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E.M.

Nº 00151/MD

Brasília, 23 de março de 2010.

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

1. Submeto à superior deliberação de Vossa Excelência proposta de Decreto que


dispõe sobre o modelo de concessão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em
consonância com o disposto no art. 21, XII, “c”, da Constituição Federal, no art. 36 da Lei nº
7.565, de 19 de dezembro de 1986, e no art. 3º, II, da Lei nº 11.182, de 27 de setembro de 2005,
e Decreto nº 6.373, de 14 de fevereiro de 2008.

2. A presente proposta tem por objetivo estabelecer o regime jurídico para a


exploração do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, de modo a garantir a segurança jurídica
necessária para o estímulo e o desenvolvimento da aviação nacional.

3. A expansão da infraestrutura aeroportuária é medida que impõe atualmente na


realidade brasileira. No País, o crescimento acumulado de passageiros de 2003 a 2008 (embarque
+ desembarque + conexão) foi de 59%, enquanto, no mundo, foi de 35%. No ano de 2009, esse
crescimento acumulado no período de janeiro a setembro, no Brasil, foi de 7,3% e, no mundo, foi
de -4,3%.

4. Especificamente no que concerne à aviação nacional, destaque-se que a partir


de 2003 o transporte aéreo cresceu à taxa de 10% a.a. (crescimento médio de demanda anual). A
projeção para o período de 2009 a 2014 revela uma expectativa de crescimento de 51%, sem se
considerar os efeitos advindos da realização da Copa do Mundo. Durante esse evento, estima-se
um incremento de 10% na demanda de transporte aéreo.

5. A projeção para 2014 indica que na maioria dos aeroportos das cidades que
sediarão a Copa do Mundo haverá algum tipo de gargalo na infraestrutura, seja em pátio, pista ou
terminal de passageiro, independentemente da realização do evento.

6. De fato, com relação aos 16 aeroportos da Copa, observa-se que a demanda de


passageiros cresceu em ritmo mais acelerado do que o aumento da capacidade de infraestrutura:
a demanda de passageiros cresceu 55% ao passo em que a capacidade de infraestrutura aumentou
apenas 28%, o que indica a necessidade de investimentos privados no setor.

7. Considerando a necessidade de expansão da infraestrutura aeroportuária e de


participação da iniciativa privada nesse processo, foi editado o Decreto nº 6.373, de 14 de
fevereiro de 2008, no qual restou incluído no Programa Nacional de Desestatização o Aeroporto
de São Gonçalo do Amarante, localizado no Estado do Rio Grande do Norte. A respeito, vale
lembrar que o estímulo à participação do capital privado no desenvolvimento da infraestrutura
aeroportuária foi destacada como ação específica no âmbito da Política Nacional de Aviação
Civil, instituída pelo Decreto nº 6.780, de 18 de fevereiro de 2009.
8. Nessa perspectiva, o Ministério da Defesa, em conjunto com a Agência
Nacional de Aviação Civil (ANAC), cuidou de elaborar a presente proposta de Decreto, com
fundamento no art. 3º, II, da Lei nº 11.182, de 27 de setembro de 2005, por meio do qual se
busca estabelecer regime jurídico aplicável à concessão para exploração do Aeroporto de São
Gonçalo do Amarante - ASGA.

9. É importante esclarecer que esta proposta de Decreto busca adequar os


princípios normativos da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, ao setor aéreo, bem como
incorporar a experiência de outros setores em relação à delegação de serviços públicos. Nesse
sentido, revelaram-se de grande utilidade as disposições normativas vigentes em relação aos
serviços de telecomunicações (Lei nº 9.472, de 16.7.1997), exploração de petróleo (Lei nº 9.478,
6.8.1997), energia (Lei nº 9.427, 26.12.1996), e transportes terrestres e aquaviários (Lei nº
10.233, de 5.6.2001). De fato, muitas das disposições contidas na proposta foram reproduzidas
ou assemelham-se em grande medida às regras aplicáveis àqueles setores

10. Em linhas gerais, a proposta visa abordar aspectos fundamentais de toda


concessão, como situação patrimonial dos bens, reversibilidade, política tarifária, elementos
necessários à elaboração do edital e do contrato, hipóteses de extinção da concessão, atribuições
da Administração Pública Federal, dentre outros temas de igual importância.

11. Assim, a outorga de concessão à iniciativa privada será precedida de licitação.


Ademais, tanto o procedimento licitatório quanto a formalização do contrato de concessão
estarão condicionados à prévia realização de audiência e consulta públicas, bem como à
existência de estudo preliminar de viabilidade técnica, econômica, financeira e ambiental.

12. Buscando resguardar a competitividade no setor, o Decreto coíbe a


concentração vertical, proibindo a participação de empresas prestadoras de serviço de transporte
aéreo no capital votante da concessionária, em percentual superior a 10%, assim como a
participação da concessionária no capital votante de empresas prestadoras de serviço de
transporte aéreo, em percentual superior ao mencionado.

13. Com o mesmo escopo concorrencial, propõe-se que o poder concedente possa
estabelecer condicionantes à obtenção e transferência da concessão, respeitados os três primeiros
anos do ajuste, período no qual não será possível realizar a transferência da concessão. Além
disso, incumbe à ANAC aprovar previamente a cisão, a fusão, a transformação, a incorporação e
a redução do capital da empresa concessionária, bem como a transferência de seu controle
societário ou a subconcessão.

14. No que concerne ao prazo de concessão, o Decreto propõe sua limitação em


trinta e cinco anos, podendo ser prorrogado uma única vez, mediante justificativa, por prazo
máximo igual ao período originalmente contratado. Essa disposição busca alcançar um equilíbrio
entre a indicação de previsibilidade relativa à amortização dos ganhos e a atuação pública na
gestão de vários aspectos, dentre eles o concorrencial.

15. Outro ponto relevante é que eventual interesse militar no aeroporto será
preservado nos contratos de concessão, que preverão possíveis limitações decorrentes desse
interesse, para observância pela concessionária, com base na manifestação do Ministério da
Defesa.
16. Sobre o aspecto econômico regulatório, convém salientar que a ANAC
determinará o teto tarifário a partir de critérios específicos e a forma de seu reajuste. Para o
cálculo do teto, as receitas alternativas poderão ser computadas total ou parcialmente, tendo-se
em vista a modicidade tarifária e, eventualmente, a expansão da infraestrutura aeroportuária.

17. O Decreto atribui à ANAC, em disposição específica, a prerrogativa de definir


a forma de implementação de recomposição do equilíbrio econômico-financeiro, bem como a
faculdade de submeter a execução do contrato de concessão ao regime de liberdade tarifária,
transcorridos dez anos da celebração do ajuste, caso exista ampla e efetiva competição. Registre-
se que o estabelecimento do regime de liberdade tarifária teve como inspiração a regulação do
setor de telecomunicações, especificamente o art. 104 da Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997, e
buscou contemplar um instrumento por meio do qual o interesse público seja atendido de forma
mais adequada.

18. Ao final, o Projeto de Decreto enumera as cláusulas obrigatórias do contrato


de concessão, de natureza geral e específica, além daquelas previstas no art. 23 da Lei nº 8.987,
de 13 de fevereiro de 1995.

19. Cumpre esclarecer que as medidas que ora se apresentam seguem a tendência
mundial de reformular e modernizar a prestação de serviços aéreos. A principal contribuição da
presente proposta está em definir o marco regulatório do setor de infraestrutura aeroportuária, de
modo a viabilizar uma gestão diferenciada para atender a demanda crescente no setor.

20. Ademais, ter-se-á como outros resultados da aprovação deste Projeto o


desenvolvimento do setor, o aumento de satisfação dos consumidores em relação aos serviços
prestados e o cumprimento de compromissos internacionais com padrões de qualidade,
colocando, dessa forma, o País em posição mais vantajosa no mercado de aviação.

21. Por fim, cabe informar que a aprovação da presente proposta não implicará em
aumento de despesas no orçamento da União.

22. São essas, Senhor Presidente, as razões que me levam a propor a Vossa
Excelência a edição do Projeto de Decreto em questão.

Respeitosamente,

NELSON A. JOBIM
Ministro de Estado da Defesa
1. Síntese do problema ou da situação que reclama providências:
Necessidade de, nos termos do art. 3º, II, da Lei nº 11.182, de 27 de setembro de 2005, se
estabelecer o regime jurídico aplicável à concessão para exploração do Aeroporto de São
Gonçalo do Amarante - ASGA, localizado no Município de São Gonçalo do Amarante, no
Estado do Rio Grande do Norte, incluído no Plano Nacional de Desestatização - PND por meio
do Decreto nº 6.373, de 14 de fevereiro de 2008.

2. Soluções e providências contidas no ato normativo ou na medida proposta:


Edição de decreto que disponha sobre o regime jurídico aplicável à concessão para
exploração do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante - ASGA.

3. Alternativas existentes às medidas propostas:


Não existem.

4. Custos:
A medida proposta não acarretará nenhum aumento de despesa.

5. Razões que justificam a urgência (a ser preenchido somente se o ato proposto for medida
provisória ou projeto de lei que deva tramitar em regime de urgência):
Não se aplica.

6. Impacto sobre o meio ambiente (sempre que o ato ou medida proposta possa vir a tê-lo):
Não há.

7. Alterações Propostas: (a ser preenchido somente no caso de alteração de Medidas


Provisórias)
Texto Atual
Não se aplica.

Texto Proposto
Não se aplica.

8. Síntese do parecer do órgão jurídico:


De acordo com o prosseguimento da proposta.
Decreto nº , de de de 2010.

Dispõe sobre o regime jurídico de concessão para


exploração do Aeroporto de São Gonçalo do
Amarante.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe conferem os arts. 76


e 84, incisos II e IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 3 o, inciso II, da Lei no 11.182, de
27 de setembro de 2005,

DECRETA:

Art. 1º Este Decreto dispõe sobre o regime jurídico aplicável à concessão para exploração
do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante - ASGA, localizado no Município de São Gonçalo do
Amarante, no Estado do Rio Grande do Norte, incluído no Plano Nacional de Desestatização - PND por
meio do Decreto nº 6.373, de 14 de fevereiro de 2008.

Art. 2º A concessão para exploração do ASGA se realizará segundo as disposições deste


Decreto e em conformidade com o disposto no art. 8o, inciso XXIV, da Lei no 11.182, de 27 de setembro
de 2005, e das disposições aplicáveis da Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986, da Lei n o 8.987, de 13
de fevereiro de 1995, e da Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004.

Art. 3º Para os fins deste Decreto, a Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC - exercerá
o poder concedente, nos termos da Lei nº 11.182, de 27 de setembro de 2005.

CAPÍTULO I

DAS CONDIÇÕES PARA EXPLORAÇÃO

Art. 4º Os valores dos bens imóveis e de eventuais despesas de indenização a terceiros a


serem levados à conta de capital do aeroporto estarão sujeitos à avaliação da Secretaria do Patrimônio da
União - SPU.

§ 1º A ANAC deverá propor ao Ministro da Defesa a declaração de utilidade pública, para


fins de desapropriação ou instituição de servidão administrativa, de áreas necessárias à exploração do
aeroporto, que, a acolhendo, submeterá ao Presidente da República, na forma do artigo 8º, inciso XXIII,
da Lei nº 11.182 de 27 de setembro de 2005.

§ 2º O edital poderá prever a indicação do responsável pelo ônus das desapropriações


necessárias à execução do serviço ou da obra pública, ou para a instituição de servidão administrativa,
após a declaração de utilidade pública pelo Poder Público.

Art. 5º Para os fins do art. 20 da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, a licitação da


concessão para a exploração do ASGA admitirá a participação em consórcio, que deverá se constituir em
sociedade de propósito específico antes da celebração do contrato de concessão.
Art. 6º Ficam vedadas a participação de empresas prestadoras de serviços de transporte
aéreo, direta ou indiretamente, no capital votante da concessionária em percentual igual ou superior a
10%, bem como a participação da concessionária ou de seus sócios, direta ou indiretamente, no capital
votante de empresas prestadoras de serviços de transporte aéreo, em percentual igual ou superior a este.

Parágrafo único. As restrições previstas no caput poderão ser excepcionadas pela ANAC,
em decisão fundamentada, no caso de concessão de parte da infraestrutura aeroportuária.

Art. 7º A ANAC poderá dispor sobre as regras de atuação da concessionária na prestação


de serviços auxiliares às empresas prestadoras de serviços de transporte aéreo, a fim de assegurar a
competição na prestação desses serviços.

Art. 8º A ANAC poderá estabelecer restrições, limites ou condições quanto à obtenção e


transferência das concessões, a fim de preservar a competição entre aeroportos.

Art. 9º A transferência da concessão será vedada ao longo dos três primeiros anos de
execução do contrato de concessão.

Art. 10 Dependerão de prévia aprovação da ANAC a cisão, a fusão, a transformação, a


incorporação, a redução do capital da concessionária, bem como a transferência de seu controle societário
ou a subconcessão.

Art. 11 Os bens reversíveis resultantes de investimentos realizados pela concessionária não


poderão, em nenhuma hipótese, ser dados em garantia.

Art. 12 O prazo de concessão será de até trinta e cinco anos, podendo ser prorrogado uma
única vez, mediante justificativa, por prazo máximo igual ao período originalmente contratado.

§1º. A prorrogação de que trata o caput só poderá ocorrer para fins de reequilíbrio
econômico-financeiro decorrente de riscos não assumidos pela concessionária no contrato de concessão.

§2º Em se tratando de parceria público-privada, eventual prorrogação deverá estar incluída


no prazo de trinta e cinco anos a que se refere o caput.

Art. 13 O Ministério da Defesa manifestar-se-á sobre eventual interesse militar no ASGA,


indicando, caso necessário, as limitações a serem incluídas no edital e no contrato de concessão.

Art. 14 O serviço de telecomunicações aeronáuticas na área terminal de tráfego aéreo


poderá ser explorado pela concessionária, mediante delegação do Comando da Aeronáutica, observadas
as normas da Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL e do Comando da Aeronáutica.

CAPÍTULO II

DA REGULAÇÃO TARIFÁRIA

Art. 15 Na exploração do ASGA, as tarifas aeroportuárias aplicadas pela concessionária


serão limitadas ao teto determinado pela ANAC.

Art. 16 O teto tarifário será determinado a partir de um dos seguintes critérios, fixados no
edital:
I- a receita, por unidade de passageiro e carga equivalente;

II- um valor que corresponda à média ponderada dos valores das diversas espécies de
tarifas; ou

III- um valor máximo para cada uma das diversas espécies de tarifas.

Parágrafo único. A critério da ANAC, as receitas alternativas, complementares, acessórias


ou de projetos associados, com ou sem exclusividade, poderão ser computadas total ou parcialmente no
cálculo do teto tarifário, com vistas a favorecer, alternativa ou cumulativamente, a modicidade tarifária e
a expansão da infraestrutura aeroportuária.

Art. 17. O teto tarifário será reajustado anualmente, por um índice de preços ao
consumidor, e revisto ordinariamente a cada 5 (cinco) anos, a fim de preservar o equilíbrio econômico-
financeiro do contrato, nos termos do artigo 19 deste Decreto.

Art. 18 A critério da ANAC, a fórmula de reajuste do teto tarifário poderá conter,


cumulativamente ou não:

I - fator de qualidade na prestação dos serviços; e

II - fator de produtividade.

Art. 19. Caberá à ANAC a prerrogativa de escolher a forma pela qual será implementada a
recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do contrato, a favor do poder concedente ou do
concessionário, podendo ser utilizadas as medidas abaixo elencadas, individual ou conjuntamente, sem a
exclusão de outras medidas cabíveis:

I - revisão do teto tarifário;

II - revisão da contraprestação pecuniária do parceiro público, no caso de concessão


patrocinada regida pela Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004;

III - alteração do prazo da concessão.

Parágrafo único. Para os fins do disposto neste artigo, deverão ser observadas as seguintes
condições:

I - serão compartilhadas com as empresas prestadoras de serviços de transporte aéreo ou


com os passageiros, nos termos regulados pela ANAC, os ganhos econômicos decorrentes de novas
fontes geradoras de receitas aeronáuticas, que não tenham sido previstas quando do cálculo inicial do teto
tarifário;

II - a regra de utilização das receitas alternativas, complementares, acessórias ou de


projetos associados, com ou sem exclusividade, poderá ser revista com vistas a favorecer, alternativa ou
cumulativamente, a modicidade tarifária e a expansão da infraestrutura aeroportuária, de que trata o
parágrafo único do art. 16;

III - serão transferidos integralmente às empresas prestadoras de serviços de transporte


aéreo ou aos passageiros, nos termos regulados pela ANAC, os ganhos econômicos que não decorram
diretamente da eficiência empresarial, em casos como o de diminuição de tributos ou encargos legais e de
novas regras sobre os serviços.

Art. 20 A concessionária poderá praticar descontos nas tarifas baseados em parâmetros


objetivos previamente divulgados, tais como:

I - a qualidade dos serviços;

II - o horário, dia ou temporada, com vistas ao gerenciamento da demanda.

§1º Quaisquer descontos nas tarifas definidos conforme os parâmetros deste artigo deverão
ser estendidos a qualquer usuário que atenda às condições para a sua fruição.

§2º Os descontos praticados pelo concessionário em relação ao teto tarifário não poderão
ser utilizados como fundamento para sua revisão.

§3º Caberá à ANAC compor, administrativamente, conflitos de interesses que envolvam o


concessionário e as prestadoras de serviços aéreos acerca dos parâmetros utilizados para a prática dos
descontos.

Art. 21 Transcorridos dez anos da celebração do contrato de concessão, a ANAC poderá,


se existir ampla e efetiva competição, submeter sua execução ao regime de liberdade tarifária.

§ 1° No regime a que se refere o caput, a concessionária determinará suas próprias tarifas,


sem as limitações previstas nos artigos 15 a 19, devendo comunicá-las à ANAC.

§ 2° Ocorrendo aumento arbitrário dos lucros ou práticas prejudiciais à competição, a


ANAC restabelecerá o regime tarifário previsto nos artigos 15 a 19, sem prejuízo das sanções cabíveis.

CAPÍTULO III

DO EDITAL E DO CONTRATO DE CONCESSÃO

Art. 22 A elaboração do edital de licitação e do contrato de concessão observará a


realização de prévia audiência ou consulta públicas, bem como a existência de estudos prévios de
viabilidade técnica, econômica, financeira e ambiental.

Parágrafo único. Na hipótese de ser definida a modalidade de concessão comum, utilizar-


se-á como critério de julgamento da licitação o maior valor oferecido pela outorga.

Art. 23 No contrato de concessão constarão, obrigatoriamente, as cláusulas estabelecidas


no art. 23 da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, além de cláusulas relativas:

I - ao valor do contrato e sua remuneração;

II - aos critérios de alocação de riscos entre o poder concedente e o concessionário;

III - às condições de reequilíbrio econômico-financeiro;

IV - às regras para transferência do controle societário da concessão;

V - às regras para assunção do controle da concessão por parte dos financiadores;


VI - às garantias securitárias em relação aos bens e à responsabilidade civil;

VII - aos níveis de serviços (parâmetros de qualidade) que deverão ser atendidos pela
concessionária na execução do contrato e que poderão gerar a necessidade de realização de investimentos,
bem como a previsão das sanções em caso de não atendimento dos níveis exigidos;

VIII - à necessidade de certificação aeroportuária;

IX - à vinculação às autorizações pertinentes expedidas pela ANAC, e às condições para


suas revisões;

X - aos bens da concessão e à especificação patrimonial do sítio aeroportuário;

XI - à parcela das receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos


associados, com ou sem exclusividade, que será utilizada, alternada ou cumulativamente, para a
modicidade tarifária e para a expansão da infraestrutura aeroportuária;

XII - às regras para a atuação da concessionária na prestação de serviços auxiliares às


empresas prestadoras de serviços de transporte aéreo;

XIII - à atuação dos órgãos públicos no sítio aeroportuário.

Parágrafo único: Na hipótese da sujeição da concessão ao regime de liberdade tarifária, o


mecanismo de alocação de risco entre o poder concedente e o concessionário será ajustado às condições
do novo regime.

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÃO FINAL

Art. 24 Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, de de 2010; 189º da Independência e 122º da República.


Consultoria Jurídica do Ministério da Defesa

EMENTA: Minuta de Decreto. Regime de Concessão para a exploração do Aeroporto de São


Gonçalo do Amarante - ASGA. Análise dos aspectos jurídicos da disciplina. Parecer pela
constitucionalidade e legalidade das disposições.
NUP Nº 00800.0033923/2010-11

PARECER N°
N° 150/CONJUR/MD-2010

Sr. Consultor Jurídico,

I - RELATÓRIO

1. Vem para o exame desta Consultoria Jurídica proposta de Decreto, oriundo da Agência
Nacional de Aviação Civil - ANAC, por meio do qual se pretende estabelecer as regras que compõem o
regime jurídico das concessões para exploração do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante - ASGA.
2. Conforme é relatado no documento de encaminhamento, a presente minuta de Decreto é
encaminhada a este Ministério da Defesa nos termos do art. 3º, II, da Lei nº 11.182, de 27.9.2005, no qual
se prevê que a autarquia deverá elaborar proposta de modelo de concessão da infraestrutura aeroportuária,
a partir das orientações, diretrizes e políticas estabelecidas pelo Conselho de Aviação Civil - CONAC,
para apreciação e aprovação do Presidente da República.
3. É o relatório.

II - ANÁLISE

4. A questão que se coloca em análise desta CONJUR diz respeito à reflexão de aspectos
jurídicos do modelo de concessão proposto pela ANAC para a exploração do ASGA, a fim de que se
possa averiguar a compatibilidade das medidas e, assim, atestar o pleno cumprimento do art. 3º, II, da Lei
nº 11.182/2005.
5. Nesse sentido, cumpre apresentar, inicialmente, o ambiente normativo em que está inserida
a matéria.
6. A Constituição Federal atribuiu à União a responsabilidade pela exploração da
infraestrutura aeroportuária. No ponto, também previu, expressamente, a possibilidade de a exploração
ser realizada tanto diretamente pelo Ente central como indiretamente, isto é, por meio dos institutos da
concessão, permissão e autorização. Nesse sentido, verbis:

Art. 21. Compete à União:


(...)
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
(...)
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária; (destacou-se)

7. O advento da norma constitucional supratranscrita permitiu a recepção da disposição do


Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei nº 7.565, de 19.12.1986) que contempla a possibilidade de
exploração de aeródromos públicos pela iniciativa privada, por meio de institutos próprios de delegação
administrativa:

Art. 36. Os aeródromos públicos serão construídos, mantidos e explorados:


I - diretamente, pela União;
II - por empresas especializadas da Administração Federal Indireta ou suas subsidiárias,
vinculadas ao Ministério da Aeronáutica;
III - mediante convênio com os Estados ou Municípios;
IV - por concessão ou autorização. (destacou-se)

8. Com a edição da Lei nº 11.182/2005, foi atribuído à Autarquia o mister de elaborar a


proposta de regime jurídico da concessão para a exploração da infraestrutura aeroportuária. Nesse
sentido:

Art. 3º A ANAC, no exercício de suas competências, deverá observar e implementar orientações,


diretrizes e políticas estabelecidas pelo Conselho de Aviação Civil - CONAC, especialmente no que se
refere a:
(...)
II - o estabelecimento do modelo de concessão de infra-estrutura aeroportuária, a ser submetido ao
Presidente da República;

9. Observa-se, nos termos acima, que a apresentação da proposta há de seguir orientações,


diretrizes e políticas previamente estabelecidas pelo CONAC. Referidas orientações, diretrizes e políticas
são materialmente veiculadas por meio de Resoluções, editadas periodicamente por este Conselho,
conforme é previsto no art. 3º, § 2º do Decreto nº 3.564/2000.
10. Por fim, cumpre lembrar que, mais recentemente, foi editado o Decreto nº 6.373, de 14 de
fevereiro de 2008, por meio do qual foi incluído o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante no Programa
Nacional de Desestatização - ASGA, em conformidade com o que dispõe a Lei nº 9.491, de 9.9.1997.
11. Nesse contexto, a determinação do regime jurídico da concessão aplicável ao ASGA é
medida que se impõe, a fim de que sua exploração pela iniciativa privada seja considerada válida. E, para
que sejam garantidas a legitimidade e a efetividade das medidas, a conformação jurídica da proposta
veiculada pela ANAC há de ser prévia e minunciosamente examinada por esta CONJUR.
12. A primeira questão que se coloca diz respeito ao cumprimento do rito estabelecido em lei
para a elaboração da disciplina (art. 3º, II, da Lei nº 11.182/2005). Nesse sentido, observa-se, a partir das
informações fornecidas pela Secretaria de Aviação Civil que a proposta tem como amparo orientações,
diretrizes e políticas anteriormente manifestadas pelo CONAC. Ainda, trata-se de documento aprovado
pela Diretoria da Autarquia e encaminhada ao Ministro de Estado da Defesa para posterior envio ao
Presidente da República. Logo, conclui-se pela adequação da tramitação da matéria no âmbito da
Administração Pública Federal.
13. A seguir, cumpre investigar a adequação jurídica das medidas formuladas.
14. Estruturalmente, o documento apresenta 24 (vinte e quatro) artigos, dispostos em 4
(quatro) capítulos, a saber:

1. Das condições para exploração


2. Da regulação tarifária
3. Do edital e do contrato de concessão
4. Disposição final

15. Tal organização indica, desde logo, que os pontos de relevância para a construção do
regime jurídico de concessão estão sendo tratados no documento. E, a partir da leitura dos respectivos
artigos, confirma-se o pensamento acima.
16. De fato, a exemplo dos modelos estabelecidos para outros setores, como os de
telecomunicações (Lei nº 9.472, de 16.7.1997), petróleo (Lei nº 9.478, 6.8.1997), energia (Lei nº 9.427,
26.12.1996), e transportes terrestres e aquaviários (Lei nº 10.233, de 5.6.2001), a proposta aborda
aspectos fundamentais de toda concessão, como situação patrimonial dos bens, reversibilidade, política
tarifária, elementos necessários à elaboração do edital e do contrato, hipóteses de extinção da concessão,
atribuições da Administração Pública Federal, dentre outros temas de igual importância. Muitas das
disposições contidas na proposta foram reproduzidas ou assemelham-se em grande medida às normas
vigentes para aqueles setores.
17. Ainda nessa perspectiva, observa-se que a disciplina proposta pauta-se nas diretrizes
estabelecidas pela Lei nº 8.987, de 13.2.1995, e apóia-se na experiência normativa de setores que, nos
últimos anos, observaram a participação da iniciativa privada.
18. Dessa maneira, restam minimizados os riscos de questionamentos inoportunos e de
dificuldades regulatórias futuras.
19. No mérito, cabe sugerir, no art. 14 da proposta, tão somente a modificação do termo
autorização para delegação, termo mais adequado na espécie, nos termos do que prevê o art. 8º, § 6º, da
Lei nº 11.182/2005.
20. Com relação aos aspectos formais do documento, inexistem observações a serem feitas, na
medida em que a articulação está redigida de forma clara, concisa e lógica, segundo se exige pela Lei
Complementar nº 95, de 26.2.1998 e pelo Decreto nº 4.176, de 28.3.2002.
21. Pelas razões acima, conclui-se pela constitucionalidade e legalidade da proposta.

III - CONCLUSÃO

22. Pelo exposto, conclui-se que a proposta que estabelece o regime de concessão a ser
aplicável ao Aeroporto de São Gonçalo do Amarante - ASGA é constitucional e legalmente válida,
estando apta para decisão de seu envio ao Exmo. Sr. Presidente da República.
23. À consideração superior.

Brasília, de março de 2010.

LEONARDO RAUPP BOCORNY


Advogado da União - CONJUR/MD

DESPACHO DO CONSULTOR JURÍDICO

1. Aprovo o PARECER Nº /CONJUR/MD-2010.


2. Encaminhe-se a matéria ao Exmo. Sr. Ministro da Defesa.

Brasília, de março de 2010.


VILSON MARCELO MALCHOW VEDANA
Consultor Jurídico do Ministério da Defesa

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