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CANALIZAÇÕES
INTRODUÇÃO
Canalização é o conjunto constituído por um ou mais condutores eléctricos e
pelos elementos que garantem a sua fixação e, em regra, a sua protecção
mecânica.
O tipo de canalização a empregar deverá ser escolhido de acordo com as
condições ambientes e de utilização do local.
No estabelecimento das canalizações deverá, na medida do possível, evitar-se
submeter as canalizações a esforços mecânicos desnecessários, reduzindo o
número de curvas, de travessias, etc.
Por outro lado, as canalizações deverão ser estabelecidas de forma a poder
ser assegurada a sua boa exploração e conservação. Assim, deverá ser
assegurada a possibilidade de verificação do estado do seu isolamento, da
localização ou reparação de qualquer avaria, da acessibilidade dos aparelhos
de ligação, etc.
Os condutores de uma canalização apenas deverão ser colocados depois de
terminados os trabalhos de construção civil que os possam danificar.
A protecção das canalizações contra acções mecânicas deverá ter
continuidade assegurada ao longo de toda a canalização. O número de juntas
ou uniões que assegurem a continuidade da protecção contra acções
mecânicas deverá ser limitado ao mínimo possível.
Os elementos de protecção contra acções mecânicas deverão ser manipulados
de forma a evitar a existência de rebarbas susceptíveis de prejudicar o
isolamento dos condutores isolados ou as bainhas dos cabos.

MODOS DE INSTALAÇÃO
Em função do modo de instalação podemos considerar os seguintes tipos de
canalizações:
Canalizações embebidas
Uma canalização embebida é constituída por condutores isolados ou cabos,
rígidos, protegidos por tubos, os quais por sua vez são embebidos em roços
realizados nos elementos da construção.
As figuras 1, 2 e 3 representam diferentes fases da realização de uma
canalização embebida.
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Fig. 1 – Abertura de roços e colocação de tubos e caixas numa canalização


embebida

Fig. 2 – Tapamento de roços numa canalização embebida


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Fig. 3 – Enfiamento de condutores numa canalização embebida

Os diâmetros dos tubos de canalizações embebidas não deverão ser inferiores


aos indicados na tabela seguinte, de acordo com o número e secção nominal
dos condutores, para o caso de condutores do tipo H07V.
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No caso de cabos de outro tipo, por exemplo do tipo A05VV, as dimensões da


secção recta dos tubos deverão ser determinadas de forma a que a soma das
secções correspondentes ao diâmetro exterior médio dos cabos não exceda
33% da secção recta interior do tubo.
No traçado das canalizações embebidas nas paredes deverão ser evitados
troços oblíquos, devendo, na medida do possível, estabelecer-se troços
horizontais ou verticais a partir dos aparelhos intercalados nas canalizações, ao
longo dos rodapés, ombreiras, sancas e intersecção de paredes (Figs. 4 e 5).

Fig. 4 – Traçado de canalizações embebidas nas paredes

Fig. 5 – Traçado de canalizações embebidas nas paredes


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Canalizações fixas em superfícies de apoio


É uma canalização instalada sobre uma superfície de apoio (tecto, parede,
divisória pavimento, etc.) ou na sua proximidade imediata, constituindo um
meio de fixação.
As figuras 6, 7 e 8 representam canalizações fixas, à vista, em superfícies de
apoio, com cabo montado sobre braçadeiras.

Fig. 6 – Canalização fixa, à vista, com cabo montado sobre braçadeiras

Fig. 7 –Canalização fixa, à vista, com cabo montado sobre braçadeiras,


nas paredes

Fig. 8 –Canalização fixa, à vista, com cabo montado sobre braçadeiras,


no tecto
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Na figura 9 é indicada a distância máxima entre abraçadeiras em função do


diâmetro do cabo respectivo.

Fig. 9 – Distância máxima entre abraçadeiras em canalizações,


colocadas na vertical ou na horizontal

A tabela seguinte indica a distância máxima entre abraçadeiras em função do


diâmetro externo do cabo utilizado.

No entanto o Regulamento de Segurança de Instalações de Utilização de


Energia Eléctrica, ainda em vigor, indica valores superiores aos indicados nesta
tabela, pelo que se forem adoptados estes valores da tabela, será cumprido o
estipulado no regulamento.
Por outro lado o RSIUEE indica como distância máxima entre braçadeiras e
aparelhos intercalados na canalização uma distância de 10 cm.
A figura 10 indica o raio mínimo de curvatura de cabos constituintes de
canalizações fixas.

Fig. 10 – Raio mínimo de curvatura de cabos em instalações fixas


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O RSIEUE adopta outros valores e indica que o raio de curvatura mínimo dos
cabos não deverá ser inferior a 10 vezes o seu diâmetro exterior médio.
As figuras 11 e 12 ilustram canalizações fixas, à vista, constituídas por
condutores isolados ou cabos, rígidos, protegidos por tubos.

Fig. 11 – Canalização fixa, à vista, constituída por condutores isolados,


protegidos por tubos

Fig. 12 – Canalização fixa, à vista, constituída por condutores cabos,


protegidos por tubos

Caleiras
Uma caleira é um espaço para alojamento de canalizações, localizado no
pavimento ou no solo, aberto, ventilado ou fechado, com dimensões que não
permitam a circulação de pessoas mas no qual as canalizações instaladas
sejam acessíveis em todo o seu percurso durante e após a instalação. Uma
caleira pode estar, ou não, integrada na construção do edifício.

Fig. 13 – Corte transversal de uma caleira de pavimento


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Caminhos de cabos
Um caminho de cabos é um suporte constituído por uma base contínua, dotada
de abas e sem tampa.
Um caminho de cabos pode ser, ou não, perfurado.

Fig. 14 – Caminho de cabos não ventilado

Fig. 15 – Caminho de cabos ventilado

Condutas
Uma conduta é um invólucro fechado, de secção recta circular ou não,
destinado à instalação de condutores isolados ou de cabos por enfiamento. As
condutas não circulares podem ser compartimentadas.

Fig. 16 – Conduta não circular embebida

Travessias
Uma travessia é um elemento que envolve uma canalização e lhe confere uma
protecção complementar na passagem da canalização através de elementos
da construção (paredes, tectos, divisórias, pavimentos, etc.).
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Nas travessias de paredes, tectos, pavimentos e outros elementos da


construção, as canalizações estabelecidas à vista deverão ser protegidas por
tubos ou condutas com uma resistência adequada às acções mecânicas.

Fig. 17 – Travessia de uma parede por uma canalização


Ductos
Um ducto é um espaço fechado para alojamento de canalizações, não situado
no pavimento ou no solo, com dimensões que não permitam a circulação de
pessoas mas no qual as canalizações instaladas sejam acessíveis em todo o
seu percurso.

Fig. 18 – Caminhos de cabos montados num ducto vertical


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Galerias
Uma galeria é um compartimento ou corredor, contendo suportes ou espaços
fechados para canalizações e suas ligações, cujas dimensões permitem a livre
circulação de pessoas em todo o seu percurso (figs. 19 e 20).

Fig. 19 – Pormenor de entrada de caminhos de cabos numa galeria técnica


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Fig. 20 – Pormenor de caminhos de cabos numa galeria técnica


Calhas
Uma calha é um invólucro fechado por tampa, que garante uma protecção
mecânica aos condutores isolados ou cabos, os quais são instalados ou
retirados por processo que não inclua o enfiamento, e que permite a adaptação
de equipamentos eléctricos.
As calha podem ter, ou não separadores. Podem ser do tipo rodapé ou do tipo
prumo.

Fig. 21 – Calhas em percursos horizontais


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Fig. 22 – Calha em percurso vertical

Fig. 23 – Instalação com calha de rodapé

Calhas de pavimento
As calhas de pavimento são condutas de secção rectângular, embutidas no
piso. Na prática, constroi-se a laje e sobre ela executa-se um enchimento, no
qual são instaladas as calhas e as caixas de saída. Finalmente, aplica-se uma
camada de regularização do piso e depois o acabamento.
Dado que este sistema é embebido, o ideal é que em 100% dos casos o layout
da área seja previamente conhecido e imutável, resultando assim em pontos de
energia ou de telecomunicações (tomadas de usos gerais, tomadas de telefone
e informáticas, etc.).
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Fig. 24 – Instalação de calha de pavimento com curva para ligação dos cabos a
quadro eléctrico

Fig. 25 – Instalação de caixa em calhas de pavimento


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Fig. 26 – Pormenor de uma caixa de pavimento

Canalizações fixas, à vista, pré-fabricadas

Fig. 27 – Canalização pré-fabricada, para alimentação de máquina-ferramenta


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As canalizações eléctricas pré-fabricadas são canalizações com 1 ou mais


circuitos, concebidas para uma instalação rápida, quer para a distribuição de
iluminação, quer para a alimentação de máquinas em instalações fabris.

Fig. 28 – Exemplo de aplicação de uma canalização pré-fabricada numa


instalação de iluminação

Canalizações enterradas

Nas canalizações enterradas apenas poderão ser utilizados cabos rígidos com
duas bainhas ou com uma bainha reforçada (H1VV ou XV, por exemplo), ou
com armadura (VAV ou LSVAV, por exemplo).
As canalizações enterradas poderão assentar directamente no solo, devendo
neste caso assentar em fundo convenientemente preparado e envolvidas em
areia, ou ser enfiadas em tubos, normalmente de material termoplástico, de
forma a não serem danificadas pela pressão ou abatimentos de terras.
As canalizações enterradas deverão ser normalmente colocadas à
profundidade mínima de 0,80 m, excepto na travessia de arruamentos com
trânsito de veículos, em que aquela profundidade não poderá ser inferior a 1 m.
As canalizações directamente enterradas deverão ser assinaladas por um
dispositivo de aviso colocado, pelo menos, a 0,10 m acima delas, constituída
por redes metálicas ou de material plástico, lousa ou materiais equivalentes
(figs. 29 a 31).
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Fig. 29 – Corte transversal de uma vala de uma canalização enterrada

Nas canalizações não directamente assentes no solo deverão ser previstas


caixas de visita convenientemente localizadas e distanciadas por forma a
garantir o fácil enfiamento e desenfiamento das canalizações, recomendando-
se que fiquem localizadas nas mudanças bruscas de direcção.
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Fig. 30 – Caixa de visita para cabos de energia com formato tronco-cónico

Fig. 31 – Percurso dos cabos em caixas de visita


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Canalizações em piso técnico


Um piso técnico é constituído por painéis (60 x 60 cm, por ex.) apoiados sobre
pedestais, debaixo do qual se colocam as canalizações eléctricas e de
informática. Os painéis podem ser levantados, permitindo um acesso total às
canalizações.

Fig. 32 - Conjunto de canalizações num piso técnico, alimentando blocos


rasantes

Fig. 33 - Conjunto de canalizações num piso técnico, alimentando colunas


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Fig. 34 - Conjunto de canalizações num piso técnico

Fig. 35 - Conjunto de canalizações num piso técnico


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Fig. 36 - Percurso das canalizações de energia e das canalizações de


telecomunicações e rede num piso técnico

Canalizações em tecto falso

Fig. 37 – Conjunto de canalizações num tecto falso

Fig. 38 – Ligação de uma armadura a partir de uma canalização num tecto


falso
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Fig. 39 – Alimentação de armaduras em tecto falso

Fig. 40 – Alimentação de armaduras em tecto falso, mediante transformador de


segurança
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Canalizações subaquáticas
As canalizações subaquáticas poderão ser simplesmente assentes sobre o
fundo dos locais submersos, devendo no entanto ser colocadas de forma a não
se afastarem facilmente da posição de assentamento.

APARELHOS DE LIGAÇÃO
Os aparelhos de ligação, a intercalar nas canalizações, deverão ser localizados
em pontos acessíveis por forma a ser possível assegurar a sua manutenção e
a verificação das ligações, mas de modo a ficarem ao abrigo de acções
mecânicas ou de entrada de água ou de poeiras.
A ligação dos condutores entre si e aos aparelhos deverá ser feita por meio de
ligadores, adequados ao tipo de condutor, que garantam a condução da
intensidade de corrente máxima admissível nos condutores a ligar.
Na ligação entre condutores não é permitida a torçada, salvo se for completada
por aperto mecânico, por ligador adequado (fig. 41)

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Fig. 41 - Realização de torçada com condutores (não permitida)

Na ligação aos aparelhos de condutores isolados rígidos de secção nominal


não superior a 2,5 mm2 poderão empregar-se olhais, desde que os parafusos
dos ligadores sejam dotados de anilhas de dimensões convenientes (fig. 42).

Fig. 42 - Realização de olhal para aperto de um condutor


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A protecção dos condutores ou dos cabos contra a penetração de líquidos ou


de poeiras deverá ser assegurada por bucins e juntas (fig. 43) ou por
enchimento com substância de características convenientes que não ataque os
materiais isolantes da canalização.

Fig. 43 – Pormenor de aplicação de um bucim

A ligação de canalizações fixas aos aparelhos nelas intercalados poderá ser


feita em aparelhos de ligação associados àqueles.
Na ligação das canalizações fixas aos aparelhos nelas intercalados, as pontas
dos condutores deverão ter, dentro desses aparelhos, comprimento suficiente
para permitir a fácil execução das ligações.
Recomenda-se assim, que as pontas dos condutores tenham, pelo menos, 10
cm livres para ligação.
Os ligadores deverão assegurar, por aperto mecânico e de forma durável, a
boa condutibilidade eléctrica, sem queda de tensão ou aquecimento
exagerados, mesmo sob a acção de vibrações ou de diferenças de
temperatura.
O aperto mecânico pode ser por parafuso, mola ou compressão, devendo os
ligadores ser convenientemente dimensionados e concebidos por forma a
tornar impossível o seu desaperto acidental (fig. 44).
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Fig. 44 – Aperto mecânico de condutores por compressão

O mesmo dispositivo de aperto de cada ligador não deverá apertar mais de


quatro condutores, para secções nominais iguais ou inferiores a 4 mm2, ou dois
condutores de secções nominais iguais ou contíguas na escala das secções
nominais normalizadas, para secções nominais superiores a 4 mm2.
Para secções nominais não contíguas e superiores a 4 mm2, cada condutor
deverá ser apertado por dispositivo de aperto independente.

Fig. 45 – Aperto mecânico de condutores por parafuso, isolado

Fig. 46 – Aperto mecânico de condutores por placa de terminais


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Fig. 47 - Terminal de aperto por parafuso para calha DIN

Fig. 48 - Terminal de aperto por mola para calha DIN

Nos dispositivos de aperto dos ligadores de massa apenas deverão ser


utilizados parafusos.
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Ligações bimetálicas
Ligações bimetálicas são aquelas destinadas a proporcionar a continuidade
eléctrica entre condutores de materiais diferentes (fig. 49).

Fig. 49 – Ligação bimetálica entre um cabo de alumínio e um cabo de cobre

Muitas vezes torna-se necessária a interligação de condutores de cobre com


condutores de alumínio.
Estes metais interligados e em contacto com o ar ou submetidos a variações de
temperatura ou de humidade causarão uma diferença de potencial entre eles,
dando origem à corrosão galvânica.
A corrosão galvânica pode ser evitada respeitando as seguintes regras
básicas:
o A parte do cobre a ser ligada ao alumínio deve ser estanhada;
o Entre os metais deve ser usado um inibidor metálico, cuja função é
impedir a formação da película de óxido que é formada no alumínio.
Geralmente é usado o bronze estanhado como inibidor.
o Deve ser evitada a penetração de humidade no contacto entre o cobre e
o alumínio; a humidade na ligação metálica comporta-se como uma
pilha, ou seja existirá um ánodo (alumínio) , um cátodo (cobre) e um
electrólito (água).
o A ligação entre esses metais deverá ser de tal forma que a massa do
alumínio seja maior do que a massa do cobre.
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TIPOS DE CANALIZAÇÕES E MODOS DE INSTALAÇÃO


Na tabela seguinte são indicados os modos de instalação das canalizações,
indicados nas Regras Técnicas das Instalações Eléctricas, em função do tipo
de condutor ou cabo.

INTENSIDADES DE CORRENTE MÁXIMAS ADMISSÍVEIS NAS


CANALIZAÇÕES
As intensidades máximas admissíveis nas canalizações dependem:
o do tipo de canalização;
o do número de condutores que a constituem;
o das suas condições de estabelecimento e utilização;
Para efeito da contagem do número de condutores constituintes de uma
canalização, não deverão ser considerados os condutores seguintes:
o o condutor neutro de uma canalização trifásica;
o o condutor de protecção;
o os condutores auxiliares de uma canalização e que acompanhem os
condutores principais da mesma;
Os condutores do mesmo circuito deverão fazer parte da mesma canalização.
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Numa canalização não poderá, em regra, haver mais de um condutor da


mesma fase.
o A norma CEI 287 uniformizou internacionalmente os coeficientes de
correcção e as metodologias de cálculo das intensidades máximas
admissíveis das canalizações em função de parâmetros relevantes tais
como:
o temperatura ambiente;
o modo de colocação;
o regimes de carga:
o comportamento térmico do solo (condutores ou sistemas de condutores
e cabos);
A intensidade máxima admissível numa canalização é dada por:

( I z ) real = I z ×K1 × K 2 × K 3 × K 4
em que:
Iz = corrente máxima admissível, para o tipo de condutor ou cabo considerado;
K1 = factor de correcção da temperatura ambiente;
K2 = factor de correcção do modo de colocação;
K3 = factor de correcção relativo ao número de cabos em carga;
K4 = factor de correcção relativo ao comportamento térmico do solo;

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