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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA SOCIAL E ESCOLAR
CURSO DE PSICOLOGIA

“Formação e
rompimento dos laços
afetivos”

EQUIPE:
Alessandra S.P. Rodrigues N.º 9905402701
Aline do Amaral Farias N.º 9905400701
Amaranta Mendes da Silva N.º 9905402201
Ana Paula Oliveira N.º 9905401201
Isabela Queiroz de Oliveira N.º 9905402501
Márcia Roberta Rodrigues N.º 9905402301
Marcus Vinícius Cavalcante N.º 9905403401
Dezembro de 2000
Belém- Pa
“FORMAÇÃO E ROMPIMENTO DOS LAÇOS AFETIVOS”

TRABALHO REFERENTE À DISCIPLINA PSICOLOGIA DO


DESENVOLVIMENTO, TURMA: 010, MINISTRADA POR:
Jorge Moraes
Dezembro de 2000
Belém- Pa
INTRODUÇÃO

Antes mesmo de nascer, o filho existe na imaginação dos pais.


Por ocasião de uma gravidez, a futura mamãe põe em questão o seu passado;
projeta a imagem do bebê que está por nascer em função de suas relações com
os próprios pais, da dialética afetiva do casal que forma com o pai do seu filho,
enfim, do nível de seu narcisismo.
A relação afetiva do bebê com a pessoa que irá cuidar dele (a
mãe biológica ou adotiva, pai, avó, tia, babá, etc.) se estabelece, inicialmente,
como uma estreita relação de dependência, indispensável à sobrevivência do
lactente.
A partir do 6º ou 8º mês o filho dá-se conta de sua dependência
frente a essa pessoa cuja presença basta por si para tranqüilizá-lo, e cuja
ausência é suficiente para angustiá-lo. Começa a interpretar, como sinais, a
expressão do rosto materno, o tom de sua voz, as características de sua mímica
ou de sua atitude.
Fez-se, dessa forma, o primeiro vínculo afetivo do bebê. Essa
passagem da relação utilitária para a relação afetiva verdadeira é favorecida pelo
amor materno.
Mas e quando esse vínculo tão importante é rompido? A
presença da mãe, dessa pessoa que lhe dispense carinho e atenção é essencial
para o desenvolvimento emocional dessa criança. A maneira como essa primeira
relação se dá é primordial para todo o futuro relacional do indivíduo.
No presente trabalho, abordaremos um pouco sobre o
desabrochar afetivo da criança e o que um rompimento pode acarretar ao longo
da vida da mesma.
A Formação de Vínculo Afetivo – As Contribuições da Psicanálise

Freud dizia que a razão sozinha não determina a psique humana.


Numa época em que o pensamento cartesiano predominava, as críticas a essa e
muitas outras idéias de Freud só estavam começando.
Apesar de calorosamente contestado até hoje, Freud ainda exerce
grande influência no pensamento contemporâneo. Principalmente, no que diz
respeito à visão sobre a criança. Desde teorias sobre a sexualidade infantil até
hipóteses sobre o desenvolvimento da consciência humana, a oposição não
impediu que pensamentos como: “uma criança feliz será um adulto
psicologicamente saudável e feliz amanhã”, ou ainda: “uma criança infeliz será
um infeliz adulto neurótico” ficassem diretamente ligados a uma concepção de
infância que já chegou ao senso comum.
“O pai da Psicanálise” introduziu conceitos à respeito da
sexualidade infantil e o desenvolvimento da afetividade a partir desta. Ele usou
o termo “fase” referindo-se a períodos em que a criança estaria ligada a um tipo
específico de obtenção do prazer. São elas: fase oral, fase anal e fase fálica. Ao
lado disso, está o desenrolar da consciência que está diretamente ligada à
afetividade da criança em relação aos seus genitores ou à pessoa da qual recebe
os cuidados essenciais.
Na elaboração de seu livro sobre os sonhos, Freud começa a
teorizar a respeito de uma ambivalência humana. E diz que algumas dessas
ambivalências já se iniciaria na infância: todos seríamos dotados de sentimentos
de amor e ódio em relação a nossos pais.
A partir daí, começaria uma série de formulações a respeito da
saúde mental do adulto e o desenrolar desse conflito. Ou melhor, a saúde mental
do adulto está intimamente ligada à maneira como este adulto vivenciou esses
sentimentos conflitantes.
Cabe nesse ponto, aos pais cuidarem para que a criança tenha
uma boa resolução desse conflito. Por que? Porque atitudes dos pais como
repreensão às manifestações de ódio ou ciúme por parte da criança, ou chamar
atenção da criança de maneira que esta sinta-se culpada por sentir o que sente,
podem ter repercussões desastrosas no futuro dessa criança.
Uma maneira de ajudá-la a superar esse dilema é permitindo que
ela libere livremente suas emoções sem que esta pense que é “má” por agir
assim. Ao lado disso, os pais devem adotar uma postura pacífica para que a
criança perceba que pode controlar determinadas emoções.
Desse modo, outras repreensões feitas pelos pais não terão o
mesmo efeito alastrador do que reprimir esse grande conflito.
Não deixando de considerar, é claro, que muitos erros cometidos
pelos pais são frutos da ignorância, ou ainda, de problemas emocionais
inconscientes que têm origem em suas próprias infâncias.

A contribuição dos estudos da Teoria da Aprendizagem Social e da Etologia

Na busca pelo conhecimento acerca da natureza e do


desenvolvimento das relações afetivas, psicólogos têm se dividido entre dois
enfoques: o enfoque da psicanálise e o enfoque das teorias de aprendizagem.
Tem-se procurado, porém, a integração destes dois enfoques de
maneira que possa suprir as falhas observadas em cada um. Estas tentativas de
integração são lentas e, na maioria das vezes, não muito bem-sucedidas, devido
a resistência encontrada em ambas as partes.
No entanto, já se pode observar exemplos bem-sucedidos de
integração, como é o caso da Teoria da Aprendizagem Social e da Etologia.
 A Teoria da Aprendizagem Social originou-se, principalmente, do trabalho
de dois estudiosos: Miller e Dollard. Estes dois teóricos basearam seu
trabalho na Teoria da Aprendizagem de Clark Hull, na Teoria Freudiana, na
Sociologia e na Antropologia Cultural. Curiosamente, Miller e Dollard,
conseguiram incorporar noções da psicanálise à Psicologia Cientifica.
Essa teoria defende a idéia de que a relação de dependência ou a
vinculação do bebê com a mãe é diretamente proporcional à frequência com que
esta mãe é compensadora para o filho, ou seja, o laço afetivo se estabelece à
medida que a mãe é associada ao prazer e à redução de dor e desconforto.
Como resultado da influência da teoria freudiana, a teoria da
aprendizagem social defendeu, inicialmente, a idéia de que a atividade
compensadora da mãe e, consequentemente, os vínculos afetivos entre mãe e
filho estavam ligados à redução de impulsos biológicos, como, por exemplo, a
fome.
Partindo desta idéia, passou-se a dar uma importância especial a
alimentação, mas, ao longo do tempo, estudos concluíram que a alimentação não
apresentava a forte relação com o desenvolvimento afetivo como se pensava
anteriormente.
Essa idéia foi confirmada pelos experimentos realizados por
Harry Harlow, que provaram que a principal fonte de ligação entre bebê e a mãe
é o conforto do contato, ou seja, tão ou mais importante que amamentar ou
alimentar é estabelecer relações que transmitam à criança conforto e segurança.
É claro que o momento da amamentação ou da alimentação continua sendo
fundamental no processo de desenvolvimento emocional da criança, só que não
mais no sentido de suprir impulsos biológicos, mas sim no sentido em que
parece o momento mais apropriado para se estabelecer o contato com a criança,
contato este que vai influenciar no estabelecimento das relações afetivas,
inclusive na vida adulta.
O conhecimento propiciado por esta teoria é de fundamental
importância para o estabelecimento não só de relações afetivas bem sucedidas,
mas de todo um desenvolvimento emocional satisfatório.

 A Etologia, criada por naturalistas europeus, entre os quais destacam-se


Tinbergen e Lorenz, defende que cada animal nasce com um conjunto de
padrões fixos de ação, ou seja, uma sequência comportamental determinada
que é desencadeada por estímulos específicos, os liberadores. Alguns destes
padrões só podem ser desencadeados num determinado período (crítico ou
sensível). Qualquer liberador que venha antes ou após este período não tem
praticamente nenhum efeito.
Da mesma forma, acredita-se que os bebês humanos já trazem,
ao nascer, comportamentos direcionados para chamar a atenção dos adultos e
mantê-los próximos de si. Segundo os etologistas, estes comportamentos têm
valor adaptativo, pois garantem aos bebês receber os cuidados necessários à sua
sobrevivência.
O que se conclui da contribuição desta teoria é a necessidade de
se fornecer os “estímulos” no momento certo para não comprometer todo o
desenvolvimento emocional do indivíduo, ou seja, é necessário que o bebê
receba carinho, afeto e atenção no momento certo e na medida certa para não
comprometer seu desenvolvimento emocional. Esta teoria incentiva novas
pesquisas para buscar conhecimento acerca dos períodos críticos no
desenvolvimento emocional do homem.

Constructos Teóricos

Relações de objeto
O termo relações de objeto é proveniente das teorias de
Freud, que especificou como sendo o seio da mãe o primeiro objeto de amor da
criança, destacando a importância da mãe.
A partir desses trabalhos de Freud, adveio a corrente teórica
que afirmava que a criança tinha a mãe como objeto para satisfação de suas
necessidades de alimentação e gratificação, dependendo de estruturas cognitivas
e ligadas a funções do Ego. São aí consideradas três fases:
- narcisístico, ou sem objeto;
- de transição;
- de verdadeiras relações de objeto.
Uma outra corrente psicanalítica, baseada nos trabalhos de
Ferenzi afirma que não há fase narcísica, e que as relações objetais ocorrem
desde o início. É representada principalmente por M. Kleim. Esta corrente
enfatiza as relações objetais em relação à satisfação de necessidades básicas e
redução de impulsos instintivos.
Durante os primeiros meses de vida a criança tem como
principal modo de percepção o que for afetivo.
A mãe por sua vez passa por inúmeras variações de humor como
qualquer pessoa, mas a influência da criança é grande e a interação de um com o
outro será marcante. O sorriso como exemplo de fruto dessa interação já foi
manifestado aos vinte e seis dias de vida bem como após o sexto mês de vida da
criança.
Podemos citar também as variações de hábitos alimentares nas
crianças que influenciam sobremaneira a relação com a mãe.
Temos que ressaltar a importância a maturação do sistema
nervoso é fundamental para que certas respostas ocorram.
A influência na relação mãe- filho se dá desde níveis sócio-
econômico até valores étnicos e sociais.
Na mudança dessa relação entre mãe- filho, a criança parte de
uma visão pré- objetal até o momento em que a mãe já é dotada de
características libidinais. Como características do processo pré- objetal temos:
- o momento em que o princípio da realidade já vigora;
- o sorriso advindo da presença do rosto humano indica a presença de
memória, indicando a constituição do Inconsciente, Pré- consciente e
Inconsciente ou Aparelho Psíquico.
Nos primeiros anos de vida da criança é onde ocorre a maior
aprendizado em relação ao total de sua vida. O Ego ainda não está solidamente
estabelecido. Aos poucos suas ações se dirigem à pulsões agressivas e libidinais.
Existem diferenças básicas entre bebês e adultos em termos de
sensações, reações físico-químicas, enfim a maneira de perceber o ambiente. Há
coisas que o bebê pode fazer que seria fatal para um adulto tal como ficar 15
minutos sem ar como o que ocorre ao nascimento.
O bebê tem uma grande plasticidade na personalidade no
decorrer do primeiro ano de vida . Vários sistemas e aparelhos psíquicos no Ego
realizam a descarga de tensões, excluem estímulos desnecessários, entre outras
trocas com o ambiente. O recém-nascido não tem Ego, o e bebê não tem como
lidar com os estímulos. Inicialmente o Ego procede de forma rudimentar. No
decorrer dos anos o Ego através de intercâmbio constante vai se estruturando a
partir dos estímulos que vêm e o dominam.
A alegria do bebê é tanto maior quanto mais a mãe estiver
participando da sua alegria, e talvez essa alegria seja maior a partir de atitudes
inconscientes.
Contudo se a mãe tiver uma personalidade desestriturada a
criança sofrerá sérias consequências.
Sabe-se que as crianças dão livre vazão às suas pulsões sejam
socialmentes aceitas ou não, pode-se referir à fase anal ou oral, para a
sexualidade ou agressão. Por isso é errôneo afirmar a inocência da infância pois
lá reside muito de coisas que são rejeitadas pelos costumes e que os adultos
jamais poderiam expressar publicamente. São várias as sanções impostas às
crianças no sentido de tolhir suas expressões sexuais desde a masturbação até o
retardamento do início das relações sexuais.
É de especial interesse observar que o desenvolvimento da
percepção afetiva e das trocas afetivas precede todas as outras funções psíquicas.
Os afetos parecem manter essa tendência durante todo o resto do
desenvolvimento, pelo menos até o final do primeiro ano de vida. Visto que a
experiência afetiva, no quadro das relações mãe-filho, age no primeiro ano de
vida como um caminho inicial para o desenvolvimento de todos os outros
setores, temos que o estabelecimento do precursor do objeto libidinal também
inicial com as coisas. Inicia-se com o bebê tornado-se capaz de distinguir o rosto
humano em seguida a mamadeira.
É de extrema importância para o bebê que sua primeira relação
seja com um parceiro humano, pois todas as demais relações serão com
humanos e ele tornar-se-á um ser social.

Separação e Perda na Família

Provavelmente, todos nós estamos profundamente conscientes da


ansiedade e aflição que podem ser causadas ou separações de entes queridos, do
profundo e prolongado pesar que se pode seguir à morte de um deles, e dos
riscos que esses eventos constituem para a saúde mental, pelo menos em se
tratando da cultura ocidental, já que é um dos aspectos que influencia na visão
de uma pessoa em relação a morte, além, é claro, da estrutura familiar de cada
indivíduo. Não será difícil ver que muitos dos problemas que somos chamados a
tratar em pacientes devem ser atribuídos, pelo menos em parte, a uma separação
ou uma perda que esses pacientes viveram, seja recentemente, seja em algum
período anterior na vida. Ansiedade crônica, depressão intermitente ou suicídio
são alguns dos tipos mais comuns de problemas que, hoje, sabemos ser
atribuíveis a tais experiências.

Pesar e luto na vida adulta

Embora a intensidade da tristeza e a duração de cada fase varie


consideravelmente de indivíduo para indivíduo, existe um padrão geral básico,
de como um adulto reage a uma perda.
Essas fases foram abstraídas de estudos feitos pôr Lindemann
(1944) e Marris (1958) e, posteriormente, de forma ampliada pelos estudos de
Parkes (1969) – (1971). Esses estudos foram feitos com 22 viúvas, entre 26 e 65
anos.

Fases do luto
1) Fase do Torpor:
Nessa fase a reação imediata à notícia dá morte de um membro
importante na família, varia de pessoa para pessoa . A maioria delas mostra-se
aturdida e incapaz de aceitar a notícia. A duração é de algumas horas a uma
semana e pode ser interrompida por acesso de angústias ou raiva extremamente
intensas.
2) Fase de saudade e procura da figura perdida:
A duração é de alguns meses e, com frequência, vários anos.
Alguns dias, ou uma ou duas semanas após a perda ocorre uma mudança, a
pessoa passa a se dar conta da perda que sofre, e isso a leva a ter crises de choro
e espasmos de intensa aflição. Junto a isso vem o desassossego, preocupações
com pensamentos sobre a pessoa perdida. Há uma tendência acentuada a
interpretar sinais ou sons como indícios de que a pessoa perdida está de volta, e
um impulso de busca para reaver o objeto perdido.
3)Fase da desorganização e do desespero
4)Fase de maior ou menor grau de reorganização

Pesar e luto na infância

Sabe-se pouco ainda, o modo pelo qual as crianças de todas as


idades, inclusive adolescentes, reagem a uma perda importante, e que fatores são
responsáveis por um desfecho mais favorável em uns casos do que em outros. Se
para os adultos já é difícil para apreender inteiramente que alguém está morto,
para criança é mais complicado ainda.
Em alguns estudos realizados com crianças e adolescentes que
perderam seus pais, observou-se que estas limitavam seu choro e imergiam em
sua atividades do cotidiano de forma quase que normal. Verificou-se, portanto
que estas crianças, manifestantemente ou não, estavam negando o caráter
definitivo da perda, e que a expectativa da volta do que se perdeu ainda está
presente a nível consciente
No luto da criança, não há fases como nos adultos, mas entre eles
existem algumas semelhanças, tais como quando a criança reage com pânico e
raiva ao perceber e tomar consciência que o objeto perdido não voltará. Outra
semelhança entre adulto e crianças é que se acredita que ambos necessitam da
assistência de uma outra pessoa de sua inteira confiança, que as ajudem a se
recuperarem da perda que sofreram.
A melhor forma de ajudar uma criança numa perda é permitindo
que uma outra pessoa atue como substituta permanente à qual a criança possa
ligar-se aos poucos. Só então, a criança começa a reparar a perda como algo
irremediável e passa a reorganizar sua vida anterior. Um grande entrave, nesse
caso, é que para criança eleger uma nova pessoa que substitua o vínculo afetivo
perdido é bem mais difícil do que para o adulto, pois , as crianças tem seus
vínculos afetivos bem estreitos e restritos, ou seja, sua ligação sentimental está
direcionada, somente, a figura materna, paterna ou objeto afetivo. Em quanto
que os adultos já possuem seus vínculos bastante alargados, logo com maiores
chances e facilidades para encontrar alguém que os supra sentimentalmente.

Condições que favorecem ou dificultam o luto saudável

Atualmente, os psicólogos em geral concordam que é necessário


à pessoa que sofreu a perda exprimir os seus sentimentos, independentemente do
fato de ser tarde ou não, a pessoa deve permitir-se ter sentimentos como: ansiar
pelo impossível, raiva desmedida, choro impotente, horror diante da solidão,
súplicas lastimosas por compaixão e apoio. São sentimentos comuns para serem
expressos durante o luto. Devido, muitas vezes, ao fato desses sentimentos
serem encarados como indignos e degradantes, são recalcados e/ou reprimidos.
Dependendo da estrutura familiar de cada pessoa, há aquelas que não
conseguem expressar seus sentimentos, justamente porque, na infância, esses
sentimentos foram desconsiderados.
É importante também, nesses casos, a compreensão por parte dos
amigos para com a criança que sofreu a perda. Ajudas do tipo: vê as coisas do
ponto de vista da pessoa enlutada ( por mais irreal que seja). Somente se a
criança perceber que alguém pode compreendê-la, ela poderá expressar seu
sentimentos que estão fervendo no seu interior.
É preciso saber quais as mudanças que ocorrem na estrutura
dinâmica de uma família quando morre um dos seus principais membros. Além
dos problemas emocionais, o problema mais imediato é de papéis. Quem, por
exemplo, vai assumir as funções do marido, esposa ou irmão morto?
Alguns deles, como a administração dos assuntos domésticos,
passam para o membro sobrevivente do casal.
Com o passar do tempo, essas atribuições de papéis fenecem e
são seguidas, com frequência, de uma gradual desintegração da família extensa.
O Luto na Infância: Normal ou Patológico?

Muitos dados mostram que a perda dos cuidados maternos nos


primeiros anos de vida tem uma relação causal com o desenvolvimento de uma
personalidade perturbada.
Harlow percebeu em seus estudos com filhotes de macacos que
macaquinhos que passaram um determinado período da infância sem a mãe,
quando cresceram, não conseguiam formar laços afetivos na vida adulta.
A separação da mãe, segundo Bowlby pode perceber, tem
características semelhantes ao luto. Ele caracterizou o luto em três fases:
protesto, desespero e desligamento.
A fase de protesto e de desespero alternariam-se constantemente,
num turbilhão de emoções que iriam desde a raiva até a inconformidade da
perda. A fase do desligamento seria o momento em que os sentimentos da
pessoa que perdeu outra voltam-se a se reorganizar e esta pode retomar a sua
vida normalmente sem sofrer tanto.
Freud sugeriu que certos sintomas psiquiátricos estão ligados a
questões de perda ou luto. Tanto na infância como na idade adulta.
Bowlby retoma isso acrescentando que muitas síndromes podem,
sim, ter sido desencadeadas por um luto patológico na infância.
Uma característica do luto patológico é a incapacidade para
expressar abertamente os impulsos para reaver e recriminar a pessoa perdida.
Isso seria um início prematuro da fase de desligamento.
A fixação e a repressão são processos interligados e ligados
também ao prematuração do desligamento. Neles, a criança reprime seus
sentimento conflitantes de raiva e desejo de reencontro com a pessoa perdida e,
ao mesmo tempo, permanece fixada à figura desta pessoa.
Já na divisão do Ego, defendida por Freud, a criança demonstra
abertamente sua conformidade com a perda irremediável, mas, secretamente e
consciente, nega o desaparecimento do ente querido e acredita no seu retorno.
Todos esses processos levarão essa criança a ter, no futuro,
quadros psiquiátricos, desde a depressões a psicoses e neuroses.
Esses mecanismos de defesa são muito mais freqüentes na infância do que em
idades mais maduras, principalmente, devido ao fato da criança não saber como
lidar com tanto sofrimento e sentir-se desamparada e abandonada.

Efeitos do Rompimento de um Vínculo Afetivo

Os vínculos afetivos e os estados subjetivos de forte emoção


tendem a ocorrer juntos. Assim, muitas das mais intensas emoções humanas
surgem durante a formação, manutenção, rompimento e renovação de vínculos
emocionais. Em termos de experiência subjetiva, a formação de um vínculo é
descrita como “apaixonar-se”, a manutenção de um vínculo como “amar
alguém”, e a perda de um parceiro como “sofrer por alguém”. Analogamente, a
ameaça de perda gera ansiedade e a perda real causa tristeza; ao passo que
ambas as situações podem despertar raiva. Finalmente, a manutenção
incontestada de um vínculo é experimentada como uma fonte de segurança, e a
renovação de um vínculo como uma fonte de júbilo.
Na medida em que psicólogos e psicanalistas tentaram explicar a
existência de vínculos afetivos, quase sempre foram invocadas as razões de
alimento e sexo. Assim, na tentativa de explicarem por que uma criança se liga à
mãe, teóricos da aprendizagem e psicanalistas supuseram, cada um por seu lado,
que isso se deve ao fato de a mãe alimentar o bebê. Na tentativa de
compreenderem por que adultos se ligam uns aos outros, o sexo foi comumente
considerado a explicação óbvia e suficiente.
O que se sabe hoje acerca da ontogenia dos vínculos afetivos
sugere que estes se desenvolvem porque a criatura nasce com uma forte
inclinação para se aproximar de certas classes de estímulos – os estranhos. É
comprovadamente produtivo considerar muitos distúrbios psiconeuróticos e da
personalidade nos seres humanos como um reflexo de um distúrbio da
capacidade para estabelecer vínculos afetivos em virtude de uma falha no
desenvolvimento na infância ou de um transtorno subseqüente.
Aqueles que padecem de distúrbios psiquiátricos –
psiconeuróticos, sociopatas ou psicóticos – manifestam sempre deteriorização da
capacidade para estabelecer ou manter vínculos afetivos, uma deteriorização
que, com freqüência, é grave e duradoura. Embora, em alguns casos, tal
deteriorização seja claramente secundária em relação a outras mudanças, em
muitos é provavelmente primária e deriva de falhas no desenvolvimento, que
terão ocorrido numa infância vivida num ambiente atípico. Embora, sobre esse
aspecto, o rompimento dos vínculos que ligam uma criança a seus pais não seja
a única adversidade que o meio ambiente pode apresentar, é a forma que tem
sido registrada de um modo mais confiável e sobre cujos efeitos mais sabemos.
Ao examinarem as causas possíveis de distúrbio psiquiátrico na
infância, os psiquiatras infantis perceberam desde cedo que as condições
antecedentes de incidência significativamente elevada são a ausência de
oportunidade para estabelecer vínculos afetivo ou então as pronlogadas e talvez
repetidas rupturas de vínculos que foram estabelecidos. Foi sistematicamente
apurados que dois síndromes psiquiátricos e duas espécies de sintomas
associados são precedidos por uma elevada incidência de vínculos afetivos
desfeitos durante a infância. Os síndromes são a personalidade psicopática (ou
sociopática) e a depressão, os sintomas persistentes, a delinqüência e o suicídio.
Em psicopatas, a capacidade para estabelecer e manter vínculos
afetivos é sempre desordenada e, não raro, ausente. Apurou-se que
freqüentemente a infância de tais indivíduos foi seriamente perturbada pela
morte, divórcio ou separação dos pais, ou por outros eventos que resultam na
ruptura de vínculos afetivos, sendo que a incidência de tais perturbações é muito
mais elevada do que em qualquer outro grupo comparável, quer seja de pessoas
da população geral, quer seja de pessoas que apresentem quadros psiquiátricos
de outras espécies.
Um outro grupo psiquiátrico que mostra uma incidência muito
alta de perda na infância é o dos pacientes suicidas, tanto os que tentaram o
suicídio como os que o consumaram. O mais provável é que as perdas tenham
ocorrido durante os primeiros cinco anos de vida e tenham sido causadas não só
pela morte de um dos pais mas também por outras causas permanentes,
principalmente a ilegitimidade e o divórcio.
Uma outra condição que está associada a uma incidência
significativamente maior de perda na infância é a depressão. Entretanto, o tipo
de perda experimentada tende a ser de uma espécie diferente da deterioração
familiar geral, que é típica na infância de psicopatas e de indivíduos que tentam
o suicídio. Em primeiro lugar, na infância de depressivos, a perda deve-se mais
freqüentemente à morte de um dos pais do que à ilegitimidade, divórcio ou
separação. Em segundo lugar, nos depressivos, a incidência de orfandade tende a
ser maior durante o segundo qüinqüênio da infância e, em alguns estudos,
também no terceiro.
Assim, parece agora razoavelmente certo que, em numerosos
grupos de pacientes psiquiátricos, a incidência de rompimento de vínculos
afetivos durante a infância é significativamente elevada. Para vários tipos de
condições, sabe-se agora que as maiores incidências de vínculos afetivos
desfeitos incluem tanto os vínculos com os pais como com as mães, e são
observados entre os cinco e os catorze anos, tanto quanto nos primeiros cinco
anos. Além disso, nas condições mais extremas – sociopatia e tendências
suicidas – não só é provável que uma perda inicial tenha ocorrido nos primeiros
anos de vida mas também é provável que tenha sido uma perda permanente,
seguida da experiência de repetidas mudanças de figuras parentais.
Quando uma criança pequena se vê entre estranhos e sem suas
figuras parentais familiares, ela não só se mostra intensamente aflita no
momento, mas suas relações subseqüentes com os pais ficar comprometidas,
pelo menos temporariamente.
É claro que ainda há uma grande distância entre mostrar que os
vínculos de uma criança com sua mãe, e frequência também com seu pai, sofrem
um desequilíbrio em virtude de uma breve separação, e demonstrar de um modo
inequívoco que separações longas ou repetidas estão casualmente relacionadas
com os subseqüentes distúrbios de personalidade. Entretanto, o comportamento
de desligamento tão típico de crianças pequenas, após uma separação, não tem
mais de que uma semelhança passageira com o comportamento de desligamento
de alguns psicopatas, embora seja difícil destinguir o comportamento
agressivamente exigentes de muitas crianças recentemente reunidas à mãe do
comportamento agressivamente exigente de muitas personalidades histéricas. É
comprovadamente útil o postulado de que, em cada tipo de caso, o
comportamento perturbado do adulto representa uma persistência, ao longo dos
anos, de padrões desviantes do comportamento de ligação que se estabeleceram
em conseqüência do rompimento de vínculos afetivos durante a infância.

A Promoção da Confiança Básica e Auto- Estima na Infância

Os seres humanos de todas as idades sentem-se mais capazes de


desenvolver suas habilidades quando têm ao seu lado pessoas que o ajudarão
caso surja algum problema. Apesar dessa figura de ligação ser necessária em
todas as fases da vida, é na infância que tal necessidade é mais evidente. Se a
criança sente-se confiante, encorajada e segura nas explorações iniciais de si
mesma e do mundo, ela estará desenvolvendo sua personalidade de maneira
satisfatória. Nesse processo, devem emergir dois tipos de influências que são
condições necessárias à formação da confiança e da auto- confiança.
O primeiro diz respeito à presença ou ausência de uma figura de
confiança disposta e apta a fornecer a base segura necessária. O segundo diz
respeito ao reconhecimento dessa como tal e à interação entre ambos para que a
relação se torne mutuamente gratificante.
Em contrapartida, se esse processo se der de maneira
perturbadora, o indivíduo terá dificuldade para reconhecer figuras dignas de
confiança e se encontrá-las não será capaz de manter relações gratificantes.
Muitos sentimentos humanos surgem durante a formação da relação de
confiança no outro, ou no momento em que os papéis se alternam, se este
processo for mantido inalterado esta relação é experimentada sem problemas
como uma fonte de segurança, entretanto se surgir a ameaça de perda desta base
emergem uma série de emoções como ansiedade e raiva.
Freud foi o primeiro a lançar a hipótese de que as bases da
personalidade são alicerçadas durante os primeiros anos da infância. As opiniões
divergiram e psicólogos clínicos, psicanalistas e etologistas tentam reformular
essa teoria com base em novos experimentos. Dentre os quais pode-se destacar a
pesquisa de Mary Salter Ainsworth sobre os problemas de ligação e separação
na interação mãe- filho.
Ainsworth verificou que bebês comumente usam a mãe como
uma base a partir da qual realizam suas explorações, afastando-se dela e
retornando de tempos em tempos, entretanto no caso da ausência da mãe, tais
saídas diminuem ou cessam. Em outro estudo, além de observar esse
comportamento, Ainsworth verificou o equilíbrio na relação mãe- criança dentro
e fora de casa.
Dentre as 23 crianças observadas, dois grupos somando oito
crianças, puderam ser analisados juntos. Nesses, as crianças ora exploravam o
ambiente ora permaneciam passivas ora pareciam ansiosas com relação ao
paradeiro da mãe e ora ignoravam a sua presença. Conclui-se que essas crianças
são as mais propensas a não desenvolver uma auto- confiança estável.
Um grupo de três crianças apresentou um comportamento ativo
em relação à exploração e uma independência com relação à mãe, dando a
impressão de serem capazes de confiar nos outros e de terem desenvolvido uma
independência prematura.
Um grupo de oito crianças apresentou a maior probabilidade de
desenvolver uma autoconfiança, pois exploraram livremente o ambiente sem
deixar de manter contato com a mãe. Essa relação é sempre entusiástica e
confiante, expressa por beijos abraços, olhares e vocalizações à distância que
são corretamente interpretados e respondidos pela mãe.
É importante citar que a mãe insensível não notará os sinais de
seu bebê e responderá a elas de forma inadequada cortando boa parte do elo de
confiança.
Tal estudo demonstra que um bebê cuja mãe é sensível e
receptiva está longe de ser uma criança infeliz. Esses cuidados maternos são
necessários para o desenvolvimento da autoconfiança durante os primeiros anos
da infância, combinada com um alto grau de confiança na mãe e do prazer de
sua presença.
Um outro pesquisador chamado Baurind, ao realizar uma
pesquisa com trinta e duas crianças e suas mães, também sustentou a hipótese de
que a autoconfiança desenvolveu-se paralelamente à confiança num dos pais uqe
proporciona à criança uma base da qual pode atuar.
Adultos que possuem personalidade saudável apresentam um
equilíbrio entre iniciativa e autoconfiança e o estudo de seu desenvolvimento
mostra que estes foram criados em famílias unidas, onde receberam total apoio e
estímulo. Com o passar dos anos, os indivíduos vão sendo encorajados a possuir
uma autonomia conforme cada estágio de sua vida e a família permanece como
uma rede social estável, os laços sempre mantidos.
Um estudo realizado por Grinker (1962) com jovens
universitários apresentando boa saúde mental mostrou que estes possuem uma
capacidade notória para estabelecer relações humanas estreitas e profundas com
as pessoas de seu convívio. Esses vieram de um lar tranqüilo, onde, na infância,
sentiram-se seguros pela mãe e identificaram-se fortemente com o pai.

O desenvolvimento da auto- estima na infância é inteiramente


controlado pelos adultos que fazem suas interpretações e julgamentos a respeito
da criança. Nos primeiros anos, ela apenas absorve aquilo que dizem. Esses
julgamentos podem ter efeitos marcantes para a auto- estima do indivíduo ao
longo de sua vida, por exemplo, crianças educadas por pais críticos e autoritários
tendem a sentirem-se inseguras e desprovidas de poder e com o passar dos anos,
desenvolvem sentimentos de rejeição e insegurança e, no futuro, tendem a tratar
as pessoas com desconfiança e hostilidade.
O desenvolvimento de uma auto- estima saudável segue os
mesmos padrões na formação da auto- confiança, isto é, desde os primeiros anos
de vida, o indivíduo necessita ter um convívio tranqüilo com seus pais, e estes
deverão dar total apoio e estímulo ao filho, preparando-o para lidar consigo
mesmo e com o mundo.
CONCLUSÃO

A capacidade da criança de formar vínculos afetivos e de


socializar-se está intimamente ligada à sua vivência anterior em família, com
aquela pessoa que foi responsável por seus cuidados iniciais, sem esquecer, é
claro, de seu equipamento genético.
As experiências de Harlow com macacos isolados desde o
nascimento confirmam a importância do fator afetivo, independentemente do
fator alimentar. Às mães “fictícias” de arame munidas de mamadeira, preferem
as mães de veludo, de quem não recebem qualquer conforto.
As carências da vida familiar, desde os primeiros anos, são
cheias de conseqüências. A aquisição de cultura, a inteligência verbal, o
equilíbrio emocional já estão estruturados antes mesmo da criança entrar na
escola maternal.
Vimos, nesse trabalho, a importância dos cuidados em relação à
criança, principalmente, nos primeiros anos de sua vida, não menosprezando,
assim, a necessidade que esta apresenta constantemente de carinho. É
importante, ainda, não distorcer essa imagem de cuidado e assumir uma
maternidade por motivos errados, simplesmente, para a obtenção de um lindo
boneco rosado e bochechudo, que lhe comove a sensibilidade e satisfaz suas
aspirações maternais.
Freud mostrou o papel essencial da vivência infantil e da relação
parental na estrutura de nossa personalidade. A nossa ligação afetiva com nossos
pais ou com a pessoa mais próxima, da maneira mais simples, promove uma
personalidade saudável e feliz. Uma relação doentia e deficiente acarreta males,
algumas vezes irreparáveis.
O rompimento dessa ligação substancial é uma sinalização para
os adultos para um cuidado maior com essa criança e a possibilidade dessa
formar ou não novos laços afetivos. Depende dela e de nós.
BIBLIOGRAFIA

• Bowlby, J. 1982, “A formação e o rompimento dos laços afetivos”,


São Paulo, Martins Fontes.
• Biaggio, A.M.B., 1985, “Psicologia do Desenvolvimento”, São Paulo, Ed.
Vozes.
• Spitz,

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