Você está na página 1de 4

asdfr

no madame satã...

QUEM
éDIFERENTE é diferente!

asdfr
rtyuil

“ Não sei bem como fui parar no


Madame Satã pela primeira vez,
ainda que hoje pareça o caminho
natural migratório de todos os
jovens esquisitos da década.
O Satã era um misto de portal
com outro lado do espelho, onde
você se encontrava e se perdia.
Onde qualquer excesso era natural
e as pessoas eram parecidas de


tão diferentes.
elaine gomes

3
d
z
b

rtyuil
m

21
asdfr
PoP

A Pista do Satã:
misto de euforia
e subversão

3
d
z
b
m

asdfr
22
rtyuil
Tudo fervia junto naquele felizmente insuportável. Cultural Madame Satã. O
caldeirão. Aos sábados era a noite mais
nome foi uma homenagem

N
Descer a Conselheiro Ramalho fraca, as festas geralmenteao famoso malandro carioca,
UMA NOITE eu eram em dias de semana,
depois das 11 da noite era uma por estar sempre à frente de
passava horas com e com a fila na porta cheia
festa. Ali se encontravam, de seu tempo. O que começou
uma Dinamarquesa de “desavisados”, nossa
terça a sábado, componentes diversão era barrar os como um restaurante virou
riquíssima, esposa de um
de bandas, grupos de teatro, curiosos implicando com o antro sujo (já dizia Arrigo
banqueiro que sustentava a
gente da noite e quem Barnabé) de onde saiu boa
os figurinos “papai-é-rico-e-
amante do Presidente João
importava na cidade. eu-sou-bestinha”. Aparecer parte da criação cultural de
Figueiredo. Duas músicas
Era vanguarda? Tava no Satã. muito colorido ou muito uma década.
depois rachava um Martini
Dividir a pista com o Renato arrumadinho era pedir pra Ninguém sabe ao certo como
(eca, a gente adorava essa ficar do lado de fora. Quando o
Russo não era nenhuma toda aquela gente foi parar
porcaria encefalizante) com o Kiko Zambianchi fez sua festa
novidade (e era quase uma no Satã, mas eu sempre achei
Heitor Werneck e fumava um de aniversário no Rose, fomos
temeridade dançar com ele), que era porque, uma vez do
maço de Benson&Hedges com especialmente escalados
nem com o Cazuza, Rita Lee, (e pagos, o que era raro) lado de dentro, éramos iguais,
o Caio Fernando de Abreu.
e todos os componentes das pra ficar na porta barrandoinvisíveis e especiais.
O porão (pista de dança)
bandas da época. as pessoas! Eu me sentia a Ninguém se chocava nem
enchia e esvaziava numa
Como alunos de uma mesma própria Rainha de Copas reparava muito em nada. Cada
velocidade tamanha, que
escola, nos indentificávamos do filme Alice no País das um fazia o que bem entendia,
os DJs Marquinhos e Magal
como fulano “do Satã”, e era Maravilhas, bradando: cortem
desde passar a noite olhando
sabiam na hora se estavam
a senha pra entrar de graça a cabeça! As coisas eram assim,
pro teto, até cheirar metros
agradando. Pra encher, era
em shows e nas outras casas exclusivas. A sensação é que a
de cocaína.
só ouvirmos aquela bateria
Ninguém te incomodava,
maravilhosa na introdução
de Inbetween Days do The “Numa noite eu passava horas nem ligava pro teu modo de
dançar (até porque não dava
Cure, ou Incertain Smile
do The The ou Smiths e
com uma Dinamarquesa pra enxergar muito na pista).
O Satã ainda existe como a
One Thousand Violins, e riquíssima e fumava com o juventude da década de 80.
pra esvaziar bastava que o
Paulo Ricardo subisse no Caio Fernando de Abreu” Resiste ao envelhecimento,
sapateia, inventa e produz,
palco. Era senso comum
mas sente que o tempo passou
odiar o RPM e adorar o Ira!.
noturnas. Era raro, mas havia noite começava assim que a e que nada mais chegará perto
A música não precisava ser
as noites de festa no Rose ou gente chegava, e não poderia de uma única noite vivida
dançante, bastava ser boa
no Napalm, Anny 44, Carbono ser melhor. naquelas temperaturas.
que descíamos todos para
14 ou Val improviso que
quem é?
a pista e ficávamos ouvindo
valiam uma escapada, mas Receita da Fervura
maravilhados, assim era
ninguém voltava pra casa sem O Satã foi uma idéia de dois
com o Durutti Column e
passar no Satã. casais de irmãos: Wilson e Elaine de
Cocteau Twins (que tocou
As turmas eram diferentes, o Williams Santos, e Márcia e Almeida
no meu casamento no final
povo mais engomadinho ia Miriam Dutra. O local, na Rua Gomes tem
da década!). O Satã era 42 anos, é
ao Radar Tantã, Radio Clube, Conselheiro Ramalho, bairro
estranho, desconfortável e editora e
Aeroanta ou no Dancing. do Bexiga, era um antigo
descabido. Exatamente como estudante
Nos domínios satânicos, só show room de uma fábrica de de jornalismo. Assídua
nos sentíamos com 18 anos.
entravam convidados. Éramos balanças industriais que, com frequentadora dos porões
Era perfeito.
uma panelinha hermética e a reforma, virou o Restaurante satânicos.

k
rtyuil

Você também pode gostar