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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA DE VERTEBRADOS

Luiz Fernando Salvador Júnior

Dieta e caracterização da pesca esportiva do tucunaré Cichla piquiti


Kullander & Ferreira, 2006 (Perciformes: Cichlidae) no reservatório de
Itumbiara, região do alto Rio Paraná

Belo Horizonte – Minas Gerais


2009
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas
Programa de Pós-Graduação em Zoologia de Vertebrados

DIETA E CARACTERIZAÇÃO DA PESCA ESPORTIVA DO TUCUNARÉ


Cichla piquiti KULLANDER & FERREIRA, 2006 (PERCIFORMES:
CICHLIDAE) NO RESERVATÓRIO DE ITUMBIARA, REGIÃO DO ALTO RIO
PARANÁ

Luiz Fernando Salvador Júnior


Orientador: Prof. Dr. Gilmar Bastos Santos

Dissertação apresentada ao Programa e


Pós-Graduação em Zoologia de
Vertebrados como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em Zoologia.

Belo Horizonte – Minas Gerais


Este trabalho foi realizado nos Laboratórios do Programa de Pós-Graduação
em Zoologia de Vertebrados da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais sob a orientação do Professor Dr. Gilmar Bastos Santos e com o apoio
das seguintes instituições:

• Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUCMinas;

• Furnas Centrais Elétricas S/A;

• Fundo de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG.


AGRADECIMENTOS

Ao Fundo de Incentivo a Pesquisa (FIP) da PUC Minas e FAPEMIG pela verba


concedida para a realização do presente trabalho;

A CAPES pela concessão da bolsa de estudo;

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Rancho do Tucunaré


(Tupaciguara/MG) pelo acolhimento;

FURNAS Centrais Elétricas S/A pelo apoio logístico;

Aos Professores Adriano Chiarello, André Hirsch, Gilmar B. Santos, Hugo P.


Godinho, Jorge Dergam, José Enemir, Nilo Bazzoli e Paulina Barbosa não só
pelo incentivo, mas principalmente pelas críticas;

Aos colegas Augusto Bicalho, Fabiano de Andrade Silva, Fábio Borçatto,


Gilberto Salvador, Leonardo Salim, Marcelo Amorim, Marina Fonseca, Nardely
Gomes, Rafael Magno e Rogério Matos pelo fundamental apoio prestado;

Ao Engenheiro Felipe “Canela de Pedra” Colturato, não só pelas inúmeras


jornadas, mas principalmente pela amizade sincera e verdadeira;

Izabela C. Siqueira e Zoom S. Salvador pelo companheirismo, força e


paciência;

E principalmente a Luiz Fernando Salvador e Nilza Visacro Salvador pelo


incentivo incondicional e fomento financeiro ao longo de toda a minha vida
acadêmica.

UP THE IRONS
SUMÁRIO

Resumo 6
Abstract 7
Lista de Tabelas 8
Lista de Figuras 9
Introdução 10
Materiais e métodos 12
Área de Estudo 12
Espécie em Estudo 14
Coleta de dados 14
Alimentação 15
Estimativa das espécies mais abundantes da comunidade de peixes 15
Pesca esportiva 15
Análise de Dados 16
Alimentação 16
Estimativa das espécies mais abundantes da comunidade de peixes 17
Pesca esportiva 17
Resultados 17
Alimentação 17
Estimativa das espécies mais abundantes da comunidade de peixes 24
Pesca esportiva 26
Discussão 30
Conclusões 40
Recomendações 41
Referências bibliográficas 42
6
Resumo

De março a novembro de 2003 e de novembro de 2004 a outubro de 2005


foram caracterizadas a dieta e a pesca esportiva do tucunaré Cichla piquiti no
Reservatório de Itumbiara, região do alto Rio Paraná. A espécie apresentou
significativa ontogenia trófica uma vez que camarões, principal recurso utilizado
por exemplares menores que 20 cm, foi paulatinamente substituído por peixes
na alimentação dos indivíduos pertencentes as maiores classes de tamanho,
não sendo contudo, excluído da dieta da espécie. O consumo deste item
apresentou ainda caráter sazonal, uma vez que foi consideravelmente mais
ingerido durante o período chuvoso. Em relação à piscivoria, C. piquiti exerceu
forte predação sobre três das mais abundantes categorias taxonômicas
presentes na área de estudo, incluindo jovens da própria espécie, ao passo
que aparentemente evitou aquelas também abundantes, dotadas de acúleos
nas nadadeiras peitorais ou com corpo alto achatado lateralmente. Apesar dos
indivíduos maiores que 20 cm também consumirem peixes proporcionais a
seus tamanhos, a dieta destes exemplares foi constituída principalmente por
exemplares de pequeno porte. O índice de repleção estomacal atingiu seu
maior valor na metade do período seco, ao passo que os menores valores para
o fator de condição foram detectados durante a estação chuvosa. Exemplares
de comprimento padrão variando entre 25 e 40 cm foram os mais capturados
pela pesca esportiva. Esta foi mais produtiva durante o período seco, estação
para a qual foram obtidas maiores médias de capturas por embarcação,
pescador e pescador por hora.

Palavras-chave: Cichla piquiti, dieta, pesca esportiva, reservatório de Itumbiara,


tucunaré.
7

Abstract

The diet and angling of peacock bass Cichla piquiti from Itumbiara Reservoir
(upper Paraná River region) were characterized from March to November 2003
and November 2004 to October 2005. The species showed conspicuous trophic
ontogeny, since prawns, the main resource consumed by individuals smaller
than 20 cm, was changed by fish in the feeding of large peacock bass, although
it was not excluded from their diets. The consumption of these crustaceans also
showed seasonal variations, since it was more ingested during the rainy
season. Among fishes, three of the six reservoir’s most abundant species,
including members of its own species, were heavily preyed by C. piquiti at the
same time the predator avoided taxonomic categories presenting spines in their
pectoral fins or high and laterally compressed bodies. Large peacock bass
consumed fishes proportional to their lengths, but preyed mainly on small ones.
Stomach repletion index presented its high value during the dry period while
smallest condition factor was detected along the rainy season. Fishes with 25-
40 cm long (standard length) were most frequently caught by anglers in both
sampled periods. Angling was more productive during the dry period, reflecting
the high catch values reached by boat, angler and angler by hour during this
season.

Key-words: Cichla piquiti, diet, Itumbiara, Peacock bass, angling.


8

Lista de Tabelas

Tabela 1: Frequência de ocorrência (FO), Volume (V em ml) e IAi para os itens


alimentares consumidos por C. piquiti durante as fases do ciclo hidrológico.

Tabela 2: Frequência de ocorrência (FO), Volume (V em ml) e IAi para os itens


alimentares consumidos por C. piquiti nas três classes de CP analisadas.

Tabela 3: Frequência de ocorrência (FO), Volume (V em ml) e IAi para os itens


alimentares consumidos por C. piquiti nas três classes de CP analisadas e
estações do ciclo hidrológico.

Tabela 4: Espécies capturadas pela pesca experimental na região


intermediária do reservatório durante a realização do presente estudo.

Tabela 5: Dados sobre a pesca esportiva de C. piquiti na região intermediária


do reservatório de Itumbiara durante os anos de 2003 e 2004/05.

Tabela 6: Esforço de pesca sobre C. piquiti na região intermediária do


reservatório de Itumbiara dividido por períodos do ciclo hidrológico.

Tabela 7: Estudos realizados a respeito da alimentação natural dos tucunarés


Cichla spp. apontando o tipo de hábitat onde foram conduzidos.

Tabela 8: Recursos consumidos pelos tucunarés Cichla spp. nos locais onde
suas dietas já foram investigadas.
9

Lista de Figuras

Figura 1: Reservatório de Itumbiara, Rio Paranaíba, região do alto Rio Paraná,


destacando sua região intermediária.

Figura 2: Exemplar de tucunaré C. piquiti recém-capturado por


pescadores amadores no reservatório de Itumbiara.

Figura 3: Relação comprimento padrão de C. piquiti e comprimento padrão


dos peixes consumidos no reservatório de Itumbiara entre março de 2003 e
novembro de 2005.

Figura 4: Relação entre o índice de repleção estomacal (IRE) e fator de


condição de C. piquiti > 20cm no Reservatório de Itumbiara no período
compreendido entre outubro de 2004 e dezembro de 2005.

Figura 5: Espécies mais abundantes na região intermediária do Reservatório


de Itumbiara durante as temporadas de 2003 e 2004/05.

Figura 6: Distribuição do comprimento padrão (CP) e peso corporal (PC) de C.


piquiti capturados na pesca esportiva do reservatório de Itumbiara, nos dois
períodos amostrados (A e B = 2003; C e D= 2004/05).

Figura 7: Valores médios trimestrais de tempo de pesca embarcada, número


de pescadores por barco (A), quilogramas de pescado por embarcação e por
pescador (B) e quilogramas capturados por pescador/hora (C) para C. piquiti
no reservatório de Itumbiara, entre abril/03 e dezembro/05 (valores entre
parênteses representam o numero de barcos amostrados; ausência de dados
indica trimestres não amostrados).
10

Introdução

A dispersão de organismos por novos territórios é um fenômeno


zoogeográfico natural limitado não só pelas barreiras físicas, mas também pela
própria mobilidade intrínseca de cada espécie, podendo ocorrer ainda em
virtude da ação antrópica, recebendo neste caso específico, o nome de
introdução.
Sob condições naturais, as espécies encontram-se inseridas em
processos coevolutivos que envolvem parasitas, competidores e predadores
responsáveis pelo controle de suas populações, além de normalmente
exercerem predação sobre organismos detentores de mecanismos ou táticas
de defesa contra suas estratégias de forrageamento (Helfman et al., 1997).
Ainda de acordo com estes autores, quando indivíduos são introduzidos
em um novo ambiente, aspectos físicos e bióticos podem tornar as condições
inóspitas ou mesmo letais, contudo distante de seus reguladores populacionais
naturais, estes organismos podem vir a se proliferar de forma desordenada, se
estabelecendo e exercendo dominância sobre as espécies nativas.
Ao longo da história muitas espécies introduzidas se tornaram
conhecidas pestes nos novos ambientes onde se estabeleceram, como é o
caso dos coelhos e sapos na Austrália, estorninhos, pardais, mariposas e
mexilhões na América do Norte continental, furões no Havaí e cabras ferais em
Galápagos (Helfman et al., 1997).
Não é de se estranhar, portanto, que entre o grupo dos peixes também
existam espécies exóticas responsáveis por impactar negativamente
comunidades aquáticas nos locais onde foram introduzidas, seja por meio da
competição (Helfman et al., 1997; Fugi et al., 2008), transmissão de patógenos
(Hoffman & Schubert, 1984; Welcomme, 1984; Helfman et al., 1997), geração
de exemplares híbridos resultantes do cruzamento entre exemplares nativos e
aqueles introduzidos (Echelle, 1991; Helfman et al., 1997) e principalmente,
pela predação exercida sobre as possíveis espécies presas disponíveis nos
novos hábitats colonizados, conforme já detectado para Lates niloticus
(Centropomidae) (Achieng, 1990; Ogutu-Ohwayo, 1990; Kaufman, 1992),
Micropterus spp. (Centrarchidae) (Gratwicke & Marshall, 2001; MacRae &
Jackson, 2001; Jackson, 2002), Serranochromis robustus (Gratwicke &
Marshall, 2001) e Cichla spp. (Cichlidae) (Zaret & Paine, 1973; Molina et al.,
1996; Pelicice & Agostinho, 2009), dentre outras (Helfman et al., 1997).
Desta maneira, a introdução de teleósteos piscívoros tem acarretado
severas perdas de diversidade nos ambientes aquáticos continentais (Zaret &
Paine, 1973; Kaufman, 1992; Helfman et al., 1997; Lévêque, 1997; Jackson,
2002) ocasionando a homogeneização das estruturas das comunidades de
peixes, tanto em hábitats lênticos (Achieng, 1990; Godinho & Formagio, 1992;
Molina et al., 1996; Santos & Formagio, 2000; MacRae & Jackson, 2001; Latini
& Petrere-Jr., 2004; Pelicice & Agostinho, 2009) quanto em sistemas lóticos
(Gratwicke & Marshall, 2001).
Apesar dos desastrosos efeitos causados por estas introduções em
várias partes do mundo (Zaret & Paine, 1973; Kaufman, 1992; Molina et al.,
1996; Lévêque, 1997; MacRae & Jackson, 2001), esta prática tornou-se
comum e usual, tendo sido conduzida não só de forma clandestina (Zaret &
Paine, 1973; Molina et al., 1996), mas também por intermédio de órgãos
oficiais (Fontenele & Peixoto, 1979; Achieng, 1990; Santos et al., 1994; Molina
et al., 1996; Fuller et al., 1999; Jackson, 2002).
Dentre as razões que normalmente motivam a introdução destes
predadores, destacam-se o incremento da pesca esportiva (Zaret & Paine,
1973; Achieng, 1990; Lévêque, 1997; Santos et al., 2001; Jackson, 2002;
Hoeinghaus et al., 2003), o fornecimento de proteína (Zaret & Paine, 1973;
Hoeinghaus et al., 2003) e o controle de espécies forrageiras (Fontenele &
Peixoto, 1979; Nomura et al., 1982; Ogutu-Ohwayo, 1990; Santos et al., 2001),
podendo ocorrer ainda de forma passiva por meio de escapes acidentais de
tanques e fazendas de cultivo (Zaret & Paine, 1973; Súarez et al., 2001) ou
mesmo por contato entre coleções de águas distintas (Molina et al., 1996;
Williams et al., 1998).
No Brasil, os primeiros relatos referentes à soltura de peixes piscívoros
fora de suas áreas naturais de ocorrência datam da primeira metade do século
passado (Fontenele & Peixoto, 1979), quando o Departamento Nacional de
Obras Contra a Seca (DNOCS), em conjunto com o Museu Emílio Goeldi,
introduziu os tucunarés Cichla ocellaris e C. temensis (Cichlidae) em açudes do
nordeste visando o controle biológico de piranhas e pirambebas na região.
Desde então, predadores nativos dos rios da Bacia Amazônica como a corvina
(Plagioscion squamosissimus) e os tucunarés (Cichla spp.), vêm expandindo
seus territórios via introduções, se fazendo atualmente presentes em quase
todas as regiões do País (Agostinho et al., 2007; Graça & Pavanelli, 2007).
Apesar do longo período de tempo desde as primeiras introduções
oficiais, da ampla distribuição geográfica atual e do relevante número de
estudos que caracterizaram a alimentação e as preferências alimentares dos
tucunarés (Arcifa & Meschiatti, 1993; Santos et al., 1994; Durães et al., 2000;
Santos & Formagio, 2000; Santos et al., 2001; Súarez et al., 2001; Meschiatti &
Arcifa, 2002; Gomiero & Braga, 2004a, b; Fugi et al., 2008), até o presente
momento nenhum trabalho relacionou a dieta destas espécies com a
disponibilidade de presas nos novos ambientes colonizados, tampouco
caracterizaram a pesca esportiva praticada exclusivamente sobre estes
predadores.
Desta maneira, a presente investigação tem como objetivos determinar a
composição e as variações sazonais e ontogênicas da dieta de Cichla piquiti,
estimar a abundância das espécies potencialmente disponíveis como recurso
trófico e caracterizar a pesca esportiva praticada sobre a espécie na região
intermediária do reservatório de Itumbiara localizado na divisa dos Estados de
Minas Gerais e Goiás.

Materiais e Métodos

Área de Estudo

Em operação desde 1976, o reservatório de Itumbiara (fig. 1) está


localizado no rio Paranaíba, na divisa das regiões Sudeste e Centro Oeste
(18º00'-18º40' S / 48º00'-49º00' W). Possui 754 km2 de área alagada, sendo
considerado um mega reservatório segundo classificação contida em
Bernacsek (1984). Sua região intermediária atrai pescadores amadores de
diversos estados do País, abrigando uma grande quantidade de ranchos
destinados exclusivamente à pesca do tucunaré. Esta é praticada, sobretudo
de forma embarcada e guiada por piloteiros nativos da região, utilizando-se
normalmente para as capturas iscas artificiais e carretilhas.
o o o
49 00' 48 30' 48 00'

á
mb
ru
Brasil

Co
o
Ri
o
18 15'
1

2
Rio Paranaíba 3
MG +
Rio Paranaíba

o
18 30'

Ri
oA
ra
gu
Projeção UTM

ar
i
Meridiano Central 45 W Gr. Pontos de Coleta

N
1 IT 40
0 9 18 27 km
2 IT 30
3 IT 50

Figura 1: Reservatório de Itumbiara, Rio Paranaíba, região do alto Rio


Paraná, destacando sua região intermediária.

Figura 2. Exemplar do tucunaré C. piquiti recém-capturado por pescadores


amadores no reservatório de Itumbiara.
A espécie em estudo

O tucunaré azul Cichla piquiti (Fig. 2) é um predador nativo das bacias dos
rios Tocantins e Araguaia, tendo sido introduzido nos reservatórios da bacia do
Rio Paraná onde encontra-se atualmente bem estabelecido (Kullander &
Ferreira, 2006).
Classificada como C. monoculus até a recente revisão do gênero Cichla
realizada por Kullander & Ferreira (2006), esta espécie foi registrada pela
primeira vez em Itumbiara em 1980, sendo atualmente o principal alvo da
pesca esportiva realizada neste reservatório (Durães et al., 2000).

Coleta de dados

De março a novembro de 2003 e de novembro de 2004 a outubro de


2005, foram realizadas campanhas trimestrais com duração média de três dias
em dois ranchos de pesca sediados no município de Tupaciguara (MG),
responsáveis por acolher anualmente, uma parcela significativa dos turistas
atraídos à região intermediária do reservatório para a pesca do tucunaré,
oferecendo além da hospedagem tradicional, aluguel de lanchas, venda de
petrechos e guias locais altamente especializados.
Durante este período, foram investigados 217 barcos de pesca, sendo
obtido para cada um deles, o número de pescadores e o tempo de pesca (em
horas), além dos dados biométricos (CP e PC) e os estômagos de todos os
tucunarés capturados. Paralelamente foram realizadas pescarias experimentais
conduzidas pela equipe da Estação de Hidrobiologia e Piscicultura de FURNAS
com intuito de quantificar a abundância das espécies de peixes presentes na
região intermediária do reservatório, visando comparar a dieta dos tucunarés
capturados pela pesca esportiva com a disponibilidade deste recurso no
referido ambiente.
Visando coletar exemplares de pequeno porte não capturados pela
pesca esportiva, foram conduzidos arrastos marginais em enseadas
previamente selecionadas, responsáveis por abrigar grandes concentrações
destes indivíduos.
Alimentação

Os exemplares provenientes da pesca esportiva e das coletas realizadas


por meio de arrastos marginais tiveram seus estômagos coletados,
etiquetados, acondicionados em sacos plásticos, mergulhados em container
contendo solução de formol 10 % e posteriormente enviados ao laboratório do
PPG Zoologia de Vertebrados - PUCMinas, onde foi realizada a dissecação e o
exame dos itens ingeridos.

Estimativa das espécies mais abundantes da comunidade de peixes

Foram realizadas 8 campanhas trimestrais durante os meses de abril,


julho e outubro de 2003, novembro de 2004 e fevereiro, maio, agosto e
novembro de 2005, sendo amostrados em cada uma delas, três pontos
distintos localizados na região intermediária do reservatório. Para as capturas
foram utilizadas baterias de redes de emalhar com tamanhos de malha
variando de 3 a 18 cm (distância entre nós opostos) armadas no final da tarde
e retiradas na manhã seguinte, permanecendo expostas por aproximadamente
12 horas.

Pesca esportiva

No intuito de caracterizar a pesca esportiva de C. piquiti na região


intermediária do reservatório, para cada barco de pesca foram registrados o
número de pescadores, o tempo de pesca no reservatório, o comprimento (CP
em cm) e o peso (PC em g) de todos os exemplares desembarcados. Pelo fato
de cada rancho possuir entre 15 e 20 barcos, destes retornarem quase todos
no mesmo horário e da necessidade de se congelar prontamente os peixes
desembarcados em virtude das altas temperaturas locais na maior parte do
ano, nem sempre foi possível amostrar todos os barcos de um mesmo rancho
em um mesmo horário. Quando isto acontecia, amostrava-se aleatoriamente o
maior número possível de embarcações, sendo as demais descartadas.
Analise dos dados

Alimentação

Foram utilizados os métodos de freqüência de ocorrência e volumétrico,


de acordo com Hyslop (1980), obtendo-se para todos os itens consumidos, o
número de estômagos em que cada um deles se fez presente, bem como o
volume (ml) total ocupado pelos mesmos. Os resultados obtidos foram então
correlacionados de acordo com o índice alimentar (IAi) proposto por Kawakami
& Vazzoler (1980), conforme descrito pela equação:

IAi = (FOi x Vi). ∑ (FOi x Vi)-1,


i =1

onde IAi = índice alimentar; i = 1,2,... n = itens alimentares; FOi = freqüência de


ocorrência (%) e Vi = volume (%).
Visando averiguar modificações sazonais e a ocorrência de uma
eventual ontogenia trófica, os exemplares capturados foram analisados por
ciclo hidrológico (seca e chuva) e faixa etária, sendo divididos nas seguintes
classes de tamanho: >=5,7<=20 cm, >20<=30 cm e >30 cm, com base no
tamanho de primeira maturação sexual segundo Vieira (2007).
Eventuais preferências alimentares em relação a peixes foram
determinadas comparando-se os valores do IAi com a abundância das
espécies mais representativas na região intermediária do reservatório.
Diferenças relacionadas à ontogenia e sazonalidade foram verificadas
utilizando-se um teste qui-quadrado (L x C) para um nível de significância de
0,05.
O Índice de Repleção Estomacal (IRE) foi obtido dividindo-se o peso
médio dos estômagos pelo peso médio dos exemplares capturados, enquanto
o Fator de Condição (K) foi calculado através da equação:

K = PC/CPb,
onde b = parâmetro relacionado com o tipo de crescimento do peixe.
Estimativa das espécies mais abundantes da comunidade de peixes

A abundância da ictiofauna foi estimada através da captura por unidade


de esforço (CPUE), definida como o somatório do número (CPUEn) de peixes
em 100 m2 de redes empregadas por 12 horas, sendo obtida da seguinte
forma:
n
CPUEn = ∑ N / E x 100,
i =1

onde CPUEn = captura em número por unidade de esforço (100 m2 de rede), N


= nº de peixes capturados para um determinado tamanho de malha, n =
tamanhos de malha empregados e E = esforço de pesca para um dado
tamanho de malha (área de rede empregada) durante o tempo de exposição.
Todos os exemplares capturados foram identificados de acordo com
Graça & Pavanelli (2007) e Oyakawa & Mattox (2009).

Pesca esportiva

A caracterização da pesca esportiva de C. piquiti foi realizada por


temporada de coleta (2003 e 2004/05) e fases do ciclo hidrológico obtendo-se o
tempo de pescaria, número de pescadores e o peso total capturado pelas
embarcações que retornavam aos ranchos investigados após a jornada de
pesca.
As análises foram efetuadas no Laboratório de Ictiologia do Programa de
Pós Graduação em Zoologia de Vertebrados da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC-MINAS), através do software Statistica,
também utilizado para a confecção dos gráficos do presente estudo.

Resultados

Alimentação

Foram capturados um total de 1.467 exemplares de C. piquiti, sendo 733


durante a estação chuvosa e 734 ao longo do período seco. Destes, 883
indivíduos (60,2%) de CP variando entre 5,7 e 55,5 cm apresentaram algum
tipo de conteúdo em seus estômagos. Ao longo do período de estudo a espécie
apresentou hábitos estritamente carnívoros, uma vez que peixes e camarões
foram os principais recursos consumidos, sendo encontrados ainda em
quantidades residuais insetos e matéria vegetal. Entre os 1.132 itens ingeridos,
259 (22,88%) foram agrupados como Teleósteos não identificados em virtude
do adiantado estado de digestão no qual se encontravam no interior dos
estômagos.
A dieta se mostrou influenciada pelas fases do ciclo hidrológico (Qui-
quadrado = 153,5; GL = 3; p<0,001), uma vez que o camarão Macrobrachium
sp. (Palaemonidae) foi o principal recurso utilizado durante a estação chuvosa
(IAi= 0,64), sendo substituído (IAi = 0,08) por peixes (IAi = 0,91) durante o
período seco.
A espécie apresentou ainda uma significativa ontogenia trófica entre as
classes de CP testadas (Qui-quadrado = 451,4; GL = 6; p<0,001) sendo
Macrobrachium sp. o mais importante recurso consumido por exemplares ≤20
cm (IAi = 0,98). Este item (IAi = 0,12 e 0,07) foi paulatinamente substituído por
peixes (IAi = 0,86 e 0,92) nas duas classes de tamanho que englobam
indivíduos de maior porte, não sendo contudo definitivamente excluído da dieta
(Tab. 2).
Complementando os resultados acima, o consumo deste crustáceo por
indivíduos >20 cm também apresentou caráter sazonal, sendo
consideravelmente mais ingerido durante a estação chuvosa (IAi = 0,37 e 0,18),
época em que o consumo total de teleósteos (IAi = 0,61 e 0,8) foi
proporcionalmente inferior ao período seco (IAi = 0,94 para ambas classes
etárias) (Qui-quadrado = 528,9; GL = 15; p<0,001) (Tab. 3).
Teleósteos não identificados foi o item mais encontrado nos estômagos
destes exemplares, sendo também consumidas pelo menos 12 categorias
taxonômicas identificadas ao nível de espécie. Dentre estas, merecem
destaque em função da representatividade dos valores do IAi, Satanoperca
pappaterra (Cichlidae), Astyanax altiparanae (Characidae) e C. piquiti
(Cichlidae); evidenciando assim a prática do canibalismo pela espécie.
Os exemplares examinados não ingeriram necessariamente presas
proporcionais aos seus tamanhos, consumindo principalmente indivíduos de
pequeno porte (r = 0,20) (Fig. 3).
Tabela 1. Frequência de ocorrência (FO), Volume (V em ml) e IAi para os itens
alimentares consumidos por C. piquiti durante as fases do ciclo hidrológico.
Seca Chuva
Itens Sub-itens
FO V Iai FO V Iai
Peixes 351 4098,7 0,91 203 822,3 0,35
Cichlidae
Satanoperca pappaterra 57 1088,4 0,24 11 81,9 0,01
Cichla piquiti 38 737,4 0,11 13 44,8 0,01
Cichlasoma paranaense 5 151 <0,01 2 24 <0,01
Cichlidae NI 24 158 0,01 15 43,8 0,01
Characidae
Astyanax altiparanae 53 523,9 0,11 15 112,5 0,02
Astyanax fasciatus 2 20,5 <0,01 2 4 <0,01
Serrasalmus maculatus - - - 1 0,2 <0,01
Metynnis lippincottianus - - - 1 14 <0,01
Characidae NI 5 40 <0,01 3 7,7 <0,01
Erithrynidae
Hoplias spp. 5 54,5 <0,01 2 55 <0,01
Curimatidae - - - 1 28 <0,01
Steindachnerina insculpta - - - 1 28 <0,01
Symbranchidae
Symbranchus marmoratus 6 49,2 <0,01 8 42,5 <0,01
Pimelodidae
Pimelodidae NI 3 42 <0,01 2 29 <0,01
Auchenipteridae
Tatia neivai 2 8,5 <0,01 - - -
Callicthyidae
Hoplosternum littorale 2 60 <0,01 2 63,5 <0,01
Gymnotidae
Gymnotus carapo 10 260 0,01 5 39,5 <0,01
Siluriformes NI 2 110 <0,01 - - -
Teleósteos NI 137 795,3 0,43 120 231,9 0,3

Crustáceos 117 164,5 0,08 354 167,67 0,64


Macrobrachium sp. 117 164,5 0,08 352 167,6 0,64
Cladocera - - - 2 0,07 <0,01

Insetos aquáticos 27 1,9 <0,01 23 2,09 <0,01


Larva Odonata 4 0,22 <0,01 2 0,3 <0,01
Hymenoptera 1 1 <0,01 - - -
Hemiptera - - - 1 0,01 <0,01
Larva Diptera 6 0,05 <0,01 - - -
Ephemeroptera 10 0,24 <0,01 6 0,12 <0,01

Material vegetal 13 4,6 <0,01 13 24,74 <0,01

# estômagos 386 497


NI = Não identificado
Tabela 2. Frequência de ocorrência (FO), Volume (V em ml) e IAi para os itens alimentares consumidos
por C. piquiti nas três classes de CP analisadas.
>=5,7<=20 cm >20<=30 cm >30 cm
Itens Sub-itens
FO V Iai FO V Iai FO V Iai
Peixes 40 15,61 0,01 206 1345,8 0,86 317 3559,6 0,92
Cichlidae
Satanoperca pappaterra 2 1,2 <0,01 32 345 0,17 34 824,1 0,16
Cichla piquiti - - - 20 178,4 0,06 30 603,8 0,11
Cichlasoma paranaense - - - 3 25 <0,01 4 150 <0,01
Cichlidae NI - - - 14 66 0,01 19 133,5 0,02
Characidae
Astyanax altiparanae - - - 21 156 0,05 47 480,4 0,13
Astyanax fasciatus - - - 2 8,5 <0,01 2 16 <0,01
Serrasalmus maculatus - - - 1 0,2 <0,01 - - -
Metynnis lippincottianus - - - - - - 1 14 <0,01
Characidae NI 2 0,7 <0,01 3 21 <0,01 3 26 <0,01
Erithrynidae
Hoplias sp. - - - 2 13,5 <0,01 5 96 <0,01
Curimatidae - - - - - - 1 28 <0,01
Steindachnerina insculpta - - - - - - 1 28 <0,01
Symbranchidae
Symbranchus marmoratus - - - 7 33,2 <0,01 7 58,5 <0,01
Pimelodidae 6 2,3 <0,01 1 25 <0,01 4 46 <0,01
Pimelodidae NI 6 2,3 <0,01 1 25 <0,01 4 46 <0,01
Auchenipteridae - - - - - - 2 8,5 <0,01
Tatia neivai - - - - - - 2 8,5 <0,01
Callicthyidae - - - 1 40 <0,01 3 83,5 <0,01
Hoplosternum littorale - - - 1 40 <0,01 3 83,5 <0,01
Siluriformes NI - - - - - - 2 110 <0,01
Gymnotidae - - - 4 51 <0,01 11 248,5 0,02
Gymnotus carapo - - - 4 51 <0,01 11 248,5 0,02
Teleósteos NI 30 11,41 0,01 95 383 0,57 132 632,8 0,48

Crustáceos 315 79,79 0,98 75 97,4 0,12 81 155 0,07


Macrobrachium sp. 313 79,72 0,98 75 97,4 0,12 81 155 0,07
Cladocera 2 0,07 <0,01 - - - - - -

Insetos aquáticos 26 0,74 <0,01 1 1 <0,01 <0,01


Larva Odonata 4 0,33 <0,01 - - - 1 0,2 <0,01
Hymenoptera - - - - - - 1 2 <0,01
Hemiptera - - <0,01 1 1 <0,01 - - -
Larva Diptera 6 0,05 <0,01 - - - 1 0,01 <0,01
Ephemeroptera 16 0,36 <0,01 - - - - - -

Material vegetal 3 0,04 <0,01 10 23,3 <0,01 13 6 <0,01

# estômagos 362 212 309


NI = Não identificado.
Tabela 3. Frequência de ocorrência (FO), Volume (V em ml) e IAi para os itens alimentares consumidos por C. piquiti nas três classes de CP analisadas
e estações do ciclo hidrológico.
>=5,7<=20 cm >20<=30 cm >30<=55,5 cm
Itens Sub-itens Seca Chuva Seca Chuva Seca Chuva
FO V Iai FO V Iai FO V Iai FO V Iai FO V Iai FO V Iai
Peixes 7 3,7 0,01 33 11,91 0,01 146 1115 0,94 62 216,8 0,61 199 2966,01 0,94 113 604,7 0,8
Cichlidae
Satanoperca pappaterra 1 1 <0,01 1 0,2 <0,01 24 276,3 0,19 8 68,7 0,11 32 811,1 0,28 2 13 <0,01
Cichla piquiti - - - - - - 17 169,2 0,08 3 9,2 <0,01 20 568,2 0,12 9 35,1 0,02
Cichlasoma paranaense - - - - - - 1 5,5 <0,01 1 2 <0,01 3 128 <0,01 1 22 <0,01
Cichlidae NI - - - - - - 11 50,5 0,02 3 15,5 0,01 13 107,51 0,02 6 26 0,01
Characidae
Astyanax altiparanae - - - - - - 22 132 0,08 3 24 0,02 35 391,9 0,15 14 96,8 0,08
Astyanax fasciatus - - - - - - - - - 1 3 <0,01 1 15 <0,01 1 1 <0,01
Serrasalmus maculatus - - - - - - - - - 1 0,2 <0,01 - - - - - -
Metynnis lippincottianus - - - - - - - - - - - - - - - 1 14 <0,01
Characidae NI - - - 2 0,7 <0,01 2 3,2 <0,01 1 7 <0,01 3 26 <0,01 - - -
Erithrynidae
Hoplias sp. - - - - - - 2 13,5 <0,01 - - - 3 41 <0,01 2 55 0,01
Curimatidae
Steindachnerina insculpta - - - - - - - - - - - - - - - 1 28 <0,01
Symbranchidae
Symbranchus marmoratus - - - - - - 2 23 <0,01 5 30 0,03 4 46 <0,01 3 12,5 <0,01
Pimelodidae
Pimelodidae NI - - - 6 2,3 <0,01 1 25 <0,01 - - - 2 17 <0,01 2 29 <0,01
Auchenipteridae
Tatia neivai - - - - - - - - - - - 2 8,5 <0,01 - - -
Callicthyidae
Hoplosternum littorale - - - - - - 1 40 <0,01 - - - 1 20 <0,01 2 63,5 0,01
Gymnotidae
Gymnotus carapo - - - - - - 4 51 0,01 - - - 6 209 0,01 5 39,5 0,01
Siluriformes NI - - - - - - - - - - - - 2 110 <0,01 - - -
Teleósteos NI 6 2,7 0,01 24 8,71 0,01 59 325,8 0,56 36 57,2 0,43 72 466,8 0,36 62 169,3 0,66
Continua...
...Continuação
>=5,7<=20 cm >20<=30 cm >30<=55,5 cm
Itens Sub-itens Seca Chuva Seca Chuva Seca Chuva
FO V Iai FO V Iai FO V Iai FO V Iai FO V Iai FO V Iai
Crustáceos 40 26,79 0,98 275 53 0,98 36 52 0,05 39 45,4 0,37 42 85,8 0,04 42 69 0,18
Macrobrachium sp. 40 26,79 0,98 273 52,93 0,98 36 52 0,05 39 45,4 0,37 42 85,8 0,04 42 69 0,18
Cladocera - - - 2 0,07 <0,01 - - - - - - - - - - - -

Insetos aquáticos 26 0,73 <0,01 33 1,31 <0,01 2 14 <0,01 2 1,1 <0,01 4 1,29 <0,01 3 1,31 <0,01
Larva Odonata 2 0,02 <0,01 2 0,3 <0,01 - - - - - - 2 0,2 <0,01 - - -
Hymenoptera - - - - - - 2 14 <0,01 - - - 1 1 <0,01 1 1 <0,01
Hemiptera - - - 1 0,01 <0,01 - - - - - - - - - - - -
Larva Diptera 6 0,05 <0,01 - - - - - - - - - - - - 1 0,01 <0,01
Ephemeroptera 10 0,24 <0,01 6 0,12 <0,01 - - - - - - - - - - - -

Material vegetal - - - 3 0,05 <0,01 5 1 <0,01 5 22,3 0,02 8 3,6 <0,01 5 2,4 <0,01

# estômagos 55 307 144 68 188 121


NI = Não identificado
.
35
CPPresa = 2,78 + 0,14 x CPPredador
30
r = 0,20

25
CP Presa (cm)

20

15

10

0
10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
CP Predador (cm)

Figura 3. Relação comprimento padrão de C. piquiti e comprimento


padrão dos peixes consumidos no reservatório de Itumbiara entre
março de 2003 e novembro de 2005.

3.50 2.60
>20cm IRE
K
3.00 2.40

2.50 2.20
IRE [(PE/PC)*100]

2.00 2.00
K

1.50 1.80

1.00
1.60

0.50
1.40

0.00
1.20
OND_04 JFM_05 AMJ_05 JAS_05 OND_05
Trimestres

Figura 4. Relação entre o índice de repleção estomacal (IRE) e fator de


condição (K) de C. piquiti > 20cm no Reservatório de Itumbiara no
período compreendido entre outubro de 2004 e dezembro de 2005.
O índice de repleção estomacal dos exemplares maiores que 20 cm
atingiu seu ápice no período compreendido entre abril e junho de 2005 (IRE =
1,9), declinando gradualmente durante a estação seca até atingir seu menor
valor no início do período chuvoso (IRE = 1). Por outro lado, o fator de condição
destes indivíduos sofreu uma gradativa queda ao longo do período chuvoso (K
= 1,90), sendo parcialmente recuperado durante a estação seca (K = 1,95) para
novamente declinar na primavera e início do verão de 2005 (K = 1,85) (Fig. 4).

Estimativa das espécies mais abundantes da comunidade de peixes

Foram capturadas por meio da pesca experimental 44 espécies


distribuídas em 15 Famílias pertencentes a 5 Ordens, sendo 21 Characiformes,
16 Siluriformes, 2 Gymnotiformes, 1 Cypriniforme e 4 Perciformes (Tabela 4).
Dentre as espécies mais capturadas pela pesca experimental nos 8
trimestres amostrados, destacam-se A. altiparanae, S. pappaterra, M.
lippincottianus, S. maculatus, C. piquiti e P. maculatus, sendo esta última a
mais abundante em todas as campanhas exceto JAS/05 (Fig. 5).

Tabela 4. Espécies capturadas pela pesca experimental na região intermediária do reservatório durante a
realização do presente estudo.
Ordem Família Espécie Nome Vulgar
Characiformes
Anostomidae Leporinus elongatus (Valenciennes, 1850) Piapara***
Leporinus friderici (Bloch,1794) Piau-três-pintas
Leporinus lacustris (Campos, 1945) Piau de lagoa
Leporinus macrocephalus (Garavello & Britski, 1988) Piaussu
Leporinus obtusidens (Valenciennes, 1836) Piau***
Leporinus octofasciatus (Steindachner, 1915) Ferreirinha
Schizodon nasutus (Kner, 1858) Campineiro
Characidae
Astyanax altiparanae (Garutti & Britski, 2000) Lambari do rabo amarelo
Astyanax aff. fasciatus (Cuvier, 1829) Lambari do rabo vermelho
Galeocharax knerii (Steindachner, 1879) Cigarra
Metynnis lippincottianus (Cope, 1870) Pacu-prata
Moenkhausia aff. intermedia (Eigenmann, 1908) Lambari
Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816) Dourado***
Serrasalmus maculatus (Kner, 1858) Pirambeba
Triportheus angulatus (Spix & Agassiz, 1829) Sardinha chata**
Triportheus nematurus (Kner, 1858) Sardinha
Curimatidae
Steindachnerina corumbae (Pavanelli & Britski, 1999) Saguiru**
Steindachnerina insculpta (Fernandez-Yepez, 1948) Sagüiru
Continua...
...Continuação
Ordem Família Espécie Nome Vulgar
Erythrinidae
Hoplias intermedius Trairão
Hoplias cf. malabaricus Traíra
Prochilodontidae
Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) Curimbatá***
Siluriformes
Auchenipteridae
Ageneiosus militaris (Valenciennes, 1836) Manduvê
Trachelyopterus sp. Cangati
Callichthyidae
Hoplosternum littorale (Hancock, 1828) Tamboatá
Doradidae
Rhinodoras dorbignyi (Kner, 1855) Abotoado
Hepapteridae
Pimelodella sp. Mandi
Loricariidae
Hypostomus margaritifer (Regan, 1908) Cascudo
Hypostomus regani (Ihering, 1905) Cascudo
Megalancistrus parananus (Peters, 1881) Cascudo abacaxi
Pimelodidae
Pimelodus blochii (Valenciennes, 1840) Mandí**
Pimelodus heraldoi (Azpelicueta, 2001) Mandí
Pimelodus maculatus (La Cepède, 1803) Mandí-amarelo***
Pimelodus paranaensis (Britski & Langeani, 1988) Mandí**
Pinirampus pirinampu (Agassiz, 1829) Barbado***
Pseudoplatystoma coruscans (Spix & Agassiz, 1829) Pintado***
Sorubim lima (Bloch & Schneider, 1801) Bico de pato***
Zungaro zungaro (Humboldt, 1821) Jaú*** ****
Gymnotiformes
Gymnotidae
Gymnotus carapo (Linnaeus, 1758) Tuvira**
Sternopygidae
Eigenmannia virescens (Valenciennes, 1836) Sarapó
Cypriniformes
Cyprinidae
Cyprinus carpio (Linnaeus, 1758) Carpa
Perciformes
Cichlidae
Cichla piquiti (Kullander & Ferreira, 2006) Tucunaré*
Cichlasoma paranaensis (Kullander,1983) Acará
Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) Tilápia do Nilo*
Satanoperca pappaterra (Heckel, 1840) Acará
* Espécie exótica a região do alto Rio Paraná;
** Espécie não relacionada em Graça & Pavanelli (2007);
*** Espécie considerada grande migradora segundo Graça & Pavanelli (2007);
**** Espécie presente na Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Sobreexplotadas ou
Ameaçadas de Sobreexplotação (MMA, 2004).
600
A. altiparanae
C. piquiti
M. lippincottianus
500
S. maculatus
S. papaterra
P. maculatus
CPUEn (no. peixes/100m2)

400

300

200

100

0
AMJ_03 OND_03 AMJ_04 OND_04 AMJ_05 OND_05

Trimestres

Figura 5. Espécies mais abundantes na região intermediária do


Reservatório de Itumbiara durante as temporadas de 2003 e 2004/05.

Pesca esportiva

Durante o ano de 2003 foram capturados pela pesca esportiva 576


exemplares de C. piquiti com CP e PC variando entre 12 e 55,5 cm e 58 e 3700
g respectivamente (Fig. 6 A e B), ao passo que ao longo de 2004/05, 443
exemplares apresentando CP compreendido entre 17,5 e 55,5 cm e PC
variando entre 175 e 3750 g foram desembarcados (Fig. 6 C e D). Durante as
duas temporadas investigadas registrou-se maiores capturas para indivíduos
variando entre 25 e 40 cm e 500 e 1500 gramas.
Ao longo do período de estudo foram amostradas 217 embarcações,
sendo 91 durante o ano de 2003 e 126 ao longo de 2004/05 (Tabela 5). A
primeira temporada registrou maiores capturas por barco, e em menor
proporção, por pescador/dia e pescador/hora.
Em relação à sazonalidade, 104 embarcações foram analisadas ao
longo do período chuvoso ao passo que 113 foram investigadas durante a
estação seca (tabela 6), época em que foram registradas maiores capturas por
barco, por pescador/dia e hora de pesca.
240 350
A B
200 300

250
160
200
120
f

f
150
80
100

40 50

0 0
10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
CP (cm) PC (g)

240 350
C D
200 300

250
160
200
120
f
f

150
80
100
40
50

0 0
10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
CP (cm) PC (g)

Figura 6. Distribuição do comprimento padrão (CP) e peso corporal (PC) de C. piquiti


capturados na pesca esportiva do reservatório de Itumbiara, nos dois períodos
amostrados (A e B = 2003; C e D= 2004/05).

Tabela 5. Dados sobre a pesca esportiva de C. piquiti na região intermediária


do reservatório de Itumbiara durante os anos de 2003 e 2004/05.
2003 (N=91) 2004/05 (N=126)
Esforço
Total Média DP Total Média DP
Tempo de pesca (horas) 562 6,18 2,7 629 5 1,7
Pescadores por barco 266 2,92 0,4 375 3 0,56
Kg/barco/dia 486,97 5,35 4,37 444,09 3,5 2,45
Kg/pescador/dia 168,22 1,85 1,49 154,8 1,23 0,89
Kg/pescador/hora 29,84 0,33 0,29 35,94 0,29 0,28

Tabela 6. Esforço de pesca sobre C. piquiti na região intermediária do


reservatório de Itumbiara dividido por períodos do ciclo hidrológico.
Seco (N=113) Chuvoso (N=104)
Esforço
Total Média DP Total Média DP
Tempo de pesca (horas) 635 5,6 2,6 556 5,4 1,8
Pescadores por barco 341 3 0,5 300 2,9 0,5
Kg/barco/dia 542,46 4,76 3,98 388,6 3,77 2,81
Kg/pescador/dia 187,5 1,64 1,39 135,52 1,32 0,97
Kg/pescador/hora 39,15 0,34 0,34 26,64 0,26 0,19
Em média 3 pescadores compartilham a mesma embarcação
independentemente da estação do ano ou fase do ciclo hidrológico. Estes
permaneceram embarcados em média 4 horas durante os meses de abril, maio
e junho durante as duas temporadas investigadas, contudo durante os meses
de julho, agosto e setembro o tempo médio de pesca diminuiu
aproximadamente 3,5 horas de 2003 em relação à 2004/05. Durante os meses
de outubro, novembro e dezembro de ambas as temporadas, o tempo médio
embarcado permaneceu próximo de 5 horas, ao passo que durante janeiro,
fevereiro e março de 2005 foram dedicadas em média, 7 horas a pesca do
tucunaré (figura 7 a).
Quanto à média de peso capturado por embarcação, houve uma
redução de aproximadamente 4 kg da primeira temporada em relação a
segunda no que diz respeito aos meses de abril, maio e junho, julho, agosto e
setembro. Já para os meses de outubro, novembro e dezembro, notou-se um
pequeno aumento da segunda temporada em relação a primeira, sendo a
menor quantidade embarcada registrada durante os meses de janeiro, fevereiro
e março de 2005, quando foram capturados aproximadamente 3 kg por barco.
Em relação ao peso médio capturado por pescador, foi detectado uma
redução de aproximadamente 1 kg da primeira em relação a segunda
temporada nos meses de abril, maio e junho assim como para o trimestre
compreendido por julho, agosto e setembro. Não foram detectadas diferenças
significativas para janeiro, fevereiro e março de 2005, bem como para outubro,
novembro e dezembro das duas temporadas amostradas, uma vez que o peso
médio capturado foi de aproximadamente 1,2 kg (figura 7 b).
No que diz respeito ao peso médio capturado por pescador/hora,
durante os meses de abril, maio e junho de 2003 foi detectado um ganho
superior a 100g em relação ao mesmo período da segunda temporada, não
sendo detectadas diferenças significativas entre os demais trimestres
amostrados (Figura 7 c).
12 4

No. médio de pescadores/barco


A
Tempo médio de pesca (h) 10
3
8

6 2

4
1
2 Tempo médio de pesca (h)
No. médio de pescadores/barco

0 0
AMJ_03 OND_03 AMJ_04 OND_04 AMJ_05 OND_05

Trimestres

14 14
B
Kg/barco (media)
12 Kg/pescador (media)
12

Média Kg/pescador
10 10
Média Kg/barco

8 8

6 6

4 4

2 2

0 0
AMJ_03 OND_03 AMJ_04 OND_04 AMJ_05 OND_05

Trimestres

1.4
C
1.2
Média kg/pescador/hora

(23)
1.0 (26)
0.8

0.6 (27) (41) (41) (15)


(38) (06)
0.4

0.2

0.0

AMJ_03 OND_03 AMJ_04 OND_04 AMJ_05 OND_05

Trimestres
Figura 7. Valores médios trimestrais de tempo de pesca embarcada, número
de pescadores por barco (A), quilogramas de pescado por embarcação e por
pescador (B) e quilogramas capturados por pescador/hora (C) para C. piquiti
no reservatório de Itumbiara, entre abril/03 e dezembro/05 (valores entre
parênteses representam o numero de barcos amostrados; ausência de dados
indica trimestres não amostrados).
Discussão

Apesar do número significativo de estudos realizados a respeito da


alimentação natural das espécies inseridas no gênero Cichla, poucos foram
aqueles que caracterizaram a dieta destes peixes em seus hábitats originais,
sendo a maioria dos trabalhos conduzidos nos novos ambientes onde estas
espécies foram introduzidas (Tabela 7).
Dentre as investigações que descreveram os itens consumidos por
tucunarés dentro de seus hábitats naturais de ocorrência, merecem destaque
aquelas realizadas por Riofrío et al. (2000) na Amazônia peruana e Rabelo &
Araújo-Lima (2002) em lagoas de várzea da Amazônia central em virtude de
serem os únicos a apontar o consumo de camarões na dieta destes peixes.
Apesar do poucos registros e do fato de alguns autores classificarem os
tucunarés estritamente como piscívoros (Zaret & Paine, 1973; Winemiller et al.,
1997; Súarez et al., 2001; Hoeinghaus et al., 2003), algumas espécies utilizam
estes crustáceos como parte importante de suas dietas, consumindo-os tanto
nos seus hábitats naturais como naqueles onde foram introduzidas (tabela 8).
Contribuindo de forma considerável ou mesmo atuando como o principal
item da dieta dos exemplares de menor porte (Zaret, 1980; Rabelo & Araújo-
Lima, 2002), este recurso geralmente é consumido de forma sazonal (Santos et
al., 2001; Rabelo & Araújo-Lima, 2002) sendo normalmente substituído por
peixes na alimentação dos indivíduos de maior magnitude (Zaret, 1980; Rabelo
& Araújo-Lima, 2002), conforme também detectado no presente estudo,
embora camarões não tenham sido excluídos por completo da dieta dos
exemplares maiores que 20 cm.
Apesar de consumido por todas as faixas etárias investigadas, os
valores de IAi para Macrobrachium sp. foram gradativamente reduzidos à
medida em que peixes foram adquirindo importância na dieta dos indivíduos
pertencentes às duas maiores classes de tamanho analisadas. Este item
tornou-se o recurso mais consumido, representando 88,2% do volume total
ingerido por estes exemplares, caracterizando desta maneira uma acentuada
ontogenia trófica já reportada para a dieta de outros tucunarés (Zaret, 1980;
Jepsen et al., 1997; Durães et al., 2000; Rabelo & Araújo Lima, 2002;
Meschiatti & Arcifa, 2002; Novaes et al., 2004).
Tabela 7. Estudos realizados a respeito da alimentação natural dos tucunarés Cichla spp. apontando o
tipo de hábitat onde foram conduzidos.
Natureza
Local do hábitat Fonte
I N
Açudes do nordeste brasileiro * Fontenele & Peixoto (1979)
Canais artificiais da Flórida, EUA * Shafland (1999b)
Complexo lagunar Nízia Floresta (RN) * Molina et al. (1996)
Departamento de Ucayali, Peru * Riofrío et al. (2000)
Estado da Flórida, EUA * Fuller et al. (1999)
Lago Calado (AM) * Knöppel (1970)
Lago Gatun, Panamá * Schroder & Zaret (1979)
Lago Gatun, Panamá * Zaret (1977)
Lago Gatun, Panamá * Zaret (1980)
Lago Gatun, Panamá * Zaret & Paine (1973)
Lagoas de várzea Camboa, Rei e Januacá (AM) * Rabelo & Araújo-Lima (2002)
Planície de inundação do alto Rio Paraná * Hahn et al. (1997)
Reservatório de Corumbá, Rio Corumbá (GO) * Fugi et al. (2008)
Reservatório de Itumbiara, Rio Paranaíba (MG/GO) * Durães et al. (2000)
Reservatório de Itumbiara, Rio Paranaíba (MG/GO) * Presente estudo
Reservatório de Lajes, Rio Piraí (RJ) * Dias et al. (2005)
Reservatório de Lajes, Rio Piraí (RJ) * Santos et al. (2001)
Reservatório de Serra da Mesa, Rio Tocantins (GO) * Novaes et al. (2004)
Reservatório de Volta Grande, Rio Grande (MG/SP) * Gomiero & Braga (2004a, b)
Reservatório Guri, Venezuela * Williams et al. (1998)
Reservatório Monte Alegre, Ribeirão Laureano (SP) * Arcifa & Meschiatti (1993)
Reservatório Monte Alegre, Ribeirão Laureano (SP) * Meschiatti & Arcifa (2002)
Reservatório UHE Rosana, Rio Paranapanema (PR/SP) * Pelicice & Agostinho (2009)
Reservatórios de Maribondo e Itumbiara, região do alto Rio Paraná * Santos et al. (1994)
Rio Cinaruco, Venezuela * Hoeinghaus et al. (2003)
Rio Cinaruco, Venezuela * Hoeinghaus et al. (2006)
Rio Cinaruco, Venezuela * Jepsen et al. (1997)
Rio Cinaruco, Venezuela * Winemiller et al. (1997)
Rio Machado, Brasil * Goulding (1980)
Rios Piquiri, Correntes e Itiquira, Pantanal, Brasil * Súarez et al. (2001)
N = Nativo;
I = Introduzido.

Levando-se em consideração que as fases do ciclo hidrológico


influenciam diretamente a oferta de alimentos e os eventos fisiológicos
relacionados à alimentação dos peixes (Rabelo & Araújo-Lima 2002), a
contínua ingestão de camarões por parte destes indivíduos poderia ser
interpretada como uma alternativa à uma possível menor concentração de
teleósteos durante a estação chuvosa, época em que a densidade deste
recurso diminui em função do aumento do volume e nível das águas (Lowe-
McConnell, 1964; Prejs & Prejs, 1987), tornando teoricamente sua obtenção
mais dispendiosa do ponto de vista energético.
Tabela 8. Recursos consumidos pelos tucunarés Cichla spp. nos locais onde suas dietas já foram investigadas.
Espécie Local Dieta Fonte
Cichla ocellaris Açude Arrojado Lisboa (CE) Peixes e camarões Fontenele & Peixoto (1979)
Cichla ocellaris Açude Ayres de Souza (CE) Peixes e camarões Fontenele & Peixoto (1979)
Cichla ocellaris Açude Cocorobó (BA) Peixes e camarões Fontenele & Peixoto (1979)
Cichla ocellaris Açude Cruzeta (RN) Peixes e camarões Fontenele & Peixoto (1979)
Cichla ocellaris Açude Estevam Marinho (PB) Peixes e camarões Fontenele & Peixoto (1979)
Cichla ocellaris Açude Lima Campos (CE) Peixes e camarões Fontenele & Peixoto (1979)
Cichla ocellaris Açude São Goncalo (PB) Peixes e camarões Fontenele & Peixoto (1979)
Cichla ocellaris Canais artificiais (FL), EUA Peixes, crustáceos (principalmente camarões), ovos de peixes e itens não insetos Shafland (1999a, b)
Cichla ocellaris Planície de inundação do alto Rio Paraná Peixes e outros itens não descriminados Hahn et al. (1997)
Cichla monoculus Departamento de Ucayali, Peru Peixes, Macrobrachium spp. e restos vegetais Riofrío et al. (2000)
Cichla ocellaris Estado da Flórida, EUA Peixes Fuller et al. (1999)
Cichla ocellaris Lago Calado (AM) Peixes Knöppel (1970)
Cichla ocellaris Lago Gatun, Panamá Larvas e alevinos de Cichla ocellaris Schroder & Zaret (1979)
Cichla ocellaris Lago Gatun, Panamá Peixes Zaret & Paine (1973)
Cichla ocellaris Lago Gatun, Panamá Crustáceos (incluindo camarões), insetos e peixes Zaret (1980)
Cichla ocellaris Lago Gatun, Panamá Peixes Zaret (1977)
Cichla monoculus Lagoas de várzea Camboa, Rei e Januacá (AM) Peixes e crustáceos (principalmente camarões) Rabelo & Araújo-Lima (2002)
Cichla ocellaris Lagoas Redonda, Boa Água, Ferreira e Bonfim (RN) Peixes Molina et al. (1996)
Cichla kelberi Reservatório de Corumbá (GO) Peixes Fugi et al. (2008)
Cichla monoculus Reservatório de Itumbiara (MG/GO) Zooplancton, Peixes e insetos Durães et al. (2000)
Cichla ocellaris Reservatório de Itumbiara (MG/GO) Peixes, microcrustáceos e larvas de insetos aquáticos Santos et al. (1994)
Cichla piquiti Reservatório de Itumbiara (MG/GO) Peixes, crustáceos (principalmente Macrobrachium spp.), insetos aquáticos e material vegetal Presente estudo
Cichla ocellaris Reservatório de Marimbondo (MG/SP) Peixes, microcrustáceos e larvas de insetos aquáticos Santos et al. (1994)
Cichla monoculus Reservatório de Serra da Mesa (GO) Peixes, material vegetal e insetos Novaes et al. (2004)
Cichla cf. ocellaris Reservatório de Volta Grande (MG/SP) Peixes Gomiero & Braga (2004b)
Cichla monoculus Reservatório de Volta Grande (MG/SP) Peixes Gomiero & Braga (2004b)
Cichla cf. ocellaris Reservatório de Volta Grande (MG/SP) Peixes, crustáceos e insetos Gomiero & Braga (2004a)
Cichla monoculus Reservatório de Volta Grande (MG/SP) Peixes, crustáceos e insetos Gomiero & Braga (2004a)
Cichla orinocensis Reservatório Guri, Venezuela Peixes, girinos e crustáceos Williams et al. (1998)
Cichla temensis Reservatório Guri, Venezuela Peixes, crustáceos e plantas Williams et al. (1998)
Continua...
....Continuação
Espécie Local Dieta Fonte
Cichla ocellaris Reservatório Monte Alegre (SP) Insetos aquáticos, zooplancton e peixes Arcifa & Meschiatti (1993)
Cichla ocellaris Reservatório Monte Alegre (SP) Insetos aquáticos e peixes Meschiatti & Arcifa (2002)
Cichla kelberi Reservatório UHE Rosana (PR/SP) Peixes Pelicice & Agostinho (2009)
Cichla monoculus Reservatório de Lajes (RJ) Peixes, Macrobrachium sp., insetos aquáticos e resíduos orgânicos Santos et al. (2001)
Cichla monoculus Reservatório de Lajes (RJ) Peixe Dias et al. (2005)
Cichla ocellaris Rio Boa Cica, Brasil Peixes e camarões Molina et al. (1996)
Cichla intermedia Rio Cinaruco, Venezuela Macrocrustáceos, insetos, peixes e outros itens não discriminados Jepsen et al. (1997)
Cichla intermedia Rio Cinaruco, Venezuela Peixes Winemiller et al. (1997)
Cichla orinocensis Rio Cinaruco, Venezuela Peixes Winemiller et al. (1997)
Cichla orinocensis Rio Cinaruco, Venezuela Zooplancton, insetos, peixes e outros itens não discriminados Jepsen et al. (1997)
Cichla temensis Rio Cinaruco, Venezuela Peixes Hoeinghaus et al. (2003)
Cichla temensis Rio Cinaruco, Venezuela Peixes Hoeinghaus et al. (2006)
Cichla temensis Rio Cinaruco, Venezuela Peixes Winemiller et al. (1997)
Cichla temensis Rio Cinaruco, Venezuela Peixes e itens não discriminados Jepsen et al. (1997)
Cichla ocellaris Rio Machado , Brasil Peixes Goulding (1980)
Cichla sp. Rios Piquiri, Correntes e Itiquira, Brasil Peixes, camarões e restos vegetais Súarez et al. (2001)
Contudo, apesar da abundância de camarões não ter sido investigada
durante o presente trabalho, Rabelo & Araújo-Lima (2002) detectaram na
Amazônia central maior disponibilidade deste recurso durante a estação seca,
época em que teoricamente os peixes forrageiros estariam mais acessíveis
para C. piquiti em Itumbiara.
O consumo permanente de Macrobrachium sp. também parece não
estar associado ao aumento da disponibilidade de abrigos para os exemplares
da ictiofauna, uma vez que tal proteção teoricamente também estaria
disponível para estes crustáceos. Uma explicação plausível seria uma possível
migração destes organismos para trechos mais fundos durante o período seco,
conforme sugerido por Rabelo & Araújo-Lima (2002). Contudo a grande
predação exercida sobre estes camarões por exemplares menores que 20cm
durante ambas as estações do ciclo hidrológico parece não corroborar com
esta hipótese, uma vez que tucunarés de pequeno porte são predadores
tipicamente litorâneos (Zaret,1977; 1980).
Desta maneira a predação sobre Macrobrachium sp. pode ser encarada
como uma estratégia trófica complementar ao consumo de peixes por parte dos
exemplares de comprimento padrão superior a 20 cm, não detectada por
Durães et al. (2000) no mesmo reservatório, muito provavelmente devido ao
fato deste crustáceo ainda não estar estabelecido naquela ocasião, sugerindo
inclusive tratar-se de uma espécie exótica.
Apesar da presença de camarões na dieta de tucunarés introduzidos nas
regiões sudeste, nordeste e centro oeste do Brasil (Fontenele & Peixoto, 1979;
Molina et al., 1996; Santos et al., 2001; Súarez et al., 2001; presente estudo),
Panamá (Zaret, 1980) e canais da Flórida (Shafland, 1999b), muito pouco se
pode inferir em relação ao fato da carcinofagia atenuar os efeitos deletérios
decorrentes da introdução destes predadores nos novos habitats colonizados,
embora Fontenele & Peixoto (1979) tenham concluído de forma no mínimo,
precipitada e tendenciosa, que espécies do gênero Cichla podem ser
introduzidas em sistemas lênticos sem perigo de dominância sobre as
ictiocenoses nativas, desde que os novos hábitats possuam grandes
dimensões e disponibilidade regular destes crustáceos.
Em relação ao consumo de peixes, grande parte do volume total
consumido foi representado por teleósteos não identificados, em virtude do
adiantado estado de digestão em que se encontravam no interior dos
estômagos analisados. Dentre as 12 categorias taxonômicas identificadas ao
nível de espécie (12% das espécies capturadas pela pesca experimental
durante a presente investigação), S. pappaterra, C. piquiti e A. altiparanae se
destacaram não só em função da representividade de seus IAis, mas também
por estarem ranqueadas entre as espécies mais abundantes da região
intermediária do reservatório, caracterizando desta maneira, acentuado
oportunismo trófico já reportado para outras espécies de tucunarés (Williams et
al., 1998; Jepsen et al., 1999).
Ainda em relação à piscivoria, outros três aspectos chamam a atenção:
o acentuado canibalismo já reportado para Cichla monoculus (= C. piquiti) no
reservatório de Itumbiara (Durães et al.; 2000), o fato da espécie evitar outras
categorias taxonômicas também classificadas entre as mais abundantes da
área de estudo e o consumo de peixes não detectados pela pesca
experimental, principalmente Symbranchus marmoratus, espécie normalmente
não capturada por redes de emalhar devido ao corpo serpentiforme desprovido
de escamas e ao hábito de permanecer enterrada no substrato lamoso.
Quanto ao canibalismo, esta estratégia de forrageamento é praticada por
pelo menos 36 famílias de peixes, incluindo herbívoros, carniceiros,
planctófagos e piscívoros (Helfman et al., 1997), sendo considerada ainda
comum entre predadores de águas continentais (Zaret, 1977) e vantajosa do
ponto de vista nutricional, uma vez que organismos canibais ingerem itens
quimicamente muito semelhantes às suas próprias composições (Wooton,
1996), proporcionando assim, crescimento rápido e aumento da fecundidade
(Wooton, 1996; Helfman et al., 1997).
Apesar de amplamente difundida, inclusive entre determinadas
populações de tucunarés (Schroder & Zaret, 1979; Zaret, 1980; Arcifa &
Meschiatti, 1993; Jepsen et al., 1997; Santos et al., 2001; Gomiero & Braga,
2004a e b; Novaes et al., 2004; Fugi et al., 2008), incluindo Itumbiara (Durães
et al., 2000), as razões que desencadeiam tal processo ainda não foram bem
esclarecidas, podendo estar associadas à baixa disponibilidade de demais
presas (Chevalier, 1973; Jepsen et al., 1997; Gomiero & Braga, 2004b), grande
abundância de adultos (Chevalier, 1973; Gomiero & Braga, 2004b) ou jovens
(Gomiero & Braga, 2004b) na população, ausência de cobertura vegetal
(Santos et al., 2001; Gomiero & Braga, 2004b; Fugi et al., 2008), ingestão
acidental (Zaret, 1977; Novaes et al., 2004), controle populacional (Nikolsky,
1963) ou remoção dos pais (Zaret, 1977; 1980).
Em Itumbiara, esta última hipótese provavelmente prevalece sobre as
demais, uma vez que, mesmo diminuindo a atividade alimentar durante o
período reprodutivo (Zaret, 1980; Jepsen et al., 1997; 1999; Novaes et al.
2004), tucunarés adultos se tornam ainda mais territorialistas (Zaret & Paine,
1973) e protegem de forma vigorosa sua prole (Fontenele, 1948; Braga, 1952),
investindo também contra as iscas arremessadas dentro de seus territórios,
conforme relatado por pescadores e guias locais.
Desta maneira, se tornam presas fáceis da modalidade de pesca
conhecida popularmente entre os guias nativos e pescadores visitantes como
“chuveirinho”. Neste tipo de pescaria as iscas são arremessadas sobre
cardumes de alevinos ainda sob a guarda dos pais se movimentando na
superfície, causando reação imediata dos membros do casal que investem
contra as mesmas de maneira semelhante à forma com que atacam suas
presas. Desta forma são então capturados e removidos, disponibilizando suas
proles para os predadores locais, incluindo C. piquiti.
De qualquer modo, independente dos fatores associados à sua prática, o
canibalismo parece ser um comportamento estabelecido em Itumbiara, apesar
de durante a presente investigação não ter sido detectado de forma tão
acentuada quanto demonstrado por Durães et al. (2000) neste mesmo
reservatório.
Pimelodídeos e serrasalmíneos já foram reportados como parte
importante da dieta de algumas espécies de tucunaré (Fontenele & Peixoto,
1979; Santos et al., 1994; Molina et al., 1996; Rabelo & Araújo-Lima, 2002)
sendo, entretanto, pouco explorados por C. piquiti em Itumbiara. Tal fato está
provavelmente associado à abundância de outras presas não dotadas de
acúleos nas nadadeiras peitorais ou corpo alto achatado lateralmente,
características que em tese favoreceriam tais espécies, dificultando a
manipulação dos alimentos na cavidade orofaringeal e a ingestão destes
recursos (Lowe-McConnell, 1964, 1987).
Desta maneira, os exemplares maiores do que 20 cm aparentemente
consomem preferencialmente presas que demandam menos energia durante
as fases do processo de alimentação, não dispensando contudo, outras
espécies menos abundantes também presentes de forma residual em sua
alimentação.
O fato dos indivíduos de grande porte exercerem a predação sobre
peixes pequenos indica que a dieta de C. piquiti também apresenta
característica oportunista (Wooton, 1996) conforme já reportado para Itumbiara
(Durães et al., 2000), Reservatório da UHE Serra da Mesa (Novaes et al.,
2004) e região do Pantanal (Súarez et al., 2001). Esta estratégia, contudo,
difere daquela detectada por Williams et al. (1998) para os exóticos C.
temensis e C. orinocensis no Reservatório de Guri na Venezuela e por Rabelo
& Araújo-Lima (2002) para o nativo C. monoculus em lagoas da Amazônia
central; locais onde estes predadores selecionam presas maiores na medida
em que crescem, abandonando inclusive o consumo de camarões devido ao
fato destes crustáceos não atingirem o tamanho mínimo satisfatório.
Oscilações no fator de condição ao longo do ano já foram detectadas
para outras espécies de Cichla na Venezuela, estando associadas
principalmente a fenômenos de caráter sazonal como a migração das espécies
presas e a reprodução (Jepsen et al., 1997; 1999; Hoeinghaus et al., 2006). Em
Itumbiara, entretanto, C. piquiti aparentemente não depende da oferta de
espécies migradoras, uma vez que parte considerável de sua dieta foi
composta por categorias taxonômicas tidas como sedentárias (Graça &
Pavanelli, 2007), disponíveis em ambas as fases do ciclo hidrológico.
Logo, a reprodução parece ser a principal responsável pelas mudanças
no fator de condição da espécie neste reservatório, uma vez que C. piquiti
apresentou desova parcelada com pico de maturação sexual no final da
estação seca, enquanto a maioria dos peixes totalmente
espermeados/desovados foi registrada nos meses de outubro e novembro
(Vieira, 2007). Desta forma, a relação entre IRE e K pode ser explicada,
conforme previamente mencionado nesta discussão, pelo fato dos tucunarés
diminuírem ou mesmo paralisarem a alimentação durante o extenso período
reprodutivo, necessitando portanto acumular reservas energéticas de modo
prévio, visando o longo período de jejum dedicado ao cuidado parental (Zaret,
1980).
Embora considerado um excelente peixe esportivo dotado de carne de
ótimo paladar (Zaret & Paine, 1973; Zaret, 1980; Jepsen et al., 1997; 1999),
além de recurso pesqueiro de grande importância nas águas interiores do norte
e nordeste do Brasil (Bezerra e Silva et al., 1980), até o momento nenhum
estudo caracterizou detalhadamente a pesca esportiva dos tucunarés Cichla
spp., sendo os poucos trabalhos já realizados sobre estas espécies
relacionados a pesca comercial praticada com tridente (Petrere-Jr., 1986) e
anzol (Santos & Oliveira-Jr., 1999; Santos & Petrere-Jr., 2004) na Amazônia e
aquela experimental conduzida por meio de redes de emalhar e anzóis na
região do alto Rio Paraná (Gomiero & Braga, 2003).
Dentre estas investigações, merece destaque aquela conduzida por
Gomiero & Braga (2003), em virtude destes autores, ao contrário dos demais,
utilizarem dados diretos por meio de capturas com varas e anzóis para
caracterizar a pesca de C. cf. ocellaris (= C. kelberi) e C. monoculus (= C.
piquiti) (Kullander & Ferreira, 2006) no Reservatório de Volta Grande, onde
assim como no presente estudo, detectaram uma maior produtividade durante
a estação seca, sobretudo no outono. Apesar de não discutirem ou fazerem
qualquer inferência sobre a causa deste incremento, tal aumento
provavelmente está relacionado a retomada da alimentação por parte dos
tucunarés após o período reprodutivo, que no referido local se estende do final
da estação seca até o término do período chuvoso (Gomiero & Braga, 2004c).
Desta maneira, além da maior concentração provocada pela retração das
águas, a necessidade de restabelecer a condição corporal debilitada em função
do cuidado parental despendido, teoricamente tornaria os indivíduos mais
susceptíveis a investir contra as iscas ofertadas, refletindo desta maneira na
maior média de quilos capturados por embarcação, pescador e pescador/hora
durante este período.
Em relação à frequência de capturas por classes de tamanho, no
presente estudo a maioria dos exemplares embarcados apresentaram CP
menor do que aqueles capturados em Volta Grande (Gomiero & Braga, 2003),
o que poderia ser um indício de uma possível sobrepesca realizada sobre os
indivíduos maiores que 35 cm em Itumbiara, conforme já detectado e relatado
por pescadores amadores com muitos anos de prática neste reservatório. Já as
baixas capturas sobre indivíduos menores que 25 cm certamente não estão
relacionadas a baixa disponibilidade destes exemplares, mas sim a própria
política adotada pelos guias locais e ranchos de pesca investigados, que
incentivam os pescadores amadores a soltar os tucunarés de pequeno porte
após suas capturas visando a conservação futura dos estoques de C. piquiti na
região intermediária do reservatório.
Em Itumbiara, o estabelecimento de espécies do gênero Cichla
aparentemente ainda não provocou redução considerável na diversidade das
assembléias de peixes, a exemplo do que ocorreu nos reservatórios das UHEs
Marimbondo (Santos et al., 1994) e Rosana (Pelicice & Agostinho, 2009)
também localizados na região do alto Rio Paraná. Entretanto, a diminuição
recentemente observada nas capturas experimentais de algumas espécies
nativas de pequeno porte (Paulo S. Formagio, com. pes.), bem como a
possibilidade do estabelecimento e expansão de novas espécies piscívoras,
como ocorre atualmente com o barbado (Pinirampus pirinampu), poderá
aumentar a pressão sobre a ictiofauna nativa, diminuindo seus estoques e a
diversidade local, além de colocar a pesca esportiva da região em uma
situação vulnerável.
Conclusões

• A dieta de C. piquiti foi composta principalmente por peixes e camarões,


sendo consumida pelo menos 12 espécies de teleósteos, incluindo os
próprios tucunarés;

• O consumo de alimento por parte dos indivíduos maiores que 20 cm foi


influenciado pelas fases do ciclo hidrológico;

• A espécie também apresentou significativa ontogenia trófica, com


camarões predominando na dieta dos indivíduos ≤ 20 cm enquanto
peixes se destacaram na alimentação dos demais exemplares;

• A espécie consumiu preferencialmente peixes desprovidos de caracteres


anatômicos que dificultam ou impedem a ingestão dos mesmos.

• A pesca esportiva de C. piquiti no reservatório é exercida principalmente


sobre os indivíduos de médio e grande porte.

• A produtividade na pesca esportiva é maior durante o período seco,


época em que foram obtidas maiores médias de capturas por
embarcação, pescador e pescador por hora.
Recomendações

Com base nos resultados obtidos no presente estudo, seguem


recomendações para pesquisas futuras:

1) Camarões são um item freqüente na alimentação de C. piquiti em


Itumbiara, notadamente dos jovens, podendo estar relacionados com a
abundancia de tucunarés neste reservatório. O estudo da dinâmica
populacional deste recurso (incluindo a identificação das espécies e a
determinação das variações espaço temporais de suas densidades no
reservatório) traria mais conhecimento sobre a real importância destes
crustáceos na manutenção dos estoques locais de C. piquiti;

2) A continuação do monitoramento da pesca amadora na região


intermediária do reservatório, bem como sua ampliação para as demais zonas
(lacustre e fluvial) é recomendada, no sentido de se detectar eventuais
flutuações de médio prazo no desembarque pesqueiro, bem como detectar as
áreas de maior concentração de pescadores e os locais de maior abundância
de tucunarés em Itumbiara;

3) Visando detectar flutuações espaço temporais na comunidade de


peixes do reservatório, ou mesmo possíveis extinções locais, recomenda-se o
contínuo prosseguimento do monitoramento da ictiofauna ao longo de toda sua
extensão, de modo que os dados obtidos possam ser acessados e comparados
com aqueles fornecidos no presente documento, permitindo assim avaliar de
forma mais precisa os possíveis impactos causados por C. piquiti em Itumbiara.
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