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Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Laboratório LabORE: randolph@superig.com.br
principalmente nas grandes cidades e metrópoles do país. Pois, já desde a década de 80 do
século passado observa-se um maior espraiamento da distribuição populacional (Martine
1994); essa dispersão ocorreu desde a ocupação de áreas suburbanas ou mesmo de
municípios vizinhos aos grandes centros até através do deslocamento de parcelas da
população urbana para áreas rurais dentro de um município, processo denominado por
Limonad (1999) enquanto sub-urbanização no seu sentido literal. Mas, existia também o
movimento contrário que partiu das áreas rurais para áreas urbanas onde os fluxos não se
dirigiam mais aos grandes centros urbanos o que Armijo (2000) chamou de
“suburbanização campesina” – para o caso chileno.
Ainda, ao contemplar o deslocamento da população para lugares mais distantes fora
das regiões metropolitanas – que nós interessa em particular no nosso trabalho – há na
literatura diferentes autores que procuram caracterizar esse processo por meio de diferentes
termos como involução urbana ou metropolitana (Santos 1993), urbanização extensiva
(Monte-Mor 1994), contra-urbanização (Berry 1976) e, mesmo, implosão/explosão
metropolitana (Lefebvre 1999) como marco da propagação de uma “sociedade urbana”.
Em outro lugar (Randolph 2004) buscamos articular a ampliação da influência das
metrópoles às tecnologias e, particularmente, a novas formas de mobilidade que o novo
meio técnico-científico-comunicacional pode propiciar desde já; ou ao menos poderá fazer
isto num futuro não muito distante. Não vamos seguir esse caminho aqui; nossa
argumentação atual procura contribuir – como já expresso no título do trabalho – à análise
e compreensão do significado desses processos: esses representam, ou ao menos anunciam,
alguma ruptura em relação aos processos da urbanização passada (ligada à
industrialização)? Ou meramente aprofundam ou radicalizam esses processos?
TABELA 2
Regiões de Governo Taxa média Taxa líquida de Taxa de crescimento
e municípios geométrica de migração (%) vegetativo (%)
crescimento anual (%)
Estado 1,30 0,19 1,11
Região Metropolitana 1,12 0,06 1,06
Nilópolis -0,31 -1,41 1,10
São João de Meriti 0,60 -0,85 1,46
Niterói 0,58 -0,27 0,85
Rio de Janeiro 0,74 -0,13 0,87
Duque de Caxias 1,67 0,12 1,56
Paracambi 1,18 0,13 1,05
Tanguá 1,27 0,13 1,15
São Gonçalo 1,49 0,28 1,21
Nova Iguaçu 1,97 0,57 1,40
Belford Roxo 2,09 0,65 1,44
Japeri 2,67 0,77 1,90
Queimados 2,37 0,85 1,51
Magé 2,57 1,01 1,56
Itaboraí 3,34 1,74 1,60
Seropédica 2,48 1,74 0,73
Guapimirim 3,44 1,80 1,64
Fonte: Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro - CIDE.
Observando, assim e ainda sem muito aprofundamento, os movimentos da população
carioca e fluminense na década de 1990 (e aqueles que vieram de fora do estado), parece
que o crescimento populacional – como uma primeira e precária aproximação ao processo
de urbanização – aponta para um novo padrão territorial da ocupação urbana; há um
deslocamento para áreas urbanas periféricas, tanto no interior, como – e mais
acentuadamente – na franja da Região Metropolitana.
Sem querer – e poder – aprofundar essa interpretação, pode se imaginar que
estejamos diante de um processo de “contra-urbanização” que pode ser definido, segundo
Lindgren (2002; 4) como uma “forma particular de dispersão da população”: a
desconcentração é um dos processos que está na sua base. Essa contra-urbanização se
distinguiria da sub-urbanização por significar uma dispersão de longa distância. Ela só
envolveria um deslocamento populacional com maiores distâncias, mas também dentro do
sistema urbano da maior a cidades menores (do alto para o baixo na hierarquia urbana).
Neste sentido, contra-urbanização acontece a um nível intermediário entre movimentos de
migração locais e a redistribuição de população entre (macro) regiões. Em condições
territoriais, contra-urbanização pode ser entendida como a divisão entre localidades
urbanas e rurais. Esta migração não significa que a população perde suas ligações e laços
com a cidade núcleo (metrópole); pelo contrário, seu deslocamento representa uma
intensificação e interação contínua entre as localidades envolvidas e uma maior expansão
das estruturas sócio-espaciais que ainda incluem sem igual (ou similar/familiar)
significados sócio-culturais e padrões.
São os motivos da migração que são usados por alguns autores como uma distinção
mais qualitativa entre sub- e contra-urbanização. No nosso caso, vamos procurar o
significado deste processo menos nos componentes quantitativos e qualitativos até agora
mencionados. Acreditamos que a especificidade das periferias expandidas da metrópole
carioca precisa ser investigada a partir de uma recuperação histórica dessa ocupação. Pois,
o deslocamento permanente de uma parcela da população para essas áreas foi precedido
por um deslocamento temporário e sazonal para os mesmo lugares que, então, se
caracterizavam por seu uso turístico, em particular do turismo de fim de semana e da
segunda residência. Acreditamos que essa “história” pode dar um significado diferente aos
processos que observamos hoje. E pode ter alguma importância para discutir a questão se
estamos diante da realização de uma “utopia da burguesia” ou uma “revolução urbana”.
4. História e reflexão sobre a periferia expandida do Rio de Janeiro: o
anel turístico e a busca pelo “espaço qualitativo”
No caso do Rio de Janeiro, a periferia metropolitana expandida tem uma
característica que a certamente distingue das periferias de muitas outras mega-cidades: ela
parece surgir como área de residência fixa de uma ocupação anterior que teve uma outra
funcionalidade: a de ser lugar de lazer, de descanso e recreio de uma parcela da população
carioca de média a alta renda. É nossa hipótese (vide também Randolph 2004) de que suas
“qualidades” que a capacitaram para um uso turístico local podem dar origem a uma forma
de urbanização que não seja meramente uma extensão territorial da forma tradicional
(Taschner/Bogus 2000).
Para explicitar essa hipótese é necessário refletir um pouco sobre o significado dos
“espaços de lazeres”, suas relações com a produção e reprodução social e sua
potencialidade de oferecer uma certa “qualidade” para aqueles que estão vivendo no (e
querendo “fugir” do) “espaço quantitativo” das grandes cidades e regiões metropolitanas.
Seguindo Lefebvre (1973: 96), falando genericamente, esses espaços de lazer reproduzem
as relações de produção e contribuem “portanto para sua manutenção e para sua
consolidação”. Isto fica explícito quando se refere à ocupação da costa mediterrânea da
França na década de 70 do século XX: “Os espaços de lazer constituem objeto de
especulação gigantescas, mal controladas e freqüentemente auxiliadas pelo Estado
(construtor de estradas e comunicações, aval direto ou indireto das operações financeiras
etc.). O espaço é vendido a alto preço aos citadinos expulsos da cidade pelo tédio e pelo
bulício. ... Os lazeres entram assim na divisão do trabalho social, não só porque o lazer
permite uma recuperação da força de trabalho, mas também ... uma vasta comercialização
dos espaços especializados, e que entra na planificação global”(Lefebvre 1973, 96).
Esse processo não deixa de ser contraditório. O “ ... espaço social natural é destruído
e transformado num produto social pelo conjunta das técnicas, desde a física até a
informática. Mas este crescimento das forças produtivas não pára de gerar contradições
específicas que re-produz e agrava” (Lefebvre 1973: 96). No nosso estudo vamos dirigir
nossa atenção a uma determinada contradição que parece particularmente relevante para a
constituição da periferia expandida. A questão levantada no próprio título do nosso
trabalho pode ser reformulada da seguinte forma: será que a ocupação definitiva nessas
áreas de turismo de fim de semana e veraneio representa um movimento que reforça a
mera reprodução das relações de produção e a divisão social do trabalho ou que se opõe às
suas formas existentes (dominantes).
O que podemos realizar neste pequeno ensaio é meramente trabalhar alguns
elementos conceituais e analíticos que podem auxiliar, futuramente, a busca pela resposta à
acima formulada dúvida. Seria pretensão demais se nos quiséssemos chegar aqui a uma
interpretação do significado das transformações que estão ocorrendo na periferia estendida
do Rio de Janeiro.
Para nossa reflexão, parece-nos importante não descartar, desde o princípio, a
possibilidade de encontrar momentos de contestação da forma tradicional de urbanização
na expansão peri-metropolitana. Talvez, essa pudesse ser expressão de uma das principais
contradições do espaço (Lefebvre 1991: 352) das sociedades contemporâneas em uma
forma muito particular. Na sua discussão sobre o espaço abstrato das sociedades
contemporâneas (industriais) Lefebvre aponta diferentes contradições que são intrínsecas a
esse espaço. Como primeira contradição chama a atenção para a contradição entre
quantidade e qualidade (Lefebvre 1991: 352). “Espaço abstrato é mensurável. Ele não é
apenas quantificável com espaço geométrico, mas, como espaço social, ele é sujeito a
manipulações quantitativas: estatísticas, programação, projeção – todas são
operacionalmente efetivos aqui. A tendência dominante, portanto, é em direção ao
desaparecimento do qualitativo, à assimilação abaixo de um tal tratamento brutal ou
sedutor (seductive)”.
Mas, no final, diz ele, o qualitativo resiste com sucesso à absorção pelo quantitativo,
da mesma forma como o uso resiste à subordinação ao valor. Chega o momento quando as
pessoas em geral abandonam o espaço do consumo que coincide com a histórica
localização da acumulação do capital, com o espaço da produção e com o espaço que é
produzido. Este último, continua Lefebvre (1991: 352), é o espaço do mercado, o espaço
através do qual os fluxos seguem seus passos, o espaço controlado pelo Estado. Por isto, é
um espaço rigidamente quantificado.
Quando as pessoas saiam desse espaço elas se movem em direção ao consumo do
espaço (uma forma improdutiva do consumo). Este momento é o momento da partida: o
momento das férias das pessoas (Lefebvre 1991: 353). É o momento quando as pessoas
demandam um espaço qualitativo. As qualidades, como diz o autor, têm nomes que,
obviamente, dependem do lugar onde essas pessoas vivem; na Europa seriam sol, neve,
mar (sun, snow, sea). Pouca diferença faz se são naturais ou simulados. “O que está
desejado é a materialidade e a naturalidade enquanto tais, redescobertas na sua (aparente
ou real) imediaticidade”.
Ou seja, nestes termos de Lefebvre, haveria a possibilidade de se imaginar uma
urbanização “não-tradicional” se a ocupação residencial (fixa) na periferia expandida
poderia ser compreendida como uma das possíveis expressões de uma contradição entre o
espaço abstrato (dominante) e um espaço qualitativo cujo usufruto está, geralmente,
relegado a um tempo específico das pessoas: às ferias que antigamente eram contingentes,
mas hoje se tornaram um momento necessário – ao menos nos países industrializados.
Então, essa contradição entre espaço da produção, do consumo, do mercado e do
controle pelo Estado, por um lado e o consumo improdutivo do espaço (uso), por outro,
manifesta-se, em geral, concretamente enquanto distante, intermediado, limitado no tempo
e segmentado (divisão entre trabalho e férias). Já no caso da periferia expandida do Rio de
Janeiro em particular, poderia haver uma radicalização dessa manifestação – se a fixação
de residência não significa na reprodução de um novo espaço abstrato -: a contradição
entre quantitativo e qualitativo torna-se próxima, imediata e simultânea na vida daqueles
que têm os recursos para se movimentar rapidamente entre os “dois mundos”. É claro que
essa forma de radicalização não se universaliza para a sociedade inteira. Acontece em
particular com as classes médias; mas, como lembra Lefebvre, é possível imaginar uma
apropriação mimética por outros grupos sociais (Lefebvre 1991:354) – caminho que não
podemos seguir aqui.
Pois é essa classe que, facilitado pelas circunstâncias de sua vida (profissional,
pessoal), pode viver essa contradição de uma forma mais próxima, imediata e simultânea,
como acabamos de dizer, quando constroem suas casas ou mesmo compram seus
apartamentos “de campo” ou “de praia” que podem ser alcançados em uma hora ou duas
horas a partir do centro da metrópole – tempo que também podem ficar no engarrafamento
quando percorrem o caminho entre lugar de moradia e lugar de trabalho dentro da própria
cidade.
Nestas circunstâncias, a transformação de uma segunda em primeira residência
poderia ter o sentido de querer escapar do domínio do espaço abstrato; neste sentido,
poderia significar uma forma de resistência e de contestação das formas abstratas da vida e
do espaço fetichizado (Lefebvre 1991: 355) por aqueles segmentos da população (ou partes
dela) que são aqueles que vivem neste mundo do consumo. Talvez não seja a única
expressão social neste sentido – mas, de qualquer forma, pode ser compreendido assim.
Portanto, não podemos negar que há um certo potencial deste grupo (classe média) em
tornar-se protagonista de maiores mudanças sociais na medida em que sua atuação
(práticas espaciais) se opõe à forma dominante da organização espacial da sociedade; ainda
mais se não só sentissem essa e outras contradições e oposições, mas transformassem esse
“sentimento” em projeto. Talvez aí cabe um maior ceticismo quando se observa o
comportamento histórico dessas classes.
A contradição entre quantidade (valor) e qualidade (uso) dentro do espaço abstrato
não está fundado numa oposição binária, mas numa interação entre três pontos (Lefebvre
1991: 354): é um movimento do espaço de consumo para o consumo do espaço através do
lazer. Ou em outras palavras, do cotidiano para o não-cotidiano através da festa – seja
fingida ou não, simulada ou “autentica”. Ou do trabalho ao não-trabalho através do
questionamento (meio imaginado, meio real) da fadiga. Na verdade, essa contradição está
articulada a uma oposição entre produção e consumo (Lefebvre 1991: 354) e uma
contradição entre diferentes escalas e caráter ao mesmo tempo homogêneo e fragmentado
do espaço (Lefebvre 1991: 355). O possível projeto para um novo espaço chamado por
Lefebvre de “diferencial” superaria essas contradições do espaço abstrato onde as
mediações acima mencionadas se tornariam imediatas.
Portanto, neste nível ainda bastante genérico, é possível justificar, ao nosso ver, que é
necessário uma “apuração” mais cuidadosa e metodologicamente bem orientada para poder
responder a nossa questão. Talvez não seja possível encontrar uma única resposta em todas
as regiões que conformam a periferia expandida do Rio de Janeiro. Não podemos aqui
entrar na discussão de seus diferenciais que se anunciam mesmo em dados que não
apresentamos aqui (por exemplo, sobre renda domiciliar por município).
E, certamente, seria possível pressupor que as três regiões vivem momentos
diferentes neste processo de reorganização do espaço metropolitano e peri-metropolitano.
Na década de 1990, aparentemente, a Região dos Lagos é aquela que estava na “ponta” das
transformações.
Num rápido retrospecto vale lembrar como “a colonização de Petrópolis se deu com
as concessões de terras a partir de 1686. Das sucessões hereditárias e vendas a terceiros
surgiram as Fazendas do Córrego Seco, Itamarati, Samambaia, Corrêas, Quitandinha,
Velasco e Morro Queimado” (Petrópolis 2004).
Um elemento da maior importância para a ocupação de cada uma das regiões na
periferia expandida do Rio de Janeiro são as rodo- e ferrovias que asseguram uma boa
acessibilidade; a expansão da área peri-metropolitana nas três direções por nos
consideradas (vide FIGURA 1) está intimamente ligada à respectiva implantação de obras
de infra-estruturas rodoviárias (inclusive a ponte Rio-Niteroi). Já no segundo decênio do
século XVIII melhora a acessibilidade de Petrópolis com a abertura de uma ligação entre o
Porto da Estrela na Baía da Guanabara com o Sítio de Garcia Rodrigues, atual Paraíba do
Sul, que traz consigo uma maior atração de colonos.
“Portanto, a região onde se localiza Petrópolis era um lugar que servia de passagem
entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais e que chamou a atenção de D. Pedro I por volta de
1830, levando-o a adquirir a Fazenda do Córrego Seco, pela quantia de vinte contos de
réis, acrescida no ano seguinte da gleba no Alto da Serra. Com a abdicação de D. Pedro I
em 1831, essas propriedades ficam arrendadas até 1842. Após a morte de D. Pedro I, foram
passadas às mãos de seu filho, D. Pedro II, e graças ao Major Júlio Frederico Koeler,
engenheiro do exército de Sua Majestade, e de Paulo Barbosa, mordomo da Casa Imperial,
a então fazenda ganhou um arrojado plano urbanístico, que resultou na fundação da cidade
em 16 de março de 1843” (Petrópolis 2004).
Ainda no século XIX houve uma série de obras que facilitavam o acesso à “cidade
imperial”: destacam-se a “construção da primeira estrada de ferro brasileira, inaugurada
pelo Barão de Mauá em 1854, ligando o Porto de Mauá à Raiz da Serra, .... E a Estrada
União e Indústria foi a primeira estrada de rodagem brasileira, inaugurada em 1861,
ligando Petrópolis a Juiz de Fora, MG” (Petrópolis 2004).
Mesmo com a Proclamação da República e exílio da Família Imperial, Petrópolis
manteve em parte sua importância: foi capital do estado do Rio de Janeiro de 1894 a 1903;
lugar da assinatura do tratado que anexava o estado do Acre ao território brasileiro; abriga
com o Palácio Rio Negro a casa de veraneio dos Presidentes da República. E, novamente
interessante em relação à acessibilidade e ligação à grande metrópole Rio de Janeiro,
recebeu em 1928 como primeira cidade no país uma rodovia asfaltada, a Washington Luiz,
que a liga à então capital do país.
Já neste período, Petrópolis tornou-se o “reduto preferido de artistas, intelectuais e
nobres, que aqui se instalaram em suntuosas mansões ou em curiosas residências. É o caso
de Santos Dumont, de Rui Barbosa, do Barão do Rio Branco, de Nair de Tefé, entre
outros” (Petrópolis 2004). Temos aqui – incluindo o próprio Palácio Imperial - uma
ocupação de “segundas residências”, localizadas ainda no distrito sede do município, que
pode ser vista como precursor da construção de casas de veraneio por parte da “aristocracia
carioca” a partir da década de 1940, mas aí já mais longe do centro da cidade em bairros
como Nogueira e Itaipava.
Ao mesmo tempo ainda no século XIX, esse lugar de veraneio não escapou do
processo de industrialização que se localizou, em boa parte, perto do centro da cidade. Em
1853 já existiam diversas indústrias, entre elas uma fábrica de tecidos, de Alfred Gand, três
de cerveja, uma serraria para fabricar tinas, rodos e outros produtos de madeira e uma
fábrica de calçados. E, na primeira metade do século XX houve um significativo avança da
indústria têxtil através da fundação de novas empresas (Werner etc.).
Ferro- e rodovias foram particularmente importantes, como se vê nesta história, não
apenas para o desenvolvimento industrial e comercial da cidade, mas também para seu
aproveitamento por uma inicialmente pequena, mas no decorrer do tempo crescente parcela
de segmentos sociais mais abastados do Rio de Janeiro – quase uma “vocação” se
pensarmos na cidade como residência de verão da corte imperial no século XIX.
Uma significativa aceleração sofre a construção de segundas residências com o
aprimoramento das ligações entre Rio de Janeiro e Petrópolis e Petrópolis e Juiz de Fora.
Na medida em que as rodovias foram sendo melhoradas, culminando na duplicação da
Washington Luis na década de 70, houve um significativo melhoramento da acessibilidade
que incentivou a ocupação de veraneio fundamentalmente nas áreas próximas às principais
rodovias.
Instaura-se, então, um padrão bastante heterogêneo dentro do próprio município;
cada um dos distritos (e em parte bairros) é produto de uma determinada fase de diferentes
formas de ocupação – desde o “veraneio imperial”, passando pelo “período aristocrático”
de Itaipava, até as casas bem mais modestas de uma certa classe média nos distritos mais
distantes como Pedro do Rio e Posse.
É interessante observar, como essa “nova” forma de urbanização em áreas até então
rurais – com uma distância de 15 a 30 km da sede municipal – leva a uma distorção na
própria estatística, como indica a TABELA 3.
TABELA 3
População do Município de Petrópolis 1991 e 2000
Bibliografia