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Continuação requisitos de existência do negócio jurídico

1.2 Elemento 2 – Finalidade Negocial

Finalidade negocial ou jurídica é o propósito das partes de


realizar um negócio jurídico, com vistas a produzir efeitos no sentido de adquirir,
conservar, modificar ou extinguir direitos, ou seja, as partes que estão realizando o
negócio jurídico, precisam ter a intenção de produzir com o ato de vontade, alguns
dos efeitos anteriormente mencionados.

1.3 Elemento 3 – Idoneidade do Objeto

A idoneidade do objeto é necessária para a realização do


negócio jurídico, ou seja, deve apresentar os requisitos ou qualidades que a lei
exige para que o negócio produza os efeitos desejados.

Exemplo: Só posso hipotecar bens móveis, navios ou aviões.


Não existe como hipotecar, por exemplo: a) uma jóia, porque a jóia não atende as
características exigidas para realizar uma hipoteca. Com jóias, eu só consigo
realizar o penhor. B) só consigo realizar o contrato de mútuo sobre coisas
fungíveis e o comodato sobre coisas infungíveis.

2. REQUISITOS DE VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

Para que o negócio seja válido, e possa, então, produzir


efeitos o sentido de adquirir, modificar, transferir ou extinguir direitos, é
necessário que preencha alguns requisitos, elencados pela doutrina como
requisitos de validade do negócio jurídico.

Os requisitos de caráter geral de validade do negócio jurídico


estão descritos no artigo 104 do CC, e são:

1. agente capaz;
2. objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
3. forma prescrita ou não defesa em lei.
Se o negócio jurídico possui todos os requisitos é válido, se não os possui é
inválido, não produzindo o efeito jurídico em questão, sendo, portanto, nulo ou
anulável.

2.1 Primeiro Requisito de Validade – Agente Capaz

O primeiro requisito de validade é a capacidade do agente,


capacidade da pessoa de participar de negócios jurídicos, capacidade da pessoa
de exercer por si só os atos da vida civil.

Agente capaz é aquele que tem capacidade de exercício de


direito, aptidão para contrair e exercer direitos. A capacidade para gerir os atos da
vida civil, é alcançada pelo indivíduo quando ele completa 18 (dezoito) anos, ou
ainda, com a emancipação.

Lembremos que existem dois tipos de incapacidade, a


relativa e a absoluta.

A incapacidade absoluta é aquela que proíbe o indivíduo de


praticar qualquer ato da vida civil, pois a ele falta discernimento para tanto, sendo
totalmente nulo, todo e qualquer ato que ele realize sozinho. (artigo 166, I, CC)

A incapacidade absoluta resulta não só da idade (que são os


menores de 16 anos), mas, também, de doenças mentais, e de outras causas
designadas no artigo 3º do CC.

Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer


pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem
exprimir sua vontade.

Para que os incapazes possam realizar negócios jurídicos,


eles precisam ser representados por seus pais ou responsáveis, no caso dos
menores de dezesseis anos, ou por seus curadores, nos casos de incapacidade
decorrente de doença.
Os atos praticados por absolutamente incapazes que não
estejam devidamente representados, são atos totalmente nulos, incapazes de
produzirem qualquer efeito jurídico.

Outra forma de incapacidade, é a incapacidade relativa,


que se aplica àquelas pessoas, que precisam do auxílio, da assistência de
terceiras pessoas para tornarem válidos os atos da vida civil que eles praticam.

Os casos de incapacidade relativa estão descritos no artigo


4º do CC.

Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à


maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por
deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por
legislação especial.

Para que os relativamente incapazes possam praticar atos


da vida civil, necessitam receber a assistência, ou seja, precisam ser
acompanhados na realização de atos jurídicos, pois que a falta deste requisito,
pode anular o negócio que eles praticaram, ou seja, pode tornar sem efeito o ato
praticado. (artigo 171, I, CC)

A assistência aos relativamente capazes é necessária para


validar a sua manifestação de vontade, pois apesar deles possuírem um certo
discernimento que lhes permita participar pessoalmente dos atos e negócios
jurídicos, exige a lei que sejam acompanhados, assistidos por seus representantes
legais, que participarão dos atos e negócios jurídicos, juntamente com eles.

Sobre o suprimento da incapacidade, verificar o que dispõem


os artigos 1634, V, CC, art. 1747, I, CC e 1774 do CC.
Para que seja possível que uma pessoa jurídica participe de
um negócio jurídico, é necessário que ele esteja representada por um sócio
proprietário, que detenha poderes para representá-la judicial e extrajudicialmente.

Não podemos confundir, no entanto, capacidade com


legitimação, pois que a capacidade é a discussão quanto o poder de
manifestação de vontade do agente, e legitimidade é a aptidão de exercer direitos
sob determinadas coisas.
Por exemplo, meu pai não tem legitimidade para vender o
meu carro, pois o automóvel pertence a mim e não a ele. Ele não exerce qualquer
direito sobre o meu carro.

Ressalta-se que, que a incapacidade relativa, não gera, por


si só, a anulação do negócio jurídico, ou seja, apesar de viciado (ou seja de conter
erros que possam levar à declaração de invalidade), o negócio pode perfeitamente
produzir efeitos, contudo, sua anulação pode ser buscada junto ao Judiciário.

É imprescindível advertir, no entanto, que aquele que se


valer da incapacidade relativa da outra parte, e com ela contratar sem a
assistência de um representante legal, não poderá posteriormente requerer a
anulação do negócio jurídico por este fato, vez que para fins de anulação de
negócio jurídico, pode somente o relativamente incapaz e/ou seu representante
legal invocá-la para com fim.

Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não


pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita
aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o
objeto do direito ou da obrigação comum.

2.2 Segundo requisito de validade – Objeto lícito,


possível, determinado ou determinável

O objeto do negócio jurídico, ou seja, as vantagens


patrimoniais ou extrapatrimonais consistem em coisas ou serviços que interessam
ao indivíduo.

Para que um negócio jurídico seja válido, é necessário que o


objeto dele não seja ilegal, imoral, contrário aos bons costumes, à ordem pública,
ou seja, para que o negócio jurídico seja válido, seu objeto deve estar de acordo
com a lei, deve ser lícito, pois se ele for ilícito, nulo será o negócio.

Exemplo: compra e venda de objeto roubado; contrato de


prestação de serviços sexuais.

Além de ser lícito, o objeto precisa ser possível física e


juridicamente, pois não há pactuar algo impossível. Exemplo: Não posso vender
um terreno situado em marte. Não posso determinar que alguém dê a volta ao
mundo em 2 horas, etc.

A impossibilidade pode ser absoluta ou relativa, física ou


jurídica.
É absoluta, quando ninguém pode entregar a coisa
prometida ou satisfazer a prestação assumida, porque são absurdos em face das
leis naturais. É relativa, quando existe em relação a quem deve cumprir a
prestação, mas não quanto a outros. Somente a impossibilidade absoluta do
objeto invalida o negócio. A impossibilidade relativa determina mudança qualitativa
do conteúdo da obrigação.

Exemplo de impossibilidade absoluta: Venda de um imóvel


na Lua.
Exemplo de impossibilidade relativa: contrato com um
empresa de encanamentos para consertar a tubulação da minha casa, se o
encanador sofrer um acidente e não conseguir terminar ou realizar o trabalho,
outro encanador poderá fazê-lo em seu lugar.

Objeto fisicamente impossível é o que, por sua própria


natureza, não pode integrar qualquer relação jurídica. Objeto juridicamente
impossível (transacionar com alguém que a pé de a volta ao mundo em 2 horas), o
bem ou a prestação sobre os quais não permite a lei que os particulares
transacionem, como as coisas que estão fora do comércio ou os atos contrários à
moral e aos bons costumes, ou ainda, a herança de pessoa viva (art. 426 CC).

Quer o objeto fisicamente impossível, quer o juridicamente


impossível, tornam o negócio jurídico inválido. Determinam, com efeito, sua
nulidade de pleno direito.

O objeto deve ser determinado ou determinável. Nos


contratos, tanto pode ser uma prestação de dar, como de fazer, ou não fazer. Na
primeira hipótese, a obrigação do devedor consiste na entrega de uma coisa. Na
segunda, num ato do sujeito passivo, ou numa omissão. A coisa, na obrigação de
dar, tem de ser possível, determinado ou determinável (determinável ao tempo da
execução do contrato) e economicamente apreciável.

Os objetos determináveis poderão ser aqueles descritos no


artigo 243 do CC e do artigo 252 do CC, pois ao tempo do cumprimento do
contrato saberei pelo menos o Gênero e a quantidade do negócio, ou, ainda nos
casos das obrigações alternativas, qual será objeto que tenho que cumprir.

Ao contrário do pressuposto subjetivo de capacidade “lato


sensu”, os requisitos objetivos devem subsistir no momento da eficácia do
negócio, ou seja, no momento da execução do negócio jurídico.

O objeto não se confunde com a causa do negócio. Objeto


de uma relação jurídica é o comportamento a que se obrigam as partes, não sua
conexão teleológica. Assim é que o negócio pelo qual se atribui uma recompensa
pela abstenção de um delito tem causa ilícita, não objeto ilícito, por isso que a
abstenção não deve ser a contraprestação da recompensa.

2.3 Terceiro requisito de validade – Forma1 prescrita e


não defesa em lei

Emprega-se em duplo sentido o vocábulo forma. No primeiro


é a própria expressão do ato; no segundo, a veste externa da declaração de
vontade.
A forma é, em determinados negócios, elemento essencial à
validade destes. Serve sempre à documentação do ato.

Falta-lhe, assim, o cunho de generalidade dos dois outros


requisitos, pois nem todos os negócios devem observar forma determinada. Ao
contrário, o princípio dominante no Direito moderno é o da liberdade de forma. Os
negócios formais ou solenes constituem exceção, embora se esteja acentuando a
tendência para regresso ao formalismo.

1
Forma segundo Clóvis Beviláqua é o conjunto de solenidades que se devem observar para que a declaração
de vontade tenha eficácia jurídica.
A validade do negócio jurídico não depende de forma
especial, senão quando a lei, expressamente, a exigir. Em princípio, pois, a forma
é livre. (artigo 107 CC)

Há, no entanto, formas vinculadas ou necessárias. Certos


negócios devem ser praticados na forma prescrita em lei. A exigência prende-se
ao interesse de resguardar a declaração de vontade de defeitos que podem
conspurcá-la, ao de facilitar a prova do ato, ou ao de lhe dar publicidade. (artigo
366 CC)

Se a forma é vinculada, o negócio jurídico não vale se não a


revestir. Sendo requisito essencial, sua falta determina a nulidade de pleno direito
do negócio. Pode a própria lei, entretanto, cominar sanção diferente para a
preterição da solenidade que exige..

Há duas espécies de forma, a verbal e a escrita, confiada a


última a um instrumento que pode ser público ou particular. Quando obrigatória, a
escritura pública é da substância do ato, tratando-se, antes, da imposição de um
ônus que de uma obrigação. A forma escrita pode, no entanto, ser usada
espontaneamente em qualquer de suas espécies.

Alguns doutrinadores reconhecem as formas ad


solemnitatem que se dividem em ad substantiam e ad probationem.

A ad substantiam é aquela que determina que a forma do


negócio jurídico deve necessariamente ser observada pois é da própria substância
do ato, sob pena da vontade não surtir seus efeitos. É o caso, por exemplo, da
exigência de escritura pública para contratos de compra e venda de imóveis acima
de 30 salários mínimos, se eu não fizer a compra e venda por escritura pública o
ato é nulo (artigo 108 CC).

A ad probationem quando a forma se destina a facilitar a


prova do ato.
Aduzem alguns doutrinadores de que não existe esta forma
exclusiva para a prova dos atos, aduzem que a forma ou é livre ou é solene.
Entretanto, os que admitem ser validade esta diferenciação, dizem que o caso do
artigo 1536 é exemplo deste tipo de forma, pois o assento de casamento é uma
formalidade que prova de modo mais fácil a existência do casamento, mas não é
necessário para sua validade, ou seja, o casamento ocorre independentemente do
papel, e sim com a união de duas pessoas de sexos opostos.
Segundo Limongi França existem 03 espécies de formas:

a) Forma Livre: prevista pelo artigo 107 CC, que é a regra


predominante no ordenamento jurídico brasileiro, que determina a liberdade de
formas, afirmando que a forma livre é a regra, enquanto a forma solene é exceção.
Segundo esta regra qualquer meio de exteriorização de vontade é válido no
ordenamento jurídico desde que a própria norma não exija uma forma específica.
Existe, no entanto, uma orientação para que os contratos que
envolvam valores acima de 10 salários mínimos sejam feitos de forma
documentada em virtude do que dispõe o artigo 227 do CC e 401 do CC, que não
permitem a realização de prova exclusivamente testemunhal para comprovar a
existência, em processos, de contratos acima de tal montante.

b) Forma especial ou solene: é a exigida pela lei como


requisito de validade para alguns negócios jurídicos. A exigência das solenidades
em alguns negócios tem por fim assegurar a autenticidade dos negócios, garantir
a livre manifestação de vontade, demonstrar a seriedade do ato e facilitar a sua
prova.
Ex. Artigo 108 CC, 1535 e 1536 do CC que dão uma forma
única de realizar o negócio jurídico; e os artigos 1609 e 1806 do CC, que são de
formas múltiplas, pois dentro das exigências formais para realização do ato, existe
mais de uma forma de fazê-lo.

c) Forma Contratual: è a convencionada pelas partes.


Quando as partes pactuarem que o negócio precisa ser feito de determinada
forma para ter validade. (art. 109 CC)

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