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O esporte como conteúdo da Educação Física escolar

Margareth Anderáos *
A escola, de forma geral, tem sido o espaço escolhido para complementar a formação da
criança, quando não a de educar, substituindo o papel da família que não tem conseguido
cumprir esta tarefa.
Este é um ponto que deve ser considerado por todos os que se comprometem com o ato
educativo, inclusive pelo professor de Educação Física que é o centro desta reflexão.
Desta forma estarei delineando limites de atuação para o professor da área, em termos de
conteúdos possíveis de se trabalhar no ensino fundamental, mais especificamente o esporte,
possibilitando um desenvolvimento adequado das habilidades inerentes à Educação Física.
É nossa preocupação elaborar uma reflexão a respeito da necessidade de se diferenciar a
Educação Física do Esporte dentro das escolas num trabalho com crianças do ensino
fundamental.
Entre as décadas de 60 e 70, houve um grande equívoco cometido por profissionais da
área que confundiram a Educação Física com o Esporte, em virtude de políticas que se serviram
daquele momento particular para tirar proveito próprio, se utilizando para tal da falta de
criticidade da área que serviu a interesses obscuros. Desta forma o Esporte, acompanhado pela
pedagogia tecnicista que vigorava na época encontrara um campo fértil na escola, mesmo nas
séries iniciais do ensino fundamental. (KUNZ, 2001)
De forma similar, havia quem criticasse, na mesma época, a precocidade com que as
crianças eram iniciadas nos esportes dentro das escolas e, portanto se buscava explicitar os
prejuízos que esta prática poderia estar causando a quem a ela fosse submetida, dada à
obrigatoriedade da Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental.
Os profissionais da área adotaram esta idéia que se traduzia pela educação integral do
indivíduo para que o mesmo pudesse, com o passar do tempo, solucionar seus problemas sem a
ajuda externa tornando-se independente. Sem uma reflexão mais aprofundada sobre o assunto,
buscou-se uma substituição rápida de conteúdos, adotando-se outro modelo de aulas.
Característica de nossa área, a nova busca de modelos para instrumentalizar os profissionais,
fruto de uma reflexão ingênua.
Caberia neste momento considerar diferentes conceitos de esporte como encontramos em
Tubino (1992): esporte–performance, esporte-participação e esporte-educação, amparado na
Constituição Federal de 1988, artigo 217 que criou a lei 8672 de 06/07/93 que propôs a mesma
caracterização. Nesta consideração delimitar as diferenças existentes entre as três
categorizações poderia auxiliar nosso entendimento, mas, o conceito de esporte-educação na
visão do autor não explicita como poderíamos trabalhá-lo com finalidades educacionais.
Na fase pré-escolar é importante que se trabalhe os jogos simbólicos, já que a criança,
excessivamente egocêntrica preocupa-se em realizar e não em comparar seu nível de realização
com o de outras crianças. Para ela, não há qualquer valoração ou necessidade de regras, já que
não existe neste momento possibilidade intelectual para respeitá-las (FREIRE, 2001).
Nas séries iniciais do ensino fundamental o momento deve ser o de trabalhar com os
jogos pré-desportivos, com regras modificadas e simplificadas, iniciando a criança no mundo
do esporte, mas no esporte de criança, vivido como criança.
Talvez o grande equívoco de muitos professores de Educação Física, é fazer com que o
aluno vivencie a prática esportiva nos mesmos moldes do Esporte de Rendimento.
Nesta idade, e até os onze anos há a obrigatoriedade sagrada das regras. Ela passa a ser
um vigia de seus opositores e considera qualquer transgressão, um delito grave (DE ROSE
JÚNIOR, 2002).
Percebe-se claramente que a atenção às regras do jogo e o apego excessivo a elas
dependem das possibilidades cognitivas e de desenvolvimento de juízo moral das crianças.
A responsabilidade pelo modo como são ensinados os jogos desportivos coletivos dentro
da escola recai no nosso entendimento sobre a capacitação que os professores de Educação
Física receberam nos cursos de formação profissional. Aprenderam as modalidades de modo
descontextualizado, sem a consideração pelas experiências anteriores, com ênfase na parte
técnica e tática do jogo, enfim da mesma forma como ensinam. Foram em sua grande maioria,
vítimas de uma aprendizagem centrada na tarefa (ANDERÁOS, 1998).
Caberia, portanto ao professor conhecer profundamente as possibilidades de execução da
criança em cada faixa etária, e para isso se apoiar em teorias de desenvolvimento, para que
proponha níveis de execução adequados.
Outro aspecto relevante é a importância em se trabalhar com crianças levando em
consideração o resgate da cultura infantil tão rica em brincadeiras, com vistas a introduzir a
criança no mundo dos jogos preparatórios para o esporte do adulto, se esse for o seu desejo no
futuro (FREIRE, 2001).
A iniciação desportiva pode, desta forma, ser precoce desde que priorize atividades
lúdicas ao nível de possibilidades da criança, ao contrário do jogo propriamente dito que, pela
instabilidade e grau de incerteza a que ficam expostas as crianças, possibilita danos
psicológicos às mesmas (BENTO, 1999).
Equivocadamente, os principais segmentos de iniciação esportiva, as escolas e os clubes,
insistem em ter como objetivo principal a detecção e formação de talentos esportivos,
acreditando mesmo que podemos formar atletas. A possibilidade de se conduzir uma criança no
caminho do esporte de rendimento de maneira saudável é o fato de termos possibilitado uma
iniciação de qualidade (PAES, 1996)
Dessa forma, cabe-nos ressaltar a importância em se respeitar o nível de desenvolvimento
das crianças envolvidas no processo e em se abrir o leque de possibilidades para que a criança
possa, quando se sentir apta para isso, escolher a modalidade em que queira atuar.
O Esporte é um conteúdo possível de ser trabalhado dentro das aulas de Educação Física
escolar desde que o professor tenha um amplo entendimento da tarefa que pretende
desenvolver.
Nota: * Professora de Aprendizagem e Desenvolvimento Motor do Curso de Graduação
de Educação Física - FEFISA: Faculdades Integradas - e Coordenadora do Curso de Educação
Física - FEFISA: Faculdades Integradas

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