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Beatriz Perrone-Moisés - Bons Chefes, Maus Chefes, Chefões, Elementos de Filosofia Política Ameríndia
Beatriz Perrone-Moisés - Bons Chefes, Maus Chefes, Chefões, Elementos de Filosofia Política Ameríndia
Beatriz Perrone-Moiss
Universidade de So Paulo
Uma verso anterior deste texto integra a coletnea Pierre Clastres, organizada por
Anne Kupiec e Miguel Abensour (Sens & Tonka, Paris, 2011). Ambas retomam ideias
apresentadas nos colquios "Pierre Clastres Pensar a poltica a contracorrente" (So
Paulo, outubro 2009) e) "Pierre Clastres et Nous" (Paris, novembro 2009). Incorporam
tambm ideias geradas pelo dilogo a respeito de polticas amerndias com Renato
Sztutman e Andre Drago Ferreira Andrade, a quem agradeo, bem como FAPESP, pelo
financiamento de pesquisas bibliogrficas e de campo cujos resultados se refletem aqui
(Procs. 02/04041-9 e 05/57134-2). Agradeo, principalmente, aos Krah e aos
Wayana e Aparai, pela hospitalidade, pelas lies, pelo bom humor. A poucos leitores
ter escapado o eco presente no ttulo deste ensaio; declaro aqui a homenagem a
Marshall Sahlins. Que, entre outras coisas, foi parceiro de Pierre Clastres num frtil
dilogo intelectual.
contra o Estado.3
Voltemos filosofia da chefia. Ao lado desses chefes "titulares",
que so chefes de paz, tanto Lowie como Clastres bem como viajantes
de sculos anteriores e etnlogos assinalam a existncia de chefes de
guerra que, ao contrrio, gozariam de uma certa extenso (intensidade;
inteno) de poder:
em
vrias
tribos
sul-americanas,
chefe
liderava
Note-se que Lowie fala do chefe de guerra como "um autocrata virtual" (notvel
expresso!), ao passo que Clastres o apresenta como o que se poderia chamar de um
"autocrata real" enquanto dura.
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Obra na qual Clastres saudava a abertura de um verdadeiro "dilogo com o
pensamento primitivo, [que] conduz nossa cultura para um pensamento novo"
(Clastres, 1968, p. 77).
5
dos
Guarani,
Clastres
opunha
mito
"pensamento
Clastres, 2004, cap. 5; mas tambm as clssicas concepes do mito como charter.
ateno
de
vrios
especialistas
entre
os
Iroqueses:
superior
em
prestgio,
mas
sem
poder,
pois
este
outros,
cuja
igualdade
ciosamente
preservada.
Liga,
finalidade
especfica;
guardava
principalmente
os
"da
que, como ele, descendem das gentes que Kailawa aniquilou, cujos
diferentes nomes eles hoje portam. Doravante, vivero em paz e
trocaro mulheres (cf. Chapuis & Rivire, 2003).
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antissocial
que
representam
constitutiva
da
sociedade,
negativa"
(2003,
p.
59),
positividade
da
em
outros
e,
sempre
abertos
transformao,
12
13
13
14
15
criando
um
desequilbrio
interno,
determinasse
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chefe
em
si
mesma,
marcada
por
uma
dualidade
que
O que faz pensar na expresso utilizada por Lowie em relao aos chefes de guerra,
citada acima: talvez todo chefe amerndio possa ser descrito, nesse sentido, como um
"autocrata virtual".
16
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17
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18
20
seguindo
caminhos
fartamente
demonstrados
nas
do
concreto
(Lvi-Strauss,
1962),
bastaria
para
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sabe
interlocutores
organizar
wayana
o
e
pessoal",
aparai.
disseram-me
"superioridade"
recentemente
do
"capito"
20
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essa
brilhante
intuio
de
Clastres
prossegui-la.
Nesse
para
compreend-los
acompanh-los
ser
preciso
Referncias bibliogrficas
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25
MORGAN, Lewis H.
1922 [1851] League of the Ho-de'-no-sau-nee or Iroquois, New York,
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Good
chiefs,
Bad
chiefs,
Big
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chiefs:
som e
elem ents
of
ABSTRACT :
This
article
aims
to
establish
dialogue
between
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