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Eduardo Dimitrov
Mestre em antropologia social FFLCH-USP
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RESENHAS
que reclamam por sua vez outros elementos, em uma cadeia sem fim. A totalidade
seria ento a relao e a diferenciao dos
infinitos elementos. Assim, mais do que
usar os organismos como alegoria para
entender o social, como teria feito Spencer,
Tarde quer compreender os seres como sociedades. Do mesmo modo que as clulas,
as molculas e os tomos, o princpio de
diferenciao presente nas civilizaes
obedeceria a um padro universal.
Em A variao universal, o segundo captulo, Tarde avana na discusso
sobre a diferenciao no mbito da sincronia, exemplificando seus argumentos
com conjuntos definidos. Sua inteno
provar que os seres no existem em
essncia, mas apenas na diferenciao
relacional. Nessa empreitada ensastica
para tentar desvendar o termo absoluto
e verdadeiramente para si do qual depende este mundo (:163), o autor passa
pelas idias da vida, do dever e do belo
para demonstrar que no existe medida
comum a campos to heterogneos, a
no ser o excesso de diferenas presentes
em seus termos.
J o terceiro captulo, A ao dos
fatos futuros, trata da diferena na
diacronia. Tarde critica a as explicaes
do presente que, confundindo o passado
real com o efeito do passado, apiam-se
no ontem para explicar o hoje. H aqui,
em verdade, uma crtica noo de que
a Histria possui um sentido resgatvel
do passado. Ora, diz-nos o autor, o futuro
deve ser to ou mais considerado que o
passado quando se quer dar sentido ao
presente. Isto ocorre porque o passado
no existe seno a partir de seus efeitos (hbitos e heranas), enquanto os
futuros possveis, ainda no existentes,
atuam como finalidades, projetos, ideais.
Neste sentido, a reflexo de Tarde ilustra o que o historiador francs Franois
Hartog chamou de regime moderno
de historicidade, no qual o passado
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