art. 178 do ECA). O descumprimento dessa norma é abuso de
autoridade.

O uso de algemas, em qualquer situação (tanto para o maior quanto para o menor), é
regulado por um decreto estadual. É uso necessário para garantir a ordem pública; assim,
no caso de existir essa necessidade, podemser utilizadas, em algumas hipóteses, em
adolescentes. Criança não pode ser algemada em nenhuma hipótese.

2. PROCEDIMENTO JUDICIAL DA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA

Ao receber a representação, o juiz deve designar a audiência de apresentação (essa


audiência tem por fim a oitiva do menor e de seus representantes legais). O juiz notifica a
esses o teor da representação e que eles devem comparecer à audiência de apresentação
acompanhados de advogado (é uma citação). Na audiência de apresentação (que deve
acontecer sempre com advogado), o juiz ouvirá o menor e seus representantes legais e
poderá decidir pela remissão (ouvido o Ministério Público).

Se o adolescente não for localizado, o juiz determinará busca e apreensão, e o


processo ficará suspenso (não há processo à revelia). Se os pais não forem localizados, o
juiz nomeará curador que poderá ser o próprio advogado.

Após a audiência de apresentação, o juiz designará uma segunda audiência,


chamada de audiência de continuação, na qual determinará tudo que for necessário (prova,
estudo social etc.); é a audiência de produção de provas, debates e julgamento. Após essa
segunda audiência, o juiz, se entender adequado, pode conceder a remissão (art. 188). Não
sendo caso de remissão, o juiz dará a sentença (que não é condenatória nem absolutória)
para a aplicação de medida sócio-educativa.

Em seguida, há a intimação da sentença, que pode se dar de duas formas:

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_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

• se o juiz aplicar internação ou semi-liberdade, a intimação é feita ao adolescente


e ao seu advogado; se o menor não for encontrado, a intimação é feita ao
representante legal e ao seu advogado;

• quando o juiz aplica qualquer outra medida, a intimação é feita somente ao


defensor.

3. MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS (ART.


129)

• Encaminhamento a programa de apoio à família.

• Tratamento psicológico ou psiquiátrico, se necessário.

• Determinação de matrícula e freqüência obrigatória do menor no


estabelecimento de ensino.

• Obrigação de ser dado tratamento médico adequado ao menor.

• Advertência.

• Perda da guarda.

• Destituição de tutela.

• Suspensão ou destituição do Pátrio Poder.

O ECA também tem uma previsão de medida cautelar no art. 130: poderá o juiz
determinar a retirada dos pais do lar desde que haja maus tratos, opressão ou abuso sexual,
ou seja, ao invés de encaminhar o menor ao abrigo, o juiz pode determinar que os pais se
retirem da casa.

4. RECURSOS

O sistema de recursos utilizado é o do Código de Processo Civil. O prazo para


interposição e resposta de qualquer recurso é de 10 dias, com exceção dos embargos de
declaração e do agravo de instrumento, que têm o prazo de 5 dias. A competência para
apreciar o recurso é do Tribunal de Justiça (Câmara Especial). O Ministério Público possui
o prazo em dobro (art. 188, CPC).

3
_________________________________________________________________________ MÓDULO VII
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

A apelação também se diferencia em alguns pontos:

• Há o juízo de retratação.

• Tem efeito devolutivo, mas o juiz pode conceder o efeito suspensivo sempre que
houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação. O efeito suspensivo é
obrigatório para a apelação de sentença que defere a adoção internacional. Em se
tratando de Ação Civil Pública (art. 225, ECA), permite-se a concessão de efeito
suspensivo para evitar dano irreparável à parte.

4
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XIII

EXERCÍCIOS
CURSO ANUAL
OPÇÃO 3

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ADMINISTRATIVO

1. São modalidades de licitação:


a)concorrência, tomada de preços, convite, concurso e leilão;
b)concorrência, adjudicação, convite, concurso e leilão;
c)concorrência, homologação, convite, concurso e leilão;
d)concorrência, autorização, adjudicação, convite e concurso.

2. A licitação é inexigível sob o fundamento da notória especialização:


a)quando, a exclusivo critério do administrador, a pessoa a ser contratada é a melhor;
b)quando somente houver uma pessoa a prestar o serviço;
c)ao prudente critério do administrador para a satisfação do interesse público;
d)quando houver necessidade para a execução do objeto de alguém notoriamente
especializado e houver permissivo legal.

3. A permissão do serviço público:


a)porque precária, dispensa a licitação;
b)mesmo precária, não dispensa a licitação;
c)quando precária, dispensa a licitação;
d)não é precária e não dispensa a licitação.

4. Assinale a alternativa correta:


a)Em licitação na qual alguns dos concorrentes forem inabilitados e outros
desclassificados, restando apenas uma proposta em condições de ser apreciada, a
Administração pode adjudicar o objeto ao proponente dela, caso considere satisfatória a
oferta.
b)A requisição de bens não pode ser utilizada como instrumento de intervenção do Estado
no domínio econômico.
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_________________________________________________________________________MÓDULO XIII

c)Incorre no vício de desvio de poder a autoridade que, embora incompetente para prover
sobre a matéria, remove servidor público movida por sentimento de animosidade política.
d)O nomeado para cargo público que não tomar posse no prazo legal deve ser demitido.

5. Em uma concorrência para contratação de um serviço, a proposta de uma licitante


foi desclassificada, sob o fundamento de que seu preço seria muito abaixo do preço
médio de mercado. Essa decisão:
a)está incorreta, porque o Administrador só deve desclassificar proposta com preço acima
do preço médio de mercado (“superfaturado”);
b)contraria o interesse público, porque a Administração deve sempre contratar quem
ofereça o menor preço;
c)está correta, visto que a Administração não poderá nunca contratar licitante que ofereça
preço abaixo do preço do mercado;
d)tem fundamento legal, porque o interesse público exige a contratação de proposta
exeqüível.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XIII

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CIVIL

1. O usucapião:
a)só pode atingir imóveis da União quando concedido por razões sociais;
b)pode atingir imóveis de autarquias;
c)não atinge os bens de uso comum, mas pode atingir os bens dominiais;
d)jamais atinge qualquer bem público.

2. Adquire-se a propriedade imóvel:


a)pelo contrato de compra e venda, pelo usucapião e por direito hereditário;
b)pelo contrato de compra e venda, pela acessão e pelo usucapião;
c)pela transcrição do título próprio no registro competente, pela acessão e por direito
hereditário;
d)pela transcrição do título próprio no registro competente, por doação, pelo usucapião e
por direito hereditário.

3. Com dez anos de exercício de posse, foi proposto o pedido de usucapião. Não
poderá, porém, ser acolhido, porque:
a)em ação reintegratória de três anos antes, promovida a ação contra terceiro, argüido
também por esse usucapião, fora a possessória julgada improcedente;
b)foi notificado o autor, dois anos antes da propositura, de que sua posse era ilegal;
c)apenas deixara o autor placa fixada no imóvel, em que se arrogava a propriedade, tendo-a
cercado sem que concretizada estivesse sua posse;
d)não quitara os tributos que incidiram sobre o solo.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XIII

4. Sobre o condomínio em edificações, assinale a alternativa correta:


a)Considera-se aprovada, e obrigatória para os proprietários de unidades, promitentes
compradores, cessionários e promitentes cessionários, atuais e futuros, como para qualquer
ocupante, a convenção que reúna as assinaturas de titulares de direitos que representem, no
mínimo, a metade mais um das frações ideais que compõem o condomínio.
b)Embora defeso a qualquer condômino alterar a forma externa da fachada, o proprietário
ou o titular de direito à aquisição de unidade poderá fazer obra que modifique sua fachada,
se obtiver aquiescência da unanimidade dos condôminos.
c)O direito à guarda de veículos nas garagens das edificações poderá ser transferido a outro
condômino ou a pessoas estranhas ao condomínio, independentemente da alienação da
unidade a que corresponder.
d)A alienação de cada unidade, a transferência de direitos pertinentes à sua aquisição e a
constituição de direitos reais sobre ela independerão de consentimento dos condôminos e
de prova de quitação das obrigações do alienante para o respectivo condomínio.

5. Sobre os direitos reais:


I. Somente nos casos de penhor agrícola ou pecuário a posse não é indispensável para
a constituição de direito real.
II. O usufruto constituído em favor de pessoa jurídica extingue aos cem anos da data
em que se começou a exercer.
III. Em hipótese alguma o credor de segunda hipoteca, embora vencida, poderá executar o
imóvel antes de vencida a primeira.

A partir do exposto, assinale a alternativa correta:.

a)As afirmações I e III estão erradas.


b)A afirmação II está errada.
c)As afirmações II e III estão corretas.
d)As afirmações I e II estão corretas.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XIII

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO COMERCIAL

1. A requerimento de falido, do representante do Ministério Público ou de


qualquer credor, ou por iniciativa do próprio juiz, o síndico poderá ser
destituído, como penalidade, por:
a)falta de prestação de contas de sua administração;
b)ter sido nomeado sem embargo da existência de impedimentos, por ter exercido os
prazos, por infração dos deveres legais ou por ter interesses contrários aos da massa;
c)falta de assinatura do termo de compromisso no prazo legal;
d)não ter dado maior publicidade à sentença declaratória da falência.

2. É declarável a falência:
a) da sociedade de economia mista;
b) do espólio do devedor comerciante;
c) dos menores com mais de 16 anos que mantenham estabelecimento comercial sem
economia própria;
d) da mulher casada que, sem autorização do marido, exerce o comércio, por mais de três
meses, fora do lar conjugal.

3. Quando o pedido de falência funda-se no art. 2.º do Decreto-lei n. 7.661/45 – atos


de falência –, a defesa do requerido:
a) denomina-se “embargos”, deve ser apresentada em 24 horas, inexistindo a
possibilidade de elisão;
b) denomina-se “embargos”, deve ser apresentada em 48 horas, existindo a possibilidade
de elisão;
c) denomina-se “contestação”, deve ser apresentada em 24 horas, existindo a
possibilidade de elisão;
d) denomina-se “contestação”, deve ser apresentada em 48 horas, inexistindo a
possibilidade de elisão.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XIII

4. São efeitos da sentença declaratória da falência:


a)a extinção de todas as ações movidas contra o devedor falido e a rescisão automática de
todos os contratos bilaterais de que este seja parte;
b)a suspensão de todas as execuções movidas contra o devedor falido e o vencimento
antecipado de todas as suas dívidas;
c)a suspensão das execuções cíveis movidas contra o devedor falido, à exceção daquelas
que já tiverem praça designada, e a indisponibilidade dos bens de seus sócios ou
administradores;
d)a extinção de todas as ações movidas contra o devedor falido e a cessação da fluência de
juros contra a massa;
e)a suspensão das execuções cíveis movidas contra o devedor falido, à exceção daquelas
que já tiverem praça designada, e a apuração de seus haveres em todas as sociedades
limitadas das quais fizer parte.

5. Assinale a alternativa correta sobre a declaração de falência dos comerciantes


ambulantes:
a) Não podem falir os comerciantes ambulantes, porque não têm estabelecimento
permanente.
b) Não podem sujeitar-se à quebra os comerciantes ambulantes, porque não são obrigados
a manter contabilidade regular.
c) Não podem falir os comerciantes ambulantes, porque não dispõem de ativos fixos
imobilizados.
d) A quebra dos comerciantes ambulantes pode ser declarada pelo juiz do lugar onde
sejam encontrados.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CONSTITUCIONAL

1. Indique a alternativa que abriga informação errônea a respeito do sistema


brasileiro de controle de constitucionalidade:
a)É o jurisdicional, combinando os critérios difuso e concentrado, este de competência do
Supremo Tribunal Federal, e aquele por via de exceção, permitindo a qualquer interessado
suscitar a questão de inconstitucionalidade em qualquer juízo.
b)A ação direta de inconstitucionalidade interventiva pode ser federal, por proposta do
Procurador-Geral da República e de competência do Supremo Tribunal Federal, ou
estadual, por proposta do Procurador-Geral de Justiça do estado, destinando-se a promover
a intervenção federal em estado ou do estado em município, conforme o caso.
c)A ação direta de inconstitucionalidade genérica de competência do Supremo Tribunal
Federal destina-se a obter a decretação de inconstitucionalidade, em tese, de lei ou ato
normativo, federal ou estadual, com o precípuo objetivo de expungir do ordenamento
jurídico a incompatibilidade vertical, tratando-se, pois, de ação que visa, exclusivamente, à
defesa do princípio da supremacia constitucional.
d)A ação direta de inconstitucionalidade genérica de competência do Tribunal de Justiça
em cada estado destina-se à declaração de inconstitucionalidade, em tese, de leis ou atos
normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Federal ou Estadual,
dependendo de previsão nessa última.
e)A ação de inconstitucionalidade por omissão tem cabimento na hipótese em que o
legislador deixe de criar lei necessária à eficácia e aplicabilidade de normas
constitucionais, especialmente nos casos em que a lei seja requerida pela Constituição, ou
no caso em que o administrador não adote as providências necessárias para tornar efetiva
norma constitucional.

2. O decreto de intervenção federal nos estados dependerá:


a)de requisição do Supremo Tribunal Federal, quando a coação a ser eliminada estiver
sendo exercida contra o Poder Judiciário;
b)de provimento pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador Geral do
Estado respectivo, quando se tratar de desobediência de lei federal;
c)de provimento pelo Superior Tribunal de Justiça, de representação do Procurador Geral
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_________________________________________________________________________MÓDULO XIII

do Estado respectivo, quando se tratar de desobediência de lei estadual;


d)de requisição do Tribunal de Justiça mediante representação do Procurador Geral do
Estado, quando se tratar de desobediência de lei estadual.

3. Caberá ao Presidente da República decretar o estado de defesa, com a finalidade


de preservar a ordem pública. Essa medida depende:
a)de prévia audição do Conselho da República e do Conselho de defesa Nacional;
b)de prévia aprovação do Conselho da República;
c)de posterior aprovação pelo Conselho de Defesa Nacional;
d)da exclusiva decisão do Presidente da República.

4. Na vigência do estado de defesa, só poderá ser tomada, contra pessoa, a medida


seguinte:
a) obrigação de permanência em localidade determinada;
b) aplicação da pena de morte;
c) prisão não superior a dez dias, vedada a incomunicabilidade do preso;
d) busca e apreensão em domicílio.

5. Durante a vigência do estado de sítio:


a) poderão ser suspensas as garantias constitucionais indicadas no decreto presidencial;
b) é possível o confisco de bens de estrangeiros não residentes no país;
c) é possível a requisição de terras para fins de reforma agrária;
d) é possível a suspensão apenas do direito de reunião e do sigilo de correspondência e de
comunicação telegráfica e telefônica.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1. O empregado dispensado injustamente tem direito à liberação dos depósitos do


FGTS e a multa equivalente a:
a) 10% dos depósitos;
b) 20% dos depósitos;
c) 40% dos depósitos;
d) 100% dos depósitos.

2. O furto cometido contra a empresa por um empregado é considerado, para efeitos


de justa causa, um ato de:
a) desídia;
b) improbidade;
c) mau procedimento;
d) incontinência de conduta.

3. Indique a situação que não representa justa causa para rescisão do contrato de
trabalho pelo empregador:
a) Desídia no desempenho das respectivas funções.
b) Decretação da prisão temporária do empregado.
c) Prática constante de jogos de azar.
d) Violação de segredo da empresa.

4. Sobre o Direito Processual do Trabalho, é correto afirmar que:


a)é autônomo perante o Direito Processual Comum;
b)há uma unanimidade de conclusões;
c)compreende somente as figuras do processo;

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_________________________________________________________________________MÓDULO XIII

d)resultou independentemente de existirem ou não conflitos trabalhistas.

5. O princípio que diz respeito à função do juiz de procurar e reunir o material do


processo e de impulsioná-lo, algumas vezes até à revelia das partes, para que não
se procrastinem os feitos é:
a)o contraditório;
b)a celeridade processual;
c)a eventualidade;
d)o inquisitivo.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

1. A exploração direta de atividade econômica pelo Estado será admitida:


a) somente quando omissa a iniciativa privada;
b) somente quando necessária à segurança nacional ou ao relevante interesse coletivo;
c) se necessária ao interesse social e do Estado;
d) mediante atuação das empresas estatais em parceria com a iniciativa privada;
e) atendido o plano plurianual para o exercício seguinte.

2. Para Miguel Reale, a Constituição Federal de 1988 adotou o social-liberalismo.


Indique, entre os princípios enumerados no art. 170, quais poderiam confirmar
esse entendimento, na seguinte forma dicotômica:
a) Propriedade privada / defesa do meio ambiente.
b) Livre concorrência / busca do pleno emprego.
c) Livre iniciativa / soberania nacional.
d) Soberania nacional / defesa do meio ambiente.
e) Propriedade privada / função social da propriedade.

3. Além dos princípios estabelecidos expressamente, a ordem constitucional


econômica prevê, ainda:
a) a regulação da remessa de lucros do capital estrangeiro, mediante lei;
b) os reinvestimentos do capital estrangeiro;
c) a limitação dos investimentos de capital estrangeiro;
d) a aplicação regional do capital estrangeiro;
e) a liberação da remessa de lucros aos reinvestimentos.

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4. A atividade econômica, no Brasil, atenderá a planos nacionais e regionais de


desenvolvimento, mediante:
a) lei complementar específica;
b) lei de diretrizes e bases de planejamento;
c) lei de diretrizes e bases de planejamento, incluídos os planos nacionais e regionais de
desenvolvimento;
d) lei de diretrizes e bases, que incluirá planos nacionais e regionais e de cooperativismo;
e) lei complementar dispondo sobre cooperativismo e outras formas de associativismo.

5. Adotados os princípios da livre concorrência e da liberdade de iniciativa, é


correto afirmar que:
a) a lei poderá conceder proteção e benefícios temporários a empresas brasileiras de
capital nacional, imprescindíveis ao desenvolvimento do país;
b) a exploração direta de atividade econômica pelo Estado é limitada;
c) inexiste tratamento favorecido para empresas brasileiras de qualquer natureza;
d) é possível a exploração direta de atividade econômica pelo Estado, desde que
necessária aos imperativos da segurança nacional ou ao relevante interesse coletivo,
definidos em atos do Poder Executivo.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XIII

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ELEITORAL

1. O voto em branco, na representação proporcional, segundo as regras previstas na


legislação eleitoral para 1.998:
a) conta-se como voto válido para determinar o quociente partidário;
b) não é contado como voto válido para determinar o quociente eleitoral;
c) não tem significado algum, salvo a favor de legendas;
d) conta-se apenas para apurar o número de votantes e a partir dele definir a quantidade de
vagas a serem preenchidas.

2. Nas eleições para governador de estado, as impugnações de votos serão decididas:


a) pelo juiz eleitoral;
b) pela turma apuradora;
c) pela Junta apuradora;
d) pelo Tribunal Regional Eleitoral.

3. As eleições:
a) para o Senado Federal e para a Câmara dos Deputados realizam-se, respectivamente,
segundo o princípio majoritário e pelo sistema proporcional;
b) para Presidente da República e governadores de estados realizadas pelo sistema
majoritário terão segundo turno se nenhum candidato obtiver a maioria absoluta dos
votos válidos no primeiro, computados os votos em branco e os nulos, legítima
expressão da vontade popular;
c) para a Câmara dos Deputados e para as Assembléias Legislativas realizam-se pelo voto
distrital misto, sendo majoritárias relativamente à metade das vagas e proporcionais
quanto às demais, mediante lista fechada elaborada pelos partidos políticos;
d) pelo sistema proporcional, para deputados federais e estaduais, não admitem coligações
partidárias, considerando-se a desfiguração delas resultante para os votos de legenda.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XIII

4. Nas eleições para a Câmara de Vereadores de dado município, o PMDB obteve


3596 votos; o PTB obteve 4518 votos; a coligação “Corre Brasil” obteve 1682
votos; foram dados 200 votos em branco. Sendo sete o número de cadeiras
naquela casa, qual partido obteve o maior número?
a) PMDB.
b) PTB.
c) Coligação “Corre Brasil”.
d) Nenhuma das alternativas anteriores é correta.

5. Quando o eleitor escrever o nome de um candidato, o número de outro de legenda


diferente e, ainda, uma legenda que não seja de qualquer dos candidatos:
a) conta-se o voto para o candidato cujo nome foi escrito, bem como para a legenda a que
pertence;
b) o voto será contado para o candidato cujo número foi escrito, bem como para a legenda
que foi escrita;
c) o voto será contado apenas para a legenda escrita;
d) o voto será considerado nulo.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XIII

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO INTERNACIONAL

1. O Direito Internacional Privado tem por fundamentos, exceto:


a) a natureza cosmopolita do homem;
b) a variedade de leis municipais:
c) o comércio internacional;
d) a multiplicação dos meios de comunicação.

2. Sobre Direito Internacional Privado, é correto afirmar que:


a) é o ramo da ciência jurídica que se define pelo conjunto de normas e princípios que
atuam sobre as relações jurídicas nas quais estão presentes elementos estrangeiros;
b) é ente secundário do Direito Internacional, que nasce da reunião de Estados;
c) é aquele que apresenta um poder único e centralizado;
d) é um agrupamento de Estados com a finalidade de assegurar a defesa comum.

3. São elementos caracterizadores, exceto:


a) cosmopolitismo;
b) diversidade de leis;
c) fatos anormais;
d) conflitos de leis no tempo.
e) Nenhuma das alternativas anteriores é correta.

4. Trata-se de um Direito Privado porque se circunscreve ao campo das relações


entre:
a) públicos;
b) entes jurídicos;
c) particulares.
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d) Nenhuma das alternativas anteriores é correta.

5. Uma pessoa nascer no Brasil, casar-se na Argentina, lá ter um filho e morrer na


Inglaterra corresponde a:
a) multiplicação dos meios de comunicação;
b) variedade de leis estatais;
c) natureza cosmopolita do homem;
d) conflito de normas no tempo.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PENAL

1. Aquele que mata alguém “sob a influência de violenta emoção, provocada por ato
injusto da vítima”, incidirá, na ausência de outras circunstâncias, no crime de
homicídio doloso praticado na sua forma:
a) simples, servindo a “violenta emoção” nas condições acima como uma agravante
genérica;
b) qualificada;
c) privilegiada;
d) simples, servindo a “violenta emoção” nas condições acima como uma atenuante
genérica.

2. (Del.Pol./SP – 1/96) O inciso V do art. 121 do Código Penal prevê, como forma
qualificada, a prática do crime de homicídio “para assegurar a execução, a
ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime”. Essa circunstância é um
bom exemplo para explicar o que são crimes:
a) conexos;
b) complexos;
c) preterdolosos;
d) plurissubjetivos.

3. Se o partícipe instiga outrem a praticar um crime de homicídio, mas durante a


execução do ataque quis impedir que o resultado se produzisse, porém sem
sucesso:
a) é reconhecível a desistência voluntária;
b) é reconhecível o arrependimento eficaz;
c) é reconhecível o arrependimento posterior;
d) beneficia-se pela participação de menor importância.

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4. O agente que, dolosamente, impede o socorro ao suicida que se arrependera do ato


extremado e tentava buscar auxílio comete:
a) crime de omissão de socorro;
b) crime de homicídio;
c) crime de induzimento ao suicídio;
d) fato penalmente irrelevante.

5. É incorreto afirmar-se que:


a) para a realização do aborto sentimental, é prescindível a existência de autorização
judicial;
b) o namorado que acompanha a gestante que deseja abortar ou paga o aborto criminoso, a
pedido dela, comete o crime de auto-aborto na condição de co-autor;
c) em caso de aborto necessário feito por médico, nenhum crime pratica a enfermeira que
o auxiliou;
d) para a realização do aborto necessário é prescindível o consentimento da gestante ou de
seus familiares.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

1. Sobre o benefício de auxílio-acidente, pode-se afirmar que:


a) para ser concedido, depende do período de carência de 12 meses;
b) é pago integralmente pelo empregador do acidentado;
c) é devido, sem exceção, a todas as categorias de trabalhadores, inclusive ao empregado
doméstico;
d) não exige, para ser concedido, nenhum período de carência.

2. Quanto às prestações previdenciárias relativas a acidente de trabalho, é correto


afirmar que:
a) são devidas ao empregado doméstico;
b) não são devidas ao médico-residente;
c) o segurado que sofre acidente de trabalho tem garantida, pelo prazo máximo de 12
meses, a manutenção do seu contrato de trabalho, após a cessação do respectivo
auxílio-doença e independentemente de percepção de auxílio-acidente;
d) são devidas ao segurado especial.
e) Nenhuma das alternativas anteriores é correta.

3. Não é permitido o recebimento conjunto de:


a) abono de permanência em serviço e salário-maternidade;
b) mais de uma pensão deixada por cônjuge e companheiro ou companheira, facultada a
opção pela que for mais vantajosa ao dependente;
c) seguro-desemprego e pensão por morte;
d) aposentadoria e salário-família;
e) auxílio-doença e pensão por morte.

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4. São consideradas prestações da Previdência Social devidas aos segurados e seus


dependentes:
a) aposentadoria por invalidez, salário família, auxílio-reclusão e reabilitação
profissional;
b) aposentadoria por tempo de contribuição, auxílio-doença, seguro-desemprego e
salário-maternidade;
c) aposentadoria por tempo de serviço, auxílio-acidente, licença-paternidade e pecúlio;
d) aposentadoria especial, abono de permanência em serviço, pensão especial por
invalidez e auxílio-natalidade.

5. No nosso sistema previdenciário, independe de carência a concessão, entre outros,


dos seguintes benefícios:
a) pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família, salário-maternidade e
aposentadoria por idade;
b) pensão por morte, auxílio-reclusão, auxílio-acidente e aposentadoria por idade de
trabalhador rural;
c) pensão por morte, auxílio-reclusão, auxílio-acidente, salário-maternidade e pecúlios;
d) pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-maternidade e aposentadoria por idade de
trabalhador rural e urbano.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1. O juiz de ofício, para o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer,


poderá fixar a pena de multa diária (astreintes):
a)apenas na fase de conhecimento;
b)apenas na fase de execução;
c)tanto na fase de conhecimento como na fase de execução;
d)em nenhuma hipótese, por depender sempre de pedido do credor.

2. Penhora. Execução:
a)Nada impede que mais de uma penhora recaia sobre o mesmo bem em execuções
diversas promovidas por credores diferentes. A intervenção da União, de suas autarquias e
de empresas públicas em concurso de credores ou de preferência não desloca a
competência para a justiça federal.
b)O juízo deprecado é competente para apreciar os incidentes relacionados com a penhora,
a avaliação e a alienação do bem penhorado.
c)Em concurso de credores, prevalece o credor com nota de crédito industrial, como
privilegiado, ao crédito de honorários advocatícios fixados nos próprios autos.
d)A penhora de renda diária de empresa executada exige a nomeação de administrador, que
submeterá à aprovação judicial a forma de administração e o esquema de pagamento,
devendo ele comunicar à Junta Comercial que entrou no exercício das suas funções e
prestar contas mensalmente nos autos da execução.

3. O fato de não serem adjudicados bens que, levados a leilão, deixarem de ser
arrematados:
a)impede que a Fazenda Pública requeira um segundo leilão;
b)não acarreta a extinção do processo de execução;
c)torna impossível a substituição do bem penhorado;
d)enseja a extinção do processo de execução.

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4. O art. 668 do Código de Processo Civil diz: “o devedor ou responsável, pode, a


todo tempo, antes da arrematação ou da adjudicação, requerer a substituição do
bem penhorado por dinheiro”. E o art. 685, inc. I, dispõe: “Após a avaliação,
poderá mandar o juiz, a requerimento do interessado e ouvida a parte contrária: I
– reduzir a penhora aos bens suficientes, ou transferi-la para outros, que bastem à
execução, se o valor dos penhorados for consideravelmente superior ao crédito do
exeqüente e acessórios”.
Em execução, penhorado imóvel do devedor, este, após a designação de datas para
as praças, e invocando o art. 685, inc. I, requereu a substituição do bem
penhorado por outro, que diz ser de valor muito superior ao total do crédito e dos
acessórios. Esse pedido do devedor:
a)é ilegal e inaceitável, porque a substituição só é possível por dinheiro;
b)pode ser atendido, porque o bem ofertado tem valor maior, beneficiando o credor;
c)é ilegal e inaceitável, porque a substituição só pode ocorrer antes da designação da praça;
d)pode ser acolhido, porque a substituição pode ser requerida a todo tempo, antes da
arrematação ou da adjudicação.

5. Execução. Suspensão e extinção:


a)A alienação ou a oneração em fraude de execução é nula relativamente ao juízo da
execução.
b)Havendo penhora de crédito, se o terceiro negar o débito em conluio com o devedor, a
quitação que este lhe der será considerarada fraude de execução.
c)Reconhecida a fraude de execução, o cancelamento do registro da alienação fraudulenta
depende de ação específica.
d)A fraude de execução pode ocorrer se a alienação for efetuada após a citação para o
processo de conhecimento de que possa resultar condenação.
e)Não configura fraude de execução simples protesto contra alienação de bens.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. No procedimento comum, de rito ordinário, é correto afirmar que:


a) após o interrogatório do réu, deve a defesa, no prazo de três dias, oferecer alegações
escritas e arrolar testemunhas, que serão ouvidas após as testemunhas arroladas pela
acusação;
b) terminada a instrução, o órgão ministerial e, depois, a defesa poderão requerer
diligências, no prazo de três dias;
c) as alegações finais serão oferecidas pela defesa no prazo de três dias, sendo que, se
forem dois ou mais os réus, com defensores diferentes, o prazo será sucessivo de três
dias para cada um deles;
d) a sentença, em processo penal, só pode ser proferida por juiz que presidiu a instrução.

2. Quando do interrogatório, é direito do acusado:


a) mentir, pois amparado pela garantia constitucional de ampla defesa;
b) dar ao fato a versão que lhe convier, ainda que não plenamente verdadeira;
c) consultar seu advogado ou curador sobre a conveniência de responder ou não alguma
pergunta;
d) deixar de responder determinada pergunta, devendo, contudo, expor as razões para tal;
e) silenciar, simplesmente.

3. O advogado Y é convocado a prestar depoimento em comissão parlamentar de


inquérito:
a) Seu questionamento deve cingir-se ao fato motivador, não cabendo indagações sobre
situações colaterais, ainda que repercutam no fato principal.
b) Fixada por prazo certo e ultrapassado este, mesmo assim o advogado convocado, por
intimação, deve comparecer à Comissão Parlamentar de Inquérito.
c) A intimação para comparecer e prestar declarações viola direito do advogado.
d) O advogado, intimado como testemunha, não tem obrigação de atender à convocação.
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4. Ao assistente do Ministério Público não será permitido:


a) aditar o libelo;
b) arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público;
c) requerer perguntas às testemunhas;
d) participar dos debates orais na sessão de julgamento do Tribunal do Júri;
e) aditar a denúncia.

5. Com relação ao despacho judicial que admite, ou não, o assistente do Ministério


Público, pode-se afirmar que:
a) cabe recurso de ofício;
b) cabe recurso em sentido estrito;
c) não cabe recurso, mas do indeferimento é possível a interposição de correição parcial.
d) cabe agravo de instrumento;
e) não cabe recurso, mas do indeferimento é possível a interposição de mandado de
segurança.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. No intervalo entre o lançamento e o deferimento da petição inicial da execução


fiscal decorreram mais de cinco anos, em razão do que:
a)não houve prescrição, nem decadência;
b)ocorreu prescrição;
c)houve decadência;
d)ocorreram a decadência e a prescrição.

2. Lavrado auto de infração, pode a administração fazendária:


a)exigir, desde logo, a quantia devida;
b)intimar o devedor e, se este não se defender, inscrever a dívida e cobrar judicialmente o
tributo;
c)intimar o devedor e, após a defesa apresentada, inscrever a dívida;
d)exigir depósito para a apresentação da defesa do contribuinte.

3. O crédito tributário fica suspenso, impossibilitando sua exigibilidade:


a)quando o sujeito passivo impetrar mandado de segurança contra a autoridade pública
competente;
b)quando houver recurso administrativo pendente de julgamento;
c)quando não for concedida a moratória;
d)quando houver ação judicial do sujeito passivo contra a Fazenda.

4. Suspende(m) a exigibilidade do crédito tributário:


I. a moratória;
II. o depósito do seu montante integral;
III. as reclamações e recursos administrativos;

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IV. a concessão de medida liminar.


Pode-se afirmar que:
a)todos os itens estão corretos;
b)apenas os itens I e II estão corretos;
c)todos os itens estão incorretos;
d)apenas o item III está correto.

5. O depósito judicial, formalizado com o fim de suspender a exigibilidade do


crédito tributário, só pode ser levantado pelo contribuinte:
a) após julgada procedente a ação em 1.º grau;
b) após julgada procedente a ação, em decisão final;
c) em qualquer momento processual, a critério do contribuinte;
d) quando indeferido o recurso interposto pela Fazenda Pública.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITOS HUMANOS

1. Para fins da presente Convenção, o termo “tortura” significa, exceto:


a) castigar pessoa por ato que ela ou terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter
cometido;
b) qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos
intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa, informações
ou confissões;
c) intimidar ou coagir pessoa ou pessoas;
d) as dores ou sofrimentos que sejam conseqüência unicamente de sanções legítimas, que
sejam inerentes a tais sanções ou que delas decorram.

2. A Convenção, assegura, entre outros, os seguintes direitos a que os estados partes


se obrigam:
a) direito de que a declaração obtida mediante tortura seja invocada como prova em
qualquer processo;
b) investigar prontamente alegações de tortura, examinando toda denúncia de maneira
parcial;
c) proibição de expulsão, devolução ou extradição de pessoas para estados quando
houver risco efetivo de virem a ser torturadas;
d) consagra a regra da possibilidade de derrogação da proibição da tortura, ao estabelecer
que em alguns casos poderão ser invocadas circunstâncias excepcionais, tais como
ameaça ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra
emergência pública como justificação para tortura.

3. Cada Estado parte tomará as medidas necessárias para estabelecer sua jurisdição
sobre os crimes de tortura e sobre todo ato de qualquer pessoa que constitua
cumplicidade ou participação na tortura, nos seguintes casos, exceto:
a) quando os crimes tenham sido cometidos em qualquer território sob sua jurisdição ou a
bordo de navio ou aeronave registrada no Estado em questão;

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b) quando o suposto autor for nacional do Estado em questão;


c) direito a uma nacionalidade;
d) quando a vítima for nacional do Estado em questão e este o considerar apropriado.

4. A Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos e Punições Cruéis,


Desumanos e Degradantes foi adotada pela(s):
a) OEA em 1984;
b) ONU em 1984;
c) ONGs em 1984.
d) Nenhuma das alternativas anteriores é correta.

5. Para garantir que as pessoas não sejam submetidas a atos cruéis, desumanos ou
degradantes que não constituam tortura tal como definida no art. 1.º, os Estados
partes deverão coibir:
a) atos dessa natureza;
b) reabilitação;
c) cooperação com outros Estados;
d) reparação e indenização justa e adequada.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1. Omitir as cautelas necessárias para impedir que menor de dezoito anos ou


deficiente mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja
de sua propriedade, exceto para a prática de desporto quando o menor estiver
acompanhado do responsável ou do instrutor (art. 10, §1.º, inc. I, da Lei das
Armas de Fogo). No que diz respeito ao referido artigo, é correto afirmar que:
a)trata-se de crime doloso, uma vez que todos os proprietários de armas de fogo têm o
dever de manter a arma devidamente guardada;
b)o sujeito ativo da infração é somente o possuidor da arma de fogo;
c)se admite a tentativa por se tratar de crime doloso;
d)o crime é próprio, posto que só o possuidor ou o proprietário da arma podem cometê-lo.

2. Armas de fogo de uso restrito:


a)podem ser adquiridas no comércio;
b)são utilizadas pelas Forças Armadas, ou, desde que autorizadas pelo Exército, por
Instituições de Segurança ou por pessoas físicas ou jurídicas legalmente habilitadas;
c)são aquelas produzidas em série especial, exclusivamente para colecionadores;
d)delas não se ocupou a legislação em vigor.

3. É correto afirmar sobre o § 3.º do art. 10 da Lei das Armas de Fogo “Suprimir ou
alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou
artefato”:
a)É inadmissível a forma tentada por se tratar de crime culposo.
b)É crime próprio, posto que só o possuidor pode cometê-lo.
c)A competência é da Justiça Comum Estadual, embora o comportamento típico vise burlar
o controle de armas realizado pelo SINARM, órgão federal.
d)A pena é de reclusão de um a quatro anos.

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4. Estudando o Código de Trânsito Brasileiro, verifica-se que, ocorrendo a prática de


infração de trânsito com veículo sem placas ou com placas falsas ou adulteradas, é
correto afirmar que:
a)a circunstância não é prevista como agravante genérica;
b)coincidindo o autor da falsificação e da infração de trânsito, responderá ele em concurso
material de crimes;
c)coincidindo o autor da falsificação e da infração de trânsito, o crime de falsificação de
sinal de identificação de veículo automotor absorverá o delito previsto no Código de
Trânsito Brasileiro;.
d)aumenta-se a pena de metade, nos termos do art. 298 do Código de Trânsito Brasileiro.

5. A multa reparatória:
a)poderá exceder o valor do prejuízo demonstrado no processo, desde que haja justa causa;
b)é uma sanção de natureza exclusivamente civil, portanto, idêntica à prestação pecuniária
prevista no art. 43, inc. I, do Código Penal;
c)pode ser imposta em substituição às penas privativas de liberdade previstas para os
crimes de trânsito;
d)consiste no pagamento de quantia, mediante depósito judicial, em favor da vítima ou de
seus sucessores, sempre que houver prejuízo material decorrente de crime de trânsito.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

MEDICINA LEGAL

1. Anafrodisia é:
a) uma forma de sadismo;
b) uma forma de pigmalionismo;
c) a insaciabilidade masculina aos atos venéreos;
d) a ausência ou a perda da libido no homem.

2. Auto-erotismo é:
a) a gratificação sexual sem parceiro, por auto-estimulação das zonas erógenas;
b) a gratificação sexual sem parceiro, independentemente da estimulação sexual das zonas
erógenas;
c) o prazer sexual desencadeado ao imaginar atos venéreos;
d) o delírio pelo amor sensual.

3. Fetichismo é o desvio sexual consistente na obtenção de prazer na:


a) prática de atos libidinosos com animais;
b) fixação em certas partes do corpo da mulher que não as genitais;
c) prática de rituais mágicos pré-coito;
d) posse de certos objetos da pessoa desejada.

4. Mixoscopia é o mesmo que:


a) observacionismo;
b) inspecionismo;
c) escopofilia.
d) Todas as alternativas são corretas.

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5. Para a Medicina Legal, o aborto:


a) pode ocorrer em qualquer fase da gestação, antes do parto;
b) é sempre criminoso;
c) é sempre provocado pela vontade humana, podendo até ser lícito;
d) tem, necessariamente, uma causa violenta, criminosa ou não.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

1. Os recursos, nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e Juventude, salvo o


de agravo e embargos de declaração, têm prazo de interposição e resposta de:
a) 10 (dez) dias.
b) 5 (cinco) dias.
c) 15 (quinze) dias.
d) 3 (três) dias.
e) n.d.a.

2. Assinale a alternativa falsa:


a)O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo, encaminhado a
autoridade judiciária.
b)O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo, encaminhado
à autoridade policial competente.
c)Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça à
pessoa, a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência
circunstanciado.
d)O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do procedimento de apuração de ato
infracional, estando o adolescente internado provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.

3. Sobre os procedimentos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente é


correto afirmar que:
a) Nos procedimentos de apuração de irregularidade em entidades de atendimento deverá
ser decretado de plano o afastamento do dirigente da entidade, até julgamento final.
b) Nos procedimentos de colocação em família substituta, tendo os pais aderido
expressamente ao pedido, os requerentes poderão formulá-lo diretamente em cartório,
em petição por eles próprios assinada.
c) Os procedimentos de apuração de infração administrativa às normas de proteção à
criança e ao adolescente só terão início por representação do Ministério Público.
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d) Nos procedimentos de apuração de ato infracional, não sendo localizado o adolescente


será decretada sua revelia, recaindo a cientificação do teor da representação em seus
pais ou responsável.

4. Assinale a alternativa errada:


a) À exceção, serão permitidas reportagens com crianças e adolescentes autores de ato
infracional quando a autoridade judiciária entender conveniente e autorizar.
b) Pelo princípio da excepcionalidade, a medida de internação será aplicável ao
adolescente que praticar ato infracional mediante grave ameaça ou violência à pessoa .
c) Pelo princípio da brevidade, a internação do adolescente deverá ter um tempo mínimo
de 06 (seis) meses e máximo de 03 (três) anos.
d) Para concessão da remissão, é necessário o reconhecimento ou a comprovação da
responsabilidade do adolescente, por meio de provas suficientes da autoria e da
materialidade do ato infracional.

5. O Juiz da Infância e Juventude ou o Juiz que exerce essa função, não aplicará
nenhuma medida sócio-educativa, desde que reconheça na sentença:
I - estar provada a inexistência do fato.
II - não haver prova suficiente da existência do fato.
III – não constituir o fato ato infracional.
IV – não existir prova suficiente de ter o adolescente concorrido para o ato infracional.
a)Todas as alternativas acima estão corretas.
b)Apenas a I e a II estão corretas.
c)Apenas a I e a III estão corretas.
d)Apenas a I e a IV estão corretas.

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GABARITO – PROVÃO
CURSO ANUAL – OPÇÃO 3

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
D. Administrativo A A D C B D C D C B
D. Civil C C D B A C C B A B
D. Comercial C D C B A E B C C B
D. Constitucional D D C A A E A A C A
D. do Trabalho A C C C A A A A D A
D. Econ. e Financeiro C A E E C A D D B A
D. Eleitoral B A A D D E B D D B
D. Internacional A D B A B D A E A C
D. Penal B A A E D E D B B E
D. Previdenciário A A B B B A B A E D
D. Proc. Civil E B B A D E C B A D
D. Proc. Penal D D D B C C B C B B
D. Tributário B C A C B B A B A B
D. Humanos C B D A C C D A B D
Leg. Penal Esp. A/B D A/C B A B B C/D C B/D
Medicina Legal D C D B B C A A B D

Tutela D D E E C B E C E C

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