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cea CONDOMINIO DO DIABO igreja planejam salvé-lo desses vizinhos ¢ do diabo. A batalha, nao mais i Jy. ZaLuar, A. @clemems ls Dyed , QV) GPRS, 4444, By A autoridade, o chefe e 0 bandido: dilemas e saidas educacionais A sociedade brasileira ¢ extremamente contraditéria ¢ com- Plexa. Como qualquer outra formagio social, ela é mista, e é impossi- yel encontrar ios unfvocos ¢ claros que sirvam de chave para ferpretar sua estrutura, sua cultura ou sua ideo de partida ou de entrada significa ter um angul s € deixa na penumbra ou distorce outros. Falar brasileira pelo lado de suas manifestagdes violentas nio significa, pois, abarcé-la como total natureza (0 que jd sabemos ser imposstvel), mas simplesmente apontar ‘mecanismos que revelam o que pode vir a ser 0 seu ponto negro; aquele que, em vez de movimenté-la ¢ reinventé-la, destruindo velhas estrutu- tas ¢ construindo novas, parece ameagar engolila e fazé-la desaparecer enquanto sociedade, isto é, associacio entre individuos livres ¢ enquan- idade, que cria identificagdes e pertencimentos favoriveis a uma sociabilidade intensa e criadora de lagos sociais durdveis entre pes- soas O esgargamento do tecido social ¢ a substituiszo do uso das pala- vras na negociacio dos conflitos pelos atos violentos é fato notado por virios estudiosos da sociedade brasileira atual. Apesar do tom pes vendo uma destruigio iminente. Estou perfeita cionamento de outros mecanitmos que, contra jente, a levam na direcdo oposta a que vou apontar aqui. A destituigao de um presi- dente acusado de corrupszo, o julgamento e prisio dos principais che- fes da contravengio (os bicheiros) realizados pela Justica do Rio de Janciro, a mobilizasao dos moradores pobres de favelas contra a ago de grupos de extorsio ¢ exterminio formados por policiais, sio sinais claros de que as ligagées perversas comegam a ser destrufdas. Mas a ameaga do ponto negro ficard afastada mais anos-luz na proporgio do conhecimento e da capacidade institucional de lidar com os proble- ‘mas apontados, sta, devo esclarecer que nao estou pre- cénscia do fun- Comegaremos com a prépi nosio de autoridade, cujos sig- nificados de senso comum sio mii i los e nfo seguem uma muito 255 CONDOMINIO DO DIABO arrumada definigao sociol6gica. Como vérias nogdes de uso na c wna, trata-se de um rermo polifénico. Além dis- \égico, € preciso separar autoridade (c mamente enganador, visto que as culturas trl casio por serem holistas ¢ hierérqui idade que pouco tém em comum. A dl dendo o seu sentido especifico por englobar sociedades tio diferen: das, algumas baseadas em lacos de sangue, outras em vinculos politi- cos ou religiosos de natureza diversa. ‘Atendo-se as sociedades ocidentai: 1972) nao confunde a est nna desigualdade entre um nivel e outro inerente & outras formas de poder, baseadas na coergio. © autoritarismo como forma de governo basear-s 0, pelo Estado, dessa eserutura hierarquica ¢ h \do-se na desigual- is tendo ainda um corpo de leis a0 qual se deve obedecer. Na tirania ou despotismo, o tirano, de fora da sociedade, imporia o governo de um contra todos, estabelecendo uma igualdade entre os membros da sociedade que se submetem a ele. No totalitaris- ‘mo, um poder localizado dentro da sociedade, mas num espago vazio central, comandaria as diversas organizages € movimentos que dao & sociedade uma estrutura de cebola, fechada para fora ¢ voltada para dentro, garantida pelo condicionamento cotidiano dos seus membros i tada obediéncia e pelo funcionamento de um A aurora é enfitica quando afi jonal, exclui au em legi coergio. De fato, a autoridade se bas quem deve ser obedecido, e em que espacos ¢ por meio de que valores cla, onde a forca é usada, a autoridade fra- idade seria incompativel com o uso da argu- € regras. Por um lado, di cass0u; por outro, a a 256 A autoridade, o chfe eo bendida: dilemas ¢sadas educecionait. mentacio para persuadir ou dialogar, que operam na igualdade entre interlocutores. Por isso, fala de uma crise de autoridade no mundo moderno. Tendo desaparecido como forma de governo hierérquico, cujo exemplo mais claro teria sido 0 dos reinos catélicos, governados rmanecido nas “Areas pré-pol cas”, ou seja, fora do espaso puiblico, especialmente Ihos e na educagio ‘em virtude do desamparo da infancia e das necessidades da socializagéo. Durante o século XX até mes: autoridades tradicionais do mundo privado ou da sociedade ci riam desaparecendo, destru(das pelas novas formas de governo, em especial o totalitarismo. Essas observasdes sio importantes porque chamam a atencio para uma inversio do sentido do termo “autoridade” no Brasil. Hoje, 2 palavra no esti reservada para os mais velhos, para os que, nas esfe- ras da vida privada ou doméstica, legitimamente tém a fungio de edu- car os mais novos. Ao contrério, ela é mais comumente usada para se referir as autoridades, representantes do Estado, no palanque de um ritual cfvico, ou aos ps que exigem 0 “acato a autoridade”, sob pena de ir-se prisio. No discurso nio-oficial, no entanto, ela € em- pregada com ironia e até deboche para designar as:*toridades”, en- carnados nos funciondrios indiferentes, ignorantes ou mesmo bo: que representam o Estado nacional nos balcées put 4 populacéo ou na via pil Aparentement srarquica ¢ desigual serviu para montar 0 aparato in: icano, independentemente de continuar ou nao nas estruturas hierdrquicas da sociedade, as quais ndo eram reconhecidas por essa autoridade estatal repressiva, que tendia a igualar a todos diante das Cujos direitos nao chega- dos nas relacées entre a sociedade e 0 Estado. Assim que a crise de legitimidade das figuras tradicionai encontrava em processo acelerado, i ar, quando jd se havia esvaziado a autoridade desigualmente dit buida pelos escaloes do governo, Restou, portanto, 0 uso cada vez maio- + da fora bruta no seu brago mais préximo das pessoas comun: — para segurar esta estrutura piramidal carcomida e sem legi idade social, isto é, que néo mobiliza as estruturas de significagio dos membros da sociedade. CONDOMINIO DO DIABO Numa inversio do arranjo cléssico, aqui o puiblico invadiu 0 privado e apossou-se de seu mecanismo de obediéncia e respeito para Encobrie uma forma coercitiva ¢ violenta de dominagao politica. No Brasil republicano, a autoridade tornou-se férsica. O termo “autorité- rio” passou a fazer sentido nesta situagio de uso indevido do termo “autoridade” para camuflar um poder nao mais derivado do valor moral do superior hierdrquico que acumula as fung6es educativas, na medi- dda em que servem de exemplo para as geragSes seguintes, ¢ a fungio de governar, o que se aplica tanto aos que fazem parte do poder executi- Yo, quanto & classe politica e as elites. Num nivel mais profundo porque societal (ou cultural), a ‘mesma perversio da sociedade hierdrquica nao mais bascada na legiti- midade da autoridade tradicional manifesta-se na importancia da fi- gura do chefe, tanto no espaco piiblico quanto no privado. Ao contré- rio do que afirmam os monarquistas brasileiros, nao é a do rei a figura mais disseminada no imagindrio popular brasileiro. E a do chefe. Lon- ge de ser, porém, a encarnacio da autoridade respeitada, este chefe nas, suas verses mais atuais é um sujeito que abusa do arbitrio, do ro e da forga para impor sua vontade. Ele est presente nas associagbes recteativas e residenciais de forma amenizada; esté presente nas seg6es ou diregées dos partidos politicos mais populares ¢ revela toda a sua vocacio despética nas organizagdes criminosas, agora muitas vezes centrelacadas as do poder piblico. O exemplo paradigmético deste che- fe seria 0 “bicheiro” rico, truculento e dependente de agbes de forca para marcar o seu dominio e o seu poder sobre 0s outros. Com ele, inaugura-se uma nova forma de clientelismo, nto mais centralizado na figura paterna do patrio ou padrinho, cuja rela- do com o seu protegido estava baseada nos valores do Catoli pelos quais ele se tornava o tutor da honra e da moral dos seus afilha- dos — criangas ¢ clientes. Mesmo quando transposta para o mundo politico, esta relagio poderia ficar a salvo da corrupgio ¢ da fraude, visto que o afilhado deveria votar de acordo com a orientagao de seu padrinho ea lealdade pessoal bastava neste caso. Todos os cientistas, sociais que estudaram 0 fendmeno do coronelismo apontam os lacos, fortes morais entre 0 coronel e seus seguidores, especialmente os con- sagrados pelo compadrio. Os jagungos que formavam a sua guarda no 0 protegiam.dos seguidores, mas dos seus rivais fazendeiros'. E claro que isto nao eliminava totalmente as relacées de forca ¢a violéncia, usadas, sempre que um conflito interpessoal (frise-se aqui 0 pessoal) dividisse 258 A autoridade, o chefe 0 bandide:dilemas ¢ saldas educaconais Patrées ¢ clientes ou colocasse em campos opostos os homens livres da sociedade escravocrata (Carvalho Franco, 1974), mas a sua articula- 40 com esses vinculos morais conformava uma situagao bem dife- rente da atual, na qual a violéncia se articula com os principios do individualismo egoista no mercado. Na versio atualizada, o clientelismo no Brasil de hoje se apro- xima do das maquinas politicas, do bossismo americano, que se valem do poder de compra do dinheiro (¢ nio mais de lagos morais) e cujo feito corruptor é bem conhecido. Por isso, 0 “chefe", 0 “homem”, 0 “cabega", o que “esté de frente”? ¢ considerado um patrio firsico, sem as qualidades morais atribuidas a0 patréo no registro tradicional (Zaluar, 1985). Nao tem autoridade nem induz respeito, mas conse- gue obediéncia através do medo pelo seu poder (ou o de perseguir politicamente seus desafetos uma ver eleito, no caso dos politicos, ou pelo poder de fogo de sua quadrilha, no caso dos empresarios do cri- me). O seu cardter despético é revelado pelos nomes usados para designé-lo: “homem”, porque os que a ele se submetem adquirem ca- racter{sticas do feminino; “cabesa”, porque, estando acima dos outros, €0 tinico que pensa, age, e € portanto livre, os outros sendo seus me- tos escravos; “de frente”, porque nio lidera como alguém que esté & frente e conduz seus seguidores para algum lugar buscado por todos, mas os defronta como quem esti de fora. Além disso, o clientelismo é conhecido por segmentar a soci- edade, dificultando as associacSes que envolvam varias categorias de grupos religiosos, étnicos, sexuais, ou de residentes locais, e estimu- lando a corrupsao, a falta de espirito puiblico ¢ a consequente defesa de interesses particulares, muitas vezes sem a necessétia ci respeito mituo. Rispidez, respostas violentas 4 menor provocacio de- monstram incapacidade de negociar diferencas ¢ conflitos, 0 que au- menta o nivel de violencia na sociedade. Desse modo, pode-se dizer que este clientelismo, embora nao desvinculado inteiramente do Esta- do e da cidadania (Badie, 1991), nao contribui para desenvolvé-la no sentido individual de civilidade no tratamento com o outro, nem na formacio de identidades polfticas mais amplas. A definigao restrita de cidadania enquanto reclamagio ou rei- vindicagio a0 Estado perde essa dimensio — a civilidade — da cida- dania e a restringe a aspectos materiais apenas. No sistema escolar isso se manifesta no foco em construir prédios novos para escolas em vez 259 CONDOMINIO DO DIABO de desenvolver novos projetos pedagégicos, bem como na substituigéo de servigon assistenciais pela preparagto dos professores para suas ta- tefas eduicativas justo a grupos de diferentes origens sociais ¢ étnicas. © clientelismo, por criar.segmentagées, dificulta também a jalizacio das comunidades mais abrangentes. O paroquialismo fica sempre no horizonte como estreitamento das perspectivas e das possi- idades de associagéo, Quando o clientelismo se associa ao autorita- rismo, provoca, além do estreitamento de horizontes de comunida- des de referencia, uma corrupgio da prépria idéia de comunidade, na medida em que sublinha os interesses materiais particulares. Por isso mesmo, pode ser entendido como um sistema da tirania multicentrada, com problemas opostos aos do totalitarismo. Contudo, como qual- quer tirania, também se acompanha de bandidos ¢ servigais que pas- sam a substituir os leais amigos ¢ servidores. significado da amizade, quando envolve relagbes politicas, 4 portanto, igualmente redefinido. Se ela cria elos duradouros com pessoas fora dos grupos de parentesco mais préximos, razio pela qual tem grande importincia no Mundo Clissico (Fraisse, 1984), no clien- telismo ela se torna firsica, como a prépria patronagem. Neste caso, ela vem a ser a prépria idéia da falsidade, pois no senso-comum da populagio do Rio de Janeiro a amizade verdadeira ¢ oposta & politica, ico amigo 20 politico interesseiro (Zaluar, 1985). Nos novos arranjos partidarios e clientelistas, o interesse particular, privado, sem- pre predomina sobre o coletivo, o puiblico. Nas relagoes interpessoais, horizontais ou verticais, este fato muda a sociabilidade que deixa de se guiar por valores morais e passa a ser orientada pela hipocrisia, a men- , a adulacdo, nas quais 0 préprio povo, como acontece na demago- gia, pode ser objeto dessas transagées interpessoais baseadas na farsa (Starobinski, 1989/90). ‘Como um fendmeno da modernidade, jd que rompe com as exigéncias morais que submetem as pessoas a lagos de lealdade, esta tirania de muitos focos emancipa as paixdes individuais, especialmen- te a competigio (segundo as teorias de Maquiavel, Hobbes, A. Smith Hegel, apud Strauss, 1954, 306-7). Nao tem, contudo, o cariter si- nistro do totalitarismo do século XX que estendeu ainda mais seu de- sejo de poder e reconhecimento universal através do uso controlado e ‘manipulativo da tecnologia, da ciéncia e da ideologia e que, por isso mesmo, investiu tanto na educagio. A tirania moderna e multicentrada, 260 A ausoridade, 0 chefe 0 bandide:dilemase seldeseduceconais além de substituir a autoridade pela forca, cria um vazio de ordem; preenchido pela violéncia, onde os mecanismos educacionais deveri. am funcionar. A incivilidade e & incapacidade de negociar, adicione-se «a incapacidade de exercer compaixio ou empatia, isto é, de se colocar no lugar do outro, Em vez disso, a rapidez em colocar rétulos e em identificar os inimigos ou culpados, junto com a rapidez de justigé- los através da violencia. Assim, na relagio entre estranhos ou com os jue estdo fora da comunidade definida restritamente, predominam os ichamentos simbélicos ¢ fisicos?. Neste tipo de relagao entre sociedade e Estado, por ter que se submeter a poderes nio legitimados que usam ¢ abusam da forsa, os homens tornam-se suscetiveis a qualquer provocacio, interpretada como ameaca a sua honra ¢ integridade masculina. A mesma futilida- de de motivos notada por Carvalho Franco (1974) em relacio aos ho- mens livres no Brasil escravocrata, nota-se agora na populacio brasi- leita, em especial nos jovens pobres ¢ de cor. Pelos dados do Ministé- da Saude, no municipio do Rio de Janeiro em 1988 o niimero de mottes por causas externas (6.008) ficava em terceifo lugar, perdendo apenas para as mortes por doencas do aparelho citculatério (19.482) e neoplasmas (6.323). Contudo, enquanto as mulheres, principalmente as de mais-de 60 anos, sio igualmente vitimas de doencas do aparelho circulatério (48,79), os homens, principalmente na faixa de 15 a 39 anos (84%), sio as vitimas quase que exclusivamente das mortes por causas externas. Em acidentes de trinsito morreram 1.583 pessoas, das quais 75% eram homens; em homicfdios intencionais 561 pesso- as, das quais 92% eram homens, afora as mortes provocadas por “ou- tras violéncias” (nio especificadas), que somam 3.136 pessoas. Quan- do se agregam as estatisticas de mortalidade por violencia, os resulta- dos sio impressionantes: na regio metropolitana do Rio de Jai em cada 100 mil habitantes, 95 morrem assim. Na Baixada Fluminen- se, essa taxa atinge 108 pessoas em cada 100 mil habitantes. Quando 08 dados sio divididos por faixa etéria e sexo, a situagao revela-se ain- da mais perversa, pois sio principalmente jovens do sexo masculino que terminam assim. Na média geral brasileira, morrem quatro ho- mens para cada mulher, mas na faixa dos 15 aos 29 anos morrem 8 homens para cada mulher e, em alguns municfpios da regido metro- politana do Rio de Janeiro, essa taxa diferenciada atinge o valor de 15 homens para cada mulher. A partir de 1987, os homicidios (intencio- nais ou dolosos) passaram a frente das mortes por acidente de trénsito 261 CONDOMINIO DO DIABO (homnicidios culposos) e hoje os superam em cerca de 30%, afetando rincipalmence Or jovens pobres ¢ de cor que estio deixando a ecola, Por que no Brasil a lei desprendeu-se da moralidade da popu- lagdo © nfo conseguiu limitar os excessos do individualismo egofsta ‘no mercado nem o poder corruptor do dinheiro parece-me ser a ques- tdo fundamental para se desfazer 0 6 cultural-institucional que ali- ‘menta o caréter despotico das relagdes de poder na sociedade brasilei- rae, conseqiientemente, 0 vazio educacional que nos preocupa. O co- nhecido padrao clientelista da formagao social brasileira‘ marcou tam- bém o desenvolvimento capitalista, que se fez por regalias e financia- mentos generosos conseguidos junto ao governo. O capitalismo brasi- leiro, tardio, pés-ético, pés-moderno, pés-sociedade do trabalho, em que 0s efeitos do consumismo ¢ do hedonismo jé minaram os valores sociais agregadores e as autoridades tradicionais, transformou muito rapidamente a sociedade brasileira sem criar uma engenh: cional para limitar as tendéncias destruidoras do tecido social, porque baseado na busca do lucro e do interesse proprio’. Enquanto nos paf- ses do primeiro mundo a cultura do capitalismo baseou-se em dois mecanismos — a moeda ¢ a lei — aqui ficamos sob a tirania dessas relag6es sociais dominadas pelo dinheiro, jé que nao conseguimos ainda nem moeda confiivel, por causa da inflacio, nem lei legitimada, por causa da impunidade dos poderosos. O dinheiro, na sua capacidade de corromper tudo e inflacionar todas as transag6es — tanto as econé- micas quanto as politicas — passou a dominar de modo especialmente claro a cena no crime organizado, o que apenas leva a0 paroxismo uma tendéncia presente na atividade empresarial legal’. Mas 0 crime empresarialmente organizado se alimenta da clandestinidade e da ile- galidade, criando tal violéncia que um novo medo produz efeitos alar- mantes sob varios aspectos e comega a ameacar a propria democracia. (© sincretismo entre valores pés-modernos ¢ individualistas baseados num uso negativo da liberdade, porque feito contra a liber- dade dos outros, e os principios hierérquicos despidos de sua forca moral pode explicar a ascensio do “chefe” despético e cfnico. Em pa- {ses em que a lei, em vez de impor limites a0 dinheiro, deixa-se sedu- zir por ele, 0 aciimulo de riquezas e dos instrumentos da violéncia si0 fundamentais para capacitar as pessoas na resolugio de conflitos. Os meios modernos de ascender socialmente se fazem também pela posse de dinheiro e acesso aos favores, privilégios e concessdes do poder pi- 262 A autoridade,o chefe «0 bandido: dilemas ¢stdas educeconcit. blico. Num sistema assim, muito pouco interesse passa a ter a educa- Gio, seja como politica publica, seja como meio de ascensio social ¢ da conquista de direitos para a populagio. Desse modo, o futuro da educagio a longo prazo se entrelaga com o fortalecimento dos direitos individuais do cidadao e o funcionamento eficiente do Judiciario, Além do mais, 0 uso da forga nas relacées de poder, em subs- tituigdo & autoridade, ¢ o esvaziamento dos processos educativos, em nome as veres do liberalismo do “deixar fazer”, 86 que aplicado as criangas, sio faces opostas de uma mesma moeda. Por isso ocorrem concomitantemente no Brasil, caracterizando a conhecida oscilacio ou alternancia que vai da rigidez ou violéncia para a permissividade, ‘ou do auroritarismo para perfodos de fraqueza institucional mistura- da a priticas liberais. O processo aparentemente inverso ao do autori- tarismo praticamente aboliu a autoridade nas 4reas do mundo privado das classes sociais mais abastadas, nas quais tentou-se uma substitui- ‘40 rdpida do dictum do mestre ou pai pelo argumento persuasive di- rigido Aqueles que ainda nao foram socializados nas regras da convi- véncia social e muito menos da argumentagio ldgica. Todavia, o resul- tado dessa rdpida transformagio dos processos de socializagio das cri- angas ¢ jovens foi como que um abandono do préprio sentido da edu- casio € dos princ{pios dialégicos da argumentagio, que implicam 0 reconhecimento do direito do outro. Em primeiro lugar porque as raticas desenvolvidas neste processo nao foram as da persuasio ¢ do didlogo, que ctiam a relagao igualitéria entre interlocutores, mas as de deixar fazer o que o “educando” quisesse, dando-lhes apenas essa di- mensio negativa da liberdade que pode se voltar contra 0 outro e negi- la por estabelecer com ele uma relagio de senhor-escravo. Em segundo lugar porque, por sua situagao de aprendizes, as criangas ¢ jovens es- tao ainda se tornando aptos a participar de uma relacio igualitéria nesses moldes. Para ser mais clara, eu coloco uma diivida. Serd que, a0 esta- belecer um falso igualitarismo entre pais ¢ filhos, mestres ¢ alunos, excluindo os que estio fora dessas relagdes préximas, nao se abando- nou a prépria idéia de educacio? Serd que, por se negar a estabelecer ites adb filhos ¢ aos alunos ou a ensinar a civilidade na relagéo com 0s outros, nio se tornou impossivel a socializagio para uma sociedade democrética? Este pretenso liberalismo “do deixar fa- zer" na verdade cria chefes despéticos que nio se submetem a nada ¢ - 263 CONDOMINIO DO DIABO. jores, 0 que nada tem a ver com cidadania numa sociedade democritica. No setor que particularmente nos interessa — o dos jovens das classes populares, os que sio “evadidos” da escola e recrutados fa- cilmente para morrerem nas disputas infinddveis entre quadrilhas entre estas ¢ a policia — a ideologia da chefia truculenta ja se dissemi- entre eles, o negécio da droga é extremamente lucrativo € nimo de guerra. Para segurar uma boca-de-fumo, o chefe © que nao acontecia durante a década de 70 quando o tréfico era mais modesto quase familiar: mulheres partici- pavam, os lucros eram comedidos, a freguesia era relativamente redu- zida e conhecida e a entrega ficava por conta do caminhoneiro, tam- bém conhecido. Hoje, o "homem de frente” tem que manter todos os seus comandados na linha, tem que olhar para os lados e ver se o$ seus concorrentes nao estio crescendo demasiado, vendendo mais ou me- Ihor e tendo mais gente armada na quadrilha; tem que cuidar do ¢ pagar direito o seu fornecedor, que jé nio é mais apenas um “homem do caminhao”. Criou-se uma cultura viril baseada no poder do mais forte. Nas classes populares, 0 vazio do proceso soci também noutro registro. Os filhos, no contexto urbano, ser um investimento para 0 futuro e passaram a ser um peso, tanto maior guanto mais pobre e populosa a familia e quanto mai ico, quer por indiferenga moral e peicolggica,tignificow das fung6es maternas, agora também apontada como a responsivel pela moralidade da familia. Dos filhos, ouve-se freqiien- temente quando falam sobre as raz6es pelas quais no se envolveram na criminalidade violenta: “minha mie me deu moral”. Os que se en- volveram apresentam um perfil revelador: 679% deles vem de familias nucleares completas, mas quase todos mencionam dificuldades de re- lacionamento com o pai, seja porque esteve ausente fisicamente, seja Porque nio se incomedou com o filho e apenas o espancava ou expul- estava viciado em drogas ou en- volvido com bandidos e com a polfcia. Avcscola é estabelecidas pelas qua ida, porque as priticas violentas as jf estdo dentro dela e os seus alunos 264 OO ___—— A cutaridade, o cafe 0 bendido:dilemas ¢ aides educeconais cada ver mais afetados pelo fascinio exercidos pelos seus chefes. En- quanto no se aparelhar para enfrentar esses desafios, participando de uma discussio publica sobre a questio da droge cdo trfico, a excola da negagio a que se refere Habermas. Apesar de apontar os processos que se passam no interior das rigida entre 0 trabalho regular e penoso, irtudes, e 0 mie de todos os vicios. Os republi dar uma feigio moralista e repressiva a0 trabalho, foram os princ mentores desta politica que resultou na repressio as formas de expres- sfo cultural dos brasileiros negros e mulatos, assim como na detencio, dos classificados como vadios ¢ desordeiros. Nos célculos de Boris Fausto (1984), os ntimeros de detidos desta forma correspond 86% de todas as prisdes entre 1912 € 1916. Os que haviam cometido crimes, assim definidos no Cédigo Penal, eram cerca de 14% deste total. E o que é mais importante, enquanto os brasileiros (em geral negros e mulatos) eram logo tachados de vadios, os estrangeiros conti- nuavam sendo considerados bons trabalhadores e iam presos por de- sordem. Entre 1904 ¢ 1906 eram brasileiros 71,2% dos vadios; os es- trangeiros, 28,7%. Mas eram estrangeiros 52% dos desordeiros € 60% dos presos por embriaguez. [Nesea tentativa de moralizagio pelo trabalho, nfo se considera- va a educagio como a maneira mais eficaz de preparar a populagio para as novas profissdes na indistria e no comércio e para adqui novas posturas diante do trabalho, A opcio preferencial da policia pelos pobres ¢ pelos homens de cor vem, pois, lade: eram os portugueses que inicialmente controlavam o jogo do bicho, a prosti- 265 CONDOMINIO DO DIABO tuigfo ¢ os demais jogos de azar na cidade do Rio de Janeiro nas pri- meiras décadas da Repiblica. Eram desta nacionalidade também os pouquissimos receptadores de roubos mencionados nos processos ju- is analisados por historiadores (Chalhoub, 1986). Nao é necessd= rio dizer que, junto as centenas de negros ¢ mulatos presos sem provas or contravensao ou sob a acusacio de terem cometido crimes, havia oucos representantes desta nacionalidade. A i Hoje, outra guerra clandestina trava-se nos grandes cidades brasileiras: entre a “poli crime organizado, e os “bandidos”, se tréta da perse, desordeiros ide afro-brasileiras vistas como perigosas até os anos 30. O foco da nova renga no mal é o traficante, mas os sinais negativos a cle associados contaminam a prépria droga e, as vezes, até mesmo o usuario, vistos como agentes do diabo. Os bandidos para eles sfo seres infra-humanos ou desumanos: “elementos”, “marginais”, “facinoras”, “estupradores", rétulos que escondem 2 auséncia de investigacao pol bre os que se aproximam do estereétipo do ban: pobre € de cor, usudrio de drogas ou mero freqiientador de boca-de~ Fumo, muitas vezes identificado como bandido apenas, nem pessoa, ito menos um cidadio com direitos. Nada revolta tanto os humanos & “marginalidade ur- a qual se amplia ¢ passa a incluir no os que cometem crimes violentos mas todos os que convivem na boca-de-fumo ¢ usam drogas. lo, ou seja o jovem Avextrema cia” 05 “bandidos’, descumprimento da dos, pode ser ex gal das drogas que atinge bandidos e policiais fascinados pela ambigio de enriquecer a qualquer custo. Mas é também fruto do céleulo racio- nal de submeté-los a um verdadeiro terror para extorq) ;punemente. Nesta confusio criada pelos preconceitos dos agentes Policiais, jovens — trabalhadores, estudantes ou bandidos — pobres assam a ser o outro lado indiscriminado desta guerra sem tréguas que Pretende livrar-nos do mal. Devido a essa generalizacio da imagem do 'menor”, parte da populasio, que no Rio de Janeiro é minoritaria, 266 A autoridade, 0 chefee 0 bandido: dilemasesaldas educacionas apéia essa pratica, o que torna dificil uma politica integrada de apoio aquele. Daf a perseguicao violenta , em algumas tristes cidades, a Pritica do chamado “exterminio” de criancas e adolescentes pobres — wvada a efeito por grupos também integrados de po- is ou ex-policiais. Ao contrério do que acontece em Sao Paulo onde ou os assassinatos ficam por conta de justiceiros, que contam com © apoio da populagio local, ou resultam de uma politica institu- cional da prépria PM, no Rio de Janeiro os chamados “grupos de ex- io” sio con ou ex-policiais ‘que participam do crime organizado, extorquindo ou vendendo armas 20s jovens envolvidos no tréfico, no assalto ¢ no roubo, estimulando os meros usudrios a se iniciar nessas priticas para poderem pagar 0 reco da extorsio. Por outro lado, o romantismo inerente a liberdade associada & rua, ou a sua suposta cultura negra, que comandou alguns programas destinados 20s meninos e meninas na rua, nio se sustenta quando se examinam os variados tipos de abuso ¢ de exploragio que aqueles nela softem. A disseminacio dessa visio entre os encarregados da politica social para a crianga e 0 adolescente é um dos motivos para que a cobra continue a morder a prépria cauda, enquanto a populagio masculina jovem das camadas populares é dizimada ou consome-se na guerra de quadrilhas e no uso descontrolado e autodestrutivo de dro- gas licicas s. Um dos critérios de avaliacdo da existéncia de cidadania nos dias de hoje € a mancira como o Estado promove a seus beneficios ¢ servigos a fim de garantir 0 atendimento de seus ci- dadaos a eles, diminuindo a parcela dos margi sileiro ainda nao encontrou o caminho para efetivar os, de seus cidadaos. As posicio em desenvolvimeato so- is fundamentais: trabalho, educa- so e sade. E neste contexto sécio-econémico mais amplo que 0 consu- imo de drogas tem crescido grandemente entre as parcelas mais pobres da populagio no Brasil, as mais afetadas pelas falhas da escola ¢ do mercado de trabalho em Ihes dar esperangas e projetos para o futuro. Nao falta, pois, no Brasil, o que Becker chamou de “motivasao de um 267 CONDOMINIO DO DIABO ato desviante” derivada de uma situagio na qual o agente social néo aceita a ordem social ou o atual estado do jogo tociahe politico ou se fevolta contra ele. Nao que a pobreza explique 0 ato desviante, mas ‘la pode, conjugada com as falhas do Estado na criagio de possibili- dades de ascensio social, assim como com a nova cultura hedonista que faz parte da cultura jovem, facilitar a escolha ou a adesio as sub- Culturas marginais de uso de drogas ilicitas. Estas subculturas sao im- portantes na medida em que sabemos ser o ato desviante ou a sua repetigao uma decorréncia do seu aprendizado no grupo social de des- viantes a0 qual o jovem vem a fazer parte. O pertencimento vem ge- rar uma série de atitudes, valores e identidades que podem se cristali- zar ¢, também por criar lagos reais de amizade, dominio ou divida, dificultar 0 rompimento com 0 grupo, ¢, portanto, com o préprio desvio. Faz parte do contexto cultural e institucional da formagao dessas subculturas a prépria atitude dos agentes governamentais e dos outros grupos sociais em rclagio aos usuarios de drogas. As imagens negativas, os preconceitos, 0 medo, que no Brasil chegam as raias da demonizagio do viciado, contribuem decisivamente para a cristaliza~ ‘gio dessa subcultura marginal e dos tons agressivos e anti-sociais que algumas vezes adquirem. A violencia e o arbitrio policiais, derivadas do poder de iniciar processos criminais contra 0 usudrio, sem critérios claros para diferenciar 0 usuario do traficante ¢ sem praticas investi- gativas eficazes, criam em torno dele um circulo infernal de insegu- Tanga, perigo e incentivo ao crime. Mesmo entre os jovens pobres usuérios de drogas existem di- ferengas quanto ao significado do uso e a centralidade da droga na definicao de um estilo de vida e da identidade pessoal de quem a usa. Mas nao seria exagero afirmar que, entre os pobres, existe maior pres- sio para o envolvimento com os grupos de criminosos comuns, por conta da facilidade de entrar em divida com o traficante, da facilidade slo para a acio criminosa, da facilidade de esbar- rar na repressio policial que prende os “maconheiros” pobres para acres- centar niimeros na sua folha de servigos, bem como da dificuldade em ‘encontrar atendimento médico € psicolégico quando vem a ter pro- blemas reais no uso ¢ controle das drogas. Estas sfo algumas das engre- nagens no cfrculo vicioso que estd levando tantos jovens 4 morte numa guerra nunca declarada 268 A antoridade 0 chefe ¢0 bandide:dilemas saldaseducacionais Neste setor, & igualmente urgente a mudanga da legislacio relativa a0 uso de drogas, uma das mais atrasadas no mundo. A descri- minalizagio do uso € imprescindivel para tirar a possibilidade ¢ de extorsio, por traficantes e policiais corruptos, de jovens, simples usu- rios, que com isso acabam envolvidos nas malhas do crime organiza- do (Zaluar, 1988, 1993). Uma politica educativa e preventiva de re- dugio de riscos, como a praticada na maior parte dos paises europeus, deveria substituir a atual politica repressiva ¢ criminégena da guerra fs drogas, fracassada nos Estados Unidos (Zaluar et alii, 1993). Ao mesmo tempo, € preciso delimitar melhor os direitos e as responsabi- Iidades de criangas e adolescentes, especialmente aqueles que conti- nuam a cometer crimes violentos contra outros cidadios. © dilema entre prover a aprendizagem de oficios ou cons- cientizar a exploracéo capitalista, que marcou inicialmente alguns pro- jetos de educagio pelo trabalho (Zaluar, 1991), perde o sentilo dian- te das novas quest6es postas pelos estudiosos do Estado-Prov:déncia que analisam as transformagSes nas imagens do trabalho ¢ a sua crise. Embora nao haja acordo sobre o desaparecimento do trabalho enquanto ‘categoria central da sociedade industrial moderna (Off, 1989), pelo ‘menos no enquanto a automacio faga com que a isengzo do trabalho deixe de ser um privilégio de minoria (Arendt, 1987), ndo ha diwvidas de que os valores culturais do trabalho nao sio mais os da ética protes- tante, especialmente entre os jovens. A idéia de que o trabalho. vale por si s6-e de que o écio é ruim deixou de ser o centro das referencias de vida da populacio trabalhadora, pelo menos a mais jovem. Mas a opsio pelo mundo do crime como safda continua a sofrer as restrigbes orais por estes mesmos trabalhadores, especialmente evidentes quan- do entram em foco as politicas penais do Estado (Zaluar, 1985)’. As saldas apontadas vio todas no sentido da conjugagao da categoria trabalhador com a de cidado, em que estariam em questi a: limitagbes institucionais a0.mercado de trabalho, com a participa- {0 dos sindicatos e com a aquisigao de qualificagdes por parte dos trabalhadores para contrabalancar a monopolizagio € a segmentagio do mercado efetivada pelo capital (Offe, 1989), bem como 0 conflito distributive em forno do fundo piblico, téo evidente © to iniqua- mente injusto no Brasil. Néo é mais possivel hoje discutir o trabalho desvinculado da cidadania, pois os trabalhadores participam dos siste- mas culturais e politicos da sociedade e estes interferem no mercado de trabalho. 269 CONDOMINIO DO DIABO Na realizagdo disto, a aquisicéo e o dominio de novas lingua- gens e técnicas torna imprescindivel a boa educaco escolar, para além da cultura popular, cujos mecanismos de aquisi¢io prescindem da es- cola mas que poderd vir a ser ainda mais criativa e rica pois contara suagens; para além do mau ensino para pobres; para acima da informalidade confundida com imprpvisacao e desarticula- para fora dos prédios caros ¢ varios de proposta pedagégica. (peril do gude« vivian om condigses muito prsimas 4 de UTigual¢ mais contnmal do ques ocedae formadae at reies de sient, pis acta as remias tapialisme, embers reuse ‘thames regres format ihe criminal dae met opps the principle of ragged individuation, be ingly faves them a sbrardun (Adorno, opt, 171-172). 7.Ver eambém capitals 19 « 20 dese lv. Ly) 270 re Bibliografia ADORNO, Sergio 1992: “Criminal Violence in Modern Bra- dat the International ADORNO, T. W. ef al 1964: The Auth Science Editions, John Wiley & Sons, New York. 1988: “Freudian theory and the Pattern of Fascist Propagan- da", em The Essential Frankfurt School ., New York. ARENDT, Hannah 1963: Eichmann in Jerusalem, The Vi Press, Nova lorque. 1972: Crisis of the Republic, HBJ Book, New York and London. 1972: *O que a autoridade Ed. Perspectiva, Séo Paulo. rian Personality, em Entre 0 Passado ¢ 0 Futuro, 1987: A condi¢do humana, Ed. Forense Univ + Rio de Janeiro. 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