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Invasões nas margens da malha

ferroviária ainda sem solução


Valor Econômico - São Paulo/SP - EMPRESAS -
07/06/2010

Tarso Veloso, de Brasília

Divulgação

Vilaça, da ANTF: "As piores invasões são antigas e foram realizadas quando o governo
ainda era o responsável pela malha"

As margens das ferrovias brasileiras estão ocupadas por 327 invasões para moradias e
comércio que, segundo um estudo da Associação Nacional dos Transportadores
Ferroviários (ANTF), ocorreram, em sua maioria, na época da Rede Ferroviária Federal
(RFFSA). Antes, portanto, dos trechos serem concedidos à exploração da iniciativa
privada.

Em 2008 o governo, através do Departamento Nacional de Infra de Transportes


(DNIT), criou um programa para primeiramente identificar a dimensão dos problemas
de segurança das ferrovias e, na sequência, reduzir a interferência entre ferrovias e áreas
urbanas. A iniciativa, porém, ainda não teve sucesso.

Há, de início, uma questão legal de complexa equação. São cerca de 200 mil pessoas
que habitam as margens da malha ferroviária e a União não pode ressarci-las porque o
terreno já é de sua propriedade. "Seria como comprar o que já é seu. No caso o espaço
já é do governo, sendo impossível recomprá-lo", disse um assessor do DNIT. Ao ser
intimado pela Justiça para desocupar o imóvel, o morador sempre recorre ao judiciário
alegando ter feito benfeitorias no local e exigindo ressarcimento. O governo, por outro
lado, não pode indeniza-los por benfeitorias construídas irregularmente.

Há trechos da malha ferroviário quase que totalmente cercados de construções. Nesses


casos, o governo prefere fazer um desvio passando novo trilho por fora da aglomeração.
Outra hipótese é simplesmente abandonar essas linhas. Desde a década de 90, a RFFSA
desistiu de investir em quase 10 mil quilômetros de ferrovias, por essa e por outras
razões. A estatal contava com 39 mil km de ferrovias. Hoje são somente 28 mil km,
todos concedidos à iniciativa privada. O abandono de segmentos e a incapacidade do
governo em retirar as populações faz com que seja quase impossível a revitalização dos
trechos.

As construções próximas às ferrovias são perigosas para os moradores e também trazem


prejuízos para as empresas, que precisam diminuir as velocidades de suas locomotivas
de 50 km/h para 15 km/h nesses trechos.

As ocupações ilegais podem ser divididas de duas formas: as antigas, realizadas antes
das concessões; e as novas, realizadas quando as concessionárias já eram responsáveis
pelos trechos.

Para a ANTF, a maioria das invasões precede o processo de concessão. "As piores
invasões são as antigas, nada podemos fazer e que foram realizadas quando o governo
ainda era o responsável pela malha. Isso quer dizer que a estrutura nos foi entregue com
as pessoas já residindo ao redor dos trilhos", disse Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da
ANTF.

Atualmente, tão logo as pessoas se instalam ao longo de uma ferrovia são


desencorajadas pelas concessionárias a se fixarem no local. "Sempre agimos de forma
rápida para evitar que os moradores se instalem e depois não queiram sair", completou
Vilaça.

A ANTF reúne 11 das 12 concessões ferroviárias de carga no país, criadas a partir da


desestatização do setor na década de 90. Juntas as concessionárias operam 28.476 km.
Para a ANTF, a responsabilidade de retirar os invasores é do governo.

A MRS Logística é a concessionária que controla, opera e monitora a malha sudeste da


Rede Ferroviária Federal. A área mais crítica é a chegada ao porto de Santos. "No
acesso ao porto moram, às margens da ferrovia, algo em torno de 20 mil pessoas. Além
da falta de segurança, perdemos na velocidade da locomotiva, deixando o custo do frete
mais caro", disse Henrique Aché Pillar diretor de planejamento e finanças da MRS.

O governo também tem dificuldades em definir quem é o responsável por realizar as


desapropriações. O DNIT é responsável pelas linhas, mas diz que foi a Agência
Nacional de transportes terrestres (ANTT) que realizou as concessões. A ANTT atribui
aos governos municipais e estaduais a responsabilidade pelo gerenciamento das
construções próximas dos trilhos. As assessorias dos governos de Minas Gerais e São
Paulo reportam as responsabilidades ao governo federal e às empresas concessionárias.

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