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Entre Tiempo y Narrativa. Paul Ricoeur
Entre Tiempo y Narrativa. Paul Ricoeur
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2 No que segue, na maioria das vezes, como no titulo do artigo, preferimos traduzir rcit pelo substantivo
feminino narrativa, ao invs do literal relato. O mesmo uso feito na traduo ao portugus de Temps
et Rcit (Tempo e Narrativa), que o presente texto antecipa. Com isso, marcamos a proximidade temtica
entre as obras (N. dos T.).
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3 A descoberta da histria.
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ser o caso, entre outros, das parbolas de Jesus que, segundo a interpretao
do evangelista Marcos, so ditas com vistas a no serem compreendidas por
aqueles de fora. Mas existem outras tantas narrativas que tm esse poder
enigmtico de banir os intrpretes de seus lugares secretos. Certamente,
esses lugares secretos so lugares no texto. Eles marcam a inesgotabilidade do
texto. Mas no podemos dizer que o potencial hermenutico das narrativas
desse tipo encontra seno uma consonncia, pelo menos uma ressonncia nas
histrias no ditas de nossa vida? No h uma cumplicidade escondida entre o
segredo engendrado pela prpria narrao ou pelo menos pelas narrativas
prximas das de Marcos e de Kafka e as histrias ainda no ditas de nossas
vidas que constituem a pr-histria, o pano de fundo, a imbricao viva da
qual a histria narrada emerge? Em outros termos, no h uma afinidade
escondida entre o segredo de onde a histria emerge e o segredo ao qual a
histria retorna? Qualquer que possa ser a fora constrangedora dessa ltima
sugesto, podemos a encontrar um reforo para o nosso argumento principal,
segundo o qual a circularidade manifesta de toda anlise da narrao, que no
cessa de interpretar uma pela outra a forma inerente da experincia temporal
e a estrutura narrativa, no uma tautologia morta. preciso antes ver a
um crculo bem sustentado no qual os argumentos apresentados pelas duas
vertentes do problema se mantm mutuamente socorridos.