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TAO TE CHING

LAO TSÉ

I profundo!
o curso que se pode discorrer não é o eterno curso parece algo lá existir
o nome que se pode nomear não é o eterno nome eu não sei de quem é filho
imanifesto nomeia a origem do céu e da terra afigura-se o anterior do ancestral
manifesto nomeia a mãe das dez-mil-coisas
portanto V
no imanifesto se contempla seu deslumbramento o céu e a terra são sem amor-humano
no manifesto se contempla seu delineamento consideram as dez-mil-coisas cães-de-palha
ambos... o mesmo saindo com nomes diversos o homem santo é sem amor-humano
o mesmo diz-se mistério considera as dez-mil-coisas cães-de-palha
mistério que se renova no mistério... o vão entre o céu e a terra...
porta de todo deslumbramento como se parece a um fole!
mas esvazia-se sem se contrair
II move-se e ainda extravasa!
sob o céu muitas palavras e números o limitam
conhecer-se o que faz o belo belo eis o feio! melhor guardá-lo no íntimo
conhecer-se o que faz o bom bom eis o não bom!
portanto VI
o imanifesto e o manifesto consurgem o espírito do vale não morre
o fácil e o difícil confluem diz-se místico feminino
o longo e o curto condizem a porta do místico feminino
o alto e o baixo convergem diz-se raiz do céu e da terra
o som e a voz concordam suave e multíflua
o anverso e o reverso coincidem parece lá existir
por isso contudo opera fio a fio
o homem santo cumpre os atos sem atuar
pratica a doutrina sem falar VII
as dez mil coisas operam sem serem impedidas o céu dura a terra perdura
nascem sem serem possuídas céu e terra duram que duram
atuam sem serem dominadas por não viverem para si
concluida a obra ele não se atém eis porque podem viver eternamente
e só por não se aterela não se esvai por isso o homem santo
ficando atrás sobressai
III ficando fora persiste
não primando os bons o povo não compete não será por não ter nada seu ?
não prezando bens custosos o povo não aladroa pode pois realizar o que é seu
não exibindo o desejável seu coração não erra
por isso o governo do homem santo VIII
esvazia os corações o bem supremo é como água
sacia as entranhas água... apura as dez-mil-coisas sem disputa
enfraquece as vontades habita onde os homens abominam
vigora os ossos por isso abeira-se ao curso
nunca deixa o povo com saber e desejos morar bom é onde
não deixa o sábio ousar atuar coração bom é profundidade
atuando o não-atuar então não há desgoverno doar bom é amor
falar bom é sinceridade
IV governo bom é ordem
o curso é um vaso vazio serviço bom é capacidade
o uso nunca o replena movimento bom é quando
abismal! eis que só sem disputa não há oposição
parece o progenitor das dez mil coisas
abranda o cume IX
desfaz o emaranhado manter saturando melhor cessar
harmoniza a luz seguir aguçando não vai durar
congloba o pó sala cheia de ouro e jade não se pode guardar
enfatuar-se com bens e fama por si já dana ao tocá-lo não se obtém o nome soa wei
concluida a obra abster-se estes três não se podem decompor
eis o curso do céu portanto entremeados constituem um
seu alto não se alumbra
X seu baixo não se assombra
conseguir: contínuo contínuo... sem se poder nomear
a alma e o espírito num amplexo inseparável! retorna a não-coisa
regular o sopro maleável como no recém-nascido isto se diz: forma do não-forma
polir o espelho místico até ficar sem mácula! imagem do não-coisa
amar a nação e reger o povo sem atuar! isto se diz: claroescurecer
no vaivém da porta do céu atuar qual mãe-pássaro! ao defrontá-lo não se vê o rosto
ser iluminado nos quatro quadrantes sem ter saber! ao seguí-lo não se vê o verso
gerar e criar reintegrando-se ao curso da antiguidade
gerar sem possuir pode-se reger o presente
atuar sem depender poder conhecer a origem da antiguidade
presidir sem controlar isto se diz: o desemaranhar do curso
isto diz-se virtude mística
XV
XI na antiguidade os que bem atuavam o curso:
trinta raios perfazem o meão sutilmente sublimes misticamente penetrantes
no imanifesto o uso do carro tão profundos que não podiam ser conhecidos
barro moldado faz o jarro e só porque incognoscíveis força-se configurá-los
no imanifesto o uso do jarro cautelosos! como a transpor águas hibernais
talham-se portas e janelas para a casa vacilantes! como a temer vizinhos dos quatro cantos
no imanifesto o uso da casa reverentes! como hóspedes
portanto evanescentes! como gelo a derreter
utilizando-se o manifesto útil fica o imanifesto genuínos! como lenho tosco
abertos! como o vale
XII opacos! como a água turva
as cinco cores cegam a visão do homem quem pode pelo repouso aos poucos clarear o
os cinco tons ensurdecem a audição do homem turvo ?
os cinco sabores embotam o paladar do homem quem pode pelo movimento aos poucos avivar a
galopes e caçadas frenesiam o coração do homem paz ?
bens custosos obstam as ações do homem quem guarda este curso não quer ficar pleno
por isso o homem santo e só por não ficar pleno pode recôndito renovar-se
sendo entranhas não olhos
afasta o ali agarra o aqui XVI
atingindo o vazio extremo
XIII conservar-se firme no repouso
honra e desonra são como o corcel em fuga as dez-mil-coisas confluindo
avalie grandes aflições como o corpo eu assim as contemplo no refluxo:
porque se diz: eis que as coisas no florescimento
honra e desonra são como o corcel em fuga retornam uma a uma à raiz
a honra eleva a desonra abate o retorno à raiz soa: repouso
ganhar esta perder aquela é assustador isto se diz: retornar ao destino
por isso se diz: o retorno ao destino soa: eternidade
honra e desonra são como o corcel em fuga conhecer a eternidade soa: alumbramento
porque se diz: não conhecer a eternidade é tresloucar no azar
avalie grandes aflições como o corpo conhecer a eternidade é englobante
eu tenho grandes aflições por ter corpo englobamento então justiça
sem corpo que aflições teria ? justiça então mediação
portanto mediação então céu
quem avalia o mundo como o corpo céu então curso
este pode ter missão no mundo curso então duração
quem ama o mundo como o corpo dissolvendo-se o corpo não periga
este pode ter cargo no mundo
XVII
XIV a alta antiguidade não conhecia os regentes
ao olhá-lo não se vê o nome soa yi tempos depois eram amados e louvados
ao escutá-lo não se ouve o nome soa xi tempos depois foram temidos
tempos depois são vilipendiados XXI
estes de pouca fé não merecem fé os traços da grande virtude só provêm do curso
pensativos! o curso feito coisa... tão ofuscante que eclipsa
aqueles sim pesavam as palavras eclipsado! ofuscante! em seu interior há imagem
concluída a obra as coisas decorriam ofuscante! eclipsado! em seu interior há coisa
as cem famílias juntas diziam: isolado! abscôndito! em seu interior há essência
por nós somos o que somos essa essência... pura verdade
em seu interior há fidelidade
XVIII da antiguidade até o presente
o grande curso reflui... seu nome não muda
surge amor humano e justiça e assim examina o surgir de tudo
sabedoria e crítica afluem... como sei a forma de tudo surgir ?
surge a grande hipocrisia pelo aqui
os vínculos familiares discordam...
surgem os deveres filiais e paternais XXII
nações e familias no caos... curvando então fica inteiro
surgem os ministros leais retorcendo então fica direito
esvaziando então fica pleno
XIX desgastando então fica novo
não à santidade fora a sabedoria sendo pouco então é obtido
o povo é cem vezes favorecido sendo demais então é perturbador
não ao amor humano fora a justiça assim
o povo volta a ser filial e paternal o homem santo abraçando o uno
não ao engenho fora o ganho torna-se modelo sob o céu
não há roubos não há assaltos não se exibindo então brilha
estas três sentenças são ornamentos não se afirmando então figura
ornamentos não suficientes não se vangloriando então tem mérito
deve vigorar pois esta regência: não se enaltecendo então perdura
mostrar-se como seda natural só por não disputar
abraçar o lenho tosco sob o céu ninguém pode com ele disputar
diminuir seus interesses o adágio antigo: "curvando então fica inteiro"
diluir suas paixões como pode ser palavra vazia?
em verdade integra nele reintegrando
XX
não ao estudo e foi-se a inquietação XXIII
"sim" e "pois não" quanto se distinguem? falar diluído é o natural
bem e mal como se distinguem? portanto
o que os homens temem não se pode não temer? um vendaval não dura uma manhã
estéril! esse nem sim nem não um temporal não dura um dia
A massa efusiva e mais efusiva quem os fomenta ?
como no gozo de um festim sacro céu e terra
como nos altos a sagrar a primavera céu e terra . . sua fúria não dura
só eu ancorado! nesse ainda sem auspícios... quanto mais a intempérie humana!
como recém-nascido antes de se acriançar portanto
marionete! sem para onde retornar quem segue o curso une-se ao curso
a massa tem o supérfluo quem segue a virtude une-se à virtude
só eu sem quê nem para quê quem segue a perdição une-se à perdiçao
eu... que coração de idiota quem se une ao curso este o acolhe com alegria
oh! confuso e mais confuso quem se une à virtude esta o acolhe com alegria
a gente brilha que brilha quem se une à perdição esta o acolhe com alegria
só eu ofuscado e aparvalhado pouca fé não merece fé
a gente vibra que vibra
só eu melancólico e mais melancólico XXIV
plácido! tal qual o mar Na ponta dos pés não se firma
ao vento! como sem lugar escarranchado não se anda
a massa tem com quê quem se exibe não brilha
só eu obstinado e tosco quem se afirma não figura
mas só eu diferente dos outros quem se vangloria não tem mérito
dignificando a mãe nutriente quem se enaltece não perdura
isto em relação ao curso soa:
superfluidade parasitismo isto se diz: essencial ao deslumbramento
coisas que todos abominam
portanto XXVIII
quem no curso nelas não incorre conhecer o masculino conservar o feminino
é tornar-se álveo do mundo
XXV tornando-se o álveo do mundo
Há algo indefinido porém perfeito a virtude eterna não escorre
antes de nascerem céu e terra e volta a ser recém-nascido
Silente! apartado! conhecer o claro conservar o escuro
fica só não muda tornar-se o ideal do mundo
tudo pervade nada periga tornando-se ideal do mundo
pode ser considerado a mãe sob o céu a virtude eterna não flutua
eu não sei seu nome e volta a ser não-dual
dou-lhe a grafia: (Dao) conhecer o glorioso conservar o vergonhoso
forçado a nomeá-lo digo: grande tornar-se o vale do mundo
grande soa: além tornando-se o vale do mundo
além soa: longínquo a virtude eterna é suficiente
longínquo soa: retornante e retorna a ser lenho tosco
portanto decomposto o lenho-tosco
o curso é grande eis compostas as funções
o céu é grande o homem santo usando-o
a terra é grande torna-se dirigente do funcionalismo
o mediador é grande portanto
no universo há quatro grandes a grande regência não faz cortes
o mediador é um dos quatro
o homem segue a terra XXIX
a terra segue o céu querer abarcar o mundo e nele atuar
o céu segue o curso eu vejo não ser alcançável...
o curso segue a si mesmo o mundo é um vaso espiritual
não é possível nele atuar
XXVI o atuante arruína-o
o pesado é raiz do ligeiro o abarcador perde-o
o repouso é senhor do agitado portanto
por isso o homem santo as coisas ora precedem ora seguem
na jornada não larga o peso da bagagem ora amainam ora enfurecem
embora tenha visões magníficas fica calmo e ora prosperam ora declinam
distante ora afluem ora refluem
que fazer? por isso
é senhor de dez mil carros o homem santo afasta o demasiado
e por ele desleixa o império? o desmesurado
sendo ligeiro então perde a raiz o desqualificado
sendo agitado então perde a soberania
XXX
XXVII os que ajudam o soberano pelo curso
bom caminhar não deixa vestígio esses não violam com armas o mundo
boa fala não têm jaças a aquilatar tal ação provoca reação
boa computação não usa talhas nem fichas onde campeiam tropas aí crescem espinhos
bom fecho não usa trancas e não se abre após grandes combates sempre anos nefastos
boa ligação não tem cordas e não se solta bom é apenas o desfecho
por isso o homem santo e basta!
bom sempre em salvar homens não ousar dominar com violência
portanto não há homens rejeitados o desfecho sem apoteose
bom sempre em salvar coisas o desfecho sem repressão
portanto não há coisas rejeitadas o desfecho sem arrogância
isto se diz: adentrar o alumbramento o desfecho porque irremediável
portanto o desfecho sem violência
o homem bom é modelo para o não-bom as coisas reforçando-se caducam
o homem não-bom é potencial para o bom isto se diz: sem curso
sem apreciar o modelo e cuidar do potencial sem curso logo o decurso
mesmo a sabedoria será grande extravio
XXXI XXXV
eis que belas armas não são instrumentos retendo a grande imagem
auspiciosos o mundo acorre
são coisas que todos abominam acorre sem prejudicar
portanto assim a grande paz
quem no curso delas não se ocupa música e atrativos...
o nobre em casa honra a esquerda para o hóspede de passagem
no uso de armas honra a direita o que vai da boca do curso...
armas não são instrumentos auspiciosos tão diluído que a nada sabe!
não são instrumentos do nobre olhá-lo não basta para o ver
se inelutável usa-as ouví-lo não basta para o escutar
pondo calma e moderação acima usá-lo não basta para o esgotar
vence sem embelezar a vitoria
quem faz isso exulta em matar pessoas XXXVI
esse não pode obter seus intentos no mundo quer-se a contração
nos eventos benéficos prefere-se a esquerda é preciso consolidar a expansão
nos eventos maléficos prefere-se a direita quer-se o enfraquecimento:
o general da reserva fica à esquerda é preciso consolidar o fortalecimento
o general do comando fica à direita quer-se a decadência:
a dizer que observa o rito fúnebre é preciso consolidar o florescimento
massacres são pranteados com ais e lamentos quer-se a privação:
na vitoria militar observa-se o rito fúnebre é preciso consolidar a doação
isto se diz: iluminação sutil
XXXII suavidade vence violência
curso... lenho-tosco sempre sem nome não deve o peixe sair das profundezas
embora pequeno pequeno o mundo porém não o nem a potestade do reino a outros mostrar-se
pode sujeitar
principes e reis podendo preserva-lo XXXVII
as dez mil coisas por si se subordinam o curso sempre não atuando
céu e terra em conúbio rorejam doce orvalho e nada fica por atuar
o povo sem ser ordenado por si se coordena príncipes e reis podendo preservá-lo
feito o corte logo surgem os nomes as dez mil coisas por si se transformam
já havendo os nomes aí deve-se saber parar transformadas e surgindo o desejo
sabendo parar nada periclita eu o reprimo pelo lenho sem nome
um símile do curso no mundo: no lenho-tosco sem nome
o arroio e vale indo para o rio e mar eis que de fato não há desejo
sem desejo fica-se em repouso
XXXIII o mundo por si se fixa
quem conhece o outro é sábio
quem conhece a sí mesmo é iluminado XXXVIII
quem vence o outro tem força a virtude superior não ostenta virtude
quem vence a si é forte por isso tem virtude
quem se contenta é rico a virtude inferior não se despe de virtude
quem se força a andar tem querer por isso não tem virtude
quem não perde seu lugar perdura a virtude superior não atua não ficando por atuar
quem morre sem se anular tem a vida a virtude inferior não atua ficando por atuar
o amor-humano superior atua não por ter de atuar
XXXIV a justiça superior atua por ter de atuar
o grande curso é transbordante o rito superior atua ninguém corresponde
ele pode à esquerda e à direita aí arregaça as mangas indo às vias de fato
as dez mil coisas dele dependem para viver portanto
nunca são rejeitadas perdido o curso eis a virtude
completa a obra e não se apropria perdida a virtude eis o amor-humano
veste e nutre as dez mil coisas e não se faz senhor perdido o amor-humano eis a justiça
pode ser nomeado no que é pequeno perdida a justiça eis o rito
as dez mil coisas a ele retornam e não se faz senhor ora o rito dilui fé e fidelidade
pode ser nomeado como grande sendo pois cabeça de toda desordem
e só por não se fazer grande o saber prematuro é mera flor do curso
pode realizar sua grandeza sendo pois princípio de todo desatino
por isso
o homem em plena maturidade... o curso oculta-se no sem-nome
ocupa-se do denso e não do diluído e só o curso em bem atuar a doação de si
ocupa-se do real e não da florescência
portanto XLII
afasta o ali agarra o aqui o curso gera o um
o um gera o dois
XXXIX o dois gera o três
eis a unificação dos primórdios o três gera as dez mil coisas
o céu uno ficou claro as dez mil coisa têm atrás sombra (Yin)
a terra unificada ficou tranquila elas abraçam na frente a luz (Yang)
o espírito uno ficou animado o éter vazio para compor a harmonia
o vale uno ficou repleno o que os homens mais abominam
as dez mil coisas unificadas ficaram geradoras ser órfão viúvo indigente
príncipes e reis unos ficaram fidedignos reis e príncipes a si se intitulam
isso conseguiu-se pela unificação portanto
o céu não claro talvez rachasse as coisas ora perder é ganho
a terra não tranquila talvez implodisse ora ganhar é perda
o espírito não animado talvez sucumbisse a tradição dos homens eu também transmito:
o vale não repleno talvez arruinasse os violentos não alcançam sua morte
as dez mil coisas não geradoras talvez ruíssem eu o considerarei pai da doutrina
príncipes e reis não fidedígnos talvez tombassem
portanto XLIII
o dígno tem suas raizes no humilde sob o céu o mais suave...
o alto tem suas bases no baixo desembesta pelo mais firme sob o céu
por isso sem manifestação penetra o impenetrável
príncipes e reis se intitulam: por isso
orfãos viúvos indigentes eu conheço a vantagem de não-atuar
será por suas raízes no humilde ? não ? a doutrina sem palavras
portanto a vantagem de não-atuar
a glória suprema não se vangloria sob o céu poucos alcançam
não esmerar como jade mas rusticar como pedra
XLIV
XL o nome ou a pessoa qual preferir ?
retornar é o mover do curso a pessoa ou as posses que valorizar ?
suavidade seu operar o ganho ou a perda qual dói mais ?
sob o céu por isso
as dez mil coisas nascem no manifesto demasiada poupança traz grande dispêndio
o manifesto nasce do imanifesto excessivo acúmulo traz enorme desperdício
sabendo bastar-se não se passa vergonha
XLI sabendo conter-se não se corre perigo
a pessoa superior escutando o curso pode-se por isso pedurar
pratica-o zelosamente
a pessoa mediana escutando o curso XLV
ora insiste ora desiste a grande realização parece defeituosa
a pessoa inferior escutando o curso seu efeito não degenera
ri estrepitosamente a grande plenitude parece vazia
não risse não seria o curso seu efeito não decresce
por isso há nos provérbios a grande retidão parece sinuosa
o curso claro parece escuro a grande habilidade parece bisonha
o curso progressivo parece retrógrado a grande eloquência parece balbuciante
o curso plano parece escabroso o repouso vence a agitação
a virtude superior parece um vale o frio vence o quente
a grande candura parece vergonha pureza e repouso são o ajuste do mundo
a virtude larga parece avara
a virtude firme parece fugaz XLVI
a virtude sólida parece carcomida sob o céu há curso...
o grande quadrado não tem cantos desatrelam-se os corcéis para o adubo
o grande talento é tardio sob o céu não há curso...
a grande música dilui o som éguas de batalha procriam na fronteira
a grande imagem não tem figura maior culpa: aquiescer ao desejo
maior violação: não saber bastar-se todas a venerar o curso e dignificar a virtude
maior falta: desejar obter a veneração do curso a dignificação da virtude
portanto eis que não se ordena vêm sempre por sí
sabendo bastar-se ao que basta sempre basta portanto
o curso lhes dá vida
XLVII a virtude dá cultivo
sem sair de casa conhece-se o mundo o crescimento dá aprimoramento
sem espiar pela janela vê-se o curso do céu a proteção dá maturação
quanto mais longe se vai tanto menos se conhece a manutenção dá renovação
por isso o homem santo... gerar sem possuir
não perambula... e conhece atuar sem depender
não olha... e nomeia presidir sem controlar
não atua... e realiza diz-se virtude mística
XLVIII
no estudo dia a dia se cresce LII
no curso dia a dia se decresce o mundo tem origem
decrescendo a mais decrescer esta é considerada a mãe do mundo
chega-se ao não-atuar já tendo a mãe
não atuando nada fica por atuar conhece-se o filho
conquista-se o mundo sempre por não ter afazeres já conhecido o filho
bastam afazeres que não se conquista o mundo novamente guarda-se a mãe
desaparecendo o corpo não periga
XLIX tapando suas entradas
o homem santo não tem coração constante trancando suas portas
pelo coração das cem famílias faz seu coração findando o corpo não se aflige
com o bom eu sou bom abrindo suas entradas
com o não bom também sou bom prosperando seus afazeres
tal é a bondade da virtude findando o corpo não se salva
com o fiel eu sou fiel ver o pequeno soa: alumbramento
com o não fiel também sou fiel conservar a suavidade soa: força
tal é a fidelidade da virtude se usar sua luz retornando à sua iluminação
sob o céu o homem santo é conciliador nada perde quando o corpo espectrificar
faz os corações se misturarem sob o céu isto se diz: revestir de eternidade
as cem famílias lhe emprestam olhos e ouvidos
o homem santo a todos acriança LIII
se eu tivesse um saber especializado
L e agisse conforme o grande curso
expor vida é impor morte justamente sua efetuação eu temeria
os adeptos da vida três em dez o grande curso é bem plano
os adeptos da morte três em dez mas o povo gosta dos atalhos
os que levam a vida ao campo de morte também três a corte está bem mondada
em dez mas os campos bem acizanados
e a razão ? e os celeiros bem vazios
viverem intensamente a vida enfeitam-se com brocados letrados
ouve-se do bom cultor da vida: andam com espadas afiadas
em terra não topa com rinocerontes ou tigres enjoados com comes e bebes
na liça não sofre com armas e escudos bens e riquezas em profusão
o rinoceronte não tem onde fincar o chifre isto se diz: ostentar rapina
o tigre não tem onde fincar as garras não! não é o curso!
as armas não tem onde enfiar a lâmina
e a razão ? LIV
não ter campo de morte quem planta o bem este não perde a raiz
quem abraça o bem este não se separa
LI e filhos e netos não cessarão o culto ancestral
o curso lhes dá vida cultivado na pessoa a virtude será eficiente
a virtude dá cultivo cultivado na familia a virtude será copiosa
a substância dá forma cultivado na comunidade a virtude será durável
o ambiente dá desenvolvimento cultivado no reino a virtude será fecunda
por isso cultivado no mundo a virtude será universal
as dez mil coisas... portanto
pela pessoa ver as pessoas quanto maior a inventiva dos homens
pela familias ver as familias tanto mais coisas anormais
pela comunidade ver as comunidades quanto mais leis e decretos promulgados
pela nação ver as nações tanto mais ladrões e assaltantes
pelo mundo ver o mundo por isso
eu como sei que o mundo é assim ? um homem santo esclareceu:
pelo aqui eu sem atuar o povo mudou por si
eu amante do repouso o povo por si endireitou
LV eu sem afazeres o povo por si enriqueceu
quem possui o denso da virtude eu sem desejos o povo por si lenho-tosco
assemelha-se a uma criança nua
insetos venenosos não a picam LVIII
feras não a estraçalham governo velado e sonado povo expresso e desperto
aves de rapina não a arrebatam governo vigilante e atuante povo retraído e omisso
ossos moles tendões elásticos desgraça! em ti apoia-se a felicidade
mas agarra com força felicidade! em ti encosta- se a desgraça
ainda não conhece o acasalamento quem lhes conhece os limites ?
mas o falo fala ereto na anomia... o normal passa por anormal
é o auge do sêmen o bom passa por simulacro
o dia inteiro grita sem rouquejar o desvio do homem... teus dias teimosamente duram
é o auge da harmonia por isso o homem santo...
conhecer a harmonia soa: eternidade enquadra sem demarcar
conhecer a eternidade soa: iluminação canteia sem talhar
acrescer a vida soa: fatalidade corrige sem deformar
o coração no controle do sopro soa: rigidez transluz sem ofuscar
as coisas reforçando-se caducam
isso se diz sem curso LIX
sem curso logo o decurso no governo do homem no serviço do céu
nada como temperança
LVI só a temperança se diz submissão prévia
quem sabe não fala a submissão prévia diz-se virtude reiterada
quem fala não sabe virtude reiterada então invencibilidade
tapar as entradas invencibilidade então não se conhecem os limites
trancar as portas sem os limites então pode-se ter o reino
abrandar o cume tendo a mãe do reino pode-se perdurar
desfazer o emaranhado isto se diz: raiz profunda haste firme
harmonizar a luz é o curso da vida longa e visão perpétua
conglobar o pó
diz-se: união mística LX
portanto reger um grande reino é como fritar peixe miúdo
ela é incompatível com a intimidade no mundo governado pelo curso
ela é incompatível com a estranheza espectros não passam por espíritos
ela é incompatível com o ganho não só espectros não passam por espíritos
ela é incompativel com a perda espíritos também não atormentam pessoas
ela é incompatível com a dignidade não só espíritos não atormentam pessoas
ela é incompatível com a vileza o homem santo tambem não as atormenta
portanto eis que ambos não se atormentando
constitui a dignidade do mundo a virtude congrega nele reintegrando

LVII LXI
com a normalidade governa-se o reino um grande reino é um rio no baixo curso
com a anormalidade usam-se as armas reunião do mundo fêmea do mundo
por não ter afazeres conquista-se o mundo a fêmea sempre pelo repouso vence o macho
como eu sei que é assim ? pelo repouso ela fica abaixo
pelo aqui portanto
sob o céu se um grande reino ficar abaixo de um pequeno
quanto mais tabus e superstições então o grande conquista o pequeno
tanto mais pobre o povo se um pequeno reino ficar abaixo de um grande
quanto maior a potestade da corte então o pequeno conquista o grande
tanto mais caótico o reino portanto
uns ficam abaixo para conquistar deseja não desejar
outros estando abaixo conquistam não valoriza bens custosos
um grande reino só quer juntar e nutrir pessoas aprende a não aprender
um pequeno reino só quer participar e servir pessoas recorre por onde os homens transpassaram
eis que para ambos conquistarem o almejado ajudando a natureza das dez mil coisas
convém que o grande fique abaixo isso sem ousar atuar

LXII LXV
curso... recolhimento das dez mil coisas na antiguidade os que bem atuavam o curso
tesouro dos bons refúgio dos não bons não procuravam iluminar o povo
belas palavras podem negociar honras mas sim assingelá-lo
nobre conduta pode destacar dos outros o povo é ingovernável se a sabedoria excede
mas por que rejeitar os não bons ? portanto
portanto governar pela sabedoria é espoliar a nação
foi instituido o filho do céu não governar pela sabedoria é prosperar a nação
estabelecidos os três duques quem sabe os dois aprofunda no ideal
contudo empunhar o cetro de jade saber aprofundar no idealdiz-se virtude mística
e com este à frente desfilar na quadriga virtude mística...
não vale assentar e adentrar -se no curso profunda! longínqua!
e a razão dos antigos apreciarem o curso ? retorna com as dez mil coisas
não soa assim: culmina na grande concórdia
quem pede dele recebe
quem tem culpa por ele evita a perversão LXVI
portanto rios e mares podem reger os cem vales
constitui a dignidade do mundo por saberem ficar abaixo deles
portanto
LXIII regem os cem vales
atue o não-atuar por isso o homem santo...
ocupe-se em não se ocupar desejando ficar acima do povo
saboreie o sem-sabor deve nas palavras ficar abaixo
engrandeça o pequeno desejando ficar à frente do povo
converta discórdia em virtude deve na sua pessoa ficar atrás
delineie o difícil do fácil por isso o homem santo...
faça o grande de sua pequenez fica acima e o povo não sente o peso
por isso fica à frente e o povo não sofre prejuizo
o homem santo nunca se engrandece por isso
e pode realizar sua grandeza o mundo é alegremente impelido
eis que promessas levianas decerto são de pouca fé e sem nenhuma opressão
muito fácil decerto é bem difícil por não disputar
por isso sob o céu não se pode com ele disputar
o homem santo considera tudo bem difícil
portanto não fica difícil LXVII
sob o céu todos dizem que por ser grande
LXIV meu curso aparenta anormalidade
calmo é fácil manter só por ser grande parece anormal
ainda imprevisível é fácil programar se normal há muito seria insignificante
quebradiço é fácil despedaçar eu tenho três jóias para guardar e cuidar
miúdo é facil de espalhar a primeira soa: misericórdia
atuar no ainda não-sido a segunda soa: moderação
por em ordem antes da desordem a terceira soa: não ousar primazia
árvore que braços unidos abarcam nasceu de raiz primeiro misericórdia depois coragem
capilar primeiro moderação depois generosidade
torre de nove andares surgiu de terra justaposta primeiro não ousar primazia depois dirigir o
jornada de dez mil leguas começa sob os pés funcionalismo
o atuante arruína-o hoje sem misericórdia quer-se coragem
o abarcador perde-o sem moderação quer-se generosidade
o povo na execução da obra sempre estraga no fim sem ficar atrás quer-se primazia
cuidando do fim como do começo não se estraga a isso já é morte!
obra eis que a misericórdia na ofensiva vence
por isso o homem santo... na defensiva consolida
quem o céu quer salvar protege pela misericórdia portanto
afasta o ali agarra o aqui
LXVIII
quem bem sabe fazer o militar não é marcial LXXIII
quem bem sabe guerrear não é colérico coragem com ousadia então morte
quem bem sabe vencer o inimigo não se faz coragem sem ousadia então sobrevivência
presente ambas... ora benéficas ora maléficas
quem bem sabe utilizar homens fica abaixo deles aquilo que o céu abomina alguém sabe a razão ?
isto se diz: virtude de não competir por isso
isto se diz: força empregar homens o homem santo ainda aumenta as dificuldades
isto se diz: o auge das bodas com o céu o curso do céu...
sem competir sabe bem vencer
LXIX sem falar sabe bem responder
de um estrategista a máxima: sem conclamar vêm por si
eu não ouso ser o senhor mas o hóspede e passo a passo sabe bem dispor
não ouso avançar uma polegada recuo um pé a rede do céu é espaçosa...
isto se diz: largas malhas e nada tresmalha
avançar sem avançada
rechaçar sem braços LXXIV
repelir sem hostilizar o povo não teme a morte...
capturar sem armas para que assustá-lo com a morte ?
maior desastre: desconsiderar o inimigo se o povo sempre temesse a morte
desconsiderar o inimigo seria perder minhas jóias se ao inventor eu capturasse para matá-lo
portanto quem ousaria?
exércitos antagônicos em confronto há sempre o ofício da morte a executar
o que for compassivo vence eis que usurpar o lugar da morte
seria talhar em lugar do grande lenhador
LXX raro seria não ferisse as mãos
minhas palavras... bem fáceis de conhecer
bem fáceis de praticar LXXV
sob o céu a fome do povo...
são incognoscíveis são impraticáveis são seus superiores a devorar impostos
as palavras têm tradição por isso a fome
os eventos têm regente o desgoverno do povo...
eis que só por não ter conhecer são seus superiores em atuação
não se conhece o eu por isso o desgoverno
os que conhecem o eu são raros desdém do povo pela morte...
então o eu é preciosidade são seus superiores no frenesi da vida
por isso por isso o desdém da morte
sob o traje aldeão o homem santo abriga jade eis que só quem não atua no viver
esse é virtuoso para dignificar a vida
LXXI
saber não saber sublima LXXVI
não saber saber aliena o nascer do homem é pois suave e fraco
homem santo não se aliena seu morrer é pois rígido e forte
porque aliena a alienação o nascer da planta é pois suave e tenro
e só porque aliena a alienação seu morrer é pois murcho e seco
não se aliena portanto
por isso rigidez e força são adeptos da morte
não se aliena suavidade e fraqueza são adeptos da vida
por isso
LXXII arma é forte então não vence
o povo não teme autoridade árvore é forte então vira arma
então advém a grande autoridade força e grandeza são inferiores
nada comprime sua moradia suavidade e fraqueza são superiores
nada oprime sua subsistência
só por não haver opressão não há ressentimento LXXVII
por isso o homem santo o curso do céu...
conhece-se a si mesmo sem se exibir como lembra o retesar do arco!
ama-se a si mesmo sem se dignificar o elevado é abaixado
o baixo é levantado o bom não se discute
o mais é tirado o discutível não faz bem
o menos é completado o saber não é extensivo
o curso do céu... a erudição não faz saber
tira do mais e completa o menos o homem santo não acumula bens
o curso do homem é o reverso: quanto mais faz aos outros tanto mais tem para si
tira do menos para ofertar ao mais quanto mais dá aos outros tanto mais é em si
quem pode ter a mais para ofertar ao mundo ? o curso do céu beneficia sem prejudicar
só quem tem o curso o curso do homem santo atua sem disputar
por isso o homem santo
atua sem depender
realiza a obra sem se ater
ele não quer mostra-se virtuoso

LXXVIII
sob o céu
nada mais suave e mole do que a água
nada a supera no combate ao rígido e forte
por que nada pode modificá-la
a fraqueza vence a força
a suavidade vence a dureza
sob o céu
isso não se pode conhecer
isso não se pode praticar
por isso afirmou um homem santo:
quem arca com a sujeira do reino
pode dizer-se senhor do culto agrário
quem arca com os males do reino
pode dizer-se rei do mundo
palavras corretas parecem o reverso

LXXIX
no ajuste de uma grande discórdia
é inevitável subsistir discórdia
como pensar que seja um bem ?
por isso o homem santo...
cumpre a talha esquerda do contrato
não obriga a outra parte
com virtude cumpre-se o dever
sem virtude cumpre-se a cobrança
o curso do céu sem ser sentimental
sempre fica com o homem bom

LXXX
pequeno reino pouca gente
instrumentos de dez ou cem que não se usem
as pessoas no temor da morte sem êxodos
barcos e carros sem razão para movê-los
armas e couraças sem razão para exibí-las
oxalá o povo voltesse ao uso dos quipos
ao doce de suas comidas à beleza de seus trajes
ao sossego de sua casa ao confortável de seus
costumes
reinos vizinhos visíveis aqui e ali
rumor de cães e galos audíveis aqui e ali
a gente envelheça e morra sem vaivém aqui e ali

LXXXI
palavras fiéis não são belas
belas palavras não fazem fé

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