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02, HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Costro, lve de: Livro de José de Arimateia, dissertagio de doutoramento, Fac. Letras de Lisboa, 1984; Quando foi copiado 9 «Livro de José de Arimatoia», «Boletin do Filolo igi, XXV, 1976-79: Sobre a data de introducio ma Pensua tbéiea do ciclo arturiano oe Post Vulgate, «Bolotim de Filologia», XXVIIL 1984; Nota sobre 0 stivro de José de Grimateian, aftovista Fac. Letras, Lisboa, §.* shri, 2, 1984, Moisés, Massaud: A Novela de Cavalavia Portuguesa fachogo biblogrdtica, in «Revista dobistoniay, 5. Paulo, 29, 1957, 6, entre outros estudos Migem do messmo autor, A Mor tgom da Demande do Graal, 10, 1955, Brunoti, Aimir de Campos: A Lenda do Graal no Contexto Heterodoxo Portugues, Lisbon, Sociedade de Expansdo Cultural, 1974 siting, Mério: Alegorias, Simbolos & Exemplos Morais da titeratura Modioval Por tuguesa, od, Brotéra, Lisboa, 1976, Frappior, Jean: Le Roman jusqu’d to Fin du XM? sidcte, in «Grund der Ron fatron des Mittelatterse,t, MW, Hoidelbergue, 1978, pp. 183211 Rossi, Luciano: A fteratura novelistico na Idade Média portuguesa, «Biblioteca Breve, ICALP, 1979 jaldm de estudar 9 ciclo arturiano em portugues » 0 Orto do Esposo, tem ‘aheervagdes importantes sobre aspectos originals das versbes alcobacunes dos exer pilos e hagiografias com ampla difu ‘Yilora, Alicia: Tristan e tse0, Madrid, 1984. Soraiva, Anténio José: O Crepaisculo do Idade Média vm Portugal, Gradiva, 1988. pp. 44-102, Juss, Hans Robert; Atoritd ¢ Atodernitd deta Letteratera Modiovate, Bollai Bor ‘ghon, Nao, 1989 itrad, It. au. de Altertét und Modernitit des Mitelaltertichen Litera soe W. Fink, Munigue, 1977), expec. pp. 203-268, sobre a teoria dos géneros narratk Seer ree EPOCA ‘Vor mais bibliogratia na DE FERNAO LOPES A GIL VICENTE | Capitulo I INTRODUGAO WHA sociedade A partir de meados do js que dela irrompem e re a onganizagto Feudal © as o erescente desenvolvimento do come io, da eirculagaio particularinente a rebelio dos mci des, Os senhotes tem lores © mestel ws cidades, mas tamb cigbes de wrandes massas de camyponeses (iacqueries), ‘descavolvimenta, permitindo aos res 0 recurso snip tipos de impostos, as lueros di io da mocda, ete, & tumldgnn ums das eausas do fortatecimento do poder real rlativamente is grandes casas senhoriais, Os teis encom am 0 apoio das novas camadas que lutany contra o feudalismo. A eentralizagio san nisttativa dat resultame acarrota uma numerosa elasse de funcionstios mais ow menos letrados A Tprej ateavessa un ada ao longo dos sévutos XIV € XV, Sursem havas heresias, eomo os Lolardos na Inglaterra © os Hussitas na Bosimia, ge se expan lon largamente en das cides; « autoridade do Papa repetidamente arrasta-se durante muitos anos 0 co fe 0 camponeses 4 popula to entre 0 Papa ¢ 0 Conetlio, que pretendia sobrepor-se-Ihe, Durante um longo perfodo, ein conseq dedive papas antago ma parte dos res eu séncias intornas da Ipreja, existiram do 38, ui em Rema, cm Avinlsio, cada qual delesapoiade po [por Veres 0s wovimentos antipapais ous. Os prneipes aux iy Portugal, concluida a congy 4a do terst6rio, « nobrez achou-se privada dos recursos que obtinha p sy, © 0 set poster eeondmico deel com a Inglatores, Flandres e Franga. A estrututs feudal agra 106, LMISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA ado, fortemente ubalada, Adiant cries, jd indo no século XU, © progresso dos lo-se © processo de em pasta dos servos ou ads- wnponeses mais folyados, os cavaleiras: vilbes, mina certos rendimentos da nobreza A necessidade para os nobres de compensar este dec protege 0 comeér ‘timo, pois que ele a mento da Coroa, A crise dindstica A morte de D. Fernando serve de rasilbo & rebeliio Cidades de Lisboa, Porto ¢ outras, € a uma insurteigao de campon unto uma coligagao contra o poder senhorial (1383), A volta do Mestre de Avis, D. Join. A maioria da nobreza apoia D. Joo de Caste, herdeiro da care segundo 0 dlircito feudal, Final considera deposit de Lisboa, exercer certo controlo sobre 0 pod Este, porém, tends a refazer-se, © a nobreza, rovonsttuida a partir dos fills le . Joio Te de Nuno Alvares (¢ ineluindo adventicios), muda de estrutura, perdendo 0 seu caricter local. A lula recomegi com episéuios sanerentos, de D, Duate, propssito da questo da reyéncia. F ums lta entre fracgies da nobreza, que eventual mente buscam apoio exterior. O infante D, Pedro, como D, Joie I, recorte a0 apoio, nte, D. Joie I sobe ao trono depois de eleito nas Cortes, que se isda soberania nacional ¢ que conseguem, juntamente gam a Céimara monrquico, te 0 conseguir, da burguesia de Lisboa, outeas cidades evilas para conguis tat 0 poder, Aa ‘quista em Marvocos inicia stocracia tar encontrara ums nova Fazdo de ser: a guerra de con n 1415 com a tomada de Cou ‘conta de Africa terras descoberts ria de S, Jonge da Mina, ver fortalecer a posigio da Coroa, sob cuja dizeogio pas a realizar-se a exploragao geograiea e econdmica das novas terras descobertas, O fortak 6 fortalecimenta da nobreza, porque era nesta que principalmente se roerutava © pessoal aaministeativo ¢ militar dir narinas; mas impuinha perdi nento da Coron significav fe das. press ultra 1m novo tipo de governo cenitalizado, em que as casas senhoriais 1.8 sua avtonomia ¢ os nobres se concent oxpo disciplinado e burocta nizado, Esta tansfornnagao nao se faz sem contlitos, que em tao reinado de D, Jose IL, Mao sew resulta fi ‘desta nobreza de novo tip, estruturada em torn do seu hfe, on tos da expan nl 60 de colocar opslio dos praven «da posigdo doninante que ilo de D. Fernando e 0 de D. Afonso V. ova burguesia com qua HBIOs meios ¢ Embora s6.em meados do séeulo XV viesse a descobrir-se 1s tipogrificos, ji anteriormente se multiplicavam as e6pias manuscritas, of s¢ comporagies de ese -ocessos mais ripidos de eépia, 2° FROCA ~ DE PERNAO LOPES A GIL VICENTE wo? (0s conventos aes 6 exclusive da produgio do livro sige lala, principal proxlugio de obras lees por legos, Mas © eseitorprofissional, quanklo rio é um universitério o4 membro de uma ordemtreligiosa, enco Imente principes, membros da alta nobreza e da gra regime de mecenato domina a aotividade literia, Em Portupal, 0 princi tut literiri tend sada ¥ez mais numierosa. D, Duarte retne una livraria, cconservada e aumentada por Afonso V; 0 condestivel D. Pedo, filho do Regente, & ‘én grand eoleccionador de livros, Virios membros da familia real se dedicam literatura, cemaneipar-se da tutela bam por perd ne pelas universidades e polas cortes res 1 senhorais, 0 vse ma depend inde burguesia. cul ser a corte, frsitades mantém-se, com tenénei ipenharn un papel eala vex mais activo dentro © movimento da dla Tgeeja, As ondens n de certs universidades, Em Portugal, o rei D. Fernando versidade; D. Joao I concedeu i ede de Lisboa o prvilégio de ser a sua sede perma xo ele como os seus sucessores in ama ier ve wversi- € portugues no parece desemp radicantes de tiria, No entanto, a un ‘ou literirio notivel HMO ambiente cultural na Europa A Escolistica, esforgo que a Igzeja vinha realizande desde o séeulo XI para assim mento da téenica e plas acionalista dos seus pio lar aos seus dogmas 0s problemas Ievantados pelo desenvol transformagdes socinis ¢ polities, perdera 0 contiante inpulso neiros, como Santo Anselmo; reeuava ja mesmo. ade concili ve de Ogeat (1270-1347) € 0s chamadlos clagio ao racionalismo m ise Aris dlido de S. Tonxis, que ester teles, Com Duns Eseoto (1274-1303) € nistas» do séeulo XIV, tendia a colocar as verdades religiosas © m9 humana e depenentes de urn puro arbitrio divine, Duns Escoto & chamado, (or subtil, pois com refinamentos de subileza proton: ‘muito caracteristicamente ain a Escokistica os seus ultimos grandes dloutotes. sa retirada da ruzdo eseokistica coincide com duas tend npirisino, que anuieia 6 movimento cientitien da Re cis ligadas as novas con: ascenga (Nico: Rogério Bacon; ¢ 0 mistieismo, que a Toms de Kempis. digdes sociais: © law de Cy se revel na grande difusio da oélebre Imitagio de Crist, avibatd um precursor e nas obras de mfsticas alemes, como Eekart, Tauler dos Irmios da Vida Comum, nas contrat « reivilicativos re, onde predomina o estilo gético, orga une acontecimento & o brilhante sto ia, Com Giotto, aescola de Siena eat de Flore cai a Flandres © a arte gana interesse pela paisagem, pel fi 108 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA leis de perspectiva; com os pintores famengos, ¢ sobretwdo os Van Eyck, digitiea os chegar a um preciosismo formalist, com Charles Kans Eustache Deschamps na poesia, co ‘ola dos Grands Rhétoriqueurs Tamengos na prosa, onde o eronista Proissart fora o ultimo grande represe smeeval. Para um pablico mais ar inte do estilo representantes si0 0 inglés Cha wer, @espanhol D, Joo Manuel, eo n prosa parece supor a difusio do livro, quer pela leit ‘40, rum publico co popular e burgués. Os seus prineipa Hegdricus © poragies de Villon, estr A novelistic iderivel, O desenvolvimento do stro supe tandém umn puibico éner0s so, nesta Spoca, a8 farss, as morales mos representavam-se por inicativa e obra das cor cextraordindrio poeta deste fim da Kade Mé ado na Vida urbana de Paris, de que evoca as tabernas, as versidade, esos, On tamemte en é porventura lojas, os offciais da justiga, os cleres Gragas ao seu precoce desenvolvimento mercantil eso facto de al porsstie com mais forga a tradig romana, as cidade italianas, em especial Florengs, reinem conigaes para umn Titeratura de novo tipo, que cenga, Pelos tragos gerais da Divina Conxédia, Dante est ainaa entra da liter rica medieval, que uma voga infensa. Mas por outras int nova, fortemente influenciaa polos esertores lo uma flexibilidade deseonbecida de qual loves da Titeratura dt Renaseenga, Petrares ‘ria, dentro deste novo estilo, uma poesia contitente, setvir de base sao litera ts Gps atin rns individualistas, ligadas « ums form latinos, e sobretudo a0 verso, val, hherdeito dos Proven vilhosamente plistica de estydos emocionais, que vai dar o ton urospectiva, expression ‘grande pa a moderna, até ao Romantiso inclusive. 14 ento © conhecimento dt Antiguidide Clis- sca su fem torno dos mereadores ou dos condottier’ gover Médicis, senhores de Plorenga, toda literatura erudita, o 0 de uma nova eritica de textos eujo granule represemtante ser Lorenzo Vall, Mas o resto da Europa dle acompanhar estos primsiras passos do Humanisoo italiano te da pos 10 se encontra desde logo em eondiges MW BIBLIOGRAFIA Huizinga, J: Declinio da Idade Média, tad. port, 2.* ed, Ulsseva, 1985, Calmetto, J.: Elaboration du Mondo Moderne, col. «Clio», Pars Guondo, Bernard L'Occidont aux XIV" et XV" sidcles, Les Etats, sNouvelle Chow, PUF. _Delumeau, Joan: Naissance et affimation de fa Réforme, «Nouvelle lion, P. U. F. A Civtzagio do Renascimento, 2 vols., Estampa, 1983 {original francés do 1964) 1E 109 2 FROCA ~ DE FERNAO LOPES A GIL. VC Fobyre, Lucien/Martin, Henti-Jean: L'Appartion du tive, col. «Evolution detHuma rité», ed, Albin Michel Martins, José Vitorino de Pina: Cultura Ratana, Lisboa, 1971 (informagio sega ‘com ampla bibliogratia elassificada) Savava, Anténio José: Histéria da Cultura em Portugal, 1." vol. No prelo 0 vol. 2.° de A Cultura om Portugal. Teoria © Histéna, que reinterpreta os problemas anunciados hosta Introducdo. ‘Simbos, Veiga: O Jofanto D, Heoriquo. O seu tempo ea Expansiio Portuguesa no Mondo, vol ua aced0, na Histéri da Documentos sobre « Expansio Portuguesa, oxganizagio e notas de Vitorino Maga Indes Godinho, 3 vots., 1943, 1956; deste mesmo autor, A Economia dos Descobaimen: tas Henriquinos, Lisboa, 1962, e Ensaios, I, Sobre Historia de Portugal, 1968 (caracteri zam clara ¢ actualizadamente a transigo social, © contém ampla bibliograia eriticay; & ainda A Estrutura na Antiga Sociedade Portuguesa, Lisboa, 1971, 4." ed., Areédia, Lis: boa, 1980. Cortes, Jaime: Os Doscobrimentos Portugueses, 2 vols., Lisboa, 1960-62, Coelho, Anténio Borges: A Rovolucso de 1383, §.* ed. cor, Caminho, 1984. (Sin tese documentada, com boa bibliogratia eritica, que se completa com Raizes da Expan sio Portuguese, 1964, e Comunas oy Concelhos, 1973, do mesmo autor, col. aC hos de Hoje», Lisboa.) Sertdo, Jowl: 0 Car LUsboa, 1978. Borrcitinhas, Al «d'Etudes ot Recherches, 1967. 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Os prineipes organizam livrarias, empreen: jativas como io de grandes compilagdes hist6ricas, promo- vem ou fazem tradugdes, sio, por vezes, autores de obras ¢ criagio liters dem re 0s livros traduzidos com se obras de Cicero, de Santo Agostinho, os Evan: _gthos cansnicos e 0s Actos dos Apsstolos, o Regimento de Principes de Egidio Ro sia moral da tealera, de inspira tomista; obras francesas como o Livre de la Cité des Dunes de Ces ile Cristina, © que & um essligo inoral, mito exemplificado, para senhoras nobres) ou 1 Arvore das Bitalhas; obras inglesas com a Confissao do Amante de John Gower, onde Se conlam © feprovam numerosos: leteaos vinha de longe, ros eas trades de romane Ge Pisano (rho sob os tulos Livao das aes Virtues ow Espetho protectores d e literatura de corte, inieinda com os Cancion de cavalaria, m ws do livro Impresso e 0 erescente declinio de arte jogralesea, que era oral © advento da dinastia de Avis intensificou na corte port ios, religiosos, politicos, morais, ia lirica sob os reinados de D. Joao do infante D. Pedro, a nio ser a existeneia Je D. Duarte de um volume que se intitulava Livro das Trovas, Te D, Duarte ¢ sob a regéneii nna bibliote de El-Re ‘c, embora seja dificil admitir que o lirismo se tenha apagado de corte onde tinh a set favor uma longa tradigiio, o facto € que as dominantes nas obras que nos re: ‘am dos prineipes de Avis encontram na pros st sta expression tre esas obras m HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA 2.4 EPOCA ~ DE FERNAO LOPES A GIL VICENTE 3 se 0 Livro da Montaria de D. Joao I, a Ensinanga de bem cavalgar peetivas que aleangam por vezes ge de D. Duarte, 0 Leal Conselheiro do mesmo, € a Virtuose Bente: Lingiio entre as diversas formas (todas condensveis, porque ) da toria do infante D. Pedro, que fez também t ext tristeza, Para esta distingdo, seguindo um método que hoje classificarfamos, 6 wtor precisa o objecto semantico de diversas pala ande subtileza, como quando faz a dis miment ulugdes de Cicero, Séneca cio © Egidio Romano. de fenomenolégico, 0 0 Livro de Momaria de D, Joao, escrito depois de 1415 vas dais diversas formas de tristeza, meditando sobre uma expe- se a uma série de tratados téenicos e dideticos de que conhecemos, como, sta. Bis que, pela primeira vez em wente uma vivencia da, que metodicamente lingua port pessoal, interes do rei D, Fernando, 0 Livro de Alveitar D. Dinis, ¢ um Livro de Cetzaria, O livro de D. Joao contém, no entanto, ia do que aqueles tratados que o precederam, Prin de Mestre Giraldo, fisico de o expresso de um s lite ing muito mais mat essa palavra intraduzivel noutra ris. D. Duarte con sua experi¢neia cipia por uma classifica escokistca dose ans da aa mois, que ce para ensinar aos leitores como hlo-de resistlr fs tentagbes do pecado. NEo, comparar aos da miisica do eélebre polifonista Guillaume de Machaut é'porém no’ fim a que se ditige 6 autor, mas no camiaho que ele percorre, até certo ponto, tos dit Bem-Aventuranga celestial; junta-thes algumas digres: idadle do Leal Conselheiro. que esti a origi sdes € apreciagdes, por veres curiosas, sobre o prazer saboreado da cage ‘O ensiriam Ho © oS mandamentos da 10 sempre o critério final, A linguagem, rica de vo mesmo em problemas que nesta épaca podiam considerar-se em aberto, como dlores, ea construe anacolitica, sugerem urn piblico 6 da influéncia dos astros sobre as aegdes dos homens (astrologiajudicie de ouvintes e um autor pouco afeito a disciplina litersria, embora com conhe- Tem igualmente um propdsito moralizante e normative a Virtuosa Ben- cimentos patristicos e escokisticos. Algumas psiginas revelam una sensibili- feitoria de D. Pedro, infante ¢ depois vegente de Portugal into sensorial do ar livre. uuma estrutura e matéria muito diferentes das do Leal Conselhciro. Colabo: maior parte» o confessor do Infante, Frei Joo or pretende expor e encarecer a teoria politica, social, eco- em ¢ sem que no entanto tivesse aparecido uma alternativa tedriea capa de adoutrina feudal. A Virtuosa Benfeitoria apresenta o mundo como ‘uma pirdimide em degraus que tivesse Deus por vértice ¢ os irracionais por base, sendo a Benfeitoria, ou beneficio dado pelo superior ao inferior em prémio de servigos, 0 elo que liga os diversos degr dade aberta ao em rou neste livro ¢ «fez. dele de Verba, O ndmica, ¢ Ji a Ensinanga de bem cavalgar toda se didetica, um propésito ped rer restaurar o culto da equitagao contra certo relay palucianos ou de origem burguesa a descuidar desportos para-milit esse € 0 da montaria, O saber andar a cavalo exigiria a pritica de uma disei plina sobre os instintos © medo, que D. Duarte deseja impor como padraio tem, mais que ico e social amplo. D. Duarte par ve que- religiosa do feudalismo, que na sua época se eneontra amento que levara nobres © simbolo social da nobreza deckiradamente moralista, o Lea 8, pretende tamb hormas € modelos de condut Conselheiro, compilado, n oferecer A nobreza, incluindo nela os principes, expe uma psicoldgica de inspiragao tomista, segundo a qual a vontade inteligente predomina s seguida de um tratado sobre as virtudes € de outro sobre os pecados, sem que este esquema, ali Esta doutrina, transposta dat moral jl teoldgica de Séneca, opde 0 acto origi nto jog so, nomeadamente em Zur oul nariamente divino de dar a0 lu cantil eo dive Para esse fi ica 6 notria na historiogratia d as outras faculdades da al ro ponto de vista do principe ou do s e, de um modo explé nplicito, consideram a autoridade destes como uma ordenagio divina, ia da soberania popular, do pacto entre governantes ¢ gover- is muito lasso, o impega ou esses, Ao lado de de enveredar por toda a espécie de apartes e dig yorando a ide’ tos ¢ divisdes es sideragoes tr te apresenta-nos vi ncia pessoal e embren ios exemplos e ilises intros- autoridade reconhe eriormente fora aflorada por autores de cestava impli ase em na HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA cita na elevagio dat Casa de Avis a0 trono, por voto das cortes de 1385, Ambas as obras, na realidade, testemunham o predom{nio da ideotogia -a fortalecer a sua autoridade ¢ consolidar a sua posi dentro de uma sociedade instivel em que a direcgao politi is. D. Pedro usa um simile, vindo j 0 corpo que proct era disputada dda Titeratura ristocr’- por diversos grupos soc Jatina, que equipar ‘a, cumpre dirigir — e aos membros, vil no, onde & eabeg ios, trabalhar, Mas as pretenses © 0 facto de que a de melhor acesso ao governo pelos v ‘6 trono i uma eleigao das cortes parecem levar recente dinastia de Avis de 60 dois prineipes a problematizar o poder 4 — sobretudo em D. Du: D. Duarte manifesta, de modo muito evidente, uma consciéncia preocupada que medita sobre a su Grandes diferengas separ cu exereicio sob uma norma racional e «virtuosa . D. Pedro coloca-se dentro de um ponto de vista objectivo; considera o hon ntro da sociedade fio desta que procura determinar as normas de conduta indivi- dui ‘como vimos, dentro do ponto de vista moral sub- cia o juiz das acgdes dos homens, dando-Ihe por eri por um ele ss de conceitos, at divisdes es és de uma argumen © Leal Conselhei abelecidas a partir de def de prés € comtras, como nas disputa le uma order a, foita por sugestio da rainha, apr 0, dispo sigao mais irregular, ¢ © pensamento do autor, registado inicialmente em apontamentos dispersos, segue uma linha sinuosa, nao evitando tratar, uns ‘ards de outros, variados temas que vem a talho de force. A Virtuosa Benfei- ‘oria & uma tentativa para transpor em lingua portug dda fiteratus » Leal Conselheiro, 0 primeiro esbogo de un ratura de tipo novo, de que Montaigne estabelecerd o paradigma nos Essais, Por isso mesmo, ¢ p xperiéncia pessoal que somo a admi- rave reacea neu est as Formas tipicas la cone do autor contra, istenia e hipocondria (humor menencé: ro exemplar da convivéne Iheiro & dos dois livros o de maior imeresse actual. A redacgio 1a portugui Conselheiro, oferecia grandes dificuldad ‘a destas obras, ¢ sobretudo a do Leal porque 3 lingua estava pouco 2.4 EPOCA ~ DB FERNAO LOPES A GIL VICENTE lis ajustada & expresso das ideias e das discussOes abstractas, que normalmente se realizavam em latim (salvas poucas excepgies, algumas delas adiante est dadas). O Portugues escrito exercitara-se quase exclusivamente na narra tiva, Era preciso por em ciret 0 termos novos correspondents As ter- mos la prec rativa enlagava frouxamente, servindo-se sobretudo das conjungdes coorde- 1s. Era preciso também (trabalho muito mais difieil de que nos par yontars, estabelecer a pontuagaio, que pratic o, tal como no-lo revelam a aperfeigoar a sintaxe de maneira a definir centre as diversas proposigdes, que a prosit hoje) 0 Portugues eser de cavalaria © ainda as erdnicas de Fernio Lopes, mente niio existia, tradugdes do romance to d lingua t As pro prias intervengies do cronista, que interpela frequentemente 0 ouvinte, nos mostram que 0 escritor destinava 0 seu Hivro 2 Ie co, O ritmo da frase, as pausas € suspensdes, que hoje, até certo ponto, se registam pelos sinais de pont itor pliblico do livro. Ora a Virtuoss Benfeitoria para ouvintes, co fo se afastava mi lada, pelo menos quanto a ritmo e & estrutura period, mn entdo confiadas & competéneia do | I Consetheiro © obray como 0 Lé destinam-se, (0 a tanto a et individual de gabinet bém aos «leitores do set livro, e a estes tiltimos dé conselhos muito sinto- m dev: minandlo eles priprios, com cu D. Pedro tem conscid dlstinta da fi D, Duarte refere-se 1 0 86 aos . As pausas da lingua escrita estabelecidas pelos sinais de pontuagao so, com efeito, mais frequentes que as da lingua falada, em que 0 rita mais fluido © mais simétrico e, sobretudo, estabele ido por io diverso. A dificuldade de ditar em «pausas curtas» re nha de constranger 0 rit ¢des impostas pelo mais analitico entendimento es ok iltava de que Ida fala, para si crito, tim, ¢ sobretudo o Latim escolistico, foi, como nao podia deixar sobre a qual a prosa doutrinal portuguesa apoiou os pri assos, quer dec nas, quer aprovisionando-se do laptar as a 16 [HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA vocabubirio que Ihe faltava, Por isso D. Pedro declara que matéria do seu s» ea termos dificeis. ED. Dua socorre-se frequentemente de latinismos, embora cond abstinéncia, infinito, fugitivo, evident Jo, etc., contant-se entre os latinismos que nesta épo silo enxertadlos no tronco da Kingua, De resto do Leal Conselhieiro sio precisamente aquelas em que ele medita sobre & if recimemo, pesar, desprazer ¢ ras slatinada livro obriga a recorrer a pa © 0 seu uso imode: rado, Palavras com sensivel, inte Jectual, circunspec ticos, como tristeza, nojo, abor- guar: 0 caso da andlise de campos sen audade, ow avisado, percebido, previsto © circunspecto, No seu estorgo pi Jo levados a adoptar tar! pio das tendéneias I para o fim da prosa de D. Duarte, Ainda segundo modelo latino, era poss lado, desenvolver 0 uso das conjungdes subordinat jerarquia mais precisa do que aquela que € estabelecida pela simples coor denagio, Ora D. Duarte, ao aventurar-se por dominios novos em que nie encontra modelos, vé-se por vezes em dificuldades para ma nto delicado; € niio raro se encontram no Leal Conselheiro frases enov frase, € 0 abuso |. por outro fas, que ck & Frase uma ngjar este inst ladas, em que o leitor perde de vista, no enredo dos ineidentes, a conexiio que li que reno da diseussio escol (éria_grandemente parafraseia De exposigiio muito me Benteitoria 9 comego com o fim, A Virtuosa Mistica, e cuja im de ura periodal muito mais s6lida © e4 Beneficiis de S weea, Cali s fic, ofere tuma est ‘imica. MU BIBLIOGRAFL: 1, Toxtos 1, Jott: Livro da Montara, Ed, de Estoves Pereira, Coimbra, 1918. Reed. em curso polo Contra de Linguistica das Universidades de Lisboa. Poco Menino: Livro de Fatcoara, Ed, introd., aotas e glossivio por Rodrigues Lapa, Coimbra, 1931 Mestte Gialdo: Livro de Alvetaria. Loitura critica de Gabriel Pereira, in «Revista Lush: tanan, 12 (1-2), 1909: reed, da primeira e sequnda partes com apres.,introd. e Notas de Cacia de 0. Camargo, C. A. Iannone oJ. Cay, Univ, Estadual Paulista, Araraquara, 1988, 0 2." EPOCA ~ DE FERNAO LOPES A GIL. VICENTE D. Duarte: Livro de Ensinanga de bom cavalgar toda seta, Ed, ertica com glossévio ppor Josoph M. Piel, Lisboa, 1944, rep. fac-simile IN-CM, 1986 ipreterivel 8 ed, do vis, ‘conde de Santaréin & J. | Roquote, Pats, 1842, reproduzida na ed. ollandiana). Leal Consoihwiro. Ed. eritca @ anotada de Joseph M. Piel, Lisboa, 1942 (preferivel {do visconde de Santarém o J. Roquete, Patis, 1842, © da Tipogratia Rollandiana, Lisboa, 1843). Serve de base od. com actualizagto ortogrifica, intrad, e notes de Joie Morais, 1982. 16 conhecimento de varios disperses de D, Duarte, alguns refundidos, outros nip, no Leaf Cansolhoiro. Vor 0 vol. Ido Provas apensos a Histiria Genealdgica de Anténio Caetano de Souso, além da ed. parisiense do Lea! Consetheio, Esti a ser pre parada nova ed. ertca pelo Instituto Nacional de investigagsio Gientiiea | Contro de Lin ‘uistica da Universidade de Lisboa, com letura, pee © notas de Maria Helena Lopes de Cast. Livro dos Consethos do EF-Rei D. Duarte (Livro da Cartuxa}, Ed, diplomatica, transcri ‘¢80 de Jodo Jo36 Dia, introd. de A. H. de Olveira Marques e J. J, Dia. Editorial Estampo, Lisboa, 1982. € umn complemento, mais acentuadamente pratico @ compiatério, do Lani Conseihero, com requlamentos, cartas e conselhs de autoria ou praveniéneia dive fe contém dados de ordem religiosa, moral, medicinal, administrativa e D, Podio: Da Virtuosa Benfoitoria. Ed. de J. Potoita de Sampaio (Brun, Port, 1910, ¢ Joaquim Costa, Porto, 1940 (reed. om 1946), soqunda manuseritos diferentes, Nao sito ed rigorosamentecxticas. Amdrico da Costa Ramalho refere um manuserito des. conhecido (ver adiante, Teadugbes: Livro dos Oficios de Marco Tullo Cicoram, 0 qual tornow em tinguagem orinfame D. Fedo, Duque de Coimbra, ed. J. M. Pel, Coimbra, 1948, Da aba de Pisano, Cristina de: Livre des Trois Vertus ou Cité des Damas, hd uma wadugio om manuscrto doc. 1447-55 com 0 titulo Livro das Trés Virtudes (eprodurido por: Carstens: Grockenbergor, Dorothee: Chvstie de Pisan Buch von den dro! Tugenden, Minster, West. falen, 1961); e uma ed, impressa em Lisboa, em 1518, com 0 titulo Espeiho de Cristina, rogistando-se diferencas importantes entre as dois textos, Ver Willard, Charity Cannon: ‘A portuguese translation of Christin do Pisan’s «Livre de Trois Vortus, Publications of the Modern Language Association of America, LXXVIll, n.° 15, 1963; ed, fae similada 1987. Mencionemos aqui, pelo sou interosee cultural e inguistico, um toxto narrative, Vida Feitos de Julio César, od. ertica da trad, portuguesa quatrocentista de um original francis, 2 vols., F.C. Gulbonkian, 1970, por Maria Helena Mira Mateus, que também rganizou uma sua antologia, com estudo histérico 0 lingulstico, na col, «Textos Lito ‘ios, 1990, 2, Antologias o oxtractos De todos estes textos, excepto as taducdes, nas crestomatias do Leite de Vascon- colos, J. J. Nunes e J Perera Tavates, Rodrigues Lapa, e ainda’ . Duarte 08 prosadores da Casa de Avis, da col, «Text © notas de Rodrigues Lapa, 15 Literdrioss, com intiod D, Duarte: «Leal Consethoto», da col, «Cldssicos Portugueses», ¢ Leal Consetheiro « Livio da Ensinanca de Bem Cavalgar Toda Sela, col. «AXldntidan, ambas com inttod # notas de F. Costa Marques, (Tm bisliogratia eitiea.) us LUSTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA 3, Estudos Soraiva, Anténio José: Histdria da Cultura om Portugal, 1.° vol. Livro, cap. V, $1 0 Crepiisculo do fdado Média om Portugal, Gradiva, 1988, pp. 216-276, ‘Mauricio, P.» Domingos: D. Duarte 2 as Responsabilidades de Tanger (1433-38), eo comemorativa do Y Centenario do Infante 0. Henrique, 1960. ‘Merba, Paulo: As teorias polticas mediovats no «Tratado da Vittuosa Beneitoriay, in «Revista do Histérian, 8, pp. 1-121 Ricard, Robert: L'lafant D. Pedro de Postugol et «O Livro da Virtuosa Benoitoriny, in aBuiletin dos Etudes Portugaises, t, XVI, 1953; Le eka! Conselheiro» du Roi. Duorte de Portugal, sop, da «Revae du Moyen Age Latin, t.1V, Nov.-Dez. 1948, rveditados no vol, Etudes sur Phistoire morale et religiouse du Portugal, Paris, sésiv «Historia e Litera ura», IV, Centro Cultural Pertugu LLopa, Rodrigues: Liedes de Literatura Portuguesa — Epoca Medioval, 10.* ed. rev ‘© aum., Coimbra, 1981 (tom bibiogratia critic). 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(0 Sistoma Moral da «Virtosa Bonfeitorian » O «De Bonoticis» de Sénvca 60 «Virtuosa Boofoitoriay do Infante Dom Pedro, sep. da «Revista Portuguesa {de Filosotian, 21, n.° 3, Braga, 1968, contondo o 1.° estudo um resumo @ 0 2.° um lamplo cotejo de textos; O Sistomo do Universo no «Virtuosa Bonfottoria» do Infante Dom Pedro, in «Actas do Congress Histérieo do Portugal Medivo», tl, Braga, Jan.Dez, 1964, ‘Martins, Mério: Estudos do Cuftura Modioval, Lisboa, 1969 (dois estudos sobre 0 Livro da Montaria, ent outios que aqui importami: Aegorias, Simbolaso Exemplos Moras dda Literatura Medieval Portuguosa, Lisboa, 1975 lum capitulo sobre a Vrtuosa Benteto: ria, ovo sobre 0 Leal Conselheiro). Este autor editou um Guia Geral das Horas do D. Duarte, 1972. Femandes, Rogerio: D, Ouarte ea eaucagao senheria, in »Voniews, 87, Maio Junho 1977, Castro, Armando de: As idpias econémicas no Portugal Medieve (sds. Xt! a XV), ‘biblioteca Brove», ICALP, 1978. 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Potclho, Afonso: D2 Saudade ao Soudos ICALP, 1990, pp. 25-106 (sobve 93 livros do D, Duarte! 390.397, smo «Biblioteca Breve Capitulo II FERNAO LOPES Wl Vida ¢ obi A maior personalidade da literatura medieval portuguesa, e também um dos nomes cimeiros da nossa literatura em geral, € 0 cronista Femao Lopes, ais do Reino. com quem se inicia a série dos cronistas fo entre 1380 ¢ 1390, aproximadamente, visto que e! 1418 ja ocupava fancies pablicas de responsailidade, Pertence, reo de Lisboa e Portanto, & geragiio Aljubarvota, A guerra com Castela sé acabou em MHI, Feriio Lopes pede ainda acompanhar a sua uitima fase, © conhecer inente alguns das seus protagonistas, como D. Jodo 1, Nuno Alvares Pereira, 0s cidadins dle Lishon que se rebelar ram. o Mestre seu contra D, Leonor Teles ¢ elex Defensor em comico popular, alguns dos procuradores as Cortes le Coimbra de 1385 las Regs, delararany 0 trano v 10, €, chammando a sia sobe- Profissionalmente, Rerndo Lopes era tabelito, porque contaya um sapateiro na familia da mulher. Fo! te, , do rei D, Joao 1, © do intante real ¢ da corte, eserivao de D. Duarte, ainda 1D, Fernando, em cuja casa serviu de dade», c exo testamento Lavrov. [A partir de 1418 aparece a desempenhar as fungies de gaarda-mor da Torte do Tombo, fu sey de chele dos arquives do Estado, lugar de confianga da corte, Ci -sbot, em 434, além de una stenga anal pes rei, carta de nobreza atibuia eatio com cert liberaidade oles, Em 1454 foi refr -gundo reza 0 documenta respective, Ai tia, 0 titulo de svassalo de varda-mor do em 1459, joros das classes no ida xido do cargo de Tombo devide a su a vivia Be 0 LISTORIA DA LITPRATURA PORTUGUESA earn 1419 ou antes, pois nesse «ano colaborava com © enti a compilagio e re em 1434, porém, aparece refe opes como cronista comega, segundo parece, em infante D. Dua j ra que 0 nomeou o acco de uma erénica geral do reino de Porta cargo pa rei D, Duarte de «por em erénica as historias dos reis qu nte foram Jo com a em Portugal ¢ 0s tos do rei D. Joao 1, pelo qual & tenga ja referida. Apos a morte deste rei, 0 regente D, Pedro, en D. Afonso V, confirma Fernio Lopes tenga. Como fim do governo do Regente, viu che! fim do seu cargo de cronista da corte, Em 1449, pouco antes da batalla de Alfarrobeira, ainda reecbe uma tenga de D. Afonso V pelos seus traba- Ihos literdrios, mas jé nessa época entrara em actividade um outro cronista, wes de Zurara, A iiltima obra em que F how, te da Crénica de D. Joo 1, ficou incompleta ¢ foi continuada 1 incumbé lo- ume Fernao Lopes Gomes io Lopes trab tereeir: por Zurara, Como resultado desta longa actividade, chegaram até nds: Crénica de |-Rei D. Pedro, Crénica de E-Rei D. Fernando, Cronica de EL-Rei D. Joio, L.# parte (que trata do interregno e1 de D, Joao), a Cronica de 4 morte de D. Fernando e a eleig 2.9 parte (que abr nla, provavelmente, ge o reinado inaei D, Henriqu is dos reis de Portugal, desde 0 gover wé D. Afonso IV, inclusive, ‘Conlhecem-se das espa fe {céiice da Biblioteca Publica do Porto) as evénicas dos seis de Por ‘conde D. Henrique até Afonso IIL, inclusive; outro, as me as de D, Dinis € D, Afonso IV, esta ultima constt 1s.n0 século XVI, de manuscritos do século XV, serénieas actescentadas Ja en Pina (eddice da Cass Cadaval), Segundo um passe do pr alizada por um infante de Portugal © a partir de 1419, ‘O sucessor de Fernivo Lopes, Gomes Eanes de Za xdo por D. Duarte, {los reis de Portugal. © priprio F © governo do ene D, Hey ile por extractos de Rui ui foie ‘que aq eserever as erdinicas fr ido infante, ana em vida de D, Jovi Ts que, Isto leva, portanto, a eter que as \s que Fernio Lopes eserevew, por iniciativa de D. Duarte, 1 compiladlor que 0 prdprie Fer ss do castelhano Pero Lope7-de Ayal, embora ndo-se a modernizar Ih de testermunhos orais (cj com investiga me HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA WBA cri ‘a documental ¢ h ca em Fernio Lopes Fernio Lopes ex: a de um cronista 2 maneira medieval. Se le que parte da sua obra faz. compilagao de men anteriores verdade que outra parte j4 resulta de uma investigagao original Isto representa um grande avango sobre « historiografia medieval, \damente sobre a francesa, que no passa de uma reportage baseada em recordagies pessoais ou relatos de testemunhas. Como guarda-mor da é ver também, ‘Torre do'Tombo, Fernao Lopes tinha ao sew aleance 0s arquivos do Estado, Je que soube fazer uso, transerevendo, resumindo ¢ aprovei undo a correspondéncia diplomitica, os diplomas legais, 08 eapitulos das Cortes, € outra documentagio, que ainda entiqueceu examinando, fora da ‘Torre do Tombo, os cartirios dk cireunstin igrejas © lipides de sepulturas, Com este material foi-the possivel fazer a eritica ¢ a eorreegao a - Sempre que uma tradi Fes 10 ow uma meméria é desmentida pelos docum 1; €, avangando neste caminho, declara submeter a uma os que Ihe chegavam 3s mios, notando as niio Lopes re} revisiin metédica todos os re suas contradigdes ¢ inverosimithangas, e decidindo-se, it falta de documento, pela versio que julg ud +. At hoje niio foi possivel aba- Ir, solidez desta obra sob © ponto de vi fam sobre @ valor hi jando acusado de denegrir a figura de D, Pedro ou de eal docu mental, © Lopes, os inimigos de D. Jodo 1, nomeadamente D. Leonor Teles, s6 tem levado a confirmar 0 constante esertipulo do cronista de se estribar em documentos co de Fernie wGnticos, embor sem as transerigdes explieitas que apenas pi a impor-se dois séculos mais tarde. primeiro cronista portug neipiarao és pout ser chamado também com justiga o primero, em data, dos historiadores portugueses, isto que, nao se limitando a compilar, se informa nas fontes documentais e sub- mete a tradi io da realidade hist6ri em Fernio Lopes as fontes para ser unt histor lor. O melhor historiador, conforme hoje o concebems, ser aquele que compreender os 2.1 EPOCA — DE FERNAO LOPES A GIL VICENTE bs o, deter ama dada socied iminar a cada passo a importincia relativa de cada um deles, de maneira a mais complexos factores de je em transformag: ar-nos dessa socieditle, nio uma faceta, mas uma visio de conjunto, ‘ambém sob este aspecto a fit deitos hisioriadores. Normalmente, os eronistas medievos estio ligados a tumia corte Feal ou senhorial, st um convento, a um grupo social aristoc ou governante, © aper am 08 acontecimentos que interessam a esse restrito meio em que parece resumir-se para cles uma migio inteira ou ate almente pi através deles como um série de Feitos de cavataria, torneios, aven {ura medieval nao nos oferece verda- rel todo 0 universo, Trabalhando g¢ ros, a hist aparec turas de reis ou grandes senhores, intrigas palacianas. A grande massa dit agdo, os interesses ¢ os ideais que impelem os conjuntos de hom por estes eronistas ou desconhecicdos ou incompreendidos. Assim & que, para 8 si0 tum dos mais eélebres cronistas franceses, Froissart, 0s acontecimentos in Flandres durante os séculos Xil ¢ XIV, lantissimos que se desenrolam ni determinando uma viragem no progresso da civilizagio no Ocicl passa de tumultos € desordens provocados por malfeitores: te com esta visio unilater vio Lopes dt ¢ fragmentiria de outros eronis- 1os da sociedade portuguesa dos séculos XIV im mnltiplos & as aegoes individuais, desempe tas medievais, F © XV um amplo panorama em que ent res, ¢ em que, combin 4 movimentagdo de grandes for Lendo Fernie Lopes, niio perdemos de vi lacianas. Ma ‘um relevo proporcionado, a eidade de Lisboa ¢ os seus mesteirais, qu prepondera aacortee boas is vemos também, ¢ com pores, intrigas e conjuras pal ‘gam o trabalho para organizar «tinidese na rua, participar et ‘ocasiio; vemos alfaiates, tanoeiros, © xlo em nome de g \grupamentos, dotados de vontade propria; vemos gente de trabalho arrebanhada & forca que o rei D. Fernando envia contra a esquadra ‘emos «povos do reino» assediando os eastelos, derrubando-Thes ‘odiosas, Perante os desi determinagio n mitida se opi lates, pegar em armas quando n hers andes. poneses erigidos nas aldeias, para as 2 stella as muralhas, que uma longa opressio tornar da corte, manifesta-se constantemente um como quando pela vor do alfaiate Ferniio Vasques a arrai ocase mento de D. Fernando com Leonor Teles. A eidade de Lisboa, que se comove, -MISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA anima, ow pela bo 1s andnimas, se deve, na versio de Ferniio a de rapari buigiio para a vit6ria contra os Castelhanos ¢ 0s «por- tugueses desnaturadose; ¢ a revolugio popular que levou ao trono 0 mestie de Avis, derrubou fiel na sua maioria ao partido caste- Ihano, e derrotou o poderio do rei de Castela, Lopes, a principal con velha aristoct nos descrita como um movi mento soci el que faz cair todos os planos urdidos, quer pelas gr des personagens que intentam manejilo, quer pelos que dele desdenham como uum alvorogo de «dois sapateiros e dois alfaiates», As intrigas destas perso irvesi ma deriv agen boil la insurreigaio se cial, que as empurra irre sistivelmente ou 4 nos escolhos, Eo sentido épico do cronista o se detém em comentirios mora istas sobre os actos da multidio, motivos eneara com uma objectividade de porme! ntes confirma a sua adesiio global N pam ao nosso cronista certos aspectos que $6 no século XIX voltaram a ser or, que niio desm grandiosa visio de uma colectividade urbana e nacional, nao esea- considerados por ieses. Embora sua époea nao hou- vesse © que possi chamiar-se uma ciéneia econémica, 0 senso profunde do nosso eronista, ou talve7 antes 0 seu eonviver com vil » peso dos impostos, & desvalori: . guerra, ete eva-o a considerar com atengio certas coisas praticas, especialmente aque ncidiam na vida dos burgueses e mesteirais. Assim é que encont 's piginas longas explicagdes acerea do sistema monetirio, e espe- nte sobre as quebras dat moeda, to frequentes na Idade Méd) 8; da administragio do tesouro r 0s sujeitos. fo da moed devastagoes ¢ las que mos nas sua do imposto das si ete rgo horizonte, Ferno Lopes considerasse a cavalaria c a guerra com olhos diferentes daqueles com que as viam os cronistas palacianos. A guerra de que Fernio Lopes nos 6a faganl q ndo-se dentro de um ponto de vista naciona Compreend se que, abrangendo este | a cavaleires de gloria, Situ sabe dar-lhe grandeza qu lepre aventur m que os bravos gan . Fernio Lopes astelos ou resistindo dentro das ea sua liberdade; e atreve-se a conde ilo niio passa de uma aventura cayaleiresca ou m frquica, como (se rati € na de Aljubarrota condena express gundo Fernio Lopes) foram as 4 ras de D, Fernando. As suas n: de batalhas, Jo geralmente sobrias, mente 0 costume de exag 2.4 EPOCA ~ DE FERNAO LOPES A GIL VICENTE bs proezas dos cavaleiros com «fibulas patra que nenhum «sisudo» pode cre 0 tinico cavaleiro que sai engrandecido e certamente ideatizado das pi dde Femnao Lopes — Nuno Alvares Pereira — pela sua sabedoria, pelo se pela su eastidade — por qualidades em qu do seu tempo, e fazem dele, aos olhos do eronis otismo, xaltado pelo seu pa propr asta com os cavaleiros sdades dos vilios, espeito perante ca le con © modelo do cayaleiro cristal ‘A grandeza de Ferndo Lopes como historiador consiste, prineip: nesta visio multifacetada qu . ao servigo de Deus ¢ do seu povo. abrange os aspeetos soc e que Ihe permitiu transmitir-nos © fresco global de uma época, em ver de nples narrativas de aventuras individuais vistas segundo a ideologia cava~ como as que nos apresentam outros cronistas medievos. Gragas a 80 relato de conjunto, mda Idade Média leiresca cesta superioridade de visio, possuimos hoje um preci da grande erise social que marcou em Portugal a passa para os tempos modernos. Esta visiio da sociedad deve-se, sem diivida, ao génio do cronista, que soube aproveita 0 80 testemunhos de unt mutag da ordem estabelec classes sociais até entio excluidas do poder. ial que poe em crise os valores tradicionais e possibilita a contesta A por outa BBA matéria literdria das Crénicas Para dar expresso a esta poderosa e ampla visio da sociedade e1 iso um eseritor com qu lidades excepeionais de artista, que the permitis- anizar mu contecimentos. conjunto convince Vimos como sio miltiplos os aspecto da vid acudir; é o interior das cortes, com os seus tipos psicolégicos prépries, os de tem de que a sua pens seus enredos, os dramas seeretos da ambigao ¢ do amor, as suas hor Iuto ou de fol publica movimentada ¢ ruidosa, percorrida por cenchentes hun acampamento de guerra, embandeirado em Fest ‘onde alguns ditos «saborosos» nos chegam através do rumor; & 6 campo de exército numeroso recobre com suas Jangas e elmos resp! batatha que wt decentes 10 sol; so as torres day Fortalezas a cuja sombra se tec © intrigas entte os sitiados © 08 sitiantes: sio as altercagdes violentas nos 6 MISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA celhos e sembleias; sito quermesses coloridas nas eidades em Fest enga- mos verdes. De noite os archotes alumiam nas rw tum baile popular, ou velam no salto d ovat os solugos de um rei ven cido; 0 dia tanto mostra galharde wrio de uma cidade latejante de vib Esta variedade 440 nos aspectos epissdios de todo um mundo, i narrativa do Cronista dao & sua ob Tesse espectatctr~ Imente grato ao gosto romantivo do «pitoreseo», que quatro’ ria partido deste bandeitas © ferros reluz que ressu yorme caudal de episélios, ambi No entanto, 0 aspecto exterior da realidade aparece em Fer Lopes apenas como expressiio dat acedio humana e da vida moral dos indiv duos ¢ colectividades. Nao enconteat 108 nele © mero descritive, embor possit interessar mitida € pitoresea nente pelo si nples especticulo de tempestade, nas suas diversas fases, O seu interesse vai predominantemente galeria de c icteres vigoro- mente obyervados e por vezes desmontados na sua estrutu Nenhuma época da hist6ria de Portugal esté hoje pa nds ta de per 0 XIV, por obra do extraordindrio repsr- ter que a relatou ¢ que serviu de fonte a toda uma litera ura evocativa, em mao, Hereulano nas Lendas ¢ Narrativas, Garrett no Arco dle Samt’Ana © no Alfigeme de Santarém, Oliveira Martins na Vida de Nun’Alvares, Marcelino de Mesquita em Leonor Teles, contam-se entre os «que trabatharam sobre © segunda c nde elenco de personagens desenhadas por Fi Wo Lopes. Certos compar ws dest grande comédia humana oferecem wma extrema complexidade psiquica, como Mestre de Avis, criatura hesitante e violenta ao mesmo te rk 1pO, tenayz na sua mediocridaude, vivissee pnada por Lopes ao long 0 de epissdios variados, por vezes triviais, mas todos ficativos, tragos mitidos e multiplos de que ressalta no fin roso retrato de uma fi siea, que do mal imediatos, ¢ colhida em poucos mas certeiros tragos — tres ou qua 1 pode- at vulgar. Mas ja Leonor Teles, personalidade e sceretamente admira num plano tr ico para além do bem & luo cenas intensamente dramyiticas. E se 0 ‘onista soube pOr de pé todo um fe € porque teve mundo d 2 FPOCA ~ DE FERNAO LOPES A GIL VICENTE ww arte shakespeariana de relacioné-los ¢ confron rigas, cenas € ando assim a largueza da epopeia a tensio do drama e a anilise 10 da vida psicoldgi associado pressupdem a mentalidade que observ ©.0 senso da realidade do romance. que Ihe dar a visio hist6rica de Fernao Lopes. Todos os fig recem nele reduzidos & mesma humanidade jerarquia social & luz justiveira com que Ihes: D. Fernando, D. J avile fora do vuly > est intes da histéria ap comum, pouce impor nia os recessos intimos. N10 siio-nos apresentados come h D. Pedro 1 é um ridor confere-Ihe « representagao subli 1s comuns sujeitos nidade: indecisdes, paixdes ou pus atraente do 1 ‘que ocupam 1761 passional popular, estes caracteres ¢ estes enred pessoais silo parte de um todo em 9 menor lugar as personagens colectivas: Fernao Lopes sente-se 1ulo pela santidade de Nuno Alvares, ou pelos violentos impulsos: 1m _menos als ansiedades da populagao de a Os -mitidas, so para ele entid Jor Teles, mas no 0 toe: oa, ¢ a sua indonxivel coragem multitudina smoradores da cidade: ‘comédia humana. O género narr ‘0s comparsas da su ivo oferece aqui pos- fe. As narrativas da insur- sibilidades que mail eaberiam ao teatro de Shakesp reigdo de Lisboa, dos assaltos dos camponeses aos castelos, da ansiedade da gente da Cidade, suspensa do combate na alvorogo ocorrides em Lisboa enquanto em Aljul n langas, sao piginas em que Fernio Lopes procura comunicar <0 no Tejo, dos levantes de rota os guerr nos uma a vontade se exprime em ditos de personagens. 1 fom de ternura filial para falar dessa nta ao peito a res forga que ele sente de maneira tio pes: para dar figura e rosto a est aii Lopes imagina uma prosopopeia em que a cidade de Lisboa, ar com o AU como principal personagem da resistencia, aparece a dialo vasta, na human na finura e diversidade das personagens, na percepgio da vi ule amplamente compre 1 colectival, no colorido e vivacidade dos asp pedo multifa essavam, rior que o inte ‘© até na. sur con a vida social, Ferndio Lopes necessi- [HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA ava de eriar formas de expr da sua obra, mais proxima do que se tem julgado do antropocentrismo a 0 Quattrocento i slo em que se consumassem tais Forgas que caracter iano. HHXO estilo e a composigiio das Crénicas Havia antes del como mos, 4 pros do ron ice de cavalaria, que, abalhada em sueessivas verses e refundigdes, se apur a vez mais po res de gesta, numa lingua mais r ogo e dos modismos orais, como no conto popul forma ¢ ida e amaneirada, Havia as prositica miliar, com do di lar, Havia 0 sermio, a que os Dow wluzian que assimilava o estilo biblico ou evangélico, a ret6i Japtaram, Na época de Fi vimos, 08 Evangelhos cai tores da Igreja nao Lopes se a Denumnda do G te, tradigdes Geral de 1344, Ao lo Gnicos, recopiay outros romances do mesmo ciclo, ¢ refundiam-se, literariam de D. Afonso Henriques, registada na Crénies smo tempo, davan se os primeiros passos para ticos, através de tradugies chissico latino © da lingua abstracta dos escolis © imitagdes que mencion Fernao Lopes assimila toda esta heranga. Recebe do romance de eay rina arte de contar ¢talver certa elegdneia no corte da frase, mas temperano: -Ihe 0 amaneiramento com a simplicidade familiar e directa da tradigio épica © enriquecendo-a com um vocabul tes. Recebe também o folego oratério, a frase Je do estilo biblico e a cessos © tons que sabe empregar a propésito, com mudan ndos e flay io ¢ imagens muito res, a solenid familiaridade do estilo evangélico, pro- de registo, scem harmoniosamente integrados numa pros. tir a vor do autor, q amagdes, com perguntas, com apelos pecto de pros recitada, Fernao Lopes estilistico, Estes afl muito corr falar a um auditério, desperté-lo com ex arte literdria medi piiblico do que & leitura privada, Jmilada numa sintese equilibrada, enriqueceu-a contribuigio: a vibragio humana q paginas com certa robustez miiscula e popular, to dife- faz viver 2 EROCA ~ DE FERNAO LOPES A GIL VICENTE ry rente do comedimento corte cdlera pod a muitas compa 10 que ora ressoa numa que 0 leva esta prosa uma feigio indi » prosador portugués de quem dele a prosa ‘os, ora numa ironia risonha: {des inéditas, Tudo isto dé dualizada, Fernio Lopes é, em data, 0 pr se pode dizer que o estilo identifica o homem, porque no passava de uma terravde-ninguém, transmitida de ver ica de orm A originalidade de Fern Lopes revele posigdio das erdnicas, Nao segui wes procurou orden us estereotip muito particularmente na com: onoligic: ka que constitui a sua vi simples ordem ¢ iments, histérica em grandes conjuntos com ser analisadas no apenas como marr los. Por este lado as crénicas mere- iva de dados objectivos estranhos anesca ou épica. + mas como produgio Se as compara narrativo, por exemplo, a F wor rot Jios individuais num plano tinico. F ram de modelo oissart ou a Zurara, damo-nos conta de um 10s com os romances de cavalaria, que ser sencial. O ssco medieval ordena a sua matéria como, ‘uma sequéneia de epist ta-Thes 0 se tido dos diversos planos do espago, bem como 0 dos ambientes ¢ o dos agru- pamentos das figuras, Bssas narrativas so compardveis aos baixos-relevos ic historiados das cated Fiotto, ord Ibientes (de interior, urbanos ou pa serialme tural que, a partir de as envolve em ‘em contraste com a composigio pie- 1a as figuras A volta de pontos fulerais, icos), e deseobre pouico a pouco a profundidade do espago. A narrativa de Ferao Lopes no ceabe naquele género de pl oferece-nos os planos miltiplos da rea ¢ individuos; desenha em segundo plano processos andnimos, sobre os 4 08 episddias de que trata em pormenor. As intrigas cianas, as batalhas, os cercos, inserem-se num contexto social ora compacto, ‘ora difuso, que sio as falas dos povos do Reino, os levantamentos, ‘os castelos, a «vor de grande espanto» que se ouve em Portugal inteiro ndo o rei de Castela atravessa a fronteira. Por outro lado, as séries de aconteci que constituem como que interseegSes de muitas Linh: rece, assim, situadlo no entrelagado de acontecimentos antecedentes ¢ con: sequentes, em que parti sequéncia romanesca lidade social, ordenando, em conjuntos complexos, n avultam as figur cont qu pontos nodais, episcidio apa- nentos convergem pat extensio 130 STORIA DA LITERATURA PORTUGUESA 2." EROCA ~ DE FERNAO LOPES A Gi VICENTE BI geogritica do Pais. Em torn do cerco de Lisboa, por exemplo, ordenou vio Lopes os levantamentos locais, entrega dos castelos ao rei de Cas: tela em marcha para a cidade, as intrigas que ocorrem entre ele e Leonor Teles, as diversas aventuras dependentes da [rota des do Tejo, de Lishoa, constantemente evocado como acontecimento que se prepa nnobreza fiel ¢ & amnistiada em 1411), Mas ulesio ao M ‘da maioria dos Portugueses. F par-se ¢ cerrar fileiras, junto ast de toda a capit embora paca bem the fez. se |, do Porto e, em sum cjam dbvias, nessa perspectiva, aque nem mesmo fal vérios pressigios € milagres, como niio falta a eruzada co castelhanos (partidirios do antipapa de Avinhio) — 0 que m popular do eronist impose um novo de une Sétinn «a importincia (re por parte assim, e retGricas de campanha de Nuno Alvares Pereira no Alentejo, et uma apologia dinéstica, angio sobrenatural de tra os hereges como aegiio em curso, € 0 ponto ne’ as malhas que em torno dele se entret #ico de cujo destino depende o enlace no cou desenlace em, estando, por suit a epopeia de uma revolugio vitoriosa, que ele prdprio depenklente do entretecer daquelas. As: Fernio Lopes 1s herdis vikios (ou, heterogeneamente, viios-cavaleiros) soube dar um sentido e encontrar uma unidade de a a todas as eadeias Idade, ¢ pri de acontecimentos, légios acrescidos para os homens-bons rurais Encarregado de historiar « monarquia portuguesa, sobretuo em vista © a gente dos mesteres, do advento da dinastia de Avis, Fernio Lopes colocou-se dentro de uma pers pectiva alias facilitada pela rarefaecao ea -za que, em geral, Vio eres AAs Crénicas como epopeia cerdnicas indubitave! condo 8 medida que se recta no passado. F mente fernio-lopinas de D. Pedro, D. Fernando ¢ D, Joao constituem, de facto, um todo. © seu centro de gravidade re anhada guerra em passam, em stats fungao delas con: Este género de ordenagiio, se por um lado constitu um progresso em relagaio an |, por outro faz pensar num género Jiterdirio que é muito anterior a este tipo de rativa, A mesma combina que a nova dinastia se consolida. As duas primeiras de feitos individuais ¢ de movimentos de massas, a mesma unidade de ae¢io menores proporgées, de um a ilustrar narrativamente (e com o encanto das evocagies de um artista) aquelas razdes com que o Dr. Joao das Regras advogou a candidatu Mestre ao trono portugues. A Crénica de D. Pedro & como um prologo: parece Geral de Espanha, pois a his- ,eu meio-irmao inimigo e suces: 10 ao drama central; a onde convergem acontecimentos miikiplos para um desfecho, a mesma ore siste en naciio de grandes séries de episédios, encontramo-las nas epopeias, nomea- da homeéricos ena Chanson de Roland. Ha outeos aspee tos por onde as erdnicas de Fernie Lopes se aproximam das epopelas, se ie nos poem mero desenvolvimento actualizado da Créni {dria paralela de Pedro, 0 Cru, de Castela sor, Henrique de Trastimara (extractada do cronista Lopez de Ayala), ocupa je metade dos seus capitulos, A Cronica de D. Fernando, jin nente nacional, dir-se-ia um primeiro acto, preparatério do drama tum deles a idet ificagio do poeta com uma colecti odo Bem (alguns diriam: tido, de forma irreversivel, 0 destino vitorioso, A col n que se daa cencarnag Ja razivo histérica), e & qual ests prome- iis longa Ferniio Lopes se identifica é, conforme ponto de vist, a gente misida qu triunfa sobre os seus opressores (isto €, 08 senhores feudais), ot nnagiio portuguesa que repele os Castelhanos. Trata-se, de facto, da mesma e Assim, € exeluindo o caso ainda controvertide da Crénica de 1419, onde nso Henriques, como fundador do Reino, merece um desen- volvimento excep. as ersni- tHe fundagio do Reino, Cabe-the, por encargo, ex alguns patristiens nobres, antes obscures ou se euma alta burguesia rece dade, visto que, s wundo as Crénicas, & no pove mitido que se eneontra a lade na jonal, 0 «amor da terran, ¢ 08 fidalgos ode: los» se com: prometem com Castel Esta com ree nhvio do autor num grupo étnico (que € sim suupo social), num destino © numa raza histérie: cas, mais do que um simples relato cronistic {ria romanesea (Por muito complexa que se laneamente um a brilhante ascensio de mo D. Nuno, Dasonada (que itd reagr que faz das Créni- idogénitos, c ‘mais do que uma simples his iio menos patristic: ), um auténtico poema — algo 12 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA em que se traduz o sentimento de uma totalidade significativa Ihe dé optimiismo iman ceruéis (como morte do arcebispo de Lisboa) se justificam globalmente, como efeméri des de uni processo necessério ¢ justo pela finalidade, 6 ela também que dg a0 autor a conviegao de ser objective. O autor épico sente-se realista, naturalmente, sem perplexidades nem hesitagdes, pelo simples facto de que colectividade com que ele se identifica & portadora da razio, Para cle nao hd duplicidade entre © subjectivo € 0 objective. Nisto con extraordinairia er Camo nsumada e viva a epopeia nacional portuguesa, que jd vimos eshogar-se nas tradigoes épicas afonsinas, Em comparagao com estas erSnicas, Os Lusfadas aparecem nos como una epopeia psstuma, inspirada pelo sentimento de uma decep- «iio que quer resgatar-se, e vibrando de inquietagdes nl, social e humano, B ela que We {que 0s acontecimentos m fe a estatura de Fernao Lopes e a forga que impulsiona a que so as suas Crdnicas, Nele, mais do que em . pole dizer-se que enicontramos na suit for mais ¢4 erea do destino nacio: MWY BIBLIOGRATIA 1, Toxtos Cuénica do D. Pode. & 1. ed., acroscontada, é do 1736, pelo P.” Joseph Porcita Baldo, As od, actualmente mais acessiveis so a de Barcelos, 1932, e ado Porto, 1964, ambas dirigidas @ prefaciadas por Damido Peros (a dtima reproduz © manuserito quinhon tista do Arquivo Nocionalh, ea de «Clissicos do Povo», org. pref. por A. Borges Coe tho, 1967, baseada na od. da Academia das Cibneias, in «Colecedo de Inéuitos», 1780, reod. em 1925. Sobre esta se basoia também o texto da «Biblioteca de Clissicos Por fquesess, Lisboa, 1895. Ed. ertiea, segundo os ts manuseritos do sée. XV e outros, or Giuliano Macchi, Edizioni dell Atheneo, Roma, 1966. Crénica de D. Fernando. A 1." ed. 640. M, Atagio Morato, in enéelitos de Histéria Portuguesa», Lisboa, 1916. Ed. acessivel por Damo Peres, 2 tomos, Borcelos, 1998-38. Também ed. na sBiblioteca de Clissicos Portugueses», 3 tomos (1895-96). Rood segundo 6 texto da 1.* ed, na «Biblioteca Historica ~ Série Régia», Porto, 1966. Ed 2" FPOCA ~ DP FERNAO LOPES A GIL VICENTE 133 ‘ertica por Giuliano Macchi, IN-CM, 1976; ed. bilingue (portuguds 6 francés do texto esta bolecido por G. Macchi er Paris, Ealtions du Centee National de Recherches Scientif ‘ques, 1985. Versio mociomizada da anterior com pref. e notas de A. Borges Coelho, od Horizonte, 1977 Crénica de D, Jodo. A 1." ed. 6 de Lisboa, 1644. Ed. diplomatica da 1.° parte por ‘Anselmo Broamcamp Froir, Lisboa, 1945, roimpressa em facsimile, IN-CM, 1973, com intvod. de LF. Lindley Cintra, Ed. diplomdtica da 2.° parte por Willa J. Entwistle, Lis: boa, Imprensa Nacional, 1968, Ha também ed. da «Bibloteca de Clissicos Portuguesesr, Lisboa, 1897-98. 1," parte com texto actualizado,introd. e notas por José 1977 fm 2 tomos Hermano Saraiva, sob 0 titulo Historia de Uma Revoteeto, Lisho ‘Avribuidas a Fernio Lopes: Crénicas do 5 reis de Portugal, ed. diplomstica com prs ogo de Magathles Basto, vol. |, Porto, 1945. Ente outr tém textos da Cronica Goral de Espanta do 1344, da de D. Afonso Henviqu ‘ale. 290, provavol original ms, da Crénica de Duarte Galvao}, © 0 Resume da {dos reis dv D. Sancho la D. Afonso V, aproveitados e em parte transcritos por Rodrigues Acenheiro, 66d, IN/2-12 da Biblioteca Publica e Arquivo Distital de Evora, Crénica de D, Dinis (texto inéclto da Caso Cadavall, ed, diplomitica com pref. por Carlos da Silva Tarouca, S. J., Coimbra, 1974 mportantes apdndices, con eodice Cronica dos Sete Reis de Portegal, ed. erica por Carlos da Silva Tarouca, S. J, 195259, 3 vols., 2 de toxto © 1 do glossivio @ indice onomético, 2. Antologias @ extractos Campos, Agostinho de: Antologia Portuguesa, 3 vols., 1921-22. Quadros da Crénica de D. Jodo, solve. pro. © notas de Rodrigues Lapa na col. «Tex tos Literdriosn, 3.4 od, «Chissicos do Estudanten, 1976. Crénica de D. Jodo Ide Fomio Lopes, col. «Textos Litordriosy,apres., selec. e notas to Teresa Amaro, 1980. Cronica de V. Pedro 16 Cronica de 0. Fernando, na col, Cléssicos Portuguesese (2.* ed. corr), com intiod., selec, ¢ notas do Torquato de Sousa Soares. Forno Lopes, na col, «Saber», 2.* od. rev. por A. J. Saraiva, quo também conden ‘sou © actualizou as tis erdnicas em As Crénicas de Forni Lopes, Lisboa, 1960. Oliveira, Corrba de/Machado, Saavedra: Textos Modiovals Portuguoses, Coimbra Ed tora, 5.7 ed,, 1974, 3, Estudos: Herculano, Alexandre: Ferndo Lopes, in Opiisculos, t. 6.°. Peres, Damio: inttod, & sua ed. da Crdnica de D. Pedro b Capitulo IV OUTROS CRONISTAS MES EANES DE ZURARA 0 cargo de cronista oficial da Corte mantém-se ap6s o termo da activi- «dace literdria de Fernio Lopes. Alguns anos antes do falecimento deste, Gomes nes de Zurara (c. 1420-1473/74) concluiu (1450) a Crénice de D. Joao 1 3." parte), também intitulada Cronica da Tomada de Ceuta. A orient ea mentalid Je do novo cronista afastam-se muito das do seu antecessor, © velho cronista (que alids ainda mantin, pelo menos no titulo, de cronista-mor da Torre do Tombo) dir-se-ia afastado como representante de uma época que se procurava fazer esquecer Gomes Eanes de foi, segundo diz do por D, Afonso ¥, © que nio passa tale jeito, porquanto era bastante mais velho do em ». Cavalelto da Oxdem de Cristo (que parece ter favorecido com um documento notarial fas -ado), eta, por re M431 ¢ 1454 com Por das veres se deslocou zelosament dle se documentar sobre as campanhas de D. Duarte de Meneses, [Akin da terceira parte da Crénice de D. Joao 1, ‘essa via, dependente do infante D. Henrique, que © gratiicon lus comendas dessa Ord Marvocos fin a que aproveiton possivelmente un texto parciaente eserivo de Perna Lopes, Zu persomagens da nobrez «a Crnica dos Feitos da Guin, 1 compos ersnieas de grandes ceseritas « pedis ou em atengiio a casas senhoriais. ais so ossa ao inate DH Las [HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA por isso essa ex simultaneamente nfante, ais jem ta dado pelo monarca), Conde D. Pedra de Meneses, pi rmciro capitio de Ceuta, eserita a pedi da duquest de Braganga, su filha; a Cine de D. Duarte de Meneses, fitho do anterior, conto texto muito truncado, sobretudo m0 se refere a época que dd infante D. Pedra € 0 acess de Afonso V a to D. Fernando, conde de Vila Real, hoje de parecida, Esta simples enumeracio das obras do segundo eronista ins descentralizadoras, a ideolapia aristoc do teinado de D. Afonso V, Continua m lorientagio dada por Bernio Lopes 8 Cr ‘uma certa secundarizagao de i que MRE SN or do Reino evidew se cruzada antimugulman to dos Livros das Linky 9. Por outro lado as Goral do Reino a favor da gost le do séoulo XVI se evidenciats n Fens is ck Com efeito, Zi lidade ¢ a desenvolve nos seus prélogos at teo! de que a cerdnicas & perpetuar a gloria dos que pr ndes feitos, de modo que eles ou os seus descendentes recebam, por esses feitos, as me cidas recomp sas régias. Por isso di 0 sseos individua viximo releva aos feitos «: nizando a acgaio da gente n desdlgm, Refer - pela qual explici tamente manites fe quasse apenas a aetos pal de guerra ou de explora: » © corso litoral, eujos prineipais protagonistas leiros (nobres). A sua visio hist6rica deixa de fora, em con- traste com Fernio Lopes, a quase totalidade da realidade nacional. Assim, Crénica de D. Joao L transfor impanha bélica dos filhos do rei, Esta Jateralidade deu lugar a deformagdes de perspectiva, como a que consistiu m ver no infante D. Henrique, seu protector, a eausit tink mentos, deixando na sombra outras personagens individua nais, circunstincias, anteced ‘© que deveria ser a3." parte se, como, vimos, na glorificagao de uma dos Descobri- nstitucio- tes © motivagdes que cer mente conti ram para a grande empresa, Com esta concepgio se deve F de informagao utilizado e encarecido por Zurara, que & 0.de \do aos depoimentos orais das pessoas socialmente miais qualificadas, em especial 0 proprio Infante, A estadia que fez em Marrocos, no desempenho das suas fungdes, ¢ pela qual foi elogiado ¢ galardoado por D. Afonso V, dobedeve a um propasito de object reparos feitos & Cro- i Vidade diz. apenas respeito a Para o relato das explora iro metodo em reac de D, Pedro de Meneses, mas tal obj versdes opostas de vairias casas senhori 1s bascou-s {ges mari Cerveira, hoje perdida, or, de Alonso. 2." EPOCA ~ DE FERNAO LOPES A GIL VICENTE he A guerra em M: {que se torna, no reinado de D, Afonso V, a prin ‘em que ilo foi esquecido 0 nobreza, deu lugar a grandes com problema da sua legitimidade, Competia a Zutrara, eronista da corte, justi como eruzada antimugulmana, de acordo facto, a partir de D. Duarte (1436), obte assegurando a exelusividade dt explo 15 Indias» (plausiv Preste Jodo). Esta justificagao abrange 0 comércio de escravos, a cujo ink io, em Lagos, Zurara consagea algumas paginas comovidas da Cronica dos Feitos ds Ging, que o nao impedem de coneluir que por esse meio as dos gentios vir quatro crénicas conhecidas, a mais interes a de Ceuta (14 ao trabalho dos mesteirais € provisoes nas margens do Tejo. Algumas pig obra, pelo poder de evocagio pormeno que o autor € Fe Guiné (1453), a retérica pane- al al mal armados, mas om esfor » diplomiitico que de sucessivas bulas com indulgen- 0 do litoral afri- cas e, desde 14: ano desde wente, 0 lendirio reino do. we & a primeira, a da 0), em que assistimos ds discusses em conselho ¢ wlores que armavam os barcos e reuniam parte was itis vivas dest va social, s restantes crdnicas, Na dos Feitos d pirica alterna com um cerzido mal datadlo, por vezes de episddios de corso contra mouros ou gentios em 2 correrlo riscos reais e com toques frequentes de vivacidade testemunhal & contradits sontramos no relato quase pi rumado € omisso ia simpatia humana — det alelo, mais objectivo e metédico, de C wlas aos Meneses 1s € qualidades que nie mosto, mercador veneziano, Nas du (D, Pedro, 1463; D. Duarte, 1468), a acurnula «los com a minticia de um contador de historias de eaga, tod tes ¢ todas iguais, e sem precisio cronol6gi a ser fatig mos qui as do inimigo, Lindos, embora sobresss jos de combate, las diferen te. Nota mente nar alguna simpatia ocasional pelos pobr is a justific cerueza e perfidia ish es camponeses espo- “io da eruzada com frequentes notas sobre | pretens O estilo de Zurara esta de acordo com as preocu corte de D. Afonso V, que, a exemplo da corte dos duques de Bor~ influencias culturais da antiguidade es de vida requin- sonha, se adon 140, HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Jo ouvir a cada passo a exalta- jes assinaadose, que Joo de Barros ¢ Luts de Cambes, no século Na preocupagio de te barroca, como sa dos Grands Rhctoriqueurs, Prefere a frase longa, com largo uso da subordinagio conjuneto lativa, e sob este aspecto sarado com Fernio Lopes: mq 0 dos «bi XVI, saber fazer de maneira lar adormos e figuras de e tecipa-se a escola fam iil ou pronominal r tuma fase nova dat arte lit jada por D, Pedro ¢ D, Duart predomina sobre a expresso oral. pertence expresso eseril MBRUIL E PINA O terceiro eronista-mor do Reino foi Rui de Pina (1440-1522), undo da pequena nobreza, secretdrio de D. Joao I, itico deste rei e de D, Manuel. Dei is crdnieas dos reis de Portugal de D. S D. Afonso LV, que, embora separaclas, cons: ‘ituem um conjunto; as erénicas de D. Duarte, D. Afonso Ve D. Joi Il Destas obras, a mais pessoal, ou seja aquela em que Pi seu conhecimento directo dos factos ou em docu de D. Joi I. O autor que este rei quis impor atural ygente diplo: obra extensa a Crénica resenta Os acontecimentos segundo a versiio oficial 10S seus contemporineos. A personalidade do «Pri ‘obra como domi ‘onista, As pouteas p: inteiramente La.corte, iche quase nte 0 campo de visio do comovidas jorte do pr nente interessantes do livro so inspiradas pel D, Afonso € pele doenga final do rei: hi nelas uma sobriedade por vezes cloquente. Mas em geral 0 estilo & a expresso disereta do ponto de vista oficial mondrquico. Os capitulos consagrados a viagem ao Congo si a a das declaragdes do proprio navegador, Diogo Cio. Garcia de Resende esereveu uma versio mais testemunhal & desta Crdnica de D, Joao I, publicada em 1545 juntamente celica em verso, estilisticamente muito desprendida, que «ki conta dos acontecimentos europeus e portugueses do seu tempo, nomeacdlamente les que se retacionam com 0 reconhecimento maritima de outias civ es, suas riquezas ¢ estranhos costumes, eco rope repercussdes sociais do 2 ROCA ~ DE FERNAO LOPES A Gil VICENTE mi Ascrdnicas de D, Duarte e de Afonso V tém certamente menos origina- lidade, mas extremo interesse. Ambas expdem dos acontecimientos wna versio 20 infante D. Henrique ¢ encomistica para ribui a D, Henrique as culpas do desas- nto sobre a crise moral ¢ ideoligica ode Geis supoe que Pina compilou nesta obra escritos de Fernao Lopes e de Zurara. Quanto 4 Cronica de D. Afonso V, pode dividir-se em duas partes que sio, na reali dade, duas erdnicas: a da regéneia, ou seja a de D. Pedro, ¢ a do governo de D. Afonso V. Na primeira contam-se as lutas entre o regente ¢ a nobreza, ‘cio popular de Lisboa ¢ outras eidades, numa perspectiva muito © oficioso, que &, no conjunto, desfavordvel i D. Pedro. A primeira, que tre de Tanger, € um precioso docu da nobreza dirigente no final do reinaclo de D. Duarte, Dan de Fernio Lopes, embora em estilo disereto, qui Na segunda, além da narrativa das guerras de Africa, no estilo de Zurara, ‘eda campanha de Toro, encontramos um relato da ida de Afonso V a F € sua entrevista com Luis XI, que é admiravel sob 0 ponto de vista psicol6: nestes capitulos da obra fazem supor que ilo por um portugues que esteve em Frangs Pina aproveitou um ese com D. Afonso V Q adaptagdes da Crénic 1as de D. Sancho a D. Afonso IV, sia, como vimos, de 1419, embora com alteragdes sensiveis. Pina dei- confiou a Duarte Galvdo, que parece ter em grande parte pre ridas aduptagdes. Nao esquegamos ainda que da Cronica Gerel de Espanta se estendeu, gr cado, até ao ano de 1455. ecemista portugues: redactor no identifi- WBA histor Ji nos Livros das Linhagens se manifesta 0 interesse dus grandes casas senhoriais pela historiograt dos Pereiras. Esse interesse ta e a respectiva ideologia desenvolve-se e sister e com oadvento dinastia de Avis © as lutas sociais que se The seguiram, Mais que cronista do reino, Zurara & o eronista do infante D, Henriqu no s6 na Crénica dos Feitos da Guiné, mas também na da Tomada de Ceuta, Depois disso seri o cronista dos Meneses, D. Pedro ¢ D. Duarte Por ordem do mesmo infante D. Henrique, Frei Joao Alvares, que acom- ografia senhorial nomeadament ‘eiro 0 infante D, Fernando, eserevew panh: me HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA a patética crdnica deste titimo, com uma minicia biogrs a que testemu- nha a convivéncia fntima entre o autor eo fragile martirizado protagonist Ressalta 0 propdsito de exaltar o Infante como miitir da f@ e dt eruz contra os Mouros. Na parte referente aos preparativos da desastrada expe- digo de Tanger, a crénica de Frei Joao Alvares proc bilidades o infante D. Henrique, endossando-as ao rei D. Du em de ar de respons: c, 0 que esti ‘ordo com a documentagao hoje conhecida m sentido contrario, houve uma lite D. Pedro, que as obras de Rui de Pit te entrever. Possivelmente relaciona-se com a Casa de Braganga, que entronea no ccasamento entre a filha de Nuno Alvares Pereira e o bastardo de D. Joao I D. Afonso, a redacgio da Crénica do Condestabre de Portugal entre 1431 lata da morte do biografado) ¢ de 1433 (data di capitulo), A comparagio entre es relativos a Nuno Alvares stigere que tanto este como o redactor dauela uti \ura hist6rica favordivel ao infante nos deixam elaram morte de D. Joao I, ultimo nica ¢ os ‘apitulos de Ferniio Lopes Tizaram uma fonte comum, porquanto certos passos da Crdnica do Condes- tabre parecem resumos dos de Ferniio Lopes ¢ com outros se do contr’ A tese de que Fernio Lopes seria 0 Cronica do Condestabre esti definitivamente prejudicada, porque, além de outras razdes, Ferniio Lopes ataca duramente certa versio contida nesta Crénica, O Nuno Alvares que nos apresenta & Cronica do Condestabre diverge um pouco do que nos apre- senta Ferniio Lopes: este tiltimo figura mais idealizado e transfigurado pela parece-nos sujeito a fraquezas e crises que Fernao Lopes omitin © que 0 fazem mais verosimil, Por outro lado, a Crénica do Condestabre temu ‘erno Lopes € relata certos des rio, ator d lenda; aquele {eter menos polémico que as de res dos Portugueses durante a por Fei 1erra com Castela omitidos ou desmentidos wo Lopes. A Cronica do Condestabre, notivel pelo sew tealismo sébrio ¢ pelos pormenores psicol6gicos do heti, deve talver considerar-se 0 0 ltimo vestigio da tradigdo eronistiea portuguesa que vem desiguar Entwistle atribui a sua autoria a Gil Aires, eserivio da puridade do Condestivel Entre os autores de evSnicas perdidas,h vassale do i re outras, aproveitada por Zura Entre os manuscritos de mutéria historiogrtica contam-se a Crna da Ondem dos Frades Monores, chia dle ingénues recontos tum Afonso Cerveira We D. Henrique ¢ euja nacrativa dos Deseobrit 2." EROCA ~ DE PERNAO LOPES A Gib. VICENTE 143 (1209-85), traduzil de um original latino por fins do yéculo XIV, ed tod ‘io, notas, gloss ¢ indice onomistico por J.J. Nunes, Lisboa, 1918; a sunxiria Cro hica Brove do Arquivo Nacional, datada de 1429 Ja por Hotel Seripones, Portugaliae Monumente Historica; ¢ a chamsula If Crénica de Santa Cruz de Coimbra, posterior a MSL. MU BIBLIOGRATIA 1. Toxtos ‘apégratos, © earacter Capitulo V LITERATURA APOLOGETICA E MISTICA Ae fins da Ha Média, os temas misticns, morais © apolagéticos so em geral tratados om | mos os factores que eoneo ese @ século XI n para modi les 0s conifitos que dentro delas se teste estado de coisas: © desenvolvimento das ci no propicio a discussie religiosas de novo génet0s as rebelides de camponeses ¢ artesios, mesmo contra 0 clero, sutorizam-se com 6 Evan Aho: os reis em lula com © Papado proc isda nobreza palaciana e da burgucsia. A medida que as nham terreno, a Hgreja &obrigada a combaté-las no priprio campo hhoresias populares ¢ ‘em que se desenvolvem, com as mesmas armas € dirigindosse fs mesmas camadas da populagao, Como res ado dest lisseminagio das questdes religiosss, desenvolventse eongre cont is, dedicadas a certo cultos particulates, como. do Nome de Deus. De rages laicas, como a dos lemios da Vida Cos frariasartesanais a realizagioens Franga, e depois noutros pases, dos «mistérios»teligiosos no século XV, que sto mais una arma eatoquistica, a actese Aces se lover ina outs de Deus Este movimento g vam em Portugal alguns documentos ca tradugio da Biblia de que bi no naniestasies rligiosas populares, come as procissdes do «Corpo al eflecte-se uma literatura prope crn ing ¥ Deus ¢ se fundam confrarias do Nome de Jesus, utras tradugdes de obras religiosas influentes se conhecem do séeulo XV, como 8a Iitago de Cristo por Frei Joao Alwates (0 autora Crinca do Infante D. Fernando), ‘© de um tratado alegorice francés sobre a Virgem Maria, iniulado Castefo Perigoso, 150 ISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA ‘Oculto do Nome de Jesus inspira uma obra de autor desconhecide, redi Ja em fins do século XIV para o século XV, intitulada Orto do Esposo, -a de meditagdes sobre aquele tema, sobre a Sagrada ycompanhadas de exemplos, alo, por vezes apenas resumido ow t crito, de numerosas fontes, que umas vezes nomeia € outras nio, ‘Ao mesino culto do Not Espirituais de mestre André Dias (também chamado André Hispano ou And Escobar), bispo de Ajfcio © de Mégara (1348-1437), oferecida sos mem do Bom Jesus em Lisboa, cerea de 1435. F de composigdes em verso muito irregular, que chega a reducit-se a pros ritmada, expr destin tal. Inspira-se nas Lauds de Jacopone de Todi f c sentimento de recor suave © mei que é uma colecti lura e sobre a ou hist6rias edificantes, tudo forrag c de Jesus se refere a obra Laudes ¢ Cant bros da Confra essumel 10 canto e danga co ns o movimento go que carael franeiscano, André Dias, ora traduzindo, ora imit slosando 0 seu. lo com a shia propria i alegria primaveril, um enternecimento que nada iam, a s6 tem, neste aspecto € veridaede do ela 0 da literatura mistica por tuguesa, sua obra, qu tica, paralelo com algumas composigdes liico-religiosas de Gil Vicente obras, 10 m certa vocagiio dram: el da sensibilidade popu ramos outras religiosas dirigidas certamente a um piiblico mais selecto, embora niio ler lo XV, cujo autor, desconhecido, se revela conhecedor da Divina Comédia (que imita na introdugo), de Petrarea, de quem traduz numerosos exelusivamer 0 Boosco Deleitoso, redigido talvez em prin- cipios do s6 ccupitulos, ¢ ainda de alguns autores da Antiguidade, como Cieero e Séneca, {que cita, enxertando estas influéncias profanas num conhecimento intimo |. O livro conta as atribulagdes da Aln norteacla pelo pecado, o seu encontro com a Miserieérdia, o seu julgamento, o para Deus, icdo directa, As tiltimas miistica mediev «da Literatu des. 6 seu retire na vida soliti fases da sua aseensi \s Moradas de Santa Teresa de Avila, O Boosco experiéneia estilistica dos bre livro do género, as famos Deleitoso assimita tod: autores mésticos em latin 2.* EPOCA — DE FERNGO LoP A GIL VICENTE 1st medi 's traduzidos e! al, alguns del Aleobaga nos séeulos XIV e XV, que tou na lin dos. pregadores. A lingwagem ywinosa e lirica do Céntico dos Ciuticos, a frase comovida e ritmada de n um condigno six decerto se enx ‘que se combi pretende comunicar um estado inefavel. Como expresso de estados emocionais, 0 estilo do Boosco Deleitoso nao tem talvez paralelo entre n6s no século XV, ificlmente o ters em toda a literatura portuguesa. Resta averiguar até que onto se trata de uma producao original pontaneidade ou fluéneia fraseol6gica com a vibragio de qu ‘A um tipo completamente distinto, cunstincias hist6rieas, pertence uma obra que, como as pr datar de fins do século XLV, inieios do XV: a Corte Imperial, Trata-se de ma apologia, por razdes que o autor pretende serem sevidentes € m - O livro polemiza principalmente con ‘© Mouros, embora também argumente contra os Pagiios, os Cristios orien religiao alguma, A Corte Imper sua Thériea, onde persistiann as come: € muigulmanas (judiarias © mou ceultos, tolerados pelas autoridades, ma tomada de Ceuta (1415), guia o problema 10 dos Mouros de Atri ma cruzada paeifica de conversiio de judeus, gentios e sobretudo io Raimundo Li prineipalmente Raimundo, que teve bora integrado nas mesmas cir- sdentes, deve os Judeus, is € até cont ja insere-se ‘os que nao te ius) com os respectivos onde, e4 a conver | Relaciona-se eer- pa islamitas, proposta e empreendida pelo fessamente de vi Vale-se con- adeptos em Portugal, os «reimonistas», criticados por D. Duarte, ¢ que tal~ ver Sob o ponto de vista literdtio, 6, como 6 Boosco Deleitoso, um documento notavel do desenvolvimento da pros jos portuguesa de comegos do século XV, oferecendo-nos, quer tre~ cchos deserit 10s em estilo solene e pomposo, embora convencional, quer argu- i a {coldgica adaptados av Portugués. Confrontada os doutrimirios de Zarara, a Corte ial (como 0 Bosco Deleitoso) indica a existéncia de uma escola de mentagoes em linguagem escolistica sempre clara e rigorosa, © nde com 0 Leal Consetheiro & com 0s Impet prosa doutrinal portuguesa cuja prepara narratives, que tinham de v mero de termos da ling Jo nao desmereeia a dos autores wer outras dificuldades. Ise HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Estas obras, ainda mal estudadas, ¢ outras, como o Virgew de Consolagam e 0 Cas felo Perigoso, adaptados, respectivamente, das obras le um domi tum cartuxo franeés, ao gosto do slegorismo doutrindtio das séculos XIV e XV, embora talver desprovidos de originalidade vagao das possiblidades do idioma rita, sio importantes como exereicio e oo MU BIBLIOGRAFIA 1. Toxtos Bibtia Modiovol Portuguesa, | vol., 04. Soratim da Silva Noto, Flo de Janeiro, 1958. As Laudes o Cantigas Esphitusis de mostre Andeé Dias, Bibl, Nac. de Lisboa, un 61, nde esido globalmente editadas, mas foram publicados largos extractos por Mlirio Martins nas obras Laudes 0 Cantigas Espisituais de Mestre André Dias, Lisboa, 1951, © Ladainhas de Nossa Senhora om Portugal tldade Média s6c. XVM, Lisboa, 1961 ‘Aauncia:se a ed. ctitica completa por Virgilio Maduroira, Instituto Nacional do investiga ‘¢h0 Cionttica, Centro do Lingulatica da Universidade de Lisboa, Do Boosco Deteitoso, ad. quinhentista, Lisboa, 1515, reed, por Auguste Magne, Rio de Janvira, 1980, Corte imperial, nica ed. por J. P. de Sampaio (Bruno), Porto, 1910. Or10 do Esposo, ed. critica, introd., notas a glossério por Bertil Moler, 2 vols, taxto Fontes, Rio de Janeiro, 1956 (Institute Nacional do Liveo}, completad por um 3.°, ed Upsala, 1964, com glossirio, ostudo e corecgdes, Outros textos: Castelo Perigoso, ed. de Augusto Magne, em «Revista Floldgica vols. 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Jodo Claro, ed. por Frei Forty rato de Sio Boaventura em Histéra cronotégica o critica da real Abadia de Alcobaga, Lisboa, 1827, e fnéditos, | Pelo Instituto Nacional de Investigagae Cientifica (Centra de Linguistica da Universi: dade de Lisboa) estdo a ser feitas as seguintes edigdes exiticas: Vidas e Paixovs dos Apds {olos, leitura, pref. © notas de Isabel Vilares Copeda (ver adiante, 0 Histéria de Ve siano, leitura, pro. © notas do Viroio Madutora, 12 EPOCA ~ DE BERNAO LOPES A GIL VICENTE 133 2. Antologias 0 oxtractos estes o de outros textos encontrom-se oxtractos nas erestomatias arcaicas cit das, sabrotudo na Crostomatia Arcaica, no Florilégio da iteratura portuguesa mediovat {do,J. J. Nunes e em Olivera, Corba de/Machado, Saavedra: Textos Portugueses Medi vais, 6." ed., Coimbra Editora, 1974, 3. Estudos: 'Nio ha ainda estudas de conjunto sobre tadas astas obeas, Ver panoramica de algu- mos obras por Saraiva, Joss: Histévia da Cultera em Portugal, 1.° vol, 1960, L.° | Viel." ll, Cap, Vil, © Cropiiscula da Ida Média em Portopal, Grodiva, 1988, pp. 73-102; ¢ numerosas monografias publicadas em 1964 na «Brotérian ¢ na «fevista Por {uguesa de Filosofia» por Mario Martin, S.J, aloumas delas jd reunidas em Estudos de Litoratuca Medhaval, Baga, 1956, v Estudos de Cultura Medieves, Lisboa, 1969, t. 2, Braga 1972, Vor ainda deste autor Introducde Histérica d Vivéncia do Tempo e da Morte ~ | Braga, 1969, que se refere a alguns destes textos modievats; Porogrinagdes e Livros do Milagros na Nossa dade Médio, 2,* od., Lisboa, 1957; Alegorias, Simbolos e Exemplos Morais da Literatura Mediovol Portuguosa, «Brotétia», Lisboa, 1975, e A Sétira na Lite zatura Medioval Portuguesa (Séculos Xie XIV}, «Biblioteca Breve», ICALP, 1977, que inclui estudos sobre progadores e 0 «Oto do Esposo»; 0 Piso, 0 Sorriso e a Pardo na Litoratura Portuguesa de Quatrocentos, ibidem, 1978, Ineluindo referdneia ao Bosco Doleitaso. Vallicroso, José Mori Milas: La apofogtica tutiana on fa obra «Livro da Corte Empe rial, in Retas do Congreso Histérico de Portugal Mediovo, n.” especial da «Revista Cul tural do Camara Municipal do Bragav, n," 41-42, Jan.Do2. 1965. Pontos, JM, da Cruz: Vator flosdtico do «Livro da Corte fmperialy, in «Rovista Por tuguesa de Filosofia», t. 11, 1958, pp. 412-415; Estudo para ume edi erica do Livro da «Corte Emperialy, separata da «Biblos», vol. XXXII, 1956, ¢ A controvérsia com os Inuuculmanos e as fortes drabes do Livro da Corte Emporia in «Monumenta», Lourongo Marques, 1." 3, 1967. Martins, Abtio: A literatura Arabo o a «Corte Imperial», «Brotéria», 26, 1938, pp. 61-68; Orianatidado w Ritmo na «Corte imperial, ibidem, 26, pp. 368-276; Literatura sudaica ea «Corte Inporialy, ibidom, 31, 1940, pp. 15:24. Willd, Charity Cannon: A Portuguose Translation of the Civistine de Pisan’s ativee dos Trois Vertus», in Publications of The Modern Language Association of America, LXXVII, 1.2 5, Dezembro 1963, Bresson, Marie: «Casteto Perigoso», vorsion portugaise du «Chastet Pérlouxs, in ‘sRomania», Paris, 89, 1968, Willams, Fredorik G.: Brave estudo do «Orto do esposo» com wm indice analtico dos sexernplos», in «Ocidenton, 74, Jon.-Junho 1968. (Propugna a autoria de Froi Hor ‘menegildo de Tancos, analisa @ esteutura geral dos 4 livros e seus capitulose, ao indicar ‘05 exemplos, aponta 9 fonte mais provavel de muitos deles: Jacques de Voragine, Cas: siodoro, Pedro Comestor, ete.) Ist HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Martins, Abtio: A votta do wOno do Esposos, «Brotérian, 46, 1948, pp. 164-176. Copeda, Isabel Vilaes: Vidas © Paixdes dos Apdstoles, ed, catia w estudo, Vo. | Centro do Lingulstica da Universidade de Lisboa, 1982 (trad. quatrocentista portugu do um toxto trecontista castelhano) ‘A importancia das traducbes do Latim suscitou jé no se. XV a confacctio do um lclondrio de verbs, que se encontea editado: A Fourteomth- Century Latin Old Portuguese Verb Dictionary, od. por Heewy Hare Carter, sep. da «Romance Philology, vol. VI n.® 20 3, Novembro de 1952 e Fevereito de 1953. ‘Lucas, Maria Claro de Almeida: Hagiogratia Medieval Portuguesa, «Biblioteca Brover, ICLP, 1984; A Literatura Visiondra da Klade Média Portuguesa, «biblioteca Brover, CLE. 1986. Capitulo VI A POESIA PALACIANA HA crolucio do lirismo galego-portugues Entre meados do século XIV (falecin © meados do século XV, nenhum texto fi na corte portuguesa. Seria temerério inf asta que um cancioneiro manuserito se tenha perdido (como se per~ io do conde de Barcelos, D, Pedro) irio ficou a atestar © culto da ir que ela nao fosse eulti- deram, por exemplo, os originais das e6pias dos da Vaticana e da Bibliotecit Nacional) para com ele desapare um longo perfodo. Pode mesmo ter-se dado o caso de se nio ter empr ido, p pequenos cadernos avulsos, condenados a vida efémera, onde os apres res dat poesia eopiavam pegas podtieas a seu gosto. Se Garcia de Resende niio tivesse empreendido a coleegao, no seu eélebre Cancioneiro Geral, das composigoes procuzidlas ¢ ji recolhidas nas eortes de D. Afonso V, D. Jozo Ie D. Manucl, est ancia de um considerivel conjunto de obras vers © factor mais importante da crise e definhamento da tradigae postica portuguesa ¢ 0 deperecimento das escol de jograis, por forga dos novos meios dominantes de comunicagao da poesia — que se torna eserita € nao jf oral, Por isso a Kngua portuguesa deixa de ser is eonhecido dos poetas F toda a grande produgao em verso de la de iniciativ 4,0 trabalho de coleccionago dos originais e dos ado Algumas noticias isokadas sugerem a existéncia de uma producio pos tica nos reinados de D. \lo, D. Joao Le D. Duarte, que se teria per~ 156, -MISTORIA DA LITERATUR PORTUGUESA 2: BPOCA~ DE FERNAO LOPES 4 Gil VICENTE 157 ido, Hé noticias de trovadores portugueses ¢ galegos de cujas obras niio | hhuma carta que em 1449 escreveu ao condestivel D. Pedro. A Pentnsula ficaram vestigios, como Josio Lourengo da Cunha, Fernao Casquicio e sobre ! Ihérica continwava a constituir uma unidade cultural com o seu foco em Cas. m como da corte castethana i nsular da alega, também a p tudo Vasco Pires de Cam@es (século XIV), ¢ de um trovador hebreu ao ser- 1D. Filipa de Lencastre; e D. Dus Livro das Trovas, que no foi possivel ident francés Guillaume de Machaut era conhecido na corte, faz D. Joao I no Livro da Monta WMO Cancioneiro Geral de que a partir da insurreigio de 1383, uma fraegio considerivel da nobreza emigra para Castela, € gente nova, com outras tradigdes, ven ‘ocupar os seus lugares vazios, Sabemos que alguns daque tivaram a poesia nas cortes onde se ref n, contribuindo cioneiros castelhanos do século XV. Por outro lado, alguns dos elementos joglaria estilo, onde se assinalam ja influéneias de Dante e Petrarca. 2-0 prestigio pe vigo da rai formas € 0 novo cia de Resende Eas cortes de Castela, € nao aos trovadores po ses da corte de D. Dinis, que temos de remontar para encontrar os anteced neiro Geral, compilado por G Jimento que se ins~ i de Hernandez del Castillo, publicado em 1511 Resende compilou 0 que consegui reeolher do material postico, em Kinga produzido nas cortes de D. Afonso V, D. Joao I caiva do renovado interesse pela pos meios palacianas, e prov Ja ao prelo (1516) numa épo n que a tipografia era ainda recente em Portugal, & reservada a um ntimero esca Al A medida que se con s do Cancio- de Resend prec pira no Cancionero Genes novos que entraram na corte dos primeiros reis de Avis cram alheio: portuguesa e castelha recor rugdo da corte portuguesa — reinados nos. te — trouxeram certamente modifieagdes nos habi- velmente noutros, esta edigao conti os, nos gostos, na moral e também, por Lo, na poesia da corte. Os cancioneiros castelhanos do século XV, em especial o de Jogo Afonso de Ba de 1445), mostram-nos ter licio Hi esa, Sio ainda numerosas as composighes em galego-portugues, ssissimo de obras. \ura do Cancioneiro Geral n ergulha-nos em plena vida palac ntrava em torno do rei, a corte desenvoly e variava, a da escola jogralesca galega,cultivada como no pas- sregides da Peninsula, O g zaxlo pola lenda, € 0 eastelhano Afonso Al desaparecer, em especial o paralelismo; a diversidade métrica q a0 predominio erescente do heptassabo ou oo pars sua vida social, procurava for a0. A sado por poetas das vi 1s prprias de passatempo € lego Macias, celebri- inde maioria das composigies do Cancioneiro Geral destin wes Villasandino contan-se entre a na do page caence se galantea we se i va, se disputa avam pequenos especticulos de alegorias aco isto se fazia dentro dum estilo que tendia a apun n concursos posticos, se ouvia musica. As as suas formas Kipicus se jogav: teriza restringe-se, dando lug 1; € sobretudo a mediocridade litera e social dos seus seq Se apurava © vestusirio, o penteado, a linguagem © a etiqueta cs contrasta com © brilho de alguns autores categorizados ¢ cultos que pre: O ambiente cortesio expliea o caricter lidico, ligeiro e circunstancial fo ti © 0 estilo castelhanos, Esta evolugio realiza-se em grande de grande parte do contetido do Cancioneiro Geral, € ao mesmo tempo ante sob a influéncia de modelos franceses ¢ aproveitando formas tipieas formas estilizadas, espirituosas que nele por vezes se encontram, No Pré do lirismo popular il Jogo, a arte de trovar é incluida no conto das seousas de folgare gentile Nestes cancioneiros assistimos, pois, ao ocaso dle uma poesia que eonhe- Os senhores as damas do Pago comentam-se reciprocamente o feitio dos. cera uma época de esplendor na corte de Afonso X de Casiela © noutras par- chaps, a er dos vestidos, os pequeninos acdentes que stem fora das teers tespeninsulares, como a de D. Afonso Ill e D. Dinis de Portugal. A historia sumtin de a plo marques de Santillana, D. Inigo Lépez i de Mendoza, um dos valtos litersrios eastethanos mais notiveis do tempo: fans que se usavam cé, O vestido amarelo de uma dama sugere reflexdes da compostura ou dos padraes da moda. Certo fidalgo foi objecto de larg: uum chapéu demasiado grande em relaga evolugio & ji fei ota porque trouxe de Castel (cn 38 MISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA lum fidalgo, ete. Tudo & jogo, espect cortes da Renascenga ¢ as cortes ulo e representag de D. Joao II serve 0, anuneiando as ja de prehi A wadigao trovadoresea do amor, en iceida pelas aportaydes de Pet XV ¢ XVI. Alguns poctas acabam. por € Dante, & continuada nos séculos chegar ao requinte de que o verdadeito amor implica a rentincia & posse do ser amado, porque a consumagiio do dese] wador. Eo no a extingui-to- es, 0 poeta conde de Vi que sustenta, numa tengio com Aires Tel D, Francisco de Portuga Camides. | quem sabe mesmo se constituinde © seu ponto de partida, uma longa discussiio em verso — intitulada O Cui- dar e 0 Saspirar — versa este tema Qual dos dois 60 melhor amador: aquele que deixa transparecer 0 seu sentimento, ov aquele que sabe suard-lo,p si? Este formalismo do g: Jo a0 gosto do paradoxo conceituoso, enche centenas de paginas do Cancion tivo esca L, precursor, neste ponto, de certas obras liricas de logo & entrada da colectin lanteio, a iro Geral; mas encontra um corree= Jaloso em alguns pocmas satiricos, por vezes ostensivan rificos, na conti pornogi widade da veia das cantigas de escaimnio ¢ maldizer ivel do Cancioneiro Geral & de facto preenchida por morosit Uma parte consider discusses de casuistica is cortes do tempo e que ten: 80 judicial, com testemunhos ou aj dese um veredicto final, revelando uma ia Justiga, que poderemos alis acompanhar as dos séculos XVI ¢ XVIT a importincia cultural da nobrez dom a assumir 0 aspecto de um proc de acusam quase de cargo, a Mota, ume um care: ter mais distintamente dramético de farsa, Uma das suas cinco pegas, O Pro: sempre a autoria de juristas pela Universidade, ‘amente a um juliz, Anriqu que se devem as produgdes onde a discussie ou 0 didlogo ass for cesso de Vasco Abul, obedece mesmo as vicissitudes de um processo judi cio, destinado a decidir se o protagonista tem ou nao dire m colar ofere gorada, a uma bailarina popular; as outras p ursa do Alfaiate, Fursa do Hortela es dla Mula) sito jé farsas ou prantos tea giica com as de Gil Vie ‘as (Pranto do Clérigo, p, Lament is cuja relacionagio cronolé- nas ainda nao resolvidos. Tais inte levanta probl (0 presas ao arremedo car avalesco de casos acontecidos, ni as mais das vezes para interrogar ou sentenciar sobre uma 2.4 BROCA — DE PERNA LOPES A GIL VICENTE 139) questi grotesca; mas os tipos do elérigo beberrio, do eristdo-novo roubado,, do hort uilo mas orguthoso do oficio Vivacidade notivel, ¢ a Lamentagao da Mula ergue-se bem i altura de sim- bolo para um periodo de grandes fomes. A tenuidade dos temas, 0 gosto do paradoxo ¢ o formalismo cerebrino em do Cancioneiro Geral um documento €3 amente rid presentam uma acteristico da lite a penin- ‘lo culminar no cultismo ¢ no conceptismo do s% bora 6 (om dominante no Cancioneiro Geral nao se rep sia seiscent lo XVI contrasta ainda no Cancioneiro Gi tivo, uma vitalidade intensa Ale cconservam interesse perdurivel, quer pela sua tensio emocional, quer por um apura lapidar. Tal € 0 caso de composigdes do conde de Vimioso, de Francisco de Sousa, de Jorge de Aguiar, de Jodo Rodrigues de Castelo Branco, de Diogo Trovi reia de Resende & morte de Inés de Castro, Vicente, Bernardim Ribeiro eS de Miranda con novos colaboradores do Cancioneiro. arecimentos patriticos de Garcia de Resende no Prétogo da obra, a expansio ultramarina inspira pouquissimos autores, dos qu n salientar Diogo Velho no poema Da caga que se caga em Portugal. Mas os poets is. Alguns destes retomam e si 1, porque com © pessimismo e desencanto que car tum certo espirito fes- solectinea yento formal verdadeiramente atiricos presenciam as suas consequéncias soci tiguidade clissica, como Nuno Pereira nur antagens da vida na sua casa de lavoura em comparagio com a de corte, ou Joao Rodrigues de Castelo B da vida ristic ante, mam em Porta \lor de Lisboa. Os dois primeiros criticam a vida cortés segundo 0 ponto, is tradicionali 1 termo a sus n t6picos que um cortesao sobre n que se fa. ressaltar a fartura, independéncia e segurang: Outros tratam polemicamente problemas da actualidade ins se costu- ‘omo Duarte da Gama nas Trovas as desordens qui de vista da nobreza provineiana m 7 tralizagdo monérquica, « qual por c estilo prd- prio de vida. Os tiltimos prote a transformagiio que o trétego ultra marino operava na sociedade portuguesa © poder do o da velha jerarqui nsia geral de ascen- n conti ganiineia mere dinheiro em prejut 160, HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA silo, 0 luxo, 0 relaxamento dos costumes), atribuindo 4 grande parte das a dos Judeus, que constt nos temas encontraremos em Gi fam o mais. © perspectiva hist6r A grande maioria dos poetas do Cancioneiro Geral adopta 0 verso de realy, 0 que di a monotonia, em contraste com a ancioneiros dos séculos XIII ¢ XIV. A redon- 1a Peninsula, como ainda € hoje na pox F portuguesa, ¢ como foi, por exemplo, 0 alexandrino em Franga nos séeulos XVII e XVII. Usam-se today’ redondi iedale métrica dos. dilha tornou-se um molde com sia popul 2 outros metros, co! tha menor, entio ehamada «adénico simples, € 0 verso de sare lizado especialmente para os temas graves, solenes e que, pel sta G20 normal na 5.* silaba, se pode considerar um agrupamento de dua redondilhas menores, set do como 0 precursor ou tosco substitute do decas sflabo herdi¢o do Renascimento, Segundo as normas act s da contagem portuguesa, este verso de «arte maior» em geral, onze silabas, visto as redondilhas incorporadas prese predomi- nantemente femininas, isto é, ter arem em palavra grave; mas como podem ser também mascufinas, isto €, terminar em palavra aguda, e como uma silabia nicial, lids r por duas, tal verso oscila entre 8 ¢ 12 sfla- bas, de acordo cor 0 confronto do Cancioneiro Geral com os cancioneitos primitives revela- 10S, por outro lado, que esquecimemto. Agor t6nic a contagem actual velha estrutura paralelistica e repetitiva eafra no ago castelhana, © slosa, volta repetivel voltas, assim com rafzes, ao que parece, no folclore castelhiano — consiste (ou desenvolvimento) de um mote colocado a eabega d como refrio, Conforme a manei se distingu -se de um mote dle dois ou tr2s versos e de uma volta de sete, sendo o ultimo a repetigo, antes, do verso final do mote; a cantiga, de tom mais grave 1, consta de um mote de quatro ou cinco versos e de uma glos. de encadear 0 mote © am diversas formas métricas: o vilancete compoe com ou sem va e convencior de ito, nove ou dez, com a mesma repel reial ou total do mote no em lugar de uma s6 volta (ou final da glosa; outro género cor 2." FPOCA ~ DP PERNAO LOPES A GIL. VICENTE 161 uma s6 estrofe de glosa), vérias voltas, no final das quais se repete o mote com mais ou iantes. Embora de origem popular, proprio nome de «vilancete», em castethano villancico (carn cesta forma, que tende para o coment Imente adequaada & mentalidade glo pela Universidade, e, caracteristico destes poetas palacianos. livres, como a espars jo de um nove ¢ dez versos, ¢ as composi¢des sem miimero determinado de estrofes. 10 de formas vers cia pela redondilh constitu aquilo ulo XVI se chamard a «medida vell posta ao «estilo novo», de inspiragio italiana, que vird a ser consag nds por Sé de Miranda, Poueo se sentindo, nas formas versifie na, que chegou até nds por via dos ita de Santillana, anuncia claramente no eristicas da literatura quinh {que jéencontramos em Zurara e & depois mo revela 0 de vilio), o engenhoso de um dado tema, é espe- ador se admiravelmente ao gosto conceptista nenos ¥ adora difundida pelos pre io cultivados outros géneros mais entre oito, trofe s6, que van |, composi Este conju arias, com pr eno a, cont rado entre influéneia da poesia ita- nes espanhdis, como on icioneiro Geral algumas das 0 préprio prefiicio de qu tendenei Garcia de Resende insiste mun te muito repisado em Portugal: a afin forma perdurdvel de glorific por lamentagdes do esquecimento a que sto votadas pelos préceres nacio- as, 0 Ca vase populares de assunto erica, ntista, At a oitava herGi fe maior» de Lufs Anriques & traskadagiio do e: cearae io da necessidade das Letras como io dos grandes feitos militares, acompanhada No que respeita 1 glorificagao © ay suas for ncioneiro transigao entre 0s «rir alude, © censaiiadt nos versos. incorrupto de D. Joao If e 4 tomada de Azamor. Deve, no entanto, notar-se que, tirante estes ensaios de exaltagio herdica, ¢ ainda as belicosas estrofes de Diogo Velho, onde, com as imagens ti nquis terreals), a prime um orgulho to / 0 tesouro ie a empresa ultra mena como origem as da caga, se 1 (<0 mui Longe nos & perto, / os vindouros tude de alguns poctas do Cancioneiro per im: da do Velho do Restelo dle desmoralizagio, desastres e fadigas aborrecidas. Destaca Lido, « comunicativa tristeza de Bras da Costa, em certas quadras de desa- querer neste sen= jes e navais, declara antes ni ‘que vai preservando. » onde, perante tantos riscos mili pimemta ¢ contentar-se apenas coa vid 16 [HISTORIA DA LITERATURA poRTUGUESA Temi jeresse particular um género ados, det que 0 poeta es Jora por amor, rativo, conhecido por Inferno dos cbre do Inferno de Dante (aquele ‘os queixumes ¢ as recordugoes de Francesca de Ri raiindo uma bem pouco ortodoxa simpatia pelo seu caso sentimental), através de Santillana. Nestas composigdes exalia-se 0 senti- o de predestinagao amoross, relacionando- atético, com st eondenagao a que os ama se, pois, como que de virar do avesso a intengao morals is atvibuidas aos vitimos hersis castos do cielo arturiano (ha uma passagem sobre este tem na Demian do Graal), bem como a0 cavalciro Tindalo ¢ outrus personagens, ‘Mém de cultivado por Duarte de Brito, D. Joao Manuel ¢ Diogo Bran- a0 (cujo Fingimento de Amores constitui o melhor e mais ousado espécit do género, com a sua explicitae galanteacora possivel que -hajamos das bem- aventurangas»), ele deu visivelmente © molde em que se vazam as ‘morte de Inés de Castro, de Gare’ {4 impressionara os cronistas e que se tornaré doravante o grande si Portugués do amor tragico, & um poema narrative bem encadeado, em que © patético -galardio do amor» resulta de um jogo fatal de situagdes; a niti= dex do seu desenvolvimento ¢ elogue mio tragos modelaes ie ponsabitidade do par amoroso e 0 dever politico de D. Afonso TV, que a protagonista reconhece «forgado, pelo seu, de me matar. Os Infern Namorados do Cancioneiro Geral anuncian uma importante tradigio de sen- através de Bernardim Ribeito ¢ C :1 imagem convencional da indole portu- nentalismo e pelo saudosismo. A famosa frase de Francesca de Rimini, que fer sobressair a gléria j4 extinta do se aslo de um episédio cé! de um modo mes se afoitam, para os amantes, visto «que & it s dos racterizada pelo se ima dos proprios tormentos infernais presentes («Nessun maj dolore/Che ricordarsi del tempo felice/Nella 1 ser exaustivamente paral ‘Namorados Out a italiana que surge e se avolumard é a de Petrarca, © qual, além de apurar 0 sentido das contradigdes do amor, j4 importado da escola provengal e tendente a cristalizar em meros jogos formais de conceitos trocadilhos, conduz Duarte de Brito, D, Joio Manuel ¢ Diogo Brando a confrontar estados di ), comega também a mtexto dos Infernos dos mesmo fora do 6 inth alma com paisagens mais ou menos conv 12." FPOCA — DE BERNAO LOPES A GIL VICENTE 163 mesmo quando nomeadas, pois, através de Petrarea (e também de Dante), A literatura mistica (de que também eles foram cultores), evocam, vergéis paradi kissico, ora o-ermo cos ou bosques sigrados de modelo c as ¢ os horrores do Inferno, nhoso dos anacoretas, ora as tre dantesco. De alegoria mis transforma-se deste modo em ale morosa, anunciando Bernardim Ribeiro, Ainda outro sinal dos novos cultura clissiea la certo ime npos que raiavam cc 4 0 seguimos desde os primeiros infantes, de Avis ede Zurara, € até mesmo Fe agora o gosto da Lati- to espalhada, que permite alusdes satitica a ortografi eréncias mitoldgicas, 0 seu t ‘ios olhios: ¢ so paraftascadas por Jodo Roiz de Lucena ¢ Joao Roiz de Si aly virias dos amantes mitols as Herofdes de Ovidio © suas Lopes; m: idade torna-se moda, na cons, cola ima tages pré-renascemtistas, epistolas als, id mer por Fernao Lopes e por varias obras medievais estando- mi Portugal, insular cuja ma da poesia frances, que, niio era desconhecit se prt le no gosto alegdrico, © muito menos em Espanhat, constituit-se a escola po expressiio portugue las geni is, esta ‘ao trabalho de apurar ¢ ensaiar formas, como apontimos ¢ melhor yeremos adiante, uma trad que correspond a uma aquisigio definitiva de desenvolvim “olbgico ismo e decorativismo artes MW BIBLIOGRAFIA 1. Toxtos {As sobrevivencias no 366. KV da escola wovadorosca galsico-portuguesa encontram-se ‘no Cancionoito do Jodo Afonso de Baona, de que existem as seguintes ed: Madrid, 1851, Leipzig, 1860, Nova lorque, 1926 fom facsimile do manuserito primitiva, com pret do Henry R. Lang), Buenos Aires, 1949, Madtid, 1966 (ed. erftica em 3 vols., por

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