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O "Espanta-Pardais" de Maria Rosa Colao

Era um boneco humilde de quem a cegonha vaidosa fazia troa. Tinha dois
grandes braos sempre abertos, um casaco de remendinhos de todas as cores,
um cachecol e um chapu preto com uma flor no alto.
A nica coisa que o Espanta- Pardais desejava na vida era, um dia,
poder caminhar na Estrada Larga. Uma tarde em que estava farto dos dedos
quentes do Sol, farto das mos geladas da chuva, farto do silncio e farto de
estar sozinho, disse numa voz to alta que as rvores estremeceram:
- Estou farto! Pronto! Estou farto de estar aqui de braos abertos.
- Com quem ests a falar, Espanta-Pardais?
O boneco ficou muito atrapalhado ao ouvir aquela voz. Olhou, olhou
devagar como se fosse um girassol, e qual no foi o seu espanto ao ver,
sentada num molho de trigo, uma menina linda como a madrugada.
- Ento tu no me conheces?
- No, nunca te tinha visto.
- Eu sou a Maria Primavera e venho aqui todos os anos. Mas porque ests
a olhar para mim dessa maneira? Tenho cara de sapo?
- s to bonita, Maria Primavera! Donde vens? - perguntou ele, muito
baixinho, cheio de vergonha e de ternura.
- Eu venho da Estrada Larga.
Ao ouvir este nome, o Espanta- Pardais estremeceu. Depois gaguejou:
- Ah!... Da Estrada Larga!...Conta-me o que viste l.
E Maria Primavera falou das cidades de cimento com pssaros de alumnio
voando no cu azul; dos homens que trabalham nas minas, no fundo da terra;
dos jornais que davam notcias s pessoas; dos meninos que iam para as
escolas, e falou sobretudo nos mares com peixes de madeira que levam
homens e saudades.
- Tu falas to bem, Maria Primavera! E eu gostava tanto de ir contigo para
a Estrada Larga!
Maria Rosa Colao (texto adaptado) - Espanta-Pardais - Edies Vega 2001

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