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AULA
As proteínas transportadoras

Ao final desta aula, você deverá compreender o que são:


objetivos

• Proteínas transportadoras: carreadores e canais.


• Aquaporinas.
Biologia Celular | As proteínas transportadoras

PROTEÍNAS TRANSPORTADORAS

Dentre as proteínas presentes na membrana celular de todas


as células, destacam-se aquelas cuja principal função é permitir a
passagem das moléculas que não são capazes de atravessar a bicamada
lipídica. Todas as proteínas transportadoras possuem as seguintes
características:
1. Atravessam a bicamada lipídica de um lado ao outro, isto é,
são proteínas transmembrana.
2. São do tipo multipasso, isto é, sua seqüência de aminoácidos
atravessa muitas vezes a bicamada. Muitas proteínas transportadoras
são, na verdade, complexos de duas ou mais proteínas que terminam
por formar uma região hidrofílica na membrana, permitindo assim a
passagem de moléculas hidrofílicas.

Dê uma paradinha:
Se você acha que proteína multipasso é isso,
dê uma espreguiçada, endireite as costas
e volte à aula de proteínas de membrana (número 8)
para refrescar sua memória.

Proteína multipasso é aquela cuja cadeia polipeptídica atravessa


muitas vezes a bicamada lipídica.
3. São específicas para um tipo de molécula, isto é, um transportador
de glicose não transportará frutose, assim como a proteína que permite a
passagem de Na+ não pode ser usada para transportar K+ ou outro cátion.

B
A COMO ATUA UMA PROTEÍNA TRANSPORTADORA

As proteínas transportadoras se dividem em duas


grandes categorias, de acordo com seu modo de atuação:
carreadoras e canais.
As carreadoras (também chamadas carregadoras)
se ligam à molécula a ser transportada em um dos lados
da membrana e a liberam do outro lado (Figura 10. 1).

Figura 10.1: Princípio do funcionamento de um


carreador por mudança de conformação

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Podem ser comparadas às enzimas, pois, como elas, ligam-se a um soluto

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específico e sofrem alterações na sua forma até liberar esse soluto do outro
lado da membrana e reiniciar o processo com uma nova molécula; porém,
diferentemente das enzimas, não alteram o soluto que é transportado
por elas. Outro ponto importante é que cada unidade de uma proteína
carreadora transporta poucas moléculas do soluto por vez. Um bom
exemplo de carreador é a proteína que continuamente transporta a
glicose do sangue para dentro das células. Nos momentos em que um
determinado tipo celular necessita de maior aporte de glicose, isso é
feito aumentando o número de transportadores na membrana
das células, pois a velocidade com que um
carreador é capaz de atuar não se modifica.
Situações de esforço muscular, como uma
corrida, levam a esse tipo de situação;
entretanto, o tecido mais vulnerável
à falta de glicose é o nervoso.

As proteínas carreadoras podem


ser constituídas por complexos de
duas ou mais subunidades, como
dois carregadores que trabalham em
conjunto para transportar o móvel.

Já as proteínas do tipo canal atuam como comportas: ao se


abrirem, formam um poro ou canal pelo qual passa rapidamente um
enorme número de moléculas (Figura 10.2). Como a imensa maioria
dos canais transporta apenas íons, são também chamados canais iônicos.
É importante ressaltar que cada tipo de canal iônico é altamente
específico para um dado íon, o que os diferencia de um simples
poro aquoso.

Figura 10.2: Esquema de uma proteína do tipo canal no estado aberto.

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Biologia Celular | As proteínas transportadoras

Podemos fazer um paralelo entre o funcionamento de uma proteína carreadora e uma


proteína canal, comparando-as ao procedimento de descarga de um caminhão de areia:
se a areia vier em sacos, será necessário que os operários descarreguem saco por saco.
Se o caminhão for do tipo basculante e a areia não estiver ensacada, basta levantar a
caçamba e toda a areia será despejada de uma só vez. A primeira situação corresponde
ao transporte via carreadores − poucas unidades por vez num ritmo constante, enquanto
houver moléculas para serem transportadas. O caminhão basculante funciona como uma
proteína canal, abre-se por um pequeno intervalo de tempo e uma grande quantidade
de pequenas moléculas (os íons podem ser comparados aos grãos de areia) passa em
pouco tempo.

AS AQUAPORINAS

A passagem de água através da membrana das hemácias é muito


rápida (podendo mesmo levar ao seu rompimento), enquanto outros tipos
celulares, como os ovócitos de peixes e anfíbios, permanecem na água dos
rios e lagos sem absorver ou perder quantidades significativas de água.
A constatação e a pesquisa em torno desses fatos levou à descoberta de
um novo tipo de proteína transportadora: as aquaporinas.
Naturalmente, as proteínas dessa família estão ausentes da
membrana dos ovócitos desses animais, para evitar que eles arrebentem
quando lançados em água doce ou desidratem quando os ovos são postos
em água salgada.
As aquaporinas formam uma família de proteínas de membrana
específicas para a passagem de moléculas de água e já foram identificadas
na membrana de muitos tipos celulares, além das hemácias. Na membrana
dos túbulos coletores dos glomérulos renais (Figura 10.3), por exemplo,
ajudam a captar a maior parte da água perdida durante o processo de
filtragem do sangue, o que diminui o volume final de urina produzido.
Ao contrário dos canais iônicos, as aquaporinas permanecem abertas
o tempo todo, permitindo a passagem da água do meio mais diluído
(geralmente o extracelular) para o mais concentrado (o citoplasma).

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O controle de sua atividade é feito de outra forma: quando a célula recebe

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determinado tipo de estímulo (geralmente por parte de um hormônio),
moléculas de aquaporina que estavam armazenadas dentro da célula
são direcionadas a se inserir na membrana, acelerando a passagem de
água através dela.

Figura 10.3: No processo de filtração


do sangue, grande quantidade de
água é absorvida pelos túbulos renais,
ajudando a diluir as toxinas. Parte
dessa água é recuperada, voltando
para o sangue, através de aquaporinas
presentes na membrana do túbulo
distal. Com isso, o volume de urina
produzido diminui.

Túbulo renal Sangue

!
Ciência é vida!
Os portadores do diabetes do tipo 2 produzem grande quantidade de
urina, sempre muito diluída. Nesses indivíduos, a reabsorção de água
nos túbulos renais é deficiente justamente pela falta de aquaporinas
na sua membrana. Diversas outras doenças também estão associadas
ao mau funcionamento dessas proteínas.

!
Tudo é relativo Talvez você esteja se perguntando: serão as
aquaporinas carreadores ou canais? Pense no assunto; voltaremos
a ele na seção de exercícios.

Na próxima aula, vamos colocar as proteínas transportadoras para


funcionar. Você verá que, em sua aparente complexidade, os processos
de transporte obedecem a um número pequeno de regras, capazes de se
adequar a todas as situações da vida celular.

Na Aula 12 você encontra o resumo sobre transporte


através de membranas.

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